XXXVII Revista PET Farmácia - Heranças da Colonização
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HERANÇAS DA
COLONIZAÇÃO
REVISTA
PET FARMÁCIA
XXXVII
EDIÇÃO
ESCRAVA VENDE LIMÕES-DE-CHEIRO EM SEU TABULEIRO. CENA DE CARNAVAL, DETALHE,
DEBRET, 1823
I S S N 1 9 8 2 - 5 5 9 5
EDITORES
BÁRBARA BAYÃO
STEFANO ASSEF
IZABELLA PEREIRA
VICTOR YURI
ESCRITORES
NATÁLIA DE GODOY
ELIAS GABRIEL DE
AGUIAR
HIGOR SOUZA
SABRINA SANTOS
POLIANA GONÇALVES
ANA LAURA DIAS
MARIA EDUARDA
RAMALHO
ADRIANO MONDINI
MAURO VENCESLAU
BIANCA MARTINS
PEDRO RISSARDO
LUDMILA LIMA
LAURA GLERIANI
YAGO KLEBER
BEATRIZ FRATESCHI
ÍNDICE
CADERNOS
Agradecimentos
1
E aí, tutor?
2
Científico Brasil
5
Tecnologia em Saúde
7
Sustentabilidade
9
Cultural América Latina
11
Unesp de ponta a ponta
13
De PET a PET 15
Seção Destaque
17
PET Indica
21
Debate
23
FCFAR em foco
26
Giro Sociopolítico
28
Brasil mostra a tua cara
30
Retrato falado
32
Diminuindo espaços
35
PETiane egresso
36
Referências bibliográficas
39
R E V I S T A P E T F A R M Á C I A
1
AGRADECIMENTOS
C A R O L E I T O R ,
NÓS, EDITORES DA REVISTA XXXVII, GOSTARÍAMOS DE
CONVIDÁ-LO A REFLETIR, DURANTE A LEITURA, NAS
CONSEQUÊNCIAS E HERANÇAS DO PROCESSO
COLONIZATÓRIO NA SUA VIDA. ESTE TEMA TEM
CIRCULADO BASTANTE NOS DEBATES INTERNOS DO
GRUPO PET FARMÁCIA, E, TENDO COMPREENDIDO SUA
RELEVÂNCIA NA CONSTRUÇÃO DOS ALICERCES DA
SOCIEDADE BRASILEIRA, DECIDIMOS TOMÁ-LO CENTRAL
NESTA EDIÇÃO DA REVISTA.
SABEMOS QUE TRATA-SE DE UM TÓPICO MUITO
DELICADO, E COM DIVERSAS NUANCES E PERSPECTIVAS,
E, TRAZENDO TEXTOS DE CADA UM DOS MEMBROS DO
GRUPO, ACREDITAMOS SER POSSÍVEL PINCELAR, MESMO
QUE ÀS VEZES DE FORMA UM POUCO MAIS SUPERFICIAL,
MUITAS DELAS.
A PRINCIPAL FUNÇÃO DA NOSSA REVISTA É BUSCAR
AMPLIAR A VISÃO DE MUNDO DO LEITOR, ACERCA DE UM
TEMA ESCOLHIDO PELO GRUPO, E NESTA EDIÇÃO, NÃO
FOI DIFERENTE.
COMO O AUTOR, DRAMATURGO E ACADÊMICO QUENIANO
NGŨGĨ WA THIONG'O DISSE "COLONIZAÇÃO É A
IMPOSIÇÃO DE UMA NARRATIVA ÚNICA; RESISTÊNCIA É A
CELEBRAÇÃO DA DIVERSIDADE QUE ELA TENTOU
SILENCIAR”, E TENDO ESSA VISÃO EM MENTE, BUSCAMOS
AMPLIFICAR AS VOZES DOS QUE SEMPRE FORAM
SILENCIADOS E LUTAR, CADA VEZ MAIS, POR UMA
SOCIEDADE MENOS INJUSTA E DESIGUAL.
2
A d r i a n o M o n d i n i
E AÍ, TUTOR?
PARA MAIS 100 ANOS, É PRECISO SEMPRE INOVAR
A Faculdade de Ciências Farmacêuticas
(FCF) da UNESP atingiu um marco histórico
ao integrar o time das instituições de ensino
superior (IES) com mais de 100 anos no
Brasil. Não é uma tarefa fácil, uma vez que
uma instituição pública de ensino superior
não pode apenas existir, mas tem que
resistir. E os últimos anos não foram fáceis
para as universidades públicas brasileiras,
que viram minguar os recursos federais para
incentivo à pesquisa, com cortes substanciais
e progressivos ao fomento de projetos.
Soma-se ao cenário o não reajuste e
diminuição da oferta de bolsas para
estudantes da pós-graduação. As IES
paulistas passaram ainda pelo escrutínio de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito que
investigou a gestão das coirmãs paulistas,
USP, UNESP e UNICAMP.
Como se não bastassem os desafios de
sustentabilidade que as universidades vêm
enfrentando nos últimos anos, observamos
uma escalada dos movimentos de extrema
direita, caracterizados por uma ideologia
política conservadora, nacionalista e, por
vezes, autoritária. Eles promovem visões
xenofóbicas, racistas e antidemocráticas e se
opõem a uma série de valores progressistas,
como direitos humanos, igualdade de gênero,
diversidade cultural e pensamento crítico,que
estão entre os fios condutores da
universidade pública. A pandemia de COVID-
19 desempenhou um papel significativo no
fortalecimento desses movimentos ao criar
uma atmosfera de incertezas e medos. Os
movimentos de extrema direita
aproveitaram-se dessa situação para
promover narrativas populistas, explorando o
descontentamento e o sentimento de
desconfiança em relação às instituições. No
processo, as universidades foram
exaustivamente criticadas, tendo sua
importância e relevância questionadas sem
bases concretas.
No contexto caótico e distópico, a
desinformação e o negacionismo também
tiveram um papel crucial no descortinar da
pandemia. A disseminação de informações
falsas sobre a COVID-19, como teorias da
conspiração e curas milagrosas, contribuiu
para o agravamento dos quadros da doença.
As redes sociais forneceram um terreno fértil
para a propagação rápida da desinformação.
Parte da população, incluindo gestores,
abraçaram o negacionismo, questionando a
gravidade da pandemia, a eficácia das
medidas de saúde pública e até mesmo a
existência do vírus, com motivações políticas,
econômicas e ideológicas.
3
A combinação desses fatores criou um ambiente desafiador para a resposta efetiva à crise
de saúde pública.
Ainda assim, as universidades públicas tiveram um protagonismo sagaz no combate à
pandemia. Tendo que lidar com a formação de recursos humanos utilizando ensino remoto
emergencial, uma inovação que aconteceu em tempo real, as IES ainda estiveram na
vanguarda de pesquisas que não só ajudaram a entender o cenário epidemiológico brasileiro,
como também nortearam a tomada de decisões e mudaram o curso que a pandemia poderia
ter tomado no país. Ao mostrarem visibilidade, reforçaram a credibilidade que sempre foi a
tônica de sua existência. Obviamente, a UNESP teve papel importante na gestão da COVID-
19 em diversas regiões do estado de São Paulo. Um exemplo é que a colaboração de longa
data entre o poder público de Araraquara e a FCF fez com que a UNESP ganhasse as
manchetes em meio à crise sanitária causada pelo SARS-CoV-2. Coube à instituição
centenária o papel de detectar o vírus em humanos, nos efluentes domésticos e colaborar em
diversas pesquisas que foram cruciais para o enfrentamento da COVID-19.
Ao completar 100 anos, a FCF traz consigo uma trajetória de conquistas e avanços em
pesquisa, ensino e extensão. Conta com 48 docentes e 114 servidores técnicos que atendem
820 alunos nos cursos de Farmácia e de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia. Ao
longo da história, formou 735 farmacêuticos, 3977 farmacêuticos-bioquímicos e 130
engenheiros de bioprocessos e biotecnologia. Seus cinco programas de pós-graduação
stricto sensu concentram 190 alunos e quase 1400 títulos concedidos a mestres e doutores.
Ainda assim, é importante promover reflexões que visem promover a equidade, a
representatividade e a diversidade em todos os âmbitos da instituição.
Para a reflexão, a revista do PET
Farmácia da UNESP traz aspectos
de como a herança colonial
permeia nossa sociedade. Como
parte integrante da comunidade, o
ambiente acadêmico também ainda
carrega alguns elementos dessa
herança. Em 100 anos, a FCF
formou profissionais qualificados e
contribuiu para o progresso
científico, profissional e
humanitário construído por
homens e mulheres. No entanto,
há predominância masculina nos
cargos de liderança. Apesar dos
avanços em relação à participação
feminina em áreas prioritárias da
FCF, apenas duas mulheres foram
diretoras da instituição ao longo da
história: uma potencial evidência
de barreiras enfrentadas pelas
mulheres nos cargos mais altos da
gestão. A desigualdade parece
mais acentuada quando
consideramos que a maioria dos
corpos discentes na área da saúde
é composta por mulheres. Embora
elas sejam maioria nas salas de
aula e laboratórios, a presença
feminina em cargos de chefia e
tomada de decisões é
notavelmente escassa. Essa
discrepância revela a persistência
de barreiras que dificultam o
acesso das mulheres a espaços de
poder e influência, o que perpetua
uma dinâmica excludente.
4
A falta de diversidade racial
também é uma questão
importante a ser considerada no
quadro funcional e acadêmico da
FCF. A herança colonial mantém
estruturas excludentes que
marginalizam grupos e
contribuem para a construção de
um sistema educacional
excludente, no qual a população
negra historicamente enfrentou
barreiras socioeconômicas e
educacionais para acessar
instituições de ensino superior. A
falta de oportunidades
educacionais para estudantes
pretos e pardos resulta em uma
menor representatividade
desses grupos nos quadros
funcionais das universidades e,
consequentemente, nas posições
de liderança acadêmica. É
fundamental que a FCF repense
suas políticas de contratação de
forma a ampliar a presença não
só de estudantes, mas de
professores e pesquisadores
negros e indígenas em seu corpo
docente.
Não foge à reflexão a inclusão
de pessoas LGBTQIAPN+ em
posições de gestão e de
destaque. A herança colonial
também deixou marcas
profundas nas atitudes culturais
e sociais em relação à
homossexualidade e às
questões de gênero. Muitas
sociedades colonizadas
adotaram normas e valores
advindos de visões
conservadoras baseadas em
crenças religiosas e aspectos
culturais de seus colonizadores
considerando diversos espectros
da sexualidade como negativos,
mesmo imorais, pecaminosos ou
até mesmo criminais.
Alguns vieses cognitivos
favorecem a perpetuação de
estigmas e preconcepções em
relação a indivíduos
LGBTQIAPN+. A evasão escolar
e dificuldades para alcançar
posições de liderança e
visibilidade são uma realidade
neste grupo.
Para alcançar uma
transformação efetiva, é
necessário
um
comprometimento coletivo para
mudança de paradigmas.
As universidades devem
investir em programas que
incentivem a reflexão crítica
sobre as estruturas de poder,
afinal de contas, é justamente o
espaço onde os avanços sociais
devem ocorrer. Necessitam,
também, promover ações
afirmativas para diminuir os
abismos que ainda existem na
representatividade.
Além disso, é fundamental a
aproximação com movimentos
sociais engajados na luta pela
igualdade, ampliando a
visibilidade e a participação da
universidade nas discussões e
ações em prol da equidade.
Comemorando seus 100
anos, a comunidade da FCF
deve lembrar que a história
está em movimento e que, ao
celebrar as conquistas, é
preciso identificar quais os
pontos que ainda precisam de
transformação profunda de
forma a resistir por mais 100.
A
história
está
em
movimento
5
Científico
Natália de Godoy
FUGA DE CÉREBROS
A fuga de cérebros do Brasil está
relacionada à falta de incentivo para
pesquisas científicas, criando desta forma a
evasão de jovens estudantes, mestres e
doutores, que buscam, em outros países,
melhores oportunidades de trabalho, com
ambiente favorável às pesquisas.
De acordo com o evento virtual “Fico ou
Não Fico? Eis a questão. Jovens cientistas no
Brasil de hoje”, realizado pela Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), em janeiro de 2022, não existem
dados oficiais que quantifiquem em números
esta perda brasileira, porém no evento foi
demonstrado, de acordo com o Jornal da
Ciência, da SBPC, que há:
“[...] 1.135.674 produções científicas de autores brasileiros encontradas na base Web of
Science, referentes ao período de janeiro de 2015 a agosto de 2021 [...]. Ao final da análise
foram encontrados cerca de 6,7 mil pesquisadores afiliados no exterior em trabalhos de
coautoria que provavelmente saíram do Brasil nesse período e ainda estão fora [...] ”(SBPC,
2022)
SE NADA FOR FEITO PARA REVERTER ESTA DIÁSPORA CRESCENTE, O BRASIL
TERÁ UM APAGÃO CIENTÍFICO.
Helena Russo, química formada pela Unicamp, com mestrado e doutorado pela Unesp/IQAr, relata no
evento da SBPC sobre as dificuldades de criar planos a curto, médio e longo prazo por conta da
limitação que o cenário político/econômico estabelece. Diante disso, pretende realizar seu pósdoutorado
na Universidade da Califórnia San Diego, onde realizou seu doutorado sanduíche, voltar ao
Brasil e estabelecer sua pesquisa, pois acredita que pode contribuir com o país, mesmo com incertezas
e sabendo que as melhores oportunidades estão fora do país.
Ana Maria Carneiro, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP), da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP), busca em sua pesquisa informações para melhor entendimento
dessa migração, a qual é entendida como uma diáspora. A pesquisadora reconhece a dificuldade em
chegar aos números reais, já que não existem fontes precisas para mensurar este fenômeno.
As motivações são variadas, mas, de modo geral, os jovens profissionais buscam melhores
qualificações, salários e oportunidades de desenvolverem suas pesquisas, além da valorização de seu
conhecimento, acesso a melhor tecnologia e busca por políticas mais estáveis e estruturadas, uma vez
que, no Brasil, tem-se o receio de corte de verba ou perda da bolsa durante a execução do projeto, ou
ainda de não conseguir trabalho formal na área desejada.
6
Estudos brasileiros apontam que o trabalho formal está em queda no mercado para pessoas com
mestrado e doutorado. Pesquisa realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em
2020, cita que “a taxa de emprego formal para mestres caiu de 66,7% em 2009 para 62,2% em 2017. A
taxa de emprego formal para doutores passou de 74,8% para 72,3% no mesmo período.” (UOL, 2022).
Abaixo gráfico referente às taxas de empregos formais, para mestres e doutores, no período
de 2009-2017.
Pode-se observar que, no período
demonstrado no gráfico, a maior taxa de
emprego foi no ano de 2010 para doutores e
em 2011 para os mestres, sofrendo quedas
após esse período.
Para a permanência de cérebros brasileiros
dentro do país, faz-se necessário
investimentos e melhorias. Entre muitos
pontos a serem trabalhados, podemos citar:
maior investimento em pesquisas, em todas
as áreas da ciência; aumento salarial para
trabalhadores formais públicos com alto nível
de qualificação; aumento de oferta de vagas
ao ensino superior, subsidiado pelo governo;
e investimento em melhores condições de
trabalho, incluindo tecnologia de ponta. Se
nada for feito para reverter esta diáspora
crescente, o Brasil terá um apagão científico.
F O N T E S : C O L E T A C A P E S 1 9 9 6 - 2 0 1 2 E P L A T A F O R M A S U C U P I R A 2 0 1 3 - 2 0 1 7
( C A P E S , M E C ) E R A I S 2 0 0 9 - 2 0 1 7 ( M T E ) . E L A B O R A Ç Ã O C G E E . T A B E L A S
M . E M P . 0 1 E D . E M P . 0 1 .
TECNOLOGIA EM SAÚDE
Elias Gabriel Bernardo de Aguiar
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA
FARMÁCIA
7
INOVAÇÃO QUE CUIDA: A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NA SAÚDE
A palavra “tecnologia” vem do grego τέχνη que significa técnica/arte e
λογία que significa estudo, a qual compreende o conjunto de técnicas e
processos utilizados para um objetivo. A tecnologia é utilizada desde a
pré-história no desenvolvimento de ferramentas e até na arte de se
criar fogo. Não é segredo que convivemos e dependemos
intrinsecamente da tecnologia para a nossa vivência na sociedade,
principalmente de tecnologias mais avançadas como internet,
automóveis, celulares e computadores.
Em questão de saúde, os avanços tecnológicos são indispensáveis
para o melhoramento de equipamentos mais eficientes e produção de
medicamentos mais avançados. A cada ano, surgem novas técnicas
para substituir ou complementar etapas de procedimentos médicos e
tudo isso traz uma maior abrangência e segurança no cuidado com a
saúde. Os impactos são diversos, no atendimento aos pacientes com a
telemedicina, na produção de novos fármacos com a nanotecnologia e
computação, no monitoramento remoto dos pacientes com a internet
5G, no menor risco em cirurgias e melhor recuperação dos pacientes
com robôs-cirurgiões e na famosa saúde 5.0.
Saúde 5.0 é a próxima fase evolutiva da saúde, com a incrementação
de tecnologias como robótica, big data (compilação gigantesca de
dados) e inteligência artificial (IA), que vem cada vez mais ganhando
notoriedade na população. A inteligência artificial é um campo da
ciência da computação que utiliza técnicas como aprendizado de
máquina e processamento de linguagem natural para poder aprender,
raciocinar e tomar decisões autônomas. Ela tem aplicações em diversos
setores e é usada para resolver problemas complexos e realizar tarefas
que normalmente exigiriam intervenção humana.
8
A I N T E L I G Ê N C I A A R T I F I C I A L T E M
D E S E M P E N H A D O U M P A P E L C A D A V E Z
M A I S I M P O R T A N T E N O C O N T E X T O
F A R M A C Ê U T I C O , T R A Z E N D O A V A N Ç O S
S I G N I F I C A T I V O S E T R A N S F O R M A N D O
V Á R I A S Á R E A S D A I N D Ú S T R I A
Descoberta de medicamentos: a IA tem sido
usada para acelerar essa etapa, realizando
análises de grandes volumes de dados,
identificando alvos terapêuticos potenciais e
projetando moléculas candidatas. Algoritmos de
aprendizado de máquina podem examinar bancos
de dados de compostos químicos existentes e
prever a eficácia de novos medicamentos,
reduzindo o tempo e os custos associados ao
desenvolvimento de fármacos.
Personalização do tratamento: a IA pode
ajudar a personalizar os tratamentos
farmacêuticos, levando em consideração as
características individuais do paciente. Com base
em dados genéticos, histórico médico e outros
fatores, os algoritmos de IA podem ajudar a
prever a eficácia e os efeitos colaterais de
determinados medicamentos em um paciente
específico, permitindo que os médicos selecionem
a terapia mais adequada.
Farmacovigilância: a IA pode ser usada para
analisar grandes quantidades de dados de
relatórios de efeitos colaterais de medicamentos
e identificar padrões ou sinais de alerta. Isso pode
ajudar as agências regulatórias a monitorar a
segurança dos medicamentos de forma mais
eficiente e tomar medidas adequadas.
Sustentabilidade
D
escolonização
Maria Eduarda Ramalho
e
MODA NÃO SUSTENTÁVEL
9
“O verbo
descolonizar
tem a ver
com a
perspectiva
de um futuro
mais
autônomo e
ético na
América
Latina”.
(CASTILHO,
2013)
A moda não sustentável
é caracterizada por
um sistema de produção
e consumo que coloca
em risco a saúde do
planeta e das pessoas
envolvidas na indústria,
sendo marcada por uma
produção massiva,
rápida e descartável,
com base em matériasprimas
muitas vezes
obtidas através de
práticas extrativistas
danosas ao meio
ambiente. As práticas
insustentáveis da
indústria da moda
também incluem más
condições de trabalho
em fábricas, baixos
salários
para
trabalhadores e a falta
de respeito aos direitos
humanos.
Para pensar em moda
sustentável na América
Latina, primeiro é preciso
uma discussão sobre a
influência da colonização
na moda. O colonialismo
tem um impacto
histórico significativo
nessa indústria por conta
de alguns aspectoschave
desse tipo de
exploração:
MODA COMBINA COM
JUSTIÇA SOCIAL E
AMBIENTAL
Exploração de recursos naturais: muitas
potências coloniais exploraram
intensivamente os recursos naturais de
suas colônias, incluindo matérias-primas
usadas na indústria têxtil, como algodão,
seda, lã e couro. A exploração
indiscriminada desses recursos levou a
práticas insustentáveis de produção e ao
esgotamento de algumas fontes.
Apropriação cultural: ocorreu durante o
período colonial, quando elementos das
culturas indígenas e locais foram
incorporados à moda sem o devido respeito
ou reconhecimento. Essa prática continuou
ao longo dos anos e ainda é um problema
significativo na indústria da moda
contemporânea.
Sistemas de produção não sustentáveis: foram
introduzidos nas colônias, onde a mão de obra
racializada frequentemente trabalhava em
condições precárias para atender às demandas do
mercado colonial. Esses sistemas de exploração
foram incorporados à indústria da moda,
contribuindo para o desenvolvimento de uma
cadeia de abastecimento global complexa e
desigual.
Desigualdades econômicas: o legado do
colonialismo também deixou profundas
desigualdades econômicas entre países
colonizadores e colonizados. Essa disparidade
reflete-se na indústria da moda, na qual grandes
marcas muitas vezes exploram mão de obra
barata de países em desenvolvimento, levando a
más condições de trabalho e salários
inadequados.
10
O desenvolvimento de uma produção mais
sustentável na região colonizada requer um olhar
de descolonização, dando voz às histórias,
experiências e perspectivas dos povos
colonizados, que frequentemente foram
marginalizados, oprimidos e sub-representados
nas histórias oficiais. O movimento de
descolonização busca restabelecer a autonomia e
identidade cultural das sociedades colonizadas.
No contexto da moda, a descolonização se refere
a uma mudança no paradigma de como a moda é
produzida, consumida e representada. Isso inclui o
reconhecimento, valorização e respeito pelas
tradições culturais de diferentes comunidades ao
redor do mundo. A descolonização da moda
envolve dar voz aos criadores e designers locais,
incorporar práticas sustentáveis e éticas em todas
as etapas da cadeia de produção e evitar a
apropriação cultural.
A moda sustentável busca criar roupas,
acessórios e calçados de forma ética, responsável
e ambientalmente consciente, objetivando reduzir
o impacto negativo da indústria da moda nos
ecossistemas, nas comunidades e nos
trabalhadores envolvidos no processo de
produção. Sendo assim, ela caminha juntamente
com o processo de descolonização,
compartilhando a preocupação com a justiça social
e ambiental.
Embora a indústria da moda ainda tenha um
longo caminho a percorrer em relação à
sustentabilidade e conscientização da influência
da colonização em todo o seu processo, é possível
observar um crescente movimento de
conscientização que tem levado à adoção de
práticas mais éticas, ambientalmente
responsáveis, com valorização de produções
artesanais através de técnicas tradicionais, que
podem levar à emancipação e à sobrevivência de
comunidades.
Cultural América Latina
Pedro Guilherme Rissardo Lima
11
A
América Latina é a região que compreende
os países americanos que são falantes
de línguas de origem latina, como espanhol,
português e francês. Do México ao Chile, a
música local que sempre esteve presente
despontou ao redor do mundo, principalmente
após o sucesso de Despacito, parceria entre
Luis Fonsi, Daddy Yankee e Justin Bieber, e o
crescimento exponencial do reggaeton.
Porém, junto com o sucesso, todos os olhos
se voltam ao mercado, enxergando uma mina
de ouro, tal qual os tempos coloniais, em que
a América Latina foi explorada por países
europeus por séculos.
O reggaeton e o funk brasileiro são grandes
gêneros regionais que contam, em meio às
suas composições, a vivência periférica de
muitos que ascenderam ao sucesso musical e
financeiro. Inicialmente, como o rap e hip-hop,
artistas cantavam sobre as dificuldades e
violências sofridas, além da xenofobia e
violências raciais constantes. Com a
popularização dos gêneros, a mensagem
passa a ser sobre a sociedade do dinheiro e a
felicidade material. Além disso, se mostra
extremamente sexista, uma vez que há a
objetificação constante dos corpos femininos
para fins lucrativos, como é o caso de DÁKITI,
parceria entre Bad Bunny e Jhay Cortez, em
que os cantores estão rodeados por mulheres
de biquínis, em ângulos que evidenciam os
corpos das figurantes.
Embora repleta de problemáticas, a música
latina conquistou o mundo e segue
alcançando números extraordinários,
superando até mesmo os Estados Unidos e a
Europa. No entanto, a exploração europeia,
americana e asiática volta à tona, em um
cenário de apropriação cultural, sem que haja
os devidos créditos aos artistas latinos, que
sofrem apagamento e invisibilização. Em
tentativas rasas de emular as terras latinas,
cantores estrangeiros não conseguem se sair
tão calientes como Shakira, Karol G ou
Maluma, como é o caso da coreana, Chung
Ha, em sua canção PLAY, em parceria com o
rapper Changmo, em que se utilizou do ritmo
e estética citados.
Em premiações musicais, artistas latinos
perdem espaço para estrangeiros, como Billie
Eilish e Rosalía, ambas sem descendência
latina, que receberam o prêmio de “Melhor
12
Clipe Latino”, por Lo Vas a Olvidar, trilha sonora da série Euphoria, da HBO, no VMA (Video Music
Awards). O apagamento de artistas latinos, enquanto há um lucro por parte de estrangeiros, é um
problema sério na indústria, pois se tornou comum utilizar a América Latina como uma fonte de
inspiração cultural. Gêneros inicialmente marginalizados estão sendo ressignificados por grandes
artistas ao redor do mundo, apenas para fins mercantis, sem que mantenham a essência e a arte
latina viva.
KAROL G. Maluma. Créeme, 2018.
Portanto, a expansão latina pelo mundo, embora muito significativa e importante, uma vez que
proporciona visibilidade a artistas que antes não possuíam esse espaço e plataforma, também é
marcada por apropriação cultural e exploração incessante. É de extrema importância que artistas
latinos mantenham-se fiéis às suas raízes, fortemente miscigenadas, e utilizem os gêneros
reggaeton e funk de maneira que sejam uma ferramenta de resistência para a ascensão musical,
sem que precisem se encaixar em moldes europeus para alcançar o sucesso, evidenciando, assim, a
exclusão e marginalização vivida por países latinos que, por diversas vezes, são apenas associados
ao tráfico de drogas e ao turismo sexual, embora possuam dezenas de outras camadas e realidades.
1 3
SOBERANIA
DA CIÊNCIA
BRASILEIRA NA
PRODUÇÃO DE
BIOFÁRMACOS
UNESP de ponta a ponta
D
e forma geral, nos últimos anos, a ciência
vem passando por momentos de altos e
baixos, como, por exemplo, o aumento de
movimentos negacionistas. A pandemia da
COVID-19, recentemente destituída do título
de emergência em saúde pública pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), fez
com que a ciência estivesse sempre em pauta.
O período pandêmico também evidenciou a
influência, de base científica forte, do dinheiro,
uma vez que certos países tiveram acesso
primeiro aos imunizantes em detrimento dos
demais. A ciência brasileira é fomentada e
focada dentro das universidades estaduais e
federais do país, o que promove a liberdade e
a garantia de desenvolvimento com enfoque
em demandas internas. O desenvolvimento de
fármacos para doenças negligenciadas, por
exemplo, demonstra o papel das
universidades públicas brasileiras, pois tal
problemática não é pensada por países do
hemisfério norte.
Pensando em garantir a soberania nacional,
a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP) financiou a
Vinícius Borges
a construção do novo centro de ciência
translacional que será abrigado dentro do
Centro de Estudos de Venenos e Animais
Peçonhentos (CEVAP), da Unesp de Botucatu,
que ficará pronto no início de 2024. Esse
centro, focado na produção de biofármacos,
fará parte dos Centros de Ciência para o
Desenvolvimento (CCD), os quais têm como
objetivo a fomentação do avanço científico,
aumento de políticas públicas e a resolução de
problemas sociais.
Biofármacos são biomoléculas com poder
terapêutico ou preventivo que podem resultar
em vacinas, anticorpos monoclonais ou soros. O
centro translacional irá auxiliar os estudos
clínicos, visto que a maioria dos candidatos
terapêuticos falham nessa etapa. Um dos
principais motivos para tal problema é a falta de
espaço adequado para condução dos testes
iniciais que viabilizam a produção dos
biocompostos em escala industrial. Foram
investidos R$ 10 milhões para a construção do
centro translacional.
1 4
''Estas substâncias têm um importante papel estratégico de segurança nacional, como
ficou muito bem demonstrado durante a pandemia. Quem produz vacinas atende primeiro
seus interesses nacionais, os seus amigos e depois os outros compradores. Portanto,
desenvolver competência nessas questões é uma questão de segurança nacional (Marco
Antonio Zago, Presidente da FAPESP).''
Foto: Martha Martins de Morais – ACI UNESP.
Fomentar o desenvolvimento e a criação de novos CCDs, como o centro translacional
abrigado no CEVAP, garante a soberania nacional e incentiva a formação de novos
profissionais e o desenvolvimento de tecnologias 100% brasileiras, assegurando o
acesso a medicamentos altamente seletivos e especializados, com um menor custo, para
toda a população, bem como a independência brasileira frente a tecnologias em saúde
estrangeiras.
De PET a PET
1 5
O PROGRAMA PET
EM ARARAQUARA
O
Laura Gleriani
grupo PET Farmácia, em conjunto com o PET
Administração Pública, PET Ciência Sociais, PET Economia,
PET Letras, PET Odontologia, PET Pedagogia e PET
Química, compõe o PETARA. Esse grupo, fundado
informalmente em 1996, é de vital importância para a troca
de experiências intercursos e para o desenvolvimento de
atividades de extensão mais completas.
Foram os tutores Elizete, Flávio, João e Paulo e seus
membros, a partir de uma necessidade de integração e
união entre eles, que criaram o grupo atualmente
denominado PETARA. Assim, as primeiras atividades
foram compostas por sessões de filmes clássicos nacionais
e discussões acerca dos assuntos abordados.
O primeiro e o principal desafio enfrentado pelo PETARA
foi em 1999, quando a Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) publicou no Diário
Oficial a extinção do Programa de Educação Tutorial, após
sucessivos cortes (como o fim do auxílio a professor
visitante). A seguir dessa notícia impactante, o PETARA
mobilizou vários grupos PET da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho’’. Em reuniões sediadas
em Araraquara, foram planejadas manifestações em
Brasília e articulações com o poder executivo da época, que
contava com o professor Paulo Renato Souza como
ministro da educação.
16
Após muito trabalho em conjunto, aprendizado político e
resiliência, os representantes do PETARA, juntamente com
outros PETs, conseguiram revogar a lei e transferir a
responsabilidade do programa para a Secretaria de Educação
Superior (SESu). Com tamanha dedicação e comprometimento,
o grupo dos PETs de Araraquara ficou nacionalmente
conhecido, servindo de exemplo de trabalho coletivo.
Como trabalhos do PETARA mais recentes, o Professor
Doutor João Aristeu citou as atividades “PET na Praça’’ e “PET
na Escola’’, em que os grupos, com seus conhecimentos
específicos, puderam trabalhar a tríade Ensino, Pesquisa e
Extensão em conjunto com a população de Araraquara. Ele
ainda ressaltou que é agregador tal união multidisciplinar pois
"aprendemos com os outros cursos".
Apesar de uma história tão bela, o conjunto de PETs de
Araraquara sofreu certo enfraquecimento em sua união e poder
político, sobretudo com o advento da pandemia de SARS-CoV-
2. Entretanto, no atual cenário, é possível ver uma crescente
mobilização entre os membros para reviver os tempos de glória
do grupo multidisciplinar. E, com isso, esperançar pelo futuro do
PETARA, que pode contribuir muito para a educação brasileira.
Por fim, o professor Aristeu deixa um conselho
“É PRECISO TER
DETERMINAÇÃO, VONTADE DE
TRABALHAR E UNIÃO ENTRE OS
GRUPOS’’.
SESSÃO DESTAQUE
17
HERANÇAS DA COLONIZAÇÃO
BIANCA MARTINS, YAGO KLEBER, POLIANA GONÇALVES E IZABELLA PEREIRA
Anos após a colonização,
seguimos lidando com as
heranças deixadas pelo
período, as violências de povos
nativos e da população negra,
além da grande hierarquização
da sociedade colonial, fato que
reflete nos dias atuais e
acentua a grande desigualdade
social no país.
Tal questão é fruto de uma
pequena elite que dominava os
bens e concentrava rendas, e
que ainda permanece no
poder, marginalizando cada
vez mais pessoas, devido a
maneira que a concentração
de renda aumenta a cada ano.
O racismo estrutural também
está diretamente relacionado a
este fator, visto que ainda há
muita dificuldade de ascensão
e mobilidade social devido às
heranças de um passado
escravocrata.
Além disso, a concentração
de terras também recorda os
tempos passados, já que
atualmente cerca de 1% dos
proprietários de terra
controlam mais da metade da
área rural do país. A
concentração de terras não é
apenas um aspecto
econômico,
mas
historicamente remete ao
poder político, e portanto, essa
grande convergência impede
que haja uma redistribuição de
poder entre o povo.
Revisando a história do país,
percebemos que fomos
construídos em pedestais de
latifúndios, monocultura e
escravidão, fatores estes que
apenas ...
aprofundam a
desigualdade social.
Ainda que estejamos muito
distantes do passado, muitos
dos problemas coloniais ainda
se repetem nos dias de hoje, e
por isso vivemos um ciclo em
que as heranças da colonização
se sobrepõem às lutas e
direitos, e para que haja
qualquer avanço nessa área é
necessário, sobretudo, aceitar
que os resquícios de violência,
corrupção e diferenças
econômicas recaem sobre nós.
Assim como as demais colônias
da América Latina, o
Brasil, sob domìnio de Portugal,
utilizou-se intensamente da
mão de obra índigena em
trabalhos forçados, resultando
em perdas demográficas
significativas e na devastação
de muitas culturas, tanto pela
violência dos conflitos entre
colonizadores e os povos
nativos, como pelas doenças
trazidas do Velho Mundo, que
foram responsáveis por dizimar
populações inteiras.
Posteriormente, com o
estabelecimento de um
comércio sólido de cana-deaçúcar,
implementou-se o
sistema de escravidão africana
que perdurou por mais de 300
anos, permanecendo nos
demais ciclos econômicos do
café e da mineração. Tal qual
os indígenas, os africanos
sequestrados de suas terras
natais passaram a ser
escravizados e sujeitos a
condições desumanas.
A pluralidade e riqueza que a
cultura brasileira possui é fruto
do encontro e do choque dos
diferentes grupos étnicos, que
se mesclaram ao decorrer da
história do país, tendo como
legado desigualdade, opressão
e outras mazelas às
populações não europeias. A
colonização, impôs como
cultura aos negros e indígenas
inúmeras
tradições
portuguesas, como o idioma,
religião católica, arquitetura e
outros componentes europeus
que visavam suprimir e retirar a
identidade de suas tradições.
Entretanto, sempre houve
resistência à marginalização e
supressão das culturas, o que
se conhece como identidade
brasileira, expressa na música,
culinária, tradições festivas e
folclore, é resultado da
transformação e sinergismo
das tradições e elementos
culturais tanto dos povos
indígenas quanto dos povos
africanos.
Os povos indígenas habitavam
o território brasileiro muito
antes da chegada dos
colonizadores europeus, e por
estarem familiarizados com o
território, muitos nomes de
lugares, rios, montanhas e
cidades são de origem
indígena, preservando a
memória desses povos.
Assim como o valioso legado
deixado pela medicina nativa,
que introduziu plantas
medicinais e práticas
terapêuticas que influenciaram
a medicina popular, a culinária
brasileira também é
fortemente influenciada pelos
ingredientes e técnicas
culinárias indígenas. Alimentos
como mandioca, milho, batata-
...
doce, pimentas e frutas
tropicais são exemplos.
Já a influência africana é
notável na música, na dança,
na religião e na culinária. Os
ritmos africanos, como o
samba, a capoeira e o
maracatu, tornaram-se
símbolos do Brasil. Além disso,
as religiões afro-brasileiras,
como o candomblé e a
umbanda,
preservam
elementos das religiões
africanas e combinam
elementos do catolicismo e de
religiões indígenas, resultando
em práticas ricas em
simbolismo. A culinária afrobrasileira,
com pratos como o
acarajé, o vatapá e o feijão
tropeiro, também são heranças
inestimáveis provindas da
cultura Africana.
No âmbito educacional, sabese
que a estrutura vista no
período colonial articulava-se
às esferas econômicas,
políticas e culturais do regime,
reproduzindo vínculos de
exploração, poder e alienação
da natureza do seu povo. A
herança colonial é tida como
uma perspectiva geral no
âmbito epistêmico, político e
pedagógico, que por anos
omitiu os modos de ser de
outros, propagando-se o
sIstema de conteúdo curricular
18
nas injustiças normalizadas,
como sendo uma das
obrigações da própria escola
moderna a naturalização das
violências exercidas pelo
eurocentrismo que, no fim,
resultam de ações civilizatórias.
O pensamento decolonial, que
se desatrela das lógicas
capitalistas e se compõe de
diversidade de vozes, como um
sistema que reestrutura o
currículo colonial, exemplifica
uma pluralidade de saberes,
relacionando com escolas no
campo, mas também, com as
indígenas, quilombolas, e de
matrizes africanas, que
considera que as mesmas se
baseiam de ensinos escolares e
não de uma estrutura
fundamentada em uma
pedagogia estabelecida,
diferente e intercultural. Esta
concepção de currículo dialoga
entre as convivências, tanto
translocais, quanto interlocais,
tornando a ancestralidade um
recurso fundamental da
epistemologia dos povos
anteriormente citados, e que
direcionam para o
desenvolvimento da vida
escolar dos indivíduos. Dessa
forma, a temporalidade
curricular utilizada na
ancestralidade estrutura-se
em diferentes tempos, na qual
irá dialogar com o moderno e
os desafios presentes —
considerando a trajetória dos
currículos explicitados pelo
pensamento decolonial, que
necessitam de técnicas iniciais
e de professores que ampliam
a comunicação dos saberes e
práticas relacionados aos
territórios dos grupos
historicamente silenciados.
Evidenciamos que o currículo constituído na contemporaneidade
não caracteriza, majoritariamente, um objeto de justiça social,
mas sim, no qual dialoga com um mecanismo que modificou o
aparelho gerador de injustiças e que se estrutura a partir do
genocídio de determinados grupos. Considerando as instituições
de educação superior, como também as de secretarias municipais
e estaduais de educação, deve-se fazer relações horizontais com
movimentos sociais de luta, liderados pelo campo, população
preta, indígena e quilombola, que há anos conversam com as
vivências de outras naturezas e políticas, contribuindo para a
produção de práticas formativas que rompam com os sistemas
eurocentrados, propiciando estruturas curriculares
comprometidas com a garantia de direitos presentes na
modernidade.
19
Todos esses aspectos negativos do
desenvolvimento do país e da consolidação do
Brasil como estado, se dão principalmente pela
visão de que o território era apenas uma colônia. A
partir da chegada da família real portuguesa ao
Brasil, em 1808, iniciou-se um período significativo
na história do país que trouxe consigo uma série
de transformações e desenvolvimentos. A vinda
da corte portuguesa se deu por conta do contexto
das guerras Napoleônicas, que ocorriam naquela
época no continente Europeu. Após chegar, a
realeza se instalou na cidade do Rio de Janeiro e a
partir desse momento, o Brasil já não era mais
visto apenas como colônia extrativista, e sim,
também, como uma extensão da metrópole
portuguesa, na qual começaram a ser fomentadas
diversas mudanças sociais, econômicas e
culturais ao país. Dentre as transformações
trazidas, e que perduram até os dias atuais, está o
nascimento da Academia Real Militar, que
posteriormente seria desenvolvida e unida a
outros centros de ensino criados espalhados pelo
estado do Rio de Janeiro, dando origem, em 1920,
à Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ainda dentro do âmbito desenvolvimentista, pode-se citar a criação da Biblioteca Nacional,
além do incentivo às universidades. Quando a família Real chegou ao Brasil, D. João Vl, juntamente
com a corte portuguesa, trouxe consigo mais de 60 mil peças de cunho cultural, a exemplo de
manuscritos, mapas e livros diversos. A chegada desse grande acervo é tido como o nascimento
do que é conhecido hoje como Biblioteca Nacional. Partindo para as mudanças econômicas, a
presença da corte portuguesa na colônia movimentou enormemente os portos, o que trouxe
grande fluxo comercial à região. Não existiam, até então, instituições bancárias no Brasil, mas com
esse grande movimento monetário, e por conta da presença da família real portuguesa no Rio de
Janeiro, D. João VI fundou, no ano de 1808, o Banco do Brasil, instituição essa que perdura até os
dias atuais, sendo um dos primeiros bancos públicos a ser criado em todo o mundo.
Em suma, a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808 teve um impacto significativo
na história do país. A criação da Academia Real Militar, do Banco do Brasil e da Biblioteca Nacional
são exemplos das transformações que ocorreram nesse período. Essas instituições contribuíram
para o desenvolvimento intelectual, científico e o fortalecimento econômico do Brasil, deixando
uma herança que perdura até os dias atuais. Percebe-se, portanto, que a herança colonial no Brasil
não pode ser interpretada por uma perspectiva maniqueísta, isto é, não deve ser analisada como
um legado puramente negativo ou positivo, e essa dualidade complexa se converge na pluralidade
cultural que permeou o processo de formação da sociedade e do Estado brasileiro, e do que hoje
conhecemos como Brasil. É importante ter ciência do que foi e ainda é a herança colonial, bem
como suas consequências na construção de classe social, cultura, educação e poder no país, e a
partir disso, usar os meios disponíveis, sejam eles privilégios ou revolta, para lutar contra esse
sistema.
20
21
PET
INDICA
B I A N C A M A R T I N S , Y A G O K L E B E R , P O L I A N A G O N Ç A L V E S E I Z A B E L L A P E R E I R A
Livro: 1808, do autor
Laurentino Gomes
"1808" de Laurentino Gomes é um livro que nos
transporta para os bastidores da história do Brasil. Com
uma narrativa empolgante e uma pesquisa minuciosa, o
autor nos leva a uma jornada fascinante, desvendando os
segredos e reviravoltas que moldaram nossa nação. Ao
mergulhar nas páginas deste livro, somos imersos em um
Brasil colonial em busca de sua independência,
testemunhando a chegada da família real portuguesa ao
Rio de Janeiro. Ao acompanhar a corte, percebemos o
contraste cultural, as tensões políticas e os embates
ideológicos que fervilhavam na época.
No entanto, "1808" vai além de uma simples descrição
dos eventos históricos. Laurentino Gomes nos convida a
refletir sobre o legado deixado por esses acontecimentos.
Ele nos faz compreender a construção da identidade
brasileira e nos mostra como os eventos narrados
moldaram a nação que somos hoje. É uma obra que nos
instiga a pensar sobre nossa história e o impacto que ela
teve no presente.
22
Filme: Medida
Provisória
Em um futuro distópico, o governo
brasileiro decretou uma medida provisória, em
uma iniciativa de reparação pelo passado
escravocrata, provocando uma reação no
Congresso Nacional. O Congresso então
aprova uma medida que obriga os cidadãos
negros a migrarem para a África na intenção
de retornar a suas origens.
Livro: 1499 - O Brasil antes de
Cabral, do autor Reinaldo
José Lopes
Este livro do jornalista Reinaldo José
Lopes, publicado em 2017, é uma incursão ao
universo pré-histórico da região hoje chamada
Brasil. Nesta obra, Lopes traz informações
para um público abrangente, que vai de
curiosos não acadêmicos e estudiosos de
várias áreas de conhecimento – arqueologia,
história, antropologia, sociologia,
paleontologia, biologia, geologia, geografia
etc. Ele oferece um texto de leitura fluida, com
muito bom humor e embasamento científico.
Filme : Pindorama
Uma alegoria sobre a colonização do Brasil
mostrando guerras, índios, negros, colonos e
aventureiros. Passado numa cidade
imaginária do século XVI, o filme faz uma
grande paródia do Brasil.
03
23
Debate
O POTENCIAL DA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
NA ÁREA DA SAÚDE
A
inteligência artificial (IA) tem sido uma das tecnologias
mais promissoras e revolucionárias dos últimos anos, e seu
potencial na área da saúde tem despertado grande interesse e
entusiasmo. Com o avanço da IA, estamos presenciando uma
transformação significativa nesse setor, com impactos positivos
na detecção precoce de doenças, diagnóstico preciso,
tratamentos personalizados e atendimento ao paciente.
Entretanto, apesar das diversas aplicações e benefícios, o
potencial uso da inteligência artificial na área da saúde também
contém possíveis desafios.
Beatriz Frateschi Leite e Ludmila Lima Aparecida Fideles Rossi
24
DIAGNÓSTICO E DETECÇÃO PRECOCE DE DOENÇAS
A IA tem o potencial de revolucionar o
diagnóstico e a detecção precoce de
doenças. Algoritmos de processamento de
máquinas podem analisar grandes volumes
de dados médicos, como exames de
imagem, históricos de pacientes e resultados
de testes laboratoriais, e identificar padrões
sutis que podem passar despercebidos pelos
médicos. Essa capacidade de processar
grandes volumes de informações de forma
rápida e eficiente pode ajudar os
pesquisadores a identificar alvos
terapêuticos, desenvolver medicamentos
mais eficazes, acelerar o tratamento e
descobrir precocemente doenças, como
oncológicas, cardiovasculares ou
neurodegenerativas, assim aumentando as
chances de sucesso no tratamento e
salvando vidas.
MEDICINA PERSONALIZADA E TRATAMENTOS
ESPECÍFICOS
Outro aspecto promissor da IA na saúde é a capacidade de fornecer tratamentos
personalizados e específicos para cada paciente. Com base em dados individuais, como perfil
genético, histórico médico e estilo de vida, os algoritmos de IA podem auxiliar os médicos na
escolha dos melhores tratamentos e medicamentos para cada caso. Isso proporciona uma
abordagem mais precisa e eficaz, evitando tratamentos desnecessários ou ineficientes,
cuidando dos pacientes e maximizando os resultados.
PESQUISA E DESCOBERTA DE NOVAS TERAPIAS
A IA tem o potencial de acelerar significativamente o processo de pesquisa e descoberta
de novas terapias. Há centros médicos que contam com opções de cirurgias e procedimentos
complexos feitos por robôs, o que permite o controle do cirurgião a distância e eleva as taxas
de sucesso, diminuindo os possíveis riscos, principalmente em operações minimamente
invasivas. Um estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que o uso da cirurgia assistida
por IA reduziu em 5 vezes as complicações em cirurgias ortopédicas.
25
DESAFIOS E CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Embora o potencial da inteligência artificial na área da saúde seja notável, é importante
abordar os desafios e as considerações éticas envolvidas. A privacidade e a segurança dos
dados do paciente devem ser protegidas para garantir que as informações pessoais não
sejam mal utilizadas. Isto é, a maioria dos algoritmos precisa de acesso a grandes conjuntos
de dados para treinamento e validação, informações que podem vir a ser alvo para hackers.
Além disso, a IA deve ser vista como uma ferramenta complementar aos profissionais de
saúde, e não como substituta, pois o contato médico-paciente é imprescindível.
Outra questão que entra em debate é sobre quem leva a culpa e as consequências
jurídicas e financeiras em caso de erro com risco de vida. A tomada de decisões clínicas deve
ser uma colaboração entre médicos e algoritmos de IA, levando em consideração a expertise
humana e os aspectos subjetivos do cuidado com o paciente.
A inteligência artificial possui um imenso potencial na área da saúde, interligando a
maneira como diagnosticamos, tratamos e cuidamos dos pacientes. Suas aplicações
abrangem desde o diagnóstico precoce de doenças até a pesquisa de novas terapias. A IA
tem o poder de personalizar os tratamentos, melhorar os resultados clínicos e promover uma
medicina mais precisa e eficiente. No entanto, é fundamental enfrentar os desafios éticos e
garantir que ela seja usada de maneira responsável e em benefício dos pacientes. Com
investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento, podemos aproveitar ao máximo
esse potencial na área da saúde e transformar a forma como cuidamos do bem-estar das
pessoas.
26
100 ANOS
DA FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
A Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp
Araraquara teve o início de sua história no dia 2 de
fevereiro de 1923, nascendo como a “Escola de
Farmácia e Odontologia de Araraquara”, mas só foi
incorporada à Unesp depois. Sua instalação foi no
Prédio da rua Aurora, hoje conhecido com
“Expedicionários do Brasil”. Embora tenha sido
fundada em 1923, somente 4 anos depois, em 31 de
outubro de 1927, houve o reconhecimento pelo
governo estadual através do decreto no 4.303,
assinado por Júlio Prestes, sendo esse o primeiro
documento reconhecido da escola. Seu primeiro
regimento interno, definido pela congregação em 27
de setembro de 1930, estabeleceu o tempo de
duração de ambos os cursos, um tempo menor do
que atualmente, sendo para a Farmácia 4 anos e a
Odontologia apenas 3 anos. Na década de 40, a
escola passou por problemas financeiros, de tal forma
que no ano de 1942, os professores abriram mão de
seus salários neste ano, assinando um documento e
enviando para o diretor. Esse gesto foi espontâneo e
visava o melhor para o desenvolvimento da escola.
Ainda nesse período turbulento, houve um evento
muito importante: a criação, pelos estudantes, do
Centro Acadêmico Sampaio Vidal.
H i g o r S o u z a
A faculdade foi incorporada ao sistema estadual
de Ensino Superior no ano de 1951. O ano de 1960,
foi marcado com a expansão da área das instalações
da Escola de Farmácia e Odontologia, pois no fim
deste ano houve o término da construção do Prédio
de Ciências Biomorfológicas.
A década de 70 foi de grande importância para a
Faculdade de Farmácia e Odontologia. Logo em
1970, surge o decreto-Lei nº 191, de 30 de janeiro,
que transformou a Faculdade em instituto isolado de
ensino superior em uma Autarquia de regime
especial. A partir desse momento, a faculdade
ganhou personalidade jurídica e patrimônio próprio.
O Decreto nº 3317, de 8 de fevereiro de 1974, e o
Parecer CEE nº 1670/73 estabeleceram uma nova
estrutura departamental e curricular da Faculdade
de Farmácia e Odontologia. Especificamente para a
farmácia, o curso foi desenvolvido em 2 ciclos,
sendo eles o básico e o profissional. Dessa forma, o
discente poderia escolher entre se formar como um
farmacêutico, assim a duração do curso seria 3 anos,
ou adicionar um ano a mais, se formando em 4 anos
como Farmacêutico-Bioquímico.
Ainda na década de 70, no dia 30 de
janeiro de 1976, é decretada a Lei nº
952, que cria a Universidade Estadual
Paulista "Júlio de Mesquita Filho” e
incorpora, como Unidade Universitária, a
Faculdade de Farmácia e Odontologia de
Araraquara. Entretanto, a partir de 27 de
janeiro de 1977, ocorre a separação da
Faculdade de Farmácia e Odontologia,
devido ao estatuto da própria UNESP,
assim havendo duas Unidades
Universitárias diferentes, sendo elas a
Faculdade de Ciências Farmacêuticas e a
Faculdade de Odontologia, ambas
integrantes do Campus Universitário de
Araraquara.
Os departamentos de ensino foram
instalados no campus universitário na
década de 80. Ainda nessa década,
houve acontecimentos importantes no
movimento estudantil, uma vez que o
Centro Acadêmico Sampaio Vidal, que
era composto pela Farmácia e
Odontologia, se separou em 1986 por
meio de assembleia entre os estudantes.
Assim, houve um centro acadêmico
de Farmácia provisório até 1987,
quando o centro acadêmico provisório
se tornou oficialmente e juridicamente o
Centro Acadêmico de Ciências
Farmacêuticas (CACIF) através de
assembleia.
Na década de 1990, houve a criação
do Núcleo de Atendimento à
Comunidade (NAC) devido ao
desenvolvimento do laboratório de
análises clínicas e ampliação dos
serviços de hemoterapia.
Por fim, nos anos 2000, houve a
criação estrutural de diversas unidades,
como a inauguração em 04 de março
de 2010 do prédio da biblioteca,
Diretoria Técnica e Seção Técnica de
Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão.
Em 2013, a Faculdade de Ciências
Farmacêuticas implantou o curso de
Engenharia de Bioprocessos e
Biotecnologia, criado pela Resolução
Unesp 111/2012. Além disso, em 2015
o Departamento de Análises Clínicas
mudou sua instalação para o campus
universitário.
27
GIRO SOCIOPOLÍTICO
28
P E R D A D E H E G E M O N I A D O S E U A
Bianca Inácio Martins
Atualmente, o dólar americano é a moeda
dominante na economia global e desempenha um
papel significativo na geopolítica, principalmente em
assuntos internacionais, influenciando as decisões
econômicas e políticas de outros países. Desde o fim
da Segunda Guerra Mundial, o dólar substituiu o
euro e passou a atuar como moeda de reserva global,
participando das transações internacionais, incluindo
comércio de commodities e petróleo, e assim,
assumindo o controle das taxas de câmbio de outras
moedas nos mercados financeiros.
O papel central desta moeda permite aos governos
utilizá-la como uma influente ferramenta de
controle, proporcionando a aplicação de sanções
econômicas, de modo a bloquear o acesso de outros
países ao sistema financeiro global, congelar ativos
denominados em dólares e impor restrições
comerciais.
Quando o dólar se valoriza, as moedas de outros
países tendem a se desvalorizar em relação a ele, o
que pode ter implicações nos fluxos de capital e nas
economias dos países dependentes de exportação.
No entanto, a influência do dólar não é absoluta, e
outras moedas como o euro, a libra esterlina e o
Yuan chinês também desempenham um papel
significativo nas transações globais.
Apesar da estabilidade aparente do dólar, existem
algumas tendências que indicam um possível
declínio gradual de seu domínio e uma maior
diversificação no sistema monetário global. O
crescimento econômico de países como China, Índia
e outros emergentes têm impulsionado suas moedas
como novas alternativas nas transações de acordos
comerciais e investimentos. A economia chinesa, por
exemplo, se desenvolveu rapidamente nas últimas
décadas e demonstra uma participação cada vez
maior no comércio exterior. Além de possuir a
posição de segundo lugar no ranking de potências
econômicas, a China é líder em exportações, detém
grandes reservas de moeda estrangeira e tem
investido em projetos de infraestrutura em várias
regiões do mundo, impulsionando cadas vez mais a
demanda por bens e serviços chineses e as
negociações comerciais e financeiras envolvendo o
yuan.
Em relação ao Brasil, a China é seu principal parceiro comercial, e o comércio bilateral entre os dois
países se dá principalmente pela exportação de produtos agrícolas, minerais e industriais e importação de
bens de capital, tecnologia e produtos industriais. Ambas nações têm mantido diálogos regulares em níveis
diplomáticos e buscam alinhamentos em temas como o multilateralismo, o desenvolvimento sustentável e a
governança global. Também têm trabalhado juntos em fóruns internacionais, como o BRICS (grupo que
inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em suma, sugere-se que a China pode eventualmente ultrapassar os Estados Unidos como a maior
economia do mundo em termos de PIB, especialmente considerando o ritmo de crescimento contínuo da
China e as transformações estruturais em curso na economia global. É improvável que a curto prazo, o dólar
perca sua hegemonia como moeda de transação internacional, mas acredita-se que no futuro ocorra
transformações no sistema monetário global, com uma maior presença de várias moedas, incluindo o yuan.
29
30
Brasil,
mostra tua cara
Mauro Venceslau
Por que ainda existem pessoas sendo escravizadas?
D
urante o ano de 2023, denúncias de trabalho escravo no Brasil foram escancaradas pela
mídia brasileira, mostrando uma realidade do país que nunca deixou de existir para as
pessoas pretas e pobres: a escravidão.
No dia 23 de fevereiro de 2023, mais de 200 trabalhadores foram resgatados de um
alojamento em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul, onde foram submetidos a
condições degradantes de trabalho análogo à escravidão durante a colheita de uva. Os
trabalhadores foram contratados por uma empresa que oferecia a mão de obra para as
vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região.
O alojamento ficava no Bairro
Borgo, a cerca de 15 km dos vinhedos
do município. A maioria dos
trabalhadores viajaram da Bahia para
o Rio Grande do Sul e, quando se
deram conta das condições de
trabalho, tentaram ir embora, mas
foram ameaçados e violentados.
O administrador da empresa
chegou a ser preso pela
polícia, mas pagou fiança e foi
solto. A maioria dos
trabalhadores resgatados
voltaram para a Bahia,
enquanto os demais optaram
por permanecer no RS.
Mas o que é o trabalho análogo à escravidão e por qual
motivo ainda ocorre?
A diferença entre o trabalho análogo à
escravidão e a escravidão é jurídica. A
escravidão no Brasil é juridicamente banida
desde 13 de maio de 1888.
O trabalho análogo à escravidão ocorre
nos setores em que as empresas não
precisam disputar por mão de obra
qualificada, em que existe uma enorme
quantidade de “exército industrial de
reserva”, citado por Karl Marx em sua crítica
da economia política, na qual esse “exército”
se trata de um contingente de pessoas com
mão de obra pouco qualificada e
desempregada, que acabam reféns do
serviço que lhes é proposto.
O exército industrial de reserva brasileiro,
no fim da sua ponta, leva-nos aos casos de
trabalho análogo à escravidão, ou à escravidão
contemporânea, como o recente caso dos mais
de 200 trabalhadores resgatados dessas
condições, assim como tantos outros que vêm
ocorrendo no Brasil e são pouco noticiados. No
país, a maior parte desses casos ocorrem em
indústrias agrárias, principalmente em
indústrias sucroalcooleiras, onde a grande
parte das pessoas nessas condições são pretas,
da região Norte e Nordeste. Portanto, esses
casos ocorrem de forma sazonal, todos os anos,
devido aos períodos de cultivo e colheita.
31
A escravidão no Brasil é uma ferida aberta. Isso porque o país começou a combater
efetivamente a escravidão e o racismo após os anos 2000. Ainda que os termos do Código
Penal, desde 1940, preveem como crime a submissão ao trabalho análogo à escravidão,
apenas depois de 1995 o Brasil reconheceu que no território existe escravidão e que esta
problemática precisa ser combatida.
Por que vemos tantos casos atualmente?
O aumento no número de
desempregados facilita o aliciamento
destas pessoas, e isso faz com que elas
sejam levadas para lugares longe de
suas casas e se tornem suscetíveis a
episódios de trabalho análogo à
escravidão. A descoberta desses casos
recentes tem grande relação com os
aparatos da fiscalização governamental
que voltaram à ativa, uma vez que,
durante o governo Bolsonaro,
ocorreram diversos cortes nestes órgãos
fiscalizadores.
É previsto que, com o passar dos
anos, esses casos voltem a aparecer na
mídia, por isto, aos órgãos
governamentais cabe fiscalização e
combate dessas práticas hediondas, já
à sociedade cabe a não isenção e até
mesmo boicote contra essas grandes
empresas que são favoráveis a práticas
de escravidão. Deve-se, portanto,
renunciar a esta nova forma de
escravidão moderna.
32
RETRATO
Ana Laura Dias Ramos
CAROLINA MARIA DE JESUS
(1914-1977)
“um retrato da pós-abolição no Brasil”
A
escravização do continente
africano constitui uma parte
inegavelmente crucial para a formação
do mundo como o conhecemos hoje. A
África foi dominada em todos os
aspectos, mas o que era mais
procurado, valorizado e facilmente
descartado eram os povos que lá
viviam. Estima-se que os colonizadores
de Portugal levaram à força mais de 4,8
milhões de africanos ao Brasil, e outros
670 mil morreram no caminho.
Dimensionalmente, quantas pessoas
vivem na sua cidade? E no seu Estado?
Apenas 26 anos após a assinatura
da Lei Áurea, nasceu Carolina Maria de
Jesus, em Sacramento, MG. Uma
mulher preta retinta, mãe solo e
escritora, detentora de um
pensamento crítico extremamente
avançado e atual. Ela sentiu na pele
todas as consequências de mais de 300
anos de um sistema escravocrata que
encerrou sem nenhum tipo de
reparação e deixou marcados, na
sociedade brasileira, diferentes tipos de
preconceito racial.
"Eu estava pagando o sapateiro e conversando com
um preto que estava lendo um jornal. Ele estava
revoltado com um guarda civil que espancou um
preto e amarrou numa arvore. O guarda civil é
branco. E há certos brancos que transforma preto em
bode expiatorio. Quem sabe se guarda civil ignora
que já foi extinta a escravidão e ainda estamos no
regime da chibata?” (Quarto de Despejo).
A escritora tornou-se mundialmente
conhecida pelo seu primeiro livro “Quarto de
Despejo", que foi traduzido em vários
idiomas. O início desse livro foi o diário de
Carolina, em que ela relatava sua vida em São
Paulo, na favela do Canindé, junto de seus
três filhos. Ela é considerada uma das
escritoras de maior relevância na literatura
brasileira, sendo homenageada pela
Academia Paulista de Letras e Academia de
Letras da Faculdade de Direito de São Paulo,
além de receber um título honorífico da
Orden Caballero del Tornillo, da Argentina.
"Carolina Maria de Jesus é precursora da
Literatura Periférica [...] sua narrativa traz o
cotidiano periférico não somente como tema,
mas como maneira de olhar a si e a cidade.
Em uma São Paulo que projetava uma falsa
imagem de lugar com oportunidades para
todos." (Fernanda Rodrigues de Miranda,
mestre em Letras - TRECHO EDITADO).
F
ilha de pais lavradores, Carolina esteve na
escola por apenas 2 anos, o suficiente para pegar
gosto pela leitura e começar a escrever suas
próprias histórias, motivo pelo qual chegou a ser
presa sob acusação de praticar feitiçaria. Já
trabalhou como faxineira e catadora, atividades que
não garantiam a subsistência de sua família, sendo
a fome um tema recorrente na sua literatura.
33
“Passei o resto da tarde escrevendo. [...]. Li um
pouco. Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear
um livro. O livro é a melhor invenção do homem.”
(Quarto de Despejo)
“Quando Jesus disse para as
mulheres de Jerusalem: —
‘Não chores por mim. Chorae
por vós’ — suas palavras
profetisava o governo do
Senhor Juscelino. Penado de
agruras para o povo
brasileiro. Penado que o
pobre há de comer o que
encontrar no lixo ou então
dormir com fome”.
(Quarto de Despejo).
Em seu livro, Carolina
considera que a favela
funciona como o quarto de
despejo da sociedade, local
onde se guarda o que não é
mais utilizado, por isso a
escolha do título. Ela ainda
acrescenta: "Eu classifico São
Paulo assim: o Palacio, é a sala de visita. A Prefeitu-
ra é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela
é o quintal onde jogam os lixos”.
É inegável que as favelas surgiram pela falta
de assistência do estado à grande massa
populacional que se tornou ex-escrava e sua
consequente exclusão passiva de todos os
ambientes. Dito isso, Carolina chamou a atenção
mundial para a situação dentro dessas comunidades
e pode ter levado a intervenções significativas para
melhoria desses espaços, que são heranças
indiretas da colonização no Brasil.
Outros livros de Carolina: Casa de alvenaria
(1961); Diário de Bitita (1986); Meu estranho diário
(1996).
"Carolina Maria de Jesus autografando seu livro Quarto de despejo, em 1960. Arquivo Nacional / Domínio Público".
Nota: As obras seguintes de Carolina não
alcançaram tanto sucesso na época, e a
escritora morreu em Parelheiros, distrito de
São Paulo, com 62 anos. Seu primeiro livro
sofreu muitas alterações editoriais do
jornalista que lançou a obra, os termos
cultos foram alterados para passar a ideia de
uma escrita coloquial de uma “favelada”, e
nesse arquétipo a obra obteve visibilidade na
alta sociedade.
34
A chave para o sucesso,
Um presente para os que virão,
É o passado moldando o futuro,
A incerteza seguindo na contramão.
Preserva o conhecimento,
É a mãe dos avanços em qualquer área,
Pilar de impérios e países;
Quase sempre usada como arma.
É Clareza na Escuridão!?
Ou a Escuridão?
Para aqueles que recusam a ver com clareza?.
Exerce grande poder nos dois casos, sem distinção.
Mas por enquanto, aqui tem sido assim,
A História… mal contada,
Rege e molda
O futuro depois do fim.
Ana Laura Dias Ramos
DIMINUINDO ESPAÇOS
35
QUALIDADE CARA DE VIDA
É
muito comum, em nosso sistema capitalista,
buscarmos por momentos de diversão para
desocupar a cabeça no quesito das obrigações do
dia a dia. Para termos uma melhor qualidade de
vida, é necessário tempo, dinheiro e locomoção.
Sendo assim, em análise dos fatos históricos,
desde civilizações antigas, possuímos teatros e
espetáculos como forma de causar felicidade ao
povo. Por exemplo, no Império Romano, em que
ocorria a política do pão e circo, que consistia em
dar comida e bebida aos espectadores enquanto
eles assistiam a um espetáculo, o qual na época
se tratava de batalhas. Hoje em dia, as pessoas
também buscam isso, mas de forma
modernizada, como é o caso do cinema.
Dimitri Campos
Com todos esses gastos, torna-se pouco
interessante essa programação, principalmente
se considerarmos que os streamings on-line
podem nos entregar uma gama de conteúdos por
um preço muito mais acessível que você assiste
no conforto de sua casa.
Para que se torne mais acessível e chamativa a
opção do cinema, deveria haver uma política de
publicidade e propaganda mais atrativa à
população, seja com promoções mais aceitáveis
ao salário brasileiro ou, até mesmo, cinemas
comunitários, organizados em praças públicas de
livre acesso a qualquer pessoa.
Em segunda análise, o lazer que as pessoas
buscam custa um preço, o qual é a grande
problemática para a maior parte da população
brasileira que, para conseguir assistir a um filme,
gasta com o transporte até o local, estacionamento
dos shoppings e a entrada na sala do filme
escolhido.
PET EGRESSO
36
MEMÓRIAS DO PET E A ATUAL VIDA NA
FARMACOVIGILÂNCIA
POR MATHEUS MARQUES SANCHEZ ASSAD, TURMA 85 DE FARMÁCIA/UNESP, 2014-
2019
A VIDA NA FCFAR E O PET
Meu primeiro contato com o
PET Farmácia foi lá em 2014,
durante a Semana do Calouro,
logo nos primeiros meses de
graduação. Houve a
apresentação das entidades
estudantis da FCF e o PET Tour,
com o propósito de realizar um
passeio pela cidade com
alguns pontos estratégicos
para os anos futuros. Também
participei da minha primeira
(de muitas) “Mesa Redonda de
Egressos”, organizada pelo PET,
em que vi profissionais
voltando para Araraquara para
contar sobre suas áreas de
atuação e experiências após se
formarem. Ao final daquele
ano, prestei o processo seletivo
...
do PET e iniciei meu caminho
de 4 anos junto com o grupo.
Organização do Encontro dos PETs da Unesp (EPU) 2016 (PETs de Araraquara)
Durante minha passagem,
além dos incríveis colegas
petianos, tive o prazer e a
honra de conviver com dois
tutores excelentes: Prof. Dr.
João Aristeu da Rosa e a Prof.ª
Dra. Mara Cristina Pinto, que
trouxeram os conceitos de
horizontalidade, dedicação e
parceria em seus significados
mais verdadeiros. As atividades
que desenvolvemos tinham um
grande foco: a tríade “Ensino,
Pesquisa e Extensão”,
buscando
trazer
aprimoramento para os alunos
da graduação, ao mesmo
tempo em que nos
aprimorávamos
individualmente dentro do
grupo.
Atividades como realizar a
tradicional e anual Mesa
Redonda de Egressos;
minicursos (Homeopatia e um
de Relações Interpessoais);
seminários abertos (uma das
minhas favoritas); escrever a
Revista do PET Farmácia;
realizar feiras de saúde;
pesquisas coletivas, CinePET;
biblioteca do PET; etc.
contribuíram muito para nosso
desenvolvimento. Também
tínhamos muito contato com
outros grupos PET da Unesp
Araraquara (PETARA) e
fazíamos reuniões e atividades
para promover uma integração
entre os diferentes cursos, algo
que sempre considerei muito
enriquecedor.
Acharam muito (rs)? Saibam
ainda que, no final de cada
uma dessas atividades,
fazíamos avaliação das
mesmas (pontuando forças e
fraquezas, tanto individuais
quanto coletivas) e redigíamos
relatórios para enviar ao
Ministério da Educação (MEC),
que financia o programa e
acompanha nossas atividades.
Falando em MEC, lembro-me
agora de como o PET me
permitiu ver ativamente a
importância da mobilização
social e do nosso papel político
dentro da sociedade.
O PET, sendo um programa
nacional e envolvido com a
troca de governos/gestores,
sempre foi muito mobilizado
para lutar por sua existência e
permitir uma construção
diversa do programa: seja nos
encontros regionais ou no
nacional (ENAPET), em que
discutíamos problemáticas e
soluções para as mais diversas
questões (com Assembleia
Geral e votação); nas
mobilizações para trazer
visibilidade ao programa e
mostrar nossas atividades para
a população (em momentos
plenos e nos de instabilidade
também); ou nas
manifestações para cobrança
por bolsas em atraso e demais
melhorias de comunicação
junto ao MEC. Tudo isso me
ajudou a ver e entender mais
como a política perpassa todas
as esferas da nossa vida e
como estar informado e
articulado é nossa melhor arma
para lutarmos.
Despedi-me do PET em 2018
e levo até hoje a certeza de que
tudo isso que vivi, além das
salas de aulas, dos laboratórios
e dos livros, foi muito
importante para mim.
Com o PET (e as demais
entidades da FCF), pude me
desenvolver, criar novas
habilidades e ajudar outros
colegas nesse caminho
também. Até hoje tenho
contato com colegas e amigos
petianos, profissionalmente e
na vida particular também,
além de acompanhar o atual
grupo nas redes sociais com
muito orgulho de ter feito parte
dessa história.
FORMEI!... E AGORA?
Pós-graduação: Residência
Multiprofissional
Após me formar, decidi me
especializar na atuação clínica
do farmacêutico. Prestei uma
vaga para um edital de
Residência Multiprofissional,
financiado pelo Ministério da
Saúde. Em março de 2020,
ingressei na 7ª turma de
Residência em Farmácia do
Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP
(HCFMUSP) em São Paulo.
Durante o primeiro ano de
residência, tivemos um grande
papel no enfrentamento da,
ainda recente, pandemia de
COVID-19, renovando e
facilitando
processos
operacionais da farmácia
hospitalar para otimizar o
atendimento dos pacientes.
Felizmente, a vacina chegou e
pudemos também participar
da campanha de vacinação de
todos os funcionários do
Complexo HCFMUSP.
No segundo ano de residência,
estive alocado no setor de
Farmacovigilância do hospital e
foi lá que descobri essa nossa
área de atuação.
As reações adversas a
medicamentos (RAM) são defi-
37
-nidas como “qualquer
resposta prejudicial ou
indesejável e não intencional
que ocorre com medicamentos
em doses usualmente
empregadas no homem para
profilaxia,
diagnóstico,
tratamento de doença ou para
modificação de funções
fisiológicas” (1) e, no hospital,
trabalhávamos analisando as
suspeitas de RAM ocorridas em
pacientes e notificadas por
farmacêuticos, equipe de
enfermagem e equipe médica.
Nossas notificações, após
investigadas, redigidas e
revisadas, eram submetidas
para a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA).
Após finalizar a residência, em
2022, quis seguir atuando
nessa área de
Farmacovigilância.
Indústria Farmacêutica:
Farmacovigilância
Sabem quando estamos
lendo uma bula de algum
medicamento e nos
deparamos com uma lista de
eventos adversos? Esse
conhecimento vem, em grande
parte, dos esforços da área de
Farmacovigilância e todas as
suas vertentes dentro das
indústrias farmacêuticas.
Durante todo o processo de
desenvolvimento de um
medicamento, além de ser
investigada a eficácia e os
parâmetros
farmacológicos/dinâmicos das
moléculas, a segurança é uma
das maiores preocupações em
relação aos possíveis futuros
fármacos. Eventos adversos
são coletados e analisados
durante todas as etapas da
pesquisa clínica e podem,
inclusive, ser responsáveis pelo
encerramento de uma
pesquisa com uma molécula,
após riscos graves serem
detectados. Uma vez que
novos medicamentos são
aprovados e lançados no
mercado, até em nível mundial,
esses seguem sendo
monitorados pelas suas
fabricantes, hospitais, clínicas,
instituições de saúde e pela
própria população geral na
categoria de pacientes e/ou
consumidores.
Atualmente, trabalho no
setor de Farmacovigilância de
uma empresa farmacêutica
multinacional, e minha tarefa é
processar e compilar
informações de eventos
adversos ocorridos em
pacientes utilizando nossos
medicamentos em duas
frentes: de produtos já
comercializados e de novos
produtos em investigação
clínica. Coletamos dados
demográficos dos pacientes,
do uso dos medicamentos e do
evento/reação em si e
alocamos todo esse material
numa base de dados que gera
informações para o
monitoramento de segurança
dos medicamentos e permite o
envio de relatórios e
submissões para agências
regulatórias de diversos países
que também fazem parte
desse processo de
monitoramento, conforme as
atuais legislações regulatórias.
No Brasil, temos a ANVISA; nos
Estados Unidos, existe o FDA;
na Europa, eles têm a EMA;
entre diversas outras.
Lembre-se: caso você
suspeite de eventos adversos
enquanto estiver fazendo uso
de algum medicamento,
busque informações na bula,
Serviço de Atendimento ao
Cliente (SAC), site das
empresas e/ou outros meios
de comunicações possíveis,
seja para tirar dúvidas
ou até mesmo relatar o
próprio evento adverso.
CONCLUINDO, POR ORA…
Estar envolvido no
ambiente hospitalar
(atenção terciária) e
ambulatorial
(atenção secundária),
durante a residência,
trouxe-me muitos
aprendizados. Um
deles foi a aplicação
prática de como o
farmacêutico pode
atuar como membro
ativo da equipe
multidisciplinar
Vacinação COVID-19 no HC
nesses setores,
promovendo a segurança do paciente e o uso racional de
medicamentos, além de a atuação clínica da nossa profissão ser
cada vez mais necessária.
Atualmente, atuando na Farmacovigilância, posso ver um outro
lado desses esforços pela segurança dos pacientes e geração de
conhecimento científico com o uso de medicamentos. Espero
despertar a curiosidade de vocês nesses temas e torço para que
todos sigam trilhando caminhos belos em sua jornada pelo amplo
e diverso mundo farmacêutico. Aos petianos atuais, deixo aqui
uma frase do Professor Aristeu que sempre me inspirou e espero
que os inspire também: “O PET não é o PET pelo PET, ele é o PET
pela graduação”. Abraços a todes!
Festa de Despedida -
2018 (com Mara,
Aristeu e amigos
egressos)
PUMA - Projeto de
Descarte de
Medicamentos em
escolas (2017)
38
39
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SILVA, J. F.; SANTOS, A. R. Tensão entre memória colonial e a memória decolonial na construção
do currículo escolar: uma problematização das heranças coloniais. Revista Espaço do Currículo, v.
16, n. 1, p. 1-12, 2023.
"A COLONIZAÇÃO DEIXOU UM LEGADO DE
DESIGUALDADE, MAS A JUSTIÇA SOCIAL É
A HERANÇA QUE OS OPRIMIDOS
REIVINDICAM PARA SI MESMOS."
PAULO FREIRE