XXXVII Revista PET Farmácia - Heranças da Colonização
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
30
Brasil,
mostra tua cara
Mauro Venceslau
Por que ainda existem pessoas sendo escravizadas?
D
urante o ano de 2023, denúncias de trabalho escravo no Brasil foram escancaradas pela
mídia brasileira, mostrando uma realidade do país que nunca deixou de existir para as
pessoas pretas e pobres: a escravidão.
No dia 23 de fevereiro de 2023, mais de 200 trabalhadores foram resgatados de um
alojamento em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul, onde foram submetidos a
condições degradantes de trabalho análogo à escravidão durante a colheita de uva. Os
trabalhadores foram contratados por uma empresa que oferecia a mão de obra para as
vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região.
O alojamento ficava no Bairro
Borgo, a cerca de 15 km dos vinhedos
do município. A maioria dos
trabalhadores viajaram da Bahia para
o Rio Grande do Sul e, quando se
deram conta das condições de
trabalho, tentaram ir embora, mas
foram ameaçados e violentados.
O administrador da empresa
chegou a ser preso pela
polícia, mas pagou fiança e foi
solto. A maioria dos
trabalhadores resgatados
voltaram para a Bahia,
enquanto os demais optaram
por permanecer no RS.
Mas o que é o trabalho análogo à escravidão e por qual
motivo ainda ocorre?
A diferença entre o trabalho análogo à
escravidão e a escravidão é jurídica. A
escravidão no Brasil é juridicamente banida
desde 13 de maio de 1888.
O trabalho análogo à escravidão ocorre
nos setores em que as empresas não
precisam disputar por mão de obra
qualificada, em que existe uma enorme
quantidade de “exército industrial de
reserva”, citado por Karl Marx em sua crítica
da economia política, na qual esse “exército”
se trata de um contingente de pessoas com
mão de obra pouco qualificada e
desempregada, que acabam reféns do
serviço que lhes é proposto.
O exército industrial de reserva brasileiro,
no fim da sua ponta, leva-nos aos casos de
trabalho análogo à escravidão, ou à escravidão
contemporânea, como o recente caso dos mais
de 200 trabalhadores resgatados dessas
condições, assim como tantos outros que vêm
ocorrendo no Brasil e são pouco noticiados. No
país, a maior parte desses casos ocorrem em
indústrias agrárias, principalmente em
indústrias sucroalcooleiras, onde a grande
parte das pessoas nessas condições são pretas,
da região Norte e Nordeste. Portanto, esses
casos ocorrem de forma sazonal, todos os anos,
devido aos períodos de cultivo e colheita.