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Fazendo Gênero 8 – Corpo, Violência E Poder

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que a utilização de artefatos e práticas que eram eminentemente tidas como do gênero feminino<br />

passam a ser apropriadas pelos meninos das escolas estudadas justamente no intuito de se<br />

diferenciarem de outros meninos e de se inscreverem em uma cultura global. Essa prática acaba<br />

também, em alguma medida, por borrar as fronteiras entre os gêneros. Meninos que usam anéis em<br />

vários dedos e tornozeleiras e que pintam as unhas e o cabelo produzem uma forma de ser menino<br />

em que as preocupações e os cuidados com o corpo são centrais. De certa maneira, esses meninos<br />

estão em “sintonia” com um mundo no qual a centralidade do consumo se organiza em torno da<br />

estética, da beleza, do estilo e da visibilidade.<br />

No final do ano de 2005, a “onda”, a moda do momento era usar pulseirinhas de silicone<br />

coloridas. Tanto meninas quanto meninos, de várias idades, portavam várias pulseiras nos braços e<br />

tornozelos. Essa “febre” caracterizou-se pela grande quantidade de pulseiras que cada indivíduo<br />

portava. O fato de meninos e meninas usarem essas pulseirinhas indistintamente causou<br />

estranhamento por parte de professores. Uma professora, inclusive, reclamou: “Já não bastavam os<br />

anéis, brincos e piercings, agora os guris vão começar a usar pulseiras também!” Parece-me que a<br />

busca por prazer, pela fruição, por fazer parte do mundo das visibilidades acaba, de certa forma,<br />

fazendo com que a demarcação permanente e vigilante do gênero deixe, em alguma medida, de ser<br />

central. Um exemplo disso seria o caso das meninas que utilizam produtos direcionados a meninos,<br />

compondo seu visual com a roupa da Hello Kitty e o caderno do Batman, ou o de um dos meninos,<br />

que usava o cabelo com franjas, liso e comprido até a cintura e que afirmou que até não se<br />

importava em ser confundido com uma menina, mas que ficava irritadíssimo quando alguém<br />

puxava ou arrancava seu cabelo.<br />

Retomo o uso das pulseirinhas de silicone, cujos usos distintos que as crianças e jovens<br />

faziam delas, por vezes, contribuíam para desestabilizar o binarismo masculino/feminino e, por<br />

outras, acabava por reforçá-lo. Cohen (2000) diz que “o difícil projeto de construir e manter as<br />

identidades de gênero provoca uma série de respostas ansiosas por toda a cultura [...]” (p. 35). Em<br />

muitos casos, os usos que meninos e meninas faziam das pulseiras eram muito semelhantes, mas,<br />

em muitos outros, eram bem distintos e diretamente relacionados à identificação de gênero. Por<br />

exemplo, as meninas trançavam as pulseirinhas, fazendo cintos para colocar em seus quadris, e os<br />

meninos as trançavam para que se tornassem chaveiros. As pulseirinhas eram comercializadas em<br />

pacotes fechados, e muitos meninos acabavam comprando pacotes que continham pulseirinhas cor-<br />

de-rosa. Muitos deles usavam também as pulseiras cor-de-rosa, argumentando que isso os tornava<br />

igual aos outros meninos: “todos os guris estão usando”, diziam eles. Outros diziam que usavam as<br />

cor-de-rosa porque achavam legal, fashion. Também havia os que trocavam as pulseiras rosa por<br />

outras cores, argumentando que a cor rosa não era parte do gênero ao qual pertenciam: “eu não sou<br />

menina para usar rosa”.<br />

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