Vigilância Epidemiológica I - CEAD - Unimontes
Vigilância Epidemiológica I - CEAD - Unimontes
Vigilância Epidemiológica I - CEAD - Unimontes
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong><br />
Escola Técnica Aberta do Brasil<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
Joaquim Francisco de Lima<br />
Ministério da<br />
Educação
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong><br />
Escola Técnica Aberta do Brasil<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
Joaquim Francisco de Lima<br />
Patrícia Antônia de Brito<br />
Montes Claros - MG<br />
2011
Presidência da República Federativa do Brasil<br />
Ministério da Educação<br />
Secretaria de Educação a Distância<br />
Ministro da Educação<br />
Fernando Haddad<br />
Secretário de Educação a Distância<br />
Carlos Eduardo Bielschowsky<br />
Coordenadora Geral do e-Tec Brasil<br />
Iracy de Almeida Gallo Ritzmann<br />
Governador do Estado de Minas Gerais<br />
Antônio Augusto Junho Anastasia<br />
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia<br />
e Ensino Superior<br />
Alberto Duque Portugal<br />
Reitor<br />
João dos Reis Canela<br />
Vice-Reitora<br />
Maria Ivete Soares de Almeida<br />
Pró-Reitora de Ensino<br />
Anete Marília Pereira<br />
Diretor de Documentação e Informações<br />
Huagner Cardoso da Silva<br />
Coordenador do Ensino Profissionalizante<br />
Edson Crisóstomo dos Santos<br />
Diretor do Centro de Educação Profissonal e<br />
Tecnólogica - CEPT<br />
Juventino Ruas de Abreu Júnior<br />
Diretor do Centro de Educação à Distância<br />
- <strong>CEAD</strong><br />
Jânio Marques Dias<br />
Coordenadora do e-Tec Brasil/<strong>Unimontes</strong><br />
Rita Tavares de Mello<br />
Coordenadora Adjunta do e-Tec Brasil/<br />
CEMF/<strong>Unimontes</strong><br />
Eliana Soares Barbosa Santos<br />
Coordenadores de Cursos:<br />
Coordenador do Curso Técnico em Agronegócio<br />
Augusto Guilherme Dias<br />
Coordenador do Curso Técnico em Comércio<br />
Carlos Alberto Meira<br />
Coordenador do Curso Técnico em Meio<br />
Ambiente<br />
Edna Helenice Almeida<br />
Coordenador do Curso Técnico em Informática<br />
Frederico Bida de Oliveira<br />
Coordenador do Curso Técnico em<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde<br />
Simária de Jesus Soares<br />
Coordenador do Curso Técnico em Gestão<br />
em Saúde<br />
Zaida Ângela Marinho de Paiva Crispim<br />
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA I<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong><br />
Elaboração<br />
Joaquim Francisco de Lima<br />
Patrícia Antônia de Brito<br />
Projeto Gráfico<br />
e-Tec/MEC<br />
Supervisão<br />
Wendell Brito Mineiro<br />
Diagramação<br />
Hugo Daniel Duarte Silva<br />
Marcos Aurélio de Almeda e Maia<br />
Impressão<br />
Gráfica RB Digital<br />
Designer Instrucional<br />
Angélica de Souza Coimbra Franco<br />
Kátia Vanelli Leonardo Guedes Oliveira<br />
Revisão<br />
Maria Ieda Almeida Muniz<br />
Patrícia Goulart Tondineli<br />
Rita de Cássia Silva Dionísio
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Apresentação e-Tec Brasil/<strong>Unimontes</strong><br />
Prezado estudante,<br />
Bem-vindo ao e-Tec Brasil/<strong>Unimontes</strong>!<br />
Você faz parte de uma rede nacional pública de ensino, a Escola<br />
Técnica Aberta do Brasil, instituída pelo Decreto nº 6.301, de 12 de dezembro<br />
2007, com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino técnico público,<br />
na modalidade a distância. O programa é resultado de uma parceria entre<br />
o Ministério da Educação, por meio das Secretarias de Educação a Distancia<br />
(SEED) e de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), as universidades e<br />
escola técnicas estaduais e federais.<br />
A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e<br />
grande diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas<br />
ao garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimento<br />
da formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente<br />
ou economicamente, dos grandes centros.<br />
O e-Tec Brasil/<strong>Unimontes</strong> leva os cursos técnicos a locais distantes<br />
das instituições de ensino e para a periferia das grandes cidades, incentivando<br />
os jovens a concluir o ensino médio. Os cursos são ofertados pelas<br />
instituições públicas de ensino e o atendimento ao estudante é realizado em<br />
escolas-polo integrantes das redes públicas municipais e estaduais.<br />
O Ministério da Educação, as instituições públicas de ensino técnico,<br />
seus servidores técnicos e professores acreditam que uma educação profissional<br />
qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – não só<br />
é capaz de promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também<br />
com autonomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social,<br />
familiar, esportiva, política e ética.<br />
Nós acreditamos em você!<br />
Desejamos sucesso na sua formação profissional!<br />
Ministério da Educação<br />
Janeiro de 2010<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
3<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Indicação de ícones<br />
Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas<br />
de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.<br />
Atenção: indica pontos de maior relevância no texto.<br />
Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto ou<br />
“curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado.<br />
Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada<br />
no texto.<br />
Mídias integradas: possibilita que os estudantes desenvolvam atividades<br />
empregando diferentes mídias: vídeos, filmes, jornais, ambiente AVEA e<br />
outras.<br />
Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes níveis<br />
de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e conferir o seu<br />
domínio do tema estudado.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
5<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Sumário<br />
Palavra do professor conteudista ........................................... 11<br />
Projeto instrucional ........................................................... 13<br />
Aula 1 – Epidemiologia - conceito de saúde e do processo de saúdedoença<br />
.................................................................... 17<br />
1.1 Introdução ............................................................ 17<br />
1.2 Saúde como direito ................................................ 17<br />
1.3 Teorias do processo de saúde-doença e seus condicionantes 18<br />
Resumo ................................................................... 22<br />
Atividades de aprendizagem ........................................... 23<br />
Aula 2 - Epidemiologia – conceitos, objetivos e tríades epidemiológicas. . 25<br />
2.1 Introdução ........................................................... 25<br />
2.2 Conceitos ............................................................ 25<br />
2.3 Objetivos ............................................................. 28<br />
2.4 Tríades epidemiológicas ........................................... 30<br />
2.5 Conceitos epidemiológicos de doenças .......................... 31<br />
2.6 Medidas preventivas ................................................ 33<br />
Resumo ................................................................... 37<br />
Atividades de aprendizagem ........................................... 37<br />
Aula 3 - Quadro demográfico e sanitário brasileiro ....................... 39<br />
3.1 Introdução ........................................................... 39<br />
3.2 População ............................................................ 39<br />
3.3 Água, esgoto e lixo ................................................. 42<br />
3.4 Mortalidade infantil ................................................. 43<br />
3.5 Moradia ..............................................................44<br />
Resumo .................................................................. 45<br />
Atividades de aprendizagem ........................................... 45<br />
Aula 4 - Organização do Sistema de Saúde no Brasil ..................... 47<br />
4.1 Introdução ........................................................... 47<br />
4.2 O processo histórico do SUS ....................................... 47<br />
4.3 Princípios e diretrizes do SUS ..................................... 50<br />
4.4 Os níveis de atenção à saúde ..................................... 51<br />
Resumo ................................................................... 53<br />
Atividades de aprendizagem ........................................... 54<br />
Aula 5 - Noções básicas sobre <strong>Vigilância</strong> Sanitária - VISA ............... 55<br />
5.1 Conceito ............................................................. 55<br />
5.2 Origem da VISA ...................................................... 55<br />
5.3 Objetivo .............................................................. 56<br />
5.4 Estrutura VISA no Brasil ............................................ 56<br />
5.5 Funções da VISA ..................................................... 56<br />
5.6 Áreas de atuação da VISA .......................................... 58<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
7<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Resumo ................................................................... 59<br />
Atividades de aprendizagem ........................................... 59<br />
Aula 6 - <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental - VISA ........................... 61<br />
6.1 Introdução ........................................................... 61<br />
6.2 <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental relacionada à qualidade<br />
da água para o consumo humano – VIGIAGUA ....................... 62<br />
6.3 <strong>Vigilância</strong> em Saúde de populações expostas à poluição<br />
do ar - VIGIAR ........................................................... 65<br />
6.4 Programa de <strong>Vigilância</strong> Ambiental em Saúde de populações<br />
expostas ou sob o risco de exposição a solos contaminados -<br />
VIGISOLO ................................................................. 70<br />
Resumo ................................................................... 72<br />
Atividades de aprendizagem ........................................... 73<br />
Aula 7 - <strong>Vigilância</strong> epidemiológica - procedimentos técnicos da vigilância<br />
epidemiológica........................................................... 75<br />
7.1 Introdução ............................................................ 75<br />
7.2 Propósito da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> .......................... 76<br />
7.3 Funções da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> ............................ 76<br />
7.4 Coleta de dados e informações ................................... 77<br />
7.5 Notificação ........................................................... 78<br />
7.6 Investigação epidemiológica de casos ............................ 78<br />
7.7 Imprensa e população .............................................. 79<br />
7.8 Estudos epidemiológicos ........................................... 79<br />
7.9 Diagnóstico de casos ................................................ 79<br />
7.10 Normatização ....................................................... 79<br />
7.11 Retroalimentação do sistema ..................................... 80<br />
7.12 Investigação de casos de uma doença .......................... 80<br />
7.13 Roteiro da investigação de casos ................................ 81<br />
Resumo ................................................................... 83<br />
Atividades de aprendizagem ........................................... 84<br />
Aula 8 – Cólera ................................................................. 85<br />
8.1 Descrição ............................................................. 85<br />
8.2 Agente etiológico ................................................... 85<br />
8.3 Reservatório ......................................................... 86<br />
8.4 Modo de transmissão ............................................... 86<br />
8.5 Período de incubação .............................................. 86<br />
8.6 Período de transmissibilidade ..................................... 86<br />
8.7 Suscetibilidade e imunidade ....................................... 86<br />
8.8 Aspectos clínicos e laboratoriais - manifestações clínicas .... 86<br />
8.9 Diagnóstico diferencial ............................................. 87<br />
8.10 Diagnóstico laboratorial........................................... 87<br />
8.11 Tratamento ......................................................... 87<br />
8.12 <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> e ambiental .......................... 89<br />
8.13 Saneamento Ambiental ........................................... 89<br />
8.14 Educação em saúde ............................................... 90<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 8<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Resumo ................................................................... 91<br />
Atividades de aprendizagem ........................................... 91<br />
Aula 9 - Doença de Chagas ................................................... 93<br />
9.1 Introdução ............................................................ 93<br />
9.2 Descrição ............................................................. 93<br />
9.3 Etiologia .............................................................. 94<br />
9.4 Transmissão .......................................................... 95<br />
9.6 Período de incubação .............................................101<br />
9.7 Aspectos clínicos ...................................................102<br />
9.8 Diagnóstico laboratorial ...........................................104<br />
9.9 Tratamento ..........................................................105<br />
9.10 Aspectos epidemiológicos .......................................105<br />
9.11 Objetivos da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> ........................106<br />
9.12 Notificação .........................................................106<br />
9.13 Fluxos de notificação .............................................106<br />
9.14 Medidas de controle e prevenção...............................107<br />
Resumo ..................................................................108<br />
Atividades de aprendizagem ..........................................109<br />
Aula 10 - Esquistossomose .................................................. 111<br />
10.1 Introdução ......................................................... 111<br />
10.2 Descrição .......................................................... 111<br />
10.3 Sinonímia .......................................................... 111<br />
10.4 Agente etiológico ................................................. 112<br />
10.5 Reservatório ....................................................... 112<br />
10.6 Modo de transmissão ............................................. 113<br />
10.7 Período de incubação ............................................ 115<br />
10.8 Período de transmissibilidade ................................... 115<br />
10.9 Suscetibilidade e imunidade .................................... 115<br />
10.10 Aspectos clínicos e laboratoriais .............................. 115<br />
10.11 Diagnóstico laboratorial ........................................ 116<br />
10.12 Tratamento ....................................................... 117<br />
10.13 <strong>Vigilância</strong> epidemiológica - VE ................................. 117<br />
Resumo .................................................................. 118<br />
Atividades de aprendizagem .......................................... 119<br />
Aula 11 – Leishmanioses - visceral e cutânea mucosa ................... 121<br />
11.1 Leishmaniose Visceral - LV ou Calazar ......................... 121<br />
11.2 Leishmaniose tegumentar americana – LTA - ou ferida brava 126<br />
Resumo .................................................................. 129<br />
Atividades de aprendizagem .......................................... 130<br />
Aula 12 - Dengue ............................................................. 131<br />
12.1 Introdução ......................................................... 131<br />
12.2 Descrição .......................................................... 131<br />
12.3 Agente etiológico ................................................. 131<br />
12.4 Reservatório ....................................................... 132<br />
12.5 Vetores ............................................................. 132<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 9<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
12.6 Modo de transmissão ............................................. 133<br />
12.7 Período de incubação ............................................ 133<br />
12.8 Período de transmissibilidade ................................... 133<br />
12.9 Ciclo intrínseco....................................................134<br />
12.10 Ciclo extrínseco ..................................................134<br />
12.11 Suscetibilidade e imunidade ...................................134<br />
12.12 Aspectos clínicos e laboratoriais .............................. 135<br />
12.13 Tratamento ....................................................... 136<br />
12.14 Aspectos epidemiológicos ...................................... 136<br />
12.15 <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> ...................................... 138<br />
Resumo ..................................................................140<br />
Atividades de aprendizagem .......................................... 141<br />
Aula 13 – Influenza - H1N1 ................................................... 143<br />
13.1 Introdução ......................................................... 143<br />
13.2 Descrição .......................................................... 143<br />
13.3 Sinonímia ..........................................................146<br />
13.4 Agente etiológico .................................................146<br />
13.5 Reservatório .......................................................146<br />
13.6 Modo de transmissão .............................................146<br />
13.7 Período de incubação ............................................ 149<br />
13.8 Período de transmissibilidade ...................................149<br />
13.9 Suscetibilidade e imunidade .....................................149<br />
13.10 Aspectos clínicos e laboratoriais ..............................150<br />
13.11 Tratamento ....................................................... 152<br />
13.12 <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> ...................................... 152<br />
13.13 Instrumentos disponíveis para controle ...................... 153<br />
13.14 Medidas adicionais de prevenção e controle .................154<br />
Resumo ..................................................................158<br />
Atividades de aprendizagem ..........................................158<br />
Referências .................................................................... 159<br />
Currículo do professor conteudista ........................................ 163<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 10<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Palavra do professor conteudista<br />
Futuro Técnico em <strong>Vigilância</strong> em Saúde seja bem-vindo ao eixo<br />
temático do Curso de Técnico em <strong>Vigilância</strong> em Saúde: <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
I.<br />
Imagino a expectativa de cada um em relação a este eixo temático,<br />
espero corresponder a boa parte desta expectativa, pois sei o quanto é capaz<br />
de desenvolver conhecimentos e o quanto vai continuar desenvolvendo,<br />
juntamente com os colegas, tutores e professor conteudista, o processo de<br />
ensino-aprendizagem.<br />
Saiba que a Epidemiologia é a ciência que estuda a distribuição de<br />
doenças ou enfermidades e os seus determinantes na população humana,<br />
portanto, todas as informações que você obtiver nestes estudos serão utilizadas,<br />
juntamente com as informações já adquiridas para melhor entendimento<br />
da etiologia (causa) e da história natural de enfermidades, compreendendo<br />
e explicando o mecanismo de ação das doenças, além de entender o<br />
estado de saúde das populações, as intervenções ou os programas de saúde.<br />
Para adquirir essa capacidade, estudaremos o processo de<br />
saúde-doença: conceitos, objetivos, tríades epidemiológicas (agente, hospedeiro<br />
e meio ambiente), Conceitos Epidemiológicos de Doenças, medidas<br />
preventivas, noções básicas sobre doenças transmissíveis, doenças e<br />
agravos não transmissíveis e os três componentes da <strong>Vigilância</strong> Ambiental:<br />
água, solo e ar.<br />
Certo de que ampliará os conhecimentos em prol da promoção da<br />
saúde e do fortalecimento do Sistema Único de Saúde, desejo-lhe bons estudos.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
11<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Projeto instrucional<br />
Disciplina: Epidemiologia I (carga horária: 63h).<br />
Ementa: <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>; fundamentos de saúde pública;<br />
processo e conceito de saúde e doença; mecanismo de transmissão; conceitos<br />
e objetivos da epidemiologia; quadro demográfico e sanitário brasileiro;<br />
organização do sistema de saúde no Brasil; importância das variáveis;<br />
noções básicas das vigilâncias sanitária, ambiental e epidemiológica e seus<br />
procedimentos técnicos e doenças transmissíveis: cólera, doença de Chagas,<br />
esquistossomose, as leishmanioses – visceral e tegumentar mucosa -, dengue<br />
e influenza.<br />
AULA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM MATERIAIS CARGA<br />
HORÁRIA<br />
1. Conceito<br />
de saúde e do<br />
processo de<br />
saúde-doença<br />
2. Epidemiologia<br />
– conceitos,<br />
objetivos<br />
e tríades<br />
epidemiológicas.<br />
3.Quadro<br />
demográfico<br />
e sanitário<br />
Brasileiro<br />
4.<br />
Organização<br />
do sistema<br />
de saúde no<br />
Brasil<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
• Conceituar saúde e doença;<br />
• identificar a saúde como direito<br />
social;<br />
• citar as teorias do conhecimento<br />
do processo de saúde-doença;<br />
• reconhecer os agentes etiológicos<br />
das doenças.<br />
• Conceituar a epidemiologia;<br />
• diferenciar a epidemiologia como<br />
disciplina e como ciência;<br />
• descrever os objetivos da epidemiologia<br />
e a aplicabilidade destes<br />
conhecimentos;<br />
• citar a tríade epidemiológica, a<br />
transmissibilidade, a forma de<br />
disseminação em populações<br />
humanas e a porta de entrada no<br />
hospedeiro humano.<br />
• Conhecer os dados demográficos<br />
e sanitários do Brasil;<br />
• refletir sobre os indicadores de<br />
saúde e a mortalidade infantil;<br />
• descrever os índices de cobertura<br />
populacional e/ou de domicílios<br />
em relação ao abastecimento de<br />
água, esgoto, lixo e de moradia.<br />
• Descrever o processo histórico<br />
do SUS;<br />
• identificar os princípios e diretrizes<br />
do SUS;<br />
• conceituar os níveis de atenção à<br />
saúde.<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
2h/aulas<br />
6h/aulas<br />
3h/aulas<br />
3h/aulas<br />
13<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
5. Noções<br />
básicas sobre<br />
<strong>Vigilância</strong><br />
Sanitária -<br />
VISA<br />
6. <strong>Vigilância</strong><br />
em Saúde<br />
Ambiental –<br />
VSA.<br />
7. <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong><br />
- procedimentos<br />
técnicos da<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
• Conceituar a <strong>Vigilância</strong> Sanitária;<br />
• identificar o seu objetivo;<br />
• descrever as tarefas da <strong>Vigilância</strong><br />
Sanitária;<br />
• listar as áreas de atuação da<br />
VISA.<br />
• Conhecer a importância do envolvimento<br />
do setor da saúde nas<br />
questões ambientais;<br />
• identificar as ações dos principais<br />
componentes da VSA.<br />
• Conceituar a expressão <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong>;<br />
• identificar o propósito e a função<br />
da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>;<br />
• descrever os dados e as informações<br />
que alimentam o Sistema de<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>;<br />
• relatar as etapas de uma investigação<br />
epidemiológica.<br />
8. Cólera • Identificar o agente causador,<br />
bem como os sinais e os sintomas<br />
da cólera;<br />
• descrever a forma de transmissão<br />
do vibrião colérico;<br />
• citar as formas de tratamento e<br />
controle da doença;<br />
• propor ações preventivas e promocionais<br />
à saúde.<br />
9.Doença de<br />
Chagas<br />
10. Esquistossomose<br />
11.<br />
Leishmanioses<br />
– visceral<br />
e cutânea<br />
mucosa.<br />
• Conceituar a doença de Chagas;<br />
• descrever o ciclo evolutivo da<br />
doença;<br />
• definir os vetores;<br />
• citar os aspectos clínicos e<br />
epidemiológicos da doença, bem<br />
como as medidas de prevenção<br />
e de controle preconizadas pela<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
• Conceituar a esquistossomose;<br />
• identificar o seu ciclo evolutivo;<br />
• citar os conceitos usados na <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong>;<br />
• descrever os aspectos clínicos e<br />
epidemiológicos da doença, bem<br />
como as medidas de prevenção e<br />
controle.<br />
• Conceituar as leishmanioses,<br />
visceral ou calazar, e tegumentar<br />
americana ou ferida brava;<br />
• descrever a cadeia de transmissão;<br />
• identificar os principais sinais e<br />
sintomas do calazar no homem e<br />
no cão;<br />
• relacionar as formas de controle.<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
4h/aulas<br />
4h/aulas<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual. 7h/aulas<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual. 4h/aulas<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual. 4h/aulas<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
4h/aulas<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual. 4h/aulas<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 14<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
12. Dengue • Conceituar a dengue;<br />
• descrever a transmissão da doença<br />
via vetor e o ciclo biológico do<br />
Aedes aegypti;<br />
• identificar o agente etiológico e<br />
os ciclos no homem e no inseto;<br />
• descrever as manifestações<br />
clínicas da infecção por dengue e<br />
as medidas a tomar diante de um<br />
caso suspeito.<br />
13. Influenza –<br />
H1N1<br />
• Conceituar a doença influenza;<br />
• descrever o agente causador, as<br />
formas de contágio, os sinais e<br />
sintomas, o tratamento e a profilaxia<br />
ou as medidas preventivas;<br />
• identificar as ações da <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong> diante de casos<br />
suspeitos e/ou confirmados.<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
Apostila,<br />
computador<br />
e<br />
ambiente<br />
virtual.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 15<br />
4h/aulas<br />
4h/aulas<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Aula Alfabetização 1 – Epidemiologia Digital - conceito de<br />
saúde e do processo de saúde-doença<br />
Objetivos<br />
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja<br />
capaz de:<br />
• conceituar saúde e doença;<br />
• identificar a saúde como direito social;<br />
• citar as teorias do conhecimento do processo de saúde-doença;<br />
• reconhecer os agentes etiológicos das doenças.<br />
1.1 Introdução<br />
Antes de aprofundar nos conceitos da Epidemiologia, faz-se necessário<br />
compreender melhor o processo de saúde-doença, em sua complexidade<br />
e abrangência, e os determinantes das condições de saúde da população,<br />
saúde como direito social garantido na Constituição, bem como elencar o<br />
conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde<br />
e doença de uma população, observando as teorias do conhecimento do<br />
processo de saúde-doença.<br />
1.2 Saúde como direito<br />
Como foi visto em aulas dos módulos anteriores deste curso, a palavra<br />
saúde deve ser compreendida de forma abrangente, não se referindo somente<br />
à ausência de doenças, mas sim ao completo bem-estar físico, mental<br />
e social de um indivíduo. Esta é a orientação extraída do artigo 3º da Lei nº<br />
8.080/90: “a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre<br />
outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o<br />
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e<br />
serviços essenciais”.<br />
Assim, o termo saúde engloba uma série de condições que devem<br />
estar apropriadas para o bem-estar completo do ser humano, incluindo o<br />
meio ambiente equilibrado.<br />
Deste modo, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo,<br />
como componente da qualidade de vida.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
17<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Cidadania<br />
É a qualidade<br />
ou estado do cidadão;<br />
entende-se por<br />
cidadão “o indivíduo<br />
no gozo dos direitos<br />
civis e políticos de<br />
um estado, ou no<br />
desempenho de seus<br />
deveres para com<br />
este”. No sentido<br />
etimológico da palavra,<br />
cidadão deriva da<br />
palavra civita, que,<br />
em latim, significa<br />
cidade, e que tem<br />
seu correlato grego<br />
na palavra politikos -<br />
aquele que habita na<br />
cidade.<br />
No sentido<br />
ateniense do termo,<br />
cidadania é o direito<br />
da pessoa em<br />
participar das decisões<br />
nos destinos da cidade<br />
através da Ekklesia -<br />
reunião dos chamados<br />
de dentro para fora, na<br />
Ágora - praça pública<br />
onde se agonizava<br />
para deliberar sobre<br />
decisões de comum<br />
acordo. (FERREIRA,<br />
1993).<br />
Figura 1: Casal andando de bicicleta em ambiente saudável e aparentemente<br />
gozando de boa saúde.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 10 de abril de 2011.<br />
Segundo Almeida (1998), a saúde não é um “bem de troca”, mas um<br />
“bem comum”, um bem e um direito social, em que cada um possa ter assegurado<br />
o exercício e a prática do direito à saúde, a partir da aplicação e da utilização<br />
de toda a riqueza disponível (conhecimentos e tecnologias adequados às suas<br />
necessidades), alcançando a promoção e a proteção da saúde, a prevenção,<br />
o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação dos acometidos por doenças ou<br />
traumas.<br />
Esse direito está garantido no Artigo 6º da Constituição Federal de 1988.<br />
São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer,<br />
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade<br />
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta<br />
Constituição. (CF, 1988).<br />
Como trata de um direito, cabe ao cidadão exercer a cidadania e<br />
participar junto ao poder público para que tenha boa gestão dos recursos e<br />
dos serviços de saúde.<br />
1.3 Teorias do processo de saúde-doença e seus<br />
condicionantes<br />
Você deve estar se perguntando: afinal, o que significa processo<br />
de saúde-doença e quais as suas relações com a saúde e com o sistema de<br />
serviços de saúde?<br />
Segundo Almeida (1998), se levarmos em consideração a determinação<br />
causal a ser estudada a seguir, pode-se dizer que o processo de saúde-<br />
-doença representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona<br />
o estado de saúde e de doença de uma população, que se modifica<br />
nos diversos momentos históricos e nos do desenvolvimento científico da<br />
Humanidade.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 18<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Assim, houve a TEORIA MÍSTICA sobre a doença. De acordo com<br />
esta teoria, os nossos antepassados julgavam a doença como um fenômeno<br />
sobrenatural, ou seja, ela (a doença) estava além da sua compreensão do<br />
mundo, superada, posteriormente, pela teoria de que a doença era um fato<br />
decorrente das alterações ambientais no meio físico e concreto em que o<br />
homem vivia. Em seguida, surge a TEORIA DOS MIASMAS (gazes), na qual as<br />
pessoas acreditavam que as doenças surgiam do ar, do mau cheiro e da sujeira,<br />
teoria esta que predominou por muito tempo.<br />
Figura 2: No século XIX, era comum o acúmulo de sujeira em frente às fábricas.<br />
Fonte: Disponível em . Acesso em 05/05/2011.<br />
A teoria do miasma fez sentido às reformas sanitárias inglesas do<br />
século XIX. O miasma explicou porque a cólera e outras doenças eram epidêmicas<br />
nos lugares onde a água estava muito suja e, às vezes, com mau<br />
cheiro. A teoria conduziu às melhorias nos sistemas de saúde ou sanitários,<br />
o que conduziu os trabalhos na diminuição dos episódios da cólera.<br />
Mesmo que a teoria do miasma fosse desprovida pelo conhecimento<br />
dos vírus e das bactérias, fez-se a conexão entre o acaso e as doenças e as<br />
reformas da saúde pública. Mudanças estas que aconteceram contrapondo<br />
ao pensamento e às atitudes de alguns doutores (médicos) que não lavavam<br />
as suas mãos entre o atendimento aos pacientes, acreditando que algo que<br />
causava doença era somente transportado por via aérea, e não seriam transportados<br />
em suas mãos.<br />
Um bom exemplo desse descrédito foi a epidemia de Cholera (cólera),<br />
em Londres, em 1854; por causa da teoria do miasma, foi ignorada a<br />
descoberta do parasita causador da doença por Filippo Pacini e, somente<br />
trinta anos depois, confirmado por Robert Koch.<br />
Foi baseando-se nesta teoria que deram o nome de MALÁRIA, nome<br />
originário do italiano aria do mala (ar mau).<br />
Fonte: Texto baseado na publicação de Eurivaldo Sampaio de Almeida, Cláudio Gastão<br />
Junqueira de Castro, Carlos Alberto Lisboa Vieira. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da<br />
Universidade de São Paulo, 1998. (Série Saúde & Cidadania).<br />
Bom, você já ouviu falar que “há males que vêm para bem”? Acreditar<br />
que as doenças vinham do ar pode ter sido um mal, mas, para as conquistas<br />
no campo da saúde, foi um bem, pois, durante o século XVIII e início<br />
do século XIX, houve grande melhora da saúde pública, não por novos conhecimentos<br />
médicos na área da saúde, mas por medidas sanitárias inspiradas<br />
pelas velhas ideias da teoria dos miasmas.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 19<br />
Filippo Pacini nasceu<br />
em 25 de maio de<br />
1812 e faleceu em<br />
9 de julho de 1883.<br />
Era um anatomista<br />
italiano, famoso por<br />
isolar o bacilo da<br />
cólera cholerae de<br />
Vibrio, em 1854, bem<br />
paga das descobertas<br />
amplamente aceitadas<br />
de Robert Koch trinta<br />
anos depois.<br />
Figura 3: Filippo Pacini<br />
Fonte: Disponível em<br />
. Acesso em 20 de<br />
abril de 2011.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 4: Robert Koch<br />
Fonte: Disponível em<br />
. Acesso em 20 de<br />
abril de 2011.<br />
Robert Koch, nascido<br />
em 11 de dezembro<br />
de 1843, em Clausthal,<br />
e finado no dia 27<br />
de maio de 1910, em<br />
Baden-Baden. Médico<br />
alemão. É célebre<br />
por descobrir a<br />
bactéria responsável<br />
pela tuberculose que<br />
leva o seu nome :<br />
« bacilo de Koch ». É<br />
um dos fundadores da<br />
bacterioloxia. Recebeu<br />
o Prêmio Nobel de<br />
Fisioloxia e Medicina<br />
no ano de 1905. Em<br />
1883, descobriu - ou<br />
redescobriu, segundo<br />
alguns autores - o<br />
vibrião colérico.<br />
Louis Pasteur, cientista<br />
Francês, nasceu em Dole,<br />
em 27 de dezembro de<br />
1822, e faleceu em 28<br />
de setembro de 1895.<br />
Suas descobertas tiveram<br />
enorme importância na<br />
história da Química e da<br />
Medicina.<br />
Esse entendimento dos profissionais da área de saúde e da população<br />
prevalece até, com os estudos de Louis Pasteur na França, com a descoberta<br />
dos micróbios (vírus e bactérias), portanto, do agente etiológico, ou<br />
seja, daquele que causa a doença.<br />
Figura 5: Louis Pasteur em seu laboratório na França, onde identificou os agentes etiológicos<br />
(vírus e bactérias) causadores de doenças.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 06 de janeiro de 2011.<br />
É lembrado por suas notáveis descobertas das causas e prevenções<br />
de doenças. Entre seus feitos mais notáveis, podem-se citar a redução<br />
da mortalidade por febre puerperal e a criação da primeira vacina<br />
contra a raiva.<br />
Seus experimentos deram fundamento para a teoria microbiológica<br />
da doença. Foi mais conhecido do público em geral por inventar um<br />
método para impedir que o leite e o vinho causem doenças, um processo<br />
que veio a ser chamado de pasteurização. Ele é considerado um dos três<br />
principais fundadores da Microbiologia, juntamente com Ferdinand Cohn<br />
e Robert Koch. Pasteur também fez muitas descobertas no campo da<br />
Química, principalmente a base molecular para a assimetria de certos<br />
cristais. Seu corpo está enterrado sob o Instituto Pasteur em Paris, em<br />
um mausoléu decorado por mosaicos em estilo bizantino que lembram as<br />
suas realizações.<br />
Fonte: (Disponível em: Acessado em 06 de janeiro de 2011).<br />
Mesmo descobrindo os vírus e as bactérias, não foi possível explicar<br />
a ocorrência de uma série de doenças e de outros agravos à saúde do<br />
homem, portanto, a TEORIA DA UNICAUSALIDADE é complementada por uma<br />
série de conhecimentos produzidos pela EPIDEMIOLOGIA, como o modelo<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 20<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
epidemiológico baseado nos três componentes: agente, hospedeiro e meio,<br />
considerados como fatores causais ou que demonstram a MULTICAUSALIDADE<br />
como determinante da doença, e não apenas a presença exclusiva de um<br />
agente etiológico. Conhecimentos confirmados principalmente pelos estudos<br />
da EPIDEMIOLOGIA social, em meados do século XX, que esclarecem melhor a<br />
determinação e a ocorrência das doenças em termos individuais e coletivos.<br />
A partir desses conhecimentos, passa-se a considerar a saúde e a<br />
doença como estados de um mesmo processo, composto por fatores BIO-<br />
LÓGICOS, FÍSICOS E SOCIAIS, portanto, nem todas as pessoas que contraem<br />
(pegam) uma bactéria ou um vírus desenvolvem a doença, bem como, dentre<br />
aqueles que desenvolvem a doença, a minoria tem complicações graves e<br />
vem a óbito. Tudo isto depende do ambiente em que a pessoa vive, da situação<br />
econômica e social. Depende da resistência orgânica de cada um, se<br />
é bem alimentado ou não, das condições de moradia, sem se esquecer dos<br />
hábitos e dos costumes que podem influenciar, e muito, no desenvolvimento<br />
da doença.<br />
Figura 6: Água contaminada, lixo exposto, contato com vetores (exposição a<br />
riscos biológicos), situação socioeconômica, cultural e social. Demonstração da<br />
multicausalidade de doenças.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
Para você confirmar esta hipótese, basta observar a frequência de<br />
doenças e os óbitos entre as pessoas menos favorecidas economicamente, que<br />
vivem em situações precárias, em comunidades pobres rurais e urbanas da sua<br />
região. Isto não descarta as comunidades que têm um bom poder econômico<br />
de adoecerem e morrerem; pode acontecer, porém, em menor proporção, pelo<br />
menos por algumas doenças, como o sarampo, entre outras.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 21<br />
Não se esqueça de que<br />
o estilo de vida pode<br />
estar condicionado a<br />
fatores econômicos,<br />
sociais, culturais, entre<br />
outros. De qualquer<br />
modo, o importante<br />
é saber e reconhecer<br />
essa abrangência e<br />
complexidade causal:<br />
saúde e doença<br />
não são estados<br />
estanques, isolados<br />
ou que acontecem<br />
aleatoriamente – não<br />
se está com saúde ou<br />
doente por acaso. Há<br />
uma determinação<br />
permanente, um<br />
PROCESSO CAUSAL,<br />
que se identifica com<br />
o modo de organização<br />
da sociedade. Daí,<br />
dizer-se que há uma<br />
“produção social da<br />
saúde e/ou da doença”<br />
(ALMEIDA, 1998).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Voltaremos a este assunto na próxima aula, na qual falaremos sobre<br />
as tríades epidemiológicas.<br />
O Técnico em <strong>Vigilância</strong> em Saúde deve ter compreensão em relação<br />
ao processo de saúde-doença, e o conceito do que é ser ou estar doente,<br />
ou o que é ser ou estar saudável, pois, em toda população, há indivíduos<br />
sujeitos aos fatores de risco, adoencendo com maior ou menor frequência,<br />
e com maior ou menor gravidade, como já vimos nesta aula. Além do que,<br />
há diferenças de possibilidades, entre eles, de produzir condições para a sua<br />
saúde e de ter acesso aos cuidados no estado da doença. Vai depender, e<br />
muito, da informação que cada um tem a este respeito.<br />
Segundo Almeida (1998), há grupos informados dos seus direitos,<br />
que exigem ações e serviços de natureza e complexidade variadas. O saber<br />
e o fazer em relação à saúde da população, mediante um sistema de saúde,<br />
são tarefas que implicam na concorrência de várias disciplinas do conhecimento<br />
humano e na ação das diversas profissões da área de saúde, bem<br />
como na ação articulada entre os diversos setores e atores que são convocados<br />
para a produção da saúde, representados nos conselhos de saúde - nacional,<br />
estaduais e municipais - e nas conferências de saúde das três esferas.<br />
Como vimos, o entendimento do processo de saúde-doença avançou<br />
no decorrer da história por vários séculos, mas, na ciência, não tem<br />
nada acabado, o que se passa como uma verdade hoje não se pode afirmar<br />
amanhã, a cada dia são realizadas novas pesquisas e sempre surgem coisas<br />
novas. O exemplo disto é o aparecimento do novo vírus da AIDS (HIV2) e da<br />
circulação do vírus DENGUE IV no Brasil. O importante é que o Técnico em<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde se mantenha atualizado para adequar o dia a dia entre<br />
as informações recebidas e a realização das atividades/ações.<br />
Podemos finalizar esta aula reafirmando o conceito ampliado da<br />
Organização Mundial de Saúde – OMS -: “Saúde é o estado de completo bem-<br />
-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”, ou “saúde<br />
é um estado de harmonia entre o homem e o ambiente em que ele vive,<br />
influenciado pelos fatores físico, biológico e social, e doença é a relação natural<br />
do organismo que pode levar o homem ao estado de enfraquecimento<br />
e até à morte, quando não é tratada.” (Funasa, 2008).<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu:<br />
• que saúde deve ser compreendida de forma abrangente, não se<br />
referindo somente à ausência de doenças, mas sim a um estado<br />
de harmonia entre o homem e o ambiente em que ele vive, influenciado<br />
pelos fatores físico, biológico e social;<br />
• a saúde é um direito social e constitucional, como reza o artigo<br />
6º da Constituição Federal de 1988, reafirmado no artigo 3º da<br />
Lei Orgânica da Saúde, nº 8.080/90;<br />
• o processo de saúde-doença sempre foi sustentado em várias<br />
teorias: mística - doença como um fenômeno sobrenatural -;<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 22<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
miasma – acreditava-se que as doenças vinham do ar -; unicausal<br />
– causada por um vírus, uma bactéria, por um fungo, etc. -; e<br />
a teoria da multicausalidade, como determinante da doença, e<br />
não apenas a presença exclusiva de um agente etiológico;<br />
• que o processo de saúde-doença representa o conjunto de relações<br />
e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e de<br />
doença de uma população, que se modifica nos diversos momentos<br />
históricos e no desenvolvimento científico da Humanidade, e<br />
que está relacionado com os determinantes sociais, econômicos<br />
e culturais.<br />
Atividades de aprendizagem<br />
1. Baseado nesta aula e na sua vivência diária, o que é ter saúde?<br />
2. O que é doença?<br />
3. A saúde é um direito social, em qual lei você encontra esta afirmação?<br />
4. Citar as teorias do conhecimento do processo de saúde-doença.<br />
5. Qual a diferença entre a teoria mística e a do miasma?<br />
6. Quais os agentes etiológicos que você conhece e que podem desenvolver<br />
doenças no homem?<br />
7. O processo de saúde-doença, no modelo epidemiológico, é baseado em<br />
três componentes, quais são eles?<br />
8. Todas as pessoas que contraem um micróbio (bactéria ou um vírus) desenvolvem<br />
a doença? Por quê?<br />
9. Qual é o papel do Técnico em <strong>Vigilância</strong> em Saúde em relação ao processo<br />
de saúde-doença?<br />
10. O que você tem feito para a produção da sua saúde e a da comunidade?<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 23<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Aula Alfabetização 2 - Epidemiologia Digital – conceitos, obje-<br />
tivos e tríades epidemiológicas.<br />
Objetivos<br />
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja<br />
capaz de:<br />
• conceituar a Epidemiologia;<br />
• diferenciar a Epidemiologia como disciplina e como ciência;<br />
• descrever os objetivos da Epidemiologia e a aplicabilidade desses<br />
conhecimentos;<br />
• citar a tríade epidemiológica, a transmissibilidade, a forma de<br />
disseminação em populações humanas e a porta de entrada no<br />
hospedeiro humano.<br />
2.1 Introdução<br />
Após conhecermos um pouco sobre as descobertas dos agentes etiológicos<br />
e seus determinantes que causam as doenças, hoje, vamos aprofundar<br />
os nossos conhecimentos sobre a Epidemiologia, como ciência que se<br />
fundamenta no raciocínio causal e como disciplina, essencial para os estudos<br />
de doenças e agravos, bem como o planejamento e as intervenções na saúde<br />
pública, definições estas dadas por alguns autores.<br />
Para iniciarmos, é preciso refletir sobre estas perguntas:<br />
O que é epidemiologia? Quais são os seus objetivos e quando<br />
usamos esses conhecimentos?<br />
2.2 Conceitos<br />
Epidemiologia<br />
Baseado no Guia Epidemiológico - Brasil (2009), a Epidemiologia é<br />
uma ciência que estuda quantitativamente a distribuição dos fenômenos de<br />
saúde/doença e seus fatores condicionantes, nas populações humanas.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
25<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 7: A Epidemiologia vista como ciência e como disciplina.<br />
Fonte: Disponível em .<br />
Acesso em 13 de maio de 2011.<br />
Alguns autores também incluem na definição que a Epidemiologia<br />
permite a avaliação da eficácia das intervenções realizadas no âmbito da<br />
saúde pública.<br />
Nos últimos 60 anos, a definição de Epidemiologia vem se ampliando,<br />
desde a sua preocupação com as doenças infectocontagiosas e outras doenças<br />
transmissíveis - o estudo das epidemias - até abarcar, presentemente,<br />
todos os fenômenos relacionados com a saúde das populações.<br />
Até o momento, desconhece-se qual o estudioso que utilizou a Epidemiologia<br />
pela primeira vez. Você pode pesquisar e vai perceber que este<br />
termo é bem mais antigo do que se pensa; o certo é que a sua origem é do<br />
grego clássico: epi (sobre) + demos (povo) + logos (conhecimento).<br />
Segundo Waldman & Rosa (1998), Epidemiologia é uma disciplina<br />
básica da saúde pública voltada para a compreensão do processo de saúde-<br />
-doença no âmbito de populações, bem como para o desenvolvimento de<br />
estratégias para as ações voltadas para a proteção e promoção da saúde da<br />
população em questão. Como ciência, a Epidemiologia fundamenta-se no<br />
raciocínio causal que vimos na aula anterior. O objetivo é a melhoria das<br />
condições de saúde da população humana, o que demonstra o vínculo indissociável<br />
da pesquisa epidemiológica com o aprimoramento da assistência<br />
integral à saúde.<br />
A Epidemiologia constitui também instrumento para o desenvolvimento<br />
de políticas no setor da saúde. Sua aplicação, neste caso, deve levar<br />
em conta o conhecimento disponível, adequando-o às realidades locais.<br />
Espere! Realidades locais! Este termo é bem familiar, não é<br />
verdade?<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 26<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 8: Demonstra várias realidades locais.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
Sim, vimos isto no módulo Fundamentos de educação em saúde,<br />
onde estudamos território e planejamento em saúde.<br />
Voltando aos conceitos de Epidemiologia, existem várias formas de<br />
defini-la, como vimos anteriormente, mas tem uma definição que é bem<br />
ampla e nos dá uma boa ideia da sua abrangência e aplicação em saúde<br />
pública, veja: “Epidemiologia é a disciplina que estuda a distribuição e os<br />
determinantes de saúde e doença nas populações, e o desenvolvimento de<br />
estratégias para melhorar a saúde e a produtividade nessas populações”<br />
(BRASIL, 2009).<br />
Essa definição de Epidemiologia inclui uma série de termos que<br />
refletem alguns princípios da disciplina e que merecem ser destacados: a)<br />
estudo, b) fatores determinantes, c) estados e ou eventos relacionados à<br />
saúde.<br />
a) Estudo - a Epidemiologia como disciplina básica da saúde pública<br />
tem seus fundamentos no método científico: frequência e distribuição.<br />
• - A frequência inclui o número dos eventos – acontecimentos/<br />
doenças e as taxas ou riscos de doença na população. Dentro da<br />
Epidemiologia, conhecer as taxas é de fundamental importância,<br />
uma vez que isto permite comparações válidas entre diferentes<br />
populações.<br />
• - O padrão de ocorrência diz respeito à distribuição dos eventos<br />
segundo características: do tempo - tendência num período, variação<br />
sazonal etc. -, do lugar - distribuição geográfica, distribuição<br />
urbano-rural e outros -, e da pessoa - sexo, idade, profissão,<br />
etnia etc.b) Fatores determinantes - é a busca da causa e dos<br />
fatores que influenciam a ocorrência dos eventos relacionados<br />
ao processo de saúde-doença. Os determinantes são conhecidos<br />
como fatores de risco. Além de enfermidades, características<br />
fisiológicas - hipertensão arterial, nível sanguíneo de glicose,<br />
etc. -; atualmente, as doenças sociais - acidentes de trânsito,<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 27<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Atenção!<br />
O estudo da frequência<br />
envolve a colheita,<br />
o processamento,<br />
a análise e a<br />
interpretação de dados<br />
acerca da doença e<br />
dos determinantes<br />
- fatores da doença<br />
e fazer inferências<br />
biológicas e<br />
econômicas com<br />
base nesses dados.<br />
Vamos aprofundar<br />
melhor neste assunto<br />
na aula de <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong>.<br />
Fatores de risco! O que<br />
isto significa?<br />
O risco refere-se<br />
às condições de<br />
susceptibilidade<br />
individual que<br />
determinam o<br />
comportamento<br />
epidêmico das doenças<br />
infecciosas; o risco não<br />
qualifica uma condição<br />
populacional, mas,<br />
sim, indica uma relação<br />
entre fenômenos<br />
individuais e coletivos.<br />
É a probabilidade de<br />
uma pessoa ou de<br />
um grupo qualquer<br />
desenvolver uma<br />
determinada doença,<br />
de acordo com o<br />
grau de exposição a<br />
determinados agentes.<br />
violência urbana e doméstica, sexual e outras violências -, estabelecidas<br />
pela Portaria/MS 104 de 25/01/2011, são consideradas<br />
objeto de estudo da Epidemiologia.<br />
Estados ou eventos relacionados à saúde - originalmente, a Epidemiologia<br />
preocupava-se com epidemias de doenças infecciosas. No entanto,<br />
sua abrangência ampliou-se e, atualmente, sua área de atuação estende-se<br />
a todos os agravos à saúde.<br />
2.3 Objetivos<br />
O objetivo principal da Epidemiologia é a promoção da saúde através<br />
da prevenção de doenças, em grupos populacionais. Estes grupos populacionais<br />
podem ser os habitantes de uma área geográfica definida (município,<br />
estado ou país), os indivíduos de uma determinada faixa etária, os trabalhadores<br />
de uma indústria ou os indivíduos que estejam expostos a um fator de<br />
risco específico.<br />
O termo risco é usado para definir a chance de uma pessoa sadia,<br />
exposta a determinados fatores, ambientais ou hereditários, adquirir uma<br />
doença. Os fatores associados ao aumento do risco de se desenvolver uma<br />
doença são chamados fatores de risco. Em contrapartida, há fatores que dão<br />
ao organismo a capacidade de se proteger contra determinada doença, daí<br />
serem chamados fatores de proteção.<br />
Dois pontos devem ser enfatizados em relação aos fatores de risco:<br />
primeiro, que o mesmo fator pode ser de risco para várias doenças, por<br />
exemplo, o tabagismo, que é fator de risco para diversos cânceres e doenças<br />
cardiovasculares e respiratórias; segundo, que vários fatores de risco podem<br />
estar envolvidos na origem – gênese - de uma mesma doença (agentes causais<br />
múltiplos). O estudo dos fatores de risco, isolados ou combinados, tem<br />
permitido estabelecer relações de causa-efeito entre eles e determinados<br />
tipos de câncer.<br />
Fonte: Disponível em: http://www.sescsp.org.br/sesc/convivencia/ler/02_1_fatores.<br />
htm#Fatores. Acessado em 05 de março de 2011.<br />
A Epidemiologia aborda a ocorrência de doenças em relação:<br />
• à pessoa, procurando identificar quem adoece e determinar por<br />
que adoece;<br />
• ao lugar, procurando identificar onde a doença ocorre e determinar<br />
por que ocorre especificamente naquele lugar;<br />
• ao tempo, procurando determinar quando a doença ocorre e por<br />
que ocorre em determinada época.<br />
No que se refere à pessoa, o objetivo é identificar quais, como e<br />
por que as características de pessoas enfermas diferem das características<br />
de pessoas não enfermas. As características estudadas são:<br />
a. demográficas - sexo, idade, grupo étnico etc.;<br />
b. biológicas - nível socioeconômico, escolaridade, ocupação etc.;<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 28<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
c. hábitos pessoais - dieta, exercícios físicos, uso de álcool, uso de<br />
fumo etc.; ou<br />
d. genéticos - grupo sanguíneo, fator RH, tipo de hemoglobina etc.<br />
Com relação ao lugar, o objetivo é determinar por que, em uma<br />
área geográfica, uma enfermidade ou um grupo de enfermidades ocorre com<br />
maior frequência, quando comparadas a outras áreas geográficas.<br />
Em relação ao tempo, o interesse é determinar se ocorrem<br />
mudanças - aumento ou decréscimo - na frequência de determinada doença<br />
através do tempo, bem como compreender os mecanismos desta variação.<br />
Exemplo: maior incidência de dengue no verão, período chuvoso.<br />
Casos de leptospirose são frequentes após as enchentes etc.<br />
Figura 9: Enchente, fenômeno comum no verão, que traz vários riscos para a saúde<br />
pública.<br />
Fonte: Disponível em . Acesso em 18 de maio de 2011.<br />
2.3.1 Uso dos conhecimentos da Epidemiologia<br />
As informações obtidas em estudos epidemiológicos são utilizadas,<br />
juntamente com as informações de outras áreas do conhecimento, como<br />
Medicina, Genética, Biologia, Cociologia e Demografia, com os seguintes objetivos:<br />
• explicar a etiologia – causa de enfermidades -: procurar compreender<br />
e explicar o mecanismo de ação das doenças;<br />
• estudar a história natural das enfermidades: procurar entender<br />
o curso ou a sequência das diversas etapas de desenvolvimento<br />
de uma doença através do tempo;<br />
• descrever o estado de saúde das populações: a descrição é feita<br />
através das medidas de doença ou morte. Estas medidas podem<br />
ser expressas em números absolutos, proporções ou taxas;<br />
• avaliar as intervenções ou programa de saúde: investigar se<br />
ocorreram mudanças no nível de saúde da população, em decorrência<br />
do emprego de intervenções ou programas.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 29<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
2.4 Tríades epidemiológicas<br />
Figura 10: Tríades epidemiológicas.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
O agente é o fator cuja presença é essencial para a ocorrência de<br />
doenças; hospedeiro é o organismo capaz de ser infectado por um agente<br />
(doenças infecciosas); e meio ambiente é o conjunto de fatores que interage<br />
com o agente e com o hospedeiro.<br />
O processo interativo entre estes três componentes é que determinará<br />
o aparecimento e a manutenção de doenças. As interações existentes<br />
em doenças infecciosas também são observadas para as doenças não infecciosas<br />
ou não transmissíveis, como as diabetes, a hipertensão e as de causas<br />
externas (acidentes e traumas), porém os seus cuidados estão relacionados<br />
com as causas aqui citadas.<br />
Os fatores associados aos hospedeiros afetam sua suscetibilidade;<br />
os fatores associados ao meio ambiente influenciam a exposição dos hospedeiros<br />
aos agentes.<br />
2.4.1 Agente<br />
Os agentes de doenças podem ser classificados em:<br />
1. elementos nutritivos (excesso de gorduras/colesterol, deficiência,<br />
vitaminas e proteínas);<br />
2. agentes químicos (veneno, monóxido de carbono, alérgenos:<br />
medicamentos);<br />
3. agentes físicos (radiações);<br />
4. agentes infecciosos (metazoários, protozoários, bactérias, fungos<br />
e vírus).<br />
2.4.2 Hospedeiro<br />
As características dos hospedeiros que favorecem o desencadeamento<br />
de doenças estão relacionadas aos fatores demográficos (idade, sexo,<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 30<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
grupo étnico etc.), biológicos (fadiga, stress, estado nutricional etc.), sociais<br />
(dieta, exercício físico, ocupação, acesso ao serviço de saúde etc.) e à resistência,<br />
à suscetibilidade e à resposta imune.<br />
2.4.3 O meio ambiente<br />
Conjunto de fatores que mantém relações interativas entre o homem<br />
e o agente etiológico, pode ser classificado em biológico, social e físico.<br />
• Biológico - inclui reservatórios de infecção, vetores que transmitem<br />
doenças (moscas, baratas, mosquitos, triatomíneos), plantas<br />
e animais.<br />
• Social - definido em termos de organização política e econômica<br />
e da inserção do indivíduo dentro da sociedade.<br />
• Físico - situação geográfica, recursos hídricos, poluentes químicos,<br />
agentes físicos e ambientais. Temperatura, umidade e<br />
pluviosidade são variáveis climáticas que mais de perto se relacionam<br />
com as doenças.<br />
2.5 Conceitos epidemiológicos de doenças<br />
As doenças infecciosas são usualmente classificadas de acordo com<br />
o agente etiológico: protozoários, vírus, bactérias etc. Esta classificação,<br />
baseada em características biológicas do agente, é adequada sob vários aspectos,<br />
incluindo a prevenção. Entretanto, é possível classificar as doenças<br />
por suas características epidemiológicas e, muitas vezes, esta classificação<br />
apresenta vantagens na identificação de medidas preventivas.<br />
De acordo com as características epidemiológicas, as doenças infecciosas<br />
podem ser classificadas de quatro formas, dadas a seguir.<br />
2.5.1 Forma de disseminação em populações humanas<br />
Veículo comum: o agente etiológico pode ser transferido por fonte<br />
única, como a água, os alimentos e o ar; pode ser resultante de exposição<br />
simples ao agente ou de exposições continuadas por um determinado<br />
período de tempo. Exemplo: cólera, infecções alimentares. A propagação<br />
é de pessoa a pessoa - o agente é disseminado através de contatos entre<br />
indivíduos infectados e suscetíveis por via respiratória, oral-anal, genital<br />
ou por vetores; podemos citar, como exemplos, a malária, o sarampo e<br />
a AIDS.<br />
2.5.2 Porta de entrada no hospedeiro humano<br />
Trato respiratório, gastrointestinal, geniturinário, cutânea - tuberculose,<br />
febre amarela, leishmaniose, AIDS.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 31<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Doenças transmissíveis<br />
são aquelas que<br />
passam de pessoa ou<br />
animal doente para<br />
uma pessoa sadia.<br />
Doenças não<br />
transmissíveis, como<br />
o nome já diz, não<br />
passam de uma pessoa<br />
doente para a sã; é o<br />
caso do reumatismo,<br />
do câncer, da<br />
asma, das doenças<br />
cardiovasculares ou do<br />
coração.<br />
Endemia:<br />
é definida como a<br />
presença constante de<br />
uma doença em uma<br />
população definida,<br />
em uma determinada<br />
área geográfica; pode<br />
também se referir à<br />
prevalência usual de<br />
uma doença em um<br />
grupo ou em uma área.<br />
Epidemia é conceituada<br />
como a ocorrência de<br />
uma doença em uma<br />
população; caracterizase<br />
por uma elevação<br />
progressiva, inesperada<br />
e descontrolada,<br />
ultrapassando os<br />
valores endêmicos ou<br />
esperados. Nos dias de<br />
hoje, um único caso de<br />
varíola excede o valor<br />
esperado, uma vez que<br />
a doença foi erradicada<br />
2.5.3 Reservatórios dos agentes<br />
• Homens antroponoses<br />
Ex.: gripe, sarampo.<br />
• Homens e outros vertebrados: zoonoses.<br />
Ex.: as leishmanioses.<br />
2.5.4 Ciclos de agentes infecciosos na natureza<br />
• homem → homem<br />
Ex.: sarampo.<br />
• homem → hospedeiro(s) intermediário(s) → homem<br />
Ex.: malária.<br />
• Outros mais complexos incluem formas de vida livre.<br />
Ex.: esquistossomose.<br />
Figura 11: Vírus influenza, shistosoma mansoni, trypanossoma cruzi, nas formas<br />
trypomastigota e amastigota, vibrio colérico (bacilo) e o caramujo.<br />
Fonte: Arquivo do autor ; já citada a fonte neste trabalho.<br />
Uma importante característica epidemiológica de doenças é o período<br />
de incubação, definido como o intervalo entre a exposição ao agente<br />
– contato - e o aparecimento da enfermidade. As doenças infecciosas apresentam<br />
um período de incubação específico, que depende diretamente da<br />
taxa de crescimento do organismo no hospedeiro e de outros fatores, como<br />
a dose do agente infeccioso, a porta de entrada do agente e o grau de resposta<br />
imune do hospedeiro. Este mesmo conceito é aplicável às doenças não<br />
infecciosas.<br />
A dinâmica da distribuição de doenças em populações pode ocorrer<br />
em períodos epidêmicos, em períodos interepidêmicos ou esporádicos e em<br />
períodos endêmicos.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 32<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
2.6 Medidas preventivas<br />
A história natural, entendida como a sequência de eventos que<br />
acontecem no desenvolvimento de uma doença, pode ser esquematizada<br />
didaticamente em quatro frases, conforme dado na figura 12.<br />
Figura 12: Representa o desenvolvimento da doença no ser humano.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
Os conhecimentos citados têm aplicações práticas, não só no emprego<br />
de terapêutica especifica como também na definição dos métodos de<br />
prevenção e de controle. As medidas preventivas podem ser divididas em<br />
três níveis, descritos a seguir.<br />
2.6.1 Prevenção primária<br />
Medidas que procuram impedir que o indivíduo adoeça, controlando<br />
os fatores de risco. Essas medidas atuam na fase em que o indivíduo<br />
encontra-se sadio ou suscetível. Podem ser:<br />
• primordiais - moradia adequada, alimentação em qualidade e<br />
quantidade suficiente para manter o estado nutricional, saneamento<br />
ambiental – tratamento de água, esgoto e lixo, escolas,<br />
áreas de lazer; e<br />
• específicas – imunização, equipamentos de segurança, uso de<br />
camisinha, proteção contra acidentes, medidas de controle de<br />
vetores e outras .<br />
2.6.2 Prevenção secundária<br />
Medidas aplicáveis a indivíduos que já se encontram sob a ação<br />
do agente patogênico - fase subclínica ou clínica. Essas medidas procuram<br />
impedir que a doença desenvolva-se para estágios mais graves, que deixe<br />
sequelas ou que provoque morte; inclui diagnóstico e tratamento precoces.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 33<br />
Algumas doenças<br />
endêmicas podem,<br />
eventualmente,<br />
manifestarem-se em<br />
surtos epidêmicos.<br />
Surto:<br />
tipo de epidemia<br />
em que os casos<br />
restringem-se a uma<br />
área geográfica pequena<br />
e bem delimitada<br />
ou a uma população<br />
institucionalizada<br />
(creches, quartéis,<br />
escolas etc.).<br />
As epidemias, quando<br />
ocorrem ao mesmo<br />
tempo em vários<br />
países, são conhecidas<br />
como pandemias.<br />
A peste bubônica,<br />
na Idade Média, e a<br />
gripe espanhola são<br />
exemplos de pandemias<br />
que ocorreram<br />
na Humanidade.<br />
Atualmente, a AIDS<br />
e a H1N1, por serem<br />
epidêmicas em vários<br />
países, são consideradas<br />
pandemias.<br />
Suscetibilidade:<br />
falta de defesas de<br />
um hospedeiro, em<br />
grau adequado, contra<br />
um agente etiológico<br />
particular.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Transmissão aerógena<br />
realiza-se por meio de<br />
pequenas partículas,<br />
entre dois e dez micra<br />
de tamanho, contendo<br />
um ou dois bacilos.<br />
2.6.3 Prevenção terciária<br />
Consiste na prevenção da incapacidade por meio de medidas destinadas<br />
à reabilitação, aplicadas na fase em que esteja ocorrendo ou já tenha<br />
ocorrido a doença. Entende-se como o processo de reeducação e readaptação<br />
de pessoas acometidas por acidentes ou que estejam com sequelas<br />
decorrentes de alguma doença; inclui reabilitação - impedir incapacidade<br />
total, fisioterapia e terapia ocupacional.<br />
2.6.4 Conceitos básicos em Epidemiologia<br />
Suscetibilidade, resistência do hospedeiro, imunidade, infectividade,<br />
patogenicidade, virulência, capacidade imunogênica, resistência do<br />
agente, infecção, infestação, período de incubação, período pré-patente,<br />
período de transmissibilidade, período prodrômico, fonte de infecção, portador,<br />
reservatório, vias de eliminação, vias de transmissão, vetor, vetor biológico,<br />
portas de entrada, prevenção, controle, erradicação, vacina, soro<br />
hiperimune, incidência, prevalência, promoção da saúde, vigilância epidemiológica,<br />
zoonose e antropozoonose.<br />
I. Resistência do hospedeiro - conjunto de defesas específicas<br />
e inespecíficas do hospedeiro contra a entrada, a multiplicação<br />
e a ação lesiva de um agente etiológico ou de seus<br />
produtos tóxicos.<br />
II. Imunidade - estado de resistência específico de um hospedeiro<br />
contra um determinado agente, ligado a fatores<br />
humorais - mediados por anticorpos -, fatores teciduais -<br />
mediado por células - ou a ambos.<br />
III. Infectividade - é a habilidade de um micro-organismo instalar-se<br />
e multiplicar-se ou desenvolver-se no organismo de<br />
um hospedeiro, independentemente da ação lesiva que lhe<br />
possa acarretar.<br />
IV. Patogenicidade - é a capacidade de um agente infeccioso<br />
causar doença num hospedeiro suscetível.<br />
V. Virulência - capacidade do agente etiológico de produzir<br />
doença com maior ou menor gravidade. É avaliada em<br />
termos do grau de severidade do agravo provocado pelo<br />
agente da doença.<br />
VI. Capacidade imunogênica - é o potencial do agente em<br />
provocar, no hospedeiro, um estímulo imunitário específico.<br />
VII. Resistência do agente - é a habilidade do agente em<br />
superar as adversidades do ambiente, especificamente<br />
as influências deletérias do meio exterior, quando em<br />
ausência de parasitismo, isto é, fora do organismo do<br />
hospedeiro.<br />
VIII. Infecção - processo caracterizado pela invasão do organismo<br />
do hospedeiro por um agente biológico e sua subsequente<br />
multiplicação.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 34<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
IX. Infestação - processo caracterizado pela colonização de<br />
agentes de doença, uni ou pluricelulares, na superfície<br />
do corpo dos hospedeiros, inclusive mucosas.<br />
X. Período de incubação - intervalo de tempo que decorre<br />
desde o momento em que o agente etiológico se instala<br />
no organismo do hospedeiro até o início dos primeiros<br />
sinais ou sintomas clínicos da doença.<br />
XI. Período pré-patente - espaço de tempo entre o momento<br />
em que se deu a infecção ou a infestação do hospedeiro<br />
e a detecção do agente em seus tecidos, secreções<br />
ou excreções.<br />
XII. Período de transmissibilidade - intervalo de tempo durante<br />
o qual um indivíduo infectado é capaz de eliminar<br />
o agente etiológico ao meio externo, seja qual for o mecanismo<br />
de transmissão envolvido, contanto que torne<br />
possível a sua transmissão a outro hospedeiro.<br />
XIII. Período prodrômico - espaço de tempo que se estende<br />
desde o momento em que surgem as primeiras manifestações<br />
ainda pouco definidas da doença até que os sinais<br />
e os sintomas característicos da doença tornem-se claramente<br />
definidos, possibilitando o diagnóstico.<br />
XIV. Fonte de infecção - hospedeiro vertebrado que alberga em<br />
seu organismo um agente infeccioso e é capaz de eliminá-lo<br />
e, consequentemente, transmiti-lo a outro hospedeiro.<br />
XV. Portador - hospedeiro que está albergando e eliminando um<br />
agente de doença em ausência de qualquer manifestação<br />
que possa ser caracterizada como indicativo de alteração<br />
da saúde, atribuível à presença do aludido agente infeccioso<br />
em seu organismo.<br />
XVI. Reservatório - considerada uma espécie principal, objeto<br />
da ação sanitária; os demais vertebrados capazes de atuar<br />
como fonte de infecção no processo de disseminação de<br />
uma determinada doença são considerados como reservatórios.<br />
XVII. Vias de eliminação - meio através do qual o agente abandona<br />
seu hospedeiro para alcançar o meio exterior e, assim, o<br />
novo hospedeiro. Ex: secreções oro nasais, secreção láctea,<br />
fezes etc.<br />
XVIII. Vias de transmissão - mecanismos dos quais se valem os<br />
agentes das doenças transmissíveis para se transferirem de<br />
um hospedeiro fonte da infecção a um hospedeiro suscetível.<br />
Ex: contágio; transmissão aerógena; transmissão pelo<br />
solo, pela água, por alimentos, por vetores etc.<br />
XIX. Transmissão aerógena realiza-se por meio de pequenas partículas,<br />
entre 2 e 10 micra de tamanho, contendo 1 ou 2<br />
bacilos.<br />
XX. Vetor - é um invertebrado que transfere, de forma ativa,<br />
um agente infeccioso de uma fonte de infecção a um hospedeiro<br />
suscetível.<br />
XXI. Vetor biológico - é um invertebrado que tem participação<br />
ativa no processo de transmissão, retira o agente da fonte<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 35<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
de infecção, oferece-lhe condições de sobrevivência (abrigo,<br />
multiplicação e/ou evolução) e, por fim, o conduz ao<br />
novo hospedeiro, colocando-o em sua superfície ou inoculando-o.<br />
Ele é essencial no processo epidemiológico. Uma<br />
vez erradicado, desaparece a doença que transmite.<br />
XXII. Portas de entrada - são os pontos ou locais de penetração<br />
do agente no hospedeiro. Ex: mucosas do trato respiratório,<br />
digestivo, geniturinário e conjuntiva ocular; pele, feridas etc.<br />
XXIII. Prevenção - conjunto de medidas que visa prevenir ou<br />
atenuar as doenças, suas complicações e consequências.<br />
XXIV. Controle - conjunto de medidas ou ações empregadas<br />
com o objetivo de reduzir a frequência da ocorrência<br />
de uma doença já presente na população, até que esta se<br />
detenha em níveis compatíveis com a realidade existente.<br />
XXV. Erradicação - extirpar-se, de arrancar, conjunto de ações<br />
dirigidas com fins específicos de eliminar uma doença de<br />
um determinado território.<br />
XXVI. Vacina - substância contendo micro-organismos completos,<br />
vivos ou inativados, frações deles dotadas de propriedade<br />
antigênicas ou de produtos de seus metabolismos. A vacina<br />
é utilizada com a finalidade de provocar no hospedeiro uma<br />
resposta imunitária específica contra um agente infeccioso<br />
em particular.<br />
XXVII. Soro hiperimune - soro sanguíneo de animais imunizados,<br />
contendo teor elevado de anticorpos contra determinado<br />
agente, empregado em terapêutica para produzir imunidade<br />
passiva.<br />
XXVIII. Incidência - número de casos novos de uma doença constatado<br />
dentro de uma determinada população durante um<br />
período de tempo especificado, dando uma ideia da dinâmica<br />
de sua propagação.<br />
XXIX. Prevalência - número de casos clínicos ou de portadores<br />
existentes em um determinado momento em uma comunidade,<br />
dando uma ideia estática da ocorrência do fenômeno.<br />
XXX. Promoção da saúde - conjunto de ações inespecíficas de<br />
prevenção que busca, em essência, a melhoria da qualidade<br />
de vida e, portanto, o bem-estar social.<br />
XXXI. <strong>Vigilância</strong> epidemiológica - conjunto de procedimentos de<br />
natureza sistemática e permanente, por meio do qual tomamos<br />
conhecimento dos eventos relacionados à presença<br />
de doenças e aos respectivos meios de combate em uma<br />
determinada área geográfica.<br />
XXXII. Zoonose - doenças e infecções que são naturalmente transmitidas<br />
entre animais vertebrados e o homem.<br />
XXXIII. Antropozoonose - doença primária de animas que pode ser<br />
transmitida ao homem. Ex: brucelose, raiva, leishmaniose etc.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 36<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu:<br />
• que a Epidemiologia é uma disciplina básica da saúde pública<br />
voltada para a compreensão do processo de saúde-doença de<br />
populações, bem como para o desenvolvimento de estratégias<br />
por meio de ações voltadas para a proteção, a promoção, o tratamento<br />
e a recuperação da saúde;<br />
• como ciência, a Epidemiologia fundamenta-se no raciocínio causal;<br />
• o termo Epidemiologia é originário de grego clássico: epi = sobre<br />
+ demos = povo + logos = conhecimento;<br />
• o objetivo principal da Epidemiologia é a promoção da saúde por<br />
meio da prevenção de doenças em grupos populacionais;<br />
• que a tríade epidemiológica compreende o agente, o hospedeiro<br />
e o meio ambiente;<br />
• as formas de disseminação das doenças pode ser por veículo comum<br />
- a água, os alimentos, o ar -; por exposição simples ao agente<br />
ou por exposições continuadas; pela propagação de pessoa a pessoa<br />
- o agente é disseminado por meio de contatos entre indivíduos<br />
infectados e suscetíveis;<br />
• a porta de entrada no hospedeiro humano pode ser pelo trato<br />
respiratório, gastrointestinal, geniturinário ou cutâneo;<br />
• que as medidas preventivas podem ser: primárias, secundárias<br />
e terciárias.<br />
Atividades de aprendizagem<br />
1. Diante de tantos conceitos de Epidemiologia, qual você descreve?<br />
2. Qual a diferença entre Epidemiologia como disciplina e como ciência?<br />
3. Qual o objetivo da Epidemiologia?<br />
4. As informações obtidas em estudos epidemiológicos são utilizadas juntamente<br />
com as informações de outras áreas do conhecimento, como Medicina,<br />
Genética, Biologia, Sociologia e Demografia, com quais objetivos?<br />
5. A tríade epidemiológica compreende quais elementos?<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 37<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
6. Como os agentes de doenças podem ser classificados?<br />
7. Quais são os agentes químicos?<br />
8. Cite os agentes infecciosos.<br />
9. Como se dá a transmissão das doenças?<br />
10. Quais as formas de disseminação dos agentes nas populações humanas?<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 38<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
AULA 1<br />
Aula Alfabetização 3 - Quadro Digital demográfico e sanitário<br />
brasileiro<br />
Objetivos<br />
• Conhecer os dados demográficos e sanitários do Brasil.Refletir<br />
sobre indicadores de saúde e de mortalidade infantil.Descrever<br />
os índices de cobertura populacional e/ou de domicílios em relação<br />
ao abastecimento de água, esgoto, lixo e de moradia.<br />
3.1 Introdução<br />
É preciso conhecer as informações demográficas e sanitárias de<br />
determinado território (continente, país, região, município, vila ou povoado,<br />
entre outros) para planejar e desenvolver as políticas públicas de intervenção<br />
local. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, por meio<br />
dos censos demográficos, produz informações fidedignas que permitem conhecer<br />
essas realidades locais. Essas informações são imprescindíveis para a<br />
definição de políticas públicas e para a tomada de decisões de investimento,<br />
sejam eles oriundos da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo.<br />
3.2 População<br />
Segundo o IBGE, censo 2010, a população brasileira é de 190.755.799<br />
habitantes e encontra-se irregularmente distribuída em um território de 8,5<br />
milhões de Km 2 , com um quantitativo de municípios em cada estado e em<br />
cada região muito variável. A região mais populosa é o Sudeste, que concentra<br />
80.864.410 habitantes (42,39% da população total do país). As menos populosas<br />
são o Norte, com 15.864.454 habitantes, e o Centro-Oeste, com um<br />
pouco mais de 12 milhões de habitantes. O Nordeste, segunda região mais<br />
populosa, tem 53.081.950 habitantes, e o Sul tem 27,3 milhões habitantes, o<br />
que representa 14,9% da população total do país.<br />
Com essa população, o Brasil está entre os países mais populosos<br />
do mundo, ocupando o 5º lugar, ficando atrás da China - 1,3 bilhões -, da<br />
Índia - 1,1 bilhões -, dos Estados Unidos – 314 milhões - e da Indonésia, com<br />
229 milhões.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
39<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 13: A população do Brasil continua crescendo, porém, em menor ritmo.<br />
Fonte: Disponível em http://www.brasilescola.com/brasil/a-popula. Acesso em 19 de maio de 2010.<br />
Com a melhoria da qualidade de vida determinada por vários fatores,<br />
a população brasileira está vivendo mais. O idoso com 80 anos ou mais<br />
chega aos 2.935.585, deste total, 1.802.463 (61,4%) são mulheres; isto prova<br />
que elas estão vivendo mais, pois, quando buscamos os dados de menos de<br />
um ano, os homens são a maioria, 1.378.532 (50,8%), e 1.334.712 são do sexo<br />
feminino (49,2%).<br />
Minas Gerais é o estado com maior número de pessoas que estão<br />
vivendo 80 anos ou mais, 330.042 pessoas, sendo 202.348 mulheres e 127.694<br />
homens.<br />
Veja na figura a seguir a evolução da população brasileira nos últimos<br />
12 censos demográficos realizados pelo IBGE; a população residente e a<br />
taxa média de crescimento anual.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 40<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 14: Datas de realização dos censos, população residente e taxa média de<br />
crescimento anual encontradas.<br />
Fonte: Disponível em < http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.<br />
php?id_noticia=1866&id_pagina=1>. Acesso em 19 de maio de 2011.<br />
Como mostra a figura 14, de 1872 a 1960, a taxa de crescimento<br />
oscilou, mas sempre no sentido crescente; de 1960 a 2010, esta taxa tem<br />
decrescido de 2,99 a 1,17, respectivamente. Isto nos mostra que as famílias<br />
brasileiras estão menores a cada dia e, se continuar neste ritmo, em poucas<br />
décadas, teremos um decrescimento populacional, ou seja, o país terá<br />
população de idosos maior do que as crianças e, naturalmente, vai se morrer<br />
mais e se nascer menos.<br />
As informações demográficas produzidas pelos censos permitiram<br />
e permitem conhecer a distribuição territorial e as principais características<br />
das pessoas e dos domicílios, bem como acompanhar a sua evolução ao<br />
longo do tempo; é baseando-se nestas informações que os gestores públicos<br />
e privados planejaram e devem continuar planejando adequadamente o uso<br />
sustentável dos recursos.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 41<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
3.3 Água, esgoto e lixo<br />
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE -,<br />
apenas 62,6% dos domicílios urbanos brasileiros têm acesso à rede de água,<br />
de esgoto e à coleta de lixo, simultaneamente.<br />
Quando se trata exclusivamente do abastecimento de água, o índice<br />
é bem melhor do que 93,5%.<br />
Figura 15: Reservatório de água para distribuição em domicílios.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
A coleta de lixo, feita diretamente em 98,5% dos domicílios, está<br />
presente em todos os municípios brasileiros, com pouca variação entre as<br />
regiões, com exceção do Nordeste, que fica abaixo da média nacional, com<br />
95,8% de acesso ao serviço. Você pode observar em sua cidade que a coleta<br />
é feita, porém a destinação é muito ruim, a maioria dos aterros sanitários,<br />
hoje, não passa de lixão, fonte geradora de doenças.<br />
Figura 16: “Aterro sanitário” (lixão) da maioria das cidades brasileiras.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 42<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
A partir do momento em que associamos esses serviços à qualidade<br />
de vida da população, percebemos que é preciso melhorar, e muito, para<br />
alcançar níveis altos dessa qualidade de vida que o Brasil almeja.<br />
Os estudos confirmam que, quanto menor o rendimento da família, pior<br />
é a situação em que ela se encontra em termos de acesso ao saneamento básico.<br />
Apesar de o Brasil ter alcançado a meta do milênio de levar água<br />
potável a praticamente todos os brasileiros (93,5% dos domicílios contam com<br />
água canalizada), ainda faltam cinco anos para atingir a meta prevista para<br />
o acesso à rede de esgoto. As melhorias na área de saneamento ambiental,<br />
nos últimos anos, têm recebido recursos da Fundação Nacional de Saúde e<br />
da Caixa Econômica Federal, porém está ocorrendo de foram desigual entre<br />
as regiões do país, tendo beneficiado mais famílias de renda mais elevadas e<br />
brancos, segundo o IPEA (2007 -http://desafios2.ipea.gov.br/003/00301009).<br />
3.4 Mortalidade infantil<br />
Figura 17: Crianças vivendo em condições sub-humanas.<br />
Fonte: Arquivo do autor. Joaquim Francisco de Lima<br />
A taxa de mortalidade infantil é obtida por meio do número de<br />
crianças de um determinado território que morre antes de completar 1 ano<br />
de idade, a cada mil nascidas vivas. Dado importante para avaliar a qualidade<br />
de vida, pois, por meio dele, é possível obter informações sobre a eficácia<br />
dos serviços públicos, tais como: saneamento básico, sistema de saúde,<br />
disponibilidade de remédios e vacinas, acompanhamento médico, educação<br />
maternidade, alimentação adequada, entre outros (IBGE, 2010).<br />
A mortalidade infantil é um problema social que ocorre em todo o<br />
mundo, sendo de maior intensidade nas regiões mais pobres, e está ligada<br />
aos fatores citados no parágrafos anteriores.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 43<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Para consultar a tabela<br />
de mortalidade infantil<br />
nos estados em 2010<br />
acesse: .<br />
http://www.bbc.co.uk/<br />
portuguese/noticias<br />
/2010/05/100524_<br />
mortalidadeinfantil_<br />
ba.shtml.<br />
Para maiores<br />
informações, acesse o<br />
resultado da pesquisa<br />
do Ipea. http://<br />
gazetadejoinville.<br />
blogspot.com/2008/10/<br />
um-raio-x-alarmanteda-moradia-dos.<br />
html e .<br />
Os países que conquistaram as menores taxas de mortalidade infantil<br />
são desenvolvidos – Finlândia, Islândia, Japão, Noruega e Suécia -, com 3<br />
mortes a cada mil nascidos, e os piores são os países pobres com destaque<br />
para o Afeganistão, com pior taxa média, de 154 óbitos por mil nascidos<br />
vivos.<br />
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –<br />
IBGE -, a mortalidade infantil no Brasil está em declínio; na última década, a<br />
média passou de 33,5, em 1998, para 19,88 crianças mortas por mil nascidas<br />
vivas, em 2010. A pior região é a Nordeste, com 33,2, e a de melhor taxa é<br />
a Sudeste, com 15,5.<br />
Não precisa analisar muito para perceber que a região Nordeste,<br />
que se encontra com a maior taxa de mortalidade, tem uma enorme diversidade<br />
sociopolítica e econômica. Faz-se necessárias políticas públicas mais<br />
igualitárias (saneamento ambiental, geração de emprego e renda, entre outros)<br />
para alcançar índices aceitáveis.<br />
Segundo o estudo, apesar da redução da taxa de mortalidade, o<br />
Brasil está distante de atingir a média estipulada para as Metas de Desenvolvimento<br />
do Milênio, desenvolvidas pela Organização das Nações Unidas – ONU<br />
-, que preconiza, em 2015, ano de divulgação dos resultados do documento,<br />
que a taxa de mortalidade infantil brasileira será de 18 crianças mortas por<br />
mil nascidas vivas, sendo que a meta a ser atingida é de 15 crianças.<br />
Dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH)/SUS indicam<br />
que, nos últimos dez anos, ocorreram, no Brasil, cerca de 700.000 internações<br />
hospitalares anuais provocadas por doenças relacionadas com a falta<br />
ou com a inadequação de saneamento, e a diarreia é a principal doença<br />
relacionada ao saneamento inadequado. Conforme dados do Sistema de Monitorização<br />
das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA) da Secretaria de <strong>Vigilância</strong><br />
em Saúde – SVS/MS - são monitoradas, em média, anualmente, cerca de<br />
1,5 milhões de casos de diarreias agudas.<br />
3.5 Moradia<br />
Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad -, divulgado<br />
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea -, em 2007, em<br />
todo o Brasil, 54 milhões de pessoas, o equivalente a 34,5% da população<br />
urbana, ainda vivem em condições de moradia inadequadas.<br />
Os principais problemas habitacionais, segundo o Ipea, estão relacionados<br />
ao grande adensamento de pessoas, ao ônus excessivo com o pagamento<br />
de aluguel, à proliferação de assentamentos precários e aos casos de<br />
mais de uma família vivendo em uma mesma residência.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 44<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu que:<br />
• a população brasileira é de 190.755.799 habitantes;<br />
• a região mais populosa é o Sudeste, que concentra 42,39% dos<br />
habitantes da população total do país, e a menos populosa é o<br />
Centro-Oeste, com um pouco mais de 12 milhões de habitantes;<br />
• o Brasil é o 5º país mais populosos do mundo;<br />
• 93,5% da população brasileira conta com rede de abastecimento<br />
de água; 60% conta com esgoto; e, em 98,5% dos domicílios urbanos,<br />
a coleta de lixo é feita diretamente nos domicílios;<br />
• a taxa de mortalidade infantil é obtida por meio do número de<br />
crianças de um determinado território que morre antes de completar<br />
1 ano de idade, a cada mil nascidas vivas, e que a média<br />
da taxa brasileira é de 19,8%;<br />
• a mortalidade infantil é um problema social que ocorre em todo<br />
o mundo, sendo de maior intensidade nas regiões mais pobres,<br />
e estão ligadas aos fatores sociais, como: falta de água potável,<br />
esgotamento sanitário e coleta de lixo adequados, baixa escolaridade<br />
dos pais, deficiência na atenção à saúde, entre outros);<br />
• no Brasil, 54 milhões de pessoas ainda vivem em condições de<br />
moradia inadequadas.<br />
Atividades de aprendizagem<br />
1. Conforme o censo 2010, qual é a população brasileira?<br />
2. Minas Gerais é o estado com mais de 2002 mil mulheres com 80 anos ou<br />
mais; no seu ponto de vista, o que tem favorecido as mulheres viverem<br />
mais do que os homens?<br />
3. Observando o quadro demográfico da população e a taxa média geométrica,<br />
em sua opinião, o que tem levado ao decrescimento dessas taxas?<br />
4. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE -, apenas<br />
62,6% dos domicílios urbanos brasileiros têm acesso à rede de água e<br />
esgoto e à coleta de lixo, simultaneamente, e, na sua cidade, qual é este<br />
índice? (Faça uma visita ao setor de serviços urbanos, SAAE, Copasa,<br />
setor de epidemiologia etc.; lembrem-se de que o sistema de fossa também<br />
conta como destinação de esgoto).<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 45<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
5. Qual a taxa de mortalidade infantil em seu município?<br />
6. Quais os fatores que têm influenciado nesses resultados referentes à<br />
“mortalidade infantil” em seu município?<br />
7. Quais os principais problemas habitacionais segundo o IPEA?<br />
8. Na sua cidade, existe déficit habitacional?<br />
9. Quais os problemas relacionados?<br />
10. Vá até a plataforma virtual, entre em contato com seus colegas e verifique<br />
como é esta situação em seus municípios, em relação ao conteúdo<br />
da aula.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 46<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
AULA 1<br />
Aula Alfabetização 4 - Organização Digital do Sistema de Saú-<br />
de no Brasil<br />
Objetivos<br />
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja<br />
capaz de:<br />
• descrever o processo histórico do SUS;<br />
• identificar os princípios e as diretrizes do SUS;<br />
• conceituar os níveis de atenção à saúde.<br />
4.1 Introdução<br />
Antes da criação do Sistema Único de Saúde – SUS -, a saúde não era<br />
considerada um direito social. O modelo de saúde adotado até então dividia<br />
os brasileiros em três categorias:<br />
• os que podiam pagar pelos serviços de saúde privados;<br />
• os que tinham direito à saúde pública por serem segurados pela<br />
Previdência Social - trabalhadores com carteira assinada e seus<br />
dependentes; e<br />
• os que não possuíam direito algum, que eram assistidos nos casos<br />
extremos nas santas casas de misericórdia.<br />
4.2 O processo histórico do SUS<br />
O processo do SUS começou em meado dos anos 1970 e inicio dos<br />
anos 1980, com o movimento sanitário, que reuniu diferentes lideranças e<br />
organizações sindicais, populares, associações de classe, comunidades religiosas<br />
e outras entidades que lutavam pela democratização do país; tinha<br />
como proposta a restauração do estado de direito. Estado que garantisse as<br />
liberdades democráticas e assegurasse os direitos do cidadão, entre os quais,<br />
o direito à saúde (SUS, 2003).<br />
Essa mobilização ficou conhecida como Movimento pela Reforma<br />
Sanitária Brasileira.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
47<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Movimento Sanitário:<br />
Concebia a construção<br />
de uma política de<br />
saúde que construísse<br />
um sistema de<br />
acesso universal,<br />
descentralizado e<br />
regionalizado, e que<br />
fosse controlado<br />
democraticamente pela<br />
população organizada.<br />
Figura 18: Reunião do Movimento Sanitário em Brasília.<br />
Fonte: Disponível em . Acessado em 20 de maio de 2011.<br />
Em 1986, em Brasília, 4 mil delegados, representantes do governo<br />
federal, dos estados e dos municípios, além de muitos delegados indicados<br />
pelos movimentos sociais, fizeram parte da 8ª Conferência Nacional de Saúde<br />
e aprovaram o relatório final com as propostas idealizadas e/ou concebidas<br />
anteriormente. Relatório este que subsidiou os parlamentares, eleitos<br />
em 1986, nos debates na Assembleia Nacional Constituinte.<br />
Figura 19: Plenária da 8ª Conferência Nacional de Saúde em Brasília – DF.<br />
Fonte: disponível em < www.google.com.br/search?tbm=isch&hl=pt> sejarealista.wordpress.com>.<br />
Acessado em 24 de maio de 2011.<br />
1987 - Inicia-se a criação do Sistema Unificado e Descentralizado de<br />
Saúde – SUDS -, com experiência em algumas cidades, como Londrina (PR),<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 48<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Campinas (SP) e Niterói (RJ), concretizando o primeiro movimento na direção<br />
da descentralização e da hierarquização.<br />
1988 - A Constituição Federal estabelece os princípios de universalização<br />
do direito à saúde e ao atendimento médico gratuito como deveres do Estado.<br />
Rede regionalizada e hierarquizada. Criação do Fundo de Seguridade Social.<br />
1990 - Criação do Conselho Nacional de Saúde (7 de agosto de 1990).<br />
Figura 20: Reunião do Conselho Nacional de Saúde.<br />
Fonte: Disponível em < http://www.google.com.br/search?tbm=isch&hl=pt-BR&source=hp&biw=13<br />
66&bih=668&q=conselho+nacional+de+sa%C3%BAde&gbv=2&aq=1&aqi=g10&aql=&oq=conselho+na.<br />
Acesso em 24 de maio de 2011.<br />
1990 – Cria-se a Lei Orgânica da Saúde – LOS - (Lei 8.080/90), que<br />
dispõe sobre a criação do Serviço Único de Saúde – SUS - e estabelece o<br />
conjunto de ações que deve ser seguido por instituições públicas, federais,<br />
estaduais e municipais. Ainda em 1990, a Conferência de Saúde e o Conselho<br />
de Saúde regulamentam a participação da comunidade na gestão do SUS -<br />
Lei 8142/90.<br />
Figura 21: Logomarca do Sistema Único de Saúde.<br />
Fonte: Disponível em < www.google.com.br/search?tbm=isch&hl=pt->
O SUS vem se consolidando em um dos maiores sistemas públicos de<br />
saúde do mundo, constituindo um projeto social único que se materializa por<br />
meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros<br />
(www.saude.gov.br).<br />
4.3 Princípios e diretrizes do SUS<br />
O SUS está sustentado em seus princípios finalísticos e em suas diretrizes<br />
estratégicas:<br />
• a universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os<br />
níveis de assistência;<br />
• a equidade, que implica em identificar as necessidades sociais<br />
e de serviços de saúde dos diversos grupos da população, bem<br />
como em reorganizar os serviços e redistribuir os recursos de<br />
forma que atendam aos diversos grupos; a integralidade - diz<br />
respeito às ações possíveis para a promoção da saúde, prevenção<br />
de riscos e agravos e assistência a doentes. Entendida<br />
também como conjunto articulado e contínuo das ações e dos<br />
serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos<br />
para cada caso, em todos os níveis de complexidade do<br />
sistema;<br />
• a descentralização – processo de transferência de poder e responsabilidades<br />
do nível central para os níveis estaduais, municipal<br />
e distrital. Trata também da transferência de recursos financeiros,<br />
de materiais e de pessoas;<br />
• a participação social – garantida mediante a atuação dos conselhos<br />
e nas conferências de saúde em todos os níveis (nacional,<br />
estadual e municipal).<br />
Aos princípios e às diretrizes estratégicas para o processo de<br />
construção do SUS, acrescentam:<br />
• a regionalização – que implica na delimitação de uma base<br />
territorial que leva em conta a divisão político-administrativa<br />
do país, da região, do estado, do município, da localidade, do<br />
espaço para a organização das ações de saúde;<br />
• a hierarquização – forma de organização das unidades de<br />
saúde de acordo com o grau de complexidade tecnológica dos<br />
serviços e implica no estabelecimento de uma rede que articula<br />
as unidades mais simples às mais complexas, por meio<br />
de um sistema de referência e contra a referência do usuário<br />
e de informações; e<br />
• a integração entre as ações promocionais, preventivas e curativas.<br />
Articulação entre as vigilâncias sanitária, epidemiológica,<br />
ambiental e atenção à saúde (SUS, 2003).<br />
O SUS é organizado como uma rede regionalizada e hierarquizada e<br />
com as diretrizes de descentralização, com direção única em cada esfera de<br />
governo (CF. Art. 198).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 50<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
O Ministério da Saúde - MS - é o órgão máximo que, em linhas gerais,<br />
comanda e delega funções às demais secretarias para a implantação das<br />
decisões do governo federal. E, para melhor funcionamento do SUS, foram<br />
criadas várias secretarias no MS.<br />
Para conhecê-las, acesse o site www.saude.gov.br, assim, você irá<br />
entender melhor a hierarquia do SUS, até chegar às unidades básicas de saúde,<br />
onde funcionam as equipes de Estratégia de Saúde da Família.<br />
4.4 Os níveis de atenção à saúde<br />
4.4.1 Atenção primária à saúde ou nível primário<br />
Centros de saúde, postos de saúde, unidades e saúde da família<br />
constituem o primeiro nível de atenção à saúde, de acordo com o modelo<br />
adotado pelo SUS. Engloba um conjunto de ações de caráter individual<br />
ou coletivo, que envolve a promoção da saúde, a prevenção de doenças,<br />
o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação dos pacientes. Neste nível<br />
da atenção à saúde, o atendimento aos usuários deve seguir uma cadeia<br />
progressiva, garantindo o acesso aos cuidados e às tecnologias necessárias<br />
e adequadas à prevenção e ao enfrentamento das doenças, para o<br />
prolongamento da vida.<br />
Figura 22: Atendimento na atenção primária - estratégia da Saúde da Família.<br />
Fonte: Disponível em fiocruz.br>. Acesso em 24 de maio de 2011.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 51<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 23: Saúde bucal.<br />
Fonte: Disponível em . Acesso em 22 de maio de 2011.<br />
4.4.2 Média complexidade ou nível secundário<br />
Compõe-se por ações e serviços que visam atender aos principais<br />
problemas de saúde e agravos da população, cuja prática clínica demande<br />
disponibilidade de profissionais especializados e o uso de recursos tecnológicos<br />
de apoio diagnóstico e terapêutico. Policlínicas, NASF, hospitais locais,<br />
laboratórios, bancos de sangue, dentre outras referências municipais.<br />
Figura 24: Unidade Primária de Atenção à Saúde, que funciona 24 horas com várias<br />
especialidades.<br />
Fonte: Disponível em . Acesso em 24 de maio de 2011.<br />
4.4.3 Alta complexidade ou nível terciário<br />
Policlínicas especializadas, hospitais gerais, hospitais de base, diagnóstico<br />
por imagens. Referência estadual e nacional. Lugares estes que realizam<br />
um conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta<br />
tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços<br />
qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde - atenção<br />
primária e de média complexidade (SUS, 2003).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 52<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 25: Hospital de referência em Fortaleza - CE.<br />
Fonte: Disponível em < WWW.google.com.br> . Acesso em 24 de<br />
maio de 2011.<br />
4.4.4 Nível quaternário<br />
Hospitais universitários, hospitais especializados, laboratórios de<br />
engenharia genética, entre outros. Aqui, trata-se de referência nacional e<br />
internacional (SUS, 2003).<br />
O SUS é um sistema de saúde em construção, porém, existem alguns<br />
gargalos a serem superados, começando pelo financiamento que está<br />
dependendo da regulamentação da Emenda Constitucional 29; a correção da<br />
tabela de pagamento dos serviços/procedimentos; o plano nacional de carreira<br />
do SUS para todos os trabalhadores da rede; a construção de hospitais<br />
regionais com economia de escala 100% SUS, para se libertar das algemas dos<br />
conveniados e filantrópicos; a capacitação e a formação dos profissionais em<br />
humanização e cidadania, em especial os profissionais médicos que, hoje,<br />
aparecem nos centros dos debates, como o profissional com maior dificuldade<br />
para integrar a rede por não aderir os princípios do SUS; inverter a prioridade<br />
do modelo de assistência do curativo para o preventivo, fortalecendo,<br />
assim, a atenção primária à saúde e às vigilâncias.<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu:<br />
• que o SUS surgiu do movimento sanitário, que reuniu diferentes<br />
lideranças e organizações sindicais, populares, associações de<br />
classe e comunidades religiosas;<br />
• que o SUS está garantido na Constituição Federal de 88, na Lei<br />
Orgânica 8080/90 e na Lei 8142/90;<br />
• que o Sistema Único de Saúde sustenta-se nos princípios da universalidade,<br />
da equidade e da integralidade e nas diretrizes da<br />
descentralização, da participação social, da regionalização, da<br />
hierarquização e da integração;<br />
• que o sistema de saúde está organizado em quatro níveis: primário,<br />
secundário, terciário e quaternário;<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 53<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
• que o SUS é uma política de governo em construção e que precisa<br />
resolver alguns gargalos, entre eles, o financiamento, a gestão<br />
de pessoas e o plano de carreira do SUS.<br />
Atividades de aprendizagem<br />
1. Descreva os fatos que você acredita serem mais importantes no processo<br />
histórico do SUS.<br />
2. Quais são os princípios finalísticos do SUS?<br />
3. Quais as diretrizes que implicam na delimitação do território e na organização<br />
das unidades de saúde?<br />
4. A participação social é garantida em quais órgãos e em qual esfera de<br />
governo?<br />
5. No seu entendimento, o Conselho Municipal de Saúde do seu município é<br />
atuante ou não, por que?<br />
6. Descreva os níveis de atenção à saúde.<br />
7. No seu município, onde ocorre a atenção primária à saúde?<br />
8. A alta complexidade são os serviços especializados; onde esses serviços<br />
são oferecidos para os usuários do seu município?<br />
9. Descreva os pontos positivos do SUS (você deve pensar desde os agentes<br />
comunitários de saúde, os agentes de controle das endemias, os postos<br />
de saúde até o hospital de referência).<br />
10. O que poderia ser melhorado? (Entre na plataforma virtual, participe<br />
dos fóruns para debater o assunto com seus colegas e com o professor<br />
formador).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 54<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
AULA 1<br />
Aula Alfabetização 5 - Noções Digital básicas sobre <strong>Vigilância</strong><br />
Sanitária - VISA<br />
Objetivos<br />
• Conceituar a <strong>Vigilância</strong> Sanitária.Identificar o seu objetivo.Descrever<br />
as tarefas da <strong>Vigilância</strong> Sanitária.<br />
• Listar as áreas de atuação da VISA.<br />
5.1 Conceito<br />
<strong>Vigilância</strong> Sanitária - VISA - é um conjunto de ações capaz de eliminar,<br />
diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários<br />
decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens e<br />
da prestação de serviços de interesse da saúde.<br />
5.2 Origem da VISA<br />
A <strong>Vigilância</strong> Sanitária teve a sua origem na Europa, entre os séculos<br />
XVII e XVIII, e chegou ao Brasil no inicio do século XX, com destaque nas<br />
campanhas de vacinação contra a febre amarela e a varíola.<br />
Figura 27: Campanha contra febre amarela no Rio de Janeiro, em 1907.<br />
Fonte: Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.<br />
htm?infoid=114&sid=6>. Acesso em 27 de maio de 2011.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
55<br />
Poderíamos dizer que<br />
<strong>Vigilância</strong> Sanitária é<br />
um trabalho realizado<br />
por governo e pelo<br />
cidadão, com o<br />
objetivo de evitar a<br />
fabricação, a venda<br />
e o uso de alimentos,<br />
medicamentos,<br />
cosméticos, saneantes<br />
e produtos para a<br />
saúde adulterados;<br />
a prestação de<br />
serviços de saúde sem<br />
qualidade; e, ainda,<br />
fazer a vigilância nas<br />
fronteiras, portos e<br />
aeroportos do país<br />
(Copyri@, 2003).<br />
Saneante<br />
Produtos usados<br />
na limpeza e na<br />
conservação de<br />
ambientes. Ex.:<br />
desinfetante,<br />
detergente líquido e em<br />
pó, sabão em pó, água<br />
sanitária, inseticidas,<br />
repelentes de insetos,<br />
raticidas, entre outros.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Poder de polícia<br />
É aquele poder que<br />
a administração<br />
pública tem para<br />
determinar limitações<br />
à propriedade e<br />
à liberdade em<br />
prol do coletivo. A<br />
termologia “poder<br />
de polícia” é usada<br />
no direito brasileiro<br />
como atividade<br />
administrativa<br />
limitadora de direitos<br />
e de liberdades em<br />
favor do interesse<br />
público adequado<br />
(Anvisa, 2010).<br />
5.3 Objetivo<br />
O objetivo da VISA é proteger e promover a saúde, evitando incapacidades<br />
e doenças.<br />
5.4 Estrutura VISA no Brasil<br />
A VISA está organizada por meio do Sistema Nacional de <strong>Vigilância</strong><br />
Sanitária - SNVS. Em nível federal, estão a Agência Nacional de <strong>Vigilância</strong><br />
Sanitária - ANVISA - e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde<br />
da Fundação Oswaldo Cruz - INCQS/Fiocruz -; no nível estadual, estão o<br />
órgão da VISA e o Laboratório Central – Lacen -, de cada uma das 27 Unidades<br />
da Federação (26 estados e o Distrito Federal), e, em nível municipal, estão<br />
os serviços ou setores de <strong>Vigilância</strong> Sanitária. Lembrando que nem todos os<br />
municípios de pequeno porte contam com a estrutura da VISA. Nestes, as<br />
ações ficam a cargo dos técnicos da VISA estadual.<br />
5.5 Funções da VISA<br />
Figura 28: Fiscais da VISA fiscalizam e apreendem carne em feira livre.<br />
Fonte: Disponível em: Dep imprensa. Acesso em 28/07/2008.<br />
Como mostra a figura 28, a <strong>Vigilância</strong> Sanitária mantém funções com<br />
características antigas, do poder de polícia, como a forma de atuar na fiscalização,<br />
na observação do fato, no licenciamento de estabelecimentos, no julgamento<br />
de irregularidades e na aplicação de penalidades. Porém, vem agregando<br />
a essas características as funções normativas e educativas, que estimulam a<br />
consciência sanitária para a defesa do direito do consumidor e da cidadania,<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 56<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
fortalecido pela Constituição Federal de 1988, consolidado pelo Código de Defesa<br />
do Consumidor, regulamentado pela Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990.<br />
Contribui também nesta direção a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro<br />
de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS.<br />
O usuário, objeto de proteção da <strong>Vigilância</strong> Sanitária, passa a ser um aliado<br />
importante da transformação das condições de saúde, reforçando o papel<br />
educativo e estimulador da VISA.<br />
Figura 29: Ação educativa junto a escolares e comunidade em geral.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 28 de maio de 2011.<br />
A <strong>Vigilância</strong> Sanitária faz intervenções nas relações entre produtores<br />
e consumidores, expressadas de duas formas:<br />
• no controle das práticas de produção, determinando as normas<br />
técnicas e os padrões de produção, e exercendo a fiscalização<br />
para o cumprimento dessas normas para prevenir e evitar o dano<br />
no ato do consumo;<br />
• no estabelecimento do direito básico do consumidor e da disponibilização<br />
do Estado ao seu serviço, seja na explicação dos processos<br />
que motivaram um dano, seja no aparato legal necessário<br />
à reparação do dano ao consumidor.<br />
Sendo assim, a VISA baseia-se em dois conceitos importantes:<br />
• controle interno, ou seja, o prestador/fornecedor é responsável<br />
pelo que produz e deve manter controle sobre a sua produção,<br />
respondendo pelos seus desvios, suas imperfeições ou nocividades;<br />
• controle externo, exercido pelo Estado ou pelas sociedades organizadas<br />
na vigilância do processo e na defesa do consumidor.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 57<br />
O agente da VISA tem<br />
o papel de inspecionar,<br />
fiscalizar, julgar,<br />
notificar o infrator,<br />
autuar, lavrar termos<br />
de aplicação de<br />
penalidades, licenciar<br />
estabelecimentos,<br />
expedindo ou cassando<br />
alvarás, dentre outras<br />
atividades.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Para detalhar cada<br />
uma delas, você deve<br />
acessar www.anvisa.<br />
gov.br/serviços/index.<br />
htn.<br />
Alguns destes campos<br />
de atuação, pela<br />
sua natureza, dizem<br />
respeito apenas à<br />
Anvisa . Ex.: relações<br />
internacionais.<br />
Figura 30: As normas de segurança e as condições de higiene são checadas pelos<br />
fiscais da VISA nos serviços prestados à população para prevenir e evitar os danos.<br />
Fonte: Extraído da reportagem do G1.globo.com < Disponível em: . Acesso<br />
em 27 de maio de 2011.<br />
5.6 Áreas de atuação da VISA<br />
• Agrotóxico e toxicologia.Alimentos.Cosméticos.<br />
• Derivados do tabaco.<br />
• Medicamentos.<br />
• Saneantes.<br />
• Sangue, tecidos e órgãos (transplantes).<br />
• Serviços de saúde.<br />
• Produtos para a saúde.<br />
• Monitoração de propaganda.<br />
• Portos, aeroportos e fronteiras.<br />
• Rede brasileira de laboratórios.<br />
• Regulação de mercado.<br />
• Relações internacionais.<br />
• <strong>Vigilância</strong> pós-comercialização.<br />
Figura 31: Fiscalização/inspeção em produtos alimentícios em supermercados.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 27 de maio de 2011.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 58<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
A ação da <strong>Vigilância</strong> Sanitária, para ser eficaz, requer a interação<br />
com vários órgãos intra e extragoverno, tais como o Ministério Público, a<br />
Polícia de Defesa do Consumidor, o Poder Judiciário, os conselhos de classe<br />
e outros órgãos de defesa do consumidor.<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu:<br />
• que a <strong>Vigilância</strong> Sanitária atua no controle da prestação de serviços<br />
e de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se<br />
relacionem com a saúde, em todos os processos, da produção<br />
ao consumo;<br />
• que a atuação da <strong>Vigilância</strong> Sanitária tem implicações legais na<br />
proteção à saúde da população, desenvolvendo ação educativa e<br />
normativa, estabelecendo obrigatoriedades ou recomendações,<br />
até exercendo o seu papel de polícia, na aplicação de medidas<br />
que podem representar algum tipo de punição;<br />
• que são tradicionalmente tarefas da Anvisa: inspecionar, julgar,<br />
notificar o infrator, autuar, lavrar termos de aplicação de penalidades,<br />
licenciar estabelecimentos, expedindo ou cassando<br />
alvarás, dentre outras atividades.<br />
Atividades de aprendizagem<br />
1. O que é <strong>Vigilância</strong> Sanitária - VISA?<br />
2. Qual o objetivo da VISA?<br />
3. O que significa ter “poder de polícia”?<br />
4. A <strong>Vigilância</strong> Sanitária faz intervenções nas relações entre produtores e<br />
consumidores, expressadas de duas formas. O que faz no controle das<br />
práticas de produção?<br />
5. Como a VISA está organizada em nível federal?<br />
6. A VISA baseia-se em dois conceitos importantes, quais são?<br />
7. Descrever as tarefas da <strong>Vigilância</strong> Sanitária.<br />
8. Quais são os órgãos governamentais e não governamentais que contribuem<br />
para a eficácia das ações da VISA?<br />
9. No seu município, tem o setor de <strong>Vigilância</strong> Sanitária? Quais são as suas<br />
tarefas que encaixam nas ditas aqui como tradicionais?<br />
10. Listar cinco das áreas de atuação da VISA em seu município.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 59<br />
Aula baseada nos<br />
textos retirados do site:<br />
Saúde e cidadania<br />
e www.anvisa.gov.br/<br />
serviços/index.htn.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Aula Alfabetização 6 - <strong>Vigilância</strong> Digital em Saúde Ambiental<br />
- VISA<br />
Objetivos<br />
• conhecer a importância do envolvimento do setor de saúde nas<br />
questões ambientais;<br />
• determinar as ações dos principais componentes da VISA.<br />
6.1 Introdução<br />
Quando o assunto é meio ambiente, normalmente, pensamos em<br />
áreas naturais, como florestas, matas, rios, lagos e mares. Mas meio ambiente<br />
é mais do que isto, é definido como o conjunto de condições, leis, influências<br />
e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e<br />
rege a vida em todas as suas formas. Neste sentido, tradicionalmente, seus<br />
elementos constituintes são divididos segundo os meios: físico, biótico (ou<br />
biológico) e antrópico (ou socioeconômico) (Castro, Eignotti e Hacon, 2009).<br />
Assim, meio ambiente engloba também o local em que vivemos,<br />
como as cidades, com toda a complexidade de fatores envolvidos, sejam eles<br />
pessoas, animais, plantas, ar, água, solo, indústria, entre outros.<br />
Há muito tempo, conhece-se a relação existente entre as alterações<br />
do meio ambiente, a degradação dos recursos naturais e o surgimento<br />
dos fatores ambientais de risco. Como exemplo, podemos citar a água, pois<br />
a degradação dos mananciais, devido à ocupação humana, altera a qualidade<br />
desta para o consumo humano (degradação do recurso), mas também a<br />
poluição por esgoto doméstico pode levar à transmissão de doenças, como<br />
cólera e hepatite (surgimento de fator ambiental de risco).<br />
Dentro deste contexto, e com o intuito de garantir e promover a<br />
saúde humana nos mais diversos ambientes onde ocorre a presença do homem,<br />
surge o conceito de <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental. A <strong>Vigilância</strong> Ambiental<br />
em Saúde é um conjunto de ações que proporciona o conhecimento e<br />
a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes<br />
do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de<br />
identificar as medidas de prevenção e de controle dos fatores de risco ambientais<br />
relacionados às doenças ou outros agravos à saúde (BRASIL, 2003).<br />
São componentes da <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental:<br />
• VIGIÁGUA – vigilância da qualidade da água de consumo humano;<br />
• VIGISOLO – vigilância de populações expostas a solos contaminados;<br />
• VIGIAR – vigilância de populações expostas à poluição do ar;<br />
• VIGIDESASTRES - vigilância de populações expostas a desastres<br />
naturais (enchentes, seca, abalos sísmicos entre outros);<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
61<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
• VIGIFISI – vigilância de populações expostas a fatores físicos (radiações<br />
eletromagnéticas);<br />
• VIGIAPP – vigilância de populações expostas a acidentes com<br />
produtos perigosos;<br />
• VIGIQUIM – vigilância de populações expostas a contaminantes<br />
ambientais e substâncias químicas;<br />
• VIGIAMBT – vigilância relacionada ao ambiente de trabalho.<br />
Em virtude de processos de implantação mais avançados, exploraremos<br />
apenas os três primeiros componentes: ar, água e solo.<br />
Figura 32: Contaminantes ambientais da água, ar e solo.<br />
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema Nacional de <strong>Vigilância</strong> Ambiental em Saúde. Editora MS.<br />
Brasília, DF. 2003. p. 20.<br />
6.2 <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental relacionada<br />
à qualidade da água para o consumo humano –<br />
VIGIAGUA<br />
A água é de fundamental importância para a vida de todas as espécies.<br />
Aproximadamente 80% de nosso organismo é composto por água. A<br />
ingestão de água tratada é um dos mais importantes fatores para a conservação<br />
da saúde; é considerada o solvente universal, auxilia na prevenção das<br />
doenças (cálculo renal, infecção de urina etc.) e na proteção do organismo<br />
contra o envelhecimento.<br />
O consumo de água segura é de importância fundamental para a<br />
sadia qualidade de vida e para a proteção contra as doenças, sobretudo<br />
aquelas evitáveis, relacionadas a fatores ambientais e que têm afligido<br />
populações em todo o mundo. A existência de água em condições sanitárias<br />
adequadas à utilização para o abastecimento humano está relacionada à manutenção<br />
das condições do ciclo hidrológico e ao impedimento de qualquer<br />
contaminação (BUENO, 2009).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 62<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
A contaminação das águas pode ter duas origens: a natural ou a<br />
produzida por atividades humanas, a antropogênica. A contaminação natural<br />
é mínima e refere-se aos componentes que ficam na crosta terrestre e são<br />
prejudiciais à água. Normalmente, as fontes de contaminação natural não<br />
provocam grandes concentrações de agentes contaminadores. Já a contaminação<br />
antropogênica é muito mais perigosa do que a natural. Existem várias<br />
fontes, entre elas: industriais, resíduos urbanos (lixo e esgotos), navegação<br />
(derramamentos acidentais de petróleo) e agricultura (agrotóxicos).<br />
Figura 33: Córrego contaminado por esgotos e lixo.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 09 de maio de 2011.<br />
A vigilância da qualidade da água para consumo humano é uma<br />
atribuição do setor de saúde e está estruturado no âmbito do Ministério da<br />
Saúde há cerca de 10 anos, consistindo em um conjunto de ações a serem<br />
adotadas pelas autoridades de saúde pública, objetivando garantir que a<br />
água consumida pela população atenda ao padrão e às normas estabelecidas<br />
na legislação vigente (ALONZO, et al., 2009).<br />
A avaliação dos riscos à saúde humana, representada pela água<br />
utilizada para o consumo humano, também constitui uma premissa da<br />
vigilância da qualidade da água. As atividades da vigilância devem ser<br />
rotineiras e preventivas sobre os sistemas e as soluções alternativas de<br />
abastecimento de água, a fim de garantir a redução das enfermidades<br />
transmitidas pela água de consumo humano.<br />
6.2.1 Objetivos<br />
De acordo com o Ministério da Saúde (2011), os objetivos específicos<br />
do programa VIGIAGUA são:<br />
• reduzir a morbi mortalidade por doenças e agravos de transmissão<br />
hídrica, por meio de ações de vigilância sistemática da<br />
qualidade da água consumida pela população;<br />
• buscar a melhoria das condições sanitárias das diversas formas<br />
de abastecimento de água para o consumo humano;<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 63<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
• avaliar e gerenciar o risco à saúde das condições sanitárias das<br />
diversas formas de abastecimento de água;<br />
• monitorar sistematicamente a qualidade da água consumida pela<br />
população, nos termos da legislação vigente;<br />
• informar a população sobre a qualidade da água e sobre os riscos<br />
à saúde;<br />
• apoiar o desenvolvimento de ações de educação em saúde e de<br />
mobilização social;<br />
• coordenar o Sistema de Informação de <strong>Vigilância</strong> da Qualidade<br />
da Água (SISAGUA).<br />
6.2.2 Portaria 518/2004<br />
A Portaria MS nº 518, de 25 de março de 2004, define o padrão<br />
de potabilidade da água para o consumo humano no país e estabelece que<br />
o controle da qualidade da água é de responsabilidade de quem oferece<br />
o abastecimento coletivo ou de quem presta serviços alternativos de distribuição.<br />
No entanto, cabe às autoridades de saúde pública das diversas<br />
instâncias de governo a missão de verificar se a água consumida pela<br />
população atende às determinações dessa portaria, inclusive no que se<br />
refere aos riscos que os sistemas e as soluções alternativas de abastecimento<br />
de água representam para a saúde pública.<br />
Esta portaria procura estabelecer uma melhor delimitação para<br />
as formas de abastecimento, fornecimento e consumo de água, que devem<br />
estar sujeitas às ações de vigilância e de controle da qualidade da água para<br />
o consumo humano. O sistema de abastecimento de água para o consumo<br />
humano é a instalação composta pelo conjunto de obras civis com materiais<br />
e equipamentos, destinada à produção e à distribuição canalizada de<br />
água potável para as populações, sob a responsabilidade do poder público,<br />
mesmo que administrada em regime de concessão ou de permissão. Já a<br />
solução alternativa de abastecimento de água para o consumo humano é<br />
toda a modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do sistema de<br />
abastecimento, incluindo, entre outras, fonte, poço comunitário, distribuição<br />
por veículo transportador, instalações condominiais horizontal e vertical<br />
(BRASIL, 2006).<br />
O padrão de potabilidade brasileiro é composto pelos parâmetros:<br />
• padrão microbiológico;<br />
• padrão de turbidez;<br />
• padrão para substâncias químicas que representam riscos à saúde<br />
(inorgânicas, orgânicas, agrotóxicos, desinfetantes e produtos<br />
secundários da desinfecção);<br />
• padrão de aceitação para o consumo humano (odor e gosto);<br />
• padrão de radioatividade.<br />
A potabilidade da água é aferida pelo atendimento, simultaneamente,<br />
dos valores máximos permitidos (VMP – concentrações limite) estabelecidos<br />
para cada parâmetro. Guardada a importância relativa e específica de<br />
cada um, em termos gerais, a garantia da qualidade microbiológica da água<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 64<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
deve receber prioridade absoluta por causarem riscos de curto prazo e grande<br />
impacto (BRASIL, 2006).<br />
A identificação dos micro-organismos patogênicos na água é, normalmente,<br />
morosa, complexa e onerosa. Por essa razão, tradicionalmente,<br />
recorre-se à identificação dos organismos indicadores de contaminação,<br />
na interpretação de que sua presença indicaria a introdução de matéria de<br />
origem fecal (humana ou animal) na água e, portanto, o risco potencial da<br />
presença de organismos patogênicos; como exemplo pode-se citar, como indicador<br />
de contaminação fecal, a bactéria Escherichia coli. Entre os organismos<br />
patogênios de veiculação hídrica, podemos citar: Salmonela typhii<br />
(febre tifoide) Vibrio Cholerae (cólera), rotavírus, protozoários, entre outros<br />
(BRASIL, 2006).<br />
6.3 <strong>Vigilância</strong> em Saúde de populações expostas<br />
à poluição do ar - VIGIAR<br />
A atmosfera é um meio propício para a disseminação de agentes<br />
químicos, físicos e biológicos capazes de causar impactos sobre a saúde humana<br />
e aos demais seres vivos; possui capacidade finita de assimilação desses<br />
agentes. O processo de desenvolvimento humano, com a concentração<br />
populacional em centros urbanos, com a industrialização crescente e com<br />
a expansão agrícola, representa um fator importante para o aumento das<br />
emissões de poluentes atmosféricos e, como consequência, a contaminação<br />
do ar que respiramos (Hadicchi e Lemos, 2009).<br />
O Programa Nacional de <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental relacionada<br />
à qualidade do ar constitui-se como um marco teórico orientador para<br />
as instituições e os técnicos envolvidos nesta vigilância. Trata-se de um<br />
instrumento abrangente contendo suas diretrizes, seus objetivos e seu modelo<br />
de atuação, indispensável para a sua implementação em âmbito nacional<br />
(BRASIL, 2011).<br />
O VIGIAR começou a sua estruturação em 2001 e tem como objetivo<br />
a promoção da saúde da população exposta aos fatores ambientais relacionados<br />
aos poluentes atmosféricos. Seu campo de atuação prioriza as regiões<br />
onde existam diferentes atividades de natureza econômica ou social que gerem<br />
poluição atmosférica, de modo a caracterizar um fator de risco para as<br />
populações expostas, denominadas Áreas de Atenção Ambiental Atmosférica<br />
de interesse para a saúde - 4AS (ALONZO, et al, 2009).<br />
Os objetivos específicos de sua atuação são:<br />
• prevenir e reduzir os agravos à saúde da população exposta aos<br />
fatores ambientais relacionados aos poluentes atmosféricos;<br />
• avaliar os riscos à saúde decorrentes da exposição aos poluentes<br />
atmosféricos;<br />
• identificar e avaliar os efeitos agudos e crônicos decorrentes da<br />
exposição aos poluentes atmosféricos;<br />
• estimular a intersetorialidade e a interdisciplinaridade entre os<br />
órgãos que possuam interface com a saúde, no que diz respeito<br />
às questões de qualidade do ar;<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 65<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
• subsidiar o Setor Ambiental na formulação e na execução de<br />
estratégias de controle da poluição do ar, tendo em vista a proteção<br />
da saúde da população;<br />
• fornecer elementos para orientar as políticas nacionais e locais<br />
de proteção à saúde da população frente aos riscos decorrentes<br />
da exposição aos poluentes atmosféricos.<br />
Em 2007, o VIGIAR apresentou a proposta de pactuação, em âmbito<br />
nacional, para a Programação das Ações Prioritárias da <strong>Vigilância</strong> em Saúde,<br />
com a ação de identificar os municípios de risco para a <strong>Vigilância</strong> Ambiental<br />
em Saúde relacionada à qualidade do ar – VIGIAR -, por meio do preenchimento<br />
do Instrumento de Identificação dos Municípios de Risco – IIMR -,<br />
sendo avaliados Indicadores de Saúde/ Morbidade, como:<br />
• taxa de internação por doenças respiratórias (J00 a J99) em<br />
crianças menores do que 5 anos (indicador de gravidade).<br />
• taxa de doenças cardiovasculares (I00 a I99) – adultos maiores<br />
com mais de 60 anos;<br />
• prevalência de doenças respiratórias em atendimentos ambulatoriais<br />
(J00 a J99) em crianças menores do que 5 anos.<br />
E Indicadores de Saúde/Mortalidade:<br />
• doenças respiratórias em crianças menores do que 5 anos e<br />
adultos com mais de 60 anos, entre outras variáveis.<br />
Vale registrar a atividade de acompanhamento da possível associação<br />
entre doenças respiratórias e poluentes atmosféricos em andamento nas<br />
secretarias de saúde do Acre, da Bahia, do Mato Grosso, do Rio de Janeiro,<br />
de São Paulo, do Rio Grande do Sul e do Tocantins, por meio da implantação<br />
de pilotos de Unidades Sentinelas para o VIGIAR.<br />
Figura 34: Evolução do VIGIAR.<br />
Fonte: Ministério da Saúde. Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde. Painel de informações em Saúde<br />
Ambiental e do Trabalhador. Disponível em: .<br />
Acesso em 07 de maio de 2011.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 66<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
A emissão de poluentes para a atmosfera dá-se por meio da queima<br />
de biomassa, automóveis e atividades industriais.<br />
De acordo com Galindo e Macedo (2009), externalidades negativas<br />
do transporte geram efeitos ambientais e consequentes impactos na<br />
saúde e na qualidade de vida de usuários e de não usuários, têm-se como<br />
exemplo os acidentes e a poluição atmosférica. Neste último, os gases<br />
que geram essa poluição podem ser classificados em gases de efeito local<br />
– GEL - e gases de efeito estufa - GEE. Os GEE são gases naturais ou<br />
provindos de atividades antrópicas que absorvem a radiação infravermelha<br />
e a reemitem, gerando aquecimento atmosférico. Dentre os GEE, a<br />
atividade de transporte tem responsabilidade no aumento de dióxido de<br />
carbono, metano e óxido nitroso. Os GEL são poluentes cujos efeitos são,<br />
em geral, relacionados a problemas no sistema respiratório (GALINDO;<br />
MACEDO 2009).<br />
São considerados GEL: material particulado (MP); compostos orgânicos<br />
voláteis, à exceção do metano; monóxido de carbono (CO); óxidos<br />
de nitrogênio; óxidos de enxofre. Os GEL podem causar também chuva<br />
ácida e irritações nos olhos, problemas cardiorrespiratórios e até mesmo<br />
câncer. Os GEE óxido nitroso e monóxido de carbono contribuem com o<br />
aquecimento (GALINDO; MACEDO 2009).<br />
Figura 35: Poluição do ar.<br />
Fonte: Disponível em : . Acesso em 09 de maio de 2011.<br />
Para que haja um sistema de transporte ambientalmente sustentável,<br />
deve-se priorizar o transporte não motorizado em detrimento do motorizado,<br />
e o coletivo em lugar do individual. As medidas mitigadoras, para<br />
diminuir os efeitos negativos, devem aproveitar a vantagem de cada modo<br />
de transporte.<br />
Para reduzir a poluição, é necessário também reduzir o consumo<br />
energético e utilizar fontes menos poluentes. Para que essa medida seja<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 67<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
sustentável, é necessário também utilizar fontes renováveis. Por sua vez,<br />
para reduzir os acidentes, é necessária uma política de segurança por<br />
meio de moderação de tráfego e da compatibilização entre os diversos<br />
modos de transporte (GALINDO; MACEDO 2009).<br />
Há quatro diretrizes que devem permear a preocupação do setor<br />
de transporte com a poluição: a necessidade racional de gasto; o consumo<br />
consciente; a matriz energética menos poluente e renovável; a eficiência<br />
energética. Cada uma delas retrata uma forma de se mitigar os efeitos negativos<br />
do setor.<br />
A matriz energética mais limpa e renovável relaciona-se ao uso<br />
de fontes energéticas de baixa emissão de carbono e outros poluentes e<br />
que possuam rápida taxa de renovação. Por fim, a eficiência energética<br />
retrata a tecnologia utilizada para se deslocar de acordo com o rendimento<br />
da fonte por unidade transportada no espaço.<br />
A queima de biomassa ocorre em maior extensão e intensidade<br />
na Amazônia Legal, situada ao Norte do país. Segundo o inventário brasileiro<br />
de emissões de carbono, 74% das emissões ocorrem por meio de<br />
queimadas na Amazônia, em contraste com 23% das emissões do setor<br />
energético (CASTRO, EIGNOTTI; HACON; 2009).<br />
As queimadas dessa região decorrem do modelo de ocupação e uso<br />
do solo, com o desmatamento de grandes áreas e, consequentemente, a<br />
queima da vegetação, levando à liberação de gases e de material particulado.<br />
Diferente do que acontece nos centros urbanos, onde a poluição do ar<br />
caracteriza-se por um processo de exposição crônica, na região da Amazônia<br />
Legal, observa-se uma exposição aguda por um período relativamente curto,<br />
de 3 a 5 meses.<br />
As queimadas na Amazônia ocorrem essencialmente numa área definida<br />
como “arco do desmatamento”. Os níveis de poluição durante o período<br />
de seca, quando os focos de queimadas são mais frequentes, variam<br />
de ano para ano, havendo registros de níveis elevados de poluição nas duas<br />
últimas décadas. Ainda que os níveis de poluentes variem de um município<br />
para outro nessa região, sem dúvida, esses costumam apresentar picos mais<br />
elevados do que as áreas de regiões metropolitanas do Brasil. Além disso,<br />
os efeitos da poluição atmosférica na Amazônia relacionam-se fortemente<br />
com os períodos de seca e de chuva intensa na região (CASTRO; EIGNOTTI;<br />
HACON; 2009).<br />
Os indicadores de saúde e ambiente atualmente utilizados<br />
pelo VIGIAR foram definidos em 2005, durante as reuniões temáticas<br />
do VIGIAR.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 68<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 36: Limites da Amazônia Legal Brasileira e a distribuição espacial do<br />
desmatamento, com destaque para o “arco do desmatamento”. Ocupação humana<br />
e transformação das paisagens na Amazônia brasileira.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em 08 de maio de 2011.<br />
6.3.1 Protocolo de Montreal e proteção à camada de<br />
ozônio<br />
O Ministério da Saúde é parte integrante do Comitê Interministerial<br />
para Proteção da Camada de Ozônio, constituído por Decreto desde<br />
1995, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e constituído também<br />
por representantes do Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Fazenda,<br />
Ministério do Desenvolvimento e do Comércio Exterior, Ministério da<br />
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e Ministério da Ciência e Tecnologia,<br />
com a finalidade de estabelecer diretrizes e coordenar ações relativas à proteção<br />
da camada de ozônio, buscando implementar o Protocolo de Montreal<br />
(BRASIL, 2011).<br />
As ações de proteção da camada de ozônio concentraram-se, ao<br />
longo dos últimos 20 anos, na eliminação da produção e do consumo de substâncias<br />
destruidoras da camada, entre as quais, os cloroflourcarbonos – CFCs<br />
-, que deixaram de ser produzidos no Brasil desde 1999 e não mais estarão<br />
sendo produzidos no mundo a partir de 1° de janeiro de 2010.<br />
Os inaladores de dose medida – MDIs -, utilizados no tratamento de<br />
pacientes com asma de doenças obstrutivas crônicas, são medicamentos que<br />
contêm CFCs. O Ministério da Saúde vem adotando medidas visando à sensibilização<br />
de médicos, pacientes e demais envolvidos para a necessidade de<br />
substituição de MDI que contém CFC por aqueles livres dessas substâncias.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 69<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Neste sentido, é responsabilidade do Ministério da Saúde, em sua<br />
política de atenção à saúde, adotar ações de curto, médio e longo prazo,<br />
para a sensibilização de todos os segmentos envolvidos, de modo que:<br />
• o processo de substituição dos MDI com CFC ocorra de forma<br />
segura e com o menor impacto socioeconômico possível, até 1º<br />
de janeiro de 2010;<br />
• o desenvolvimento da indústria de fármacos atenda às necessidades<br />
nacionais e coloque-se de forma competitiva no mercado<br />
internacional, face à insuficiência mundial de CFC, em qualidade<br />
farmacêutica e quantidade requerida, a partir de 2010;<br />
• sejam adotadas medidas de prevenção à saúde, considerando<br />
que a recuperação da camada de ozônio, aos níveis de 1980,<br />
ocorrerá em meados de 2060.<br />
6.4 Programa de <strong>Vigilância</strong> Ambiental em Saúde<br />
de populações expostas ou sob o risco de exposição<br />
a solos contaminados - VIGISOLO<br />
O uso da terra para centros urbanos, para as atividades agrícola,<br />
pecuária e industrial, tem tido como consequência elevados níveis de contaminação.<br />
De fato, aos usos referidos, associam-se, geralmente, descargas<br />
acidentais ou voluntárias de poluentes no solo e nas águas, deposição<br />
não controlada de produtos que podem ser resíduos perigosos, lixões e/ou<br />
aterros sanitários não controlados, deposições atmosféricas resultantes das<br />
várias atividades etc. Assim, ao longo dos últimos anos, têm sido detectados<br />
numerosos casos de contaminação do solo em zonas urbanas e rurais.<br />
A contaminação do solo por substâncias químicas apresenta riscos<br />
à saúde pública, em decorrência de sua mobilidade ou de seu transporte,<br />
influenciando, dessa forma, a qualidade da água, do ar e da biota.<br />
O VIGISOLO começou a ser estruturado em 2004 e tem por objetivo<br />
desenvolver ações de <strong>Vigilância</strong> em Saúde de populações expostas a áreas<br />
contaminadas por contaminantes químicos, visando recomendar e instituir<br />
medidas de promoção da saúde, prevenção dos fatores de risco e atenção<br />
integral à saúde das populações expostas, conforme preconizado no SUS<br />
(ALONZO, et al, 2009).<br />
A partir de experiências pilotos e atividades desenvolvidas em parceria<br />
com estados, municípios, academia, controle social e outros setores, o<br />
VIGISOLO desenvolveu um modelo de atenção integral que inclui promoção,<br />
proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação,<br />
manutenção e vigilância à saúde de acordo com as especificidades<br />
dos territórios. Além disso, foram elaborados os documentos, os manuais, as<br />
diretrizes e a proposta de uma portaria ministerial para a sua operacionalização<br />
nos SUS. São objetivos específicos do programa (BRASIL, 2008):<br />
• identificação de áreas com populações expostas ou sob o risco<br />
de exposição a solo contaminado;<br />
• desenvolver ações de <strong>Vigilância</strong> Ambiental em Saúde, estabelecendo<br />
parcerias intra e intersetoriais;<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 70<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
• aplicar metodologia de avaliação de risco à saúde humana;<br />
• desenvolver e apoiar ações de educação em saúde, relativa a<br />
solos contaminados;<br />
• implantar e implementar o Sistema de Informação de <strong>Vigilância</strong><br />
em Saúde em áreas com populações expostas a solos contaminados<br />
(SISSOLO);<br />
• treinamento de profissionais de saúde.<br />
O campo de atuação do VIGISOLO deve ocorrer em áreas onde exista<br />
exposição ou risco de exposição da população a solos contaminados por<br />
substâncias químicas, que possam produzir efeitos na saúde. A atuação acontece<br />
a partir da identificação e da avaliação de risco em áreas com solos contaminados,<br />
buscando a construção de uma proposta de intervenção, cujas<br />
ações sejam sistematizadas e articuladas às diferentes esferas e aos setores<br />
governamentais e da sociedade (SECRETARIA DE SAÚDE DA BAHIA, 2011).<br />
Para a adoção de medidas de controle e de gerenciamento de risco,<br />
faz-se necessária a socialização dos dados, o conhecimento do meio ambiente<br />
e as relações estabelecidas entre este e a população exposta ou sob<br />
o risco de exposição, buscando utilizar metodologias e instrumentos mais<br />
adequados em cada situação.<br />
De acordo com a lógica de atuação do VIGISOLO, inicialmente, é realizada<br />
a identificação das áreas com populações expostas ao solo contaminado<br />
utilizando uma ficha de campo e cadastro no SISSOLO. Na ficha de campo,<br />
é classificado o tipo de área que está sendo cadastrada, entre eles: área<br />
desativada, área industrial, área de disposição de resíduos industriais, área<br />
de mineração, depósito de agrotóxicos, contaminação natural, área agrícola,<br />
unidade de postos de abastecimento e serviços, e área de disposição final<br />
de resíduos urbanos. Além de se determinar também a população potencialmente<br />
exposta - distância do ponto, número de famílias/pessoas e rotas de<br />
exposição da população aos contaminantes ambientais -, se são populações<br />
susceptíveis, as atividades realizadas na área e no seu entorno, a presença<br />
de curso de água, os tipos de abastecimento de água e seus usos. Entre os<br />
contaminantes, temos os agrotóxicos, derivados de petróleo, metais, resíduos<br />
de serviços de saúde, resíduos urbanos, solventes, entre outros.<br />
Figura 37: Solo contaminado por resíduos urbanos.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 09 de maio de 2011.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 71<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
O banco de dados representa o ponto de partida para desencadear<br />
as ações de curto, médio e longo prazo do setor saúde. Por exemplo,<br />
em curto prazo, deve ser realizada a interrupção do acesso à água para a<br />
população que se abasteça de uma fonte comprovadamente contaminada,<br />
como também a busca de informações complementares junto a outros<br />
órgãos competentes. A vigilância em saúde de populações expostas a áreas<br />
contaminadas perpassa diferentes setores. O fluxo de atuação da vigilância<br />
e atenção contempla atividades de promoção, prevenção e atenção à saúde<br />
que requerem o envolvimento de diversas áreas do setor de saúde (BRASIL,<br />
2008).<br />
Atualmente, todas as Secretarias de Estado da Saúde – SES - e a<br />
maioria das capitais desenvolvem ações do VIGISOLO, particularmente a<br />
identificação de populações expostas a áreas contaminadas por contaminantes<br />
químicos, atividades de capacitação e atividades iniciais de articulação<br />
intra e intersetorial, e acompanhamento da saúde da população exposta. Até<br />
2008, mais de 500 municípios tinham identificado e registrado pelo menos<br />
uma área com população potencialmente exposta a contaminantes químicos,<br />
totalizando 2.182 em todo o país (BRASIL, 2008).<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu:<br />
• que a <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental proporciona o conhecimento<br />
e a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes<br />
e condicionantes do meio ambiente que interferem na<br />
saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de<br />
prevenção e de controle dos fatores de risco ambientais relacionados<br />
às doenças ou a outros agravos à saúde;<br />
• que o VIGIÁGUA tem como objetivo verificar se a água distribuída<br />
para a população obedece a padrões de potabilidade conforme<br />
a Portaria 518/2004;<br />
• que o VIGIAR visa prevenir e reduzir os agravos à saúde da população<br />
exposta aos fatores ambientais relacionados aos poluentes<br />
atmosféricos, entre eles, GEL, GEE e material particulado;<br />
• que o VIGISOLO visa a identificação de áreas com populações expostas<br />
ou sob o risco de exposição a solo contaminado e propor<br />
ações de promoção e de proteção da saúde dessas populações.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 72<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Atividades de aprendizagem<br />
O que é <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental?<br />
1. Quais os componentes da VISA?<br />
2. Quais os objetivos do VIGIÁGUA?<br />
3. Quais parâmetros compõem o padrão de potabilidade da água no Brasil?<br />
4. Quais os patógenos que podem ser transmitidos para o homem através<br />
da água?<br />
5. Quais os objetivos do VIGIAR e as variáveis de saúde utilizadas na identificação<br />
da população de risco?<br />
6. De que forma o material particulado, os gases de efeito local e os gases<br />
de efeito estufa podem afetar a saúde do ser humano?<br />
7. Quais os objetivos do VIGISOLO?<br />
8. Descreva a lógica de atuação do VIGISOLO.<br />
9. Quais as áreas que podem ser cadastradas no VIGISOLO?<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 73<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Aula Alfabetização 7 - <strong>Vigilância</strong> Digital epidemiológica -<br />
procedimentos técnicos da vigilância<br />
epidemiológica<br />
Objetivos<br />
• Conceituar a expressão vigilância epidemiológica.<br />
• Identificar o propósito e a função da vigilância epidemiológica.<br />
• Descrever os dados e as informações que alimentam o Sistema<br />
de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
• Relatar as etapas de uma investigação epidemiológica.<br />
7.1 Introdução<br />
Segundo o Guia de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> (Brasil, 2009), a expressão<br />
vigilância epidemiológica passou a ser aplicada ao controle das doenças<br />
transmissíveis na década de 1950, para designar uma série de atividades<br />
subsequentes à etapa de ataque da Campanha de Erradicação da Malária.<br />
Essa expressão significava “a observação sistemática e ativa de casos suspeitos<br />
ou confirmados de doenças transmissíveis e de seus contatos”. Tratava-<br />
-se, portanto, da vigilância de pessoas, com base em medidas de isolamento<br />
ou de quarentena, aplicadas individualmente, e não de forma coletiva.<br />
Na década de 1960, o programa de erradicação da varíola também<br />
instituiu uma fase de vigilância epidemiológica, que se seguia à de vacinação<br />
em massa da população. Simultaneamente, porém, o programa disseminou<br />
a aplicação de novos conceitos que se firmavam no âmbito internacional e<br />
não se vinculavam à prévia realização de uma fase de ataque. Pretendia-se,<br />
mediante a busca ativa de casos de varíola, a detecção precoce de surtos e<br />
o bloqueio imediato da transmissão da doença.<br />
Essa metodologia alcançou a erradicação da varíola em escala mundial<br />
e serviu de base para a organização de sistemas nacionais de vigilância<br />
epidemiológica; a partir da 21ª Assembleia Mundial de Saúde, realizada em<br />
1968, ficou estabelecido o conceito não apenas às doenças transmissíveis,<br />
mas a vários problemas de saúde pública, a exemplo das malformações congênitas,<br />
dos envenenamentos na infância, da leucemia, dos abortos, dos<br />
acidentes, das doenças profissionais, dos comportamentos como fatores de<br />
risco, dos riscos ambientais, dentre outros.<br />
No Brasil, a Campanha de Erradicação da Varíola – CEV - (1966-1973)<br />
é reconhecida como marco da institucionalização das ações de vigilância no<br />
país, tendo fomentado e apoiado a organização de unidades de vigilância<br />
epidemiológica na estrutura das secretarias estaduais de saúde. O modelo<br />
da CEV inspirou a Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP) a organi-<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
75<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Vale lembrar que as<br />
profundas mudanças no<br />
perfil epidemiológico<br />
das populações, no<br />
qual se observa o<br />
declínio das taxas<br />
de mortalidade por<br />
doenças infecciosas<br />
e parasitárias e o<br />
crescente aumento<br />
das mortes por causas<br />
externas e doenças<br />
crônicas degenerativas,<br />
têm implicado na<br />
incorporação de<br />
doenças e agravos<br />
não transmissíveis<br />
na <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong>.<br />
zar, em 1969, um sistema de notificação semanal de doenças selecionadas<br />
e a disseminar informações pertinentes em um boletim epidemiológico de<br />
circulação quinzenal. Tal processo fundamentou a consolidação, nos níveis<br />
nacional e estadual, de bases técnicas e operacionais que possibilitaram o<br />
desenvolvimento de ações de grande impacto no controle de doenças evitáveis<br />
por imunização. Ex.: controle da poliomielite no Brasil, na década de<br />
1980, que abriu perspectivas para a erradicação da doença no continente<br />
americano, em 1994 (BRASIL, 2009).<br />
Em 1975, o Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong> (SNVE), Lei n° 6.259/75 e Decreto n° 78.231/76. Esses<br />
instrumentos tornaram obrigatória a notificação de doenças transmissíveis<br />
selecionadas, constantes na relação estabelecida por Portaria.<br />
O Sistema Único de Saúde – SUS - incorporou o SNVE, definindo, em<br />
seu texto legal (Lei n°8.080/90), a <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> como “um conjunto<br />
de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção<br />
de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde<br />
individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas<br />
de prevenção e controle das doenças ou agravos”. Com este conceito ampliado,<br />
as ações de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> passaram a ser operacionalizadas<br />
num contexto de profunda reorganização do Sistema de Saúde Brasileiro, caracterizada<br />
pela descentralização de responsabilidades, pela universalidade,<br />
integralidade e equidade na prestação de serviços.<br />
7.2 Propósito da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
Qual é o propósito da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>?<br />
Fornecer orientação técnica para os profissionais de saúde que têm<br />
a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças<br />
e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, área geográfica<br />
e/ou população definida. Essas informações subsidiam o planejamento e a<br />
operacionalização dos serviços de saúde.<br />
7.3 Funções da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
Quais são funções da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>?<br />
• Coleta de dados;<br />
• processamento de dados coletados;<br />
• análise e interpretação dos dados processados;<br />
• recomendação das medidas de prevenção e controle apropriadas;<br />
• promoção das ações de prevenção e controle indicadas;<br />
• avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;<br />
• divulgação de informações pertinentes.<br />
As funções da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> são de competência de<br />
cada um dos níveis do sistema de saúde – municipal, estadual e federal -, porém<br />
com graus de especificidade variáveis. As ações executivas são inerentes<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 76<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
ao nível municipal, e seu exercício exige conhecimento analítico da situação<br />
de saúde local. Por sua vez, cabe aos níveis nacional e estadual conduzir<br />
ações de caráter estratégico, de coordenação em seu âmbito de ação e de<br />
longo alcance, além da atuação de forma complementar ou suplementar aos<br />
demais níveis.<br />
7.4 Coleta de dados e informações<br />
A qualidade da informação depende da adequada coleta de dados,<br />
gerados no local onde ocorre o evento. É também neste nível que os dados<br />
devem, primariamente, serem tratados e estruturados.<br />
Tratando-se de doenças transmissíveis, é fundamental o diagnóstico<br />
e a realização de investigações epidemiológicas.<br />
O fluxo, a periodicidade e os tipos de dados coletados devem corresponder<br />
às necessidades de utilização previamente estabelecidas, com<br />
base em indicadores adequados às características próprias de cada doença<br />
ou agravo sob vigilância. A prioridade de conhecimento do dado sempre será<br />
concedida à instância responsável pela execução das medidas de prevenção<br />
e controle. Quando for necessário o envolvimento de outro nível do sistema,<br />
o fluxo deverá ser suficientemente rápido para que não ocorra atraso na<br />
adoção de medidas de prevenção e controle.<br />
7.4.1 Tipos de dados<br />
Os dados e informações que alimentam o Sistema de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
são os dados a seguir.<br />
7.4.1.1 Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos<br />
Os dados demográficos permitem quantificar grupos populacionais,<br />
com vistas à definição de denominadores para o cálculo de taxas. O número<br />
de habitantes, de nascimentos e de óbitos deve ser discriminado segundo<br />
características de sua distribuição por sexo, idade, situação do domicílio,<br />
escolaridade, ocupação, condições de saneamento, entre outras.<br />
7.4.1.2 Dados de morbidade<br />
Correspondem à distribuição de casos segundo a condição de portadores<br />
de infecções ou de patologias específicas, como também de sequelas.<br />
Tratam-se, em geral, de dados oriundos da notificação de casos e surtos, da<br />
produção de serviços ambulatoriais e hospitalares, de investigações epidemiológicas,<br />
da busca ativa de casos, de estudos amostrais e de inquéritos,<br />
entre outras fontes.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 77<br />
Evento – manifestação<br />
de uma doença ou uma<br />
ocorrência que cria um<br />
potencial para causar<br />
doença.<br />
Dados sobre aspectos<br />
climáticos e ecológicos<br />
também podem ser<br />
necessários para<br />
a compreensão do<br />
fenômeno analisado.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Atrasos na<br />
disponibilidade desses<br />
dados dificultam a sua<br />
utilização na <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong>.<br />
A listagem das<br />
doenças de notificação<br />
nacional (notificação<br />
compulsória) é<br />
estabelecida pelo<br />
Ministério da Saúde,<br />
entre as consideradas<br />
de maior relevância<br />
sanitária para o país.<br />
A atual Portaria está<br />
disponível no site da<br />
saúde:<br />
(http://portal.saude.<br />
gov.br/portal/saude/<br />
Gestor/area.cfm?id_<br />
area=962).<br />
O Sistema Nacional de<br />
Agravos de Notificação<br />
(Sinan) é o principal<br />
instrumento de coleta<br />
dos dados de notificação<br />
compulsória.<br />
7.4.1.3 Dados de mortalidade<br />
Referem-se a casos fatais. Sua obtenção provém de declarações<br />
de óbitos padronizadas e processadas nacionalmente. Algumas dificuldades<br />
podem ser encontradas pela subenumeração elevada de óbitos e pela proporção<br />
significativa de registros sem causa definida.<br />
7.5 Notificação<br />
Mas o que é notificação?<br />
Notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença<br />
ou agravo à saúde feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou<br />
qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes.<br />
A notificação compulsória tem sido a principal fonte da <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong>, a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o<br />
processo informação-decisão-ação.<br />
A escolha dessas doenças obedece a alguns critérios, razão pela<br />
qual essa lista é periodicamente revisada, tanto em função da situação epidemiológica<br />
da doença como pela emergência de novos agentes, por alterações<br />
no Regulamento Sanitário Internacional e também devido a acordos<br />
multilaterais entre países.<br />
Os dados coletados sobre as doenças de notificação compulsória<br />
são incluídos no Sistema Nacional de Agravos Notificáveis (Sinan). Estados e<br />
municípios podem adicionar à lista outras patologias de interesse regional ou<br />
local, justificada a sua necessidade e definidos os mecanismos operacionais<br />
correspondentes.<br />
7.5.1 Aspectos que devem ser considerados na notificação<br />
• Notificar a simples suspeita da doença ou do evento. Não se<br />
deve aguardar a confirmação do caso para se efetuar a notificação,<br />
pois isso pode significar perda da oportunidade de intervir<br />
eficazmente.<br />
• A notificação tem de ser sigilosa, só podendo ser divulgada fora<br />
do âmbito médico-sanitário em caso de risco para a comunidade,<br />
respeitando-se o direito de anonimato dos cidadãos.<br />
• O envio dos instrumentos de coleta de notificação deve ser feito<br />
mesmo na ausência de casos, configurando-se o que se denomina<br />
notificação negativa, que funciona como um indicador de<br />
eficiência do sistema de informações.<br />
7.6 Investigação epidemiológica de casos<br />
Consiste em um estudo de campo realizado a partir de casos notificados<br />
(clinicamente declarados ou suspeitos) e seus contatos. Destina-se a<br />
avaliar as implicações da ocorrência para a saúde coletiva, tendo como obje-<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 78<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
tivos: confirmar o diagnóstico, determinar as características epidemiológicas<br />
da doença ou do evento, identificar as causas do fenômeno e orientar as medidas<br />
de prevenção e controle. É utilizada na ocorrência de casos isolados e<br />
também em emergências, surtos e epidemias, por tratar-se de uma atividade<br />
de fundamental importância para o processo de decisão-ação da <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong> que exige conhecimento e competência profissional.<br />
7.7 Imprensa e população<br />
Muitas vezes, informações oriundas da imprensa e da própria comunidade<br />
são fontes importantes de dados, devendo ser sempre consideradas<br />
para a realização da investigação pertinente. Podem ser o primeiro<br />
alerta sobre a ocorrência de uma epidemia ou de um agravo inusitado,<br />
principalmente quando a vigilância em determinada área é insuficientemente<br />
ativa.<br />
7.8 Estudos epidemiológicos<br />
Além das fontes regulares de coleta de dados e informações para<br />
analisar do ponto de vista epidemiológico a ocorrência de eventos, pode ser<br />
necessário, em determinado momento ou período, recorrer diretamente à<br />
população ou aos serviços de saúde para obter dados adicionais ou mais representativos.<br />
Esses dados podem ser coletados por inquérito, investigação<br />
ou levantamento epidemiológico.<br />
7.9 Diagnóstico de casos<br />
A credibilidade do sistema de notificação depende, em grande parte,<br />
da capacidade dos serviços locais de saúde – que são responsáveis pelo<br />
atendimento dos casos – diagnosticarem corretamente as doenças e os agravos.<br />
Para isto, os profissionais deverão estar tecnicamente capacitados e disporem<br />
de recursos complementares para a confirmação da suspeita clínica.<br />
Diagnóstico e tratamento feitos correta e oportunamente asseguram a confiança<br />
da população em relação aos serviços, contribuindo para a eficiência<br />
do sistema de vigilância.<br />
7.10 Normatização<br />
A definição de normas técnicas é imprescindível para a uniformização<br />
de procedimentos e para a comparação de dados e informações produzidos<br />
pelo sistema de vigilância. Essas normas devem primar pela clareza<br />
e constar de manuais, ordens de serviço, materiais instrucionais e outros,<br />
disponíveis nas unidades do sistema.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 79<br />
Inquérito<br />
epidemiológico<br />
Estudo seccional,<br />
geralmente realizado<br />
em amostras da<br />
população, levado<br />
a efeito quando as<br />
informações existentes<br />
são inadequadas ou<br />
insuficientes.<br />
Levantamento<br />
epidemiológico<br />
Estudo realizado<br />
com base nos dados<br />
existentes nos<br />
registros dos serviços<br />
de saúde ou de<br />
outras instituições.<br />
Não é um estudo<br />
amostral e destinase<br />
a coletar dados<br />
para complementar<br />
as informações já<br />
existentes. Recuperação<br />
de séries históricas para<br />
análises de tendências<br />
e a busca ativa de<br />
casos para aferir a<br />
eficiência do sistema de<br />
notificação.<br />
Caso<br />
Pessoa ou animal<br />
infectado ou doente,<br />
apresentando<br />
características clínicas,<br />
laboratoriais e/<br />
ou epidemiológicas<br />
específicas. Em<br />
geral, os casos são<br />
classificados como<br />
suspeitos, compatíveis<br />
ou confirmados.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
7.11 Retroalimentação do sistema<br />
Um dos pilares do funcionamento do sistema de vigilância, em qualquer<br />
de seus níveis, é o compromisso de responder aos informantes de forma<br />
adequada e oportuna. Fundamentalmente, essa resposta – ou retroalimentação<br />
– consiste no retorno regular de informações às fontes produtoras,<br />
demonstrando a sua contribuição no processo. O conteúdo da informação<br />
fornecida deve corresponder às expectativas criadas nas fontes, podendo<br />
variar desde a simples consolidação dos dados até a análises epidemiológicas<br />
complexas relacionadas com ações de controle.<br />
7.12 Investigação de casos de uma doença<br />
Os pacientes que apresentam quadro clínico compatível com doença<br />
incluída na lista de notificação compulsória ou com algum agravo inusitado<br />
necessitam de atenção especial, tanto da rede de assistência à saúde quanto<br />
dos serviços de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>, os quais devem ser prontamente<br />
disponibilizados. Salientam-se, aqui, quatro procedimentos.<br />
1. Assistência médica ao paciente – é a primeira providência a ser<br />
tomada no sentido de minimizar as consequências do agravo<br />
para o indivíduo. Quando a doença for de transmissão pessoa a<br />
pessoa, o tratamento contribui para reduzir o risco de transmissão.<br />
Portanto, dependendo da magnitude do evento, a equipe<br />
de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> deve buscar articulação com os responsáveis<br />
pela rede de assistência à saúde para que seja organizado<br />
o atendimento à população.<br />
2. Qualidade da assistência – verificar se os casos estão sendo atendidos<br />
em unidade de saúde com capacidade para prestar assistência<br />
adequada e oportuna, de acordo com as características<br />
clínicas da doença.<br />
3. Proteção individual – quando necessário, adotar medidas de isolamento<br />
(entérico, respiratório, reverso etc.), considerando a<br />
forma de transmissão da doença.<br />
4. Proteção da população – logo após a suspeita ser diagnosticada,<br />
adotar as medidas de controle coletivas específicas para cada<br />
tipo de doença.<br />
Os fundamentos de uma investigação de campo são aplicados tanto<br />
para o esclarecimento de ocorrência de casos como para o de epidemias.<br />
Várias etapas são comuns a ambas as situações, sendo que, para a segunda,<br />
alguns procedimentos complementares são necessários. Para facilitar o trabalho<br />
dos profissionais, apresenta-se, em primeiro lugar, o roteiro de investigação<br />
de casos, identificando as atividades comuns a qualquer investigação<br />
epidemiológica de campo, inclusive de epidemias. Posteriormente, são descritas<br />
as etapas específicas para esta última situação.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 80<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
7.13 Roteiro da investigação de casos<br />
Neste item, encontram-se descritas, de forma sucinta, as várias<br />
etapas de uma investigação epidemiológica. Embora apresentadas em sequência,<br />
algumas delas são desenvolvidas paralela e simultaneamente, visto<br />
tratar-se de um processo dinâmico.<br />
Etapa 1 – Coleta de dados sobre os casos<br />
Os formulários padronizados (ficha de investigação epidemiológica),<br />
da maioria das doenças incluídas no sistema de vigilância epidemiológica,<br />
encontram-se disponíveis no Sinan.<br />
O preenchimento dessa ficha deve ser muito cuidadoso, registrando-se,<br />
com o máximo de exatidão possível, as informações de todos<br />
os seus campos. O investigador poderá acrescentar novos itens que<br />
considere relevantes. O espaço reservado para “observações” deve ser<br />
utilizado para anotar informações adicionais que possam ajudar no esclarecimento<br />
do evento.<br />
Dados que são obtidos mediante a entrevista com o paciente, os<br />
familiares, os médicos e outros informantes:<br />
• identificação do paciente – nome, idade, sexo, estado civil, profissão,<br />
local de trabalho e de residência, com ponto de referência;<br />
• anamnese e exame físico – data de início dos primeiros sintomas,<br />
história da moléstia atual, antecedentes mórbidos, antecedentes<br />
vacinais, mudanças de hábitos nos dias que antecederam aos<br />
sintomas e dados de exame físico;<br />
• suspeita diagnóstica – na pendência de dados complementares<br />
para firmar o diagnóstico, devem ser formuladas as principais<br />
suspeitas e, assim, possibilitar a definição de medidas de controle<br />
preliminares e a solicitação de exames laboratoriais;<br />
• meio ambiente – depende do tipo de doença investigada. Por<br />
exemplo, se a suspeita é de doença de veiculação hídrica, são<br />
essenciais as informações sobre o sistema de abastecimento e o<br />
tratamento de água, o destino de resíduos líquidos, dos sólidos<br />
e do lixo, os alagamentos, as chuvas; em outros casos, podem<br />
estar envolvidos insetos vetores, inseticidas, pesticidas etc.;<br />
• exames laboratoriais – esses exames devem ser solicitados com<br />
vistas ao esclarecimento do diagnóstico do paciente e das fontes<br />
de contaminação, do veículo de transmissão e da pesquisa de<br />
vetores, conforme cada situação.<br />
Etapa 2 – Busca de pistas<br />
Esta é uma etapa essencial da investigação epidemiológica, pois<br />
visa buscar subsídios que permitirão responder a várias questões formuladas.<br />
Cabe ao investigador, considerando os dados já coletados nas etapas anteriores,<br />
estabelecer que outras informações são importantes para o esclarecimento<br />
do evento, sendo relevante para esse raciocínio identificar:<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 81<br />
Quando se tratar de<br />
evento inusitado, uma<br />
ficha de investigação<br />
especial deverá<br />
ser elaborada,<br />
considerando-se as<br />
características clínicas<br />
e epidemiológicas da<br />
doença ou do agravo<br />
suspeito.<br />
É importante salientar<br />
que, embora os<br />
exames laboratoriais<br />
representem uma<br />
importante contribuição<br />
para a conclusão<br />
diagnóstica, em muitas<br />
ocasiões, não se faz<br />
necessário aguardar os<br />
seus resultados para<br />
dar início às medidas de<br />
controle. Ex.: Dengue.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Oligossintomáticos:<br />
aqueles que apresentam<br />
poucos ou nenhum sinal<br />
ou sintomas.<br />
• fontes de infecção (a exemplo de água, alimentos, ambiente insalubre<br />
etc.);<br />
• período de incubação do agente;<br />
• modos de transmissão (respiratória, sexual, vetorial etc.);<br />
• faixa etária, sexo, raça e grupos sociais mais acometidos (características<br />
biológicas e sociais);<br />
• presença de outros casos na localidade (abrangência da transmissão);<br />
• possibilidade da existência de vetores ligados à transmissão da<br />
doença;<br />
• fatores de risco:<br />
– época em que ocorreu (estação do ano);<br />
– ocupação do indivíduo;<br />
– situação de saneamento na área de ocorrência dos casos (fonte<br />
de suprimento de água, destino dos dejetos e do lixo etc.);<br />
– outros aspectos relevantes das condições de vida na área<br />
de procedência dos casos (hábitos alimentares, aspectos<br />
socioeconômicos etc.);<br />
– potenciais riscos ambientais (físicos, químicos, biológicos etc.).<br />
As equipes de outras áreas devem ser acionadas para a troca de<br />
informações e para a complementação de dados a serem utilizados nas análises<br />
(parciais e finais), no sentido de permitir uma caracterização mais abrangente<br />
do evento e orientar os passos seguintes da investigação. Ou seja, a<br />
avaliação dessas e de outras variáveis, em seu conjunto, fornecerá as pistas<br />
que contribuirão para a identificação do problema e para a tomada de medidas<br />
mais específicas, orientadas para o seu controle.<br />
Etapa 3 – Busca ativa de casos<br />
O propósito desta etapa é identificar casos adicionais (secundários<br />
ou não) ainda não notificados, ou aqueles oligossintomáticos, que não buscaram<br />
atenção médica. Tem como finalidade:<br />
• tratar adequadamente esses casos;<br />
• determinar a magnitude e a extensão do evento;<br />
• ampliar o espectro das medidas de controle.<br />
Para isso, deve-se identificar e proceder a investigação de casos<br />
similares no espaço geográfico onde houver suspeita da existência de contatos<br />
e/ou fonte de contágio ativa. Essa busca de casos pode ser restrita a um<br />
domicílio, a uma rua ou a um bairro, e/ou ser realizada em todas as unidades<br />
de saúde (centros, postos de saúde, consultórios, clínicas privadas, hospitais,<br />
laboratórios etc.). Ou, ainda, ultrapassar barreiras geográficas de municípios<br />
ou estados, conforme as correntes migratórias ou as características dos veículos<br />
de transmissão.<br />
Etapa 4 – Processamento e análises parciais dos dados<br />
Na medida em que se for dispondo de novos dados e novas informações,<br />
deve-se sempre proceder a análises parciais, a fim de se definir o passo<br />
seguinte, até a conclusão da investigação, em que as medidas de controle<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 82<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
tenham se mostrado efetivas. A consolidação, a análise e a interpretação dos<br />
dados disponíveis devem considerar as características de pessoa, tempo, lugar<br />
e os aspectos clínicos e epidemiológicos para a formulação de hipóteses quanto<br />
ao diagnóstico clínico, à fonte de transmissão, aos potenciais riscos ambientais e<br />
à efetividade das medidas de controle adotadas até aquele momento.<br />
Quando a investigação não se referir a casos isolados, os dados<br />
colhidos deverão ser consolidados em tabelas, gráficos, mapas da área em<br />
estudo, fluxos de pacientes, entre outros. Essa disposição fornecerá uma<br />
visão global do evento, permitindo a avaliação de acordo com as variáveis<br />
de tempo, espaço e pessoas (quando? onde? quem?), possível relação causal<br />
(por quê?), e deverá ser comparada com a informação referente aos períodos<br />
semelhantes de anos anteriores.<br />
Uma vez processados, os dados deverão ser analisados criteriosamente.<br />
Quanto mais oportuna e adequada for a análise, maior será a efetividade<br />
dessa atividade, pois orientará com mais precisão o processo de decisão-ação.<br />
Etapa 5 – Encerramento de casos<br />
Nesta etapa da investigação epidemiológica, as fichas epidemiológicas<br />
de cada caso devem ser analisadas, visando definir qual critério (clínico-<br />
-epidemiológico-laboratorial; clínico-laboratorial; clínico-epidemiológico) foi ou<br />
será empregado para o diagnóstico final, considerando as definições de caso<br />
específicas para cada doença, contidas no Guia de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
Etapa 6 – Relatório final<br />
Os dados da investigação deverão ser sumarizados em um relatório<br />
que inclua a descrição do evento (todas as etapas da investigação),<br />
destacando-se:<br />
• causa da ocorrência, indicando, inclusive, se houve falha da <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong> e/ou dos serviços de saúde e quais providências<br />
foram adotadas para a sua correção;<br />
• se as medidas de prevenção implementadas em curto prazo estão<br />
sendo executadas;<br />
• descrição das orientações e recomendações, a médio e longo<br />
prazo, a serem instituídas, tanto pela área de saúde quanto de<br />
outros setores.<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu:<br />
• que, em 1975, o Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional<br />
de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> – SNVE -;<br />
• que, com as profundas mudanças no perfil epidemiológico das<br />
populações, houve o declínio das taxas de mortalidade por doenças<br />
infecciosas e parasitárias e o crescente aumento das mortes<br />
por causas externas e doenças crônicas degenerativas no<br />
escopo da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>;<br />
• que o propósito da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> é fornecer orientação<br />
técnica para os profissionais de saúde, subsidiando-os no<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 83<br />
Em situações de eventos<br />
inusitados, após a<br />
coleta dos dados dos<br />
primeiros casos, deve-se<br />
padronizar o conjunto<br />
de manifestações<br />
clínicas e as evidências<br />
epidemiológicas,<br />
definindo-se o que<br />
será considerado como<br />
“caso”.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
planejamento e na execução de ações de controle de doenças<br />
e agravos, bem como dos fatores que a condicionam e área geográfica;<br />
• que as funções da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> compreendem:<br />
coleta, processamento, análise e interpretação dos dados, recomendação<br />
das medidas de promoção, prevenção e controle,<br />
avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas, bem<br />
como a divulgação de informações pertinentes;<br />
• que, na notificação, devem-se considerar os seguintes aspectos:<br />
notificar a simples suspeita da doença ou do evento, o sigilo e o<br />
envio da informação, que deve ser feito mesmo na ausência de<br />
casos (notificação negativa);<br />
• que, para fazer uma investigação de caso, deve-se seguir um<br />
roteiro com seis fases distintas: coleta de dados sobre os casos,<br />
busca de pistas, busca ativa de caso, processamento e análises<br />
parciais dos dados, encerramento de casos e relatório final.<br />
Atividades de aprendizagem<br />
1. O que significa a expressão <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>?<br />
2. Em que ano foi instituido o SNVE?<br />
3. O que levou a inclusão das doenças crônicas degenerativas e das causas<br />
externas no escopo da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>?<br />
4. Diante do exposto, qual o propósito da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>?<br />
5. Cite as funções da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
6. Diante de uma notificação, quais os aspectos que devem ser observados?<br />
7. Descreva a etapa três do roteiro de investigação.<br />
8. O que deve constar no relatório final de uma investigação epidemiológica?<br />
9. Faça uma visita ao setor de epidemiologia da sua cidade e converse com<br />
os profissionais que trabalham na <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>, levantando<br />
questões que ficaram pendentes nesta aula.<br />
10. Adquira uma ficha de investigação epidemiológica e procure preencher<br />
todos os campos (simule uma investigação de um caso fictício).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 84<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Aula 8 – Cólera<br />
Objetivos<br />
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de:<br />
• identificar o agente causador, bem como os sinais e os sintomas<br />
da cólera;<br />
• descrever a forma de transmissão do vibrião colérico;<br />
• citar as formas de tratamento e de controle da doença;<br />
• propor ações preventivas e promocionais à saúde.<br />
8.1 Descrição<br />
Doença infecciosa intestinal aguda causada pelo enterotoxina do<br />
Vibrio cholerae.<br />
8.2 Agente etiológico<br />
Bacilo gram-negativo - V. cholerae do sorogrupo O1, biótipo clássico,<br />
ou El Tor, sorotipos Inaba e o V. cholerae O139, também conhecido como<br />
Bengal.<br />
Figura 38: Agente etiológico da cólera - V. cholerae do sorogrupo O1.<br />
Fonte: Disponível em . Acesso em 10 de maio de 2011.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
85<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Acreditava-se<br />
que, entre todos<br />
os sorogrupos<br />
conhecidos, apenas<br />
o O1 era patogênico.<br />
Em março de 1993,<br />
contudo, o V. cholerae<br />
O139 foi identificado<br />
como responsável<br />
por uma epidemia no<br />
sul da Ásia. Outros<br />
sorogrupos não O1 do<br />
V. cholerae já foram<br />
identificados em todo<br />
o mundo e podem<br />
ocasionar patologias<br />
extraintestinais<br />
ou diarreias com<br />
desidratação severa,<br />
semelhante à cólera.<br />
No entanto, estão<br />
associados a casos<br />
isolados ou surtos<br />
limitados.<br />
A resistência do biotipo<br />
El Tor é maior, o que<br />
lhe dá condições<br />
de sobreviver por<br />
mais tempo no meio<br />
ambiente. Multiplica-se<br />
melhor e mais rápido<br />
em meios de cultura,<br />
além de apresentar<br />
menor suscetibilidade<br />
aos agentes químicos<br />
e maior tendência<br />
à endemização, ou<br />
seja, tornar a doença<br />
endêmica (BRASIL,<br />
2009.p.312).<br />
Assintomático:<br />
no caso cólera, são<br />
aquelas pessoas que,<br />
apesar de serem<br />
portadoras do vibrião,<br />
não manifestam<br />
os sintomas da<br />
doença, porém são<br />
responsáveis pela<br />
contaminação de<br />
objetos, de ambientes<br />
e de outras pessoas.<br />
8.3 Reservatório<br />
O homem é o reservatório usual de V. cholerae, toxigênico dos sorogrupos<br />
O1 e O139. Contudo, vários estudos têm demonstrado que o V.<br />
cholerae O1 pode ser isolado de ambientes aquáticos. Estudos indicam que<br />
animais marinhos, como moluscos e crustáceos, podem ser reservatórios naturais<br />
do V. cholerae.<br />
8.4 Modo de transmissão<br />
Ocorre principalmente pela ingestão de água ou de alimentos contaminados<br />
por fezes ou vômitos de doente ou portador. Os alimentos e utensílios<br />
podem ser contaminados pela água, pelo manuseio ou por insetos -<br />
moscas. A contaminação pessoa a pessoa é também importante na cadeia<br />
epidemiológica.<br />
Há elevada ocorrência de assintomáticos.<br />
8.5 Período de incubação<br />
De algumas horas a 5 dias. Na maioria dos casos, de 2 a 3 dias.<br />
8.6 Período de transmissibilidade<br />
Perdura enquanto houver eliminação do vibrião nas fezes, o que<br />
ocorre, na maioria dos casos, até poucos dias após a cura. Para fins de vigilância,<br />
o período aceito como padrão é de 20 dias.<br />
Alguns doentes tornam-se portadores crônicos, eliminando o vibrião<br />
de forma intermitente por meses e até anos.<br />
8.7 Suscetibilidade e imunidade<br />
A suscetibilidade é variável e aumenta na presença de fatores que<br />
diminuem a acidez gástrica. A infecção produz elevação de anticorpos e<br />
confere imunidade por tempo limitado, em torno de 6 meses. Repetidas<br />
infecções tendem aumentar a resposta imunológica, o que leva à imunidade<br />
de longa duração. Esse mecanismo pode explicar a resistência demonstrada<br />
pelos adultos em áreas endêmicas.<br />
8.8 Aspectos clínicos e laboratoriais - manifestações<br />
clínicas<br />
A cólera manifesta-se de forma variada, desde infecções inaparentes<br />
até diarreia aquosa profusa e grave. Além da diarreia, podem surgir vômitos,<br />
dor abdominal e, nas formas severas, câimbras, desidratação e choque.<br />
Febre não é uma manifestação comum.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 86<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Nem sempre a cólera aparece de forma súbita, com diarreia aquosa,<br />
apenas em 10% dos casos.<br />
A diarreia e os vômitos determinam uma extraordinária perda de<br />
líquidos, o que leva à desidratação; não corrigida, levará a uma deterioração<br />
progressiva da circulação, da função renal e do balanço hidroeletrolítico,<br />
produzindo dano a todos os sistemas do organismo.<br />
Figura 39: Mãe haitiana cuida do filho em estado de choque causado pela cólera.<br />
Fonte: Disponível em
Via oral – boca.<br />
Parenteral – venosa/<br />
veia. Antibioticoterapia<br />
– tratamento com<br />
antibiótico.<br />
A observação dos<br />
sinais e dos sintomas é<br />
fundamental para que<br />
se possa classificar o<br />
paciente quanto ao seu<br />
estado de hidratação<br />
no decorrer da diarreia<br />
de qualquer etiologia,<br />
inclusive a causada pela<br />
cólera, com a finalidade<br />
de identificar o grau de<br />
desidratação e decidir<br />
o plano de reposição.<br />
O paciente que inicia<br />
o seu tratamento com<br />
reposição venosa,<br />
devido à gravidade<br />
da desidratação,<br />
ao passar para<br />
hidratação oral, deve<br />
ficar sob a constante<br />
avaliação clínica,<br />
considerando, inclusive,<br />
a possibilidade de seu<br />
retorno à reidratação<br />
endovenosa.<br />
Maiores informações,<br />
consultar o Guia<br />
de <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong>, página<br />
514. Caderno 05.<br />
• Formas leves e moderadas – hidratação oral, com soro de reidratação<br />
oral -SRO.<br />
• Formas graves – hidratação venosa + antibioticoterapia, como<br />
está ilustrada na figura a seguir.<br />
Figura 40: Acampamento no Haiti durante uma epidemia de cólera que matou mais<br />
de 2000 pessoas.<br />
Fonte: Disponível em . Acesso em<br />
10 de maio de 2011.<br />
Um pouco de história!<br />
A cólera, apesar de todo o conhecimento acumulado, continua impondo<br />
desafios, não apenas em função das características de seu agente,<br />
mas, principalmente, pela vulnerabilidade de grande parcela da população<br />
mundial que vive em condições precárias de saneamento. A chegada desta<br />
doença, em áreas indenes e de baixo nível das condições de vida, sempre<br />
teve índices alarmantes.<br />
Até 1991, o Brasil era uma área indene para cólera. A introdução<br />
da doença aconteceu pela selva amazônica, no Alto Solimões. A partir daí,<br />
alastrou-se progressivamente pela região Norte, seguindo o curso do rio Solimões/Amazonas<br />
e seus afluentes, principal via de deslocamento de pessoas<br />
na região. Posteriormente, atingiu as regiões Nordeste e Sudeste, através<br />
dos principais eixos rodoviários. A partir daí, passou-se a observar alternância<br />
de períodos de silêncio epidemiológico e de recrudescimento da epidemia.<br />
Atualmente, o comportamento da cólera sugere um padrão endêmico,<br />
definido pela ocorrência regular de casos e por flutuações cíclicas de<br />
maior ou de menor gravidade, na dependência de condições locais que favoreçam<br />
a circulação do V. cholerae.<br />
Segundo os registros do Ministério da Saúde (Brasil, 2009), a ocorrência<br />
de casos é maior nos períodos mais secos do ano, quando a baixa do<br />
volume de água nos reservatórios e mananciais proporciona a concentração<br />
de vibriões.<br />
A deficiência do abastecimento de água tratada, o destino inadequado<br />
dos dejetos, a alta densidade populacional, a carência de habitação,<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 88<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
a higiene inadequada, a alimentação precária e a educação insuficiente favorecem<br />
a ocorrência da doença.<br />
Os indicadores de morbidade, de mortalidade e de letalidade são<br />
diferenciados de acordo com as condições socioeconômicas, com a densidade<br />
populacional, com os meios de transporte, com o acesso aos serviços de<br />
saúde e com outras situações de risco.<br />
No período de 1991 a 1999, a cólera atingiu todas as regiões do<br />
país, produzindo um total de 167.885 casos e 2.015 óbitos, com registro de<br />
grandes epidemias na região Nordeste. Entre os anos de 2000 e 2008, ocorreu<br />
uma redução significativa no número de casos e de óbitos por cólera no<br />
Brasil, sendo registrados, nesse período, 766 casos e 20 óbitos. Todos os casos<br />
foram registrados na região Nordeste, e o estado de Pernambuco liderou<br />
o número de registros - 511 casos e 12 óbitos.<br />
A taxa de letalidade, em casos graves de cólera sem tratamento<br />
adequado, pode atingir 50%, porém, quando este é instituído correta e precocemente<br />
a taxa pode cair para menos de 2% (BRASIL, 2009).<br />
8.12 <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> e ambiental<br />
A <strong>Vigilância</strong> desenvolve as suas ações no sentido de reduzir a incidência<br />
e a letalidade, de impedir ou de dificultar a propagação da doença e<br />
de controlar os surtos.<br />
É de fundamental importância que as equipes de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
locais implantem ou implementem a Monitorização das Doenças<br />
Diarreicas Agudas - MDDA - em sua área de abrangência, acompanhando o<br />
seu comportamento no tempo e a sua distribuição por faixa etária. Uma<br />
elevação do número de casos de diarreia, em determinado local e período e<br />
na faixa etária de maiores de 15 anos, é sugestiva de surto de cólera. A participação<br />
do laboratório é necessária para a confirmação dos primeiros casos.<br />
A monitorização ambiental de pontos estratégicos é outra medida<br />
que deve ser imediatamente adotada, com vistas à detecção precoce da<br />
circulação do V. cholerae. Consiste na coleta periódica do material de meio<br />
ambiente para a realização do diagnóstico laboratorial, atividade esta que<br />
deverá ser coordenada pela <strong>Vigilância</strong> Ambiental.<br />
8.13 Saneamento Ambiental<br />
O Saneamento Ambiental deverá ofertar água de boa qualidade –<br />
ÁGUA POTÁVEL - e em quantidade suficiente. Em locais sem sistema de abastecimento,<br />
a <strong>Vigilância</strong> deverá fornecer e orientar o tratamento domiciliar<br />
com hipoclorito de sódio. Outro método recomendado é a fervura da água,<br />
mas pouco acessível, na prática, às condições da maior parte da população.<br />
O acondicionamento da água já tratada deve ser feito em recipientes<br />
higienizados, preferencialmente, de boca estreita, para evitar a contaminação<br />
posterior pela introdução de copos/canecos, conchas e outros para<br />
a retirada da água. É recomendado usar o filtro ou colocar torneira em pote,<br />
moringa e botija.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 89<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 41: Demonstra a falta de saneamento básico, situação que favorece a<br />
proliferação do Vibrio cholerae.<br />
Fonte: Disponível em . Acessado em 10 de maio de 2011.<br />
O tratamento dos dejetos e a disposição adequada do lixo são alternativas<br />
viáveis para reduzir a contaminação ambiental.<br />
8.14 Educação em saúde<br />
O maior enfoque deverá ser dado à ação participativa, observando<br />
e respeitando a diversidade sociocultural, uma vez que os casos da doença<br />
podem ocorrer de processos ou de em situações variadas.<br />
A parceria da comunidade com a equipe de saúde e outros é de<br />
vital importância no controle das doenças e de seus agravos, bem como na<br />
busca de soluções sustentáveis de saneamento, educação e saúde ambiental.<br />
Figura 42: Comunidade quilombola de Buriti do Meio, São Francisco/MG, depois<br />
da implantação do sistema de abastecimento de água, as melhorias sanitárias e as<br />
ações de educação em saúde voltadas para as práticas de higiene reduziram em<br />
mais de 90 % os casos de doenças diarreicas agudas.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 90<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu que:<br />
• cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda causada pelo<br />
agente etiológico “Vibrio cholerae”;<br />
• a transmissão do vibrião colérico é feita através da água e de<br />
alimentos contaminados por fezes e vômitos dos portadores do<br />
bacilo;<br />
• os sintomas da cólera são diarreia aquosa, vômitos, dor abdominal,<br />
câimbras, desidratação e choque;<br />
• a informação, a higienização dos alimentos, a ingestão de água<br />
potável, a destinação correta dos dejetos e dos resíduos sólidos<br />
– lixo - são as melhores formas de se prevenir contra a doença.<br />
Atividades de aprendizagem<br />
1. O que é cólera?<br />
2. Qual o agente ou os agentes causadores?<br />
3. Descreva a forma de transmissão da doença.<br />
4. Relacione os sintomas da doença.<br />
5. Como deve ser o tratamento e por quê?<br />
6. Cite três objetivos da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
7. Cite ações que impedem a disseminação do vibrião.<br />
8. O Brasil, até 1991, era uma área indene para a cólera, e, hoje, não pode<br />
falar o mesmo, por quê?<br />
9. O que você observa em sua localidade que pode contribuir para o surgimento<br />
da cólera?<br />
10. Dentro do contexto, cite algumas ações de educação que devem ser desenvolvidas<br />
na prevenção e ou promoção da saúde.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 91<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Aula 9 - Doença de Chagas<br />
Objetivos<br />
• Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você<br />
seja capaz de:<br />
• conceituar a doença de Chagas;<br />
• descrever o ciclo evolutivo da doença;<br />
• definir os vetores;<br />
• citar os aspectos clínicos e epidemiológicos da doença, bem<br />
como as medidas de prevenção e de controle preconizadas pela<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
9.1 Introdução<br />
Você já ouviu falar em doença de Chagas? Com certeza sim, e já<br />
tem bastante informação a respeito desta doença, porém, vamos aprofundar<br />
os nossos conhecimentos em relação a esta endemia que tem incapacitado<br />
muita gente para o trabalho, sem falar nos milhares que morrem todos os<br />
anos acometidos por este mal. Vamos conhecer os conceitos, a etiologia,<br />
a transmissão, o vetor, os aspectos clínicos e epidemiológicos, a <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong> e as medidas de controle.<br />
9.2 Descrição<br />
Podemos definir doença de Chagas - DC - como uma doença infecciosa<br />
causada pelo protozoário flagelado Trypanosoma cruzi; de curso clínico<br />
crônico, caracteriza-se por fase inicial aguda, com sinais ou sintomas quase<br />
sempre inespecíficos, quando presentes, e que pode evoluir para a fase crônica,<br />
com o comprometimento cardíaco – cardiopatia chagásica, ou digestiva<br />
– megaesôfago e megacólon (BRASIL, 2002).<br />
No Brasil, atualmente, predominam os casos crônicos decorrentes<br />
de infecção por via vetorial, com aproximadamente três milhões de indivíduos<br />
infectados. No entanto, nos últimos anos, a ocorrência da doença de Chagas<br />
aguda - DCA - tem sido observada em diferentes estados, em especial,<br />
na região da Amazônia Legal.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
93<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Você sabia que esta doença<br />
tem este nome em homenagem<br />
ao seu descobridor Carlos<br />
Justiniano Ribeiro Chagas?<br />
Foi chefe da comissão de<br />
estudos sobre a profilaxia<br />
da malária em Minas Gerais<br />
(1907). Em 1909, concluiu<br />
as pesquisas destinadas a<br />
debelar a tripanossomíase,<br />
posteriormente conhecida<br />
como doença de Chagas.<br />
Identificou o agente causador<br />
dessa doença, ao qual deu o<br />
nome de Trypanosoma cruzi,<br />
em homenagem a Osvaldo Cruz.<br />
Seu trabalho abrange todos os<br />
aspectos da doença: anatomia<br />
patológica, epidemiologia,<br />
etiologia, formas clínicas, meios<br />
de transmissão, patogenia,<br />
profilaxia e sintomatologia.<br />
Um ano depois de sua<br />
descoberta, recebeu o<br />
reconhecimento dos meios<br />
científicos internacionais.<br />
Criou-se, para ele, uma vaga<br />
especial na Academia Nacional<br />
de Medicina (1910). Os dois<br />
anos seguintes, passou-os<br />
Carlos Chagas em viagem pelo<br />
vale amazônico, levantando<br />
carta epidemiológica da<br />
região. Em 1912, um júri<br />
internacional conferiu-lhe o<br />
prêmio Schaudinn, concedido<br />
ao melhor estudo sobre<br />
protozoologia e microbiologia.<br />
http://www.brasilescola.<br />
com/biografia/carlosribeiro-justiniano-da-chagas.<br />
htm. Acessado em 18<br />
de abril de 2011. http://<br />
www.diariodojequi.com.<br />
br/files.php?file=carlos_<br />
chagas_295792605.j<br />
9.3 Etiologia<br />
Como vimos na descrição, a doença de Chagas é causada pelo protozoário<br />
Trypanosoma cruzi, caracterizado pela presença de um flagelo. No<br />
sangue dos vertebrados, o T. cruzi apresenta-se sob a forma de tripomastigota,<br />
que é extremamente móvel, e, nos tecidos, em forma arredonda,<br />
amastigotas. No tubo digestivo dos insetos vetores, ocorre um ciclo com<br />
a transformação dos tripomastigostas sanguíneos em epimastigotas, dando<br />
origem às formas infectantes presentes nas fezes do inseto, trypomastigostas<br />
metacíclicos.<br />
Figura 43: O Trypanosoma cruzi apresenta-se sob a forma de tripomastigota,<br />
no sangue dos vertebrados; à esquerda e à direita, amastigota encontrado nos<br />
tecidos.<br />
Fonte: Retirado da figura “Ciclo de transmissão”, Dsponível em . Acesso em 17 de abril de 2011.<br />
Figura 44: Ciclo de vida do Trypanossoma cruzi no homem e no inseto<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 14 de abril de 2011.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 94<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
9.4 Transmissão<br />
A doença pode ser transmitida de uma pessoa para outra, de um<br />
animal para outro ou dos animais para as pessoas. Veja, a seguir, como acontece<br />
essa transmissão.<br />
9.4.1 Formas de transmissão<br />
As formas conhecidas de transmissão da doença de Chagas para<br />
o homem são: a vetorial, a transfusional, a transplacentária – congênita -,<br />
de mãe para o filho e, mais recentemente, a transmissão pela via oral, pela<br />
ingestão de alimentos contaminados pelo T. cruzi, como foi o caso anunciado<br />
nos jornais de todo país do suco de açaí, no Pará, e no caldo de cana, no<br />
litoral Norte de Santa Catarina. Podem acontecer transmissões de outras<br />
formas, menos comuns, que envolvem acidente de laboratório, manejo de<br />
animais infectados, transplante de órgãos sólidos e leite materno.<br />
a. Transmissão vetorial<br />
Figura 45: Ciclo de transmissão vetorial, silvestre e doméstico da doença de<br />
Chagas.<br />
Fonte: Joaquim Francisco de Lima, retirado do livro “Texto de Apoio Doença de Chagas” (MS,<br />
1989. P.13).<br />
A doença de Chagas, primitivamente uma enzootia - doença que<br />
circulava entre os animais silvestres -, passou a representar um grave problema<br />
de saúde pública com a domiciliação e colonização de vetores, pro-<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 95<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Para haver a<br />
transmissão do T.<br />
cruzi para o homem<br />
por meio de um<br />
vetor – o triatomíneo<br />
(BARBEIRO) -, é<br />
necessário que o<br />
Triatomíneo esteja<br />
contaminado/<br />
infectado, ou seja, que<br />
já tenha adquirido o<br />
T. Cruzi alimentado de<br />
sangue contaminado;<br />
que elimine as fezes<br />
próximas do local da<br />
picada; que a pessoa<br />
coce e que ela seja<br />
susceptível. Por isso,<br />
nem todos que tiveram<br />
contato ou que já<br />
foram picados por<br />
barbeiros pegaram<br />
ou desenvolveram a<br />
doença de Chagas.<br />
Pode ser que centenas<br />
de barbeiros tenham<br />
picado uma pessoa,<br />
porém todos eles<br />
estejam sadios, sem a<br />
presença do T. Cruzi<br />
no seu intestino.<br />
vocadas pelo desequilíbrio ambiental, devido à ocupação do homem ao seu<br />
habitat natural.<br />
Portanto, quando a transmissão só acontecia entre os animais da<br />
floresta, tínhamos um ciclo silvestre; depois da colonização dos barbeiros,<br />
alimentando-se do sangue humano e do de animais que vivem próximos ou<br />
dentro de casa, deu-se o ciclo doméstico.<br />
Mas como o barbeiro transmite essa doença para as pessoas?<br />
Figura 46: Ciclo de transmissão vetorial da doença de Chagas e ciclo biológico do T.<br />
Cruzi.<br />
Fonte: Disponível em: ; www.saude.gov/svs.<br />
Acesso em 14 de abril de 2011.<br />
Veja bem, quando os triatomíneos, também conhecidos como “barbeiros”<br />
ou “chupões”, sugam o sangue, têm o hábito de eliminar as excretas<br />
(fezes) próximas à picada. Sentindo coceira neste local, a tendência é de a<br />
pessoa, mesmo inconscientemente, sem querer, se coçar; nesta ação, ela<br />
leva as fezes com T. cruzi para o local da picada, para arranhaduras provocadas<br />
pelas unhas ou para a mucosa do nariz e dos olhos. Nestes locais, é que<br />
o parasita (formas infectantes de tripomastigotas metacíclicos) vai penetrar<br />
no corpo.<br />
b) Transmissão transfusional<br />
Será que as pessoas pegam a doença de Chagas recebendo sangue?<br />
A transmissão transfusional da doença de Chagas é a segunda via<br />
mais importante de propagação da doença nos centros urbanos, sendo considerada<br />
a principal forma de transmissão em países não endêmicos, como<br />
o Canadá, a Espanha, os EUA e outros, e em países latino-americanos que<br />
estejam em processo de erradicação do vetor (BRASIL, 2002).<br />
O Brasil, que, nos anos 1980, apresentava prevalência média de<br />
7,03% em candidatos à doação de sangue, teve esse coeficiente diminuído<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 96<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
para 3,18%, na década de 90, atualmente, para 0,6% na hemorrede pública, e<br />
de 0,7%, na rede privada. Esses índices refletem a efetividade dos programas<br />
de combate ao vetor e maior controle do sangue e hemoderivados, por meio<br />
de uma rigorosa triagem clínica e da doação voluntária de sangue. Também<br />
a atuação mais efetiva da <strong>Vigilância</strong> Sanitária sobre os serviços de hemoterapia<br />
públicos e privados tem contribuído para o aumento da segurança transfusional<br />
e, consequentemente, para a eliminação da transmissão sanguínea<br />
dessa doença. Além da transmissão por meio da transfusão de sangue, existe<br />
a transmissão vertical.<br />
c) Transmissão vertical<br />
A principal via da transmissão vertical é a transplacentária, e pode<br />
ocorrer em qualquer fase da doença materna: aguda, indeterminada ou crônica.<br />
A transmissão também pode se dar em qualquer época da gestação<br />
ou ocorrer no momento do parto, pelo contato das mucosas do feto com o<br />
sangue da mãe infectada.<br />
A transmissão congênita deve ser considerada em crianças nascidas<br />
de mãe com sorologia positiva para T. cruzi.<br />
d) Transmissão por via oral<br />
A transmissão do T. cruzi por via oral é comum entre animais mamíferos,<br />
por meio da ingestão de vetores e reservatórios infectados. É esporádica<br />
e circunstancial em humanos, porém ocorre quando alimentos são<br />
contaminados com o parasito, principalmente a partir de triatomíneo ou de<br />
suas fezes. Também pode ocorrer por meio da ingestão de carne crua ou<br />
mal cozida e por acidentes em laboratório, na ação de retirada das fezes do<br />
inseto para exame.<br />
As mais recentes contaminações investigadas pela <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
foram o caso do suco do açaí no Pará e do caldo de cana no litoral<br />
Norte de Santa Catarina.<br />
Este tipo de transmissão ocorre em locais definidos, em um determinado<br />
tempo, por diferentes tipos de alimentos manuseados de formas<br />
inadequadas.<br />
A transmissão oral pode ocorrer a partir de formas tripomastigotas<br />
e epimastigotas.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 97<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 47: O açaí, em áreas endêmicas, com presença de triatomíneos, deve ser<br />
bem manuseado e higienizado antes de ser consumido, para evitar a transmissão<br />
via oral da doença de Chagas.<br />
Fonte: Disponível em: .; www.<br />
sobiologia.com.br. Acesso em 14 de abril de 2011.<br />
Veja as reportagens transcritas na íntegra.<br />
Açaí faz 1 vítima de doença de Chagas a cada 4 dias na Amazônia<br />
A cada quatro dias, em média, uma pessoa é infectada com doença<br />
de Chagas ao beber suco de açaí na Amazônia. Tem sido assim nos últimos 15<br />
meses, quando 15 surtos da doença foram registrados no Pará, no Amazonas<br />
e no Amapá.<br />
Neste mês, já há dois surtos notificados: um em Breves (PA) e outro<br />
em Abaetetuba (PA). Quinze pessoas foram diagnosticadas com a enfermidade.<br />
Uma morte é investigada...<br />
Desde junho do ano passado, 116 pessoas pegaram a doença após<br />
ingerir sucos típicos da região (principalmente açaí e bacaba -chamado de<br />
açaí branco) triturados com o barbeiro.<br />
De acordo com o Instituto Evandro Chagas, de 1968 até 2005, foram<br />
registrados, em média, 12 casos por ano na região amazônica por via oral.<br />
Ou seja, houve aumento de 867%.<br />
THIAGO REIS da Agência Folha. Em 18/08/2007-09h01.<br />
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u321060.<br />
shtml. Acessado em 26-04-2011.<br />
A maioria das pessoas até recentemente conhecia apenas uma forma<br />
ou mecanismo de transmissão da doença de Chagas, que era o contato<br />
das fezes dos percevejos triatomíneos infectados com a pele lesada ou mucosas.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 98<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Agora estamos acompanhando pela imprensa o caso trágico ocorrido<br />
no Litoral Norte de Santa Catarina, onde aproximadamente 40 pessoas,<br />
das quais 6 já morreram, foram contagiadas pela doença de Chagas, quando<br />
ingeriram caldo de cana, o que confirma a possibilidade de transmissão também<br />
pela via oral.<br />
Acredita-se na possibilidade de o inseto ter sido moído em meio à<br />
cana ou de contaminação da bebida pela presença de fezes infectadas. Um<br />
estudo de laboratório feito no Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (CPqGM),<br />
da Fiocruz, em Salvador, na Bahia, comprovou que a transmissão da doença<br />
de Chagas pode ocorrer por via oral.<br />
Fontes: Terra Notícias e Agência Brasil. Disponível em: . Acesso em 26 de abril de 2011.<br />
e) Transmissão por leite materno<br />
Em gestante ou lactante com diagnóstico de doença de Chagas aguda<br />
- DCA - ou coinfecção T. cruzi-HIV, recomenda-se não oferecer amamentação<br />
no peito, em virtude da possibilidade de transmissão por meio do leite<br />
ou pela fissura mamilar. Até a presente data, foram pouquíssimos os casos<br />
confirmados de transmissão da doença de Chagas por este meio.<br />
f) Transmissão por acidentes laboratoriais<br />
Acidentes laboratoriais também podem ocorrer devido ao contato<br />
com culturas de T. cruzi, à exposição às fezes infectadas de triatomíneos ou<br />
ao sangue de paciente ou animal contendo formas tripomastigotas.<br />
g) Transmissão por transplante de órgãos<br />
Segundo o guia epidemiológico, nas duas últimas décadas, com o<br />
aumento do número de transplantes, essa via de transmissão tem adquirido<br />
relevância. A doença de Chagas aguda, que ocorre após este mecanismo<br />
de transmissão, apresenta-se mais grave, uma vez que os receptores estão<br />
imunocomprometidos, e os pacientes infectados apresentam manifestações<br />
clínicas de doença aguda: febre, nódulos cutâneos eritematosos - ínguas,<br />
hepatoesplenomegalia –, aumento do fígado e do baço, mialgias e cefaleia.<br />
9.5 Vetores e reservatórios<br />
A maioria das espécies conhecidas vive no meio silvestre, associadas<br />
a uma diversidade de fauna e flora. É importante ter em mente que essa<br />
associação ao habitat é dinâmica, ou seja, uma espécie, hoje considerada<br />
exclusivamente silvestre, pode se tornar domiciliada se as condições em que<br />
vive forem alteradas.<br />
Das 140 espécies de triatomíneos conhecidas atualmente, 69 foram<br />
identificadas no Brasil e são encontradas em vários estratos florestais, de<br />
todos os biomas.<br />
Com a interrupção e/ou diminuição da transmissão vetorial por Triatoma<br />
infestans no país, quatro outras espécies de triatomíneos têm especial<br />
importância na transmissão da doença ao homem: T. brasiliensis, Panstrongylus<br />
megistus, T. pseudomaculata e T. sordida.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 99<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 48: Alguns triatomíneos importantes na transmissão vetorial da doença de<br />
Chagas. Da esquerda para a direita, Panstrongylus megistus, Triatoma infestans e<br />
T. sórdida.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
As espécies do gênero Rhodnius encontram-se predominantemente<br />
associadas às palmeiras, enquanto as espécies do gênero Triatoma e Panstrongylus<br />
vivem preferencialmente em associação com hospedeiros terrestres.<br />
Algumas poucas espécies, ao longo de seu processo evolutivo, adaptaram-se<br />
aos domicílios e às estruturas construídas no peridomicílio, como<br />
galinheiros e chiqueiros, e tornaram-se mais importantes na transmissão da<br />
doença ao homem.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 100<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 49: Fases evolutiva do triatomíneo (T. sordida) até chegar à fase adulta.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 17 de abril de 2011.<br />
A maioria das espécies de triatomíneos deposita seus ovos livremente<br />
no ambiente, entretanto, algumas possuem substâncias adesivas que<br />
fazem com que os ovos fiquem aderidos ao substrato.<br />
Essa é uma característica muito importante, uma vez que ovos aderidos<br />
às penas de aves e a outros substratos podem ser transportados passivamente<br />
por longas distâncias, promovendo a dispersão da espécie.<br />
A introdução no domicílio de materiais com ovos aderidos (como<br />
folhas de palmeiras para a cobertura de casas e lenha) pode favorecer o<br />
processo de colonização.<br />
A oviposição ocorre de 10 a 30 dias após a cópula, e o número de<br />
ovos varia de acordo com a espécie, principalmente em função do estado<br />
nutricional da fêmea. Uma fêmea fecundada e alimentada pode realizar posturas<br />
por todo o seu período de vida adulta.<br />
Alguns animais silvestres, como quatis, mucuras (ganbás) e tatus,<br />
aproximam-se das casas, frequentando galinheiros, currais e depósitos, na<br />
zona rural e na periferia das cidades. Em alguns casos, como os morcegos,<br />
compartilham ambientes com o homem e os animais domésticos. Deste<br />
modo, essas espécies podem servir como fonte de infecção aos insetos vetores<br />
que ocupam o mesmo habitat dos humanos.<br />
9.6 Período de incubação<br />
• Transmissão vetorial – de 4 a 15 dias.<br />
• Transmissão transfusional – de 30 a 40 dias ou mais.<br />
• Transmissão vertical – pode ser transmitida em qualquer período<br />
da gestação ou durante o parto.<br />
• Transmissão oral – de 3 a 22 dias.<br />
• Transmissão acidental – até, aproximadamente, 20 dias.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 101<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
9.7 Aspectos clínicos<br />
Após a entrada do Trypanossoma cruzi no organismo, basicamente,<br />
ocorrem duas etapas fundamentais na infecção humana, descritas a seguir.<br />
Fase aguda (inicial) – pode durar até 12 semanas; aparece um inchaço no<br />
local da picada, como uma espécie de furúnculo - Chagoma de inoculação -,<br />
inchaço das pálpebras de um olho - Sinal de Romaña -, febre baixa, por vários<br />
dias, mal-estar, falta de apetite, aumento do baço e do fígado. Nesta fase, o<br />
parasito é circulante na corrente sanguínea, em quantidades expressivas. A<br />
doença pode progredir para formas agudas graves, que podem levar ao óbito<br />
ou evoluir para a fase crônica.<br />
Figura 50: Criança apresentando inchaço no olho esquerdo , “sinal de Romaña”,<br />
um dos sinais da contaminação pelo Typanossoma cruzi.<br />
Fonte: Disponível em . .<br />
a. Fase crônica – existem raros parasitas circulantes na corrente<br />
sanguínea. Inicialmente, esta fase é assintomática e sem sinais de comprometimento<br />
cardíaco e/ou digestivo. Pode apresentar-se como uma das seguintes<br />
formas:<br />
• forma indeterminada;<br />
• forma cardíaca;<br />
• forma digestiva;<br />
• forma associada (cardiodigestiva).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 102<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 51: Coração acometido pelos Trypanossoma cruzi; o órgão cresce tanto que<br />
a doença é também conhecida com coração de boi.<br />
Fonte: Disponível em .<br />
Figura 52: Forma digestiva – acometimento do aparelho digestivo que,<br />
frequentemente, evolui para megacólon ou megaesôfago. Ocorre em cerca de 10%<br />
dos casos.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 28 de abril de 2011.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 103<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
9.8 Diagnóstico laboratorial<br />
9.8.1 Fase aguda<br />
São considerados critérios parasitológicos e sorológicos.<br />
a) O parasitológico é definido pela presença de parasitos circulantes,<br />
demonstráveis no exame direto do sangue periférico. Por sua vez, o critério<br />
sorológico é baseado na presença de anticorpos anti-T. cruzi da classe<br />
IgM no sangue periférico, particularmente quando associada a alterações<br />
clínicas e epidemiológicas sugestivas.<br />
b) Exames sorológicos têm utilidade complementar aos exames parasitológicos<br />
e devem sempre ser colhidos em casos suspeitos ou confirmados<br />
de doença de Chagas aguda – DCA - e enviados ao Laboratório Central de<br />
Saúde Pública - Lacen. O método mais utilizado é o imunoenzimático - ELISA.<br />
A reação de fixação de complemento - reação de Guerreiro-Machado - não é<br />
mais utilizada pelos laboratórios da rede do Sistema Único de Saúde.<br />
Figura 53: Sorologia de Chagas, no município de Lassance/MG, em 1996. Coleta de<br />
sangue em papel filtro.<br />
Fonte: Arquivo do autor. Joaquim Francisco<br />
9.8.2 Fase crônica<br />
a) Exames parasitológicos<br />
Devido a raros parasitos circulantes na corrente sanguínea na fase<br />
crônica, os métodos parasitológicos convencionais são de pouco eficácia, o<br />
que implica em pouco valor diagnóstico.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 104<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
) Exames sorológicos<br />
O diagnóstico na fase crônica é essencialmente sorológico e deve<br />
ser realizado utilizando-se um teste de elevada sensibilidade, em conjunto<br />
com outro de alta especificidade. Os testes de HAI, IFI e ELISA são os indicados<br />
para determinar o diagnóstico.<br />
c) Exames complementares<br />
É importante realizar exames laboratoriais complementares para o<br />
seguimento dos casos e do manejo clínico de eventuais complicações. Ressalta-se<br />
que o início do tratamento etiológico independe da realização de<br />
tais exames.<br />
Exames sugeridos: hemograma completo com plaquetas, urinálise<br />
(EAS), provas de função hepática, radiografia de tórax, eletrocardiograma,<br />
provas de coagulação (TTPA), endoscopia digestiva alta, ecodopplercardiograma<br />
e exame do líquor.<br />
9.9 Tratamento<br />
O Benznidazol é a droga de escolha disponível para o tratamento<br />
específico da DC. O Nifurtimox pode ser utilizado como alternativa em casos<br />
de intolerância ao Benznidazol, embora seja um medicamento de difícil<br />
obtenção. Na fase aguda, o tratamento deve ser realizado em todos os casos<br />
e o mais rápido possível após a confirmação diagnóstica. O tratamento<br />
específico é eficaz na maioria dos casos agudos (>60 %) e congênitos (>95%),<br />
apresentando ainda boa eficácia em 50% a 60% de casos crônicos recentes.<br />
Atenção! Todo tratamento deve ser sob a orientação médica.<br />
9.10 Aspectos epidemiológicos<br />
A distribuição espacial da doença é limitada primariamente ao<br />
continente americano, em virtude da distribuição do vetor estar restrito a<br />
esse continente, daí ser também denominada de tripanossomíase americana.<br />
Entretanto, são registrados casos em países não endêmicos, por outros<br />
mecanismos de transmissão. Os fatores que determinam e condicionam a sua<br />
ocorrência refletem a forma como a população humana ocupa e explora o<br />
ambiente em que vive. Questões como migrações humanas não controladas,<br />
degradação ambiental e precariedade de condições socioeconômicas, como<br />
habitação, educação, dentre outras, inserem-se nesses fatores.<br />
A área com risco de transmissão vetorial da doença de Chagas no<br />
país, conhecida no final dos anos 1970, incluía 18 estados com mais de 2.200<br />
municípios, e, destes, 711 municípios com a presença do T. infestans. Até<br />
então, a região amazônica estava excluída dessa área de risco, em virtude<br />
da ausência de vetores domiciliados.<br />
A partir de 1975, foram instituídas, no Brasil, ações sistematizadas<br />
de controle químico, focalizadas nas populações de T. infestans, principal<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 105<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
vetor e estritamente domiciliar, e mantidas em caráter regular até os dias<br />
atuais, acompanhadas de educação em saúde e ambiental. Elas levaram a<br />
uma expressiva redução da presença de T. infestans e de outras espécies<br />
no intradomicílio e, simultaneamente, da transmissão do T.cruzi ao homem.<br />
Podemos destacar, aqui, a melhoria da qualidade dos domicílios, as mudanças<br />
de hábitos dos moradores, a maior concentração da população em áreas<br />
urbanas e a melhor compreensão da dinâmica de transmissão.<br />
Hoje, o perfil epidemiológico da doença apresenta um novo cenário,<br />
com a ocorrência de casos e surtos na Amazônia Legal por transmissão<br />
oral e vetorial.<br />
No período de 2000 até 02/10/2010, foram registrados, no Brasil,<br />
1007 casos de doença de Chagas aguda. Destes, 736 (73%) foram por<br />
transmissão oral; 18 (1,8%), por transmissão vetorial; e, em 252 (25%), não se<br />
definiu a forma de transmissão.<br />
9.11 Objetivos da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
• Detectar precocemente casos de doença de Chagas, com vistas<br />
à aplicação de medidas de prevenção secundária.<br />
• Proceder à investigação epidemiológica de todos os casos agudos,<br />
por transmissão vetorial, oral, transfusional, vertical e por<br />
transplante de órgãos, visando a adoção de medidas adequadas<br />
de controle.<br />
• Monitorar a infecção na população humana por meio de inquéritos<br />
sorológicos periódicos.<br />
• Monitorar o perfil de morbimortalidade e a carga médico-social<br />
da doença, em todas as suas fases.<br />
• Manter eliminada a transmissão vetorial por T. infestans e, sob o<br />
controle, as outras espécies importantes na transmissão humana<br />
da doença.<br />
• Incorporar ações de saneamento, educação e saúde ambiental<br />
para o controle de vetores e reservatórios.<br />
9.12 Notificação<br />
A DCA é um agravo de notificação compulsória, e todos os casos<br />
devem ser imediatamente notificados ao Sistema de Informação de Agravos<br />
de Notificação - Sinan. Os casos de reativação da doença, que ocorrem nos<br />
quadros de imunodeficiência - HIV - e os casos crônicos não devem ser notificados.<br />
9.13 Fluxos de notificação<br />
A doença de Chagas aguda como agravo de notificação imediata<br />
deve ser prontamente notificada a partir dos municípios, via fax, telefone ou<br />
e-mail, às secretarias estaduais de saúde, com interface das gerências regio-<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 106<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
nais de saúde e/ou superintendências de saúde, as quais deverão informar o<br />
evento imediatamente à Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde, por meio do correio<br />
eletrônico notifica@saude.gov.br ou chagas@saude.gov.br, ao Programa<br />
Nacional de Controle de Doença de Chagas e à Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em<br />
Saúde, www.saude.gov.br/svs, do Ministério da Saúde.<br />
A unidade de saúde notificadora deve utilizar a ficha de notificação/<br />
investigação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan<br />
-, encaminhando-a para ser processada conforme o fluxo estabelecido pela<br />
Secretaria Municipal de Saúde. Segundo a Portaria SVS/MS nº 2472, de 31 de<br />
agosto de 2010, “todo caso de doença de Chagas aguda é de notificação obrigatória<br />
às autoridades locais de saúde e a investigação deverá ser encerrada<br />
até 60 dias após a notificação” (BRASIL, 2009).<br />
9.14 Medidas de controle e prevenção<br />
• Visitas domiciliares para pesquisa de triatomíneos no intra<br />
e peridomicílio. Encontrando o vetor, faz-se o controle<br />
químico com inseticida de poder residual. Municípios<br />
em vigilância implantam Postos de Informação de Triatomíneos<br />
– PIT - que são visitados periodicamente pelos<br />
profissionais de saúde.<br />
• Em áreas de alto risco, susceptíveis à domiciliação do<br />
triatomíneos, recomenda-se a melhoria habitacional,<br />
hoje, financiada pela Fundação Nacional de Saúde, com<br />
uma pequena contrapartida do município proponente.<br />
• Identificação de gestantes chagásicas durante o pré-<br />
-natal ou por meio de exames de triagem neonatal de<br />
recém-nascidos para tratamento precoce.<br />
• Controle rigoroso da qualidade dos hemoderivados transfundidos<br />
por meio de triagem sorológicas dos doadores.<br />
• Cuidados higiênicos na produção e na manipulação artesanal<br />
de alimentos de origem vegetal.<br />
• Utilização rigorosa de equipamentos de biossegurança.<br />
• Ações de educação em saúde, comunicação, mobilização<br />
social e saúde ambiental.<br />
Acredita-se que as ações de prevenção e de controle implicam na<br />
adoção de medidas efetivas que envolvam a participação popular, aumentando<br />
o conhecimento das pessoas e a demanda pela prevenção e pelo controle<br />
da doença.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 107<br />
No caso de encontrar<br />
triatomíneos (barbeiros)<br />
no domicílio, devemse<br />
seguir as seguintes<br />
orientações:<br />
não se deve pegálos<br />
com a mão<br />
“desprotegida”,<br />
esmagar, apertar, bater<br />
ou danificar o inseto.<br />
Para manusear os<br />
triatomíneos, deve-se<br />
proteger a mão com<br />
luva ou saco plástico;<br />
os insetos deverão ser<br />
acondicionados em<br />
recipientes plásticos,<br />
com tampa de rosca<br />
para evitar a fuga;<br />
as amostras coletadas<br />
em diferentes<br />
ambientes - quarto,<br />
sala, cozinha,<br />
anexo - deverão<br />
ser acondicionadas,<br />
separadamente, em<br />
frascos rotulados,<br />
com as seguintes<br />
informações: data e<br />
nome do responsável<br />
pela coleta, local de<br />
captura e endereço;<br />
encaminhar para o<br />
Posto de Informação de<br />
Triatomíneo – PIT - mais<br />
próximo.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 54: Projeto de saneamento ambiental e educação em saúde - melhoria<br />
habitacional para o controle da doença de Chagas, em Porteirinha e Pai Pedro/MG;<br />
convênio dos municípios e da Fundação Nacional de Saúde - Funasa.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu que a Doença de Chagas – DC:<br />
• é uma doença infecciosa causada pelo protozoário flagelado, o<br />
Trypanosoma cruzi;<br />
• a doença passa por duas fases distintas, a inicial ou aguda e a<br />
crônica, com o comprometimento do coração, do esôfago e do<br />
intestino;<br />
• é transmitida ao homem de várias formas: vetorial, transfusional,<br />
transplacentária (congênita, por transplante de órgãos), acidental<br />
e por via oral (pela ingestão de alimentos contaminados<br />
pelo T. cruzi);<br />
• os fatores que determinam e condicionam a sua ocorrência refletem<br />
a forma como a população humana ocupa e explora o<br />
ambiente em que vive;<br />
• é doença de notificação compulsória e deve-se manter em alerta<br />
para o controle e a vigilância.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 108<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Atividades de aprendizagem<br />
1. Conceitue doença de Chagas.<br />
2. Descreva o ciclo silvestre e doméstico da doença.<br />
3. Quais os vetores da doença de Chagas?<br />
4. Em sua região, quais as espécies encontradas? (Converse com alguém<br />
da Epidemiologia do seu município antes de responder).<br />
5. Quais as medidas de controle e prevenção desenvolvidas pelos órgãos<br />
de saúde e a população?<br />
6. Quais os sinais e sintomas da doença na fase aguda?<br />
7. Por que é pouca a eficácia do exame parasitológico de pacientes na<br />
fase crônica?<br />
8. Pesquise e descreva sucintamente a distribuição da doença no Brasil.<br />
9. Cite quatro objetivos da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
10. Descreva o fluxo de uma notificação da doença de Chagas aguda.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 109<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Aula 10 - Esquistossomose<br />
Objetivos<br />
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de:<br />
• conceituar a esquistossomose;<br />
• identificar o ciclo evolutivo;<br />
• citar os conceitos usados na <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>;<br />
• descrever os aspectos clínicos e epidemiológicos da doença,<br />
bem como as medidas de prevenção e controle.<br />
10.1 Introdução<br />
O Brasil, palco de muitas vitórias e de muitas belezas construídas e<br />
naturais, ainda não conseguiu se livrar de determinadas doenças e, para muitas<br />
delas, serve de bom laboratório, a exemplo da esquistossomose, que se<br />
adaptou com certa facilidade devido ao clima tropical que aqui se encontra<br />
e à diversidade socioeconômica e cultural do seu povo.<br />
Mas o que é a esquistossomose? Como se pega? Como<br />
combater este mal?<br />
ta aula.<br />
Estas e outras perguntas, vamos tentar responder no decorrer des-<br />
10.2 Descrição<br />
A esquistossomose mansônica é uma doença parasitária, causada<br />
por um verme denominado Schistosoma mansoni, cujas formas adultas habitam<br />
os vasos mesentéricos do hospedeiro definitivo, e as formas intermediárias<br />
desenvolvem-se em caramujos aquáticos do gênero Biomphalaria.<br />
Trata-se de uma doença, inicialmente, assintomática, que pode<br />
evoluir para formas clínicas extremamente graves e pode levar o paciente<br />
ao óbito.<br />
10.3 Sinonímia<br />
Xistose, xistosa, sistosomose, barriga d’água, doença dos caramujos<br />
e doença de Manson-Pirajá da Silva.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
111<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
10.4 Agente etiológico<br />
O Schistosoma mansoni é um helminto pertencente à classe dos<br />
trematódea, família Schistossomatidae e gênero Schistosoma. Tem forma<br />
delgada, de coloração branca e com sexos separados, onde a fêmea adulta,<br />
mais alongada, encontra-se alojada em uma fenda do corpo do macho, denominada<br />
de canal ginecóforo; veja na figura a seguir.<br />
Figura 55: Schistosoma mansoni, macho e fêmea acasalados.<br />
Fonte: Joaquim Francisco, desenho baseado na figura disponível em . Acesso em 08 de maio de 2011.<br />
10.5 Reservatório<br />
No ciclo da doença, estão envolvidos dois hospedeiros: um definitivo<br />
e o intermediário.<br />
10.5.1 Hospedeiro definitivo<br />
O homem é o principal hospedeiro definitivo. Nele, o parasita apresenta<br />
a forma adulta, reproduz-se sexuadamente e, por meio da eliminação<br />
dos ovos do S. mansoni no ambiente, pelas fezes, ocasiona a contaminação<br />
das coleções hídricas.<br />
Os primatas, os marsupiais - caminheiros e gambás, ruminantes- bovinos,<br />
roedores e lagomorfos - lebres e coelhos são considerados hospedeiros<br />
permissivos ou reservatórios, porém não há pesquisa cientifica que comprove<br />
a importância epidemiológica desses animais na transmissão da xistosa, apesar<br />
da comprovação da capacidade que todos têm de eliminar ovos nas fezes.<br />
10.5.2 Hospedeiro intermediário<br />
Os caramujos gastrópodes aquáticos, pertencentes à família Planorbidae<br />
e do gênero Biomphalaria são os organismos que possibilitam a<br />
reprodução assexuada do helminto.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 112<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
10.6 Modo de transmissão<br />
As pessoas portadoras do verme, ao defecar, eliminam ovos do parasita<br />
com as fezes.<br />
Figura 56: Ovo do Schistosoma mansoni.<br />
Fonte: Fundação Wikpédia projetos. Retirado do Caderno de atenção Básica, p.51 (Brasil, 2008).<br />
Essas fezes são levadas para as coleções hídricas por meio das águas<br />
da chuva – enxurrada -, pelos animais e, muitas vezes, são eliminadas pelo<br />
próprio portador da xistosa às margens dos rios, dos córregos, das represas,<br />
dos riachos e das lagoas. Quando essas fezes entrarem em contato com a<br />
água, os ovos se abrem e, deles, saem larvas chamadas de miracídios.<br />
Figura 57: Miracídio saindo do ovo, pronto para penetrar no caramujo.<br />
Fonte: Disponível em < bvsalutz.coc.fiocruz.br.<br />
Os miracídios penetram nos caramujos que, após 4 a 7 semanas,<br />
liberam pequenas larvas, as “cercárias”.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 113<br />
Os planorbídeos são<br />
caramujos pulmonados<br />
e hermafroditas, que<br />
habitam coleções<br />
de água doce, com<br />
pouca correnteza ou<br />
paradas. No Brasil, as<br />
espécies Biomphalaria<br />
glabrata, Biomphalaria<br />
straminea e<br />
Biomphalaria<br />
tenagophila estão<br />
envolvidas na<br />
disseminação da<br />
esquistossomose.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figuras 58: Cercárias de Schistosoma mansoni.<br />
Fonte: Disponível no Manual de Malacologia, 2007 – SVS/Fiocruz/MS.<br />
As cercárias penetram na pele das pessoas que entram em contato<br />
com esses lugares para tomar banho, lavar roupa, brincar, regar plantações etc.<br />
Ao penetrar nas pessoas, as cercárias caem na corrente sanguínea,<br />
passam pelo coração, pulmão e fígado, onde passam um tempo enquanto<br />
jovem e, depois, vão morar dentro das veias do mesentério - paredes do<br />
intestino -, transformando em verme adulto o ESQUISTOSSOMA que copulam,<br />
dando origem aos ovos e o início de um novo ciclo. Para entender melhor,<br />
observe a figura a seguir.<br />
Figura 59: Ciclo de transmissão do Schistosoma mansoni. Homem doente<br />
eliminando ovos do verme por meio das fezes ao miracído, que infecta o caramujo;<br />
este libera cercarias que penetram nas pessoas sadias, fechando o ciclo.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 114<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
10.7 Período de incubação<br />
Em média, é de 1 a 2 meses após a infecção, que corresponde à<br />
fase de penetração das cercarias, do seu desenvolvimento até a instalação<br />
dos vermes adultos no interior do hospedeiro definitivo.<br />
10.8 Período de transmissibilidade<br />
A transmissão da esquistossomose não ocorre por meio do contato<br />
direto homem doente – homem suscetível. Também não ocorre “autoinfecção”,<br />
como na estrongiloidíase e em outras verminoses.<br />
O homem infectado pode eliminar ovos viáveis de S. mansoni a partir<br />
de 5 semanas após a infecção e por um período de 6 a 10 anos, podendo<br />
chegar a até mais de 20 anos.<br />
10.9 Suscetibilidade e imunidade<br />
A suscetibilidade humana ao verme é universal, embora apresente<br />
variações individuais. Portanto, qualquer pessoa, independente de idade,<br />
sexo ou grupo étnico, que entre em contato com as cercárias, pode vir a<br />
contrair a infecção.<br />
Existem evidências de que certo grau de resistência à esquistossomose<br />
faz-se presente na maioria dos indivíduos expostos em áreas hiperendêmicas,<br />
embora esse mecanismo não esteja perfeitamente esclarecido.<br />
Essa resistência, em grau variável, faz com que grande parte das pessoas<br />
continuamente expostas não desenvolva infecções com grandes cargas parasitárias.<br />
Por isso,é reduzido o número de pessoas com manifestações clínicas<br />
severas em relação ao total de portadores.<br />
10.10 Aspectos clínicos e laboratoriais<br />
A evolução clínica da esquistossomose mansônica depende da resposta<br />
imunológica de cada um; a maioria das pessoas infectadas pode permanecer<br />
assintomática, dependendo da intensidade da infecção.<br />
10.10.1 Fase inicial<br />
Corresponde à penetração das cercarias através da pele. Nesta<br />
fase, as manifestações alérgicas eritematosas e pruriginosas, semelhantes<br />
a picadas de inseto e a eczema de contato, podem durar até 5 dias após a<br />
infecção. São mais intensas nos indivíduos hipersensíveis e nas reinfecções.<br />
A febre pode ocorrer após 3 a 7 semanas de exposição. É comum aparecer<br />
também cefaleia, anorexia, dor abdominal e, com menor frequência, o paciente<br />
pode referir diarreia, náuseas, vômitos e tosse seca.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 115<br />
O horário no qual as<br />
cercárias são vistas<br />
em maior quantidade<br />
na água e com maior<br />
atividade é entre 10<br />
e 16h, quando a luz<br />
solar e o calor são mais<br />
intensos.<br />
Ambientes de água<br />
doce, de pouca<br />
correnteza ou parada,<br />
utilizados para<br />
atividades profissionais<br />
ou de lazer, com<br />
presença de caramujos<br />
infectados pelo S.<br />
mansoni, constituem<br />
os locais adequados<br />
para se adquirir a<br />
esquistossomose.<br />
Os hospedeiros<br />
intermediários<br />
começam a eliminar<br />
cercárias após 4 a 7<br />
semanas da infecção<br />
pelos miracídios. Os<br />
caramujos infectados<br />
eliminam cercárias<br />
por toda a vida, que é<br />
aproximadamente de<br />
um a dois anos.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
O fígado e o baço aumentam discretamente de volume e o indivíduo<br />
apresenta um sensível comprometimento do seu estado geral, podendo, em<br />
alguns casos, chegar ao óbito.<br />
10.10.2 Fase tardia<br />
As formas crônicas iniciam-se a partir dos 6 meses após a infecção,<br />
podendo durar vários anos. Podem surgir os sinais de progressão da doença<br />
para diversos órgãos, chegando a atingir graus extremos de severidade,<br />
como hipertensão pulmonar e portal, ascite, ruptura de varizes do esôfago.<br />
Figura 60: Paciente com esquistossomose na forma hepatoesplênico -<br />
manifestações clínicas severas. Comprometimento do fígado e baço. Ao lado<br />
direito, ovos do esquistossomo e a cercária.<br />
Fonte: Disponível no acervo Dr. J. R. Lambertucci (Brasil, 2008.p.52 e a II disponível em: . Montada pelo autor Joaquim Francisco<br />
10.11 Diagnóstico laboratorial<br />
Os métodos laboratoriais utilizados no diagnóstico da esquistossomose<br />
podem ser classificados em diretos e indiretos.<br />
• Os métodos diretos detectam o parasito, suas partes e os ovos -<br />
exames de fezes e biopsia retal e epática.<br />
• Os métodos indiretos dependem de marcadores bioquímicos e<br />
imunológicos associados à infecção, dentre os quais, destacam-<br />
-se os exames ultrassonográficos, que são de grande auxílio no<br />
diagnóstico da fibrose de Symmers e nos casos de hepatoesplenomegalia,<br />
e os testes imunológicos de reação intradérmica ou<br />
sorológica.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 116<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
10.12 Tratamento<br />
O tratamento da esquistossomose consiste na utilização de medicamentos<br />
específicos para a cura da infecção. Existem dois medicamentos<br />
disponíveis para o tratamento de crianças e de adultos portadores de S.<br />
mansoni: o praziquantel 600mg, via oral, em dose única de 50mg/kg de peso<br />
para adultos e 60mg/kg de peso para crianças, e a oxaminiquina – mansil, em<br />
cápsulas, com 250mg e solução de 50mg/ml para o uso pediátrico. A dose recomendada<br />
é de 20mg/kg para crianças e de 15mg/kg para adultos, tomadas<br />
de uma só vez, cerca de 1 hora após uma refeição.<br />
A distribuição dos medicamentos esquistossomicidas é gratuita e<br />
repassada para as secretarias de estado da saúde – SES - pela Secretaria de<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde, do Ministério da Saúde. Estão disponíveis na rede de<br />
Atenção Básica de Saúde dos municípios ou nas unidades de referência para<br />
tratamento da esquistossomose.<br />
10.13 <strong>Vigilância</strong> epidemiológica - VE<br />
10.13.1 Objetivos<br />
Reduzir a ocorrência de formas graves e óbitos; reduzir a prevalência<br />
da infecção e reduzir o risco de expansão geográfica da doença. No intuito<br />
de evitar a instalação de focos urbanos, fazer notificação; definir os casos<br />
suspeitos, confirmados e descartados, tanto pelo critério clinico laboratorial<br />
como pelo epidemiológico.<br />
10.13.2 Notificação<br />
A esquistossomose é doença de notificação compulsória; os casos<br />
confirmados devem ser notificados e investigados por meio da ficha de investigação<br />
de caso de esquistossomose, do Sinan.<br />
10.13.3 Medidas profiláticas<br />
Confirmação laboratorial, investigação dos casos, tratamento ambulatorial<br />
e acompanhamento de cura; ações de educação e saúde ambiental;<br />
saneamento domiciliar e ambiental – água encanada e tratada, banheiros<br />
e destinação correta do lixo -; identificação, inspeção e tratamento químico<br />
ou biológico dos criadouros de caramujos; proteção individual para evitar a<br />
propagação da transmissão.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 117<br />
A biópsia retal ou<br />
hepática, apesar de não<br />
indicada para utilização<br />
na rotina, pode ser útil<br />
em casos suspeitos e<br />
na presença de exame<br />
parasitológico de fezes<br />
negativo.<br />
A técnica de Kato-Katz<br />
é a mais utilizada pelos<br />
programas de controle<br />
da esquistossomose.<br />
Além da visualização<br />
dos ovos, permite<br />
que seja feita a<br />
sua contagem por<br />
grama de fezes,<br />
fornecendo um<br />
indicador quantitativo<br />
que permite avaliar<br />
a intensidade da<br />
infecção e a eficácia<br />
do tratamento. É o<br />
método de escolha<br />
para inquéritos<br />
coproscópicos<br />
de rotina e em<br />
investigações<br />
epidemiológicas.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Informações a respeito<br />
da doença e das formas<br />
para evitar a xistosa,<br />
acesse: Secretaria de<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde;<br />
www.saude.gov.br/svs;<br />
Biblioteca Virtual em<br />
Saúde do Ministério da<br />
Saúde; www.saude.gov.<br />
br/bvs.<br />
Educação e saúde ambiental<br />
As ações de educação e saúde ambiental devem preceder e acompanhar<br />
todas as atividades de controle e serem baseadas em estudos do<br />
comportamento das populações em risco. A orientação à população quanto<br />
às maneiras pelas quais se previnem as doenças transmissíveis é um fator<br />
indispensável para o sucesso de qualquer programa de controle. Essa ações<br />
devem ser realizadas pelos agentes de controle das endemias, educadores<br />
em saúde, agentes comunitários de saúde e por profissionais das unidades<br />
básicas, além de outros profissionais das equipes de estratégia de saúde da<br />
família. Devem ser direcionadas à população em geral, priorizando aos escolares<br />
residentes nas áreas endêmicas.<br />
Seguem algumas orientações à população para áreas endêmicas:<br />
mobilizar e buscar parcerias para implementar e/ou ampliar o sistema de<br />
abastecimento de água; melhorias sanitárias – construção de banheiros, destino<br />
correto do lixo e orientar para as pessoas para não entrar em contato<br />
com as fontes contaminadas por cercarias -; usar banheiros; tomar água fervida<br />
ou tratada; higienizar adequadamente os alimentos ingeridos crus; usar<br />
botinas nas irrigações, entre outras medidas.<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu :<br />
• que a esquistossomose mansônica é uma doença parasitária,<br />
causada por um verme denominado Schistosoma mansoni;<br />
• que a asquistossomose mansônica é também conhecida como:<br />
xistose, xistosa, sistosomose, barriga d’água, doença dos caramujos<br />
e doença de Manson-Pirajá da Silva;<br />
• sobre o ciclo de vida do Schistosoma mansoni – ovo -, miracídio,<br />
caramujo, cercaria e verme adulto;<br />
• que o diagnóstico pode ser realizado por meio dos métodos, diretos<br />
- fezes e biopsia retal - ou indiretos - exames ultrassonográficos<br />
e os testes imunológicos de reação intradérmica ou<br />
sorológica;<br />
• que xistosa tem tratamento;<br />
• que, para evitar o Schistosoma mansoni, deve-se interromper o<br />
seu ciclo evolutivo com ações de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> e ambiental,<br />
saneamento ambiental e educação e saúde ambiental.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 118<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Atividades de aprendizagem<br />
1. O que é esquistossomose?<br />
2. Descreva o ciclo evolutivo da doença.<br />
3. Como a esquistossomose é conhecida?<br />
4. Descreva os aspectos clínicos da doença, por fase.<br />
5. Os casos da doença devem ser notificados em qual sistema de informação?<br />
6. Cite dois objetivos da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
7. Quem deve realizar as ações de educação e saúde ambiental junto à<br />
população?<br />
8. Cite três medidas de controle da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
9. Em sua região, já foi notificado caso de esquistossomose?<br />
10. Quais as medidas tomadas para evitar o avanço da doença?<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 119<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Aula Alfabetização 11 – Leishmanioses Digital - visceral e<br />
cutânea mucosa<br />
Objetivos<br />
• Conceituar as leishmanioses, visceral ou calazar e tegumentar<br />
americana ou ferida brava.<br />
• Descrever a cadeia de transmissão.<br />
• Identificar os principais sinais e sintomas do calazar no homem<br />
e no cão.<br />
• Relacionar as formas de controle.<br />
11.1 Leishmaniose Visceral - LV ou Calazar<br />
11.1.1 Definição<br />
A leishmaniose visceral - LV - é uma doença grave que acomete as<br />
pessoas e alguns animais; era mais frequente na área rural – zoonose -, porém<br />
vem aumentando o número de casos nos centros urbanos. A LV é uma endemia<br />
que vem se expandindo no Brasil e em outras áreas do continente americano,<br />
tornando-se grande problema de saúde pública.<br />
Podemos dizer que calazar é uma doença de manifestação crônica;<br />
quando não tratada, pode evoluir para o óbito em mais de 90% dos casos.<br />
11.1.2 Sinonímia<br />
Calazar, esplenomegalia tropical, febre dundun, doença de cachorro,<br />
entre outras.<br />
11.1.3 Agente etiológico<br />
Os agentes etiológicos da LV são protozoários tripanosomatídeos do<br />
gênero Leishmania, parasita intracelular sob a forma amastigota - aflagelada.<br />
Dentro do tubo digestivo do vetor, as formas amastigotas diferenciam-<br />
-se em promastigotas - flageladas. Nas Américas, a Leishmania chagasi é o<br />
agente causador do calazar.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
121<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 61: Lâmina com a presença de leishmania, agente causador da leishmaniose<br />
visceral ou calazar.<br />
Fonte: Disponível em . Acesso em 02 de<br />
maio de 2011.<br />
11.1.4 Reservatório<br />
Na área urbana, o cão é a principal fonte de infecção. A enzootia<br />
canina tem precedido a ocorrência de casos humanos, e a infecção em cães<br />
tem sido mais prevalente do que no homem. No ambiente silvestre, os reservatórios<br />
são as raposas - Dusicyon vetulus e Cerdocyon thous - e os marsupiais<br />
- Didelphis albiventris.<br />
Figura 62: O cão é a principal fonte de infecção ou reservatório na área urbana; na<br />
área rural, divide esta importância com as raposas e os marsupiais.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 122<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
11.1.5 Vetores<br />
O flebótomo, que é um inseto que mede de um a três milímetros.<br />
Os flebotomíneos, conhecidos popularmente como mosquito palha, cangalhinha,<br />
tatuquiras, birigui, asa dura, entre outros.<br />
No Brasil, duas espécies, até o momento, estão relacionadas com a<br />
transmissão da doença: Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. A primeira<br />
é considerada a principal espécie transmissora da Leishmania chagasi, mas<br />
a L. cruzi também é identificada como vetora em uma área específica do<br />
estado do Mato Grosso do Sul.<br />
A distribuição geográfica de L. longipalpis é ampla e está em expansão.<br />
Essa espécie é encontrada nas cinco regiões geográficas do país, sendo que,<br />
na região Sul, o primeiro registro ocorreu em dezembro de 2008 (BRASIL, 2009).<br />
Figura 63 :Flebótomo ou mosquito palha, transmissor da LV.<br />
Fonte: Disponível em . Acesso em 02 de maio<br />
de 2011.<br />
11.1.6 Transmissão<br />
Como é que o mosquito palha transmite esta doença?<br />
Como já falamos, o calazar é causado pela Leishmania, que é encontrada<br />
no sangue de animais doentes, como o cão. Quando o mosquito flebótomo<br />
– mosquito palha - pica o cão doente, pode se infectar, ou seja, adquirir<br />
a Leishmania; ao picar uma pessoa sadia, ele pode repassar o parasita.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 123<br />
Os flebotomíneos<br />
adaptam-se facilmente<br />
ao peridomicílio e a<br />
variadas temperaturas,<br />
podendo ser<br />
encontrados no<br />
interior dos domicílios<br />
e em abrigos de<br />
animais domésticos.<br />
Há indício de que<br />
o período de maior<br />
transmissão da<br />
leishmaniose visceral<br />
ocorra durante e<br />
logo após a estação<br />
chuvosa, quando há o<br />
aumento da densidade<br />
populacional do inseto.<br />
Prioritariamente, sua<br />
alimentação é noturna;<br />
durante o dia, ficam<br />
em repouso, em<br />
lugares sombreados<br />
e úmidos, protegidos<br />
do vento e de<br />
predadores naturais.<br />
Pesquisa realizada pela<br />
Universidade Federal<br />
de Minas Gerais - UFMG<br />
-, em Montes Claros/<br />
MG, confirmaram<br />
que os mosquitos<br />
têm maior facilidade<br />
em transmitir a<br />
leishmaniose para cães<br />
que têm o pelo curto.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Não há estudos que<br />
provem a transmissão<br />
da leishmaniose visceral<br />
de pessoa a pessoa.<br />
O mosquito também pode fazer a transmissão entre um animal doente<br />
e o sadio por meio da sua picada.<br />
Observe a figura seguinte, orientando-se pelas setas amarelas e<br />
vermelhas. A seta verde significa que o mosquito sadio pode se alimentar<br />
do homem, porém não irá transmitir nem adquirir o parasita causador da<br />
doença.<br />
Figura 64: Transmissão da leishmaniose visceral – o mosquito infecta-se ao picar os cães,<br />
roedores ou raposas portadores da leishmania e transmitem-na ao homem ou a outro animal<br />
através de sua picada.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
11.1.7 Sinais e sintomas<br />
11.1.7.1 No homem<br />
Os principais sintomas da doença são: febre de longa duração,<br />
perda de apetite e emagrecimento, palidez, tosse seca, fraqueza, anemia,<br />
dentre outras manifestações. Com o passar do tempo, o doente apresenta<br />
desnutrição - cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca -, aumento<br />
do fígado e do baço e hemorragias.<br />
11.1.7.2 No cão<br />
O cão pode ser portador da leishmania sem apresentar nenhum<br />
sinal ou sintomas, porém alguns sinais são bem frequentes em boa parte dos<br />
cães infectados, como: emagrecimento, queda do pelo, queda do trem traseiro,<br />
crescimento das unhas, apatia e feridas nas orelhas.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 124<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
11.1.8 Período de incubação da LV<br />
É bastante variável, tanto para o homem como para o cão. No homem,<br />
é de 10 dias a 24 meses, com média entre 2 a 6 meses, e, no cão, varia<br />
de 3 meses a vários anos, com média de 3 a 7 meses.<br />
11.1.9 Diagnóstico laboratorial<br />
O diagnóstico laboratorial, na rede básica de saúde, baseia-se principalmente<br />
em exames imunológicos – pesquisas de anticorpos e parasitológicos<br />
–, mielograma/punção medular ou epática.<br />
11.1.10 Tratamento<br />
No Brasil, os medicamentos utilizados para o tratamento da LV são<br />
o antimonial pentavalente e a anfotericina B, que devem ser ministrados<br />
sob a orientação médica conforme o peso, a idade e o estado de saúde do<br />
paciente.<br />
Para o cão, ainda não tem vacina nem tratamento eficaz.<br />
11.1.11 Controle<br />
O controle da transmissão da doença é coordenado pelas secretarias<br />
municipais e estaduais de saúde/superintendências e gerências regionais de<br />
saúde por meio de inquéritos caninos, eliminação de cães comprovadamente<br />
infectados, borrifações com inseticidas à base de priretroides em domicílios<br />
com cães doentes. Em casos humanos notificados e confirmados, visando<br />
combater os mosquitos palha, ação de limpeza do domicílio e peridomicílio,<br />
tratamento das pessoas doentes, orientação à população em relação aos<br />
cuidados pessoais e ambientais e outros.<br />
11.1.12 <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
A <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> da leishmaniose visceral é um dos componentes<br />
do Programa de Controle da Leishmaniose Visceral- PCLV -, cujos<br />
objetivos são: reduzir as taxas de letalidade e o grau de morbidade por meio<br />
do diagnóstico e tratamento precoces dos casos, bem como diminuir os riscos<br />
de transmissão, mediante o controle da população de reservatórios e do<br />
agente transmissor.<br />
A vigilância da LV compreende a vigilância entomológica de casos humanos<br />
e de casos caninos.<br />
Objetivos operacionais da vigilância:<br />
• identificar as áreas vulneráveis e/ou receptivas para transmissão<br />
da LV;<br />
• avaliar a autoctonia referente ao município de residência;<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 125<br />
Você sabia que, por ser<br />
uma doença de notificação<br />
compulsória e com<br />
características clínicas<br />
de evolução grave, o<br />
diagnóstico deve ser<br />
feito de forma precisa<br />
e o mais precocemente<br />
possível?<br />
Atenção! As rotinas de<br />
diagnóstico, tratamento<br />
e acompanhamento dos<br />
pacientes necessitam ser<br />
implantadas ou implementadasobrigatoriamente<br />
em todas as áreas<br />
com transmissão ou em<br />
risco de transmissão!<br />
Olha! Os níveis de complexidade<br />
de atendimento<br />
dentro do Sistema<br />
Único de Saúde – SUS<br />
- contemplam os três<br />
níveis de atendimento<br />
ao paciente: atendimento<br />
primário – unidade<br />
de atenção primária à<br />
saúde/UAPS -, secundário<br />
- centros de saúde e<br />
policlínicas - e terciário<br />
- hospitais gerais ou de<br />
referência.<br />
O calazar, quando não tratado,<br />
pode evoluir para o óbito<br />
em mais de 90% dos casos.<br />
(BRASIL, 2009).<br />
Leishmaniose visceral é<br />
uma doença de notificação<br />
compulsória, em que<br />
todos os casos confirmados<br />
devem ser notificados<br />
e investigados pelos serviços<br />
de saúde por meio<br />
da ficha de investigação<br />
padronizada pelo Sistema<br />
de Informação de Agravos<br />
de Notificação - Sinan.<br />
A análise da situação<br />
epidemiológica indicará as<br />
ações de prevenção e controle<br />
a serem adotadas.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
A leishmaniose<br />
tegumentar americana<br />
– LTA - é também<br />
conhecida como Úlcera<br />
de Baurú e nariz de<br />
tapir.<br />
• investigar o local provável de infecção - LPI-;<br />
• conhecer a presença, a distribuição e monitorar a dispersão do<br />
vetor;<br />
• dar condições para que os profissionais da rede de saúde possam<br />
diagnosticar e tratar precocemente os casos;<br />
• dar condições para a realização do diagnóstico e a adoção de<br />
medidas preventivas, de controle e destino adequado do reservatório<br />
canino;<br />
• investigar todos os supostos óbitos de LV;<br />
• monitorar a tendência da endemia, considerando a distribuição<br />
no tempo e no espaço;<br />
• indicar as ações de prevenção de acordo com a situação epidemiológica;<br />
• desencadear e avaliar o impacto das ações de controle;<br />
• monitorar os eventos adversos aos medicamentos;<br />
• desenvolver ações de comunicação, de educação em saúde e de<br />
mobilização social, de forma intersetorial e interinstitucional,<br />
visando ao controle da LV.<br />
11.2 Leishmaniose tegumentar americana – LTA<br />
- ou ferida brava<br />
11.2.1. Definição<br />
É uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por protozoários<br />
do gênero Leishmania, de transmissão vetorial, que provoca úlceras na pele<br />
e nas mucosas.<br />
11.2.2 Agente etiológico<br />
A Leishmaniose tegumentar é causada por protozoários do gênero<br />
Leishmania. Há, no Brasil, sete espécies de leishmanias envolvidas na ocorrência<br />
de casos de LTA, sendo as mais importantes: Leishmania (Leishmania)<br />
amazonensis, L. (Viannia) guyanensis e L.(V.) braziliensis.<br />
11.2.3 Sintomas<br />
As lesões podem ocorrer na pele e/ou nas mucosas. As lesões de pele<br />
podem ser únicas, múltiplas, disseminadas ou difusas. Apresentam aspecto de<br />
úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolor.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 126<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 65: Algumas lesões características da leishmaniose tegumentar americana<br />
ou ferida brava, na orelha, no braço, na perna/coxa e na face.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
As lesões mucosas são mais frequentes no nariz, na boca e na garganta.<br />
Quando atingem o nariz, podem ocorrer entupimentos, sangramentos,<br />
coriza e o aparecimento de crostas e feridas. Na garganta, dor ao engolir,<br />
rouquidão e tosse.<br />
Figura 66: Leishmaniose mucosa (LM) ou muco cutânea. Estima-se que, de 3 a 5%<br />
dos casos de LC, desenvolvam lesão mucosa. Clinicamente, a LM expressa-se por<br />
lesões destrutivas localizadas nas mucosas das vias aéreas superiores.<br />
Fonte: Disponível em: < http://www.projis.famerp.br/grp07/default.asp?id=7&mnu=7>. Acesso em<br />
30 de abril de 2011.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 127<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Autóctone:<br />
caso que tem origem na<br />
localidade da residência<br />
do paciente.<br />
Caso importado:<br />
aquele no qual<br />
o paciente foi<br />
contaminado ou<br />
infectado em outra<br />
localidade ou região.<br />
11.2.4 Transmissão<br />
A transmissão ocorre pela picada de flebotomíneos fêmeas<br />
infectadas. Não há casos de transmissão de pessoa a pessoa.<br />
11.2.5 Tratamento<br />
É oferecido na rede do Sistema Único de Saúde – SUS. O paciente<br />
deve fazer uso de medicamentos específicos à base de antimônio pentavalente,<br />
repouso e uma boa alimentação. Atualmente, a prioridade no tratamento<br />
da LTA é o antimoniato de N-metil glucamina (Glucantime®), que só poderá<br />
ser administrado sob a orientação médica, e nunca por automedicação.<br />
11.2.6 Ações de prevenção e controle.<br />
• Desenvolver ações de comunicação, de educação em saúde e de<br />
mobilização social, de forma intersetorial e interinstitucional,<br />
visando ao controle da LTA.<br />
• Incentivar as pessoas a fazerem a proteção individual, como usar<br />
repelentes e evitar a exposição nos horários de atividades do<br />
vetor, que tem seus hábitos alimentares preferencialmente ao<br />
entardecer e à noite, e, se possível, evitar os ambientes onde<br />
possam ser encontrados o flebotomíneos.<br />
• Fazer o manejo ambiental, através da limpeza, de quintais e<br />
terrenos, a fim de alterar as condições do meio que propiciam o<br />
estabelecimento de criadouros para formas imaturas do vetor;<br />
manter a casa limpa e arejada, evitando que os mosquitos adultos<br />
escondam-se com facilidade.<br />
11.2.7 <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
A <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> visa diagnosticar e tratar precocemente<br />
os casos, visando a reduzir as complicações e deformidades provocadas pela<br />
doença; para isto, fazem-se necessárias:<br />
• notificação e<br />
• vigilância de casos humanos.<br />
11.2.7.1 Notificação e investigação de casos<br />
A LTA é uma doença de notificação compulsória, em que todo caso<br />
confirmado deve ser notificado e investigado pelos serviços de saúde, por<br />
meio da ficha de investigação padronizada pelo Sistema de Informação de<br />
Agravos de Notificação - Sinan.<br />
O seu registro é importante para o conhecimento, bem como para<br />
a classificação epidemiológica, caso autóctone ou importado e o acompanhamento<br />
dos mesmos.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 128<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
11.2.7.2 Conduta frente a um caso suspeito<br />
Segundo o Guia epidemiológico (Brasil, 2009), caderno 11, o caso<br />
suspeito deve ser submetido à investigação clínica e epidemiológica e, se<br />
disponível, aos métodos auxiliares de diagnóstico. Caso seja confirmado,<br />
iniciam-se a investigação epidemiológica e o tratamento preconizado, acompanhando-se,<br />
mensalmente, para avaliação da cura clínica, durante 3 meses,<br />
após conclusão do esquema terapêutico. Cabe-se ressaltar a importância da<br />
continuidade do acompanhamento do paciente durante 6 a 12 meses, após<br />
o término do tratamento, visando avaliar a possibilidade de ocorrência de<br />
recidiva.<br />
Após a detecção do caso de LTA, a investigação epidemiológica faz-<br />
-se necessária, de modo geral, para:<br />
• conhecer as características epidemiológicas do caso (forma clínica,<br />
idade e sexo) e a atividade econômica relacionada com a<br />
transmissão;<br />
• identificar se o paciente é proveniente de área endêmica ou se<br />
é um novo foco de transmissão;<br />
• realizar busca ativa de casos novos e caracterizá-los clínica e<br />
laboratorialmente;<br />
• realizar, se necessário, a pesquisa entomológica para a definição<br />
das espécies de flebotomíneos envolvidas com a transmissão;<br />
• avaliar o local provável de infecção – LPI - para verificar a necessidade<br />
de adoção de medidas de controle químico.<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu que:<br />
• a leishmaniose visceral – LV - ou calazar é uma doença grave que<br />
acomete o fígado, baço e a medula óssea das pessoas e de alguns<br />
animais, e que a leishmaniose tegumentar americana – LTA<br />
-, ou ferida brava, é uma doença infecciosa, não contagiosa, que<br />
provoca úlceras na pele e nas mucosas; ambas são de notificação<br />
compulsória;<br />
• as leishmanioses são transmitidas dos animais doentes às pessoas<br />
por meio do flebotomíeo fêmea infectada.<br />
• a LTA são úlceras na pele e na mucosa, enquanto a LV manifesta-<br />
-se, como o nome já diz, nas “vísceras”, no fígado, no baço e na<br />
medula óssea, deixando as pessoas com febre de longa duração,<br />
perda de apetite e emagrecimento, palidez, tosse seca, fraqueza,<br />
anemia, debilitação e, se não tratada, pode evoluir para hemorragias<br />
digestivas e icterícia; muitas vezes, levam ao óbito;<br />
• tanto os casos suspeitos da LTA como da LV devem ser submetidos<br />
à investigação clínica e epidemiológica e, após confirmados,<br />
são de notificação obrigatória;<br />
• as medidas de controle direcionadas ao homem é a proteção<br />
individual, ao vetor, o saneamento ambiental, e à população<br />
canina o controle da população canina errante e a eliminação de<br />
cães positivos para Leihsmania.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 129<br />
A detecção de casos de<br />
LTA pode ocorrer por<br />
meio de:<br />
• demanda espontânea<br />
às unidades de saúde;<br />
• busca ativa de<br />
casos em áreas de<br />
transmissão;<br />
• visitas domiciliares<br />
dos profissionais do<br />
Programa de Agentes<br />
Comunitários de Saúde<br />
– PACS -, Estratégia<br />
da Saúde da Família –<br />
ESF - e do controle das<br />
endemias;<br />
• encaminhamentos de<br />
suspeitos feitos pela<br />
rede básica de saúde.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Atividades de aprendizagem<br />
1. Qual a diferença entre a leishmaniose visceral – LV - e a tegumentar americana<br />
– LTA?Descreva a transmissão da leishmaniose visceral.<br />
2. Cite os principais sinais e sintomas do calazar no homem.<br />
3. Você já teve a oportunidade de ver um cão com sinais suspeitos do calazar?<br />
Descreva-os.<br />
4. Quais os exames recomendados para diagnosticar a leishmaniose?<br />
5. Quais são os reservatórios da leshmania chagasi?<br />
6. Qual o transmissor da leishmaniose visceral?<br />
7. Cites os agentes etiológicos da leishmaniose tegumentar americana.<br />
8. Em seu município, já foi realizado algum trabalho para identificar e<br />
controlar as leishmanioses? Descreva as ações desenvolvidas.<br />
9. Quais são os objetivos da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> no controle da LV.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 130<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Aula 12 - Dengue<br />
Objetivos<br />
• Conceituar a dengue.<br />
• Descrever a transmissão da doença via vetor e o ciclo biológico<br />
do Aedes aegypti.<br />
• Identificar o agente etiológico e os ciclos no homem e no inseto.<br />
• Descrever as manifestações clínicas da infecção por dengue e<br />
as medidas a serem tomadas diante de um caso suspeito.<br />
12.1 Introdução<br />
Nesta aula, vamos falar de uma doença que é conhecida de todos,<br />
pois, desde 1986 vêm sendo registradas epidemias em diversos estados brasileiros,<br />
fazendo muitas vítimas graves. Estou falando da Dengue, doença bastante<br />
divulgada nos meios de comunicações e pela maioria dos trabalhadores<br />
em saúde. Atualmente, a maior parte da população brasileira tem informações<br />
suficientes para se prevenir contra o seu transmissor, o mosquito Aedes<br />
aegypiti, porém falta mudança de atitude, isto é, agir antes que o mosquito<br />
faça mais uma vítima.<br />
12.2 Descrição<br />
Doença infecciosa febril aguda, que pode ser de manifestação leve<br />
ou grave, dependendo da forma como se apresenta: infecção inaparente,<br />
dengue clássico (DC), febre hemorrágica da dengue (FHD) ou síndrome do<br />
choque da dengue (SCD). Atualmente, é a mais importante arbovirose que<br />
afeta o ser humano, constituindo-se em sério problema de saúde pública no<br />
mundo. Ocorre e se dissemina especialmente nos países tropicais, onde as<br />
condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação<br />
do Aedes aegypti, principal mosquito vetor (BRASIL, 2009 p.514).<br />
12.3 Agente etiológico<br />
É um vírus RNA. Arbovírus do gênero Flavivírus, pertencente<br />
à família Flaviviridae. São conhecidos quatro sorotipos: Dengue viral 1<br />
-DENV 1, Dengue viral 2 – DENV 2, Dengue viral 3 - DENV 3 e Dengue viral<br />
4 - DENV 4.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
131<br />
Mas o que é Dengue?<br />
Quem é o seu<br />
transmissor e qual<br />
o agente causador<br />
deste mal? Como é<br />
feita a transmissão?<br />
Como investigar um<br />
caso? Quais são os<br />
objetivos da <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong> para<br />
controlar esta doença?<br />
Estas e outras perguntas<br />
é o que vamos tentar<br />
responder a seguir.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
No Brasil e em outros<br />
países, o reservatório<br />
vertebrado do DENV<br />
é o homem, porém<br />
foi descrito, na Ásia<br />
e na África, um ciclo<br />
selvagem envolvendo<br />
macacos.<br />
O mosquito aedes<br />
aegypti é originário<br />
da África; possui cor<br />
escura, rajado de<br />
branco nas patas e no<br />
corpo, em tamanho, é<br />
um pouco menor do que<br />
um pernilongo comum.<br />
O mosquito Aedes<br />
albopictus, já presente<br />
nas Américas, com<br />
ampla dispersão em<br />
todas as regiões do<br />
Brasil, é o vetor de<br />
manutenção da dengue<br />
na Ásia, mas, até o<br />
momento, não foi<br />
associado à transmissão<br />
da dengue nas<br />
Américas.<br />
12.4 Reservatório<br />
A fonte da infecção e reservatório vertebrado é o ser humano.<br />
12.5 Vetores<br />
São fêmeas dos mosquitos do gênero Aedes. A espécie Aedes aegypti<br />
é a mais importante na transmissão dos DENV e também pode ser<br />
transmissora do vírus amarílico, causador da febre amarela urbana.<br />
Figura 67: Fêmea do Aedes aegypti fazendo o repasto, alimentação indispensável<br />
para a maturação dos ovos.<br />
Fonte: Disponível em: sintracoop.com.br . Acesso<br />
em: 02 de maio de 2001.<br />
No seu ciclo de vida, o Aedes apresenta quatro fases: ovo, larva, pupa<br />
e mosquito adulto, como mostra a figura a seguir.<br />
Figura 68: Ciclo biológico do Aedes aegypti: ovo, larva, pupa e alado.<br />
Fonte: Disponível em WWW.aguilillamichoacan.gob.mx. Acessado em 03 de maio de 2011.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 132<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
O Aedes aegyptie vive, em média, de 30 a 35 dias. A fêmea põe<br />
ovos 4 a 6 vezes durante a sua vida e, a cada vez, cerca de 100 ovos, em<br />
locais preferencialmente com água limpa e parada (BRASIL, 2008).<br />
12.6 Modo de transmissão<br />
Figura 69: Forma de transmissão da dengue via vetor, a fêmea do Aedes aegypti<br />
infectada no ciclo ser humano – mosquito – ser humano.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
A transmissão faz-se pela picada das fêmeas dos mosquitos Aedes<br />
aegypti, no ciclo ser humano – Aedes aegypti – ser humano. Após um repasto<br />
de sangue infectado, o mosquito está apto a transmitir o vírus, após alguns<br />
dias de incubação. A transmissão mecânica também é possível, quando o<br />
repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, alimenta-se num hospedeiro<br />
suscetível próximo. Não há transmissão por contato direto de um<br />
doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem por intermédio<br />
de fontes de água ou alimento. Há relatos de casos de transmissão vertical,<br />
gestante para o bebê, do vírus DENV-2, ocorridos na Tailândia e na Malásia<br />
(BRASIL, 2009).<br />
12.7 Período de incubação<br />
Varia de 3 a 15 dias, sendo, em média, de 5 a 6 dias.<br />
12.8 Período de transmissibilidade<br />
O período de transmissibilidade da doença compreende dois ciclos:<br />
um intrínseco, que ocorre no ser humano, e outro extrínseco, que ocorre no<br />
vetor.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 133<br />
Segundo os relatos dos<br />
agentes de controle<br />
da dengue, são<br />
encontradas larvas em<br />
águas de esgoto e em<br />
outros locais com água<br />
suja, por isto é que<br />
falamos que o mosquito,<br />
preferencialmente,<br />
desova e/ou reproduz<br />
em locais com água<br />
limpa e parada, mas<br />
pode ser encontrado<br />
em águas impuras e até<br />
salgadas.<br />
Incubação:<br />
ato ou efeito de<br />
incubar, elaboração,<br />
preparação.<br />
Repasto: refeição.<br />
Ato do inseto em se<br />
alimentar de sangue<br />
– picada, refeição<br />
que a fêmea faz para<br />
maturação dos ovos.<br />
Intrínseco:<br />
que está dentro de<br />
uma coisa ou pessoa e<br />
lhe é próprio: interior.<br />
Período em que o<br />
vírus está circulando<br />
no sangue das pessoas<br />
infectadas.<br />
Extrínseco:<br />
que é exterior; não<br />
pertencente à essência<br />
de uma coisa. Tempo<br />
em que o vírus passa<br />
no tubo digestivo<br />
do mosquito para<br />
ficar pronto para ser<br />
transmitido via picada,<br />
forma infectante<br />
(FERREIRA, 1999).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Heteróloga<br />
Diz-se do que<br />
é composto de<br />
elementos diferentes<br />
pela origem ou pela<br />
estrutura: xenogenético<br />
(FERREIRA, 1999).<br />
12.9 Ciclo intrínseco<br />
A transmissão do ser humano para o mosquito ocorre enquanto houver<br />
presença de vírus no sangue do ser humano - período de viremia. Esse<br />
período começa 1 dia antes do aparecimento da febre e vai até o 6º dia da<br />
doença.<br />
12.10 Ciclo extrínseco<br />
No mosquito, após um repasto de sangue infectado, o vírus vai se<br />
localizar nas glândulas salivares da fêmea do mosquito, onde se multiplica,<br />
depois de 8 a 12 dias de incubação. A partir desse momento, é capaz de<br />
transmitir a doença, e assim permanece até o final de sua vida - de 6 a 8<br />
semanas.<br />
12.11 Suscetibilidade e imunidade<br />
A suscetibilidade ao vírus da dengue é universal. A imunidade é<br />
permanente para um mesmo sorotipo. Entretanto, a imunidade cruzada –<br />
heteróloga - existe temporariamente. Ou seja, se uma pessoa pegar o DENV<br />
1 e se curar, ela fica imune por toda a sua vida para este sorotipo e, temporariamente,<br />
para os demais – DENV2, DENV3 e DENV4.<br />
A suscetibilidade, em relação à FHD, não está totalmente esclarecida.<br />
Três teorias mais conhecidas tentam explicar a sua ocorrência:<br />
• teoria de Rosen – relaciona o aparecimento de FHD à virulência<br />
da cepa infectante, de modo que as formas mais graves sejam<br />
resultantes de cepas extremamente virulentas;<br />
• teoria de Halstead – relaciona a FHD com infecções sequenciais<br />
por diferentes sorotipos do vírus da dengue. Nesta teoria, a resposta<br />
imunológica, na segunda infecção, é exacerbada, o que<br />
resulta numa forma mais grave da doença;<br />
• teoria integral de multicausalidade – tem sido proposta por<br />
autores cubanos, segundo a qual se aliam vários fatores de risco<br />
às teorias de infecções sequenciais e de virulência da cepa. A<br />
interação dos fatores de risco, a seguir listados, promoveria condições<br />
para a ocorrência da FHD:<br />
– fatores individuais – menores de 15 anos e lactentes, adultos<br />
do sexo feminino, raça branca, bom estado nutricional, presença<br />
de enfermidades crônicas (alergia, diabetes, hipertensão,<br />
asma brônquica, anemia falciforme), pré-existência de<br />
anticorpos, intensidade da resposta imune anterior;<br />
– fatores virais – sorotipos circulantes e virulência das cepas;<br />
– fatores epidemiológicos – existência de população suscetível,<br />
circulação simultânea de dois ou mais sorotipos, presença de<br />
vetor eficiente, alta densidade vetorial, intervalo de tempo calculado<br />
de 3 meses e 5 anos entre duas infecções por sorotipos<br />
diferentes, sequência das infecções (DEN-2 secundário aos outros<br />
sorotipos), ampla circulação do vírus (BRASIL, 2009).<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 134<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
12.12 Aspectos clínicos e laboratoriais<br />
12.12.1 Manifestações clínicas<br />
A infecção por dengue causa uma doença cujo espectro inclui desde<br />
as formas assintomáticas até os quadros com hemorragia e choque, podendo<br />
evoluir para o óbito.<br />
a. Dengue clássico – DC<br />
A primeira manifestação é a febre alta (39° a 40°C); de início<br />
abrupto, seguida de cefaleia, mialgia, prostração, artralgia, anorexia, astenia,<br />
dor retro-orbital, náuseas, vômitos, exantema, prurido cutâneo. Hepatomegalia<br />
dolorosa pode ocorrer, ocasionalmente, desde o aparecimento<br />
da febre. Alguns aspectos clínicos dependem da idade do paciente. Desse<br />
modo, dor abdominal generalizada tem sido observada mais frequentemente<br />
entre crianças, e manifestações hemorrágicas, como petéquias, epistaxe,<br />
gengivorragia, e metrorragia, têm sido relatadas mais frequentemente entre<br />
adultos, ao fim do período febril. A doença tem duração de 5 a 7 dias, mas o<br />
período de convalescença pode ser acompanhado de grande debilidade física<br />
e prolongar-se por várias semanas.<br />
b. Febre hemorrágica da dengue – FHD<br />
Os sintomas iniciais são semelhantes aos do DC, porém há um agravamento<br />
do quadro, geralmente entre o 3º ou 4º dia de evolução, com o<br />
aparecimento de manifestações hemorrágicas e colapso circulatório. A fragilidade<br />
capilar é evidenciada pela positividade da prova do laço. Outras<br />
manifestações hemorrágicas incluem petéquias, equimoses, epistaxe, gengivorragia,<br />
hemorragia gastrintestinal, intracraniana e hemorragia espontânea<br />
pelos locais de punção venosa. Nos casos graves de FHD, o choque geralmente<br />
ocorre entre o 3º e 7º dias de doença, comumente precedido por dor<br />
abdominal. O choque é decorrente do aumento de permeabilidade vascular,<br />
seguida de extravasamento plasmático e da falência circulatória. É de curta<br />
duração e pode levar ao óbito, em 12 a 24 horas, ou à recuperação rápida,<br />
após terapia antichoque apropriada.<br />
12.12.2 Diagnóstico laboratorial<br />
a. Exames específicos<br />
Pesquisa de anticorpos IgM por testes sorológicos - ELISA - e pesquisa<br />
de vírus - isolamento viral.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 135<br />
Segundo a Organização<br />
Mundial de Saúde (OMS),<br />
a definição de FHD é<br />
baseada em critérios<br />
clínicos e laboratoriais.<br />
Após o preenchimento<br />
desses critérios, os<br />
casos devem ser<br />
classificados quanto à<br />
gravidade, de acordo<br />
com as categorias:<br />
Grau I, Grau II, Grau III,<br />
Grau IV. Os graus III e IV<br />
também são chamados<br />
síndrome do choque<br />
da dengue - SCD. Para<br />
maior conhecimento,<br />
consulte o Guia<br />
epidemiológico, caderno<br />
nove, disponível na<br />
plataforma.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
. Exames inespecíficos<br />
Hematócrito, contagem de plaquetas e dosagem de albumina são os<br />
mais importantes para o diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com<br />
dengue, especialmente os que apresentarem sinais de alarme, sangramento,<br />
e para pacientes em situações especiais, como crianças, gestantes, idosos<br />
(>65 anos), portadores de hipertensão arterial, diabetes melitus, asma brônquica,<br />
alergias, doença hematológica ou renal crônicas, doença severa do sistema<br />
cardiovascular, doença ácido-péptica ou doença autoimune.<br />
12.13 Tratamento<br />
O tratamento baseia-se principalmente nos sinais e sintomas apresentados<br />
pelo paciente – tratamento sintomático. É muito importante o reconhecimento<br />
precoce dos sinais e dos sintomas para se iniciar a intervenção.<br />
Nunca se pode esquecer da hidratação adequada.<br />
Todo tratamento deve ser orientado pelo profissional médico.<br />
12.14 Aspectos epidemiológicos<br />
Tem sido observado um padrão sazonal de incidência coincidente<br />
com o verão, devido à maior ocorrência de chuvas e ao aumento da temperatura<br />
nessa estação. É mais comum nos núcleos urbanos, onde é maior<br />
a quantidade de criadouros naturais ou resultantes da ação do ser humano.<br />
Entretanto, a doença pode ocorrer em qualquer localidade, desde que exista<br />
população humana suscetível, presença do vetor e o vírus.<br />
A - Nas Américas<br />
A dengue tem sido relatada nas Américas há mais de 200 anos. Na<br />
década de 1950, a FHD foi descrita, pela primeira vez, nas Filipinas e na<br />
Tailândia. Após a década de 1960, a circulação do vírus da dengue intensificou-se<br />
nas Américas. A partir de 1963, houve circulação comprovada dos<br />
sorotipos 2 e 3 em vários países. Em 1977, o sorotipo 1 foi introduzido nas<br />
Américas, inicialmente, pela Jamaica. A partir de 1980, foram notificadas<br />
epidemias em vários países, aumentando consideravelmente a magnitude<br />
do problema. Cabe citar: Brasil (1982/1986/2002/2008), Bolívia (1987), Paraguai<br />
(1988), Equador (1988), Peru (1990) e Cuba (1977/1981). A FHD que<br />
afetou Cuba, em 1981, é considerada como evento de extrema importância<br />
na história da dengue nas Américas. Essa epidemia foi causada pelo sorotipo<br />
2, tendo sido o primeiro relato de febre hemorrágica da dengue ocorrido<br />
fora do Sudeste Asiático e do Pacífico Ocidental. O segundo surto ocorreu na<br />
Venezuela, em 1989.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 136<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
B - No Brasil<br />
Há referências de epidemias desde o século XIX. No século passado,<br />
há relatos, em 1916, em São Paulo, e, em 1923, em Niterói, no Rio de Janeiro,<br />
sem diagnóstico laboratorial. A primeira epidemia documentada clínica<br />
e laboratorialmente ocorreu em 1981-1982, em Boa Vista/RR, causada pelos<br />
sorotipos 1 e 4. Em 1986, ocorreram epidemias, atingindo o Rio de Janeiro<br />
e algumas capitais da região Nordeste. Desde então, a dengue vem ocorrendo<br />
no Brasil de forma continuada, intercalando-se com a ocorrência de<br />
epidemias geralmente associadas com a introdução de novos sorotipos em<br />
áreas anteriormente indenes ou com alteração do sorotipo predominante.<br />
Na epidemia de 1986, identificou-se a ocorrência da circulação do sorotipo<br />
DENV1, inicialmente, no estado do Rio de Janeiro, disseminando-se, a seguir,<br />
para outros seis estados até 1990. Neste ano, foi identificada a circulação de<br />
um novo sorotipo, o DENV2, também no estado do Rio de Janeiro. Durante a<br />
década de 1990, ocorreu um aumento significativo da incidência, reflexo da<br />
ampla dispersão do A. aegypti no território nacional. A presença do vetor associada<br />
à mobilidade da população levou à disseminação dos sorotipos 1 e 2<br />
para 20 dos 27 estados do país. Entre os anos de 1990 e 2000, várias epidemias<br />
foram registradas, sobretudo nos grandes centros urbanos das regiões Sudeste<br />
e Nordeste, responsáveis pela maior parte dos casos notificados. As regiões<br />
Centro-oeste e Norte foram acometidas mais tardiamente, pois as epidemias só<br />
foram registradas a partir da segunda metade da década de 1990.<br />
A circulação do DENV 3 foi identificada, pela primeira vez, em dezembro<br />
de 2000, também no estado do Rio de Janeiro, e, posteriormente, no<br />
estado de Roraima, em novembro de 2001. Em 2002, foi observada a maior<br />
incidência da doença, quando foram confirmados cerca de 697.000 casos,<br />
refletindo a introdução do sorotipo 3. Essa epidemia levou a uma rápida<br />
dispersão do DENV3 para outros estados, sendo que, em 2004, 23 dos 27<br />
estados do país já apresentavam a circulação simultânea dos sorotipos 1, 2 e<br />
3 do vírus da dengue.<br />
No Brasil, os adultos jovens foram os mais atingidos pela doença<br />
desde a introdução do vírus.<br />
No entanto, a partir de 2006, alguns estados apresentaram a recirculação<br />
do sorotipo 2, após alguns anos de predomínio do DENV3. Esse<br />
cenário levou a um aumento no número de casos, de formas graves e de hospitalizações<br />
em crianças, principalmente no Nordeste do país. Em 2008, novas<br />
epidemias causadas pelo DENV2 ocorreram em diversos estados do país,<br />
marcando o pior cenário da doença no Brasil em relação ao total de internações<br />
e de óbitos; até o momento, essas epidemias foram caracterizadas por<br />
um padrão de gravidade em crianças, que representaram mais de 50% dos<br />
casos internados nos municípios de maior contingente populacional. Mesmo<br />
em municípios com menor população, mais de 25% dos pacientes internados<br />
por dengue eram crianças, o que evidencia que todo o país vem sofrendo,<br />
de maneira semelhante, essas alterações no perfil da doença (Brasil, 2009).<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 137<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
12.15 <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
Objetivos<br />
• Detectar precocemente os casos, visando promover tratamento<br />
adequado e oportuno e reduzir a morbidade e, consequentemente,<br />
evitar o óbito.<br />
• Detectar precocemente o aumento de ocorrência da doença<br />
para a adoção de medidas de controle, evitando que<br />
processos epidêmicos se instalem.<br />
• Realizar investigação para identificar a área de transmissão<br />
e orientar ações integradas de bloqueio e de controle<br />
vetorial.<br />
• Acompanhar a curva epidêmica, identificando a área de<br />
maior ocorrência de casos e os grupos mais acometidos,<br />
visando controlar a transmissão em curso.<br />
• Realizar investigação de óbitos suspeitos, visando identificar<br />
possíveis determinantes.<br />
Definição de caso<br />
Caso suspeito de dengue clássico – segundo o Guia Epidemiológico<br />
(Brasil, 2009), paciente que tenha doença febril aguda, com duração<br />
máxima de 7 dias, acompanhada de pelo menos dois sintomas.<br />
Notificação<br />
Dengue, por ser uma doença de notificação compulsória, devrá ter<br />
todo caso suspeito e/ou confirmado comunicado ao Serviço de <strong>Vigilância</strong><br />
<strong>Epidemiológica</strong> imediatamente. Esse serviço deverá informar, no ato, o fato<br />
à equipe de controle vetorial local para a adoção das medidas necessárias ao<br />
combate do vetor. Em situações epidêmicas, a coleta e o fluxo dos dados devem<br />
permitir o acompanhamento da curva epidêmica, com vistas ao desencadeamento<br />
e à avaliação das medidas de controle. Os casos graves devem<br />
ser notificados e investigados imediatamente, preferencialmente durante o<br />
período de hospitalização.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 138<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Medidas a serem adotadas<br />
Figura 70: Procedimentos a serem implementados em município com transmissão<br />
endêmica de dengue.<br />
Fonte: Guia de vigilância epidemiológica (Brasília, 2009. p. 525).<br />
Atenção médica ao paciente; qualidade da assistência; proteção<br />
individual para evitar circulação viral, recomendável o manejo ambiental, a<br />
busca e a eliminação de possíveis criadouros do mosquito, tanto no domicílio<br />
quanto no peridomicílio, visando eliminar a proliferação dos mosquitos;<br />
proteção á população, ações de bloqueio na área provável de transmissão,<br />
visando eliminar fêmeas do vetor, responsáveis pela transmissão, e desenvolver<br />
ações educativas de forma individual e coletiva.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 139<br />
Esses procedimentos<br />
acima não podem<br />
aguardar resultados de<br />
exames laboratoriais<br />
para a confirmação dos<br />
casos suspeitos.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 71: Medidas de controle do Aedes aegypti vão desde o controle químico,<br />
construção de aterro sanitário, ações educativas e de mobilização até as mais<br />
simples mudanças de atitudes em relação a objetos que se encontram em casa e/ou<br />
no quintal, como: limpeza de compartimento de água da geladeira, colocar garrafas<br />
de gargalo para baixo, tampar caixas d`água, limpar os pratinhos das plantas,<br />
manter pneus sem água e cobertos, manter o lixo tampado.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu:<br />
• a definição de dengue e que essa doença é causada por quatro<br />
sorotipos: DENV 1, DENV2, DENV3 e DENV4;<br />
• que o vírus da dengue é transmitido ao homem através da picada<br />
da fêmea do Aedes aegypti infectada;<br />
• o ciclo biológico do Aedes aegypti é ovo, larva, pupa e mosquito<br />
adulto – alado -, e que vivem em média 30 a 35 dias;<br />
• que o agente etiológico passa por dois ciclos: um intrínseco, no<br />
homem, e outro extrínseco, no inseto;<br />
• que a suscetibilidade ao vírus da dengue é universal. A imunidade<br />
é permanente para um mesmo sorotipo e, temporariamente,<br />
para outras cepas;<br />
• que manifestações clínicas da infecção por dengue vão desde<br />
formas assintomáticas até quadros com hemorragia e choque,<br />
podendo evoluir para o óbito;<br />
• que todo caso suspeito de dengue deve ser notificado e serem<br />
tomadas medidas preventivas e educativas.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 140<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Atividades de aprendizagem<br />
1. Qual a definição de dengue?<br />
2. Descreva a forma de transmissão da doença.<br />
3. Qual o ciclo biológico do vetor?<br />
4. Qual o agente etiológico da dengue?<br />
5. Cite as manifestações clinicas da dengue.<br />
6. Relacione os procedimentos a serem tomados diante de um caso suspeito<br />
de dengue.<br />
7. Descreva a forma de controle do mosquito.<br />
8. Onde são encontrados os focos de mosquito em sua cidade?<br />
9. Quem e como fazem o trabalho de controle do mosquito em seu território?<br />
10. Já foi notificado algum caso de dengue em sua cidade? Quantos?<br />
11. Quais foram as ações desenvolvidas para conter o avanço da doença?<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 141<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
AULA 1<br />
Alfabetização Digital<br />
Aula 13 – Influenza - H1N1<br />
13beijos.blogspot.com<br />
13beijos.blogspot.com13beijos.blogspot.com<br />
Objetivos<br />
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você<br />
seja capaz de:<br />
• conceituar a doença influenza;<br />
• descrever o agente causador, as formas de contágio, os sinais<br />
e sintomas, o tratamento e a profilaxia ou as medidas<br />
preventivas;<br />
• identificar as ações da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> diante de<br />
casos suspeitos e/ou confirmados.<br />
13.1 Introdução<br />
A influenza – H1N1 - tem sido motivo de preocupação nos últimos<br />
tempos em todo o mundo, por isso, nesta aula, vamos conhecer melhor<br />
essa doença para que possamos, como futuros técnicos de <strong>Vigilância</strong> em<br />
Saúde, evitar o contágio e orientarmos a população a tomar os seus devidos<br />
cuidados.<br />
13.2 Descrição<br />
A influenza ou gripe é uma infecção viral aguda do sistema respiratório,<br />
de elevada transmissibilidade. Um indivíduo pode contraí-la várias<br />
vezes ao longo de sua vida. Esta doença pode se apresentar de forma<br />
grave, por isso tornou-se um problema de saúde pública, demandando<br />
abordagens específicas de vigilância e controle. Ela aparece de duas formas:<br />
sazonal e pandêmica.<br />
13.2.1 Influenza sazonal<br />
Classicamente, o quadro clínico da influenza sazonal tem início com<br />
febre (≥38°C), tosse seca, dor de garganta, mialgia, dor de cabeça e prostração,<br />
com evolução autolimitada, de poucos dias. Pode gerar ou desenvolver<br />
algumas complicações, como as pneumonias, que geram grande número de<br />
internações hospitalares.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I<br />
143<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Surtos:<br />
Arranco, impulso,<br />
aparecimento<br />
repentino. No caso da<br />
infuenza, notificação de<br />
vários casos suspeitos<br />
e confirmados em<br />
determinado local<br />
ou localidade em um<br />
pequeno espaço de<br />
tempo.<br />
Magnitude:<br />
importância e<br />
gravidade.<br />
Figura 72: O desenho mostra o quadro sintomático da H1N1, febre alta, mal-estar e<br />
tosse seca.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco, em 06-05-2011.<br />
No Brasil, o padrão de sazonalidade varia entre as diversas regiões,<br />
sendo mais marcado naquelas que têm estações climáticas bem definidas,<br />
ocorrendo com maior frequência nos meses mais frios.<br />
Segundo o Guia Epidemiológico (Brasil, 2009), a influenza sazonal<br />
pode manifestar-se por meio de surtos anuais de magnitude, gravidade e<br />
extensão variáveis. É também frequentemente confundida com outras viroses<br />
respiratórias, por isso o diagnóstico para confirmação geralmente é feito<br />
mediante exame laboratorial específico.<br />
A figura a seguir mostra como funciona a influenza – H1N1 - no ser<br />
humano.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 144<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 73: Figura mostra como o vírus entra no trato respiratório, sua multiplicação<br />
e a produção dos primeiros sintomas da influenza - H1N1 - ao atingir a corrente<br />
sanguínea.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em 07 de maio<br />
de 2011.<br />
13.2.2 Influenza pandêmica ou com potencial pandêmico<br />
Os vírus da influenza A e B possuem vários subtipos que sofrem<br />
contínuas mutações, surgindo novas cepas. Em geral, as novas cepas que<br />
passam a infectar humanos apresentam diferentes graus de distinção em<br />
relação àquelas até então circulantes, devido ao referido processo de<br />
mutação.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 145<br />
Quando os vírus sofrem<br />
contínuas mutações,<br />
o risco de produção<br />
de epidemias ou<br />
pandemias é muito<br />
elevado, em virtude<br />
da suscetibilidade das<br />
populações aos novos<br />
subtipos. A detecção<br />
de epizootias de<br />
influenza aviária de<br />
alta patogenicidade<br />
– vírus A(H5N1) –,<br />
principalmente em<br />
aves silvestres, na Ásia,<br />
África e Europa, teve<br />
repercussões para a<br />
economia dos países<br />
afetados e para a saúde<br />
humana. Em abril de<br />
2009, foi decretada<br />
pandemia provocada<br />
pelo novo vírus da<br />
influenza A(H1N1), que<br />
está circulando em mais<br />
de 170 países, o que<br />
colocou em alerta a<br />
saúde pública mundial.<br />
Epidemias:<br />
elevado número de<br />
casos registrados de<br />
uma determinada<br />
doença em uma região<br />
ou país em curto espaço<br />
de tempo; pandemia é<br />
quando isso acontece<br />
em vários países e ou<br />
continentes.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Os vírus influenza A<br />
são mais suscetíveis a<br />
variações antigênicas,<br />
periodicamente,<br />
sofrem alterações<br />
em sua estrutura<br />
genômica, contribuindo<br />
para a existência de<br />
diversos subtipos.<br />
São responsáveis pela<br />
ocorrência da maioria<br />
das epidemias de gripe.<br />
Os vírus influenza B<br />
sofrem menos variações<br />
antigênicas e, por<br />
isso, estão associados<br />
com epidemias mais<br />
localizadas. Os vírus<br />
influenza C são<br />
antigenicamente<br />
estáveis, provocam<br />
doença subclínica<br />
e não ocasionam<br />
epidemias, motivo pelo<br />
qual merecem menos<br />
destaque em saúde<br />
pública.<br />
As aves migratórias,<br />
principalmente<br />
as aquáticas e<br />
as silvestres,<br />
desempenham<br />
importante papel na<br />
disseminação natural da<br />
doença entre distintos<br />
pontos do globo<br />
terrestre.<br />
Em geral, a transmissão<br />
ocorre dentro da mesma<br />
espécie, exceto no<br />
porco, cujas células têm<br />
receptores para os vírus<br />
humanos e aviários.<br />
Os vírus influenza do<br />
tipo A infectam seres<br />
humanos, suínos,<br />
cavalos, mamíferos<br />
marinhos e aves; os<br />
do tipo B ocorrem<br />
exclusivamente em<br />
seres humanos; e os<br />
do tipo C, em seres<br />
humanos e suínos.<br />
13.3 Sinonímia<br />
Gripe, influenza humana sazonal, influenza humana pandêmica, influenza<br />
A(H1N1)2009 pandêmica, influenza aviária.<br />
13.4 Agente etiológico<br />
O vírus Influenza, da família Ortomixiviridae, é um vírus com RNA<br />
de hélice única, que se subdivide em três tipos antigenicamente distintos:<br />
A, B e C.<br />
Figura 74: Vírus H5N1 altamente patogênico da gripe aviária.<br />
Fonte: noticias.r7.com. Disponível em: . Acesso no dia 08 de maio de<br />
2011.<br />
13.5 Reservatório<br />
Os reservatórios conhecidos na natureza são os seres humanos, os<br />
suínos, os equinos, as focas e as aves.<br />
13.6 Modo de transmissão<br />
13.6.1 Influenza sazonal<br />
O modo de transmissão mais comum é a transmissão direta - pessoa<br />
a pessoa -, por meio de pequenas gotículas de aerossol, expelidas pelo indivíduo<br />
infectado com o vírus influenza às pessoas suscetíveis.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 146<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 75: O desenho mostra uma pessoa expelindo o vírus H1N1 através do<br />
espirro, uma das maneiras de transmissão direta da doença.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco em 06-05-2011.<br />
Os indivíduos adultos saudáveis infectados transmitem o vírus 24 a<br />
48 horas antes do início dos sintomas, porém a títulos muito mais baixos do<br />
que durante o período sintomático.<br />
Pessoas com alto grau de imunodepressão podem excretar vírus por<br />
semanas ou meses. As crianças, comparadas aos adultos, também excretam<br />
vírus mais precocemente, por longos períodos e com maior carga viral.<br />
A influenza também pode ser transmitida pela forma indireta, desde<br />
que uma pessoa susceptível entre em contato as secreções dos doentes.<br />
Figura 76: O desenho mostra que a transmissão pode se dar através de objetos<br />
contaminados por secreção de pessoas portadoras do H1N1.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco em 06-05-2011.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 147<br />
As mãos são o<br />
principal veículo,<br />
ao propiciarem<br />
a introdução de<br />
partículas virais<br />
diretamente nas<br />
mucosas oral, nasal e<br />
ocular. Essa forma de<br />
transmissão depende<br />
de vários fatores:<br />
a carga viral, os<br />
ambientais - umidade<br />
e temperatura -, o<br />
tempo transcorrido<br />
entre a contaminação<br />
e o contato com<br />
a superfície<br />
contaminada.<br />
Apesar de a<br />
transmissão interhumana<br />
ser a mais<br />
comum, já foi<br />
documentada, para a<br />
influenza A(H1N1)2009<br />
pandêmica, a<br />
transmissão direta do<br />
vírus entre seres de<br />
espécies diferentes,<br />
especialmente a partir<br />
de aves e suínos para o<br />
homem.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
13.6.2 Influenza pandêmica ou com potencial pandêmico<br />
Os vírus da influenza aviária estão presentes nas fezes, no sangue<br />
e nas secreções respiratórias das aves infectadas. Desse modo, a contaminação<br />
humana, ainda que rara, pode ocorrer por meio da inalação dessas<br />
secreções, inclusive durante a limpeza e a manutenção nos aviários ou criadouros,<br />
sem os cuidados necessários de proteção, ou durante o abate ou<br />
manuseio de aves infectadas.<br />
Figura 77: O vírus da gripe aviária H5N1 tornou-se comum entre as aves<br />
domésticas na Ásia. Autoridades acreditavam que as feiras livres de aves levaram à<br />
disseminação da doença.<br />
Fonte: Disponível em WWW.saude.hsw.uol.com.<br />
br. Cortesia de MorgueFile. Acesso em 06-05-2011.<br />
Neste momento, você está se perguntando se pode pegar gripe<br />
aviária comendo carne de frango.<br />
A resposta é não. Segundo os estudiosos do assunto, o perfeito<br />
cozimento mata o vírus da gripe, assim como qualquer bactéria que possa<br />
estar relacionada ao frango. Isso não te isenta de continuar seguindo os<br />
procedimentos padrões de higiene no preparo. Ferramentas de cozinha e<br />
superfícies usadas no preparo do frango antes do cozimento devem ser<br />
completamente higienizadas. Tábuas para cortar o frango cru não devem<br />
ser usadas para o preparo de vegetais ou de outros alimentos que serão<br />
comidos crus.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 148<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
13.7 Período de incubação<br />
13.7.1 Influenza sazonal<br />
Em geral, de 1 a 4 dias.<br />
13.7.2 Influenza pandêmica ou com potencial pandêmico<br />
Segundo a OMS, apesar da escassez de informação com fundamentação<br />
científica disponível, alguns estudos indicam que o período de incubação<br />
da influenza aviária é mais longo do que o período conhecido para outros<br />
tipos de influenza, variando de 1 a 7 dias.<br />
13.8 Período de transmissibilidade<br />
13.8.1 Influenza sazonal<br />
Um indivíduo infectado pode transmitir o vírus desde 2 dias antes<br />
do início dos sintomas até 5 dias após o início dos sintomas.<br />
13.8.2 Influenza pandêmica ou com potencial pandêmico<br />
Até o presente momento, não foi identificada transmissão interhumana<br />
do vírus da influenza aviária H5N1, fundamentada cientificamente.<br />
As informações preliminares dos casos de influenza A(H1N1)2009<br />
pandêmica investigados até o momento indicam que, para o adulto, o período<br />
pode variar de 1 dia antes até o 7° dia após o início dos sintomas e, para<br />
menores de 12 anos, 1 dia antes até o 14° dia após o início dos sintomas.<br />
13.9 Suscetibilidade e imunidade<br />
Os vírus influenza acometem pessoas de todas as faixas etárias.<br />
Nos adultos sadios, a recuperação geralmente é rápida. Entretanto, complicações<br />
graves podem ocorrer em indivíduos pertencentes aos extremos etários,<br />
como os idosos e as crianças menores de 2 anos, o que pode determinar<br />
elevados níveis de morbimortalidade.<br />
A imunidade aos vírus da influenza resulta de infecção natural ou<br />
por meio de vacinação anterior com o vírus homólogo. Assim, um hospedeiro<br />
que tenha tido uma infecção com determinada cepa do vírus influenza terá<br />
pouca ou nenhuma imunidade a uma nova infecção com a cepa variante do<br />
mesmo vírus. Isso explica, em parte, a grande capacidade deste vírus em<br />
causar frequentes epidemias e a necessidade de atualização constante da<br />
composição da vacina com as cepas circulantes.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 149<br />
A pandemia de 1918<br />
Em 1918 e 1919, uma<br />
cepa mortal da gripe<br />
matou 50 milhões de<br />
pessoas no mundo<br />
todo. O vírus apareceu<br />
primeiramente no<br />
Kansas e se espalhou<br />
para o resto do<br />
mundo, levado pelos<br />
soldados que lutavam<br />
na Primeira Guerra<br />
Mundial. Recentemente,<br />
cientistas reconstruíram<br />
o vírus e, agora,<br />
acreditam que ele pode<br />
ter se originado a partir<br />
das aves.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 78: Demonstra que, quando o caso é prevenção contra a gripe aviária, o<br />
importante é manter a distância!<br />
Fonte: Disponível em: clubedazueira.blogspot.com>. Acesso em 07 de maio<br />
de 2011.<br />
13.10 Aspectos clínicos e laboratoriais<br />
13.10.1 Manifestações clínicas<br />
13.10.1.1 Influenza sazonal<br />
Febre alta, em geral, acima de 38°C, seguida de mialgia, dor de<br />
garganta, prostração, cefaleia e tosse seca. A febre é, sem dúvida, o sintoma<br />
mais importante e perdura em torno de 3 dias. Os sintomas sistêmicos são<br />
muito intensos nos primeiros dias da doença. Com a sua progressão, os sintomas<br />
respiratórios tornam-se mais evidentes e mantêm-se, em geral, por 3 a 4<br />
dias após o desaparecimento da febre. É comum a queixa de garganta seca,<br />
rouquidão, tosse seca e queimação retroesternal ao tossir, bem como pele<br />
quente e úmida, olhos hiperemiados e lacrimejantes. Há hiperemia das mucosas,<br />
com aumento de secreção nasal hialina. O quadro clínico em adultos<br />
sadios pode variar de intensidade. Nas crianças, a temperatura pode atingir<br />
níveis mais altos. Quadros de bronquite ou bronquiolite, além de sintomas<br />
gastrointestinais, também podem fazer parte da apresentação clínica em<br />
crianças. Os idosos quase sempre se apresentam febris, às vezes, sem outros<br />
sintomas, mas, em geral, a temperatura não atinge níveis tão altos. As situações<br />
reconhecidamente de risco incluem doença pulmonar crônica - asma<br />
e doença pulmonar obstrutiva crônica/DPOC -, cardiopatias - insuficiência<br />
cardíaca crônica -, doença metabólica crônica – diabetes.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 150<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 79: O desenho mostra o quadro sintomático da H1N1. Febre alta, mal-estar,<br />
dor de cabeça, dor de garganta, mialgia e prostração.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”. Joaquim<br />
Francisco.<br />
13.10.1.2 Influenza pandêmica ou com potencial pandêmico<br />
A descrição dos casos de pacientes hospitalizados infectados por<br />
influenza A(H1N1)2009 pandêmica revela que as manifestações iniciais são<br />
iguais às da influenza sazonal. Porém há relato da presença de diarreia, vômitos,<br />
dor abdominal, dor pleurítica e sangramento do nariz e da gengiva. O<br />
quadro pode evoluir para insuficiência respiratória aguda (IRA).<br />
13.10.2 Diagnóstico diferencial<br />
As características clínicas não são específicas e podem ser similares<br />
àquelas causadas por outros vírus respiratórios, que também ocorrem sob a<br />
forma de surtos e, eventualmente, circulam ao mesmo tempo. Apesar dos<br />
sintomas sistêmicos serem mais intensos na influenza do que nas demais<br />
infecções virais, cursam com quadro clínico semelhante, daí a denominação<br />
de síndrome gripal.<br />
13.10.2.1 Diagnóstico laboratorial<br />
Coleta e exame da secreção da nasofaringe – SNF -, preferencialmente<br />
até o 3° dia.<br />
O isolamento viral e as técnicas de biologia molecular são realizados<br />
nos três laboratórios de referência: Instituto Evandro Chagas/SVS/MS, Fiocruz/<br />
MS, Instituto Adolfo Lutz/SES/SP e Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz/RJ.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 151<br />
Visite o site: www.saude.<br />
gov.br e acesse o Guia<br />
epidemiológico, 7ª ed.<br />
Secretaria de <strong>Vigilância</strong><br />
em Saúde /MS.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
13.11 Tratamento<br />
Sabemos que existem vários antivirais que podem ser indicados,<br />
porém, diante dos primeiros sintomas, o paciente deverá procurar o médico<br />
e seguir todas as orientações.<br />
Os indivíduos com síndrome gripal, que apresentam fator de risco<br />
para as complicações de influenza, requerem – obrigatoriamente – avaliação<br />
e monitoramento clínico constante de seu médico assistente para a indicação<br />
ou não do tratamento com o antiviral, além da adoção de todas as demais<br />
medidas terapêuticas.<br />
13.12 <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
A <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> da influenza é realizada em diversos<br />
países do mundo. Surgiu em 1947, voltada, inicialmente, para a identificação<br />
da circulação dos vírus influenza, com a incorporação, posteriormente, do<br />
monitoramento das cargas de morbidade e mortalidade por essa doença.<br />
Essa rede mundial é composta por 112 laboratórios em 83 países, coordenados<br />
por quatro laboratórios de referência, localizados na Inglaterra, Estados<br />
Unidos da América, Austrália e Japão, vinculados à OMS.<br />
13.12.1 Objetivos da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong><br />
• Monitorar as cepas dos vírus influenza que circulam nas regiões<br />
brasileiras.<br />
• Avaliar o impacto da vacinação contra a doença.<br />
• Acompanhar a tendência da morbidade e da mortalidade associadas<br />
à doença.<br />
13.12.2 Definição de caso de síndrome gripal<br />
Esta síndrome caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas<br />
respiratórios de origem infecciosa, decorrentes do comprometimento das<br />
vias aéreas superiores e/ou inferiores.<br />
Para efeito da vigilância da influenza, síndrome gripal é definida<br />
como:<br />
• suspeita – indivíduo com doença aguda, com duração máxima<br />
de 5 dias, apresentando febre e tosse, dor de garganta e outros<br />
sintomas já citados neta aula;• confirmada – quando for identificado,<br />
através de exame laboratorial, o vírus da influenza; OUA<br />
confirmação por vínculo epidemiológico;<br />
• descartada – quando o resultado do exame for negativo, em<br />
amostra adequadamente colhida e transportada, ou quando for<br />
identificado, laboratorialmente, outro agente etiológico, que<br />
não o vírus da influenza.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 152<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
13.12.3 Notificação<br />
As autoridades locais de saúde deverão ser imediatamente notificadas<br />
diante de qualquer suspeita de influenza – H1N1 -, seguindo as orientações<br />
da SVS e MS.<br />
Se você quiser compreender melhor o que deve ser notificado,<br />
acesse o Guia de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> na plataforma do curso ou no site<br />
do MS: www.saude.gov.br/sinanweb e www.saude.gov.br/svs.<br />
13.13 Instrumentos disponíveis para controle<br />
Influenza sazonal<br />
A vacina é a melhor estratégia disponível para a prevenção da influenza<br />
e das suas consequências, proporcionando impacto indireto na diminuição<br />
do absenteísmo no trabalho e dos gastos com medicamentos para<br />
o tratamento de infecções secundárias, das internações hospitalares e da<br />
mortalidade evitável.<br />
Figura 80: Campanha de vacinação contra a Influenza –H1N, março de 2010.<br />
Fonte: Acervo do autor.<br />
A vacina utilizada no Brasil é constituída por três tipos de cepas dos<br />
vírus influenza, sendo dois tipos de vírus de influenza A e um vírus de influenza<br />
B. Para conferir proteção adequada, a vacina deve ser administrada<br />
a cada ano, já que a sua composição também varia anualmente, em função<br />
das cepas circulantes.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 153<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Essa vacina é oferecida por meio de campanhas anuais, cujo período<br />
deve ser anterior ao período de maior circulação do vírus na população<br />
do país. Está disponível também nos Centros de Referência para Imunobiológicos<br />
Especiais – CRIE.<br />
Após a vacinação em adultos saudáveis, a detecção de anticorpos<br />
protetores ocorre entre 1 a 2 semanas, e o seu pico máximo é após 4 a 6<br />
semanas.<br />
13.14 Medidas adicionais de prevenção e controle<br />
Além da investigação epidemiológica e da investigação clínico-laboratorial,<br />
outras medidas devem ser adotadas, como:<br />
Figura 81: Demonstra a higienização das mãos com água e sabão, depois de tossir<br />
ou espirrar, após usar o banheiro, antes das refeições, antes de tocar os olhos, a<br />
boca e o nariz.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 154<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figura 82: Orienta a proteger com lenços, preferencialmente descartáveis a cada<br />
uso, a boca e o nariz, ao tossir ou espirrar, para evitar disseminação de aerossóis.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
Figura 83: Orienta para que o doente evite o contato com outras pessoas.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 155<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Figura 84: Orienta para que não sejam usados copos, talheres e outros objetos de<br />
pessoas doentes com H1N1.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
Figura 85: Orienta evitar os ambientes fechados para quem estiver com H1N1.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
Figura 86: Orienta a manter ambientes arejados.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 156<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Figuras 87: Orienta a evitar aglomerações e ambientes fechados e manter os<br />
ambientes ventilados.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
Figura 88: Recomenda ingerir líquidos, repouso, boa alimentação e, após a<br />
recuperação, participar de atividade física.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
Figura 89: Orienta a nunca tomar medicamento sem orientação médica.<br />
Fonte: Foto tirada do cartaz do Ministério da Saúde, “Todos contra a Influenza A (H1N1)”, por<br />
Joaquim Francisco de Lima.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 157<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
Resumo<br />
Nesta aula, você aprendeu:<br />
• que a influenza ou gripe é uma infecção viral aguda do sistema<br />
respiratório, de elevada transmissibilidade;<br />
• que os sinais e sintomas da influenza são: febre (≥38°C), tosse<br />
seca, dor de garganta, mialgia, dor de cabeça e prostração;<br />
• que o agente causador da influenza é o vírus Influenza;<br />
• que os vírus são transmitidos de forma direta ou indireta, ou<br />
seja, pelo contato com a secreção da pessoa ou do animal doente<br />
ou através de objetos contaminados com essas secreções;<br />
• que as medidas de controle, além da investigação epidemiológica,<br />
a vacina e as práticas de higiene da pessoa e dos objetos<br />
usadas pelo doente, como lavar aos mãos, proteger o nariz e a<br />
boca, ao tossir ou espirrar, com lenço descartável, entre outras.<br />
Atividades de aprendizagem<br />
1. Conceitue a influenza.<br />
2. Qual é o agente causador?<br />
3. Como se pega essa doença?<br />
4. Quais os sintomas da influenza?<br />
5. Como se deve fazer o tratamento dessa doença?<br />
6. O que fazer para evitar ou combater a influenza?<br />
7. Explique por que comendo frango bem cozido não se corre o risco de<br />
pegar a gripe aviária.<br />
8. Cite três objetivos da <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>.<br />
9. Descreva as medidas preventivas da influenza desenvolvidas no seu município?<br />
10. No seu ponto de vista, por que a maior incidência da influenza acontece<br />
no período mais frio?<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 158<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Referências<br />
ALMEIDA, Eurivaldo Sampaio. Distritos Sanitários: Concepção e Organização,<br />
volume 1 / Eurivaldo Sampaio de Almeida, Cláudio Gastão Junqueira de Castro,<br />
Carlos Alberto Lisboa Vieira. – São Paulo : Faculdade de Saúde Pública da<br />
Universidade de São Paulo, 1998. – – (Série Saúde & Cidadania).<br />
Realizadores: “Instituto para o Desenvolvimento da Saúde – IDS, Núcleo de<br />
Assistência Médico-Hospitalar – NAMH/FSP – USP, Banco Itaú”.<br />
1. Distritos sanitários – Brasil 2. Municípios – Governo e administração – Brasil<br />
3. Serviços de saúde – Administração – Brasil 4. Sistema Único de Saúde. (Brasil)<br />
I. Castro, Cláudio Gastão Junqueira de. II. Vieira, Carlos Alberto Lisboa.<br />
III. Título. IV. Série. 98–4494 CDD–362.1068<br />
ALONZO, et al. O Subsistema Nacional de <strong>Vigilância</strong> em Saúde Ambiental<br />
(SINVSA) e seus Desafios. In: Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Associação<br />
Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (coord) Cadernos de<br />
Texto da I Conferência Nacional de Saúde Ambiental, 2009, disponível em:<br />
< http://189.28.128.179: 8080/pisast/material-institucional/cnsa-1/livro-1a-<br />
-cnsa-caderno-de-texto-1a-cnsa.pdf/tdownload/file > Acessado em 01 de setembro<br />
de 2009.<br />
BRASIL. Agencia Nacional de <strong>Vigilância</strong> Sanitária. Prevenção e controle à<br />
fiscalização e Fraude de Medicamentos / Agencia Nacional de <strong>Vigilância</strong> Sanitária.<br />
Brasília; Anvisa, 2010.<br />
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições<br />
para a promoção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento<br />
dos serviços correspondentes, e dá outras providências. Diário Oficial da<br />
União, Brasília, p. 18055, 20 set. 1990. Seção I.<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Nacional de <strong>Vigilância</strong> Ambiental em<br />
Saúde. Editora MS. Brasília, DF. 2003.<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde. <strong>Vigilância</strong> e<br />
controle da qualidade da água para consumo humano. Ministério da Saúde,<br />
Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006.212 p.<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde. Departamento<br />
de Análise de Situação em Saúde. Brasil 2007: uma análise da situação<br />
de saúde. Brasília; Ministério da Saúde; 2008. p 677-692.<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde. Departamento<br />
de Atenção Básica.<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde: Dengue, Esquistossomose, Hanseníase, Malária, tracoma<br />
e Tuberculose / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção em Saúde,<br />
departamento de Atenção Básica. 2ª ed. Ver. Brasília: Ministério da Saúde,<br />
2008. 200p..:il. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Caderno de Atenção<br />
Básica, n. 21).<br />
ISBN 978-85-334-1471-6<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 159<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
<strong>Vigilância</strong> em Saúde. 2. <strong>Epidemiológica</strong>. 3 diagnóstico. 4 tratamento. I. Título.<br />
II. II. Série. NLMW84.6<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde. Departamento<br />
de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>. Guia de vigilância epidemiológica /<br />
Ministério da Saúde, Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde, Departamento de<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>. 7. ed. Brasília : Ministério da Saúde, 2009.<br />
816 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos)<br />
ISBN 978-85-334-1632-1 1. <strong>Vigilância</strong> epidemiológica. 2. Saúde pública. I. Título.<br />
II. Série.<br />
CDU 616-036.22<br />
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Guia de vigilância epidemiológica /<br />
Fundação Nacional de Saúde. 5. ed. Brasília: FUNASA, 2002. 842p. ISBN 85-<br />
7346-032-6. Conteúdo: Volume I - Aids / Hepatites Virais. Volume II - Influenza<br />
/ Varíola. 1. <strong>Vigilância</strong> epidemiológica. 2. Doenças transmissíveis. 3.<br />
Estudos epidemiológicos. 4. Sistemas de informação. I. Título.<br />
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual do agente indígena de saneamento.<br />
Fundação Nacional de Saúde. – Brasília: Funasa, 2008. 120p.<br />
Saneamento Básico. 2. Saúde dos povos indígenas. I Título.<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde. Departamento<br />
de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>. Doenças infecciosas e parasitárias: guia<br />
de bolso/ Ministério da Saúde, Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde, Departamento<br />
de <strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong>. – 8. ed. rev. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.<br />
448 p.:II - (Série B. Textos Básicos de Saúde). ISBN 978-85-334-1657-4<br />
Doenças transmissíveis. 2. <strong>Vigilância</strong> epidemiológica. 3. Saúde pública. I. Título.<br />
II. Série. CDU 616.9<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde. Diretrizes para<br />
a Priorização de Áreas com Populações Potencialmente Expostas a Solo Contaminado.<br />
Brasília/DF, 2008. Disponível em: Acessado em 08 de maio de2011.<br />
BUENO, Laura Machado de Mello. Regularização em Áreas de Proteção Ambiental<br />
no Meio Urbano. In: Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Associação<br />
Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (coord.) Cadernos de<br />
Texto da I Conferência Nacional de Saúde Ambiental, 2009, disponível em:<br />
< http://189.28.128.179: 8080/pisast/material-institucional/cnsa-1/livro-1a-<br />
-cnsa-caderno-de-texto-1a-cnsa.pdf/at_download/file.>Acessado em 01 de<br />
setembro de 2009.<br />
CASTRO Hermano; EIGNOTTI Eliane; HACON Sandra. Efeitos Nocivos da Poluição<br />
Derivada das Queimadas à Saúde Humana na Amazônia Brasileira.<br />
In: Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Pós-<br />
-graduação em Saúde Coletiva (coord.) Cadernos de Texto da I Conferência<br />
Nacional de Saúde Ambiental, 2009, disponível em: Acessado em 01 de setembro de 2009.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 160<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Copyright @ 2003. Agência Nacional de <strong>Vigilância</strong> Sanitária – Anvisa. 2ª reimpressão,<br />
2005. Orientações para os consumidores de saneantes.<br />
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda: Dicionário da língua portuguesa. Ed.<br />
Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1993.<br />
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1910-1989. Novo Aurélio Século XXI:<br />
o dicionário da língua portuguesa / Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. –<br />
3. ed. totalmente revista e ampliada. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1999.<br />
GALINDO, Ernesto e MACEDO, Natália. Transporte e Saúde Ambiental. In:<br />
Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Pós-graduação<br />
em Saúde Coletiva (coord.) Cadernos de Texto da I Conferência Nacional<br />
de Saúde Ambiental, 2009, disponível em: < http://189.28.128.179: 8080/<br />
pisast/material-institucional/cnsa-1/livro-1a-cnsa-caderno-de-texto-1a-cnsa.<br />
pdf/at_download/file.>Acessado em 01 de setembro de 2009.<br />
Ministério da Saúde. Superintendência de Campanha de Saúde Pública – Sucam.<br />
Doença de Chagas – Texto de apoio. Brasília- 1989. 52.<br />
NETTO, Guilherme Franco e ALONZO, Herling Gregorio Aguilar. Notas sobre<br />
a Governança da Saúde Ambiental no Brasil. In: Grupo de Trabalho Saúde<br />
e Ambiente da Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva<br />
(coord,). Cadernos de Texto da I Conferência Nacional de Saúde Ambiental,<br />
2009, disponível em: < http://189.28.128.179: 8080/pisast/material-institucional/cnsa-1/livro-1a-cnsa-caderno-de-texto-1a-cnsa.pdf/at_download/<br />
file.>Acessado em 01 de setembro de 2009.<br />
RADICCHI Antônio Leite Alves e LEMOS Alysson Feliciano. Saúde Ambiental.<br />
Belo Horizonte: Nescon/UFMG, Coopmed, 2009. 76p. Disponível em: < http://<br />
www.nescon.medi cina.ufm g.br/biblioteca/imagem/2162.pdf> Acessado em<br />
08 de maio de 2011.<br />
SUS e a <strong>Vigilância</strong> em Saúde/Carmem Teixeira – Rio de Janeiro: Fundação<br />
Oswaldo Cruz, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venêncio, 2003. 60<br />
p.: Il. - (Programa de Formação de Agentes Locais <strong>Vigilância</strong> em saúde).<br />
WALDMAN, E. A.; ROSA, T.E.C. <strong>Vigilância</strong> em Saúde Pública, v. 7, São<br />
Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998.<br />
Outras referências<br />
ÁGUA - CONTAMINAÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS. Disponível<br />
em: Acesso<br />
em 09 de maio de 2011.<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. VIGIÁGUA. Disponível em: . Acesso em 09 de<br />
maio de 2011.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 161<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
BRASIL. Ministério da Saúde. VIGIAR. Disponível em: . Acesso em 08 de maio<br />
de 2011.<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de Montreal e Proteção à Camada de<br />
Ozônio. Disponível em: .<br />
Acesso em 08 de maio de 2011.<br />
IPEA (2007) <br />
SECRETARIA DE SAÚDE DE SÃO PAULO. Saúde Ambiental. Disponível em:<br />
. Acesso em 08 de maio de 2011.<br />
SECRETARIA DE SAÚDE DA BAHIA. <strong>Vigilância</strong> Ambiental em Saúde. Disponível<br />
em . Acesso<br />
em 09 de maio de 2011.<br />
Secretaria de <strong>Vigilância</strong> em Saúde; www.saude.gov.br/svs; Biblioteca Virtual<br />
em Saúde do Ministério da Saúde; www.saude.gov.br/bvs<br />
Vig. Sanitária - www.saude.sc.gov.br/gestores.<br />
. Acesso<br />
em 26 de abril de 2011.<br />
.<br />
.<br />
.<br />
.<br />
.<br />
.<br />
.<br />
.<br />
Acesso em 26 de abril de 2011.<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 162<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde
Currículo do professor conteudista<br />
Joaquim Francisco de Lima<br />
Formado em Administração Pública pela Universidade Estadual de Montes<br />
Claros/<strong>Unimontes</strong>.<br />
Graduado em Administração - Habilitação em Gestão de Negócios -, Faculdades<br />
Santo Agostinho.<br />
Pós-graduado em Gestão de Saúde Pública pelaFaculdade do Noroeste de<br />
Minas – Finom.<br />
Especialista em Segurança Alimentar Nutricional para a Saúde Indígena – Escola<br />
Nacional de Saúde Pública - ENSP/Fiocruz, RJ.<br />
Funcionário Público Federal; atua no setor de Educação e Saúde Ambiental -<br />
Setor de Saneamento Ambiental – Sesan/Superintendência Estadual de Minas<br />
Gerais – Suest/MG - e na Fundação Nacional de Saúde – Funasa.<br />
Professor conteudista e professor formador do Curso de Técnico em <strong>Vigilância</strong><br />
em Saúde - E-tec Brasil/<strong>Unimontes</strong>.<br />
<strong>Vigilância</strong> <strong>Epidemiológica</strong> I 163<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong>
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong><br />
Escola Técnica Aberta do Brasil<br />
e-Tec Brasil/CEMF/<strong>Unimontes</strong> 166<br />
<strong>Vigilância</strong> em Saúde