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1 º<br />

período<br />

PEDAGOGIA<br />

Antropologia<br />

e Educação<br />

Edina Souza Ramos<br />

Laurenício Mendes da Silva


Edina Souza Ramos Mendes<br />

Laurenício Mendes da Silva<br />

2ª edição atualizada por<br />

Laurenício Mendes da Silva<br />

Antropologia e<br />

Educação<br />

2ª EDIÇÃO<br />

Montes Claros/MG - 2013


Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros<br />

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES<br />

REITOR<br />

João dos Reis Canela<br />

VICE-REITORA<br />

Maria Ivete Soares de Almeida<br />

DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES<br />

Huagner Cardoso da Silva<br />

EDITORA UNIMONTES<br />

Conselho Editorial<br />

Prof. Silvio Guimarães – Medicina. <strong>Unimontes</strong>.<br />

Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. <strong>Unimontes</strong>.<br />

Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU.<br />

Profª Maria Geralda Almeida. UFG<br />

Prof. Luis Jobim – UERJ.<br />

Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal.<br />

Prof. Fernando Verdú P<strong>as</strong>coal. Valencia – Espanha.<br />

Prof. Antônio Alvimar Souza - <strong>Unimontes</strong><br />

Prof. Fernando Lol<strong>as</strong> Stepke. – Univ. Chile.<br />

Prof. José Geraldo de Freit<strong>as</strong> Drumond – <strong>Unimontes</strong>.<br />

Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letr<strong>as</strong> – <strong>Unimontes</strong>.<br />

Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – <strong>Unimontes</strong>.<br />

Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.<br />

REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA<br />

Carla Roselma Athayde Moraes<br />

Maria Cristina Ru<strong>as</strong> de Abreu Maia<br />

Waneuza Soares Eulálio<br />

REVISÃO TÉCNICA<br />

Gisléia de Cássia Oliveira<br />

Karen Torres C. Lafetá de Almeida<br />

Viviane Margareth Chaves Pereira Reis<br />

DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO<br />

Andréia Santos Di<strong>as</strong><br />

Camilla Maria Silva Rodrigues<br />

Fernando Guilherme Veloso Queiroz<br />

Magda Lima de Oliveira<br />

Sanzio Mendonça Henriiques<br />

Sônia Maria Oliveira<br />

Wendell Brito Mineiro<br />

Zilmar Santos Cardoso<br />

Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - <strong>Unimontes</strong><br />

Ficha Catalográfica:<br />

2013<br />

Proibida a reprodução total ou parcial.<br />

Os infratores serão processados na forma da lei.<br />

EDITORA UNIMONTES<br />

Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro<br />

s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)<br />

Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089<br />

Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214


Ministro da Educação<br />

Aloizio Mercadante Oliva<br />

Presidente Geral da CAPES<br />

Jorge Almeida Guimarães<br />

Diretor de Educação a Distância da CAPES<br />

João Carlos teatini de Souza Clímaco<br />

Governador do Estado de Min<strong>as</strong> Gerais<br />

Antônio Augusto Junho An<strong>as</strong>t<strong>as</strong>ia<br />

Vice-Governador do Estado de Min<strong>as</strong> Gerais<br />

Alberto Pinto Coelho Júnior<br />

Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior<br />

Nárcio Rodrigues<br />

Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - <strong>Unimontes</strong><br />

João dos Reis Canela<br />

Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros -<br />

<strong>Unimontes</strong><br />

Maria Ivete Soares de Almeida<br />

Pró-Reitor de Ensino/<strong>Unimontes</strong><br />

João Felício Rodrigues Neto<br />

Diretor do Centro de Educação a Distância/<strong>Unimontes</strong><br />

Jânio Marques Di<strong>as</strong><br />

Coordenadora da UAB/<strong>Unimontes</strong><br />

Maria Ângela Lopes Dumont Macedo<br />

Coordenadora Adjunta da UAB/<strong>Unimontes</strong><br />

Betânia Maria Araújo P<strong>as</strong>sos<br />

Diretora do Centro de Ciênci<strong>as</strong> Biológic<strong>as</strong> da Saúde - CCBS/<br />

<strong>Unimontes</strong><br />

Maria d<strong>as</strong> Mercês Borem Correa Machado<br />

Diretor do Centro de Ciênci<strong>as</strong> Human<strong>as</strong> - CCH/<strong>Unimontes</strong><br />

Antônio Wagner veloso Rocha<br />

Diretor do Centro de Ciênci<strong>as</strong> Sociais Aplicad<strong>as</strong> - CCSA/<strong>Unimontes</strong><br />

Paulo Cesar Mendes Barbosa<br />

Chefe do Departamento de Comunicação e Letr<strong>as</strong>/<strong>Unimontes</strong><br />

Sandra Ramos de Oliveira<br />

Chefe do Departamento de Educação/<strong>Unimontes</strong><br />

Andréa Lafetá de Melo Franco<br />

Chefe do Departamento de Educação Física/<strong>Unimontes</strong><br />

Rogério Othon teixeira Alves<br />

Chefe do Departamento de Filosofia/<strong>Unimontes</strong><br />

Angela Cristina Borges<br />

Chefe do Departamento de Geociênci<strong>as</strong>/<strong>Unimontes</strong><br />

Antônio Maurílio Alencar Feitosa<br />

Chefe do Departamento de História/<strong>Unimontes</strong><br />

Donizette Lima do N<strong>as</strong>cimento<br />

Chefe do Departamento de Política e Ciênci<strong>as</strong> Sociais/<strong>Unimontes</strong><br />

Isabel Cristina Barbosa de Brito


Autores<br />

Edina Souza Ramos Mendes<br />

Sociólogia. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Min<strong>as</strong> Gerais – UFMG<br />

Especialista em Ciênci<strong>as</strong> Sociais e graduada em Ciênci<strong>as</strong> Sociais pela Universidade<br />

Estadual de Montes Claros – <strong>Unimontes</strong>. Atualmente é professora do Departamento de<br />

Política e Ciênci<strong>as</strong> Sociais da <strong>Unimontes</strong>.<br />

Laurenicio Mendes da Silva<br />

Sociólogo. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Min<strong>as</strong> Gerais – UFMG – e<br />

Professor do Departamento de Política e Ciênci<strong>as</strong> Sociais da Universidade Estadual de<br />

Montes Claros – <strong>Unimontes</strong>.


Sumário<br />

Apresentação................................................9<br />

Unidade 1 ..................................................11<br />

Antropologia no quadro d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong>. ...............................................11<br />

1.1 Introdução ......................................................................11<br />

1.2 Conceituando a Antropologia. ..................................................11<br />

1.3 Objeto de estudo e a especificidade da Antropologia ............................12<br />

1.4 Deslocamento do olhar antropológico ...........................................13<br />

Referênci<strong>as</strong> ........................................................................16<br />

Unidade 2 ..................................................17<br />

A Antropologia e educação .........................................................17<br />

2.1 Introdução. .....................................................................17<br />

2.2 Conceituando educação ........................................................17<br />

2.3 A gênese da Antropologia da educação .........................................18<br />

2.4 A importância da reflexão antropológica para a educação. .......................19<br />

2.5 O método em Antropologia da Educação ........................................20<br />

Referênci<strong>as</strong> ........................................................................21<br />

Unidade 3 ..................................................23<br />

Sociedade, cultura e educação ..................................................... 23<br />

3.1 Introdução ..................................................................... 23<br />

3.2 Cultura e sociedade ............................................................ 23<br />

3.3 Cultura e educação .............................................................24<br />

3.4 Cultura e currículo ..............................................................27<br />

Referênci<strong>as</strong>. ........................................................................28<br />

Unidade 4 ..................................................29<br />

Educação e diversidade. ............................................................29<br />

4.1 Introdução. .....................................................................29<br />

4.2 Educação antirracista ...........................................................29<br />

4.3 Educação indígena. .............................................................32


4.4 Educação e gênero. .............................................................35<br />

Referênci<strong>as</strong> ........................................................................37<br />

Unidade 5 ..................................................39<br />

A escola e os novos complexos culturais. ............................................39<br />

5.1 Introdução ......................................................................39<br />

5.2 Nov<strong>as</strong> relações entre estudantes e professores ...................................39<br />

5.3 Nov<strong>as</strong> identidades culturais e a educação. .......................................41<br />

5.4 O ser cultural e a virtualidade. ...................................................43<br />

Referênci<strong>as</strong> básic<strong>as</strong>, complementares e suplementares .... 44<br />

Resumo.....................................................45<br />

Atividades de aprendizagem - AA ..........................49


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

Apresentação<br />

Caro(a) acadêmico(a):<br />

A disciplina Antropologia e Educação é uma disciplina de conhecimento de oferta recente<br />

por parte d<strong>as</strong> Universidades Br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>. A nossa proposta se orienta em trabalhar du<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> com<br />

perspectiv<strong>as</strong> complementares: a científica, cujos conhecimentos a respeito do homem são relevantes<br />

para um adequado desenvolvimento pedagógico; e a reflexão antropológica, que proporciona<br />

unidade aos conhecimentos empíricos e direção ao processo educativo de acordo com a<br />

perspectiva mais ampla a que se propõe a antropologia aplicada à educação.<br />

A Antropologia e Educação ou Antropologia Aplicada à Educação propõe acompanhar o homem<br />

no seu processo de humanização e refletir sobre os sistem<strong>as</strong> desenvolvidos para a consecução<br />

deste fim. Ao longo do estudo, vamos tratar da questão da educação como um processo<br />

cultural e continuo, ou seja, está sempre em construção.<br />

A possibilidade e necessidade que temos de interagir permanentemente com o meio ao<br />

qual estamos inseridos legitimam esse novo olhar da “Antropologia e Educação”.<br />

A ementa da disciplina nos leva a uma abordagem sobre a educação e sua dimensão social,<br />

os seus paradigm<strong>as</strong> utilizados na produção de conhecimentos e os agentes informais de educação,<br />

a educação popular e os processos formativos além dos muros da escola. No decorrer dos<br />

estudos propostos, serão apresentados conteúdos informativos, formativos e reflexivos sobre a<br />

antropologia, educação, cultura e diversidade.<br />

A disciplina Antropologia e Educação tem como objetivos principais: propiciar uma reflexão<br />

inicial sobre o objeto de análise da Antropologia e sua contribuição para o debate sobre a relação<br />

entre escola, cultura e sociedade; apresentar, discutir e utilizar a abordagem antropológica<br />

em relação ao fenômeno da educação; utilizar ess<strong>as</strong> noções na reflexão sobre questões educacionais<br />

contemporâne<strong>as</strong>. Para isto, dividimos o nosso estudo em cinco unidades, a saber:<br />

Unidade I: A Antropologia no quadro d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong><br />

1.1 Introdução<br />

1.2 Conceituando a Antropologia<br />

1.3 Objeto de estudo e a especificidade da antropologia<br />

1.4 Deslocamento do olhar Antropológico<br />

Unidade II: Antropologia e Educação<br />

2.1 Introdução<br />

2.2 Conceituando a Educação<br />

2.3 A gênese da Antropologia e Educação<br />

2.4 A Importância da reflexão antropológica para a Educação<br />

2.5 O método em Antropologia da Educação<br />

Unidade III: Sociedade, Cultura e Educação<br />

3.1 Introdução<br />

3.2 Cultura e Sociedade<br />

3.3 Cultura e Educação<br />

3.4 Cultura e currículo<br />

Unidade IV: Educação e Diversidade<br />

4.1 Introdução<br />

4.2 Educação antirracista<br />

4.3 Educação Indígena<br />

4.4 Educação e gênero<br />

Unidade V: A escola e os novos complexos culturais<br />

5.1 Introdução<br />

5.2 Nov<strong>as</strong> relações entre professores e alunos<br />

5.3 Nov<strong>as</strong> identidades culturais e a educação<br />

5.3 O ser cultural e a virtualidade<br />

9


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

O texto está estruturado a partir do desenvolvimento d<strong>as</strong> unidades e subunidades. Você deverá<br />

perceber que <strong>as</strong> questões para discussão e reflexão que acompanham o texto são muito importantes,<br />

bem como <strong>as</strong> sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem ao fórum, para<br />

acessar a bibliotec<strong>as</strong> virtuais na web etc. As sugestões e dic<strong>as</strong> estão localizad<strong>as</strong> junto ao texto,<br />

aparecendo com os seguintes ícones<br />

Ícones de para saber mais – dic<strong>as</strong> – atividades e Glossário<br />

A leitura dos textos complementares indicados também é importante, pois indicam desenvolvimento<br />

e ampliações para o estudo e discussão. São recursos que podem ser explorados de<br />

maneira eficaz, por você, pois buscam promover atividades de observação e de investigação que<br />

permitem desenvolver habilidades própri<strong>as</strong> da análise antropológica e exercitar a leitura e interpretação<br />

de fenômenos sociais e culturais.<br />

Ao planejar a disciplina Antropologia e Educação para o curso de Pedagogia, levamos em<br />

conta ess<strong>as</strong> questões e sugestões que são fundamentais para familiarizar o acadêmico, gradativamente,<br />

com a visão e procedimentos próprios da disciplina.<br />

Agora é com você. Explore tudo, abra espaços para a interação com seus coleg<strong>as</strong>, para o questionamento,<br />

para a leitura crítica do texto, bem como <strong>as</strong> atividades e leitur<strong>as</strong> complementares.<br />

Os autores<br />

10


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

UNIDADE 1<br />

Antropologia no quadro d<strong>as</strong><br />

ciênci<strong>as</strong><br />

1.1 Introdução<br />

Nesta unidade da disciplina Antropologia e Educação, o objetivo é introduzir os acadêmicos<br />

do curso de Pedagogia na compreensão e problemática fundamental da Antropologia como<br />

ciência social aplicada e, nesse c<strong>as</strong>o, aplicada a educação. É uma unidade dedicada à análise dos<br />

conceitos e abordagens antropológicos. Ao se defrontar com os conceitos específicos da Antropologia<br />

aplicada à Educação, espera-se que os acadêmicos possam refletir sobre a especificidade<br />

da Antropologia como uma ciência diante de outr<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais aplicad<strong>as</strong>. O objeto de estudo<br />

e a especificidade da antropologia, sua especificidade, bem como o deslocamento do olhar<br />

antropológico para o fenômeno educacional são os destaques dessa unidade.<br />

1.2 Conceituando a Antropologia<br />

Esta primeira unidade da disciplina Antropologia<br />

e educação objetiva introduzir os<br />

estudantes do Curso de Ciênci<strong>as</strong> Sociais na<br />

compreensão da problemática fundamental<br />

da Antropologia. É, portanto, uma Unidade dedicada<br />

à análise de conceitos e abordagens antropológicos.<br />

Ao se defrontar com o arcabouço<br />

conceitual e definidor desta disciplina, esper<strong>as</strong>e<br />

que os estudantes possam refletir sobre a especificidade<br />

da Antropologia como uma Ciência<br />

diante de outr<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> da Humanidade.<br />

Embora não seja justificável ou razoavelmente<br />

defensável argumentar sobre fronteir<strong>as</strong><br />

rígid<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> disciplin<strong>as</strong> que compõem <strong>as</strong><br />

Ciênci<strong>as</strong> Sociais, já que a interdisciplinaridade,<br />

ou seja, a contribuição e o diálogo entre pesquisadores<br />

de vári<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> ou campos de atuação<br />

do conhecimento torna-se uma prática saudável<br />

hoje em dia, é possível falar minimante sobre<br />

a especificidade antropológica.<br />

Assim, pode-se dizer que <strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> se<br />

distinguem ou se diferenciam pela maneira<br />

como os cientist<strong>as</strong> definem e problematizam<br />

seu objeto de estudo e pelos conceitos ou categori<strong>as</strong><br />

que propõem para compreendê-lo ou<br />

explicá-lo.<br />

Nesses termos, a Antropologia Social ou<br />

Cultural tem como objeto o homem, mais precisamente,<br />

o comportamento do homem como<br />

membro de uma sociedade e distingue-se d<strong>as</strong><br />

demais ciênci<strong>as</strong> que tem também o homem<br />

como objeto, por tomar como problema central<br />

de investigação a questão da diversidade cultural.<br />

Por isso, pode-se dizer que a Antropologia<br />

é uma ciência d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> sociais e culturais.<br />

Assim, desde sua gênese e durante sua trajetória<br />

histórica teórica, a Antropologia buscou<br />

constantemente um refinamento teórico e metodológico<br />

para a compreensão da diversidade<br />

cultural. E uma questão crucial que se impôs<br />

durante seu desenvolvimento teórico foi compreender<br />

o paradoxo da unidade biológica do<br />

homem que se contr<strong>as</strong>ta com a extraordinária<br />

diversidade cultural.<br />

Assim, poder-se-ia dizer que se envolver<br />

com a Antropologia é esforçar-se para compreender<br />

a diversidade cultural humana. Portanto,<br />

nesta disciplina (Antropologia I), torna-se<br />

crucial a apreensão e compreensão dos<br />

conceitos de cultura e diversidade cultural. Os<br />

estudantes deverão estar atentos para <strong>as</strong> diferentes<br />

concepções de cultura e de diversidade<br />

cultural, pois esses conceitos são constituintes<br />

do desenvolvimento teórico e metodológico<br />

definidores do enfoque antropológico.<br />

Resumindo, a Antropologia pretende ser<br />

uma ciência da humanidade e da cultura. E, especificamente,<br />

a Antropologia Social pretende<br />

compreender a diversidade cultural humana.<br />

11


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

GLOSSÁRIO<br />

Antropologia: Etimologicamente,<br />

o termo<br />

antropologia significa<br />

estudo do homem<br />

(anthpopos: homem;<br />

logos: conhecimento,<br />

saber, estudo).<br />

PA RA SABER MAIS<br />

Leia o texto de Horace<br />

Miner, “O Ritual do Corpo<br />

entre os Nacirema”<br />

(disponível em http://<br />

comunicacaoeesporte.files.wordpress.<br />

com/2011/03/nacirema.pdf),<br />

e procure<br />

descobrir sobre qual<br />

povo o autor está falando<br />

e tente pensar sobre<br />

a prática da reflexão<br />

antropológica.<br />

Atividade<br />

Reflitam sobre <strong>as</strong><br />

oposições entre <strong>as</strong><br />

“sociedades ocidentais”<br />

e <strong>as</strong> “sociedades<br />

não ocidentais” e que<br />

implicações ideológic<strong>as</strong><br />

ess<strong>as</strong> oposições podem<br />

ter para a consolidação<br />

do conhecimento<br />

científico e discutam<br />

esta proposta no fórum<br />

de discussão.<br />

12<br />

1.3 Objeto de estudo e a<br />

especificidade da Antropologia<br />

A reflexão do homem sobre o homem é muito antiga. O homem nunca parou de interrogarse<br />

sobre si mesmo. Em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> sociedades e em qualquer tempo e espaço “existiram homens<br />

que observaram homens”.<br />

Assim, o problema de se questionar sobre<br />

<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> culturais ou sociais foi sempre<br />

constante durante a história da humanidade.<br />

No entanto, a constituição de um projeto<br />

antropológico que se ocup<strong>as</strong>se do próprio homem<br />

como objeto de conhecimento é bem recente.<br />

Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, a preocupação em se<br />

construir um discurso antropológico com status<br />

de ciência, ou que se pudesse cumprir certos critérios<br />

de uma teoria cientifica, pode ser situada<br />

a partir da metade do século XIX (LAPLANTINE,<br />

2000; COPANS, 1971; MERCIER, 1974). Lentamente,<br />

começa-se a constituir um arcabouço teórico<br />

e metodológico visando a apreender a ação<br />

humana como um fenômeno observável e analisável.<br />

A cultura ou <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sam a ser encarad<strong>as</strong><br />

como um objeto de estudo, pois podem<br />

ser apreendid<strong>as</strong> como um fenômeno p<strong>as</strong>sível de<br />

objetivação, ou seja, como um fenômeno possível<br />

de ser cl<strong>as</strong>sificado, explicado ou compreendido<br />

de maneira objetiva.<br />

Inicialmente, a Antropologia preocup<strong>as</strong>e<br />

em elaborar um conhecimento ou uma<br />

interpretação sobre <strong>as</strong> sociedades situad<strong>as</strong><br />

em espaços geográficos longe d<strong>as</strong> sociedades<br />

ocidentais. São <strong>as</strong> dit<strong>as</strong> sociedades “simples”<br />

ou de organização social simples ou<br />

ainda sociedades “primitiv<strong>as</strong>” que p<strong>as</strong>sam a<br />

ser tomad<strong>as</strong> como objeto de estudo da Antropologia.<br />

Assim, a Antropologia acaba de<br />

atribuir-se um objeto que lhe é próprio: o estudo<br />

d<strong>as</strong> populações que não pertencem à<br />

civilização ocidental.<br />

A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um<br />

saber são tão antigos quanto a humanidade, e se deram tanto na Ásia como na<br />

África, na América, na Oceania ou na Europa. (LAPLATINE, 2000 p.13)<br />

a. A ciência antropológica instituiu-se no espaço<br />

do Ocidente;<br />

b. O encontro com a diferença mais radical,<br />

o “OUTRO”. Vislumbra-se, <strong>as</strong>sim, a possibilidade<br />

de um distanciamento entre<br />

sujeito e objeto como condição de objetividade,<br />

necessária para se instituir o fazer<br />

científico. No entanto, o mais fundamental,<br />

o que vai definir o enfoque antropológico<br />

é a oposição entre o Nós e o Outro.<br />

Instituiu-se o Outro como problema fundamental,<br />

aliás um problema recorrente<br />

para a humanidade em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> vári<strong>as</strong><br />

etap<strong>as</strong> de sua história.<br />

c. E, como resultado, “é a busca de uma resposta<br />

sistemática a esse problema que vai<br />

definir, no início, uma atitude, mais tarde,<br />

uma reflexão sistemática, enfim, uma<br />

ciência: a etnografia, etnologia – ou antropologia”<br />

(SANCHIS, 1999, p. 24).<br />

d. É, portanto, a partir de uma reflexão sistemática<br />

sobre <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong>, do encontro<br />

com o Outro, que a antropologia, paulatinamente,<br />

se constituiu como uma ciência.<br />

Isto significa a elaboração de um conhecimento<br />

relativista. O outro deixa de ser<br />

o exótico, o esquisito, o desigual e p<strong>as</strong>sa<br />

a ser encarado como diferente, com uma<br />

lógica própria de dar inteligibilidade para<br />

si e de elaboração e compreensão sociocósmica.<br />

Isso exige um olhar de dentro,<br />

que se pudesse captar o ponto de vista<br />

do outro, ou como se diz em antropologia<br />

“o ponto de vista do nativo”;<br />

e. A especificidade da Antropologia, portanto,<br />

advém crucialmente dessa necessidade<br />

metodológica de apreender o ponto<br />

de vista do outro e isto só é possível na<br />

medida em que o antropólogo imerge na<br />

sociedade ou no grupo social que se pretende<br />

compreender. É a experiência do<br />

trabalho de campo (o próprio pesquisador<br />

coletando e interpretando seus dados<br />

etnográficos) que constitui a marca distintiva<br />

da Antropologia.<br />

Portanto, veja bem, o contato próximo e<br />

prolongado, a “observação participante” com<br />

a sociedade ou com o grupo social que se quer<br />

estudar ou compreender impõe uma marca<br />

distintiva da Antropologia, ou seja, a sua especificidade<br />

como disciplina científica. Essa<br />

especificidade reside na possibilidade que o<br />

antropólogo tem de refletir sobre sua própria<br />

sociedade. Ou seja, é a partir do encontro com<br />

o diferente que posso questionar os meus pa-


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

drões de compreensão do mundo, de valorização<br />

e de comportamento (SANCHIS, 1999, p.24).<br />

É o que se pode chamar de um caráter reflexivo<br />

resultante da descoberta d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong>. É<br />

<strong>as</strong>sim que posso compreender <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong>, o<br />

Outro e questionar o meu modo de vida, meus<br />

valores e minh<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de compreensão do<br />

mundo. Como argumenta Laplantine:<br />

[...] preso a uma única cultura, somos não apen<strong>as</strong> cegos à dos outros, m<strong>as</strong> míope<br />

quando se trata da nossa. A experiência da alteridade (e a elaboração dessa<br />

experiência) leva nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar,<br />

dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que é habitual, familiar, cotidiano,<br />

e que consideramos ‘evidente’. Aos poucos notamos que o menor dos<br />

nossos comportamentos (gestos, mímic<strong>as</strong>, postur<strong>as</strong>, reações afetiv<strong>as</strong>) não tem<br />

realmente nada de ‘natural’. Começamos, então, a nos surpreender com aquilo<br />

que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológico)<br />

de nossa cultura p<strong>as</strong>sa inevitavelmente pelo conhecimento de outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>,<br />

e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre<br />

tant<strong>as</strong> outr<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> não a única (LAPLANTINE, 2000, p.20).<br />

1.4 Deslocamento do olhar<br />

antropológico<br />

Como pudemos ver, por definição, a Antropologia<br />

é a ciência do “Outro”. Dessa perspectiva,<br />

afirmamos mais uma vez, a antropologia<br />

configura pelo enfoque na diversidade<br />

cultural. Isto implica uma relação entre “nós”<br />

– o grupo social e cultural a que se pertence, o<br />

grupo do próprio pesquisador – e os “outros”,<br />

aqueles que não pertencem ao grupo do pesquisador<br />

ou ao nosso. Portanto, é a percepção<br />

da diferença que permite a constituição da<br />

identidade entre nós e os outros. Fundamentalmente,<br />

o que possibilitou a Antropologia se<br />

constituir como uma ciência foi a sensibilidade<br />

dos antropólogos em perceber <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> a<br />

partir de uma atitude relativista. Aliás, uma sensibilidade<br />

que foi sendo lentamente refinada e<br />

lapidada durante todo o desenvolvimento teórico<br />

e metodológico da prática antropológica.<br />

Como já pudemos afirmar também, inicialmente,<br />

a Antropologia institui-se como<br />

objeto às sociedades dit<strong>as</strong>, nos meados do século<br />

XIX, “primitiv<strong>as</strong>”. Em outros termos, sociedades<br />

exteriores às sociedades europei<strong>as</strong> ou<br />

norte-american<strong>as</strong>.<br />

No entanto, serão necessários ainda longos<br />

anos para que a Antropologia pudesse<br />

elaborar su<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> ou seus instrumentos<br />

intelectuais de investigação e firmar seus<br />

próprios métodos de coleta de dado. Porém,<br />

tão logo a Antropologia firma seus instrumentos<br />

para construir e consolidar uma reflexão<br />

mais sistemática sobre <strong>as</strong> particularidades<br />

culturais, ela depara-se com uma realidade<br />

histórica irreversível: ela via seu “objeto derreter<br />

e desaparecer progressivamente diante do<br />

rolo compressora que constitui a ‘modernidade’,<br />

econômica, política e também ideológica”<br />

(SANCHIS, 1999, p. 30).<br />

A Antropologia defronta-se, <strong>as</strong>sim, com<br />

uma crise de identidade. E diante da interrogação:<br />

é o fim da Antropologia, muit<strong>as</strong> vezes feita<br />

pelos próprios antropólogos, é que começa<br />

a se esboçar uma reordenação no campo da<br />

Antropologia e forjarem-se novos instrumentos<br />

intelectuais que serão responsáveis pelo<br />

alargamento e aprimoramento da Antropologia,<br />

que p<strong>as</strong>sa a incorporar variados processos<br />

concretos como foco de investigação?<br />

Diante dessa nova conjuntura, a Antropologia<br />

reflui sobre sua própria sociedade. Vê-se<br />

forçada, portanto, a buscar outr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> de investigação.<br />

“O ‘Outro’, que ela ia procurar longe,<br />

se acostuma a encontrá-lo no interior do<br />

próprio grupo social de seus cultores” (idem,<br />

p. 31). Reconhece-se que a especificidade teórica<br />

da Antropologia não se reduz às particularidades<br />

d<strong>as</strong> “cultur<strong>as</strong> primitiv<strong>as</strong>”, m<strong>as</strong> envolve<br />

<strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong> dimensões do ser humano.<br />

Portanto, é razoável afirmar, diante dessa<br />

mudança de campo da Antropologia, que não<br />

é mais o objeto que a define, e concordar com<br />

Laplantine<br />

Que a Antropologia afirma a especificidade de sua prática, não mais através<br />

de um objeto empírico constituído (o selvagem, o camponês), m<strong>as</strong> através<br />

de uma abordagem epistemológica constituinte [...] o objeto teórico da antropologia<br />

não está ligado [...] a um espaço geográfico, cultural ou histórico particular.<br />

Pois a antropologia não é senão um certo olhar, um certo enfoque que<br />

13


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

consiste em: a) o estudo do homem inteiro; b) o estudo do homem em tod<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong> sociedades, sob tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> latitudes em todos os seus estados e em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

époc<strong>as</strong>” (LAPLANTINE , 2000, p. 16).<br />

BOX 1<br />

ATIVIDADE<br />

Na reportagem inserida<br />

no Box 1, o jornalista<br />

enfoca a influência da<br />

cultura até mesmo sobre<br />

os <strong>as</strong>pectos físicos<br />

do ser humano. Analise<br />

a notícia e procure<br />

explicar a relação entre<br />

natureza e cultura.<br />

Postar no fórum de<br />

discussão.<br />

“A admiração chinesa por pés pequenos, ou atrofiados, n<strong>as</strong>ceu em 920, segundo pesquis<strong>as</strong><br />

históric<strong>as</strong>. O imperador Li Yu se deixou seduzir por uma concubina que dançava com os<br />

pés enfaixados para que se parecessem com uma lua crescente.<br />

O Costume atravessou din<strong>as</strong>ti<strong>as</strong> chines<strong>as</strong> e se sofisticou em 76 form<strong>as</strong> diferentes de se<br />

enfaixar os pés.<br />

Depois da queda da din<strong>as</strong>tia Qing, em 1911, criou-se a figura do “inspetor de pés”. Cabia a<br />

ele verificar se estava sendo respeitada a proibição dessa prática.<br />

O poder republicano, no entanto, não conseguia impor sua vontade n<strong>as</strong> regiões mais remot<strong>as</strong><br />

da China.<br />

Enfaixar os pés sobreviveu alguns anos, até diminuir no início dos anos 30.<br />

Em 1931, a inv<strong>as</strong>ão japonesa desferiu um forte golpe contra o costume imperial. As mulheres<br />

com os pés atrofiados não conseguiam se movimentar com velocidade necessária para<br />

fugir do inv<strong>as</strong>or e muit<strong>as</strong> acabavam sendo violentad<strong>as</strong>.<br />

Os camponeses então começaram a abrir mão do costume. Foi apen<strong>as</strong> o regime comunista<br />

que conseguiu livrar definitivamente a China da prática de enfaixar o pé.<br />

Algum<strong>as</strong> mulheres na c<strong>as</strong>a dos 80 anos ainda mantém faix<strong>as</strong>, porque com el<strong>as</strong> sentem<br />

menos dores. Os panos protegem os pés.”<br />

Fonte: Folha de São Paulo<br />

14<br />

Pois bem, penso ser oportuno refletir<br />

nesse momento sobre os campos e divisões<br />

da Antropologia. A ideia é ampliar a discussão<br />

sobre o campo de estudo da Antropologia Social,<br />

tentando perceber como ela se distingue<br />

enquanto uma especialização da Antropologia<br />

Geral.<br />

Se for razoável afirmar que a abordagem<br />

antropológica tenciona compreender <strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong><br />

dimensões do homem em sociedade<br />

(LAPLANTIINE, 2000, P. 16), é aceitável dizer<br />

que isso não pode ser alcançável por um único<br />

cientista. Portanto, durante seu desenvolvimento,<br />

a Antropologia se consolidou a partir<br />

de múltiplos enfoques, criando campos especializados<br />

do saber antropológico. Especialidades<br />

est<strong>as</strong> com um corpo teórico e técnic<strong>as</strong><br />

própri<strong>as</strong>.<br />

Nesses termos, podemos situar algum<strong>as</strong><br />

esfer<strong>as</strong> principais do conhecimento Antropológico:<br />

a. A antropologia biológica: campo de estudo<br />

outrora chamado de antropologia<br />

física, atualmente dedica-se ao estudo<br />

d<strong>as</strong> relações entre o patrimônio genético<br />

e o meio (geográfico, ecológico, social).<br />

Tomando técnic<strong>as</strong> e métodos comuns ao<br />

ramo da Biologia, os especialist<strong>as</strong> desse<br />

campo de estudo buscam analisar <strong>as</strong> particularidades<br />

morfológic<strong>as</strong> e fisiológic<strong>as</strong><br />

ligad<strong>as</strong> a um meio ambiente, bem como a<br />

evolução dess<strong>as</strong> particularidades. Interessando-se<br />

pela genética d<strong>as</strong> populações,<br />

procura-se discernir o que diz respeito ao<br />

inato e ao adquirido para compreender <strong>as</strong><br />

diferenciações de populações e não mais<br />

de raç<strong>as</strong> (LAPLANTINE, 2000, p. 17).<br />

b. A arqueologia: estudo d<strong>as</strong> sociedades<br />

desaparecid<strong>as</strong>, através dos vestígios que<br />

deixavam. Com métodos e técnic<strong>as</strong> especific<strong>as</strong><br />

os arqueólogos analisam restos ou<br />

vestígios deixados por grupos ou sociedades<br />

já desaparecid<strong>as</strong> com a intenção<br />

de reconstruir su<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> e produções<br />

materiais, a su<strong>as</strong> organizações sociais e<br />

su<strong>as</strong> produções culturais.<br />

c. A antropologia Linguística: estudo d<strong>as</strong><br />

língu<strong>as</strong> (a linguagem) como expressão de<br />

valores, preocupações, idei<strong>as</strong>, pensamentos,<br />

enfim como produção cultural e ao<br />

mesmo tempo como produto da cultura.<br />

d. A antropologia Social, Cultural ou Etnologia:<br />

essa é a esfera do conhecimento<br />

antropológico que nos interessa mais de<br />

perto, pois é dela que estávamos nos referindo<br />

ao tempo todo quando falávamos,<br />

nesse texto, em Antropologia. E é dela que<br />

continuaremos falando. Essa esfera da Antropologia<br />

tenciona tomar como foco de<br />

estudo o Homem como membro de uma<br />

sociedade e de um sistema de valores. Portanto,<br />

o antropólogo focaliza a perspectiva<br />

da sociedade humana “enquanto um conjunto<br />

de ações ordenad<strong>as</strong> de acordo com<br />

um plano e regr<strong>as</strong> que ela própria inventou<br />

e que é capaz de reproduzir e projetar<br />

em tudo aquilo que fabrica” (DA MATTA,<br />

1987, p, 32).


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

Além dess<strong>as</strong> esfer<strong>as</strong> mais ampl<strong>as</strong> do conhecimento<br />

antropológico, verifica-se, ainda,<br />

variad<strong>as</strong> especialidades dentro da Antropologia<br />

Social que se pratica no Br<strong>as</strong>il. Assim, de<br />

acordo com os processos sociais concretos<br />

que cada especialista em antropologia incorpora<br />

como foco de investigação, é possível<br />

falar em: Etnologia Indígena, Antropologia<br />

Rural, Antropologia Urbana, Antropologia d<strong>as</strong><br />

Populações Afro-br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>, Antropologia da<br />

Educação. Entre esses campos, incluem-se ainda<br />

tem<strong>as</strong> mais específicos como: antropologia<br />

do campesinato; antropologia da religião,<br />

antropologia política, antropóloga do corpo,<br />

antropologia da saúde, antropologia do gênero,<br />

antropologia da dor, entre outr<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> de<br />

pesquisa.<br />

A constatação da existência de múltipl<strong>as</strong><br />

cultur<strong>as</strong>, em princípio, autoriza-nos a pensar<br />

que a herança genética do homem não determina<br />

o seu comportamento. A constante evolução<br />

d<strong>as</strong> diferentes expressões culturais nos<br />

fala do “inacabamento ou inconclusão do homem”,<br />

da urgência permanente de lutar pela<br />

vida e da necessidade de escolher entre <strong>as</strong><br />

vári<strong>as</strong> possibilidades que ela nos oferece em<br />

cada momento. A esse processo de eleição,<br />

<strong>as</strong>similação e transformação dos valores recebidos<br />

da geração anterior e a criação de outros<br />

novos damos o nome de Educação.<br />

Na próxima unidade, iremos estudar esta<br />

relação da Antropologia com a Educação.<br />

Para saber mais <strong>as</strong>sista ao filme "Eu, um<br />

negro & Os mestres loucos".<br />

Cine<strong>as</strong>ta e etnólogo, Jean Rouch fizeram<br />

qu<strong>as</strong>e todos os seus 120 filmes na África,<br />

aonde chegou aos 24 anos como engenheiro<br />

de estrad<strong>as</strong>. Rouch põe em xeque <strong>as</strong> noções<br />

de ficção e realidade. Sobre Eu, um Negro,<br />

rodado na Costa do Marfim, ele diria: Sabia<br />

que iríamos mais fundo na verdade se, em<br />

vez de termos atores, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> interpret<strong>as</strong>sem<br />

a própria vida. O filme segue um grupo<br />

de amigos que vivem de biscates. Aceitando<br />

a proposta de Rouch, cada um imaginou ser<br />

um personagem, inventou uma história, encenou-a<br />

pela cidade e depois, <strong>as</strong>sistindo às cen<strong>as</strong><br />

captad<strong>as</strong> (sem som), recriou <strong>as</strong> fal<strong>as</strong> que havia<br />

improvisado. O tempo não desfez em nada a<br />

força desse filme. Tampouco amenizou o impacto<br />

de Os Mestres Loucos, rodado em Gana.<br />

Num cruzamento desconcertante de religião,<br />

história e individualidade psíquica, o filme<br />

mostra uma seita cujos membros, em transe,<br />

personificam figur<strong>as</strong> do colonialismo inglês.<br />

No auge do ritual de possessão um animal é<br />

sacrificado e comido pelos “mestres loucos”<br />

Realização - Jean Roch Argumento - Jean<br />

Roch / imaginado pelos interpretes - Produtor<br />

- Les Filmes de la Plêiade Fotografia - Jean<br />

Roch - Tradutor - 1001 Letr<strong>as</strong>, Cristina Diamantino<br />

- Filme: O Povo Br<strong>as</strong>ileiro<br />

O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997)<br />

foi um dos maiores intelectuais br<strong>as</strong>ileiros do<br />

século XX. Esse DVD duplo traz a premiada série<br />

b<strong>as</strong>eada na obra-prima de Darcy: O Povo<br />

◄<br />

Figura 1: filme os<br />

mestre loucos e eu,<br />

um negro (19555,<br />

1958 – 100m)<br />

Fonte: http://portaldocurta.com/2013/01/23/<br />

cine<strong>as</strong>ta-jean-rouch/<br />

Acessado em 23 abr.<br />

2013.<br />

◄ Figura 2: Filme: o<br />

povo Br<strong>as</strong>ileiro:<br />

Fonte: http://racismoambiental.net.<br />

br/2012/10/darcy-<br />

-ribeiro-documentario-<br />

-o-povo-br<strong>as</strong>ileiro-capitulo-0410/<br />

Acessado em<br />

23 abr. 2013.<br />

15


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

UNIDADE 2<br />

A Antropologia e educação<br />

2.1 Introdução<br />

Nesta unidade, o acadêmico será provocado<br />

a pensar sobre o que é educação e educação<br />

na perspectiva antropológica: ninguém<br />

escapa da educação. Em c<strong>as</strong>a, na rua, na igreja<br />

ou na escola, de um modo ou de muitos outros,<br />

todos nós envolvemos pedaços de noss<strong>as</strong><br />

vid<strong>as</strong> com ela. Veremos que a educação existe<br />

de form<strong>as</strong> diferentes em mundos diversos<br />

(sociedades tribais, agricultores, educação em<br />

países desenvolvidos, mundos sociais sem<br />

cl<strong>as</strong>ses...). Na espécie humana, a educação<br />

não continua apen<strong>as</strong> o trabalho da vida, veremos,<br />

ainda, que ela se instala dentro de um<br />

domínio propriamente humano de troc<strong>as</strong> de<br />

símbolos, de intenções, de padrão de cultura<br />

e relações de poder. A educação do homem,<br />

conforme a visão antropológica, existe por<br />

toda parte e, muito mais do que a escola, é o<br />

resultado de todo o meio sociocultural sobre<br />

os seus participantes.<br />

2.2 Conceituando educação<br />

O nosso mestre e antropólogo Carlos Rodrigues<br />

Brandão, provoca-nos a pensar sobre<br />

o que é educação exatamente, na perspectiva<br />

antropológica. Em seu livro intitulado “O que é<br />

Educação”, ele diz o seguinte: “Ninguém escapa<br />

da educação. Em c<strong>as</strong>a, na rua, na igreja ou<br />

na escola, de um modo ou de muitos, todos<br />

nós envolvemos pedaços da vida com ela.”<br />

(BRANDÃO, 1995).<br />

Sobre a educação que nos invade a vida,<br />

pensemos sobre ela a partir de um fato ocorrido<br />

nos Estados Unidos: Há muitos anos, nos<br />

Estados Unidos, Virgínia e Maryland <strong>as</strong>sinaram<br />

um tratado de paz com os Índios d<strong>as</strong> seis nações.<br />

Ora, como <strong>as</strong> promess<strong>as</strong> e os símbolos<br />

da educação sempre foram muito adequados<br />

a momentos solenes como aquele, logo depois<br />

os seus governantes mandaram cart<strong>as</strong><br />

aos índios para que envi<strong>as</strong>sem alguns de seus<br />

jovens às escol<strong>as</strong> dos brancos. Os chefes responderam<br />

agradecendo e recusando. A carta<br />

acabou conhecida porque alguns anos mais<br />

tarde Benjamin Franklin adotou o costume de<br />

divulgá-la aqui e ali. (BRANDÃO, 1995)<br />

Os índios sabiam que a educação do colonizador,<br />

que contém o saber de seu modo de<br />

vida e ajuda a confirmar a aparente legalidade<br />

de seus atos de domínio, na verdade não serve<br />

para ser a educação do colonizado.<br />

Segundo o que Brandão (1995) nos faz refletir,<br />

não há uma forma única nem um único<br />

modelo de educação; a escola não é o único<br />

lugar em que ela acontece (talvez não seja o<br />

melhor lugar).<br />

A educação existe de form<strong>as</strong> diferentes<br />

em mundos diversos: sociedades tribais, agricultores,<br />

educação em países desenvolvidos,<br />

mundos sociais sem cl<strong>as</strong>ses.<br />

O educador, pensando às vezes que age<br />

por si próprio, livre e em nome de todos, na<br />

verdade, pode estar servindo a quem o constituiu<br />

professor, a fim de usá-lo e ao seu trabalho,<br />

para os usos escusos que ocultam também<br />

na educação.<br />

A educação é um dos meios de que os<br />

homens lançam mão para criar guerreiros, burocrat<strong>as</strong><br />

e operários.<br />

Na espécie humana, a educação não continua<br />

apen<strong>as</strong> o trabalho da vida. Ela se instala<br />

dentro de um domínio propriamente humano<br />

de troc<strong>as</strong>: de símbolos de intenções, de padrão<br />

de cultura e de relações de poder.<br />

Entre os índios, a educação existe de tant<strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> e é praticada em situações tão diferentes,<br />

que algum<strong>as</strong> vezes parece ser invisível,<br />

a não ser nos lugares onde pendura uma placa<br />

com seu nome.<br />

Na aldeia africana, o “velho” ensina <strong>as</strong><br />

crianç<strong>as</strong> o saber da tribo. Quando um povo<br />

alcança um estágio complexo de organização<br />

PARA SABER MAIS<br />

Acesse o site: http://<br />

www.significados.com.<br />

br/educacao/<br />

O que significa educação.<br />

Faça uma relação<br />

entre educação e a<br />

convivência social. Qual<br />

a importância da escola<br />

para a socialização d<strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> e da vida em<br />

sociedade?<br />

17


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

UNIDADE 3<br />

Sociedade, cultura e educação<br />

3.1 Introdução<br />

Nesta Unidade, veremos que a gênese da Antropologia aplicada à Educação se encontra<br />

no âmbito da Antropologia cultural norte-americana, concretamente na Escola de Cultura e<br />

personalidade, liderada por Franz Bo<strong>as</strong>. Aprenderemos que toda prática educativa, de maneira<br />

consciente ou inconsciente, firma-se sobre um conceito de ser humano e sociedade. Veremos,<br />

também, que <strong>as</strong> instituições podem auxiliar <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a valorizarem a sua cultura, seu corpo,<br />

seu jeito de ser ou, pelo contrário, favorecer e incitar a discriminação quando silenciam diante da<br />

diversidade cultural e da necessidade de realizar abordagens de forma positiva. Os novos complexos<br />

culturais representados pela combinação entre cultura popular e <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong> de<br />

comunicação estão produzindo uma transformação radical nos processos de produção de subjetividade<br />

e de identidades sociais.<br />

3.2 Cultura e sociedade<br />

Pensamos, muit<strong>as</strong> vezes, que o resto do mundo é ou deveria ser como nós, que nossos deuses<br />

são os únicos e verdadeiros, que nossos costumes são os mais razoáveis, que noss<strong>as</strong> instituições<br />

são <strong>as</strong> mais adequad<strong>as</strong>.<br />

Diversos povos de diferentes époc<strong>as</strong> e lugares tinham ou têm form<strong>as</strong> de vida<br />

distint<strong>as</strong> que, às vezes, temos dificuldades de imaginar. Por maiores que sejam<br />

<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> sempre há regr<strong>as</strong> que estruturam e organizam a vida social com a<br />

distribuição de papéis e de atividades. (Ex. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> procuram dar um<br />

sentido especial à Educação de seus membros). (EVANS-PRICHARD, 1978:23).<br />

Todos devem aprender a ler e escrever e escrever do mesmo jeito que aprendemos?<br />

A diversidade sempre foi explicada como desigualdade de estágios existentes no processo<br />

de evolução. Essa explicação foi gerada na corrente da cultura europeia – Eurocentrismo –<br />

modelo de humanidade concebido como universal apen<strong>as</strong> o homem branco europeu. Visão de<br />

mundo eurocêntrica.<br />

O Etnocentrismo é a perspectiva em que se coloca determinada etnia no centro. Cada povo<br />

acha que é o principal, que sua língua e seus costumes são os normais. O etnocentrismo é comum<br />

a tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> e é um grande dificultador na compreensão de outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>.<br />

É somente pela compreensão d<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> sociedades que<br />

se pode chegar a ver a sua própria numa perspectiva justa-, compreendendo-a,<br />

então, em relação à totalidade d<strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> human<strong>as</strong> (EVANS-PRI-<br />

CHARD, 1978).<br />

O Eu é feito de outros – o indivíduo depende<br />

d<strong>as</strong> relações que estabelece com os outros.<br />

Nossos ritos e símbolos expressam noss<strong>as</strong><br />

diferenç<strong>as</strong>. Eles são uma forma de nos reconhecermos<br />

e de nos diferenciarmos daqueles que<br />

compartilham de nossos valores e costumes.<br />

A diferenciação já é uma forma de identificação.<br />

Nossa profissão, nossa posição política<br />

e nosso padrão estético são expressões de que<br />

nos valemos para nos identificar com o grupo<br />

de pesso<strong>as</strong> e de valores e nos diferenciar<br />

de outros. As diferenciações entre etni<strong>as</strong> não<br />

apen<strong>as</strong> tem sentido de rotular ou estigmatizar,<br />

tem servido também para a revalorização de<br />

<strong>as</strong>pectos culturais que vinham sendo menosprezados<br />

pela cultura oficial.<br />

23


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

Figura 5: Diversidade<br />

Cultural<br />

Fonte: http://br.photaki.<br />

com/picture-business-<br />

-equipa-feliz-deitado-<br />

-no-chao-em-um-<br />

-circulo_246047.htm<br />

Acessado em 23 abr.<br />

2013.<br />

O pluralismo cultural, ou multiculturalismo,<br />

é considerado como afirmação da diferença<br />

cultural e como recusa positiva à hierarquização<br />

etnocêntrica d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>. Já o<br />

►<br />

interculturalismo coloca a tônica n<strong>as</strong> troc<strong>as</strong><br />

entre <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>, nos cruzamentos, n<strong>as</strong> conexões,<br />

articulações, comunicações, diálogos,<br />

em que cada uma pode beneficiar-se da outra.<br />

DiCA<br />

“O aumento do tempo<br />

de permanência na escola<br />

pode causar uma<br />

despolitização e debilitamento<br />

da educação<br />

como esfera pública,<br />

talvez por se entender<br />

a educação como resposta<br />

a necessidades<br />

sociais específic<strong>as</strong> e<br />

não como um caminho<br />

de acesso a uma<br />

realidade humanizada”.<br />

(SILVA, 2007, p. 22)<br />

Quanto ao nível social, a interculturalidade<br />

orienta processos que têm por b<strong>as</strong>e o reconhecimento<br />

do direito à diversidade e a luta<br />

contra tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> form<strong>as</strong> de discriminação e desigualdade<br />

social.<br />

O termo multiculturalismo está umbilicalmente<br />

ligado ao currículo e à cultura. O currículo<br />

para ser entendido que, na ótica antropológica<br />

e cultural, ele tem que ser ampliado,<br />

tem que ser entendido como cultura. Como<br />

prática social que produz significados, contribui<br />

para a construção de identidades, constrói<br />

polític<strong>as</strong> de identidades. E uma pergunta sempre<br />

tem que ser feita. Como respondemos, no<br />

campo do currículo, ao caráter multicultural<br />

de noss<strong>as</strong> sociedades?<br />

A atitude em relação ao multiculturalismo<br />

deve ser desenvolvida com atenção sempre<br />

voltada para a pluralidade cultural da nossa<br />

sociedade br<strong>as</strong>ileira. Isto levando em consideração<br />

o legado português, o do indígena e do<br />

negro.<br />

Nos muitos espaços de formação humana,<br />

teremos que construir um corpo teórico<br />

de conhecimentos que reflita sobre o multiculturalismo:<br />

su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> sociais e seus<br />

problem<strong>as</strong> de governabilidade apresentados<br />

3.3 Cultura e educação<br />

por grupos sociais diferentes em comunidades<br />

culturais heterogêne<strong>as</strong>.<br />

O multiculturalismo na educação merece<br />

um olhar antropológico e um viés crítico, pois<br />

a sensibilidade para a pluralidade nos espaços<br />

de formação humana tem que acontecer com<br />

a redução de preconceitos e discriminações.<br />

Imperativo transcultural: <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> têm<br />

direito a serem iguais sempre que a diferença<br />

<strong>as</strong> tornar inferiores; contudo, têm também<br />

direito a serem diferentes sempre que a<br />

igualdade colocar em risco su<strong>as</strong> identidades.<br />

A política da diferença está sedimentada nos<br />

anseios de grupos subalternos que expressam<br />

ética superior à dos grupos dominantes.<br />

O ideal da sociedade br<strong>as</strong>ileira em relação<br />

ao multiculturalismo é a ancoragem social<br />

do conhecimento. É um desenvolvimento<br />

cultural com a compreensão d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>,<br />

consciência da discriminação e capacidade<br />

de interagir com diferentes cultur<strong>as</strong>.<br />

Ao profissional de educação cabe o desenvolvimento<br />

de form<strong>as</strong> de conhecer na<br />

ciência: validação externa, memorização, conhecimento<br />

intuitivo, observação e visualização<br />

de experimentos, construção d<strong>as</strong> própri<strong>as</strong><br />

idei<strong>as</strong>.<br />

24<br />

À realidade que n<strong>as</strong>ce do afazer humano<br />

denominamos cultura. Ao processo por meio<br />

do qual alguém vai se introduzindo num determinado<br />

âmbito cultural preexistente damos<br />

o nome de educação. A escola é uma instituição<br />

educativa, não a única, que media entre a<br />

família e a sociedade, e que ao distribuir cultura<br />

e gerar conhecimento, junto com outr<strong>as</strong> entidades,<br />

vai construindo o sujeito social.<br />

Historicamente, cada grupo humano tem<br />

construído o seu código específico de comunicação<br />

e acordo com sua experiência vital. Ess<strong>as</strong><br />

experiênci<strong>as</strong> modelaram-se em diferentes expressões<br />

culturais d<strong>as</strong> quais muit<strong>as</strong> já desapareceram,<br />

e outr<strong>as</strong>, particularmente na Amazônia,<br />

estão em vi<strong>as</strong> de se perderem para sempre.<br />

A cultura não se transmite geneticamente.<br />

O modo de ler o mundo, o sistema de


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

norm<strong>as</strong> e valores de cada comunidade, para<br />

serem transmitidos de uma geração a outra,<br />

requererem um esforço pessoal e coletivo.<br />

Na coletividade de estrutura social simples,<br />

a tarefa de transmitir esse modo peculiar<br />

de entender a realidade e <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> de<br />

convivência era encomendada a família; n<strong>as</strong><br />

sociedades complex<strong>as</strong>, essa função p<strong>as</strong>sou a<br />

ser compartilhada com os sistem<strong>as</strong> educativos<br />

criados pelo Estado, a fim de rep<strong>as</strong>sar de maneira<br />

equitativa e eficaz aqueles conhecimentos<br />

que se consideram significativos para o<br />

desenvolvimento e bem-estar social. A simples<br />

constatação da existência de múltipl<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>,<br />

em princípio, autoriza-nos a pensar que a<br />

herança genética do homem, sem tentar minimizar<br />

o seu peso em relação à Educação, não<br />

determina seu comportamento.<br />

O período longo compreendido entre<br />

o n<strong>as</strong>cimento e a inserção plena na sociedade<br />

como pessoa adulta permite ao educando<br />

acumular experiênci<strong>as</strong> suficientes para superar,<br />

com vantagem, <strong>as</strong> carênci<strong>as</strong> instintiv<strong>as</strong>. A<br />

sociedade, ao possibilitar que muit<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong><br />

pensem e produzam cois<strong>as</strong> que logo compartilham,<br />

permite acumular conhecimentos e<br />

aprender mais.<br />

Num livro intitulado Escola e Cultura, o<br />

sociólogo francês Jean-Claude Forquin identifica<br />

e discute cinco acepções diferentes do<br />

termo cultura: 1) tradicional; 2) descritiva; 3)<br />

identitária; 4) universalista-unitária; 5) filosófica.<br />

Vamos ver, com calma, cada uma del<strong>as</strong>.<br />

1. Tradicional<br />

Numa primeira acepção, a tradicional, a<br />

cultura é considerada como o “conjunto d<strong>as</strong><br />

disposições e d<strong>as</strong> qualidades do espírito ‘cultivado’.”<br />

(FORQUIN, 1993, p. 11). Isso diz respeito<br />

à posse de um amplo conjunto de conhecimentos<br />

e de competênci<strong>as</strong> divers<strong>as</strong>. Vale dizer,<br />

essa é uma acepção individualista e elitista da<br />

cultura, referindo-se ao indivíduo ilustrado,<br />

erudito, portador de um saber enciclopédico,<br />

formado na tradição da melhor educação humanística<br />

e filosófico-científica. É muito comum<br />

dizer que um indivíduo é “culto”, isto é,<br />

um sujeito que “cultivou o espírito” e acumulou<br />

um v<strong>as</strong>to conjunto de conhecimentos. O<br />

contrário do indivíduo culto é o sujeito rude,<br />

isto é, rudimentar, primitivo, capenga. Cultivar<br />

o espírito significa superar este estado de rudeza<br />

e tornar-se um erudito.<br />

2. Descritiva<br />

Numa segunda acepção, voltemos a Forquin,<br />

exatamente no pólo oposto à primeira,<br />

está a acepção descritiva desenvolvida pel<strong>as</strong><br />

ciênci<strong>as</strong> sociais contemporâne<strong>as</strong> (Sociologia e<br />

Antropologia). Nesse c<strong>as</strong>o,<br />

Dica<br />

Segundo a filósofa<br />

br<strong>as</strong>ileira Marilena<br />

Chauí, o termo cultura<br />

deriva do latim colere<br />

e se referia originalmente<br />

ao cuidado com<br />

a terra, <strong>as</strong> plant<strong>as</strong> e os<br />

animais (agricultura);<br />

por extensão, referia-se<br />

também ao cuidado<br />

com <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> e a sua<br />

socialização (puericultura);<br />

era, ainda, expressão<br />

da adoração aos<br />

deuses (culto), termo<br />

que p<strong>as</strong>sou a designar<br />

o indivíduo de espírito<br />

cultivado. A partir do<br />

final do século XVIII,<br />

o cultivo do espírito<br />

transformou-se no ideal<br />

de cultura da Ilustração.<br />

Daí que cabia à chamada<br />

escola tradicional<br />

ilustrar os indivíduos,<br />

mesmo que fosse com<br />

a contribuição da palmatória.<br />

(CHAUÍ, 1994,<br />

p. 11)<br />

[...] a cultura é considerada como o conjunto dos traços característicos do<br />

modo de vida de uma sociedade, de uma comunidade ou de um grupo, aí<br />

compreendidos os <strong>as</strong>pectos que se podem considerar como os mais cotidianos,<br />

os mais triviais ou os mais ‘inconfessáveis’. (FORQUIN, 1993, p. 11).<br />

Pense, aí, que traços do modo de vida do<br />

povo da sua comunidade são “inconfessáveis”?<br />

Sob essa perspectiva, constituem a cultura<br />

tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> manifestações de um povo, desde<br />

os <strong>as</strong>pectos mais sofisticados aos mais banais,<br />

os mais requintados pensamentos e os mais<br />

folclóricos, os mais elevados ideais e <strong>as</strong> mais<br />

elementares idei<strong>as</strong> do senso comum. Nesse<br />

sentido, não há povo nem indivíduo sem cultura.<br />

Há cultur<strong>as</strong> diferentes, níveis diferenciados<br />

de cultura, da erudita à popular. Ess<strong>as</strong><br />

cultur<strong>as</strong> são constituíd<strong>as</strong> a partir de relações<br />

recíproc<strong>as</strong>, tanto entre pesso<strong>as</strong> de uma mesma<br />

comunidade quanto entre comunidades<br />

human<strong>as</strong> diferentes.<br />

Poderíamos ir além. Vamos tomar um <strong>as</strong>pecto<br />

da cultura mineira, a culinária, por exemplo.<br />

Você sabia que a comida mineira tem fama<br />

nacional? Pois é, “Feijão, Angu e Couve” é o<br />

nome de um livro que o escritor Eduardo Frieiro<br />

(1966) escreveu para falar da comida mineira.<br />

E que comida! Tutu de feijão com torresmo,<br />

angu com quiabo e frango caipira, pequi com<br />

arroz e carne de sol, lombo de porco... Paremos<br />

por aqui. Todos nós sabemos, que para o nosso<br />

gosto, tudo isso é uma delícia.<br />

Porém, veja como a culinária pode trazer<br />

riscos à diplomacia! Você já pensou no problema<br />

que causaria se oferecesse a um judeu<br />

o nosso delicioso lombo de porco? E a um indiano<br />

um suculento bife de boi? Agora, pensemos<br />

ao contrário. Imagine-se em viagem pela<br />

China, tomando, como aperitivo, o sangue<br />

daquela cobra (serpente) que você acabou de<br />

escolher para o almoço. Ou comendo cérebro<br />

de macaco na própria cumbuca do crânio.<br />

Que tal, em algum país do interior da África,<br />

comendo frit<strong>as</strong> de lagarta ao invés dos nossos<br />

crocantes torresmos? Procure você mesmo(a)<br />

mais alguns exemplos dess<strong>as</strong> “esquisitices” e<br />

verá que tudo não p<strong>as</strong>sa de uma questão de<br />

gosto definido pela cultura. Vamos em frente.<br />

3. Iidentitária<br />

Entre o sentido restritivo da primeira e o<br />

global e relativista da segunda, diz Forquin<br />

(1993), há outr<strong>as</strong> três acepções. Uma del<strong>as</strong> é a<br />

identitária, que entende a cultura como “um<br />

ATIVIDADE<br />

Leia o texto Cultura e<br />

Democracia de Marilena<br />

Chauí em: http://<br />

biblioteca.clacso.edu.<br />

ar/ar/libros/secret/CyE/<br />

cye3S2a.pdf, escreva<br />

uma síntese e discuta<br />

com os coleg<strong>as</strong> sobre<br />

<strong>as</strong> questões abordad<strong>as</strong><br />

pela autora no fórum<br />

discussão.<br />

25


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

patrimônio de conhecimentos e competênci<strong>as</strong>,<br />

de instituições, de valores e de símbolos,<br />

constituído ao longo de gerações e característico<br />

de uma comunidade humana particular”<br />

(FORQUIN, 1993, p. 12). Qual é o “patrimônio<br />

de conhecimentos e competênci<strong>as</strong>” da sua comunidade<br />

e como esse patrimônio é p<strong>as</strong>sado<br />

de geração a geração? Quem são os responsáveis<br />

pela reprodução desse patrimônio, isto<br />

é, quem são os mediadores que permitem às<br />

nov<strong>as</strong> gerações o conhecimento desse patrimônio?<br />

Por isso é que se fala em identidade cultural.<br />

Há um “patrimônio de conhecimentos<br />

e competênci<strong>as</strong>” que distinguem <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong><br />

do campo daquel<strong>as</strong> que vivem n<strong>as</strong> cidades,<br />

os br<strong>as</strong>ileiros dos norte-americanos, os ocidentais<br />

dos orientais etc. Porém, não se iluda<br />

com a ideia, muito difundida entre nós, de que<br />

há um traço distintivo no povo br<strong>as</strong>ileiro, que<br />

é a cordialidade, a generosidade etc. Não há<br />

nada que <strong>as</strong>segure a um povo um estado de<br />

natureza que se incline para a bondade e o<br />

espírito conciliador ou para a maldade e a violência<br />

bruta. A identidade cultural de um povo<br />

depende da sua própria história. Existe uma<br />

identidade cultural do povo br<strong>as</strong>ileiro? E dos<br />

mineiros?<br />

4. Universalista-unitária<br />

Para Forquin, a acepção universalista-unitária<br />

se refere<br />

[...] à ideia de que o essencial daquilo que a educação transmite (ou do que<br />

deveria transmitir) sempre, e por toda a parte, transcende necessariamente <strong>as</strong><br />

fronteir<strong>as</strong> entre os grupos humanos e os particularismos mentais e advém de<br />

uma memória comum e de um destino comum a toda a humanidade. (FOR-<br />

QUIN, 1993, p. 12).<br />

Pense bem. Nós vivemos no Br<strong>as</strong>il, em<br />

Min<strong>as</strong> Gerais. Temos aquilo que nos distingue,<br />

como br<strong>as</strong>ileiros e mineiros, é claro. M<strong>as</strong><br />

a nossa “memória comum”, que transcende<br />

<strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong> do estado e do país, nos remete<br />

à Civilização Judaico-Cristã e não ao Budismo<br />

ou ao Hinduísmo, por exemplo. Do Cristianismo<br />

emergiu o Islamismo, o Catolicismo Ortodoxo<br />

e o Protestantismo. E destes emergiram<br />

<strong>as</strong> centen<strong>as</strong> de igrej<strong>as</strong> e seit<strong>as</strong> protestantes<br />

dos nossos di<strong>as</strong>. O que há de universal na cultura<br />

do seu meio? E o que há de particular,<br />

unitário, que talvez só seja encontrado aí?<br />

O trabalho educativo, em qualquer lugar<br />

onde ele se realiza e sob quaisquer condições,<br />

diz respeito a uma seleção feita pelos<br />

educadores (pais, pregadores, professores)<br />

daqueles bens culturais que eles julgam necessário<br />

e/ou interessante rep<strong>as</strong>sar às nov<strong>as</strong><br />

gerações. Claro que isso não se dá de forma<br />

espontânea. Há todo um sistema político e<br />

ideológico que cria regulamentações e estabelece<br />

critérios que restringem a liberdade<br />

desses educadores. De qualquer forma, eles<br />

são mediadores. Na escola, aquilo que é selecionado<br />

como relevante e necessário aos<br />

estudantes deriva de recortes de conteúdos<br />

diversos feitos por profissionais do ensino e<br />

distribuídos n<strong>as</strong> disciplin<strong>as</strong> que compõem o<br />

currículo. Em algum momento do curso, você<br />

terá a oportunidade de verificar essa questão<br />

em maiores detalhes, quando for tratar da<br />

Gestão da Escola e d<strong>as</strong> Diretrizes Curriculares.<br />

5. Filosófica<br />

Há, ainda, a acepção filosófica, que afirma<br />

ser a cultura, “antes de tudo, um estado<br />

especificamente humano”, ou seja, “aquilo<br />

pelo qual o homem distancia-se da natureza<br />

e distingue-se especificamente da animalidade”.<br />

(FORQUIN, 1993, p. 12). Lembre-se. Os<br />

animais vivem em sociedade, m<strong>as</strong> somente<br />

os seres humanos recriam intencionalmente<br />

seu ambiente. Do ponto de vista puramente<br />

biológico, você sabe qual é a distância entre<br />

o homem e o chimpanzé?<br />

Os animais reagem a estímulos externos,<br />

são domesticados e realizam trabalho, inclusive<br />

de acordo com exigênci<strong>as</strong> human<strong>as</strong>. Porém,<br />

somente ao homem é permitido criar,<br />

isto é, ir além daquilo que é dado pela natureza<br />

e desenvolvido pelo adestramento. Isso<br />

constitui um campo complexo há muito discutido<br />

pela Antropologia e que genericamente<br />

pode ser identificado no tema “natureza e<br />

cultura”. Em um de seus livros mais famosos,<br />

Marx afirma que “uma aranha executa operações<br />

semelhantes às do tecelão, e a abelha<br />

supera mais de um arquiteto ao construir sua<br />

colmeia. M<strong>as</strong> o que distingue o pior arquiteto<br />

da melhor abelha é que ele figura na mente<br />

sua construção antes de transformá-la em<br />

realidade. (MARX, 1985, p. 202).<br />

26


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

3.4 Cultura e currículo<br />

O que é educação e, em particular, o currículo,<br />

senão uma forma institucionalizada de<br />

transmitir a cultura de uma sociedade? A educação<br />

e o currículo são vistos como profundamente<br />

envolvidos com o processo cultural.<br />

Questões relativ<strong>as</strong> de “como”, do currículo,<br />

continuam importantes. El<strong>as</strong> só adquirem<br />

sentidos dentro de uma perspectiva que <strong>as</strong><br />

considere em sua relação com questões que<br />

perguntem “por que”?, n<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de organização<br />

dos conhecimentos escolar.<br />

Nessa perspectiva, o currículo é visto<br />

como artefato social e cultural. Isso significa<br />

que ele é colocado na moldura mais ampla de<br />

su<strong>as</strong> determinações sociais, de sua história, de<br />

sua produção contextual.<br />

O currículo está implicado em relação de<br />

poder, transmite visões sociais particulares e<br />

interessad<strong>as</strong>, produz identidades individuais<br />

e sociais particulares. Não é um elemento<br />

transcendente e atemporal – ele tem uma história,<br />

vinculada às form<strong>as</strong> especific<strong>as</strong> e contingentes<br />

de organização da sociedade e da<br />

educação.<br />

O conhecimento corporificado como<br />

currículo educacional não pode deixar de ser<br />

problematizado. Não é mais possível alegar<br />

qualquer inocência a respeito do papel constituidor<br />

(de identidades sociais e individuais) do<br />

conhecimento organizado em forma curricular<br />

e transmitido n<strong>as</strong> instituições educacionais.<br />

O currículo existente, isto é, o conhecimento<br />

organizado para ser transmitido n<strong>as</strong><br />

instituições educacionais, p<strong>as</strong>sa a ser visto<br />

não apen<strong>as</strong> como implicado na produção de<br />

relações <strong>as</strong>simétric<strong>as</strong> de poder no interior da<br />

escola e da sociedade, m<strong>as</strong> também como histórica<br />

e socialmente contingente.<br />

Atividade<br />

Assista ao documentário<br />

N<strong>as</strong>cidos em<br />

Bordeis que apresenta<br />

um roteiro mostrtando<br />

como os personagens<br />

começaram a aprender<br />

a ver su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong><br />

de acordo com o que<br />

viam pela câmera, esta<br />

foi a sacada principal<br />

da ideia do projeto<br />

social. Fazer com que<br />

os aprendizes a fotógrafos<br />

conseguissem<br />

enxergar o que antes<br />

eles não percebiam.<br />

Qual a relação entre<br />

cultura e aprendizagem<br />

que vocês conseguem<br />

perceber no documentário?<br />

Apresente sua<br />

resposta no fórum de<br />

discussão.<br />

◄<br />

Figura 6: Filme:<br />

N<strong>as</strong>cidos em<br />

Bordéis<br />

Fonte: www.omelete.<br />

com.br. Acessado em<br />

21 set. 2012.<br />

Este ganhador do Oscar mostra a vida de<br />

crianç<strong>as</strong> do bairro da Luz Vermelha, em Calcutá.<br />

O aparente enriquecimento da Índia deixa<br />

de lados os menos favorecidos. Porém, ainda<br />

há esperanç<strong>as</strong>. Os documentarist<strong>as</strong> Zana Briski<br />

e Ross Kauffman procuram ess<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> e<br />

munido de câmer<strong>as</strong> fotográfic<strong>as</strong> pedem para<br />

el<strong>as</strong> fazerem retratos de tudo que lhes chamam<br />

a atenção. Os resultados são emocionantes.<br />

Enquanto <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> vão descobrindo<br />

essa nova forma de expressar, os cine<strong>as</strong>t<strong>as</strong><br />

lutam para poder dar mais esperança, para <strong>as</strong><br />

quais a pobreza é a maior ameaça à realização<br />

dos sonhos.<br />

Título Original: Born Into Brothels: Calcutta’s<br />

Red Light Kids - País de Origem: Índia<br />

/ EUA - Gênero: Documentário - Tempo de<br />

Duração: 85 minutos - Ano de Lançamento:<br />

2004 - Site Oficial: http://kids-with-camer<strong>as</strong>.org/borninobrothels/film.php<br />

- Estúdio/<br />

Distrib: Focus Filmes - Direção: Zana Briski /<br />

Ross Kauffman<br />

27


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

Referênci<strong>as</strong><br />

CANDAU, Vera. Multiculturalismo e educação: a construção de uma perspectiva. In: Sociedade,<br />

educação e cultur<strong>as</strong> (Questões e propost<strong>as</strong>). ______. (org.). Petrópolis, Editora Vozes, 2002.<br />

CHAUÍ, Marilena. Conformismo e resistência: <strong>as</strong>pectos da cultura popular no Br<strong>as</strong>il. 6 . ed. São<br />

Paulo: Br<strong>as</strong>iliense, 1994.<br />

DAUSTER, T. Navegando contra a corrente? Educador, o antropólogo e o relativismo. In: BRAN-<br />

DÃO, Z. (org.) A crise dos paradigm<strong>as</strong> e a Educação. São Paulo: Cortez, 1994.<br />

DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural. In: Múltiplos olhares sobre educação e<br />

cultura. (org.). Belo Horizonte. Editora UFMG, 1997.<br />

ERNY, P. Etnologia da Educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1982.<br />

EVANS-Pritchard, E. E. Antropologia Social. Lisboa: ed. 70, 1972.<br />

FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es sociais e epistemológic<strong>as</strong> do conhecimento<br />

escolar. Porto Alegre: Artes Médic<strong>as</strong>, 1993.<br />

FRIEIRO, Eduardo. Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros. Belo Horizonte:<br />

Centro de Estudos Mineiros, 1966.<br />

LARAIA. R. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.<br />

MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. Vol. I. São Paulo: Difel, 1985.<br />

SALGADO, Maria Umbelina Caiafa, MIRANDA, Glaura V<strong>as</strong>ques (Organizador<strong>as</strong>). Vered<strong>as</strong> – Formação<br />

de professores: Módulo 1 – Volume 2/ SEE-MG. Belo Horizonte: SEE-MG, 2002.<br />

SALVADOR, Angelo Domingos. Cultura e Educação Br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>. 4. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1976.<br />

28


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

UNIDADE 4<br />

Educação e diversidade<br />

4.1 Introdução<br />

Nesta unidade, adentraremos n<strong>as</strong> temátic<strong>as</strong> da educação e diversidade, o olhar da Antropologia<br />

sobre a educação e o trato pedagógico da questão racial e a proposta da educação antirracista,<br />

a educação indígena com uma pedagogia diferenciada. Aprenderemos a diferenciação e ao<br />

mesmo tempo a importância de uma educação do campo como proposta de mudança social. A<br />

educação e gênero como forma de revisar e mostrar a sociedade com viés patriarcal e machista,<br />

o lugar do feminino historicamente estereotipado e prátic<strong>as</strong> que reproduzem ou reforçam a desigualdade,<br />

e isto no âmbito escolar transportando para o social como um todo.<br />

Para saber mais<br />

Acesse o site: http://racismoambiental.net.br/<br />

Discuta no fórum apropriado:<br />

O que é racismo<br />

ambiental?<br />

4.2 Educação antirracista<br />

As diferenç<strong>as</strong> físic<strong>as</strong>, étnic<strong>as</strong>, culturais, de<br />

gênero, etári<strong>as</strong> são um fato, m<strong>as</strong> não é o foco<br />

da discussão. O ponto crucial do debate sobre<br />

diversidade é a percepção, a reflexão e a atuação<br />

sobre os mecanismos sociais que transformam<br />

<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> em desigualdade.<br />

O resgate dos direitos humanos e a valorização<br />

da diferença são form<strong>as</strong> de desconstruir<br />

a desigualdade. Esta é a b<strong>as</strong>e que fundamenta<br />

a prática da diversidade como valor. (CANDAU,<br />

1996, p.22)<br />

A Igualdade na diferença: valorizar a<br />

humanidade que provém de todo e qualquer<br />

indivíduo, b<strong>as</strong>e da ideia de direitos humanos.<br />

Mesmo em c<strong>as</strong>os graves de deficiência, a pessoa<br />

deve ter garantido seu direto de livre escolha<br />

e convívio social.<br />

A Diferença na igualdade: <strong>as</strong> peculiaridades<br />

d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> devem ser reconhecid<strong>as</strong>,<br />

na medida em que impliquem em adaptações<br />

para que sua participação social seja efetivada.<br />

Essa ideia está na b<strong>as</strong>e do surgimento do conceito<br />

de diversidade. (LOURO, 1997, p. 45)<br />

Nos <strong>as</strong>pectos legais, temos como suporte<br />

básico a Constituição Br<strong>as</strong>ileira de 1988<br />

que, no artigo 3º, dos princípios fundamentais<br />

declara:<br />

Dos Princípios Fundamentais<br />

Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais<br />

da República Federativa do Br<strong>as</strong>il:<br />

I. construir uma sociedade livre, justa e solidária;<br />

II. garantir o desenvolvimento nacional;<br />

III. erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir<br />

<strong>as</strong> desigualdades sociais e regionais;<br />

IV. promover o bem de todos, sem preconceitos<br />

de origem, raça, sexo, cor, idade e<br />

quaisquer outr<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de discriminação.<br />

(ROSENDO, 1998, p.13)<br />

Na LDB 9.493/96, podemos ler:<br />

Art. 26-A. “Nos estabelecimentos de ensino<br />

fundamental e médio, oficiais e particulares,<br />

torna-se obrigatório o ensino sobre História<br />

e Cultura Afro-Br<strong>as</strong>ileira.”<br />

Art. 79-B. “O calendário escolar incluirá<br />

o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da<br />

Consciência Negra”.<br />

As Diretrizes Curriculares Nacionais para<br />

a Educação d<strong>as</strong> Relações Étnico-Raciais e para<br />

o Ensino de História e Cultura Afro-Br<strong>as</strong>ileira<br />

e Africana visam <strong>as</strong>segurar o direito à igualdade<br />

de condições de vida e de cidadania,<br />

<strong>as</strong>sim como garantir igual direito às históri<strong>as</strong><br />

e cultur<strong>as</strong> que compõem a nação br<strong>as</strong>ileira,<br />

além de acesso às diferentes fontes da cultura<br />

nacional a todos os br<strong>as</strong>ileiros. Contudo,<br />

convivemos com uma tensão legal para<br />

a revisão dos currículos; para a qualificação<br />

dos professores e o seu constante aperfeiçoamento<br />

pedagógico; o comprometimento do<br />

poder executivo na implementação da lei. A<br />

elaboração, execução, avaliação do programa<br />

de interesse educacional, de planos institucionais,<br />

pedagógicos e de ensino, no que diz<br />

respeito às relações étnic<strong>as</strong>, a educação antir-<br />

Dica<br />

Outro documento<br />

importantíssimo é a declaração<br />

de Durban que<br />

é um acordo internacional<br />

que trata da diversidade<br />

étnico-racial,<br />

<strong>as</strong>sinado durante a III<br />

Conferência Mundial de<br />

Combate ao Racismo,<br />

Discriminação Racial,<br />

Xenofobia e Intolerância<br />

Correlata, realizada<br />

pela ONU em 2001.<br />

ATIVIDADE<br />

Faça uma análise comparativa<br />

dos artigos da<br />

Lei de Diretrizes e B<strong>as</strong>es<br />

da Educação Nacional:<br />

Lei nº 9.394, de 20 de<br />

dezembro de 1996,<br />

Com a realidade da<br />

escola mais próxima de<br />

você, em relação ao racismo<br />

e etnocentrismo.<br />

Apresente sua síntese<br />

no fórum de discussão.<br />

29


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

▲<br />

Figura 7: Racismo a<br />

Br<strong>as</strong>ileira<br />

Fonte: www.midiaindependente.com.br.<br />

Acessado<br />

em 30 mar. 2012.<br />

racista e antidiscriminatória<br />

e a diversidade da<br />

nação br<strong>as</strong>ileira. (LOU-<br />

RO, 1997).<br />

Capa da Vogue traz<br />

top model br<strong>as</strong>ileira e<br />

jogador norte-americano<br />

de b<strong>as</strong>quete fazendo<br />

poses. Críticos sugerem<br />

que a peça apen<strong>as</strong> reafirma<br />

velhos estereótipos<br />

raciais: As principais<br />

conseqüênci<strong>as</strong> de uma<br />

educação racista e discriminatória:<br />

Para <strong>as</strong> Crianç<strong>as</strong>:<br />

a não percepção do diálogo como possibilidade<br />

positiva de contraposição de idei<strong>as</strong>; o<br />

comprometimento do senso crítico e ético; <strong>as</strong><br />

atitudes de competição, agressão e violência<br />

no cotidiano escolar e o estabelecimento de<br />

conceitos de hierarquia racial;<br />

Para <strong>as</strong> Crianç<strong>as</strong> Negr<strong>as</strong>: sentimento<br />

de inferioridade racial, intelectual, de beleza<br />

estética, de valores morais, éticos e culturais;<br />

inadequação social; vergonha, medo e raiva<br />

de ser negro; autoconceito negativo; potencial<br />

comprometido; frac<strong>as</strong>so escolar.<br />

Para <strong>as</strong> Crianç<strong>as</strong> Branc<strong>as</strong>: sentimento<br />

de superioridade racial, intelectual, de beleza<br />

estética, de valores morais, éticos e culturais;<br />

dificuldade de se relacionar com indivíduos<br />

negros; torna-se racista;<br />

Para a Sociedade: perpetuação de ideologi<strong>as</strong><br />

racist<strong>as</strong>; formação de indivíduos racist<strong>as</strong>;<br />

permanência d<strong>as</strong> desigualdades raciais;<br />

violência no espaço escolar; potenciais subaproveitados.<br />

4.2.1 O trato pedagógico da questão racial na Infância<br />

Atividade<br />

Comente a afirmativa<br />

no fórum de discussão<br />

em relação a imagem<br />

e justifique citando<br />

exemplos de como <strong>as</strong><br />

prátic<strong>as</strong> educativ<strong>as</strong><br />

podem mudar essa realidade.<br />

Poste no fórum<br />

de discussão.<br />

Figura 8: Filme:<br />

SARAFINA<br />

Fonte: www.omelete.<br />

com.br. Acessado em 21<br />

abr. 2012.<br />

30<br />

►<br />

Dependendo da forma como é entendida<br />

e tratada a questão da diversidade étnica, <strong>as</strong><br />

instituições podem auxiliar <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> a valorizar<br />

sua cultura, seu corpo, seu jeito de ser<br />

ou, pelo contrário, favorecer a discriminação<br />

quando silenciam diante da diversidade e da<br />

necessidade de realizar abordagens de forma<br />

positiva.<br />

A criança que vivencia situação de discriminação<br />

com relação ao seu corpo pode não<br />

construir uma imagem positiva de si mesma.<br />

Na contextualização de situações de diversidade<br />

étnico-racial e a vida cotidiana n<strong>as</strong><br />

sal<strong>as</strong> de aula, alunos e alun<strong>as</strong>, aprenderão conceitos,<br />

analisarão fatos e poderão se capacitar<br />

para intervir na sua realidade e transformá-la.<br />

As propost<strong>as</strong> de educação atrelad<strong>as</strong> a<br />

uma pedagogia antirracista cria estratégi<strong>as</strong><br />

para garantir a permanência da parcela negra<br />

da população escolar na escola. Em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

dimensões do cuidar e educar é necessário<br />

considerar a singularidade de cada criança<br />

com su<strong>as</strong> necessidades, desejos, queix<strong>as</strong>,<br />

bem como <strong>as</strong> dimensões culturais, familiares<br />

e sociais.<br />

O acolhimento da criança implica o respeito<br />

à sua cultura, corporeidade, estética e<br />

presença no mundo. As dimensões do cuidar e<br />

educar nos permite compreender a importância<br />

d<strong>as</strong> interações positiv<strong>as</strong> entre educadores e<br />

crianç<strong>as</strong>.<br />

Na abordagem da questão racial, como<br />

conteúdo multidisciplinar durante o ano letivo,<br />

é fundamental fazer com que o <strong>as</strong>sunto não<br />

seja reduzido a estudos esporádicos ou unidades<br />

didátic<strong>as</strong> isolad<strong>as</strong>. Atividades correlat<strong>as</strong><br />

como painéis com fotos da turma, confecção<br />

de álbuns familiares, feira de cultura, construção<br />

de gráficos e estimativ<strong>as</strong> etc., tendo o cuidado<br />

de não reforçar <strong>as</strong> hierarqui<strong>as</strong> d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong><br />

étnico-raciais, de gênero, faixa etária e<br />

condição social, devem ser trabalhad<strong>as</strong>.<br />

A perspectiva da diversidade deve ser<br />

contemplada, escolhendo-se, para acervo d<strong>as</strong><br />

instituições, bonec<strong>as</strong>(os) branc<strong>as</strong>, negr<strong>as</strong>, indígen<strong>as</strong>,<br />

orientais, a produção de jogos e brinquedos<br />

populares e artesanais. Os educadores<br />

devem estar atentos para textos que podem<br />

reforçar o preconceito, sendo dúbios em seu<br />

significado.


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

Além da v<strong>as</strong>ta literatura, os contos e <strong>as</strong><br />

históri<strong>as</strong> povoam o universo de nossos alunos,<br />

por que não trazemos para a sua cultura<br />

os contos africanos e indígen<strong>as</strong>? Para a educação<br />

que respeita a diversidade, é fundamental<br />

contemplar a riqueza cultural de outros povos.<br />

Históri<strong>as</strong> da nossa literatura, como: Históri<strong>as</strong><br />

da Preta, o Menino Nito, Ana e Ana, Tranç<strong>as</strong> de<br />

Bintou, Bruna e a Galinha de Angola permitem<br />

o contato com <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> afro-br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> e<br />

african<strong>as</strong>, com personagens negr<strong>as</strong> representad<strong>as</strong><br />

com qualidade e beleza.<br />

As sugestões apresentad<strong>as</strong> não devem<br />

ser tomad<strong>as</strong> como receita, m<strong>as</strong> como possibilidades<br />

a serem construíd<strong>as</strong>, reconstruíd<strong>as</strong>, ampliad<strong>as</strong>,<br />

enriquecid<strong>as</strong> com a costumeira criatividade<br />

dos educadores.<br />

É importante que a temática d<strong>as</strong> relações<br />

étnico-raciais esteja contida nos projetos pedagógicos<br />

d<strong>as</strong> instituições, evitando-se prátic<strong>as</strong><br />

localizad<strong>as</strong> em determinad<strong>as</strong> f<strong>as</strong>es do ano<br />

como maio, agosto ou novembro.<br />

Em pleno Apartheid, numa escola de Soweto,<br />

em que o exército patrulha de arm<strong>as</strong> e<br />

<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> gritam “Libertem Mandela”, uma<br />

professora ensina história de uma forma censurável<br />

fugindo ao currículo aprovado pelo<br />

regime. Sarafina é uma aluna negra, que relata<br />

a história sobre a forma de uma carta dirigida<br />

a Nelson Mandela e que, como tantos outros<br />

adolescentes, se sente revoltada face às injustiç<strong>as</strong><br />

do sistema. Um sistema que <strong>as</strong> incentiva<br />

a estudar para terem uma hipótese de vida,<br />

m<strong>as</strong> que nunca lhes explica declaradamente<br />

que nunca terão uma hipótese de igualdade<br />

social. (D’ANGELIS, 1999)<br />

Sugestão de Músic<strong>as</strong>: Canto d<strong>as</strong> três raç<strong>as</strong><br />

(Clara Nunes), Dia de graça (Candeia), Mão<br />

de Limpeza (Gilberto Gil), Retrato em Claro e<br />

Escuro (Racionais), Sorriso Negro (Dona Ivone<br />

Lara), entre outros.<br />

Sugestão de Sítios na Internet: Racismo<br />

e Negritude<br />

C<strong>as</strong>a d<strong>as</strong> Áfric<strong>as</strong> www.c<strong>as</strong>ad<strong>as</strong>afric<strong>as</strong>.<br />

org.br Espaço cultural e de estudos sobre sociedades<br />

african<strong>as</strong>, exposições virtuais, consulta<br />

a biblioteca especializada.<br />

C<strong>as</strong>a de Cultura da Mulher Negra www.<br />

c<strong>as</strong>adeculturadamulhernegra.org.br Artigos<br />

e notíci<strong>as</strong> do movimento da mulher negra.<br />

Fundação Cultural Palmares www.palmares.gov.br<br />

Página oficial da fundação ligada<br />

ao Governo Federal. Polític<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> e dados<br />

sobre a população afro-descendente, comunidades<br />

quilombol<strong>as</strong>, artigos e notíci<strong>as</strong>.<br />

Geledés www.geledes.org.br Artigos,<br />

indicação de leitur<strong>as</strong> e notíci<strong>as</strong> do movimento<br />

negro<br />

Mestre Didi www.mestredidi.org Informações<br />

sobre ancestralidade africana no Br<strong>as</strong>il.<br />

Mulheres Negr<strong>as</strong> www.mulheresnegr<strong>as</strong>.<br />

org Artigos sobre diversidade cultural e educação,<br />

lista de pesquisadores sobre a história africana<br />

e de afro-descendentes.<br />

Mundo Negro www.mundonegro.com.<br />

br Portal da comunidade afro-descendente,<br />

traz notíci<strong>as</strong>, agenda cultural e educativa, artigos<br />

e debates.<br />

Núcleo de Estudos Negros www.nen.org.<br />

br/index.htm Legislação, artigos e pesquis<strong>as</strong>.<br />

Portal Afro www.portalafro.com.br Informações<br />

sobre comunidades quilombol<strong>as</strong>,<br />

religiões african<strong>as</strong>, arte e culinária.<br />

Jornal Irohín www.irohin.com.br artigos<br />

BOX 3<br />

A escolaridade br<strong>as</strong>ileira aumentou ao longo do século XX e hoje a população tem em<br />

média 6,3 anos de estudo. Os jovens brancos têm 2,3 anos a mais de escolaridade do que os<br />

jovens negros. O que é surpreendente de um lado, m<strong>as</strong> aterrador de outro, é que os pais desses<br />

jovens brancos já tinham 2,3 anos de estudo a mais do que os pais negros. E que os avós<br />

brancos, em 1927, também já tinham esses mesmos 2,3 anos de estudo a mais do que os avós<br />

negros. Todos melhoraram, m<strong>as</strong> a distância se manteve. Esse resultado é o que torna mais<br />

cínica a noção de democracia racial. Porque melhora tudo, m<strong>as</strong> a diferença de escolaridade<br />

entre brancos e negros que n<strong>as</strong>ceram em 1929 é idêntica aos que n<strong>as</strong>ceram em 1974. Essa<br />

diferença é a manifestação mais nítida da naturalização da desigualdade. A sociedade branca<br />

e a sociedade negra se olham e se vêem exatamente na mesma posição. Ou a sociedade<br />

br<strong>as</strong>ileira admite que a democracia racial não existe ou é impossível modificar essa situação.<br />

É um problema de governo e é um problema de sociedade. É preciso ter vontade política e<br />

uma repactuação social enorme. Se não se fizer nada, vai levar mais um século para igualar os<br />

anos de estudo de brancos e negros. Os principais indicadores da década de 90 mostram que<br />

o Br<strong>as</strong>il melhorou ao longo da década, isso é inquestionável. M<strong>as</strong> em qu<strong>as</strong>e todos os indicadores<br />

a melhora não provocou nenhum diferencial racial e a distância entre brancos e negros se<br />

manteve exatamente igual. Na década, melhora-se tudo, m<strong>as</strong> <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> não se reduzem,<br />

não há nenhuma convergência.<br />

Fonte: CANDAU, 1996, p. 15.<br />

Para Saber mais<br />

B<strong>as</strong>eado no texto do<br />

Box 3 responda: Qual é<br />

a importância da educação<br />

para combater a<br />

desigualdade racial?<br />

31


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

BOX 4<br />

Para Saber mais<br />

Escolha uma d<strong>as</strong> fr<strong>as</strong>es<br />

do Box 4 e escreva um<br />

comentário no fórum<br />

de discussão.<br />

a) “Não b<strong>as</strong>ta ter um corpo, é necessário senti-lo, amá-lo, cuidá-lo respeitosamente, conhecê-lo,<br />

vivê-lo na totalidade para que possamos, na relação com o outro, <strong>as</strong>sumir com autoria<br />

o que somos, sentimos, desejamos, pensamos, fazemos com o nosso corpo, nossa vida,<br />

nossa história.” (Madalena Freire /2000.)<br />

b) “... um indivíduo ou um grupo de pesso<strong>as</strong> podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica<br />

deformação se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo,<br />

uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.” (Charles Taylor, 1994, p. 58)<br />

c) ”É um costume inglês: na primavera, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> semearem, vári<strong>as</strong> sementes misturad<strong>as</strong>.<br />

Nada de jardins com cerc<strong>as</strong> separando qualidades... simplesmente espalham-se <strong>as</strong> sementes,<br />

e o maior prazer, é ver o resultado. A maior expectativa é ver como ficará o jardim.<br />

Não interessa tamanhos, cores, espessur<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> a beleza disforme do jardim...”<br />

4.3 Educação indígena<br />

Atividade<br />

Pesquise sobre a<br />

contribuição da raça<br />

negra para a Cultura<br />

Br<strong>as</strong>ileira, seguindo os<br />

seguintes endereços<br />

eletrônicos e faça um<br />

relatório sobre su<strong>as</strong><br />

impressões.<br />

32<br />

O Br<strong>as</strong>il conta com uma v<strong>as</strong>ta diversidade<br />

étnica e racial, entre el<strong>as</strong> os povos indígen<strong>as</strong>.<br />

A luta histórica desses povos fez com que<br />

seus direitos relacionados à interculturalidade,<br />

língua materna, entre outros, fossem <strong>as</strong>segurados<br />

em lei. Protagonist<strong>as</strong> de sua história, vários<br />

povos indígen<strong>as</strong> do Br<strong>as</strong>il deram um salto<br />

significativo, conquistando não apen<strong>as</strong> o respaldo<br />

legal para seus direitos, m<strong>as</strong> também os<br />

colocando em prática.<br />

Um exemplo disto são os índios sul-matogrossenses,<br />

no município de Amambai, onde<br />

há três aldei<strong>as</strong> d<strong>as</strong> etni<strong>as</strong> Guarani e Kaiowá,<br />

com uma população estimada em 8.000 (oito<br />

mil) índios, entre el<strong>as</strong> du<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> indígen<strong>as</strong>,<br />

tendo como atores 80% (oitenta por cento) de<br />

professores indígen<strong>as</strong>, habilitados em cursos<br />

específicos, sendo o Ará Verá, oferecido pela<br />

Secretaria de Estado de Educação e o Normal<br />

Superior Indígena que foi oferecido pela Universidade<br />

Estadual de Mato Grosso do Sul na<br />

Unidade de Amambai.<br />

A implantação d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> n<strong>as</strong><br />

comunidades indígen<strong>as</strong> no Br<strong>as</strong>il é contemporânea<br />

à consolidação do próprio empreendimento<br />

colonial. A dominação política dos<br />

povos nativos, a inv<strong>as</strong>ão de su<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, a destruição<br />

de su<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> e a extinção de su<strong>as</strong><br />

cultur<strong>as</strong> têm sido, desde o século XVI, o resultado<br />

de prátic<strong>as</strong> que sempre souberam aliar<br />

métodos de controle político a algum tipo de<br />

atividade escolar civilizatória.<br />

A educação escolar indígena na história<br />

do Br<strong>as</strong>il:<br />

Br<strong>as</strong>il Colônia - foi promovida por missionários,<br />

principalmente jesuít<strong>as</strong>, por delegação<br />

explícita da Coroa Portuguesa, e instituída<br />

por instrumentos oficiais, como <strong>as</strong> Cart<strong>as</strong><br />

Régi<strong>as</strong> e os Regimentos, com objetivos voltados<br />

ao ensino religioso e a preparação para o<br />

trabalho. Ressaltamos ainda que nessa época<br />

existiam 1.175 língu<strong>as</strong> indígen<strong>as</strong>. Mediante<br />

a esse fato, os jesuít<strong>as</strong> tentaram utilizar uma<br />

única língua na comunicação com todos os<br />

povos: a nheengatu (língua geral amazônica),<br />

tentativa que não obteve sucesso.<br />

No século XIX - como súdito do Imperador,<br />

visava-se à civilização para o nativo, pois<br />

como civilizado poderia fazer parte da monarquia.<br />

Esperava-se da escola a intervenção n<strong>as</strong><br />

aldei<strong>as</strong> no intuito de sedentarizar os indígen<strong>as</strong>,<br />

mudar seus hábitos, convertendo-os ao<br />

catolicismo e ao trabalho.<br />

No século XX - o nativo é idealizado<br />

como cidadão nacional, patriota, consciente<br />

de seu pertencimento à nação br<strong>as</strong>ileira, integrado<br />

e dissolvido na imaginada sociedade<br />

nacional, porém, contraditoriamente, submetido<br />

ao poder tutelar. Para esse fim, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

ações do Serviço de Proteção ao Índio (SPI),<br />

criado em 1910, dirigiam-se a manutenção de<br />

uma proteção do índio enquanto propriedade<br />

do estado br<strong>as</strong>ileiro e, nesse sentido, a escola<br />

para os índios p<strong>as</strong>sou a ter funções mais controlad<strong>as</strong><br />

pelo Estado que eram de educá-los e<br />

territorizá-los.<br />

Em termos de legislação federal, a Constituição<br />

de 1934 foi a primeira que atribuiu poderes<br />

exclusivos da União para legislar sobre<br />

<strong>as</strong>suntos indígen<strong>as</strong>, consolidando um quadro<br />

administrativo da educação escolar indígena,<br />

que só vai ser significativamente alterado em<br />

1991.<br />

As primeir<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> de implantação<br />

de um modelo de educação bilíngüe para<br />

os povos indígen<strong>as</strong>, ainda nos anos de 1950,<br />

como influência da Conferência da UNESCO de<br />

1951, foram considerad<strong>as</strong> inadequad<strong>as</strong> à realidade<br />

br<strong>as</strong>ileira por técnicos do Serviço de Proteção<br />

ao Índio (SPI). Um dos argumentos mais


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

significativos era de que program<strong>as</strong> de educação<br />

bilíngüe poderiam colidir com os valores<br />

e os propósitos da “incorporação dos índios à<br />

comunhão (linguística) nacional”, consagrados<br />

na Lei.<br />

A oferta de program<strong>as</strong> de educação escolar<br />

destinados às comunidades indígen<strong>as</strong> <strong>as</strong>sumiu,<br />

ao longo da história, movimentos, de um<br />

lado, marcados pela imposição de modelos<br />

educacionais através da dominação, da negação<br />

de identidades e da homogeneização cultural<br />

e de movimentos marcados pelos modelos<br />

educacionais reivindicados pelos índios<br />

ressaltados pelo pluralismo cultural, respeito e<br />

valorização de identidades étnic<strong>as</strong>.<br />

Com a promulgação da Constituição Federal<br />

de 1988, são notóri<strong>as</strong> <strong>as</strong> conquist<strong>as</strong> em<br />

uma nova direção referentes aos direitos indígen<strong>as</strong>,<br />

que apontam para um tratamento diferente,<br />

na medida em que se reconhecem su<strong>as</strong><br />

identidades étnic<strong>as</strong> diferenciad<strong>as</strong> e se incumbe<br />

o Estado de proteger su<strong>as</strong> manifestações<br />

culturais, ao mesmo tempo em que lhes é <strong>as</strong>segurado<br />

o direito a uma educação escolar diferenciada.<br />

Nota-se, então, que a Constituição<br />

Federal de 1988 foi um marco balizador para a<br />

existência de nov<strong>as</strong> normatizações a essa modalidade<br />

de ensino, conferindo a mesma competência<br />

para o desenvolvimento da Educação<br />

Escolar Indígena no Br<strong>as</strong>il. (ROSENDO, 1998,<br />

p.32)<br />

A Lei de Diretrizes e B<strong>as</strong>es da Educação<br />

Nacional (LDB n° 9.394/96) garante, nos artigos<br />

78 e 79, competênci<strong>as</strong> e ações de pesquisa e<br />

ensino a fim de possibilitar a execução de uma<br />

educação escolar indígena, de caráter específico,<br />

diferenciado, intercultural e bilíngue.<br />

Nesse processo, não resta dúvida que<br />

cabe ao professor indígena, membro de sua<br />

cultura, detentor desses processos próprios de<br />

aprendizagem, apropriar-se de novos conhecimentos<br />

e desenvolver essa educação escolar<br />

indígena. É ele o agente intercultural que<br />

propiciará a educação específica, diferenciada,<br />

intercultural e bilíngue, já que não cabe a nenhuma<br />

instituição externa construir ou ditar<br />

norm<strong>as</strong> sobre a natureza da escola diferenciada.<br />

Cabe, sim, apresentar discussões teóric<strong>as</strong><br />

sobre o processo educativo, num contexto de<br />

reflexão com o docente indígena em processo<br />

de formação, seja ela inicial ou continuada.<br />

4.3.1 A educação indígena em Min<strong>as</strong> Gerais<br />

Em Min<strong>as</strong> Gerais, desde 1995, iniciou-se<br />

um trabalho de Implantação de Escol<strong>as</strong> Indígen<strong>as</strong><br />

envolvendo agênci<strong>as</strong> governamentais<br />

e não governamentais, instituições de ensino<br />

superior e <strong>as</strong> organizações Indígen<strong>as</strong>.<br />

Atualmente, existem quatro grupos indígen<strong>as</strong><br />

reconhecidos oficialmente em Min<strong>as</strong><br />

Gerais: Maxacali, nos municípios de Bertópolis<br />

e Santa Helena; os Krenak, em Resplendor; os<br />

Pataxós, do município de Carmésia (originários<br />

do Sul da Bahia de onde foram transferidos<br />

em 1977); e os Xacriabás, de Itacarambi e São<br />

João d<strong>as</strong> Missões. (BARTOLOMEU, 2000).<br />

Contextualizando os povos indígen<strong>as</strong> de<br />

Min<strong>as</strong> Gerais:<br />

Maxacali<br />

População: 1000 habitantes (FUNAI,<br />

2000).<br />

Localização: município de Bertópolis – reserva<br />

de Pradinho – e município de Santa Helena<br />

de Min<strong>as</strong> – reserva de Água Boa.<br />

Esse grupo (em Min<strong>as</strong> Gerais) é o que preserva<br />

a sua cultura e língua própri<strong>as</strong>, de forma<br />

mais vigorosa. São o único grupo de Min<strong>as</strong><br />

ainda monolíngue. Possuem uma população<br />

em idade escolar de aproximadamente 300<br />

crianç<strong>as</strong>. Se autodeterminam tikmã, ãn, que<br />

quer dizer “nós humanos”. Pertencem ao tronco<br />

lingüístico Macro-Gê de família Maxacali.<br />

Por preservarem intensamente viv<strong>as</strong> sua<br />

língua e sua cultura, mantêm uma intensa vida<br />

ritual e contato permanente com o mundo<br />

dos espíritos.<br />

Têm uma economia de subsistência b<strong>as</strong>eada<br />

na agricultura da mandioca, batata-doce<br />

e frut<strong>as</strong>. Aos homens são destinados qu<strong>as</strong>e<br />

tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> atividades; restando às mulheres o<br />

serviço doméstico, cuidar d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>, a pesca<br />

e a coleta de frutos e raízes.<br />

Krenak<br />

População: 200 habitantes dados (FUNAI,<br />

2000).<br />

Localização: Município de Resplendor, às<br />

margens do Rio Doce do Leste Mineiro.<br />

Pertencem ao tronco lingüístico Macro-<br />

Gê, família Botocudo, língua Krenak. São o<br />

grupo Gut-Krak dos Botocudos. Embora falem<br />

cotidianamente o Português, possuem também<br />

o conhecimento da língua materna em<br />

graus variados. Sua autodeterminação é Borum<br />

Watu.<br />

Apesar de falarem o Português no cotidiano,<br />

os krenak também falam a língua Krenak.<br />

Esse grupo ocupa um território definido<br />

e possui uma liderança local. A caça e a coleta<br />

ainda são importantes, m<strong>as</strong> é a pesca a atividade<br />

mais importante para a sobrevivência<br />

Krenak.<br />

33


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

Além d<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> doméstic<strong>as</strong> cotidian<strong>as</strong> e<br />

da participação n<strong>as</strong> atividades econômic<strong>as</strong>, <strong>as</strong><br />

mulheres desempenham papel importante na<br />

vida política do grupo e forte influência sobre<br />

seus filhos e maridos.<br />

Xacriabá<br />

População: 6000 habitantes (FUNAI, 2000)<br />

Localização: município de São João d<strong>as</strong><br />

Missões e Itacarambi.<br />

Os Xacriabás pertencem à família linguística<br />

Ge, subfamília Akwen.<br />

Atualmente, esse grupo fala somente<br />

o Português (estão a aproximadamente 300<br />

anos em contato com os brancos). Ocupam<br />

uma área de aproximadamente 47000 hectares,<br />

divididos em 23 aldei<strong>as</strong>. Possui um forte<br />

sistema de liderança centralizado, que funciona<br />

através de um conselho de “caciques”.<br />

N<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> Xacriabás, há um número de<br />

aproximadamente 45 professores Xacriabás,<br />

escolhidos pela própria comunidade, que ensinam<br />

su<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>. Gerenciam, também, <strong>as</strong><br />

escol<strong>as</strong> e definem seu próprio processo educacional.<br />

Esses povos possuem uma longa história<br />

de luta e resistência, enfrentando sérios problem<strong>as</strong><br />

com a sociedade, principalmente em<br />

relação à luta pel<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> e pela identidade.<br />

Pataxó<br />

População: 250 habitantes (FUNAI, 2000)<br />

Localização: Terra Indígena Fazenda Guarani,<br />

município de Carmésia.<br />

A comunidade Pataxó é originária de<br />

Barra Velha, próximo a Porto Seguro (Bahia).<br />

Como os Maxacali e Krenak, pertencem ao<br />

tronco lingüístico Macro-Gê, m<strong>as</strong> se expressam<br />

hoje, corretamente, apen<strong>as</strong> em português.<br />

Há um universo de palavr<strong>as</strong> Pataxós<br />

que estão sendo pesquisad<strong>as</strong> a fim de serem<br />

recuperad<strong>as</strong>, registrad<strong>as</strong> em fontes divers<strong>as</strong>,<br />

como parte da reconstrução de sua identidade<br />

étnica.<br />

Com um longo período de contato, possuem<br />

grande participação na vida da cidade. A<br />

principal atividade desse grupo é o artesanato,<br />

atendendo a demanda de uma produção colocada<br />

pelo mercado. Como parte do processo<br />

de venda, fazem apresentações sobre sua vida<br />

n<strong>as</strong> aldei<strong>as</strong>, su<strong>as</strong> fest<strong>as</strong> e seus costumes.<br />

Quanto à educação, algum<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong><br />

permanecem na Escola Municipal de Carmésia,<br />

m<strong>as</strong> os Pataxós já se mobilizaram e estão<br />

trabalhando em su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> escol<strong>as</strong>, voltad<strong>as</strong><br />

para a sua cultura.<br />

4.3.2 Implantação d<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> indígen<strong>as</strong> em Min<strong>as</strong> Gerais<br />

34<br />

O Programa de Implantação d<strong>as</strong> Escol<strong>as</strong><br />

Indígen<strong>as</strong> em Min<strong>as</strong> Gerais foi o primeiro trabalho<br />

efetivamente articulado do Estado em<br />

relação a esses povos, buscando responder <strong>as</strong><br />

su<strong>as</strong> reivindicações históric<strong>as</strong>. Isso aconteceu<br />

num contexto em que, em diferentes pontos<br />

do país, surgiam propost<strong>as</strong> de educação escolar<br />

indígena. (ROSENDO, 1998, p.13)<br />

A Secretaria Estadual de Educação, orientada<br />

pela Constituição de 1988 e pelo Plano<br />

Nacional de Educação para Todos, começou<br />

a formular, em 1993, uma primeira proposta<br />

para Implantação de Escol<strong>as</strong> Indígen<strong>as</strong> no Estado.<br />

Ess<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> foram consolidad<strong>as</strong> em<br />

1995. (CANDAU, 1996, p.16)<br />

O curso de Formação de Professores Indígen<strong>as</strong><br />

faz parte do Programa de Implantação<br />

d<strong>as</strong> Escol<strong>as</strong> Indígen<strong>as</strong> de Min<strong>as</strong> Gerais, contando<br />

com participantes originários de su<strong>as</strong><br />

comunidades. Entre <strong>as</strong> propost<strong>as</strong> da comunidade,<br />

quando foram indicados os professores<br />

para participarem do Curso de Formação de<br />

Professores , citamos:<br />

• Tudo o que se refere ao funcionamento<br />

da escola (incluindo conteúdos, carga<br />

horária, calendário, avaliação, escolha de<br />

professores e outros funcionários) seja de<br />

acordo com a decisão da comunidade;<br />

• A escola deve atuar junto à comunidade<br />

na defesa, conservação e proteção do seu<br />

território e costumes;<br />

• A escola deve produzir e ter meios de imprimir<br />

os materiais didáticos, <strong>as</strong>sim como<br />

deve contar com um laboratório equipado,<br />

antena parabólica, videoc<strong>as</strong>sete;<br />

• A nossa escola deve ensinar o nosso jeito<br />

de viver, costumes, crenç<strong>as</strong>, tradições, o<br />

jeito de educar os nossos filhos, o nosso<br />

jeito de trabalhar.<br />

As “marc<strong>as</strong>” da pedagogia indígena na<br />

educação escolar diferenciada:<br />

1. Linguagem - A veiculação da língua, que<br />

antes da implantação da escola só era<br />

usada em contextos religiosos ou familiares,<br />

já possibilita a comunicação entre<br />

os mais jovens e seu uso parcial em atividades<br />

do dia a dia. A construção de sua<br />

fronteira étnica faz da língua uma “ferramenta”<br />

e a escola é o espaço onde <strong>as</strong><br />

crianç<strong>as</strong> aprendem a manipular esse instrumento.<br />

2. Tempo - Quanto tempo duraria uma atividade<br />

escolar? Essa questão não faz sentido<br />

para os professores indígen<strong>as</strong>. Dura o


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

tempo que for necessário para <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong><br />

fazerem uma abordagem complexa do<br />

tema estudado.<br />

3. Oralidade - O que para um professor não<br />

índio causa espanto e estranheza é o fato<br />

de os professores indígen<strong>as</strong> delegarem<br />

para segundo plano os registros escritos<br />

em cadernos. Num primeiro momento,<br />

o importante não é escrever, m<strong>as</strong> tecer<br />

discursos sobre o que é aprendido. E são<br />

construíd<strong>as</strong> imagens através do verbo,<br />

criando históri<strong>as</strong>, recontando mitos que<br />

os índios vão divulgando; conhecimentos<br />

socialmente relevantes.<br />

4. Conhecimentos - Os mais velhos são,<br />

para os povos indígen<strong>as</strong>, portadores da<br />

tradição e importante fonte de sabedoria<br />

e conhecimento. São uma “ponte entre<br />

dois mundos”, uma possibilidade de diálogo<br />

entre o mundo da aldeia e a cultura<br />

ocidental.<br />

5. Conteúdos - Não há como separar os<br />

conteúdos. Deve-se atender aos anseios e<br />

às exigênci<strong>as</strong> dos alunos, sem delimitação<br />

de tema ou conteúdo.<br />

6. Grupo familiar - Não há uma fronteira<br />

clara entre o pretensamente público (espaço-tempo<br />

da escola) e o familiar. Toda<br />

e qualquer atividade desenvolvida dentro<br />

do território está de algum modo relacionado<br />

aos diversos núcleos familiares e aos<br />

espaços em que el<strong>as</strong> ocupam.<br />

7. Alternativ<strong>as</strong> de sobrevivência - Os trabalhos<br />

escolares são destinados com um<br />

olho no futuro. A necessidade da criação<br />

de alternativ<strong>as</strong> econômic<strong>as</strong> visando<br />

à autonomia da população indígena faz<br />

da escola um campo de experiênci<strong>as</strong> de<br />

nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de conhecer e usar o território,<br />

criar e reproduzir bens culturais que<br />

poderão viabilizar recursos para a comunidade,<br />

bem como o desenvolvimento do<br />

artesanato, por exemplo. No espaço escolar,<br />

articulam-se p<strong>as</strong>sado e futuro daquela<br />

4.4 Educação e gênero<br />

população indígena.<br />

8. Afirmação étnica e culto à liberdade -<br />

Filtrando o que de bom a civilização ocidental<br />

traz, sem ferir os seus costumes,<br />

tradições e modo próprio de ser.<br />

Dentro deste contexto de luta conjunta,<br />

a educação tem papel fundamental. É através<br />

dela que <strong>as</strong> comunidades podem refletir os<br />

<strong>as</strong>pectos acima citados, impedindo, <strong>as</strong>sim, a<br />

desintegração identitária e antropológica dos<br />

povos originários. (BARTOLOMEU, 2000, p. 54)<br />

Para saber mais <strong>as</strong>sista ao filme "O dia em<br />

a lua menstruou".<br />

Durante uma oficina de vídeo<br />

na aldeia kuikuro, no Alto Xingu,<br />

ocorre um eclipse. De repente, tudo<br />

muda. Os animais se transformam.<br />

O sangue pinga do céu como chuva.<br />

O som d<strong>as</strong> flaut<strong>as</strong> sagrad<strong>as</strong><br />

atravessa a escuridão. Não há mais<br />

tempo a perder. É preciso cantar e<br />

dançar. É preciso acordar o mundo<br />

novamente. Os realizadores kuikuro<br />

contam o que aconteceu nesse dia,<br />

o dia em que a lua menstruou.<br />

2004, 28 min. - Direção: Takumã e Maricá<br />

Kuikuro - Fotografia: Takumã, Mariká, Amuneri,<br />

Asusu, Jairão e Maluki - Edição: Leonardo<br />

Sette - Filme: WAPTÉ MNHÕNÕ, Iniciação Do<br />

Jovem Xavante<br />

Documentário sobre a iniciação dos jovens<br />

Xavante, realizado durante <strong>as</strong> oficin<strong>as</strong> de<br />

capacitação do projeto Vídeo n<strong>as</strong> Aldei<strong>as</strong>. A<br />

convite de Divino, da aldeia Xavante Sangradouro,<br />

quatro Xavantes e um Suyá realizam,<br />

pela primeira vez, um trabalho coletivo. Durante<br />

o registro do ritual, diversos membros da<br />

aldeia elucidam o significado dos segmentos<br />

desse complexo cerimonial.<br />

75 min., 1999 - Realização e fotografia:<br />

Caimi Wai<strong>as</strong>sé, Divino Tserewahú, Jorge Protodi,<br />

Winti Suyá - Produção: Bartolomeu Patira-<br />

Edição: Tutu Nunes<br />

Quando o que buscamos é uma escola<br />

que respeite <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong>, a preocupação com<br />

a prática docente se acentua, pois o preconceito<br />

e a segregação ocorrem, em sua maioria, de<br />

forma sutil no cotidiano do trabalho.<br />

Os silêncios, os ritos, o currículo, a forma<br />

de organização escolar, os tempos e espaços<br />

escolares, <strong>as</strong> linguagens que perp<strong>as</strong>sam <strong>as</strong><br />

noss<strong>as</strong> atuações docentes produzem menin<strong>as</strong><br />

e meninos e, em se tratando da EJA, continuam<br />

a produzir mulheres e homens e a<br />

perpetuar relações desiguais entre el<strong>as</strong> e eles.<br />

(LOURO, 1997, p. 22)<br />

A escola é um agente socializador dos<br />

seres humanos tanto quanto a família. Isto<br />

significa que, junto com o conhecimento, a<br />

escola também transmite valores, atitudes e<br />

preconceitos.<br />

Tradicionalmente, a escola tem reforçado<br />

a desigualdade entre mulheres e homens. Isto<br />

Figura 9: Filme: O dia<br />

em a lua menstruou<br />

Fonte: www.cimi.org.br<br />

Acessado em 21 mai. 2012.<br />

▼<br />

Para Saber Mais<br />

A questão de gênero<br />

é tratada no texto: o<br />

que produz o silenciamento<br />

d<strong>as</strong> mulheres no<br />

magistério?, de Diniz<br />

e V<strong>as</strong>concelos (2004).<br />

As autor<strong>as</strong> fazem um<br />

resgate histórico da<br />

relação entre o gênero<br />

feminino e a educação,<br />

problematizando<br />

os discursos sociais<br />

produzidos nesse contexto.<br />

Mostram de que<br />

forma, no decorrer da<br />

história, a inserção da<br />

mulher no magistério<br />

ocorreu sem que fosse<br />

rompida a vinculação<br />

do seu papel doméstico<br />

de cuidadora do lar<br />

e de mãe. Essa situação<br />

colaborou com a naturalização<br />

dos papéis<br />

sociais da mulher e,<br />

consequentemente,<br />

para o seu silenciamento.<br />

Analise e responda: até<br />

que ponto a escolha<br />

pelo magistério não é<br />

uma forma de ajuste,<br />

por parte d<strong>as</strong> mulheres,<br />

a um determinado<br />

papel social já preestabelecido?<br />

(CANDAU,<br />

1996, p. 32)<br />

35


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

▲<br />

Figura 10:<br />

Fonte: www.mte.gov.br/<br />

trabalhodomestico<br />

Acessado em 12 jan. 2012.<br />

▲<br />

Figura 11: Filme<br />

Gênero, mentir<strong>as</strong> e<br />

videoteipe<br />

Fonte: www.sof.org.br.<br />

Acessado em 21 jun. 2012.<br />

36<br />

ocorre, por exemplo,<br />

na forma como se lida<br />

com meninos e menin<strong>as</strong>:<br />

a divisão n<strong>as</strong> fil<strong>as</strong>,<br />

a divisão de taref<strong>as</strong><br />

(menin<strong>as</strong> como ajudantes<br />

da professora),<br />

o que a escola reforça<br />

em um e no outro:<br />

“isso não é coisa de<br />

menina” ou “está até<br />

parecendo uma menina”,<br />

“comporte-se<br />

como um menino”.<br />

Os livros didáticos<br />

também reproduzem<br />

e reforçam a desigualdade, apresentando estereótipos<br />

sobre o que é uma família, como<br />

são <strong>as</strong> mulheres, como vivem <strong>as</strong> mulheres negr<strong>as</strong>.<br />

Nos livros didáticos, <strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> são sempre<br />

branc<strong>as</strong>, o pai tem um emprego fora de<br />

c<strong>as</strong>a e a mãe aparece sempre de avental servindo<br />

a mesa ou costurando. O menino está<br />

sempre brincando de caminhãozinho ou bola<br />

e a menina está sempre com uma boneca,<br />

olhando o irmãozinho brincar de cois<strong>as</strong> mais<br />

interessantes.<br />

Nos livros de ciênci<strong>as</strong>, somente os meninos<br />

aparecem fazendo experiênci<strong>as</strong>. Quando<br />

de vez em quando aparece uma menina, ela<br />

está lá atrás, observando, ou é encarregada de<br />

providenciar os materiais para a experiência<br />

que os meninos vão fazer. Isto tudo reforç<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

idei<strong>as</strong> preconceituos<strong>as</strong> da sociedade de que <strong>as</strong><br />

menin<strong>as</strong> não têm jeito para a ciência, que só<br />

os homens podem ser cientist<strong>as</strong>.<br />

Ainda nos livros didáticos, a mulher negra<br />

costuma aparecer sozinha, sem família e no<br />

papel de empregada que serve a mesa para a<br />

família branca, como se ainda estivéssemos no<br />

tempo da escravidão.<br />

As atividades na educação física são dividid<strong>as</strong><br />

e reproduzem preconceitos até n<strong>as</strong> brincadeir<strong>as</strong>,<br />

como aquela que diz “quem chegar<br />

por último é mulher do sapo”.<br />

A professora, na maioria d<strong>as</strong> vezes, é tratada<br />

como a segunda mãe ou tia. Isso significa<br />

não reconhecer sua profissão e considerar<br />

o ato de educar como extensão do papel da<br />

mãe.<br />

Como mães e professor<strong>as</strong>, <strong>as</strong> mulheres,<br />

muit<strong>as</strong> vezes, reproduzem o machismo e <strong>as</strong><br />

idei<strong>as</strong> dominantes na sociedade, que prega a<br />

suposta inferioridade d<strong>as</strong> mulheres em relação<br />

aos homens. Não podemos nos esquecer que<br />

<strong>as</strong> idei<strong>as</strong> dominantes na sociedade são dominantes<br />

justamente porque estão na cabeça<br />

da maioria dos homens e d<strong>as</strong> mulheres. Ess<strong>as</strong><br />

idei<strong>as</strong> são repetid<strong>as</strong> à exaustão na família, na<br />

escola, n<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong>, nos meios de comunicação<br />

e não é de estranhar que muit<strong>as</strong> mulheres se<br />

convençam del<strong>as</strong>.<br />

Para saber mais <strong>as</strong>sista ao filme - Documentário<br />

“Gênero, Mentir<strong>as</strong> e Videoteipe”<br />

Duração: 20 min.<br />

O curta ‘Gênero, Mentir<strong>as</strong> e Videoteipe’<br />

procura mostrar, de maneira descontraída e<br />

bem humorada, como <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> são educad<strong>as</strong><br />

para serem homem ou mulher. O filme<br />

conquistou o 1º lugar no gênero ficção do I<br />

Concurso latino-americano de vídeo educativo,<br />

democracia e cidadania, realizado pela<br />

C<strong>as</strong>a da Cultura Espanhola, em Lima, capital<br />

do Peru. Assinam a produção a SOF, Instituto<br />

Cajamar e TV dos Trabalhadores, com apoio da<br />

Croccevia.<br />

Site da produtora SOF: www.sof.org.br -<br />

São Paulo-SP<br />

Conta <strong>as</strong> desventur<strong>as</strong> do garoto Ludovic<br />

(o ótimo Georges du Fresne). Ele cresce imaginando<br />

que n<strong>as</strong>ceu no corpo errado: na verdade,<br />

acredita ser uma menina. Logo na primeira<br />

sequência, aparece em uma festinha promovida<br />

pelos pais para atrair a nova vizinhança em<br />

um lindo vestidinho. A impressão e o mal-estar<br />

não saem d<strong>as</strong> cabecinh<strong>as</strong> dos vizinhos, que<br />

começam a pressionar e ridicularizar o garoto.<br />

A rejeição se estende aos pais, aos coleg<strong>as</strong> e a<br />

qualquer um que se aproxime de um sintoma<br />

de homossexualidade tão latente. Ludovic refugia-se<br />

do tormento em um mundo róseo, onde<br />

só cabem a boneca Pam, uma Barbie espevitada,<br />

e o apoio afetivo da avó (Helene Vincent).<br />

▲<br />

Figura 12: Filme: Minha Vida em cor de rosa<br />

Fonte: www.omelete.com.br. Acessado em 21 jun. 2012


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

Referênci<strong>as</strong><br />

AUAD, Daniela. Educar menin<strong>as</strong> e meninos. Relações de gênero na escola. São Paulo: Contexto,<br />

2006.<br />

CANDAU, Vera Maria, (1996). Formação continuada de professores: tendênci<strong>as</strong> atuais. In: RE-<br />

ALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues, MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti (Orgs). São Carlos:<br />

Editora da UFSCar, 2003<br />

D’ANGELIS, Wilmar da Rocha, (1999). Educação Escolar Indígena: um projeto étnico ou um projeto<br />

étnico-político? Texto apresentado no 12º COLE, UNICAMP, 1999.<br />

DINIZ, Margareth e VASCONCELOS, Renata Nunes (orgs) o que produz o silenciamento d<strong>as</strong> mulheres<br />

no magistério? Belo Horizonte: Formato, 2004. (Série educador em formação).<br />

FRANCO. Maria Laura P. B. Análise do Conteúdo. 2. ed. Série Pesquisa. Editora Contexto. Liber<br />

Livro, 2. ed. 2007.<br />

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista.<br />

Petrópolis: Vozes, 1997.<br />

MELIÁ, Bartomeu. Educação indígena na escola: educação indígena e interculturalidade. Cadernos<br />

Cedes, nº 49, 2000.<br />

ROSENDO, Ailton Salgado. Educação escolar indígena: ranços e avanços. Dissertação de Mestrado<br />

em Educação/UFGD. Universidade Federal da Grande Dourados, 1998.<br />

37


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

UNIDADE 5<br />

A escola e os novos complexos<br />

culturais<br />

5.1 Introdução<br />

Nesta unidade, abordaremos <strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />

configurações sociais e o olhar antropológico<br />

em relação a uma sociedade em constante<br />

mudança. Um novo mapa cultural formado<br />

por nov<strong>as</strong> configurações culturais, que traz<br />

em seu bojo nov<strong>as</strong> relações entre estudantes<br />

e professores, entre cultura popular e conhecimento<br />

científico e o aparecimento d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />

tecnologi<strong>as</strong> permeando a cultura de m<strong>as</strong>sa<br />

e moldando comportamentos e modos de<br />

vida. Surgem, <strong>as</strong>sim, <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> identidades e<br />

<strong>as</strong> crises dess<strong>as</strong> identidades via mobilidade,<br />

flutuação, superficialidade e deslocamento<br />

de sentidos. Dentro desse contexto pós-moderno<br />

e diferenciado, abordaremos o ser cultural<br />

e a virtualidade e o lugar da educação,<br />

da escola e da relação permeada por mudanç<strong>as</strong><br />

ininterrupt<strong>as</strong> e por seres humanos influenciados<br />

por tais mudanç<strong>as</strong> em contínuo<br />

processo de adaptação.<br />

Para saber mais<br />

Entenda melhor a<br />

estória dos eletroeletrônicos<br />

em<br />

http://www.youtube.<br />

com/watch?v=MPWgqkIVgbw<br />

5.2 Nov<strong>as</strong> relações entre<br />

estudantes e professores<br />

Pesquisadores australianos, num provocativo<br />

e instigante ensaio, descrevem <strong>as</strong><br />

presentes relações entre jovens e adultos, estudantes<br />

e professores, como relações entre<br />

seres alienígen<strong>as</strong>; com uma qualificação importante:<br />

nós somos os alienígen<strong>as</strong>, adultos/<br />

professores, e não eles (BIGUM, 1995).<br />

Bigum (1995) também observa que nós,<br />

adultos e intelectuais, podemos teorizar o pósmoderno,<br />

m<strong>as</strong> são eles, os jovens e <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>,<br />

que vivem realmente o pós-moderno.<br />

O que esse autor quer demonstrar é que<br />

o novo complexo cultural representado pela<br />

combinação entre cultura popular (nos chamados<br />

meios de comunicação de m<strong>as</strong>sa) e<br />

<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong> de comunicação estão<br />

produzindo uma transformação radical nos<br />

processos de produção de subjetividade e de<br />

identidades sociais.<br />

Na mudança de uma cultura b<strong>as</strong>eada<br />

nos meios impressos para uma cultura b<strong>as</strong>eada<br />

nos meios audiovisuais e nos computadores,<br />

gera-se um sujeito com nov<strong>as</strong> e diferentes<br />

capacidades e habilidades.<br />

Ess<strong>as</strong> importantes transformações exigem<br />

nov<strong>as</strong> interpretações e novos olhares.<br />

El<strong>as</strong> não podem ser interpretad<strong>as</strong> no registro<br />

conservador do pânico moral e da visão patologizante<br />

que vê a ampliação da influência<br />

da cultura popular e o predomínio dos novos<br />

meios e conteúdos culturais como uma<br />

ameaça a tradicionais valores e capacidades<br />

supostamente mais universais, humanos e superiores.<br />

O novo mapa cultural formado por ess<strong>as</strong><br />

revolucionad<strong>as</strong> configurações culturais não<br />

pode ser interpretado como déficit, patologia,<br />

carência, degeneração, degradação e involução.<br />

Ele tampouco pode ser interpretado na<br />

clave, supostamente progressista e benigna,<br />

de uma tradição de crítica cultural quê vê os<br />

novos meios e conteúdos proporcionados<br />

pela cultura de m<strong>as</strong>sa como produzindo uma<br />

população p<strong>as</strong>siva, mistificada e alienada.<br />

Nessa perspectiva, <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> identidades<br />

sociais <strong>as</strong>sim produzid<strong>as</strong> também são vist<strong>as</strong><br />

como patológic<strong>as</strong>, embora el<strong>as</strong> sejam referid<strong>as</strong><br />

não a um p<strong>as</strong>sado mítico e supostamente<br />

mais íntegro, mais completo e autêntico, m<strong>as</strong><br />

39


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

Para saber mais<br />

Na mudança de uma<br />

cultura b<strong>as</strong>eada nos<br />

meios impressos para<br />

uma cultura b<strong>as</strong>eada<br />

nos meios audiovisuais<br />

e nos computadores,<br />

gera-se um sujeito<br />

com nov<strong>as</strong> e diferentes<br />

capacidades e habilidades.<br />

Como descrever e analisar<br />

ess<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>?<br />

aos mecanismos alienantes do processo de<br />

mercantilização da cultura.<br />

Em amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> visões – a conservadora e<br />

a crítica – os meios e os conteúdos da cultura<br />

de m<strong>as</strong>sa – e <strong>as</strong> capacidades e habilidades<br />

por ele produzido – são encarados como distorção,<br />

como desvios a serem corrigidos.<br />

Diferem, entretanto, os pontos de referência:<br />

numa, um p<strong>as</strong>sado romântico não<br />

perturbado por form<strong>as</strong> inferiores de cultura;<br />

na outra, um mundo utópico, não distorcido<br />

pel<strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong> mercantilizantes da cultura.<br />

Amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> visões colocam implicações<br />

para a educação e o currículo. Em uma, a volta<br />

a noções tradicionais de alfabetização e<br />

escolarização. Aqui, defende-se a volta a antig<strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> de disciplina e <strong>as</strong> form<strong>as</strong> canônic<strong>as</strong><br />

de aprendizagem: a ênf<strong>as</strong>e na palavra impressa,<br />

o estudo d<strong>as</strong> grandes obr<strong>as</strong> literári<strong>as</strong>,<br />

havendo lugar até mesmo para o ensino d<strong>as</strong><br />

língu<strong>as</strong> mort<strong>as</strong>, como o latim.<br />

Supostamente, ess<strong>as</strong> form<strong>as</strong> culturais –<br />

a “alta cultura”: da literatura, d<strong>as</strong> artes e d<strong>as</strong><br />

ciênci<strong>as</strong> – encarnariam valores, capacidades e<br />

conhecimentos “superiores” e mais genuinamente<br />

humanos.<br />

A outra, a tradição da crítica à “cultura de<br />

m<strong>as</strong>sa”, tem apresentado pouc<strong>as</strong> sugestões<br />

em termos de educação e currículo.<br />

Nessa tradição, o currículo deveria provavelmente<br />

incluir form<strong>as</strong> de desenvolver<br />

uma apreciação crítica da ideologia da mídia<br />

de da cultura popular, ancorada provavelmente<br />

em capacidades e habilidades mais<br />

própri<strong>as</strong> da cultura escrita e impressa.<br />

Aqui, como lá, a “cultura de m<strong>as</strong>sa”, os novos<br />

meios, nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> e conteúdos culturais<br />

são colocados sobre suspeita, são vistos como<br />

o outro de uma forma cultural superior, representada,<br />

esta, pela educação institucionalizada:<br />

a escola, a universidade [...].<br />

Esses estudos vêm tentando demonstrar<br />

que <strong>as</strong> transformações – colocad<strong>as</strong> pelos novos<br />

meios e form<strong>as</strong> culturais – não podem ser<br />

caracterizad<strong>as</strong> absolutamente como desvio,<br />

déficit, regressão, anomalia, patologia. El<strong>as</strong><br />

devem ser compreendid<strong>as</strong> dentro de sua própria<br />

lógica e ótica e não por referência a outr<strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> e meios culturais, característicos<br />

de uma outra época.<br />

El<strong>as</strong> implicam, sim, na produção de nov<strong>as</strong><br />

capacidades e habilidades. Ess<strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />

subjetividades não podem ser entendid<strong>as</strong><br />

como carência e desvio em relação a outr<strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> históric<strong>as</strong> de produção e transformação<br />

cultural.<br />

A separação entre baixa cultura e alta<br />

cultura, característica de amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> interpretações<br />

convencionais descrit<strong>as</strong> anteriormente,<br />

tendem a se dissolver no novo cenário cultural<br />

representado pela difusão e generalização<br />

d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> mídi<strong>as</strong>.<br />

Na verdade, essa oposição adquire cada<br />

vez menos sentido, entre outr<strong>as</strong> razões, porque<br />

<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> mídi<strong>as</strong> tendem a incorporar form<strong>as</strong><br />

e conteúdos culturais tradicionalmente<br />

pertencentes à esfera da alta cultura, m<strong>as</strong> de<br />

uma forma completamente nova e transformada<br />

(maquilada).<br />

A educação institucionalizada e os/<strong>as</strong><br />

educadores/<strong>as</strong> parecem mal equipado(a)s<br />

para lidar com ess<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> configurações do<br />

cultural.<br />

Os pensadores educacionais têm dedicado<br />

muito pouco tempo a essa importante<br />

questão.<br />

A escola, por outro lado, parece não apen<strong>as</strong><br />

habitada por seres que se confrontam<br />

como numa relação entre alienígen<strong>as</strong>, m<strong>as</strong><br />

parece, ela própria, uma nave alienígena e<br />

anacrônica plantada na paisagem futurística<br />

e ficcional de um outro planeta.<br />

O que aí se p<strong>as</strong>sa tende-se a movimentar<br />

em paralelo com aquilo que se p<strong>as</strong>sa no restante<br />

da paisagem cultural, não havendo possibilidade<br />

de qualquer encontro ou contato.<br />

O currículo é o espaço em que se corporificam<br />

form<strong>as</strong> de conhecimento e de saber.<br />

Como tal, o desc<strong>as</strong>o pel<strong>as</strong> radicais transformações<br />

efetuad<strong>as</strong> na produção da subjetividade<br />

e pel<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> mídi<strong>as</strong>, demonstrado pela<br />

escola e pelos educadores profissionais, significa<br />

deixar de fora desse espaço form<strong>as</strong> importantes<br />

de conhecimento e de saber que,<br />

no entanto, à contracorrente da escola, estão,<br />

na realidade, moldando e formando nov<strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> de existência e sociabilidade.<br />

O que precisamos é de form<strong>as</strong> criativ<strong>as</strong>,<br />

abert<strong>as</strong>, renovad<strong>as</strong> de pensar e desenvolver<br />

currículos que levem em conta esses novos<br />

map<strong>as</strong> e configurações sociais. (CANDAU,<br />

1996, p. 12)<br />

40


5.3 Nov<strong>as</strong> identidades culturais e a<br />

educação<br />

Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

Existem muitos jeitos de se abordar a<br />

questão da identidade. A própria flexão da palavra<br />

no singular ou no plural expressa, por si<br />

só, um posicionamento teórico-conceitual.<br />

Se perguntarmos “o que quer dizer identidade?”,<br />

podemos nos referir tanto à noção psicanalítica<br />

de sujeito, ao processo psíquico de<br />

aquisição de identidade, como à concepção<br />

antropológica de conjunto de característic<strong>as</strong><br />

distintiv<strong>as</strong> de um grupo, ou à recente tendência<br />

culturalista de conceber a identidade como<br />

uma “celebração móvel”.<br />

O termo identidade é relativamente novo<br />

n<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais, tornando-se um conceito<br />

central apen<strong>as</strong> nos meados do século XX. Contudo,<br />

<strong>as</strong> questões que hoje estão implicad<strong>as</strong><br />

na rubrica da identidade não foram inteiramente<br />

desconhecid<strong>as</strong> dos clássicos.<br />

O fato de a identidade ocupar um lugar<br />

tão proeminente na teoria cultural contemporânea<br />

está relacionado às transformações<br />

radicais em andamento no mundo e, particularmente,<br />

às ruptur<strong>as</strong>, descontinuidades, deslocamentos<br />

e instabilidades que se instalam<br />

no panorama d<strong>as</strong> teorizações, concepções e<br />

manifestações dit<strong>as</strong> pós-modern<strong>as</strong>.<br />

A identidade é um dos construtos modernos<br />

que se estilhaça inapelavelmente. Tal<br />

estado de cois<strong>as</strong> tem sido diagnosticado como<br />

“crise da identidade” - condição em que os indivíduos<br />

e grupos estariam deslocados tanto<br />

de seu lugar no mundo quanto de si mesmos.<br />

De uma concepção una, centrada, equilibrada,<br />

coerente e estável de identidade, p<strong>as</strong>sa-se a<br />

fragmentação, efemeridade, mobilidade, superficialidade,<br />

flutuação. (CASTELLS, 1999, p.88)<br />

Podemos ser um e muitos ao mesmo<br />

tempo e em diferentes tempos. A identidade<br />

parece que está à deriva no tempo e no espaço,<br />

o que a torna permanentemente capturável,<br />

ancorável, m<strong>as</strong>, paradoxalmente, ao<br />

mesmo tempo escorregadia - uma celebração<br />

móvel, como recém mencionei, utilizando-me<br />

de expressão empregada por Stuart<br />

Hall (2003).<br />

A constituição da identidade de crianç<strong>as</strong><br />

e jovens como estudantes e como sujeitos do<br />

currículo dá-se no entrecruzamento de vários<br />

fluxos e redes de poder.<br />

Os sujeitos escolares são subjetivados<br />

simultaneamente por múltiplos discursos.<br />

Crianç<strong>as</strong> e jovens quando chegam à escola já<br />

foram objeto de um conjunto de discursos,<br />

que produziram diferentes “posições de sujeito”,<br />

entre eles, aqueles que os constituem<br />

como consumidores, como clientes. (DEBORD,<br />

1997, p.26)<br />

Quem são? Que querem? Que fazer<br />

com eles?<br />

As mudanç<strong>as</strong> verificad<strong>as</strong> a partir da segunda<br />

metade do século XX, desencadead<strong>as</strong>,<br />

sobretudo, pelos vertiginosos avanços n<strong>as</strong><br />

tecnologi<strong>as</strong> da informação e da comunicação,<br />

estão intimamente relacionad<strong>as</strong> com a<br />

verdadeira revolução pela qual p<strong>as</strong>sam tais<br />

conceitos. A “virada cultural”, posicionando<br />

a cultura no centro dos acontecimentos e da<br />

vida n<strong>as</strong> sociedades do limiar do novo milênio,<br />

estabelece nova direção de fluxo na definição<br />

da identidade. O sujeito, antes concebido<br />

como uma agência centrada, estável<br />

e emanadora do sentido identitário, tem sua<br />

posição deslocada.<br />

Crianç<strong>as</strong>, jovens, mulheres, negros, idosos,<br />

docentes, surdos etc., são exemplos de identidades<br />

recriad<strong>as</strong> e reinventad<strong>as</strong> de múltipl<strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> variad<strong>as</strong> narrativ<strong>as</strong> que p<strong>as</strong>sam a<br />

circular de forma planetária, fazendo aparecer<br />

novos atores sociais. Contemporaneamente,<br />

delineiam-se nitidamente <strong>as</strong> condições que<br />

instauram o caráter provisório e construído d<strong>as</strong><br />

identidades. (BIGUM,1995, p. 33)<br />

5.3.1 Artefatos culturais contemporâneos na vida escolar<br />

Tais acontecimentos têm descortinado<br />

um v<strong>as</strong>to e novo repertório da cultura pósmoderna,<br />

predominantemente midiática, que<br />

se insinua na vida d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, alterando <strong>as</strong><br />

rotin<strong>as</strong> e <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> cotidian<strong>as</strong> no interior de<br />

instituições consagrad<strong>as</strong>, como é o c<strong>as</strong>o da família<br />

e da escola.<br />

Os pesquisadores e pesquisador<strong>as</strong> voltados<br />

para análises da cultura são questionados<br />

se já haviam se dedicado a examinar a inv<strong>as</strong>ão<br />

dos Yu-Gi-Ohs na vida da garotada e n<strong>as</strong> escol<strong>as</strong>.<br />

41


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

42<br />

Uma pequena reportagem na Folha de<br />

São Paulo contava sobre esta nova febre, cujo<br />

nome refere-se ao desenho animado/jogo de<br />

cart<strong>as</strong>/videogame japonês que se transformara<br />

em polêmica - acusado de “coisa do demônio”<br />

- no programa de televisão de Gilberto<br />

Barros, na Bandeirantes. Há escol<strong>as</strong> desenvolvendo<br />

projeto para fazer frente à inv<strong>as</strong>ão dos<br />

Yu-Gi-Ohs, no qual <strong>as</strong> tais cart<strong>as</strong> com imagens<br />

representando demônios orientais são substituíd<strong>as</strong><br />

por tópicos humanist<strong>as</strong>, retirados do Estatuto<br />

da Criança e do Adolescente.<br />

Se os cards concentraram temporariamente<br />

a preferência dos meninos, <strong>as</strong> bonec<strong>as</strong> da linhagem<br />

Barbie, fabricada pela gigante Mattel,<br />

há mais de trinta anos vêm embalando os sonhos<br />

d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong> do Br<strong>as</strong>il e do mundo inteiro<br />

como modelo de mulher – adulta, sensual,<br />

charmosa, moderna, arrojada, independente,<br />

feminista. Milhões de menin<strong>as</strong> entre três e dez<br />

anos aprendem com a boneca lições para ser<br />

uma mulher bem-sucedida. Contudo, a pedagogia<br />

Barbie, <strong>as</strong>sentada, segundo seus críticos,<br />

sobre consumismo, futilidade e competição,<br />

faz da boneca um brinquedo perigoso, seja<br />

pelos valores que dissemina, seja por seu inegável<br />

sucesso em promover a identificação d<strong>as</strong><br />

menin<strong>as</strong> com seu universo existencial.<br />

Assim como os Yu-Gi-Ohs e <strong>as</strong> Barbies,<br />

inúmeros artefatos da cultura contemporânea,<br />

especialmente da cultura popular midiática,<br />

moldada, como sabemos, por forç<strong>as</strong> polític<strong>as</strong>,<br />

econômic<strong>as</strong>, sociais e culturais, têm não só<br />

invadido a escola como disputado com ela o<br />

espaço pedagógico. A indústria do entretenimento<br />

não se restringe a fazer circular mercadori<strong>as</strong>,<br />

ela protagoniza uma pedagogia cultural<br />

regida por poderos<strong>as</strong> dinâmic<strong>as</strong> comerciais,<br />

<strong>as</strong>sentad<strong>as</strong> sobre estética e prazer, que se impõem<br />

sobre <strong>as</strong> vid<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> e públic<strong>as</strong> de<br />

crianç<strong>as</strong>, jovens e adultos.<br />

Em outro departamento da cena escolar,<br />

podemos testemunhar, outra vez, a força d<strong>as</strong><br />

corporações empresariais nessa modelagem.<br />

Batata frita, salgadinho, hambúrguer e refrigerante<br />

têm sido os alimentos preferidos da população<br />

jovem escolar, em detrimento de uma<br />

merenda balanceada e nutritiva. Amplamente<br />

difundidos, os maus hábitos alimentares que<br />

vêm <strong>as</strong>solando a população mundial - principalmente<br />

crianç<strong>as</strong> e jovens -, dobrando o número<br />

de obesos, são incentivados por campanh<strong>as</strong><br />

promocionais que, não raro, potencia<br />

Além disso, a maior parte de tais guloseim<strong>as</strong><br />

está <strong>as</strong>sociada a desenhos animados, seriados<br />

de sucesso, grupos musicais etc. Salvo<br />

rar<strong>as</strong> exceções, <strong>as</strong> cantin<strong>as</strong> escolares são uma<br />

fulgurante vitrine desses produtos destituídos<br />

de valor nutricional, m<strong>as</strong> investidos de significados<br />

simbólicos que os tornam altamente desejáveis.<br />

Como nos alerta a pesquisa de Isleide<br />

Fontenelle (2002) sobre a McDonald´s, quem<br />

come um Big Mac ingere uma combinação<br />

complexa de valores, desejos, estilo de vida<br />

e padrão universal de gosto, embalados pelo<br />

nome da marca. Em sua vida cotidiana, jovens<br />

e crianç<strong>as</strong> são submetidos ao f<strong>as</strong>cínio e aos<br />

apelos estéticos consubstanciados em narrativ<strong>as</strong><br />

que empreendem uma verdadeira cruzada<br />

para a mercantilização de objetos, imagens e<br />

toda a sorte de artefatos consumíveis. Bem à<br />

propósito, poderíamos afirmar que no mundo<br />

que Guy Debord (1997) batizou de sociedade<br />

do espetáculo, pão e circo se confundem.<br />

Parte considerável d<strong>as</strong> análises contemporâne<strong>as</strong><br />

tem ressaltado enfaticamente <strong>as</strong><br />

subjetividades como objeto de sujeição e disciplina.<br />

Na escola e na família, parece que têm<br />

surgido linh<strong>as</strong> de fuga, m<strong>as</strong> é muito difícil escapar<br />

do que poderíamos denominar “subjetivação<br />

cultural”, algo mais ou menos fortuito<br />

em termos de endereçamento, m<strong>as</strong> que atinge<br />

a todos nós, de vári<strong>as</strong> form<strong>as</strong>, em praticamente<br />

tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> esfer<strong>as</strong> de nossa existência hoje em<br />

dia. Isto porque <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> de subjetivação<br />

escolares, familiares e religios<strong>as</strong> requerem, em<br />

grande parte, renúncia, abnegação, provação<br />

e obediência.<br />

A subjetivação cultural, por sua vez, reveste-se<br />

qu<strong>as</strong>e sempre de peculiaridades que<br />

acionam o lúdico, a f<strong>as</strong>cinação, o deleite, ou<br />

seja, somos subjetivados na fruição e no prazer,<br />

ou na expectativa destes; nesses c<strong>as</strong>os, parece<br />

que não há resistência.<br />

Assim, não podemos esquecer que os sujeitos<br />

do currículo são, antes de tudo, <strong>as</strong> subjetividades<br />

forjad<strong>as</strong> em uma cultura regida pelos<br />

apelos do mercado. As regr<strong>as</strong>, estratégi<strong>as</strong> e<br />

o modus operandi d<strong>as</strong> sociedades neoliberais<br />

de economi<strong>as</strong> globalizad<strong>as</strong> articulam-se caprichosamente<br />

para fabricar um cliente.<br />

Um olhar mais atento nos mostrará, também,<br />

a expansão de um contingente de cidadãos<br />

de “segunda cl<strong>as</strong>se” – crianç<strong>as</strong>, jovens e<br />

adultos pobres, trabalhadores eventuais, subempregados,<br />

desempregados, não empregáveis<br />

- que, segundo a lógica do capitalismo<br />

tardio, não podem ficar de fora do circuito do<br />

consumo. Mesmo que não estejam habilitados<br />

a adquirir mercadori<strong>as</strong> de primeira linha, inventam-se<br />

categori<strong>as</strong> a eles adaptad<strong>as</strong> - réplic<strong>as</strong>,<br />

versões barat<strong>as</strong> de objetos de consumo desejados<br />

–, que circulam amplamente no fluxo contínuo<br />

dos mercados globais espetacularizados.<br />

Esse consumo imaginário (em todos os<br />

sentidos da palavra imaginário) reforma os modos<br />

com que os setores populares se relacionam<br />

com sua própria experiência, com a polí-


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

tica, com a linguagem, com o mercado, com os<br />

ideais de beleza e saúde. Quer dizer: tudo aquilo<br />

que configura uma identidade social.<br />

A escola é uma dest<strong>as</strong> aren<strong>as</strong>, no entanto<br />

“empobrecida material e simbolicamente,<br />

não sabe como fazer para que sua oferta seja<br />

mais atraente do que a da cultura audiovisual”<br />

(FONTENELLE, 2002) .<br />

Enquanto, por um lado, proliferam <strong>as</strong> representações<br />

de crianç<strong>as</strong> e jovens integrados<br />

na condição pós-moderna, familiarizados com<br />

a cibercultura, com mundos e relacionamentos<br />

virtuais, imersos criativamente em nov<strong>as</strong><br />

cultur<strong>as</strong> juvenis, adaptados às form<strong>as</strong> e composições<br />

contemporâne<strong>as</strong> de “vida familiar”,<br />

por outro despontam os bem-sucedidos manuais<br />

para pais e professores, best-sellers que<br />

celebram a retomada da disciplina, da hierarquia<br />

familiar, da definição de limites, d<strong>as</strong> fórmul<strong>as</strong><br />

doméstic<strong>as</strong> e escolares de vigilância sobre<br />

a vida cotidiana de crianç<strong>as</strong> e jovens que<br />

estariam fora de controle.<br />

É relevante destacar em um texto como<br />

este que pretende contemplar uma d<strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong><br />

da conexão entre identidade e currículo,<br />

é a forma como <strong>as</strong> identidades se reconfiguram<br />

face à perda de um cenário que se<br />

manteve estável por longos anos. Vivemos em<br />

um tempo em que novos desenvolvimentos<br />

tecnológicos e culturais, muito especialmente<br />

a mídia, a computação e a internet, tornaramse<br />

organizadores privilegiados da ação e do<br />

significado na vida dos humanos. Essa fantástica<br />

mudança desestruturou <strong>as</strong> instituições<br />

consagrad<strong>as</strong>, subverteu prátic<strong>as</strong> centenári<strong>as</strong><br />

e instalou em seu lugar a incerteza, a provisoriedade<br />

e a imprevisibilidade. A mudança é<br />

radical, <strong>as</strong> conseq Fontenelle (2002uênci<strong>as</strong> são<br />

séri<strong>as</strong> e exigem investimentos na busca de um<br />

novo modo de ser e de fazer escola.<br />

Não poderemos vencer uma competição<br />

contra <strong>as</strong> pedagogi<strong>as</strong> da mídia, tampouco deveremos<br />

fugir amedrontados de nossos alunos<br />

e alun<strong>as</strong>, bem como seria inépcia desqualificar<br />

e desperdiçar noss<strong>as</strong> habilidades e capacidades<br />

para viver num mundo que, concordemos<br />

ou não, parece que está se tornando cada vez<br />

mais pós-moderno. (VORRABER, 2004, p.51)<br />

5.4 O ser cultural e a virtualidade<br />

Estudando C<strong>as</strong>tells (1999), verificamos importantes<br />

transformações que vem ocorrendo<br />

nos processos de construção de novos significados,<br />

de nov<strong>as</strong> identidades e, portanto, de<br />

uma nova cultura.<br />

Identidade é o processo pelo qual um<br />

ator social se reconhece e constrói significado,<br />

principalmente com b<strong>as</strong>e em determinado<br />

atributo cultural, a ponto de excluir uma referência<br />

mais ampla a outr<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> sociais.<br />

A afirmação de identidade não significa<br />

necessariamente incapacidade de relacionarse<br />

com outr<strong>as</strong> identidades ou abarcar toda a<br />

sociedade sob essa identidade.<br />

Numa sociedade pós-industrial, em que<br />

os serviços culturais substituíram os bens materiais<br />

no cerne da produção, é a defesa da<br />

personalidade e cultura do sujeito contra a lógica<br />

dos aparatos e mercados que substitui a<br />

ideia de luta de cl<strong>as</strong>se.<br />

A integração potencial de texto, imagens<br />

e sons no mesmo sistema, interagindo a partir<br />

de pontos múltiplos, no tempo escolhido (real<br />

ou atr<strong>as</strong>ado) em uma rede global, em condições<br />

de acesso aberto e de preço acessível,<br />

muda de forma fundamental o caráter da comunicação.<br />

Como a cultura é mediada e determinada<br />

pela comunicação, <strong>as</strong> própri<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>, isto é,<br />

nossos sistem<strong>as</strong> de crenç<strong>as</strong> e códigos historicamente<br />

produzidos são transformados de maneira<br />

fundamental pelo novo sistema tecnológico.<br />

Enquanto a grande mídia é um sistema<br />

de comunicação de mão-única, o processo<br />

◄<br />

ATIVIDADE<br />

Pesquise, leia e organize<br />

um grupo para debater<br />

sobre o <strong>as</strong>sunto:<br />

no fórum de discussão<br />

Os teletrabalhos,<br />

<strong>as</strong> telecompr<strong>as</strong>, os<br />

telebancos, educação a<br />

distância são sintom<strong>as</strong><br />

do fim d<strong>as</strong> cidades, do<br />

congestionamento, d<strong>as</strong><br />

aglomerações human<strong>as</strong>?<br />

Para Saber Mais<br />

Como combinar nov<strong>as</strong><br />

tecnologi<strong>as</strong> e memória<br />

coletiva,<br />

ciência universal e<br />

cultur<strong>as</strong> comunitári<strong>as</strong>,<br />

paixão e razão?<br />

Figura 13: Filme<br />

Denise está<br />

chamando<br />

Fonte: www..oficinadeimagens.org.br.Acessado<br />

em 22 abr. 2010.<br />

43


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

real de comunicação não o é, m<strong>as</strong> depende da<br />

interação entre o emissor e o receptor na interpretação<br />

da mensagem.<br />

Isto não implica que os meios de comunicação<br />

sejam instituições neutr<strong>as</strong> ou que seus<br />

efeitos sejam negligenciáveis. A mídia é a expressão<br />

de nossa cultura, e nossa cultura funciona<br />

principalmente por intermédio dos materiais<br />

propiciados pela mídia.<br />

A era da informação está introduzindo<br />

uma nova forma urbana, a cidade informacional.<br />

A crescente dissociação entre a proximidade<br />

espacial e o desempenho d<strong>as</strong> funções<br />

rotineir<strong>as</strong>: trabalho, compr<strong>as</strong>, entretenimento,<br />

<strong>as</strong>sistência à saúde, educação, serviços públicos,<br />

governo, significam o fim d<strong>as</strong> cidades?<br />

Para saber mais <strong>as</strong>sista ao Filme “Denise<br />

está chamando”<br />

Cercados de fax, telefones e computadores,<br />

os personagens vivem e se relacionam unicamente<br />

por meio desses aparatos eletrônicos,<br />

criando um grande ciclo de relacionamentos<br />

“virtuais” e dando em uma divertida sátira social<br />

sobre a vida nos grandes centros urbanos.<br />

(1995). Estados Unidos<br />

Diretor: Hal Salwen - roteiro: Harold<br />

Salwen - fotografia: Harold Salwen - montagem:<br />

Edil Giguere - música: Lynn Geller<br />

Referênci<strong>as</strong><br />

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.<br />

COSTA, Marisa Vorraber. Quem são? Que querem? Que fazer com eles? eis que chegam às<br />

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HALL. Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG: Representações<br />

da UNESCO no Br<strong>as</strong>il, 2003.<br />

44


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

Resumo<br />

1. A antropologia configura-se pelo enfoque na diversidade cultural. È a percepção da diferença<br />

que permite a constituição da identidade entre nós e os outros.<br />

2. A antropologia institui-se como objeto <strong>as</strong> sociedades dit<strong>as</strong>, nos meados do século XIX,<br />

“primitiv<strong>as</strong>”. Em outros termos, sociedades exteriores ás sociedades européi<strong>as</strong> ou norte<br />

-american<strong>as</strong>.<br />

3. A especificidade teórica da Antropologia não se reduz ás particularidades d<strong>as</strong> “cultur<strong>as</strong> primitiv<strong>as</strong>”.<br />

M<strong>as</strong> envolve <strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong> dimensões do ser humano.<br />

4. Carlos Rodrigues nos provoca a pensar sobre o que é educação exatamente na perspectiva<br />

antropológica: ninguém escapa da educação. Em c<strong>as</strong>a, na rua, na igreja ou na escola, de<br />

um modo ou de muitos outros todos nós envolvemos pedaços da vida com ela.<br />

5. A educação existe de form<strong>as</strong> diferentes em mundos diversos( sociedades tribais, agricultores,<br />

educação em países desenvolvidos, mundos sociais sem cl<strong>as</strong>ses).<br />

6. Na espécie humana a educação não constitui apen<strong>as</strong> o trabalho da vida. Ela se instala dentro<br />

de um domínio propriamente humano de troc<strong>as</strong>: de símbolos, de intenções de padrões<br />

de cultura e de relações de poder.<br />

7. A educação do homem existe por toda partee, muito mais do que a escola, é o resultado<br />

de todo o meio sociocultural sobre seus participantes.<br />

8. A gênese da Antropologia Aplicada a Educação se encontra no âmbito da Antropologia<br />

Cultural norte – Americana, concretamente na Escola de cultura e personalidade liderada<br />

por Francis Bo<strong>as</strong>.<br />

9. Margareth Mead, nos anos 30 do século p<strong>as</strong>sado, procurava entender de que forma os valores,<br />

gestos, atitudes e crenç<strong>as</strong> eram transmitidos pelos adultos a crianç<strong>as</strong> com o objetivo<br />

central de moldá-los para a vida em sociedade.<br />

10. O capital cultural, ampliamente desenvolvido por Pierre Bordieu, seria o acúmulo dos bens<br />

culturais adquiridos ou investidos durante a vida. Seria o investimento em arte, literatura e<br />

imersão no meio de cultura.<br />

11. Em todo o processo educativo encontra-se um modelo de ser humano, de comportamento<br />

e de sociedade. Educar é humanizar, contribuir com a pessoa para que ela reconheça<br />

seus próprios limites e possibilidades.<br />

12. Toda prática educativa, de maneira consciente ou inconsciente, firma-se sobre um conceito<br />

de ser humano e de sociedade.<br />

13. O específico da Antropologia da Educação consiste em criar teori<strong>as</strong> que possam explicar<br />

os fenômenos educativos e contribuir eficazmente com o desenvolvimento pedagógico.<br />

14. No desenvolvimento da pesquisa educativa, podem –se seguir vári<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> que, de modo<br />

geral, obedecem ás grandes correntes filosófic<strong>as</strong> do século XIX e início do século XX: positivismo,<br />

fenomenologia e dialética.<br />

15. O multiculturalismo na educação merece um olhar antropológico e um viés crítico, pois<br />

a sensibilidade para a pluralidade nos espaços de formação humana tem que acontecer<br />

com a redução de preconceitos e discriminações.<br />

16. As instituições podem auxiliar <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> a valorizar a cultura, seu corpo, seu jeito de ser,<br />

ou pelo contrário, favorecer a discriminação quando silenciam diante da diversidade e da<br />

necessidade de realizar abordagens de forma positiva.<br />

45


UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

17. Os silêncios, os ritos, o currículo, a forma de organização escolar, os tempos e espaços escolares,<br />

<strong>as</strong> linguagens que perp<strong>as</strong>sam a noss<strong>as</strong> atuações docentes produzem menin<strong>as</strong> e<br />

meninos e perpetuam relações desiguais entre el<strong>as</strong> e eles.<br />

18. O novo complexo cultural representado pela combinação entre cultura popular ( nos chamados<br />

meios de comunicação de m<strong>as</strong>sa) e <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong> de comunicação estão<br />

produzindo uma transformação radical nos processos de produção de subjetividade e de<br />

identidades sociais.<br />

19. O currículo é o espaço onde se corporificam form<strong>as</strong> de conhecimento e de saber. Como<br />

tal, o desc<strong>as</strong>o pel<strong>as</strong> radicais transformações efetuad<strong>as</strong> na produção da subjetividade pel<strong>as</strong><br />

nov<strong>as</strong> mídi<strong>as</strong> demonstrado pela escola e pelos educadores profissionais, significa deixar<br />

de fora desse espaço form<strong>as</strong> importantes de conhecimento e de saber, que, no entanto, á<br />

contracorrente da escola, estão, na realidade, moldando e formando nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de existência<br />

e sociabilidae.<br />

20. Crianç<strong>as</strong>, jovens, mulheres, negros, idosos, docentes, surdos etc, são exemplos de identidades<br />

recriad<strong>as</strong> e reinventad<strong>as</strong> de múltipl<strong>as</strong> form<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> variad<strong>as</strong> narrativ<strong>as</strong> que p<strong>as</strong>sam a<br />

circular de forma planetária, fazendo aparecer novos atores sociais<br />

46


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

Referênci<strong>as</strong><br />

Básic<strong>as</strong><br />

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Complementares<br />

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48


Pedagogia - Antropologia e Educação<br />

Atividades de<br />

aprendizagem - AA<br />

1) Qual o objeto de estudo da Antropologia Social e Cultural?<br />

2) O que contr<strong>as</strong>ta o paradoxo da unidade biológica do homem?<br />

3) O que é etnografia?<br />

4) Qual forma de intervenção em educação que merece um olhar antropológico e um viés crítico,<br />

levando em conta a sensibilidade para a pluralidade nos espaços de formação humana com a<br />

intenção de reduzir preconceitos e discriminações?<br />

5) Qual o ramo da Antropologia que estuda <strong>as</strong> língu<strong>as</strong> (a linguagem) como expressão de valores,<br />

preocupações, idei<strong>as</strong> pensamentos, enfim como a produção cultural e ao mesmo tempo como<br />

produto da cultura?<br />

6) A Antropologia social e cultural estuda <strong>as</strong> sociedades human<strong>as</strong>, evitando o julgamento de caráter<br />

etnocêntrico. Explica o que isso significa.<br />

7) No estudo d<strong>as</strong> sociedades “primitiv<strong>as</strong>” contemporâne<strong>as</strong>, qual método a Antropologia social e<br />

cultural aplicou desde cedo?<br />

8) A Antropologia social e cultural estuda <strong>as</strong> sociedades human<strong>as</strong>, evitando o julgamento de caráter<br />

etnocêntrico. Explique essa afirmação.<br />

9) O que é Etnocentrismo?<br />

10) As diferenç<strong>as</strong> físic<strong>as</strong>, _______________________________ são um fato, m<strong>as</strong> não o foco da<br />

discussão.<br />

( ) étnic<strong>as</strong>, culturais, de gênero, etári<strong>as</strong>.<br />

( ) etári<strong>as</strong>, sociais, de geração, etári<strong>as</strong>.<br />

( ) Intergeracional, convencional, de gênero, etári<strong>as</strong>.<br />

( ) cultural, de gênero, etári<strong>as</strong>, convencional.<br />

49

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