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1 º<br />
período<br />
PEDAGOGIA<br />
Antropologia<br />
e Educação<br />
Edina Souza Ramos<br />
Laurenício Mendes da Silva
Edina Souza Ramos Mendes<br />
Laurenício Mendes da Silva<br />
2ª edição atualizada por<br />
Laurenício Mendes da Silva<br />
Antropologia e<br />
Educação<br />
2ª EDIÇÃO<br />
Montes Claros/MG - 2013
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros<br />
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES<br />
REITOR<br />
João dos Reis Canela<br />
VICE-REITORA<br />
Maria Ivete Soares de Almeida<br />
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES<br />
Huagner Cardoso da Silva<br />
EDITORA UNIMONTES<br />
Conselho Editorial<br />
Prof. Silvio Guimarães – Medicina. <strong>Unimontes</strong>.<br />
Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. <strong>Unimontes</strong>.<br />
Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU.<br />
Profª Maria Geralda Almeida. UFG<br />
Prof. Luis Jobim – UERJ.<br />
Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal.<br />
Prof. Fernando Verdú P<strong>as</strong>coal. Valencia – Espanha.<br />
Prof. Antônio Alvimar Souza - <strong>Unimontes</strong><br />
Prof. Fernando Lol<strong>as</strong> Stepke. – Univ. Chile.<br />
Prof. José Geraldo de Freit<strong>as</strong> Drumond – <strong>Unimontes</strong>.<br />
Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letr<strong>as</strong> – <strong>Unimontes</strong>.<br />
Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – <strong>Unimontes</strong>.<br />
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.<br />
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA<br />
Carla Roselma Athayde Moraes<br />
Maria Cristina Ru<strong>as</strong> de Abreu Maia<br />
Waneuza Soares Eulálio<br />
REVISÃO TÉCNICA<br />
Gisléia de Cássia Oliveira<br />
Karen Torres C. Lafetá de Almeida<br />
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis<br />
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO<br />
Andréia Santos Di<strong>as</strong><br />
Camilla Maria Silva Rodrigues<br />
Fernando Guilherme Veloso Queiroz<br />
Magda Lima de Oliveira<br />
Sanzio Mendonça Henriiques<br />
Sônia Maria Oliveira<br />
Wendell Brito Mineiro<br />
Zilmar Santos Cardoso<br />
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - <strong>Unimontes</strong><br />
Ficha Catalográfica:<br />
2013<br />
Proibida a reprodução total ou parcial.<br />
Os infratores serão processados na forma da lei.<br />
EDITORA UNIMONTES<br />
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro<br />
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)<br />
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089<br />
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Ministro da Educação<br />
Aloizio Mercadante Oliva<br />
Presidente Geral da CAPES<br />
Jorge Almeida Guimarães<br />
Diretor de Educação a Distância da CAPES<br />
João Carlos teatini de Souza Clímaco<br />
Governador do Estado de Min<strong>as</strong> Gerais<br />
Antônio Augusto Junho An<strong>as</strong>t<strong>as</strong>ia<br />
Vice-Governador do Estado de Min<strong>as</strong> Gerais<br />
Alberto Pinto Coelho Júnior<br />
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior<br />
Nárcio Rodrigues<br />
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - <strong>Unimontes</strong><br />
João dos Reis Canela<br />
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros -<br />
<strong>Unimontes</strong><br />
Maria Ivete Soares de Almeida<br />
Pró-Reitor de Ensino/<strong>Unimontes</strong><br />
João Felício Rodrigues Neto<br />
Diretor do Centro de Educação a Distância/<strong>Unimontes</strong><br />
Jânio Marques Di<strong>as</strong><br />
Coordenadora da UAB/<strong>Unimontes</strong><br />
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo<br />
Coordenadora Adjunta da UAB/<strong>Unimontes</strong><br />
Betânia Maria Araújo P<strong>as</strong>sos<br />
Diretora do Centro de Ciênci<strong>as</strong> Biológic<strong>as</strong> da Saúde - CCBS/<br />
<strong>Unimontes</strong><br />
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Diretor do Centro de Ciênci<strong>as</strong> Human<strong>as</strong> - CCH/<strong>Unimontes</strong><br />
Antônio Wagner veloso Rocha<br />
Diretor do Centro de Ciênci<strong>as</strong> Sociais Aplicad<strong>as</strong> - CCSA/<strong>Unimontes</strong><br />
Paulo Cesar Mendes Barbosa<br />
Chefe do Departamento de Comunicação e Letr<strong>as</strong>/<strong>Unimontes</strong><br />
Sandra Ramos de Oliveira<br />
Chefe do Departamento de Educação/<strong>Unimontes</strong><br />
Andréa Lafetá de Melo Franco<br />
Chefe do Departamento de Educação Física/<strong>Unimontes</strong><br />
Rogério Othon teixeira Alves<br />
Chefe do Departamento de Filosofia/<strong>Unimontes</strong><br />
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Chefe do Departamento de Geociênci<strong>as</strong>/<strong>Unimontes</strong><br />
Antônio Maurílio Alencar Feitosa<br />
Chefe do Departamento de História/<strong>Unimontes</strong><br />
Donizette Lima do N<strong>as</strong>cimento<br />
Chefe do Departamento de Política e Ciênci<strong>as</strong> Sociais/<strong>Unimontes</strong><br />
Isabel Cristina Barbosa de Brito
Autores<br />
Edina Souza Ramos Mendes<br />
Sociólogia. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Min<strong>as</strong> Gerais – UFMG<br />
Especialista em Ciênci<strong>as</strong> Sociais e graduada em Ciênci<strong>as</strong> Sociais pela Universidade<br />
Estadual de Montes Claros – <strong>Unimontes</strong>. Atualmente é professora do Departamento de<br />
Política e Ciênci<strong>as</strong> Sociais da <strong>Unimontes</strong>.<br />
Laurenicio Mendes da Silva<br />
Sociólogo. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Min<strong>as</strong> Gerais – UFMG – e<br />
Professor do Departamento de Política e Ciênci<strong>as</strong> Sociais da Universidade Estadual de<br />
Montes Claros – <strong>Unimontes</strong>.
Sumário<br />
Apresentação................................................9<br />
Unidade 1 ..................................................11<br />
Antropologia no quadro d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong>. ...............................................11<br />
1.1 Introdução ......................................................................11<br />
1.2 Conceituando a Antropologia. ..................................................11<br />
1.3 Objeto de estudo e a especificidade da Antropologia ............................12<br />
1.4 Deslocamento do olhar antropológico ...........................................13<br />
Referênci<strong>as</strong> ........................................................................16<br />
Unidade 2 ..................................................17<br />
A Antropologia e educação .........................................................17<br />
2.1 Introdução. .....................................................................17<br />
2.2 Conceituando educação ........................................................17<br />
2.3 A gênese da Antropologia da educação .........................................18<br />
2.4 A importância da reflexão antropológica para a educação. .......................19<br />
2.5 O método em Antropologia da Educação ........................................20<br />
Referênci<strong>as</strong> ........................................................................21<br />
Unidade 3 ..................................................23<br />
Sociedade, cultura e educação ..................................................... 23<br />
3.1 Introdução ..................................................................... 23<br />
3.2 Cultura e sociedade ............................................................ 23<br />
3.3 Cultura e educação .............................................................24<br />
3.4 Cultura e currículo ..............................................................27<br />
Referênci<strong>as</strong>. ........................................................................28<br />
Unidade 4 ..................................................29<br />
Educação e diversidade. ............................................................29<br />
4.1 Introdução. .....................................................................29<br />
4.2 Educação antirracista ...........................................................29<br />
4.3 Educação indígena. .............................................................32
4.4 Educação e gênero. .............................................................35<br />
Referênci<strong>as</strong> ........................................................................37<br />
Unidade 5 ..................................................39<br />
A escola e os novos complexos culturais. ............................................39<br />
5.1 Introdução ......................................................................39<br />
5.2 Nov<strong>as</strong> relações entre estudantes e professores ...................................39<br />
5.3 Nov<strong>as</strong> identidades culturais e a educação. .......................................41<br />
5.4 O ser cultural e a virtualidade. ...................................................43<br />
Referênci<strong>as</strong> básic<strong>as</strong>, complementares e suplementares .... 44<br />
Resumo.....................................................45<br />
Atividades de aprendizagem - AA ..........................49
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
Apresentação<br />
Caro(a) acadêmico(a):<br />
A disciplina Antropologia e Educação é uma disciplina de conhecimento de oferta recente<br />
por parte d<strong>as</strong> Universidades Br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>. A nossa proposta se orienta em trabalhar du<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> com<br />
perspectiv<strong>as</strong> complementares: a científica, cujos conhecimentos a respeito do homem são relevantes<br />
para um adequado desenvolvimento pedagógico; e a reflexão antropológica, que proporciona<br />
unidade aos conhecimentos empíricos e direção ao processo educativo de acordo com a<br />
perspectiva mais ampla a que se propõe a antropologia aplicada à educação.<br />
A Antropologia e Educação ou Antropologia Aplicada à Educação propõe acompanhar o homem<br />
no seu processo de humanização e refletir sobre os sistem<strong>as</strong> desenvolvidos para a consecução<br />
deste fim. Ao longo do estudo, vamos tratar da questão da educação como um processo<br />
cultural e continuo, ou seja, está sempre em construção.<br />
A possibilidade e necessidade que temos de interagir permanentemente com o meio ao<br />
qual estamos inseridos legitimam esse novo olhar da “Antropologia e Educação”.<br />
A ementa da disciplina nos leva a uma abordagem sobre a educação e sua dimensão social,<br />
os seus paradigm<strong>as</strong> utilizados na produção de conhecimentos e os agentes informais de educação,<br />
a educação popular e os processos formativos além dos muros da escola. No decorrer dos<br />
estudos propostos, serão apresentados conteúdos informativos, formativos e reflexivos sobre a<br />
antropologia, educação, cultura e diversidade.<br />
A disciplina Antropologia e Educação tem como objetivos principais: propiciar uma reflexão<br />
inicial sobre o objeto de análise da Antropologia e sua contribuição para o debate sobre a relação<br />
entre escola, cultura e sociedade; apresentar, discutir e utilizar a abordagem antropológica<br />
em relação ao fenômeno da educação; utilizar ess<strong>as</strong> noções na reflexão sobre questões educacionais<br />
contemporâne<strong>as</strong>. Para isto, dividimos o nosso estudo em cinco unidades, a saber:<br />
Unidade I: A Antropologia no quadro d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong><br />
1.1 Introdução<br />
1.2 Conceituando a Antropologia<br />
1.3 Objeto de estudo e a especificidade da antropologia<br />
1.4 Deslocamento do olhar Antropológico<br />
Unidade II: Antropologia e Educação<br />
2.1 Introdução<br />
2.2 Conceituando a Educação<br />
2.3 A gênese da Antropologia e Educação<br />
2.4 A Importância da reflexão antropológica para a Educação<br />
2.5 O método em Antropologia da Educação<br />
Unidade III: Sociedade, Cultura e Educação<br />
3.1 Introdução<br />
3.2 Cultura e Sociedade<br />
3.3 Cultura e Educação<br />
3.4 Cultura e currículo<br />
Unidade IV: Educação e Diversidade<br />
4.1 Introdução<br />
4.2 Educação antirracista<br />
4.3 Educação Indígena<br />
4.4 Educação e gênero<br />
Unidade V: A escola e os novos complexos culturais<br />
5.1 Introdução<br />
5.2 Nov<strong>as</strong> relações entre professores e alunos<br />
5.3 Nov<strong>as</strong> identidades culturais e a educação<br />
5.3 O ser cultural e a virtualidade<br />
9
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
O texto está estruturado a partir do desenvolvimento d<strong>as</strong> unidades e subunidades. Você deverá<br />
perceber que <strong>as</strong> questões para discussão e reflexão que acompanham o texto são muito importantes,<br />
bem como <strong>as</strong> sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem ao fórum, para<br />
acessar a bibliotec<strong>as</strong> virtuais na web etc. As sugestões e dic<strong>as</strong> estão localizad<strong>as</strong> junto ao texto,<br />
aparecendo com os seguintes ícones<br />
Ícones de para saber mais – dic<strong>as</strong> – atividades e Glossário<br />
A leitura dos textos complementares indicados também é importante, pois indicam desenvolvimento<br />
e ampliações para o estudo e discussão. São recursos que podem ser explorados de<br />
maneira eficaz, por você, pois buscam promover atividades de observação e de investigação que<br />
permitem desenvolver habilidades própri<strong>as</strong> da análise antropológica e exercitar a leitura e interpretação<br />
de fenômenos sociais e culturais.<br />
Ao planejar a disciplina Antropologia e Educação para o curso de Pedagogia, levamos em<br />
conta ess<strong>as</strong> questões e sugestões que são fundamentais para familiarizar o acadêmico, gradativamente,<br />
com a visão e procedimentos próprios da disciplina.<br />
Agora é com você. Explore tudo, abra espaços para a interação com seus coleg<strong>as</strong>, para o questionamento,<br />
para a leitura crítica do texto, bem como <strong>as</strong> atividades e leitur<strong>as</strong> complementares.<br />
Os autores<br />
10
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
UNIDADE 1<br />
Antropologia no quadro d<strong>as</strong><br />
ciênci<strong>as</strong><br />
1.1 Introdução<br />
Nesta unidade da disciplina Antropologia e Educação, o objetivo é introduzir os acadêmicos<br />
do curso de Pedagogia na compreensão e problemática fundamental da Antropologia como<br />
ciência social aplicada e, nesse c<strong>as</strong>o, aplicada a educação. É uma unidade dedicada à análise dos<br />
conceitos e abordagens antropológicos. Ao se defrontar com os conceitos específicos da Antropologia<br />
aplicada à Educação, espera-se que os acadêmicos possam refletir sobre a especificidade<br />
da Antropologia como uma ciência diante de outr<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais aplicad<strong>as</strong>. O objeto de estudo<br />
e a especificidade da antropologia, sua especificidade, bem como o deslocamento do olhar<br />
antropológico para o fenômeno educacional são os destaques dessa unidade.<br />
1.2 Conceituando a Antropologia<br />
Esta primeira unidade da disciplina Antropologia<br />
e educação objetiva introduzir os<br />
estudantes do Curso de Ciênci<strong>as</strong> Sociais na<br />
compreensão da problemática fundamental<br />
da Antropologia. É, portanto, uma Unidade dedicada<br />
à análise de conceitos e abordagens antropológicos.<br />
Ao se defrontar com o arcabouço<br />
conceitual e definidor desta disciplina, esper<strong>as</strong>e<br />
que os estudantes possam refletir sobre a especificidade<br />
da Antropologia como uma Ciência<br />
diante de outr<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> da Humanidade.<br />
Embora não seja justificável ou razoavelmente<br />
defensável argumentar sobre fronteir<strong>as</strong><br />
rígid<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> disciplin<strong>as</strong> que compõem <strong>as</strong><br />
Ciênci<strong>as</strong> Sociais, já que a interdisciplinaridade,<br />
ou seja, a contribuição e o diálogo entre pesquisadores<br />
de vári<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> ou campos de atuação<br />
do conhecimento torna-se uma prática saudável<br />
hoje em dia, é possível falar minimante sobre<br />
a especificidade antropológica.<br />
Assim, pode-se dizer que <strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> se<br />
distinguem ou se diferenciam pela maneira<br />
como os cientist<strong>as</strong> definem e problematizam<br />
seu objeto de estudo e pelos conceitos ou categori<strong>as</strong><br />
que propõem para compreendê-lo ou<br />
explicá-lo.<br />
Nesses termos, a Antropologia Social ou<br />
Cultural tem como objeto o homem, mais precisamente,<br />
o comportamento do homem como<br />
membro de uma sociedade e distingue-se d<strong>as</strong><br />
demais ciênci<strong>as</strong> que tem também o homem<br />
como objeto, por tomar como problema central<br />
de investigação a questão da diversidade cultural.<br />
Por isso, pode-se dizer que a Antropologia<br />
é uma ciência d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> sociais e culturais.<br />
Assim, desde sua gênese e durante sua trajetória<br />
histórica teórica, a Antropologia buscou<br />
constantemente um refinamento teórico e metodológico<br />
para a compreensão da diversidade<br />
cultural. E uma questão crucial que se impôs<br />
durante seu desenvolvimento teórico foi compreender<br />
o paradoxo da unidade biológica do<br />
homem que se contr<strong>as</strong>ta com a extraordinária<br />
diversidade cultural.<br />
Assim, poder-se-ia dizer que se envolver<br />
com a Antropologia é esforçar-se para compreender<br />
a diversidade cultural humana. Portanto,<br />
nesta disciplina (Antropologia I), torna-se<br />
crucial a apreensão e compreensão dos<br />
conceitos de cultura e diversidade cultural. Os<br />
estudantes deverão estar atentos para <strong>as</strong> diferentes<br />
concepções de cultura e de diversidade<br />
cultural, pois esses conceitos são constituintes<br />
do desenvolvimento teórico e metodológico<br />
definidores do enfoque antropológico.<br />
Resumindo, a Antropologia pretende ser<br />
uma ciência da humanidade e da cultura. E, especificamente,<br />
a Antropologia Social pretende<br />
compreender a diversidade cultural humana.<br />
11
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
GLOSSÁRIO<br />
Antropologia: Etimologicamente,<br />
o termo<br />
antropologia significa<br />
estudo do homem<br />
(anthpopos: homem;<br />
logos: conhecimento,<br />
saber, estudo).<br />
PA RA SABER MAIS<br />
Leia o texto de Horace<br />
Miner, “O Ritual do Corpo<br />
entre os Nacirema”<br />
(disponível em http://<br />
comunicacaoeesporte.files.wordpress.<br />
com/2011/03/nacirema.pdf),<br />
e procure<br />
descobrir sobre qual<br />
povo o autor está falando<br />
e tente pensar sobre<br />
a prática da reflexão<br />
antropológica.<br />
Atividade<br />
Reflitam sobre <strong>as</strong><br />
oposições entre <strong>as</strong><br />
“sociedades ocidentais”<br />
e <strong>as</strong> “sociedades<br />
não ocidentais” e que<br />
implicações ideológic<strong>as</strong><br />
ess<strong>as</strong> oposições podem<br />
ter para a consolidação<br />
do conhecimento<br />
científico e discutam<br />
esta proposta no fórum<br />
de discussão.<br />
12<br />
1.3 Objeto de estudo e a<br />
especificidade da Antropologia<br />
A reflexão do homem sobre o homem é muito antiga. O homem nunca parou de interrogarse<br />
sobre si mesmo. Em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> sociedades e em qualquer tempo e espaço “existiram homens<br />
que observaram homens”.<br />
Assim, o problema de se questionar sobre<br />
<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> culturais ou sociais foi sempre<br />
constante durante a história da humanidade.<br />
No entanto, a constituição de um projeto<br />
antropológico que se ocup<strong>as</strong>se do próprio homem<br />
como objeto de conhecimento é bem recente.<br />
Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, a preocupação em se<br />
construir um discurso antropológico com status<br />
de ciência, ou que se pudesse cumprir certos critérios<br />
de uma teoria cientifica, pode ser situada<br />
a partir da metade do século XIX (LAPLANTINE,<br />
2000; COPANS, 1971; MERCIER, 1974). Lentamente,<br />
começa-se a constituir um arcabouço teórico<br />
e metodológico visando a apreender a ação<br />
humana como um fenômeno observável e analisável.<br />
A cultura ou <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sam a ser encarad<strong>as</strong><br />
como um objeto de estudo, pois podem<br />
ser apreendid<strong>as</strong> como um fenômeno p<strong>as</strong>sível de<br />
objetivação, ou seja, como um fenômeno possível<br />
de ser cl<strong>as</strong>sificado, explicado ou compreendido<br />
de maneira objetiva.<br />
Inicialmente, a Antropologia preocup<strong>as</strong>e<br />
em elaborar um conhecimento ou uma<br />
interpretação sobre <strong>as</strong> sociedades situad<strong>as</strong><br />
em espaços geográficos longe d<strong>as</strong> sociedades<br />
ocidentais. São <strong>as</strong> dit<strong>as</strong> sociedades “simples”<br />
ou de organização social simples ou<br />
ainda sociedades “primitiv<strong>as</strong>” que p<strong>as</strong>sam a<br />
ser tomad<strong>as</strong> como objeto de estudo da Antropologia.<br />
Assim, a Antropologia acaba de<br />
atribuir-se um objeto que lhe é próprio: o estudo<br />
d<strong>as</strong> populações que não pertencem à<br />
civilização ocidental.<br />
A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um<br />
saber são tão antigos quanto a humanidade, e se deram tanto na Ásia como na<br />
África, na América, na Oceania ou na Europa. (LAPLATINE, 2000 p.13)<br />
a. A ciência antropológica instituiu-se no espaço<br />
do Ocidente;<br />
b. O encontro com a diferença mais radical,<br />
o “OUTRO”. Vislumbra-se, <strong>as</strong>sim, a possibilidade<br />
de um distanciamento entre<br />
sujeito e objeto como condição de objetividade,<br />
necessária para se instituir o fazer<br />
científico. No entanto, o mais fundamental,<br />
o que vai definir o enfoque antropológico<br />
é a oposição entre o Nós e o Outro.<br />
Instituiu-se o Outro como problema fundamental,<br />
aliás um problema recorrente<br />
para a humanidade em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> vári<strong>as</strong><br />
etap<strong>as</strong> de sua história.<br />
c. E, como resultado, “é a busca de uma resposta<br />
sistemática a esse problema que vai<br />
definir, no início, uma atitude, mais tarde,<br />
uma reflexão sistemática, enfim, uma<br />
ciência: a etnografia, etnologia – ou antropologia”<br />
(SANCHIS, 1999, p. 24).<br />
d. É, portanto, a partir de uma reflexão sistemática<br />
sobre <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong>, do encontro<br />
com o Outro, que a antropologia, paulatinamente,<br />
se constituiu como uma ciência.<br />
Isto significa a elaboração de um conhecimento<br />
relativista. O outro deixa de ser<br />
o exótico, o esquisito, o desigual e p<strong>as</strong>sa<br />
a ser encarado como diferente, com uma<br />
lógica própria de dar inteligibilidade para<br />
si e de elaboração e compreensão sociocósmica.<br />
Isso exige um olhar de dentro,<br />
que se pudesse captar o ponto de vista<br />
do outro, ou como se diz em antropologia<br />
“o ponto de vista do nativo”;<br />
e. A especificidade da Antropologia, portanto,<br />
advém crucialmente dessa necessidade<br />
metodológica de apreender o ponto<br />
de vista do outro e isto só é possível na<br />
medida em que o antropólogo imerge na<br />
sociedade ou no grupo social que se pretende<br />
compreender. É a experiência do<br />
trabalho de campo (o próprio pesquisador<br />
coletando e interpretando seus dados<br />
etnográficos) que constitui a marca distintiva<br />
da Antropologia.<br />
Portanto, veja bem, o contato próximo e<br />
prolongado, a “observação participante” com<br />
a sociedade ou com o grupo social que se quer<br />
estudar ou compreender impõe uma marca<br />
distintiva da Antropologia, ou seja, a sua especificidade<br />
como disciplina científica. Essa<br />
especificidade reside na possibilidade que o<br />
antropólogo tem de refletir sobre sua própria<br />
sociedade. Ou seja, é a partir do encontro com<br />
o diferente que posso questionar os meus pa-
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
drões de compreensão do mundo, de valorização<br />
e de comportamento (SANCHIS, 1999, p.24).<br />
É o que se pode chamar de um caráter reflexivo<br />
resultante da descoberta d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong>. É<br />
<strong>as</strong>sim que posso compreender <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong>, o<br />
Outro e questionar o meu modo de vida, meus<br />
valores e minh<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de compreensão do<br />
mundo. Como argumenta Laplantine:<br />
[...] preso a uma única cultura, somos não apen<strong>as</strong> cegos à dos outros, m<strong>as</strong> míope<br />
quando se trata da nossa. A experiência da alteridade (e a elaboração dessa<br />
experiência) leva nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar,<br />
dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que é habitual, familiar, cotidiano,<br />
e que consideramos ‘evidente’. Aos poucos notamos que o menor dos<br />
nossos comportamentos (gestos, mímic<strong>as</strong>, postur<strong>as</strong>, reações afetiv<strong>as</strong>) não tem<br />
realmente nada de ‘natural’. Começamos, então, a nos surpreender com aquilo<br />
que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológico)<br />
de nossa cultura p<strong>as</strong>sa inevitavelmente pelo conhecimento de outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>,<br />
e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre<br />
tant<strong>as</strong> outr<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> não a única (LAPLANTINE, 2000, p.20).<br />
1.4 Deslocamento do olhar<br />
antropológico<br />
Como pudemos ver, por definição, a Antropologia<br />
é a ciência do “Outro”. Dessa perspectiva,<br />
afirmamos mais uma vez, a antropologia<br />
configura pelo enfoque na diversidade<br />
cultural. Isto implica uma relação entre “nós”<br />
– o grupo social e cultural a que se pertence, o<br />
grupo do próprio pesquisador – e os “outros”,<br />
aqueles que não pertencem ao grupo do pesquisador<br />
ou ao nosso. Portanto, é a percepção<br />
da diferença que permite a constituição da<br />
identidade entre nós e os outros. Fundamentalmente,<br />
o que possibilitou a Antropologia se<br />
constituir como uma ciência foi a sensibilidade<br />
dos antropólogos em perceber <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> a<br />
partir de uma atitude relativista. Aliás, uma sensibilidade<br />
que foi sendo lentamente refinada e<br />
lapidada durante todo o desenvolvimento teórico<br />
e metodológico da prática antropológica.<br />
Como já pudemos afirmar também, inicialmente,<br />
a Antropologia institui-se como<br />
objeto às sociedades dit<strong>as</strong>, nos meados do século<br />
XIX, “primitiv<strong>as</strong>”. Em outros termos, sociedades<br />
exteriores às sociedades europei<strong>as</strong> ou<br />
norte-american<strong>as</strong>.<br />
No entanto, serão necessários ainda longos<br />
anos para que a Antropologia pudesse<br />
elaborar su<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> ou seus instrumentos<br />
intelectuais de investigação e firmar seus<br />
próprios métodos de coleta de dado. Porém,<br />
tão logo a Antropologia firma seus instrumentos<br />
para construir e consolidar uma reflexão<br />
mais sistemática sobre <strong>as</strong> particularidades<br />
culturais, ela depara-se com uma realidade<br />
histórica irreversível: ela via seu “objeto derreter<br />
e desaparecer progressivamente diante do<br />
rolo compressora que constitui a ‘modernidade’,<br />
econômica, política e também ideológica”<br />
(SANCHIS, 1999, p. 30).<br />
A Antropologia defronta-se, <strong>as</strong>sim, com<br />
uma crise de identidade. E diante da interrogação:<br />
é o fim da Antropologia, muit<strong>as</strong> vezes feita<br />
pelos próprios antropólogos, é que começa<br />
a se esboçar uma reordenação no campo da<br />
Antropologia e forjarem-se novos instrumentos<br />
intelectuais que serão responsáveis pelo<br />
alargamento e aprimoramento da Antropologia,<br />
que p<strong>as</strong>sa a incorporar variados processos<br />
concretos como foco de investigação?<br />
Diante dessa nova conjuntura, a Antropologia<br />
reflui sobre sua própria sociedade. Vê-se<br />
forçada, portanto, a buscar outr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> de investigação.<br />
“O ‘Outro’, que ela ia procurar longe,<br />
se acostuma a encontrá-lo no interior do<br />
próprio grupo social de seus cultores” (idem,<br />
p. 31). Reconhece-se que a especificidade teórica<br />
da Antropologia não se reduz às particularidades<br />
d<strong>as</strong> “cultur<strong>as</strong> primitiv<strong>as</strong>”, m<strong>as</strong> envolve<br />
<strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong> dimensões do ser humano.<br />
Portanto, é razoável afirmar, diante dessa<br />
mudança de campo da Antropologia, que não<br />
é mais o objeto que a define, e concordar com<br />
Laplantine<br />
Que a Antropologia afirma a especificidade de sua prática, não mais através<br />
de um objeto empírico constituído (o selvagem, o camponês), m<strong>as</strong> através<br />
de uma abordagem epistemológica constituinte [...] o objeto teórico da antropologia<br />
não está ligado [...] a um espaço geográfico, cultural ou histórico particular.<br />
Pois a antropologia não é senão um certo olhar, um certo enfoque que<br />
13
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
consiste em: a) o estudo do homem inteiro; b) o estudo do homem em tod<strong>as</strong><br />
<strong>as</strong> sociedades, sob tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> latitudes em todos os seus estados e em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />
époc<strong>as</strong>” (LAPLANTINE , 2000, p. 16).<br />
BOX 1<br />
ATIVIDADE<br />
Na reportagem inserida<br />
no Box 1, o jornalista<br />
enfoca a influência da<br />
cultura até mesmo sobre<br />
os <strong>as</strong>pectos físicos<br />
do ser humano. Analise<br />
a notícia e procure<br />
explicar a relação entre<br />
natureza e cultura.<br />
Postar no fórum de<br />
discussão.<br />
“A admiração chinesa por pés pequenos, ou atrofiados, n<strong>as</strong>ceu em 920, segundo pesquis<strong>as</strong><br />
históric<strong>as</strong>. O imperador Li Yu se deixou seduzir por uma concubina que dançava com os<br />
pés enfaixados para que se parecessem com uma lua crescente.<br />
O Costume atravessou din<strong>as</strong>ti<strong>as</strong> chines<strong>as</strong> e se sofisticou em 76 form<strong>as</strong> diferentes de se<br />
enfaixar os pés.<br />
Depois da queda da din<strong>as</strong>tia Qing, em 1911, criou-se a figura do “inspetor de pés”. Cabia a<br />
ele verificar se estava sendo respeitada a proibição dessa prática.<br />
O poder republicano, no entanto, não conseguia impor sua vontade n<strong>as</strong> regiões mais remot<strong>as</strong><br />
da China.<br />
Enfaixar os pés sobreviveu alguns anos, até diminuir no início dos anos 30.<br />
Em 1931, a inv<strong>as</strong>ão japonesa desferiu um forte golpe contra o costume imperial. As mulheres<br />
com os pés atrofiados não conseguiam se movimentar com velocidade necessária para<br />
fugir do inv<strong>as</strong>or e muit<strong>as</strong> acabavam sendo violentad<strong>as</strong>.<br />
Os camponeses então começaram a abrir mão do costume. Foi apen<strong>as</strong> o regime comunista<br />
que conseguiu livrar definitivamente a China da prática de enfaixar o pé.<br />
Algum<strong>as</strong> mulheres na c<strong>as</strong>a dos 80 anos ainda mantém faix<strong>as</strong>, porque com el<strong>as</strong> sentem<br />
menos dores. Os panos protegem os pés.”<br />
Fonte: Folha de São Paulo<br />
14<br />
Pois bem, penso ser oportuno refletir<br />
nesse momento sobre os campos e divisões<br />
da Antropologia. A ideia é ampliar a discussão<br />
sobre o campo de estudo da Antropologia Social,<br />
tentando perceber como ela se distingue<br />
enquanto uma especialização da Antropologia<br />
Geral.<br />
Se for razoável afirmar que a abordagem<br />
antropológica tenciona compreender <strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong><br />
dimensões do homem em sociedade<br />
(LAPLANTIINE, 2000, P. 16), é aceitável dizer<br />
que isso não pode ser alcançável por um único<br />
cientista. Portanto, durante seu desenvolvimento,<br />
a Antropologia se consolidou a partir<br />
de múltiplos enfoques, criando campos especializados<br />
do saber antropológico. Especialidades<br />
est<strong>as</strong> com um corpo teórico e técnic<strong>as</strong><br />
própri<strong>as</strong>.<br />
Nesses termos, podemos situar algum<strong>as</strong><br />
esfer<strong>as</strong> principais do conhecimento Antropológico:<br />
a. A antropologia biológica: campo de estudo<br />
outrora chamado de antropologia<br />
física, atualmente dedica-se ao estudo<br />
d<strong>as</strong> relações entre o patrimônio genético<br />
e o meio (geográfico, ecológico, social).<br />
Tomando técnic<strong>as</strong> e métodos comuns ao<br />
ramo da Biologia, os especialist<strong>as</strong> desse<br />
campo de estudo buscam analisar <strong>as</strong> particularidades<br />
morfológic<strong>as</strong> e fisiológic<strong>as</strong><br />
ligad<strong>as</strong> a um meio ambiente, bem como a<br />
evolução dess<strong>as</strong> particularidades. Interessando-se<br />
pela genética d<strong>as</strong> populações,<br />
procura-se discernir o que diz respeito ao<br />
inato e ao adquirido para compreender <strong>as</strong><br />
diferenciações de populações e não mais<br />
de raç<strong>as</strong> (LAPLANTINE, 2000, p. 17).<br />
b. A arqueologia: estudo d<strong>as</strong> sociedades<br />
desaparecid<strong>as</strong>, através dos vestígios que<br />
deixavam. Com métodos e técnic<strong>as</strong> especific<strong>as</strong><br />
os arqueólogos analisam restos ou<br />
vestígios deixados por grupos ou sociedades<br />
já desaparecid<strong>as</strong> com a intenção<br />
de reconstruir su<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> e produções<br />
materiais, a su<strong>as</strong> organizações sociais e<br />
su<strong>as</strong> produções culturais.<br />
c. A antropologia Linguística: estudo d<strong>as</strong><br />
língu<strong>as</strong> (a linguagem) como expressão de<br />
valores, preocupações, idei<strong>as</strong>, pensamentos,<br />
enfim como produção cultural e ao<br />
mesmo tempo como produto da cultura.<br />
d. A antropologia Social, Cultural ou Etnologia:<br />
essa é a esfera do conhecimento<br />
antropológico que nos interessa mais de<br />
perto, pois é dela que estávamos nos referindo<br />
ao tempo todo quando falávamos,<br />
nesse texto, em Antropologia. E é dela que<br />
continuaremos falando. Essa esfera da Antropologia<br />
tenciona tomar como foco de<br />
estudo o Homem como membro de uma<br />
sociedade e de um sistema de valores. Portanto,<br />
o antropólogo focaliza a perspectiva<br />
da sociedade humana “enquanto um conjunto<br />
de ações ordenad<strong>as</strong> de acordo com<br />
um plano e regr<strong>as</strong> que ela própria inventou<br />
e que é capaz de reproduzir e projetar<br />
em tudo aquilo que fabrica” (DA MATTA,<br />
1987, p, 32).
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
Além dess<strong>as</strong> esfer<strong>as</strong> mais ampl<strong>as</strong> do conhecimento<br />
antropológico, verifica-se, ainda,<br />
variad<strong>as</strong> especialidades dentro da Antropologia<br />
Social que se pratica no Br<strong>as</strong>il. Assim, de<br />
acordo com os processos sociais concretos<br />
que cada especialista em antropologia incorpora<br />
como foco de investigação, é possível<br />
falar em: Etnologia Indígena, Antropologia<br />
Rural, Antropologia Urbana, Antropologia d<strong>as</strong><br />
Populações Afro-br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>, Antropologia da<br />
Educação. Entre esses campos, incluem-se ainda<br />
tem<strong>as</strong> mais específicos como: antropologia<br />
do campesinato; antropologia da religião,<br />
antropologia política, antropóloga do corpo,<br />
antropologia da saúde, antropologia do gênero,<br />
antropologia da dor, entre outr<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> de<br />
pesquisa.<br />
A constatação da existência de múltipl<strong>as</strong><br />
cultur<strong>as</strong>, em princípio, autoriza-nos a pensar<br />
que a herança genética do homem não determina<br />
o seu comportamento. A constante evolução<br />
d<strong>as</strong> diferentes expressões culturais nos<br />
fala do “inacabamento ou inconclusão do homem”,<br />
da urgência permanente de lutar pela<br />
vida e da necessidade de escolher entre <strong>as</strong><br />
vári<strong>as</strong> possibilidades que ela nos oferece em<br />
cada momento. A esse processo de eleição,<br />
<strong>as</strong>similação e transformação dos valores recebidos<br />
da geração anterior e a criação de outros<br />
novos damos o nome de Educação.<br />
Na próxima unidade, iremos estudar esta<br />
relação da Antropologia com a Educação.<br />
Para saber mais <strong>as</strong>sista ao filme "Eu, um<br />
negro & Os mestres loucos".<br />
Cine<strong>as</strong>ta e etnólogo, Jean Rouch fizeram<br />
qu<strong>as</strong>e todos os seus 120 filmes na África,<br />
aonde chegou aos 24 anos como engenheiro<br />
de estrad<strong>as</strong>. Rouch põe em xeque <strong>as</strong> noções<br />
de ficção e realidade. Sobre Eu, um Negro,<br />
rodado na Costa do Marfim, ele diria: Sabia<br />
que iríamos mais fundo na verdade se, em<br />
vez de termos atores, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> interpret<strong>as</strong>sem<br />
a própria vida. O filme segue um grupo<br />
de amigos que vivem de biscates. Aceitando<br />
a proposta de Rouch, cada um imaginou ser<br />
um personagem, inventou uma história, encenou-a<br />
pela cidade e depois, <strong>as</strong>sistindo às cen<strong>as</strong><br />
captad<strong>as</strong> (sem som), recriou <strong>as</strong> fal<strong>as</strong> que havia<br />
improvisado. O tempo não desfez em nada a<br />
força desse filme. Tampouco amenizou o impacto<br />
de Os Mestres Loucos, rodado em Gana.<br />
Num cruzamento desconcertante de religião,<br />
história e individualidade psíquica, o filme<br />
mostra uma seita cujos membros, em transe,<br />
personificam figur<strong>as</strong> do colonialismo inglês.<br />
No auge do ritual de possessão um animal é<br />
sacrificado e comido pelos “mestres loucos”<br />
Realização - Jean Roch Argumento - Jean<br />
Roch / imaginado pelos interpretes - Produtor<br />
- Les Filmes de la Plêiade Fotografia - Jean<br />
Roch - Tradutor - 1001 Letr<strong>as</strong>, Cristina Diamantino<br />
- Filme: O Povo Br<strong>as</strong>ileiro<br />
O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997)<br />
foi um dos maiores intelectuais br<strong>as</strong>ileiros do<br />
século XX. Esse DVD duplo traz a premiada série<br />
b<strong>as</strong>eada na obra-prima de Darcy: O Povo<br />
◄<br />
Figura 1: filme os<br />
mestre loucos e eu,<br />
um negro (19555,<br />
1958 – 100m)<br />
Fonte: http://portaldocurta.com/2013/01/23/<br />
cine<strong>as</strong>ta-jean-rouch/<br />
Acessado em 23 abr.<br />
2013.<br />
◄ Figura 2: Filme: o<br />
povo Br<strong>as</strong>ileiro:<br />
Fonte: http://racismoambiental.net.<br />
br/2012/10/darcy-<br />
-ribeiro-documentario-<br />
-o-povo-br<strong>as</strong>ileiro-capitulo-0410/<br />
Acessado em<br />
23 abr. 2013.<br />
15
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
UNIDADE 2<br />
A Antropologia e educação<br />
2.1 Introdução<br />
Nesta unidade, o acadêmico será provocado<br />
a pensar sobre o que é educação e educação<br />
na perspectiva antropológica: ninguém<br />
escapa da educação. Em c<strong>as</strong>a, na rua, na igreja<br />
ou na escola, de um modo ou de muitos outros,<br />
todos nós envolvemos pedaços de noss<strong>as</strong><br />
vid<strong>as</strong> com ela. Veremos que a educação existe<br />
de form<strong>as</strong> diferentes em mundos diversos<br />
(sociedades tribais, agricultores, educação em<br />
países desenvolvidos, mundos sociais sem<br />
cl<strong>as</strong>ses...). Na espécie humana, a educação<br />
não continua apen<strong>as</strong> o trabalho da vida, veremos,<br />
ainda, que ela se instala dentro de um<br />
domínio propriamente humano de troc<strong>as</strong> de<br />
símbolos, de intenções, de padrão de cultura<br />
e relações de poder. A educação do homem,<br />
conforme a visão antropológica, existe por<br />
toda parte e, muito mais do que a escola, é o<br />
resultado de todo o meio sociocultural sobre<br />
os seus participantes.<br />
2.2 Conceituando educação<br />
O nosso mestre e antropólogo Carlos Rodrigues<br />
Brandão, provoca-nos a pensar sobre<br />
o que é educação exatamente, na perspectiva<br />
antropológica. Em seu livro intitulado “O que é<br />
Educação”, ele diz o seguinte: “Ninguém escapa<br />
da educação. Em c<strong>as</strong>a, na rua, na igreja ou<br />
na escola, de um modo ou de muitos, todos<br />
nós envolvemos pedaços da vida com ela.”<br />
(BRANDÃO, 1995).<br />
Sobre a educação que nos invade a vida,<br />
pensemos sobre ela a partir de um fato ocorrido<br />
nos Estados Unidos: Há muitos anos, nos<br />
Estados Unidos, Virgínia e Maryland <strong>as</strong>sinaram<br />
um tratado de paz com os Índios d<strong>as</strong> seis nações.<br />
Ora, como <strong>as</strong> promess<strong>as</strong> e os símbolos<br />
da educação sempre foram muito adequados<br />
a momentos solenes como aquele, logo depois<br />
os seus governantes mandaram cart<strong>as</strong><br />
aos índios para que envi<strong>as</strong>sem alguns de seus<br />
jovens às escol<strong>as</strong> dos brancos. Os chefes responderam<br />
agradecendo e recusando. A carta<br />
acabou conhecida porque alguns anos mais<br />
tarde Benjamin Franklin adotou o costume de<br />
divulgá-la aqui e ali. (BRANDÃO, 1995)<br />
Os índios sabiam que a educação do colonizador,<br />
que contém o saber de seu modo de<br />
vida e ajuda a confirmar a aparente legalidade<br />
de seus atos de domínio, na verdade não serve<br />
para ser a educação do colonizado.<br />
Segundo o que Brandão (1995) nos faz refletir,<br />
não há uma forma única nem um único<br />
modelo de educação; a escola não é o único<br />
lugar em que ela acontece (talvez não seja o<br />
melhor lugar).<br />
A educação existe de form<strong>as</strong> diferentes<br />
em mundos diversos: sociedades tribais, agricultores,<br />
educação em países desenvolvidos,<br />
mundos sociais sem cl<strong>as</strong>ses.<br />
O educador, pensando às vezes que age<br />
por si próprio, livre e em nome de todos, na<br />
verdade, pode estar servindo a quem o constituiu<br />
professor, a fim de usá-lo e ao seu trabalho,<br />
para os usos escusos que ocultam também<br />
na educação.<br />
A educação é um dos meios de que os<br />
homens lançam mão para criar guerreiros, burocrat<strong>as</strong><br />
e operários.<br />
Na espécie humana, a educação não continua<br />
apen<strong>as</strong> o trabalho da vida. Ela se instala<br />
dentro de um domínio propriamente humano<br />
de troc<strong>as</strong>: de símbolos de intenções, de padrão<br />
de cultura e de relações de poder.<br />
Entre os índios, a educação existe de tant<strong>as</strong><br />
form<strong>as</strong> e é praticada em situações tão diferentes,<br />
que algum<strong>as</strong> vezes parece ser invisível,<br />
a não ser nos lugares onde pendura uma placa<br />
com seu nome.<br />
Na aldeia africana, o “velho” ensina <strong>as</strong><br />
crianç<strong>as</strong> o saber da tribo. Quando um povo<br />
alcança um estágio complexo de organização<br />
PARA SABER MAIS<br />
Acesse o site: http://<br />
www.significados.com.<br />
br/educacao/<br />
O que significa educação.<br />
Faça uma relação<br />
entre educação e a<br />
convivência social. Qual<br />
a importância da escola<br />
para a socialização d<strong>as</strong><br />
pesso<strong>as</strong> e da vida em<br />
sociedade?<br />
17
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
UNIDADE 3<br />
Sociedade, cultura e educação<br />
3.1 Introdução<br />
Nesta Unidade, veremos que a gênese da Antropologia aplicada à Educação se encontra<br />
no âmbito da Antropologia cultural norte-americana, concretamente na Escola de Cultura e<br />
personalidade, liderada por Franz Bo<strong>as</strong>. Aprenderemos que toda prática educativa, de maneira<br />
consciente ou inconsciente, firma-se sobre um conceito de ser humano e sociedade. Veremos,<br />
também, que <strong>as</strong> instituições podem auxiliar <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a valorizarem a sua cultura, seu corpo,<br />
seu jeito de ser ou, pelo contrário, favorecer e incitar a discriminação quando silenciam diante da<br />
diversidade cultural e da necessidade de realizar abordagens de forma positiva. Os novos complexos<br />
culturais representados pela combinação entre cultura popular e <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong> de<br />
comunicação estão produzindo uma transformação radical nos processos de produção de subjetividade<br />
e de identidades sociais.<br />
3.2 Cultura e sociedade<br />
Pensamos, muit<strong>as</strong> vezes, que o resto do mundo é ou deveria ser como nós, que nossos deuses<br />
são os únicos e verdadeiros, que nossos costumes são os mais razoáveis, que noss<strong>as</strong> instituições<br />
são <strong>as</strong> mais adequad<strong>as</strong>.<br />
Diversos povos de diferentes époc<strong>as</strong> e lugares tinham ou têm form<strong>as</strong> de vida<br />
distint<strong>as</strong> que, às vezes, temos dificuldades de imaginar. Por maiores que sejam<br />
<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> sempre há regr<strong>as</strong> que estruturam e organizam a vida social com a<br />
distribuição de papéis e de atividades. (Ex. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> procuram dar um<br />
sentido especial à Educação de seus membros). (EVANS-PRICHARD, 1978:23).<br />
Todos devem aprender a ler e escrever e escrever do mesmo jeito que aprendemos?<br />
A diversidade sempre foi explicada como desigualdade de estágios existentes no processo<br />
de evolução. Essa explicação foi gerada na corrente da cultura europeia – Eurocentrismo –<br />
modelo de humanidade concebido como universal apen<strong>as</strong> o homem branco europeu. Visão de<br />
mundo eurocêntrica.<br />
O Etnocentrismo é a perspectiva em que se coloca determinada etnia no centro. Cada povo<br />
acha que é o principal, que sua língua e seus costumes são os normais. O etnocentrismo é comum<br />
a tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> e é um grande dificultador na compreensão de outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>.<br />
É somente pela compreensão d<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> sociedades que<br />
se pode chegar a ver a sua própria numa perspectiva justa-, compreendendo-a,<br />
então, em relação à totalidade d<strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> human<strong>as</strong> (EVANS-PRI-<br />
CHARD, 1978).<br />
O Eu é feito de outros – o indivíduo depende<br />
d<strong>as</strong> relações que estabelece com os outros.<br />
Nossos ritos e símbolos expressam noss<strong>as</strong><br />
diferenç<strong>as</strong>. Eles são uma forma de nos reconhecermos<br />
e de nos diferenciarmos daqueles que<br />
compartilham de nossos valores e costumes.<br />
A diferenciação já é uma forma de identificação.<br />
Nossa profissão, nossa posição política<br />
e nosso padrão estético são expressões de que<br />
nos valemos para nos identificar com o grupo<br />
de pesso<strong>as</strong> e de valores e nos diferenciar<br />
de outros. As diferenciações entre etni<strong>as</strong> não<br />
apen<strong>as</strong> tem sentido de rotular ou estigmatizar,<br />
tem servido também para a revalorização de<br />
<strong>as</strong>pectos culturais que vinham sendo menosprezados<br />
pela cultura oficial.<br />
23
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
Figura 5: Diversidade<br />
Cultural<br />
Fonte: http://br.photaki.<br />
com/picture-business-<br />
-equipa-feliz-deitado-<br />
-no-chao-em-um-<br />
-circulo_246047.htm<br />
Acessado em 23 abr.<br />
2013.<br />
O pluralismo cultural, ou multiculturalismo,<br />
é considerado como afirmação da diferença<br />
cultural e como recusa positiva à hierarquização<br />
etnocêntrica d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>. Já o<br />
►<br />
interculturalismo coloca a tônica n<strong>as</strong> troc<strong>as</strong><br />
entre <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>, nos cruzamentos, n<strong>as</strong> conexões,<br />
articulações, comunicações, diálogos,<br />
em que cada uma pode beneficiar-se da outra.<br />
DiCA<br />
“O aumento do tempo<br />
de permanência na escola<br />
pode causar uma<br />
despolitização e debilitamento<br />
da educação<br />
como esfera pública,<br />
talvez por se entender<br />
a educação como resposta<br />
a necessidades<br />
sociais específic<strong>as</strong> e<br />
não como um caminho<br />
de acesso a uma<br />
realidade humanizada”.<br />
(SILVA, 2007, p. 22)<br />
Quanto ao nível social, a interculturalidade<br />
orienta processos que têm por b<strong>as</strong>e o reconhecimento<br />
do direito à diversidade e a luta<br />
contra tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> form<strong>as</strong> de discriminação e desigualdade<br />
social.<br />
O termo multiculturalismo está umbilicalmente<br />
ligado ao currículo e à cultura. O currículo<br />
para ser entendido que, na ótica antropológica<br />
e cultural, ele tem que ser ampliado,<br />
tem que ser entendido como cultura. Como<br />
prática social que produz significados, contribui<br />
para a construção de identidades, constrói<br />
polític<strong>as</strong> de identidades. E uma pergunta sempre<br />
tem que ser feita. Como respondemos, no<br />
campo do currículo, ao caráter multicultural<br />
de noss<strong>as</strong> sociedades?<br />
A atitude em relação ao multiculturalismo<br />
deve ser desenvolvida com atenção sempre<br />
voltada para a pluralidade cultural da nossa<br />
sociedade br<strong>as</strong>ileira. Isto levando em consideração<br />
o legado português, o do indígena e do<br />
negro.<br />
Nos muitos espaços de formação humana,<br />
teremos que construir um corpo teórico<br />
de conhecimentos que reflita sobre o multiculturalismo:<br />
su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> sociais e seus<br />
problem<strong>as</strong> de governabilidade apresentados<br />
3.3 Cultura e educação<br />
por grupos sociais diferentes em comunidades<br />
culturais heterogêne<strong>as</strong>.<br />
O multiculturalismo na educação merece<br />
um olhar antropológico e um viés crítico, pois<br />
a sensibilidade para a pluralidade nos espaços<br />
de formação humana tem que acontecer com<br />
a redução de preconceitos e discriminações.<br />
Imperativo transcultural: <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> têm<br />
direito a serem iguais sempre que a diferença<br />
<strong>as</strong> tornar inferiores; contudo, têm também<br />
direito a serem diferentes sempre que a<br />
igualdade colocar em risco su<strong>as</strong> identidades.<br />
A política da diferença está sedimentada nos<br />
anseios de grupos subalternos que expressam<br />
ética superior à dos grupos dominantes.<br />
O ideal da sociedade br<strong>as</strong>ileira em relação<br />
ao multiculturalismo é a ancoragem social<br />
do conhecimento. É um desenvolvimento<br />
cultural com a compreensão d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>,<br />
consciência da discriminação e capacidade<br />
de interagir com diferentes cultur<strong>as</strong>.<br />
Ao profissional de educação cabe o desenvolvimento<br />
de form<strong>as</strong> de conhecer na<br />
ciência: validação externa, memorização, conhecimento<br />
intuitivo, observação e visualização<br />
de experimentos, construção d<strong>as</strong> própri<strong>as</strong><br />
idei<strong>as</strong>.<br />
24<br />
À realidade que n<strong>as</strong>ce do afazer humano<br />
denominamos cultura. Ao processo por meio<br />
do qual alguém vai se introduzindo num determinado<br />
âmbito cultural preexistente damos<br />
o nome de educação. A escola é uma instituição<br />
educativa, não a única, que media entre a<br />
família e a sociedade, e que ao distribuir cultura<br />
e gerar conhecimento, junto com outr<strong>as</strong> entidades,<br />
vai construindo o sujeito social.<br />
Historicamente, cada grupo humano tem<br />
construído o seu código específico de comunicação<br />
e acordo com sua experiência vital. Ess<strong>as</strong><br />
experiênci<strong>as</strong> modelaram-se em diferentes expressões<br />
culturais d<strong>as</strong> quais muit<strong>as</strong> já desapareceram,<br />
e outr<strong>as</strong>, particularmente na Amazônia,<br />
estão em vi<strong>as</strong> de se perderem para sempre.<br />
A cultura não se transmite geneticamente.<br />
O modo de ler o mundo, o sistema de
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
norm<strong>as</strong> e valores de cada comunidade, para<br />
serem transmitidos de uma geração a outra,<br />
requererem um esforço pessoal e coletivo.<br />
Na coletividade de estrutura social simples,<br />
a tarefa de transmitir esse modo peculiar<br />
de entender a realidade e <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> de<br />
convivência era encomendada a família; n<strong>as</strong><br />
sociedades complex<strong>as</strong>, essa função p<strong>as</strong>sou a<br />
ser compartilhada com os sistem<strong>as</strong> educativos<br />
criados pelo Estado, a fim de rep<strong>as</strong>sar de maneira<br />
equitativa e eficaz aqueles conhecimentos<br />
que se consideram significativos para o<br />
desenvolvimento e bem-estar social. A simples<br />
constatação da existência de múltipl<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>,<br />
em princípio, autoriza-nos a pensar que a<br />
herança genética do homem, sem tentar minimizar<br />
o seu peso em relação à Educação, não<br />
determina seu comportamento.<br />
O período longo compreendido entre<br />
o n<strong>as</strong>cimento e a inserção plena na sociedade<br />
como pessoa adulta permite ao educando<br />
acumular experiênci<strong>as</strong> suficientes para superar,<br />
com vantagem, <strong>as</strong> carênci<strong>as</strong> instintiv<strong>as</strong>. A<br />
sociedade, ao possibilitar que muit<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong><br />
pensem e produzam cois<strong>as</strong> que logo compartilham,<br />
permite acumular conhecimentos e<br />
aprender mais.<br />
Num livro intitulado Escola e Cultura, o<br />
sociólogo francês Jean-Claude Forquin identifica<br />
e discute cinco acepções diferentes do<br />
termo cultura: 1) tradicional; 2) descritiva; 3)<br />
identitária; 4) universalista-unitária; 5) filosófica.<br />
Vamos ver, com calma, cada uma del<strong>as</strong>.<br />
1. Tradicional<br />
Numa primeira acepção, a tradicional, a<br />
cultura é considerada como o “conjunto d<strong>as</strong><br />
disposições e d<strong>as</strong> qualidades do espírito ‘cultivado’.”<br />
(FORQUIN, 1993, p. 11). Isso diz respeito<br />
à posse de um amplo conjunto de conhecimentos<br />
e de competênci<strong>as</strong> divers<strong>as</strong>. Vale dizer,<br />
essa é uma acepção individualista e elitista da<br />
cultura, referindo-se ao indivíduo ilustrado,<br />
erudito, portador de um saber enciclopédico,<br />
formado na tradição da melhor educação humanística<br />
e filosófico-científica. É muito comum<br />
dizer que um indivíduo é “culto”, isto é,<br />
um sujeito que “cultivou o espírito” e acumulou<br />
um v<strong>as</strong>to conjunto de conhecimentos. O<br />
contrário do indivíduo culto é o sujeito rude,<br />
isto é, rudimentar, primitivo, capenga. Cultivar<br />
o espírito significa superar este estado de rudeza<br />
e tornar-se um erudito.<br />
2. Descritiva<br />
Numa segunda acepção, voltemos a Forquin,<br />
exatamente no pólo oposto à primeira,<br />
está a acepção descritiva desenvolvida pel<strong>as</strong><br />
ciênci<strong>as</strong> sociais contemporâne<strong>as</strong> (Sociologia e<br />
Antropologia). Nesse c<strong>as</strong>o,<br />
Dica<br />
Segundo a filósofa<br />
br<strong>as</strong>ileira Marilena<br />
Chauí, o termo cultura<br />
deriva do latim colere<br />
e se referia originalmente<br />
ao cuidado com<br />
a terra, <strong>as</strong> plant<strong>as</strong> e os<br />
animais (agricultura);<br />
por extensão, referia-se<br />
também ao cuidado<br />
com <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> e a sua<br />
socialização (puericultura);<br />
era, ainda, expressão<br />
da adoração aos<br />
deuses (culto), termo<br />
que p<strong>as</strong>sou a designar<br />
o indivíduo de espírito<br />
cultivado. A partir do<br />
final do século XVIII,<br />
o cultivo do espírito<br />
transformou-se no ideal<br />
de cultura da Ilustração.<br />
Daí que cabia à chamada<br />
escola tradicional<br />
ilustrar os indivíduos,<br />
mesmo que fosse com<br />
a contribuição da palmatória.<br />
(CHAUÍ, 1994,<br />
p. 11)<br />
[...] a cultura é considerada como o conjunto dos traços característicos do<br />
modo de vida de uma sociedade, de uma comunidade ou de um grupo, aí<br />
compreendidos os <strong>as</strong>pectos que se podem considerar como os mais cotidianos,<br />
os mais triviais ou os mais ‘inconfessáveis’. (FORQUIN, 1993, p. 11).<br />
Pense, aí, que traços do modo de vida do<br />
povo da sua comunidade são “inconfessáveis”?<br />
Sob essa perspectiva, constituem a cultura<br />
tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> manifestações de um povo, desde<br />
os <strong>as</strong>pectos mais sofisticados aos mais banais,<br />
os mais requintados pensamentos e os mais<br />
folclóricos, os mais elevados ideais e <strong>as</strong> mais<br />
elementares idei<strong>as</strong> do senso comum. Nesse<br />
sentido, não há povo nem indivíduo sem cultura.<br />
Há cultur<strong>as</strong> diferentes, níveis diferenciados<br />
de cultura, da erudita à popular. Ess<strong>as</strong><br />
cultur<strong>as</strong> são constituíd<strong>as</strong> a partir de relações<br />
recíproc<strong>as</strong>, tanto entre pesso<strong>as</strong> de uma mesma<br />
comunidade quanto entre comunidades<br />
human<strong>as</strong> diferentes.<br />
Poderíamos ir além. Vamos tomar um <strong>as</strong>pecto<br />
da cultura mineira, a culinária, por exemplo.<br />
Você sabia que a comida mineira tem fama<br />
nacional? Pois é, “Feijão, Angu e Couve” é o<br />
nome de um livro que o escritor Eduardo Frieiro<br />
(1966) escreveu para falar da comida mineira.<br />
E que comida! Tutu de feijão com torresmo,<br />
angu com quiabo e frango caipira, pequi com<br />
arroz e carne de sol, lombo de porco... Paremos<br />
por aqui. Todos nós sabemos, que para o nosso<br />
gosto, tudo isso é uma delícia.<br />
Porém, veja como a culinária pode trazer<br />
riscos à diplomacia! Você já pensou no problema<br />
que causaria se oferecesse a um judeu<br />
o nosso delicioso lombo de porco? E a um indiano<br />
um suculento bife de boi? Agora, pensemos<br />
ao contrário. Imagine-se em viagem pela<br />
China, tomando, como aperitivo, o sangue<br />
daquela cobra (serpente) que você acabou de<br />
escolher para o almoço. Ou comendo cérebro<br />
de macaco na própria cumbuca do crânio.<br />
Que tal, em algum país do interior da África,<br />
comendo frit<strong>as</strong> de lagarta ao invés dos nossos<br />
crocantes torresmos? Procure você mesmo(a)<br />
mais alguns exemplos dess<strong>as</strong> “esquisitices” e<br />
verá que tudo não p<strong>as</strong>sa de uma questão de<br />
gosto definido pela cultura. Vamos em frente.<br />
3. Iidentitária<br />
Entre o sentido restritivo da primeira e o<br />
global e relativista da segunda, diz Forquin<br />
(1993), há outr<strong>as</strong> três acepções. Uma del<strong>as</strong> é a<br />
identitária, que entende a cultura como “um<br />
ATIVIDADE<br />
Leia o texto Cultura e<br />
Democracia de Marilena<br />
Chauí em: http://<br />
biblioteca.clacso.edu.<br />
ar/ar/libros/secret/CyE/<br />
cye3S2a.pdf, escreva<br />
uma síntese e discuta<br />
com os coleg<strong>as</strong> sobre<br />
<strong>as</strong> questões abordad<strong>as</strong><br />
pela autora no fórum<br />
discussão.<br />
25
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
patrimônio de conhecimentos e competênci<strong>as</strong>,<br />
de instituições, de valores e de símbolos,<br />
constituído ao longo de gerações e característico<br />
de uma comunidade humana particular”<br />
(FORQUIN, 1993, p. 12). Qual é o “patrimônio<br />
de conhecimentos e competênci<strong>as</strong>” da sua comunidade<br />
e como esse patrimônio é p<strong>as</strong>sado<br />
de geração a geração? Quem são os responsáveis<br />
pela reprodução desse patrimônio, isto<br />
é, quem são os mediadores que permitem às<br />
nov<strong>as</strong> gerações o conhecimento desse patrimônio?<br />
Por isso é que se fala em identidade cultural.<br />
Há um “patrimônio de conhecimentos<br />
e competênci<strong>as</strong>” que distinguem <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong><br />
do campo daquel<strong>as</strong> que vivem n<strong>as</strong> cidades,<br />
os br<strong>as</strong>ileiros dos norte-americanos, os ocidentais<br />
dos orientais etc. Porém, não se iluda<br />
com a ideia, muito difundida entre nós, de que<br />
há um traço distintivo no povo br<strong>as</strong>ileiro, que<br />
é a cordialidade, a generosidade etc. Não há<br />
nada que <strong>as</strong>segure a um povo um estado de<br />
natureza que se incline para a bondade e o<br />
espírito conciliador ou para a maldade e a violência<br />
bruta. A identidade cultural de um povo<br />
depende da sua própria história. Existe uma<br />
identidade cultural do povo br<strong>as</strong>ileiro? E dos<br />
mineiros?<br />
4. Universalista-unitária<br />
Para Forquin, a acepção universalista-unitária<br />
se refere<br />
[...] à ideia de que o essencial daquilo que a educação transmite (ou do que<br />
deveria transmitir) sempre, e por toda a parte, transcende necessariamente <strong>as</strong><br />
fronteir<strong>as</strong> entre os grupos humanos e os particularismos mentais e advém de<br />
uma memória comum e de um destino comum a toda a humanidade. (FOR-<br />
QUIN, 1993, p. 12).<br />
Pense bem. Nós vivemos no Br<strong>as</strong>il, em<br />
Min<strong>as</strong> Gerais. Temos aquilo que nos distingue,<br />
como br<strong>as</strong>ileiros e mineiros, é claro. M<strong>as</strong><br />
a nossa “memória comum”, que transcende<br />
<strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong> do estado e do país, nos remete<br />
à Civilização Judaico-Cristã e não ao Budismo<br />
ou ao Hinduísmo, por exemplo. Do Cristianismo<br />
emergiu o Islamismo, o Catolicismo Ortodoxo<br />
e o Protestantismo. E destes emergiram<br />
<strong>as</strong> centen<strong>as</strong> de igrej<strong>as</strong> e seit<strong>as</strong> protestantes<br />
dos nossos di<strong>as</strong>. O que há de universal na cultura<br />
do seu meio? E o que há de particular,<br />
unitário, que talvez só seja encontrado aí?<br />
O trabalho educativo, em qualquer lugar<br />
onde ele se realiza e sob quaisquer condições,<br />
diz respeito a uma seleção feita pelos<br />
educadores (pais, pregadores, professores)<br />
daqueles bens culturais que eles julgam necessário<br />
e/ou interessante rep<strong>as</strong>sar às nov<strong>as</strong><br />
gerações. Claro que isso não se dá de forma<br />
espontânea. Há todo um sistema político e<br />
ideológico que cria regulamentações e estabelece<br />
critérios que restringem a liberdade<br />
desses educadores. De qualquer forma, eles<br />
são mediadores. Na escola, aquilo que é selecionado<br />
como relevante e necessário aos<br />
estudantes deriva de recortes de conteúdos<br />
diversos feitos por profissionais do ensino e<br />
distribuídos n<strong>as</strong> disciplin<strong>as</strong> que compõem o<br />
currículo. Em algum momento do curso, você<br />
terá a oportunidade de verificar essa questão<br />
em maiores detalhes, quando for tratar da<br />
Gestão da Escola e d<strong>as</strong> Diretrizes Curriculares.<br />
5. Filosófica<br />
Há, ainda, a acepção filosófica, que afirma<br />
ser a cultura, “antes de tudo, um estado<br />
especificamente humano”, ou seja, “aquilo<br />
pelo qual o homem distancia-se da natureza<br />
e distingue-se especificamente da animalidade”.<br />
(FORQUIN, 1993, p. 12). Lembre-se. Os<br />
animais vivem em sociedade, m<strong>as</strong> somente<br />
os seres humanos recriam intencionalmente<br />
seu ambiente. Do ponto de vista puramente<br />
biológico, você sabe qual é a distância entre<br />
o homem e o chimpanzé?<br />
Os animais reagem a estímulos externos,<br />
são domesticados e realizam trabalho, inclusive<br />
de acordo com exigênci<strong>as</strong> human<strong>as</strong>. Porém,<br />
somente ao homem é permitido criar,<br />
isto é, ir além daquilo que é dado pela natureza<br />
e desenvolvido pelo adestramento. Isso<br />
constitui um campo complexo há muito discutido<br />
pela Antropologia e que genericamente<br />
pode ser identificado no tema “natureza e<br />
cultura”. Em um de seus livros mais famosos,<br />
Marx afirma que “uma aranha executa operações<br />
semelhantes às do tecelão, e a abelha<br />
supera mais de um arquiteto ao construir sua<br />
colmeia. M<strong>as</strong> o que distingue o pior arquiteto<br />
da melhor abelha é que ele figura na mente<br />
sua construção antes de transformá-la em<br />
realidade. (MARX, 1985, p. 202).<br />
26
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
3.4 Cultura e currículo<br />
O que é educação e, em particular, o currículo,<br />
senão uma forma institucionalizada de<br />
transmitir a cultura de uma sociedade? A educação<br />
e o currículo são vistos como profundamente<br />
envolvidos com o processo cultural.<br />
Questões relativ<strong>as</strong> de “como”, do currículo,<br />
continuam importantes. El<strong>as</strong> só adquirem<br />
sentidos dentro de uma perspectiva que <strong>as</strong><br />
considere em sua relação com questões que<br />
perguntem “por que”?, n<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de organização<br />
dos conhecimentos escolar.<br />
Nessa perspectiva, o currículo é visto<br />
como artefato social e cultural. Isso significa<br />
que ele é colocado na moldura mais ampla de<br />
su<strong>as</strong> determinações sociais, de sua história, de<br />
sua produção contextual.<br />
O currículo está implicado em relação de<br />
poder, transmite visões sociais particulares e<br />
interessad<strong>as</strong>, produz identidades individuais<br />
e sociais particulares. Não é um elemento<br />
transcendente e atemporal – ele tem uma história,<br />
vinculada às form<strong>as</strong> especific<strong>as</strong> e contingentes<br />
de organização da sociedade e da<br />
educação.<br />
O conhecimento corporificado como<br />
currículo educacional não pode deixar de ser<br />
problematizado. Não é mais possível alegar<br />
qualquer inocência a respeito do papel constituidor<br />
(de identidades sociais e individuais) do<br />
conhecimento organizado em forma curricular<br />
e transmitido n<strong>as</strong> instituições educacionais.<br />
O currículo existente, isto é, o conhecimento<br />
organizado para ser transmitido n<strong>as</strong><br />
instituições educacionais, p<strong>as</strong>sa a ser visto<br />
não apen<strong>as</strong> como implicado na produção de<br />
relações <strong>as</strong>simétric<strong>as</strong> de poder no interior da<br />
escola e da sociedade, m<strong>as</strong> também como histórica<br />
e socialmente contingente.<br />
Atividade<br />
Assista ao documentário<br />
N<strong>as</strong>cidos em<br />
Bordeis que apresenta<br />
um roteiro mostrtando<br />
como os personagens<br />
começaram a aprender<br />
a ver su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong><br />
de acordo com o que<br />
viam pela câmera, esta<br />
foi a sacada principal<br />
da ideia do projeto<br />
social. Fazer com que<br />
os aprendizes a fotógrafos<br />
conseguissem<br />
enxergar o que antes<br />
eles não percebiam.<br />
Qual a relação entre<br />
cultura e aprendizagem<br />
que vocês conseguem<br />
perceber no documentário?<br />
Apresente sua<br />
resposta no fórum de<br />
discussão.<br />
◄<br />
Figura 6: Filme:<br />
N<strong>as</strong>cidos em<br />
Bordéis<br />
Fonte: www.omelete.<br />
com.br. Acessado em<br />
21 set. 2012.<br />
Este ganhador do Oscar mostra a vida de<br />
crianç<strong>as</strong> do bairro da Luz Vermelha, em Calcutá.<br />
O aparente enriquecimento da Índia deixa<br />
de lados os menos favorecidos. Porém, ainda<br />
há esperanç<strong>as</strong>. Os documentarist<strong>as</strong> Zana Briski<br />
e Ross Kauffman procuram ess<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> e<br />
munido de câmer<strong>as</strong> fotográfic<strong>as</strong> pedem para<br />
el<strong>as</strong> fazerem retratos de tudo que lhes chamam<br />
a atenção. Os resultados são emocionantes.<br />
Enquanto <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> vão descobrindo<br />
essa nova forma de expressar, os cine<strong>as</strong>t<strong>as</strong><br />
lutam para poder dar mais esperança, para <strong>as</strong><br />
quais a pobreza é a maior ameaça à realização<br />
dos sonhos.<br />
Título Original: Born Into Brothels: Calcutta’s<br />
Red Light Kids - País de Origem: Índia<br />
/ EUA - Gênero: Documentário - Tempo de<br />
Duração: 85 minutos - Ano de Lançamento:<br />
2004 - Site Oficial: http://kids-with-camer<strong>as</strong>.org/borninobrothels/film.php<br />
- Estúdio/<br />
Distrib: Focus Filmes - Direção: Zana Briski /<br />
Ross Kauffman<br />
27
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
Referênci<strong>as</strong><br />
CANDAU, Vera. Multiculturalismo e educação: a construção de uma perspectiva. In: Sociedade,<br />
educação e cultur<strong>as</strong> (Questões e propost<strong>as</strong>). ______. (org.). Petrópolis, Editora Vozes, 2002.<br />
CHAUÍ, Marilena. Conformismo e resistência: <strong>as</strong>pectos da cultura popular no Br<strong>as</strong>il. 6 . ed. São<br />
Paulo: Br<strong>as</strong>iliense, 1994.<br />
DAUSTER, T. Navegando contra a corrente? Educador, o antropólogo e o relativismo. In: BRAN-<br />
DÃO, Z. (org.) A crise dos paradigm<strong>as</strong> e a Educação. São Paulo: Cortez, 1994.<br />
DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural. In: Múltiplos olhares sobre educação e<br />
cultura. (org.). Belo Horizonte. Editora UFMG, 1997.<br />
ERNY, P. Etnologia da Educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1982.<br />
EVANS-Pritchard, E. E. Antropologia Social. Lisboa: ed. 70, 1972.<br />
FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es sociais e epistemológic<strong>as</strong> do conhecimento<br />
escolar. Porto Alegre: Artes Médic<strong>as</strong>, 1993.<br />
FRIEIRO, Eduardo. Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros. Belo Horizonte:<br />
Centro de Estudos Mineiros, 1966.<br />
LARAIA. R. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.<br />
MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. Vol. I. São Paulo: Difel, 1985.<br />
SALGADO, Maria Umbelina Caiafa, MIRANDA, Glaura V<strong>as</strong>ques (Organizador<strong>as</strong>). Vered<strong>as</strong> – Formação<br />
de professores: Módulo 1 – Volume 2/ SEE-MG. Belo Horizonte: SEE-MG, 2002.<br />
SALVADOR, Angelo Domingos. Cultura e Educação Br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>. 4. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1976.<br />
28
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
UNIDADE 4<br />
Educação e diversidade<br />
4.1 Introdução<br />
Nesta unidade, adentraremos n<strong>as</strong> temátic<strong>as</strong> da educação e diversidade, o olhar da Antropologia<br />
sobre a educação e o trato pedagógico da questão racial e a proposta da educação antirracista,<br />
a educação indígena com uma pedagogia diferenciada. Aprenderemos a diferenciação e ao<br />
mesmo tempo a importância de uma educação do campo como proposta de mudança social. A<br />
educação e gênero como forma de revisar e mostrar a sociedade com viés patriarcal e machista,<br />
o lugar do feminino historicamente estereotipado e prátic<strong>as</strong> que reproduzem ou reforçam a desigualdade,<br />
e isto no âmbito escolar transportando para o social como um todo.<br />
Para saber mais<br />
Acesse o site: http://racismoambiental.net.br/<br />
Discuta no fórum apropriado:<br />
O que é racismo<br />
ambiental?<br />
4.2 Educação antirracista<br />
As diferenç<strong>as</strong> físic<strong>as</strong>, étnic<strong>as</strong>, culturais, de<br />
gênero, etári<strong>as</strong> são um fato, m<strong>as</strong> não é o foco<br />
da discussão. O ponto crucial do debate sobre<br />
diversidade é a percepção, a reflexão e a atuação<br />
sobre os mecanismos sociais que transformam<br />
<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> em desigualdade.<br />
O resgate dos direitos humanos e a valorização<br />
da diferença são form<strong>as</strong> de desconstruir<br />
a desigualdade. Esta é a b<strong>as</strong>e que fundamenta<br />
a prática da diversidade como valor. (CANDAU,<br />
1996, p.22)<br />
A Igualdade na diferença: valorizar a<br />
humanidade que provém de todo e qualquer<br />
indivíduo, b<strong>as</strong>e da ideia de direitos humanos.<br />
Mesmo em c<strong>as</strong>os graves de deficiência, a pessoa<br />
deve ter garantido seu direto de livre escolha<br />
e convívio social.<br />
A Diferença na igualdade: <strong>as</strong> peculiaridades<br />
d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> devem ser reconhecid<strong>as</strong>,<br />
na medida em que impliquem em adaptações<br />
para que sua participação social seja efetivada.<br />
Essa ideia está na b<strong>as</strong>e do surgimento do conceito<br />
de diversidade. (LOURO, 1997, p. 45)<br />
Nos <strong>as</strong>pectos legais, temos como suporte<br />
básico a Constituição Br<strong>as</strong>ileira de 1988<br />
que, no artigo 3º, dos princípios fundamentais<br />
declara:<br />
Dos Princípios Fundamentais<br />
Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais<br />
da República Federativa do Br<strong>as</strong>il:<br />
I. construir uma sociedade livre, justa e solidária;<br />
II. garantir o desenvolvimento nacional;<br />
III. erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir<br />
<strong>as</strong> desigualdades sociais e regionais;<br />
IV. promover o bem de todos, sem preconceitos<br />
de origem, raça, sexo, cor, idade e<br />
quaisquer outr<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de discriminação.<br />
(ROSENDO, 1998, p.13)<br />
Na LDB 9.493/96, podemos ler:<br />
Art. 26-A. “Nos estabelecimentos de ensino<br />
fundamental e médio, oficiais e particulares,<br />
torna-se obrigatório o ensino sobre História<br />
e Cultura Afro-Br<strong>as</strong>ileira.”<br />
Art. 79-B. “O calendário escolar incluirá<br />
o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da<br />
Consciência Negra”.<br />
As Diretrizes Curriculares Nacionais para<br />
a Educação d<strong>as</strong> Relações Étnico-Raciais e para<br />
o Ensino de História e Cultura Afro-Br<strong>as</strong>ileira<br />
e Africana visam <strong>as</strong>segurar o direito à igualdade<br />
de condições de vida e de cidadania,<br />
<strong>as</strong>sim como garantir igual direito às históri<strong>as</strong><br />
e cultur<strong>as</strong> que compõem a nação br<strong>as</strong>ileira,<br />
além de acesso às diferentes fontes da cultura<br />
nacional a todos os br<strong>as</strong>ileiros. Contudo,<br />
convivemos com uma tensão legal para<br />
a revisão dos currículos; para a qualificação<br />
dos professores e o seu constante aperfeiçoamento<br />
pedagógico; o comprometimento do<br />
poder executivo na implementação da lei. A<br />
elaboração, execução, avaliação do programa<br />
de interesse educacional, de planos institucionais,<br />
pedagógicos e de ensino, no que diz<br />
respeito às relações étnic<strong>as</strong>, a educação antir-<br />
Dica<br />
Outro documento<br />
importantíssimo é a declaração<br />
de Durban que<br />
é um acordo internacional<br />
que trata da diversidade<br />
étnico-racial,<br />
<strong>as</strong>sinado durante a III<br />
Conferência Mundial de<br />
Combate ao Racismo,<br />
Discriminação Racial,<br />
Xenofobia e Intolerância<br />
Correlata, realizada<br />
pela ONU em 2001.<br />
ATIVIDADE<br />
Faça uma análise comparativa<br />
dos artigos da<br />
Lei de Diretrizes e B<strong>as</strong>es<br />
da Educação Nacional:<br />
Lei nº 9.394, de 20 de<br />
dezembro de 1996,<br />
Com a realidade da<br />
escola mais próxima de<br />
você, em relação ao racismo<br />
e etnocentrismo.<br />
Apresente sua síntese<br />
no fórum de discussão.<br />
29
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
▲<br />
Figura 7: Racismo a<br />
Br<strong>as</strong>ileira<br />
Fonte: www.midiaindependente.com.br.<br />
Acessado<br />
em 30 mar. 2012.<br />
racista e antidiscriminatória<br />
e a diversidade da<br />
nação br<strong>as</strong>ileira. (LOU-<br />
RO, 1997).<br />
Capa da Vogue traz<br />
top model br<strong>as</strong>ileira e<br />
jogador norte-americano<br />
de b<strong>as</strong>quete fazendo<br />
poses. Críticos sugerem<br />
que a peça apen<strong>as</strong> reafirma<br />
velhos estereótipos<br />
raciais: As principais<br />
conseqüênci<strong>as</strong> de uma<br />
educação racista e discriminatória:<br />
Para <strong>as</strong> Crianç<strong>as</strong>:<br />
a não percepção do diálogo como possibilidade<br />
positiva de contraposição de idei<strong>as</strong>; o<br />
comprometimento do senso crítico e ético; <strong>as</strong><br />
atitudes de competição, agressão e violência<br />
no cotidiano escolar e o estabelecimento de<br />
conceitos de hierarquia racial;<br />
Para <strong>as</strong> Crianç<strong>as</strong> Negr<strong>as</strong>: sentimento<br />
de inferioridade racial, intelectual, de beleza<br />
estética, de valores morais, éticos e culturais;<br />
inadequação social; vergonha, medo e raiva<br />
de ser negro; autoconceito negativo; potencial<br />
comprometido; frac<strong>as</strong>so escolar.<br />
Para <strong>as</strong> Crianç<strong>as</strong> Branc<strong>as</strong>: sentimento<br />
de superioridade racial, intelectual, de beleza<br />
estética, de valores morais, éticos e culturais;<br />
dificuldade de se relacionar com indivíduos<br />
negros; torna-se racista;<br />
Para a Sociedade: perpetuação de ideologi<strong>as</strong><br />
racist<strong>as</strong>; formação de indivíduos racist<strong>as</strong>;<br />
permanência d<strong>as</strong> desigualdades raciais;<br />
violência no espaço escolar; potenciais subaproveitados.<br />
4.2.1 O trato pedagógico da questão racial na Infância<br />
Atividade<br />
Comente a afirmativa<br />
no fórum de discussão<br />
em relação a imagem<br />
e justifique citando<br />
exemplos de como <strong>as</strong><br />
prátic<strong>as</strong> educativ<strong>as</strong><br />
podem mudar essa realidade.<br />
Poste no fórum<br />
de discussão.<br />
Figura 8: Filme:<br />
SARAFINA<br />
Fonte: www.omelete.<br />
com.br. Acessado em 21<br />
abr. 2012.<br />
30<br />
►<br />
Dependendo da forma como é entendida<br />
e tratada a questão da diversidade étnica, <strong>as</strong><br />
instituições podem auxiliar <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> a valorizar<br />
sua cultura, seu corpo, seu jeito de ser<br />
ou, pelo contrário, favorecer a discriminação<br />
quando silenciam diante da diversidade e da<br />
necessidade de realizar abordagens de forma<br />
positiva.<br />
A criança que vivencia situação de discriminação<br />
com relação ao seu corpo pode não<br />
construir uma imagem positiva de si mesma.<br />
Na contextualização de situações de diversidade<br />
étnico-racial e a vida cotidiana n<strong>as</strong><br />
sal<strong>as</strong> de aula, alunos e alun<strong>as</strong>, aprenderão conceitos,<br />
analisarão fatos e poderão se capacitar<br />
para intervir na sua realidade e transformá-la.<br />
As propost<strong>as</strong> de educação atrelad<strong>as</strong> a<br />
uma pedagogia antirracista cria estratégi<strong>as</strong><br />
para garantir a permanência da parcela negra<br />
da população escolar na escola. Em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />
dimensões do cuidar e educar é necessário<br />
considerar a singularidade de cada criança<br />
com su<strong>as</strong> necessidades, desejos, queix<strong>as</strong>,<br />
bem como <strong>as</strong> dimensões culturais, familiares<br />
e sociais.<br />
O acolhimento da criança implica o respeito<br />
à sua cultura, corporeidade, estética e<br />
presença no mundo. As dimensões do cuidar e<br />
educar nos permite compreender a importância<br />
d<strong>as</strong> interações positiv<strong>as</strong> entre educadores e<br />
crianç<strong>as</strong>.<br />
Na abordagem da questão racial, como<br />
conteúdo multidisciplinar durante o ano letivo,<br />
é fundamental fazer com que o <strong>as</strong>sunto não<br />
seja reduzido a estudos esporádicos ou unidades<br />
didátic<strong>as</strong> isolad<strong>as</strong>. Atividades correlat<strong>as</strong><br />
como painéis com fotos da turma, confecção<br />
de álbuns familiares, feira de cultura, construção<br />
de gráficos e estimativ<strong>as</strong> etc., tendo o cuidado<br />
de não reforçar <strong>as</strong> hierarqui<strong>as</strong> d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong><br />
étnico-raciais, de gênero, faixa etária e<br />
condição social, devem ser trabalhad<strong>as</strong>.<br />
A perspectiva da diversidade deve ser<br />
contemplada, escolhendo-se, para acervo d<strong>as</strong><br />
instituições, bonec<strong>as</strong>(os) branc<strong>as</strong>, negr<strong>as</strong>, indígen<strong>as</strong>,<br />
orientais, a produção de jogos e brinquedos<br />
populares e artesanais. Os educadores<br />
devem estar atentos para textos que podem<br />
reforçar o preconceito, sendo dúbios em seu<br />
significado.
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
Além da v<strong>as</strong>ta literatura, os contos e <strong>as</strong><br />
históri<strong>as</strong> povoam o universo de nossos alunos,<br />
por que não trazemos para a sua cultura<br />
os contos africanos e indígen<strong>as</strong>? Para a educação<br />
que respeita a diversidade, é fundamental<br />
contemplar a riqueza cultural de outros povos.<br />
Históri<strong>as</strong> da nossa literatura, como: Históri<strong>as</strong><br />
da Preta, o Menino Nito, Ana e Ana, Tranç<strong>as</strong> de<br />
Bintou, Bruna e a Galinha de Angola permitem<br />
o contato com <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> afro-br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> e<br />
african<strong>as</strong>, com personagens negr<strong>as</strong> representad<strong>as</strong><br />
com qualidade e beleza.<br />
As sugestões apresentad<strong>as</strong> não devem<br />
ser tomad<strong>as</strong> como receita, m<strong>as</strong> como possibilidades<br />
a serem construíd<strong>as</strong>, reconstruíd<strong>as</strong>, ampliad<strong>as</strong>,<br />
enriquecid<strong>as</strong> com a costumeira criatividade<br />
dos educadores.<br />
É importante que a temática d<strong>as</strong> relações<br />
étnico-raciais esteja contida nos projetos pedagógicos<br />
d<strong>as</strong> instituições, evitando-se prátic<strong>as</strong><br />
localizad<strong>as</strong> em determinad<strong>as</strong> f<strong>as</strong>es do ano<br />
como maio, agosto ou novembro.<br />
Em pleno Apartheid, numa escola de Soweto,<br />
em que o exército patrulha de arm<strong>as</strong> e<br />
<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> gritam “Libertem Mandela”, uma<br />
professora ensina história de uma forma censurável<br />
fugindo ao currículo aprovado pelo<br />
regime. Sarafina é uma aluna negra, que relata<br />
a história sobre a forma de uma carta dirigida<br />
a Nelson Mandela e que, como tantos outros<br />
adolescentes, se sente revoltada face às injustiç<strong>as</strong><br />
do sistema. Um sistema que <strong>as</strong> incentiva<br />
a estudar para terem uma hipótese de vida,<br />
m<strong>as</strong> que nunca lhes explica declaradamente<br />
que nunca terão uma hipótese de igualdade<br />
social. (D’ANGELIS, 1999)<br />
Sugestão de Músic<strong>as</strong>: Canto d<strong>as</strong> três raç<strong>as</strong><br />
(Clara Nunes), Dia de graça (Candeia), Mão<br />
de Limpeza (Gilberto Gil), Retrato em Claro e<br />
Escuro (Racionais), Sorriso Negro (Dona Ivone<br />
Lara), entre outros.<br />
Sugestão de Sítios na Internet: Racismo<br />
e Negritude<br />
C<strong>as</strong>a d<strong>as</strong> Áfric<strong>as</strong> www.c<strong>as</strong>ad<strong>as</strong>afric<strong>as</strong>.<br />
org.br Espaço cultural e de estudos sobre sociedades<br />
african<strong>as</strong>, exposições virtuais, consulta<br />
a biblioteca especializada.<br />
C<strong>as</strong>a de Cultura da Mulher Negra www.<br />
c<strong>as</strong>adeculturadamulhernegra.org.br Artigos<br />
e notíci<strong>as</strong> do movimento da mulher negra.<br />
Fundação Cultural Palmares www.palmares.gov.br<br />
Página oficial da fundação ligada<br />
ao Governo Federal. Polític<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> e dados<br />
sobre a população afro-descendente, comunidades<br />
quilombol<strong>as</strong>, artigos e notíci<strong>as</strong>.<br />
Geledés www.geledes.org.br Artigos,<br />
indicação de leitur<strong>as</strong> e notíci<strong>as</strong> do movimento<br />
negro<br />
Mestre Didi www.mestredidi.org Informações<br />
sobre ancestralidade africana no Br<strong>as</strong>il.<br />
Mulheres Negr<strong>as</strong> www.mulheresnegr<strong>as</strong>.<br />
org Artigos sobre diversidade cultural e educação,<br />
lista de pesquisadores sobre a história africana<br />
e de afro-descendentes.<br />
Mundo Negro www.mundonegro.com.<br />
br Portal da comunidade afro-descendente,<br />
traz notíci<strong>as</strong>, agenda cultural e educativa, artigos<br />
e debates.<br />
Núcleo de Estudos Negros www.nen.org.<br />
br/index.htm Legislação, artigos e pesquis<strong>as</strong>.<br />
Portal Afro www.portalafro.com.br Informações<br />
sobre comunidades quilombol<strong>as</strong>,<br />
religiões african<strong>as</strong>, arte e culinária.<br />
Jornal Irohín www.irohin.com.br artigos<br />
BOX 3<br />
A escolaridade br<strong>as</strong>ileira aumentou ao longo do século XX e hoje a população tem em<br />
média 6,3 anos de estudo. Os jovens brancos têm 2,3 anos a mais de escolaridade do que os<br />
jovens negros. O que é surpreendente de um lado, m<strong>as</strong> aterrador de outro, é que os pais desses<br />
jovens brancos já tinham 2,3 anos de estudo a mais do que os pais negros. E que os avós<br />
brancos, em 1927, também já tinham esses mesmos 2,3 anos de estudo a mais do que os avós<br />
negros. Todos melhoraram, m<strong>as</strong> a distância se manteve. Esse resultado é o que torna mais<br />
cínica a noção de democracia racial. Porque melhora tudo, m<strong>as</strong> a diferença de escolaridade<br />
entre brancos e negros que n<strong>as</strong>ceram em 1929 é idêntica aos que n<strong>as</strong>ceram em 1974. Essa<br />
diferença é a manifestação mais nítida da naturalização da desigualdade. A sociedade branca<br />
e a sociedade negra se olham e se vêem exatamente na mesma posição. Ou a sociedade<br />
br<strong>as</strong>ileira admite que a democracia racial não existe ou é impossível modificar essa situação.<br />
É um problema de governo e é um problema de sociedade. É preciso ter vontade política e<br />
uma repactuação social enorme. Se não se fizer nada, vai levar mais um século para igualar os<br />
anos de estudo de brancos e negros. Os principais indicadores da década de 90 mostram que<br />
o Br<strong>as</strong>il melhorou ao longo da década, isso é inquestionável. M<strong>as</strong> em qu<strong>as</strong>e todos os indicadores<br />
a melhora não provocou nenhum diferencial racial e a distância entre brancos e negros se<br />
manteve exatamente igual. Na década, melhora-se tudo, m<strong>as</strong> <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> não se reduzem,<br />
não há nenhuma convergência.<br />
Fonte: CANDAU, 1996, p. 15.<br />
Para Saber mais<br />
B<strong>as</strong>eado no texto do<br />
Box 3 responda: Qual é<br />
a importância da educação<br />
para combater a<br />
desigualdade racial?<br />
31
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
BOX 4<br />
Para Saber mais<br />
Escolha uma d<strong>as</strong> fr<strong>as</strong>es<br />
do Box 4 e escreva um<br />
comentário no fórum<br />
de discussão.<br />
a) “Não b<strong>as</strong>ta ter um corpo, é necessário senti-lo, amá-lo, cuidá-lo respeitosamente, conhecê-lo,<br />
vivê-lo na totalidade para que possamos, na relação com o outro, <strong>as</strong>sumir com autoria<br />
o que somos, sentimos, desejamos, pensamos, fazemos com o nosso corpo, nossa vida,<br />
nossa história.” (Madalena Freire /2000.)<br />
b) “... um indivíduo ou um grupo de pesso<strong>as</strong> podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica<br />
deformação se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo,<br />
uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.” (Charles Taylor, 1994, p. 58)<br />
c) ”É um costume inglês: na primavera, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> semearem, vári<strong>as</strong> sementes misturad<strong>as</strong>.<br />
Nada de jardins com cerc<strong>as</strong> separando qualidades... simplesmente espalham-se <strong>as</strong> sementes,<br />
e o maior prazer, é ver o resultado. A maior expectativa é ver como ficará o jardim.<br />
Não interessa tamanhos, cores, espessur<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> a beleza disforme do jardim...”<br />
4.3 Educação indígena<br />
Atividade<br />
Pesquise sobre a<br />
contribuição da raça<br />
negra para a Cultura<br />
Br<strong>as</strong>ileira, seguindo os<br />
seguintes endereços<br />
eletrônicos e faça um<br />
relatório sobre su<strong>as</strong><br />
impressões.<br />
32<br />
O Br<strong>as</strong>il conta com uma v<strong>as</strong>ta diversidade<br />
étnica e racial, entre el<strong>as</strong> os povos indígen<strong>as</strong>.<br />
A luta histórica desses povos fez com que<br />
seus direitos relacionados à interculturalidade,<br />
língua materna, entre outros, fossem <strong>as</strong>segurados<br />
em lei. Protagonist<strong>as</strong> de sua história, vários<br />
povos indígen<strong>as</strong> do Br<strong>as</strong>il deram um salto<br />
significativo, conquistando não apen<strong>as</strong> o respaldo<br />
legal para seus direitos, m<strong>as</strong> também os<br />
colocando em prática.<br />
Um exemplo disto são os índios sul-matogrossenses,<br />
no município de Amambai, onde<br />
há três aldei<strong>as</strong> d<strong>as</strong> etni<strong>as</strong> Guarani e Kaiowá,<br />
com uma população estimada em 8.000 (oito<br />
mil) índios, entre el<strong>as</strong> du<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> indígen<strong>as</strong>,<br />
tendo como atores 80% (oitenta por cento) de<br />
professores indígen<strong>as</strong>, habilitados em cursos<br />
específicos, sendo o Ará Verá, oferecido pela<br />
Secretaria de Estado de Educação e o Normal<br />
Superior Indígena que foi oferecido pela Universidade<br />
Estadual de Mato Grosso do Sul na<br />
Unidade de Amambai.<br />
A implantação d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> n<strong>as</strong><br />
comunidades indígen<strong>as</strong> no Br<strong>as</strong>il é contemporânea<br />
à consolidação do próprio empreendimento<br />
colonial. A dominação política dos<br />
povos nativos, a inv<strong>as</strong>ão de su<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, a destruição<br />
de su<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> e a extinção de su<strong>as</strong><br />
cultur<strong>as</strong> têm sido, desde o século XVI, o resultado<br />
de prátic<strong>as</strong> que sempre souberam aliar<br />
métodos de controle político a algum tipo de<br />
atividade escolar civilizatória.<br />
A educação escolar indígena na história<br />
do Br<strong>as</strong>il:<br />
Br<strong>as</strong>il Colônia - foi promovida por missionários,<br />
principalmente jesuít<strong>as</strong>, por delegação<br />
explícita da Coroa Portuguesa, e instituída<br />
por instrumentos oficiais, como <strong>as</strong> Cart<strong>as</strong><br />
Régi<strong>as</strong> e os Regimentos, com objetivos voltados<br />
ao ensino religioso e a preparação para o<br />
trabalho. Ressaltamos ainda que nessa época<br />
existiam 1.175 língu<strong>as</strong> indígen<strong>as</strong>. Mediante<br />
a esse fato, os jesuít<strong>as</strong> tentaram utilizar uma<br />
única língua na comunicação com todos os<br />
povos: a nheengatu (língua geral amazônica),<br />
tentativa que não obteve sucesso.<br />
No século XIX - como súdito do Imperador,<br />
visava-se à civilização para o nativo, pois<br />
como civilizado poderia fazer parte da monarquia.<br />
Esperava-se da escola a intervenção n<strong>as</strong><br />
aldei<strong>as</strong> no intuito de sedentarizar os indígen<strong>as</strong>,<br />
mudar seus hábitos, convertendo-os ao<br />
catolicismo e ao trabalho.<br />
No século XX - o nativo é idealizado<br />
como cidadão nacional, patriota, consciente<br />
de seu pertencimento à nação br<strong>as</strong>ileira, integrado<br />
e dissolvido na imaginada sociedade<br />
nacional, porém, contraditoriamente, submetido<br />
ao poder tutelar. Para esse fim, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />
ações do Serviço de Proteção ao Índio (SPI),<br />
criado em 1910, dirigiam-se a manutenção de<br />
uma proteção do índio enquanto propriedade<br />
do estado br<strong>as</strong>ileiro e, nesse sentido, a escola<br />
para os índios p<strong>as</strong>sou a ter funções mais controlad<strong>as</strong><br />
pelo Estado que eram de educá-los e<br />
territorizá-los.<br />
Em termos de legislação federal, a Constituição<br />
de 1934 foi a primeira que atribuiu poderes<br />
exclusivos da União para legislar sobre<br />
<strong>as</strong>suntos indígen<strong>as</strong>, consolidando um quadro<br />
administrativo da educação escolar indígena,<br />
que só vai ser significativamente alterado em<br />
1991.<br />
As primeir<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> de implantação<br />
de um modelo de educação bilíngüe para<br />
os povos indígen<strong>as</strong>, ainda nos anos de 1950,<br />
como influência da Conferência da UNESCO de<br />
1951, foram considerad<strong>as</strong> inadequad<strong>as</strong> à realidade<br />
br<strong>as</strong>ileira por técnicos do Serviço de Proteção<br />
ao Índio (SPI). Um dos argumentos mais
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
significativos era de que program<strong>as</strong> de educação<br />
bilíngüe poderiam colidir com os valores<br />
e os propósitos da “incorporação dos índios à<br />
comunhão (linguística) nacional”, consagrados<br />
na Lei.<br />
A oferta de program<strong>as</strong> de educação escolar<br />
destinados às comunidades indígen<strong>as</strong> <strong>as</strong>sumiu,<br />
ao longo da história, movimentos, de um<br />
lado, marcados pela imposição de modelos<br />
educacionais através da dominação, da negação<br />
de identidades e da homogeneização cultural<br />
e de movimentos marcados pelos modelos<br />
educacionais reivindicados pelos índios<br />
ressaltados pelo pluralismo cultural, respeito e<br />
valorização de identidades étnic<strong>as</strong>.<br />
Com a promulgação da Constituição Federal<br />
de 1988, são notóri<strong>as</strong> <strong>as</strong> conquist<strong>as</strong> em<br />
uma nova direção referentes aos direitos indígen<strong>as</strong>,<br />
que apontam para um tratamento diferente,<br />
na medida em que se reconhecem su<strong>as</strong><br />
identidades étnic<strong>as</strong> diferenciad<strong>as</strong> e se incumbe<br />
o Estado de proteger su<strong>as</strong> manifestações<br />
culturais, ao mesmo tempo em que lhes é <strong>as</strong>segurado<br />
o direito a uma educação escolar diferenciada.<br />
Nota-se, então, que a Constituição<br />
Federal de 1988 foi um marco balizador para a<br />
existência de nov<strong>as</strong> normatizações a essa modalidade<br />
de ensino, conferindo a mesma competência<br />
para o desenvolvimento da Educação<br />
Escolar Indígena no Br<strong>as</strong>il. (ROSENDO, 1998,<br />
p.32)<br />
A Lei de Diretrizes e B<strong>as</strong>es da Educação<br />
Nacional (LDB n° 9.394/96) garante, nos artigos<br />
78 e 79, competênci<strong>as</strong> e ações de pesquisa e<br />
ensino a fim de possibilitar a execução de uma<br />
educação escolar indígena, de caráter específico,<br />
diferenciado, intercultural e bilíngue.<br />
Nesse processo, não resta dúvida que<br />
cabe ao professor indígena, membro de sua<br />
cultura, detentor desses processos próprios de<br />
aprendizagem, apropriar-se de novos conhecimentos<br />
e desenvolver essa educação escolar<br />
indígena. É ele o agente intercultural que<br />
propiciará a educação específica, diferenciada,<br />
intercultural e bilíngue, já que não cabe a nenhuma<br />
instituição externa construir ou ditar<br />
norm<strong>as</strong> sobre a natureza da escola diferenciada.<br />
Cabe, sim, apresentar discussões teóric<strong>as</strong><br />
sobre o processo educativo, num contexto de<br />
reflexão com o docente indígena em processo<br />
de formação, seja ela inicial ou continuada.<br />
4.3.1 A educação indígena em Min<strong>as</strong> Gerais<br />
Em Min<strong>as</strong> Gerais, desde 1995, iniciou-se<br />
um trabalho de Implantação de Escol<strong>as</strong> Indígen<strong>as</strong><br />
envolvendo agênci<strong>as</strong> governamentais<br />
e não governamentais, instituições de ensino<br />
superior e <strong>as</strong> organizações Indígen<strong>as</strong>.<br />
Atualmente, existem quatro grupos indígen<strong>as</strong><br />
reconhecidos oficialmente em Min<strong>as</strong><br />
Gerais: Maxacali, nos municípios de Bertópolis<br />
e Santa Helena; os Krenak, em Resplendor; os<br />
Pataxós, do município de Carmésia (originários<br />
do Sul da Bahia de onde foram transferidos<br />
em 1977); e os Xacriabás, de Itacarambi e São<br />
João d<strong>as</strong> Missões. (BARTOLOMEU, 2000).<br />
Contextualizando os povos indígen<strong>as</strong> de<br />
Min<strong>as</strong> Gerais:<br />
Maxacali<br />
População: 1000 habitantes (FUNAI,<br />
2000).<br />
Localização: município de Bertópolis – reserva<br />
de Pradinho – e município de Santa Helena<br />
de Min<strong>as</strong> – reserva de Água Boa.<br />
Esse grupo (em Min<strong>as</strong> Gerais) é o que preserva<br />
a sua cultura e língua própri<strong>as</strong>, de forma<br />
mais vigorosa. São o único grupo de Min<strong>as</strong><br />
ainda monolíngue. Possuem uma população<br />
em idade escolar de aproximadamente 300<br />
crianç<strong>as</strong>. Se autodeterminam tikmã, ãn, que<br />
quer dizer “nós humanos”. Pertencem ao tronco<br />
lingüístico Macro-Gê de família Maxacali.<br />
Por preservarem intensamente viv<strong>as</strong> sua<br />
língua e sua cultura, mantêm uma intensa vida<br />
ritual e contato permanente com o mundo<br />
dos espíritos.<br />
Têm uma economia de subsistência b<strong>as</strong>eada<br />
na agricultura da mandioca, batata-doce<br />
e frut<strong>as</strong>. Aos homens são destinados qu<strong>as</strong>e<br />
tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> atividades; restando às mulheres o<br />
serviço doméstico, cuidar d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>, a pesca<br />
e a coleta de frutos e raízes.<br />
Krenak<br />
População: 200 habitantes dados (FUNAI,<br />
2000).<br />
Localização: Município de Resplendor, às<br />
margens do Rio Doce do Leste Mineiro.<br />
Pertencem ao tronco lingüístico Macro-<br />
Gê, família Botocudo, língua Krenak. São o<br />
grupo Gut-Krak dos Botocudos. Embora falem<br />
cotidianamente o Português, possuem também<br />
o conhecimento da língua materna em<br />
graus variados. Sua autodeterminação é Borum<br />
Watu.<br />
Apesar de falarem o Português no cotidiano,<br />
os krenak também falam a língua Krenak.<br />
Esse grupo ocupa um território definido<br />
e possui uma liderança local. A caça e a coleta<br />
ainda são importantes, m<strong>as</strong> é a pesca a atividade<br />
mais importante para a sobrevivência<br />
Krenak.<br />
33
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
Além d<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> doméstic<strong>as</strong> cotidian<strong>as</strong> e<br />
da participação n<strong>as</strong> atividades econômic<strong>as</strong>, <strong>as</strong><br />
mulheres desempenham papel importante na<br />
vida política do grupo e forte influência sobre<br />
seus filhos e maridos.<br />
Xacriabá<br />
População: 6000 habitantes (FUNAI, 2000)<br />
Localização: município de São João d<strong>as</strong><br />
Missões e Itacarambi.<br />
Os Xacriabás pertencem à família linguística<br />
Ge, subfamília Akwen.<br />
Atualmente, esse grupo fala somente<br />
o Português (estão a aproximadamente 300<br />
anos em contato com os brancos). Ocupam<br />
uma área de aproximadamente 47000 hectares,<br />
divididos em 23 aldei<strong>as</strong>. Possui um forte<br />
sistema de liderança centralizado, que funciona<br />
através de um conselho de “caciques”.<br />
N<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> Xacriabás, há um número de<br />
aproximadamente 45 professores Xacriabás,<br />
escolhidos pela própria comunidade, que ensinam<br />
su<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>. Gerenciam, também, <strong>as</strong><br />
escol<strong>as</strong> e definem seu próprio processo educacional.<br />
Esses povos possuem uma longa história<br />
de luta e resistência, enfrentando sérios problem<strong>as</strong><br />
com a sociedade, principalmente em<br />
relação à luta pel<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> e pela identidade.<br />
Pataxó<br />
População: 250 habitantes (FUNAI, 2000)<br />
Localização: Terra Indígena Fazenda Guarani,<br />
município de Carmésia.<br />
A comunidade Pataxó é originária de<br />
Barra Velha, próximo a Porto Seguro (Bahia).<br />
Como os Maxacali e Krenak, pertencem ao<br />
tronco lingüístico Macro-Gê, m<strong>as</strong> se expressam<br />
hoje, corretamente, apen<strong>as</strong> em português.<br />
Há um universo de palavr<strong>as</strong> Pataxós<br />
que estão sendo pesquisad<strong>as</strong> a fim de serem<br />
recuperad<strong>as</strong>, registrad<strong>as</strong> em fontes divers<strong>as</strong>,<br />
como parte da reconstrução de sua identidade<br />
étnica.<br />
Com um longo período de contato, possuem<br />
grande participação na vida da cidade. A<br />
principal atividade desse grupo é o artesanato,<br />
atendendo a demanda de uma produção colocada<br />
pelo mercado. Como parte do processo<br />
de venda, fazem apresentações sobre sua vida<br />
n<strong>as</strong> aldei<strong>as</strong>, su<strong>as</strong> fest<strong>as</strong> e seus costumes.<br />
Quanto à educação, algum<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong><br />
permanecem na Escola Municipal de Carmésia,<br />
m<strong>as</strong> os Pataxós já se mobilizaram e estão<br />
trabalhando em su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> escol<strong>as</strong>, voltad<strong>as</strong><br />
para a sua cultura.<br />
4.3.2 Implantação d<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> indígen<strong>as</strong> em Min<strong>as</strong> Gerais<br />
34<br />
O Programa de Implantação d<strong>as</strong> Escol<strong>as</strong><br />
Indígen<strong>as</strong> em Min<strong>as</strong> Gerais foi o primeiro trabalho<br />
efetivamente articulado do Estado em<br />
relação a esses povos, buscando responder <strong>as</strong><br />
su<strong>as</strong> reivindicações históric<strong>as</strong>. Isso aconteceu<br />
num contexto em que, em diferentes pontos<br />
do país, surgiam propost<strong>as</strong> de educação escolar<br />
indígena. (ROSENDO, 1998, p.13)<br />
A Secretaria Estadual de Educação, orientada<br />
pela Constituição de 1988 e pelo Plano<br />
Nacional de Educação para Todos, começou<br />
a formular, em 1993, uma primeira proposta<br />
para Implantação de Escol<strong>as</strong> Indígen<strong>as</strong> no Estado.<br />
Ess<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> foram consolidad<strong>as</strong> em<br />
1995. (CANDAU, 1996, p.16)<br />
O curso de Formação de Professores Indígen<strong>as</strong><br />
faz parte do Programa de Implantação<br />
d<strong>as</strong> Escol<strong>as</strong> Indígen<strong>as</strong> de Min<strong>as</strong> Gerais, contando<br />
com participantes originários de su<strong>as</strong><br />
comunidades. Entre <strong>as</strong> propost<strong>as</strong> da comunidade,<br />
quando foram indicados os professores<br />
para participarem do Curso de Formação de<br />
Professores , citamos:<br />
• Tudo o que se refere ao funcionamento<br />
da escola (incluindo conteúdos, carga<br />
horária, calendário, avaliação, escolha de<br />
professores e outros funcionários) seja de<br />
acordo com a decisão da comunidade;<br />
• A escola deve atuar junto à comunidade<br />
na defesa, conservação e proteção do seu<br />
território e costumes;<br />
• A escola deve produzir e ter meios de imprimir<br />
os materiais didáticos, <strong>as</strong>sim como<br />
deve contar com um laboratório equipado,<br />
antena parabólica, videoc<strong>as</strong>sete;<br />
• A nossa escola deve ensinar o nosso jeito<br />
de viver, costumes, crenç<strong>as</strong>, tradições, o<br />
jeito de educar os nossos filhos, o nosso<br />
jeito de trabalhar.<br />
As “marc<strong>as</strong>” da pedagogia indígena na<br />
educação escolar diferenciada:<br />
1. Linguagem - A veiculação da língua, que<br />
antes da implantação da escola só era<br />
usada em contextos religiosos ou familiares,<br />
já possibilita a comunicação entre<br />
os mais jovens e seu uso parcial em atividades<br />
do dia a dia. A construção de sua<br />
fronteira étnica faz da língua uma “ferramenta”<br />
e a escola é o espaço onde <strong>as</strong><br />
crianç<strong>as</strong> aprendem a manipular esse instrumento.<br />
2. Tempo - Quanto tempo duraria uma atividade<br />
escolar? Essa questão não faz sentido<br />
para os professores indígen<strong>as</strong>. Dura o
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
tempo que for necessário para <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong><br />
fazerem uma abordagem complexa do<br />
tema estudado.<br />
3. Oralidade - O que para um professor não<br />
índio causa espanto e estranheza é o fato<br />
de os professores indígen<strong>as</strong> delegarem<br />
para segundo plano os registros escritos<br />
em cadernos. Num primeiro momento,<br />
o importante não é escrever, m<strong>as</strong> tecer<br />
discursos sobre o que é aprendido. E são<br />
construíd<strong>as</strong> imagens através do verbo,<br />
criando históri<strong>as</strong>, recontando mitos que<br />
os índios vão divulgando; conhecimentos<br />
socialmente relevantes.<br />
4. Conhecimentos - Os mais velhos são,<br />
para os povos indígen<strong>as</strong>, portadores da<br />
tradição e importante fonte de sabedoria<br />
e conhecimento. São uma “ponte entre<br />
dois mundos”, uma possibilidade de diálogo<br />
entre o mundo da aldeia e a cultura<br />
ocidental.<br />
5. Conteúdos - Não há como separar os<br />
conteúdos. Deve-se atender aos anseios e<br />
às exigênci<strong>as</strong> dos alunos, sem delimitação<br />
de tema ou conteúdo.<br />
6. Grupo familiar - Não há uma fronteira<br />
clara entre o pretensamente público (espaço-tempo<br />
da escola) e o familiar. Toda<br />
e qualquer atividade desenvolvida dentro<br />
do território está de algum modo relacionado<br />
aos diversos núcleos familiares e aos<br />
espaços em que el<strong>as</strong> ocupam.<br />
7. Alternativ<strong>as</strong> de sobrevivência - Os trabalhos<br />
escolares são destinados com um<br />
olho no futuro. A necessidade da criação<br />
de alternativ<strong>as</strong> econômic<strong>as</strong> visando<br />
à autonomia da população indígena faz<br />
da escola um campo de experiênci<strong>as</strong> de<br />
nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de conhecer e usar o território,<br />
criar e reproduzir bens culturais que<br />
poderão viabilizar recursos para a comunidade,<br />
bem como o desenvolvimento do<br />
artesanato, por exemplo. No espaço escolar,<br />
articulam-se p<strong>as</strong>sado e futuro daquela<br />
4.4 Educação e gênero<br />
população indígena.<br />
8. Afirmação étnica e culto à liberdade -<br />
Filtrando o que de bom a civilização ocidental<br />
traz, sem ferir os seus costumes,<br />
tradições e modo próprio de ser.<br />
Dentro deste contexto de luta conjunta,<br />
a educação tem papel fundamental. É através<br />
dela que <strong>as</strong> comunidades podem refletir os<br />
<strong>as</strong>pectos acima citados, impedindo, <strong>as</strong>sim, a<br />
desintegração identitária e antropológica dos<br />
povos originários. (BARTOLOMEU, 2000, p. 54)<br />
Para saber mais <strong>as</strong>sista ao filme "O dia em<br />
a lua menstruou".<br />
Durante uma oficina de vídeo<br />
na aldeia kuikuro, no Alto Xingu,<br />
ocorre um eclipse. De repente, tudo<br />
muda. Os animais se transformam.<br />
O sangue pinga do céu como chuva.<br />
O som d<strong>as</strong> flaut<strong>as</strong> sagrad<strong>as</strong><br />
atravessa a escuridão. Não há mais<br />
tempo a perder. É preciso cantar e<br />
dançar. É preciso acordar o mundo<br />
novamente. Os realizadores kuikuro<br />
contam o que aconteceu nesse dia,<br />
o dia em que a lua menstruou.<br />
2004, 28 min. - Direção: Takumã e Maricá<br />
Kuikuro - Fotografia: Takumã, Mariká, Amuneri,<br />
Asusu, Jairão e Maluki - Edição: Leonardo<br />
Sette - Filme: WAPTÉ MNHÕNÕ, Iniciação Do<br />
Jovem Xavante<br />
Documentário sobre a iniciação dos jovens<br />
Xavante, realizado durante <strong>as</strong> oficin<strong>as</strong> de<br />
capacitação do projeto Vídeo n<strong>as</strong> Aldei<strong>as</strong>. A<br />
convite de Divino, da aldeia Xavante Sangradouro,<br />
quatro Xavantes e um Suyá realizam,<br />
pela primeira vez, um trabalho coletivo. Durante<br />
o registro do ritual, diversos membros da<br />
aldeia elucidam o significado dos segmentos<br />
desse complexo cerimonial.<br />
75 min., 1999 - Realização e fotografia:<br />
Caimi Wai<strong>as</strong>sé, Divino Tserewahú, Jorge Protodi,<br />
Winti Suyá - Produção: Bartolomeu Patira-<br />
Edição: Tutu Nunes<br />
Quando o que buscamos é uma escola<br />
que respeite <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong>, a preocupação com<br />
a prática docente se acentua, pois o preconceito<br />
e a segregação ocorrem, em sua maioria, de<br />
forma sutil no cotidiano do trabalho.<br />
Os silêncios, os ritos, o currículo, a forma<br />
de organização escolar, os tempos e espaços<br />
escolares, <strong>as</strong> linguagens que perp<strong>as</strong>sam <strong>as</strong><br />
noss<strong>as</strong> atuações docentes produzem menin<strong>as</strong><br />
e meninos e, em se tratando da EJA, continuam<br />
a produzir mulheres e homens e a<br />
perpetuar relações desiguais entre el<strong>as</strong> e eles.<br />
(LOURO, 1997, p. 22)<br />
A escola é um agente socializador dos<br />
seres humanos tanto quanto a família. Isto<br />
significa que, junto com o conhecimento, a<br />
escola também transmite valores, atitudes e<br />
preconceitos.<br />
Tradicionalmente, a escola tem reforçado<br />
a desigualdade entre mulheres e homens. Isto<br />
Figura 9: Filme: O dia<br />
em a lua menstruou<br />
Fonte: www.cimi.org.br<br />
Acessado em 21 mai. 2012.<br />
▼<br />
Para Saber Mais<br />
A questão de gênero<br />
é tratada no texto: o<br />
que produz o silenciamento<br />
d<strong>as</strong> mulheres no<br />
magistério?, de Diniz<br />
e V<strong>as</strong>concelos (2004).<br />
As autor<strong>as</strong> fazem um<br />
resgate histórico da<br />
relação entre o gênero<br />
feminino e a educação,<br />
problematizando<br />
os discursos sociais<br />
produzidos nesse contexto.<br />
Mostram de que<br />
forma, no decorrer da<br />
história, a inserção da<br />
mulher no magistério<br />
ocorreu sem que fosse<br />
rompida a vinculação<br />
do seu papel doméstico<br />
de cuidadora do lar<br />
e de mãe. Essa situação<br />
colaborou com a naturalização<br />
dos papéis<br />
sociais da mulher e,<br />
consequentemente,<br />
para o seu silenciamento.<br />
Analise e responda: até<br />
que ponto a escolha<br />
pelo magistério não é<br />
uma forma de ajuste,<br />
por parte d<strong>as</strong> mulheres,<br />
a um determinado<br />
papel social já preestabelecido?<br />
(CANDAU,<br />
1996, p. 32)<br />
35
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
▲<br />
Figura 10:<br />
Fonte: www.mte.gov.br/<br />
trabalhodomestico<br />
Acessado em 12 jan. 2012.<br />
▲<br />
Figura 11: Filme<br />
Gênero, mentir<strong>as</strong> e<br />
videoteipe<br />
Fonte: www.sof.org.br.<br />
Acessado em 21 jun. 2012.<br />
36<br />
ocorre, por exemplo,<br />
na forma como se lida<br />
com meninos e menin<strong>as</strong>:<br />
a divisão n<strong>as</strong> fil<strong>as</strong>,<br />
a divisão de taref<strong>as</strong><br />
(menin<strong>as</strong> como ajudantes<br />
da professora),<br />
o que a escola reforça<br />
em um e no outro:<br />
“isso não é coisa de<br />
menina” ou “está até<br />
parecendo uma menina”,<br />
“comporte-se<br />
como um menino”.<br />
Os livros didáticos<br />
também reproduzem<br />
e reforçam a desigualdade, apresentando estereótipos<br />
sobre o que é uma família, como<br />
são <strong>as</strong> mulheres, como vivem <strong>as</strong> mulheres negr<strong>as</strong>.<br />
Nos livros didáticos, <strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> são sempre<br />
branc<strong>as</strong>, o pai tem um emprego fora de<br />
c<strong>as</strong>a e a mãe aparece sempre de avental servindo<br />
a mesa ou costurando. O menino está<br />
sempre brincando de caminhãozinho ou bola<br />
e a menina está sempre com uma boneca,<br />
olhando o irmãozinho brincar de cois<strong>as</strong> mais<br />
interessantes.<br />
Nos livros de ciênci<strong>as</strong>, somente os meninos<br />
aparecem fazendo experiênci<strong>as</strong>. Quando<br />
de vez em quando aparece uma menina, ela<br />
está lá atrás, observando, ou é encarregada de<br />
providenciar os materiais para a experiência<br />
que os meninos vão fazer. Isto tudo reforç<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />
idei<strong>as</strong> preconceituos<strong>as</strong> da sociedade de que <strong>as</strong><br />
menin<strong>as</strong> não têm jeito para a ciência, que só<br />
os homens podem ser cientist<strong>as</strong>.<br />
Ainda nos livros didáticos, a mulher negra<br />
costuma aparecer sozinha, sem família e no<br />
papel de empregada que serve a mesa para a<br />
família branca, como se ainda estivéssemos no<br />
tempo da escravidão.<br />
As atividades na educação física são dividid<strong>as</strong><br />
e reproduzem preconceitos até n<strong>as</strong> brincadeir<strong>as</strong>,<br />
como aquela que diz “quem chegar<br />
por último é mulher do sapo”.<br />
A professora, na maioria d<strong>as</strong> vezes, é tratada<br />
como a segunda mãe ou tia. Isso significa<br />
não reconhecer sua profissão e considerar<br />
o ato de educar como extensão do papel da<br />
mãe.<br />
Como mães e professor<strong>as</strong>, <strong>as</strong> mulheres,<br />
muit<strong>as</strong> vezes, reproduzem o machismo e <strong>as</strong><br />
idei<strong>as</strong> dominantes na sociedade, que prega a<br />
suposta inferioridade d<strong>as</strong> mulheres em relação<br />
aos homens. Não podemos nos esquecer que<br />
<strong>as</strong> idei<strong>as</strong> dominantes na sociedade são dominantes<br />
justamente porque estão na cabeça<br />
da maioria dos homens e d<strong>as</strong> mulheres. Ess<strong>as</strong><br />
idei<strong>as</strong> são repetid<strong>as</strong> à exaustão na família, na<br />
escola, n<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong>, nos meios de comunicação<br />
e não é de estranhar que muit<strong>as</strong> mulheres se<br />
convençam del<strong>as</strong>.<br />
Para saber mais <strong>as</strong>sista ao filme - Documentário<br />
“Gênero, Mentir<strong>as</strong> e Videoteipe”<br />
Duração: 20 min.<br />
O curta ‘Gênero, Mentir<strong>as</strong> e Videoteipe’<br />
procura mostrar, de maneira descontraída e<br />
bem humorada, como <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> são educad<strong>as</strong><br />
para serem homem ou mulher. O filme<br />
conquistou o 1º lugar no gênero ficção do I<br />
Concurso latino-americano de vídeo educativo,<br />
democracia e cidadania, realizado pela<br />
C<strong>as</strong>a da Cultura Espanhola, em Lima, capital<br />
do Peru. Assinam a produção a SOF, Instituto<br />
Cajamar e TV dos Trabalhadores, com apoio da<br />
Croccevia.<br />
Site da produtora SOF: www.sof.org.br -<br />
São Paulo-SP<br />
Conta <strong>as</strong> desventur<strong>as</strong> do garoto Ludovic<br />
(o ótimo Georges du Fresne). Ele cresce imaginando<br />
que n<strong>as</strong>ceu no corpo errado: na verdade,<br />
acredita ser uma menina. Logo na primeira<br />
sequência, aparece em uma festinha promovida<br />
pelos pais para atrair a nova vizinhança em<br />
um lindo vestidinho. A impressão e o mal-estar<br />
não saem d<strong>as</strong> cabecinh<strong>as</strong> dos vizinhos, que<br />
começam a pressionar e ridicularizar o garoto.<br />
A rejeição se estende aos pais, aos coleg<strong>as</strong> e a<br />
qualquer um que se aproxime de um sintoma<br />
de homossexualidade tão latente. Ludovic refugia-se<br />
do tormento em um mundo róseo, onde<br />
só cabem a boneca Pam, uma Barbie espevitada,<br />
e o apoio afetivo da avó (Helene Vincent).<br />
▲<br />
Figura 12: Filme: Minha Vida em cor de rosa<br />
Fonte: www.omelete.com.br. Acessado em 21 jun. 2012
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
Referênci<strong>as</strong><br />
AUAD, Daniela. Educar menin<strong>as</strong> e meninos. Relações de gênero na escola. São Paulo: Contexto,<br />
2006.<br />
CANDAU, Vera Maria, (1996). Formação continuada de professores: tendênci<strong>as</strong> atuais. In: RE-<br />
ALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues, MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti (Orgs). São Carlos:<br />
Editora da UFSCar, 2003<br />
D’ANGELIS, Wilmar da Rocha, (1999). Educação Escolar Indígena: um projeto étnico ou um projeto<br />
étnico-político? Texto apresentado no 12º COLE, UNICAMP, 1999.<br />
DINIZ, Margareth e VASCONCELOS, Renata Nunes (orgs) o que produz o silenciamento d<strong>as</strong> mulheres<br />
no magistério? Belo Horizonte: Formato, 2004. (Série educador em formação).<br />
FRANCO. Maria Laura P. B. Análise do Conteúdo. 2. ed. Série Pesquisa. Editora Contexto. Liber<br />
Livro, 2. ed. 2007.<br />
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista.<br />
Petrópolis: Vozes, 1997.<br />
MELIÁ, Bartomeu. Educação indígena na escola: educação indígena e interculturalidade. Cadernos<br />
Cedes, nº 49, 2000.<br />
ROSENDO, Ailton Salgado. Educação escolar indígena: ranços e avanços. Dissertação de Mestrado<br />
em Educação/UFGD. Universidade Federal da Grande Dourados, 1998.<br />
37
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
UNIDADE 5<br />
A escola e os novos complexos<br />
culturais<br />
5.1 Introdução<br />
Nesta unidade, abordaremos <strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />
configurações sociais e o olhar antropológico<br />
em relação a uma sociedade em constante<br />
mudança. Um novo mapa cultural formado<br />
por nov<strong>as</strong> configurações culturais, que traz<br />
em seu bojo nov<strong>as</strong> relações entre estudantes<br />
e professores, entre cultura popular e conhecimento<br />
científico e o aparecimento d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />
tecnologi<strong>as</strong> permeando a cultura de m<strong>as</strong>sa<br />
e moldando comportamentos e modos de<br />
vida. Surgem, <strong>as</strong>sim, <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> identidades e<br />
<strong>as</strong> crises dess<strong>as</strong> identidades via mobilidade,<br />
flutuação, superficialidade e deslocamento<br />
de sentidos. Dentro desse contexto pós-moderno<br />
e diferenciado, abordaremos o ser cultural<br />
e a virtualidade e o lugar da educação,<br />
da escola e da relação permeada por mudanç<strong>as</strong><br />
ininterrupt<strong>as</strong> e por seres humanos influenciados<br />
por tais mudanç<strong>as</strong> em contínuo<br />
processo de adaptação.<br />
Para saber mais<br />
Entenda melhor a<br />
estória dos eletroeletrônicos<br />
em<br />
http://www.youtube.<br />
com/watch?v=MPWgqkIVgbw<br />
5.2 Nov<strong>as</strong> relações entre<br />
estudantes e professores<br />
Pesquisadores australianos, num provocativo<br />
e instigante ensaio, descrevem <strong>as</strong><br />
presentes relações entre jovens e adultos, estudantes<br />
e professores, como relações entre<br />
seres alienígen<strong>as</strong>; com uma qualificação importante:<br />
nós somos os alienígen<strong>as</strong>, adultos/<br />
professores, e não eles (BIGUM, 1995).<br />
Bigum (1995) também observa que nós,<br />
adultos e intelectuais, podemos teorizar o pósmoderno,<br />
m<strong>as</strong> são eles, os jovens e <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>,<br />
que vivem realmente o pós-moderno.<br />
O que esse autor quer demonstrar é que<br />
o novo complexo cultural representado pela<br />
combinação entre cultura popular (nos chamados<br />
meios de comunicação de m<strong>as</strong>sa) e<br />
<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong> de comunicação estão<br />
produzindo uma transformação radical nos<br />
processos de produção de subjetividade e de<br />
identidades sociais.<br />
Na mudança de uma cultura b<strong>as</strong>eada<br />
nos meios impressos para uma cultura b<strong>as</strong>eada<br />
nos meios audiovisuais e nos computadores,<br />
gera-se um sujeito com nov<strong>as</strong> e diferentes<br />
capacidades e habilidades.<br />
Ess<strong>as</strong> importantes transformações exigem<br />
nov<strong>as</strong> interpretações e novos olhares.<br />
El<strong>as</strong> não podem ser interpretad<strong>as</strong> no registro<br />
conservador do pânico moral e da visão patologizante<br />
que vê a ampliação da influência<br />
da cultura popular e o predomínio dos novos<br />
meios e conteúdos culturais como uma<br />
ameaça a tradicionais valores e capacidades<br />
supostamente mais universais, humanos e superiores.<br />
O novo mapa cultural formado por ess<strong>as</strong><br />
revolucionad<strong>as</strong> configurações culturais não<br />
pode ser interpretado como déficit, patologia,<br />
carência, degeneração, degradação e involução.<br />
Ele tampouco pode ser interpretado na<br />
clave, supostamente progressista e benigna,<br />
de uma tradição de crítica cultural quê vê os<br />
novos meios e conteúdos proporcionados<br />
pela cultura de m<strong>as</strong>sa como produzindo uma<br />
população p<strong>as</strong>siva, mistificada e alienada.<br />
Nessa perspectiva, <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> identidades<br />
sociais <strong>as</strong>sim produzid<strong>as</strong> também são vist<strong>as</strong><br />
como patológic<strong>as</strong>, embora el<strong>as</strong> sejam referid<strong>as</strong><br />
não a um p<strong>as</strong>sado mítico e supostamente<br />
mais íntegro, mais completo e autêntico, m<strong>as</strong><br />
39
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
Para saber mais<br />
Na mudança de uma<br />
cultura b<strong>as</strong>eada nos<br />
meios impressos para<br />
uma cultura b<strong>as</strong>eada<br />
nos meios audiovisuais<br />
e nos computadores,<br />
gera-se um sujeito<br />
com nov<strong>as</strong> e diferentes<br />
capacidades e habilidades.<br />
Como descrever e analisar<br />
ess<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>?<br />
aos mecanismos alienantes do processo de<br />
mercantilização da cultura.<br />
Em amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> visões – a conservadora e<br />
a crítica – os meios e os conteúdos da cultura<br />
de m<strong>as</strong>sa – e <strong>as</strong> capacidades e habilidades<br />
por ele produzido – são encarados como distorção,<br />
como desvios a serem corrigidos.<br />
Diferem, entretanto, os pontos de referência:<br />
numa, um p<strong>as</strong>sado romântico não<br />
perturbado por form<strong>as</strong> inferiores de cultura;<br />
na outra, um mundo utópico, não distorcido<br />
pel<strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong> mercantilizantes da cultura.<br />
Amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> visões colocam implicações<br />
para a educação e o currículo. Em uma, a volta<br />
a noções tradicionais de alfabetização e<br />
escolarização. Aqui, defende-se a volta a antig<strong>as</strong><br />
form<strong>as</strong> de disciplina e <strong>as</strong> form<strong>as</strong> canônic<strong>as</strong><br />
de aprendizagem: a ênf<strong>as</strong>e na palavra impressa,<br />
o estudo d<strong>as</strong> grandes obr<strong>as</strong> literári<strong>as</strong>,<br />
havendo lugar até mesmo para o ensino d<strong>as</strong><br />
língu<strong>as</strong> mort<strong>as</strong>, como o latim.<br />
Supostamente, ess<strong>as</strong> form<strong>as</strong> culturais –<br />
a “alta cultura”: da literatura, d<strong>as</strong> artes e d<strong>as</strong><br />
ciênci<strong>as</strong> – encarnariam valores, capacidades e<br />
conhecimentos “superiores” e mais genuinamente<br />
humanos.<br />
A outra, a tradição da crítica à “cultura de<br />
m<strong>as</strong>sa”, tem apresentado pouc<strong>as</strong> sugestões<br />
em termos de educação e currículo.<br />
Nessa tradição, o currículo deveria provavelmente<br />
incluir form<strong>as</strong> de desenvolver<br />
uma apreciação crítica da ideologia da mídia<br />
de da cultura popular, ancorada provavelmente<br />
em capacidades e habilidades mais<br />
própri<strong>as</strong> da cultura escrita e impressa.<br />
Aqui, como lá, a “cultura de m<strong>as</strong>sa”, os novos<br />
meios, nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> e conteúdos culturais<br />
são colocados sobre suspeita, são vistos como<br />
o outro de uma forma cultural superior, representada,<br />
esta, pela educação institucionalizada:<br />
a escola, a universidade [...].<br />
Esses estudos vêm tentando demonstrar<br />
que <strong>as</strong> transformações – colocad<strong>as</strong> pelos novos<br />
meios e form<strong>as</strong> culturais – não podem ser<br />
caracterizad<strong>as</strong> absolutamente como desvio,<br />
déficit, regressão, anomalia, patologia. El<strong>as</strong><br />
devem ser compreendid<strong>as</strong> dentro de sua própria<br />
lógica e ótica e não por referência a outr<strong>as</strong><br />
form<strong>as</strong> e meios culturais, característicos<br />
de uma outra época.<br />
El<strong>as</strong> implicam, sim, na produção de nov<strong>as</strong><br />
capacidades e habilidades. Ess<strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />
subjetividades não podem ser entendid<strong>as</strong><br />
como carência e desvio em relação a outr<strong>as</strong><br />
form<strong>as</strong> históric<strong>as</strong> de produção e transformação<br />
cultural.<br />
A separação entre baixa cultura e alta<br />
cultura, característica de amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> interpretações<br />
convencionais descrit<strong>as</strong> anteriormente,<br />
tendem a se dissolver no novo cenário cultural<br />
representado pela difusão e generalização<br />
d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> mídi<strong>as</strong>.<br />
Na verdade, essa oposição adquire cada<br />
vez menos sentido, entre outr<strong>as</strong> razões, porque<br />
<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> mídi<strong>as</strong> tendem a incorporar form<strong>as</strong><br />
e conteúdos culturais tradicionalmente<br />
pertencentes à esfera da alta cultura, m<strong>as</strong> de<br />
uma forma completamente nova e transformada<br />
(maquilada).<br />
A educação institucionalizada e os/<strong>as</strong><br />
educadores/<strong>as</strong> parecem mal equipado(a)s<br />
para lidar com ess<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> configurações do<br />
cultural.<br />
Os pensadores educacionais têm dedicado<br />
muito pouco tempo a essa importante<br />
questão.<br />
A escola, por outro lado, parece não apen<strong>as</strong><br />
habitada por seres que se confrontam<br />
como numa relação entre alienígen<strong>as</strong>, m<strong>as</strong><br />
parece, ela própria, uma nave alienígena e<br />
anacrônica plantada na paisagem futurística<br />
e ficcional de um outro planeta.<br />
O que aí se p<strong>as</strong>sa tende-se a movimentar<br />
em paralelo com aquilo que se p<strong>as</strong>sa no restante<br />
da paisagem cultural, não havendo possibilidade<br />
de qualquer encontro ou contato.<br />
O currículo é o espaço em que se corporificam<br />
form<strong>as</strong> de conhecimento e de saber.<br />
Como tal, o desc<strong>as</strong>o pel<strong>as</strong> radicais transformações<br />
efetuad<strong>as</strong> na produção da subjetividade<br />
e pel<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> mídi<strong>as</strong>, demonstrado pela<br />
escola e pelos educadores profissionais, significa<br />
deixar de fora desse espaço form<strong>as</strong> importantes<br />
de conhecimento e de saber que,<br />
no entanto, à contracorrente da escola, estão,<br />
na realidade, moldando e formando nov<strong>as</strong><br />
form<strong>as</strong> de existência e sociabilidade.<br />
O que precisamos é de form<strong>as</strong> criativ<strong>as</strong>,<br />
abert<strong>as</strong>, renovad<strong>as</strong> de pensar e desenvolver<br />
currículos que levem em conta esses novos<br />
map<strong>as</strong> e configurações sociais. (CANDAU,<br />
1996, p. 12)<br />
40
5.3 Nov<strong>as</strong> identidades culturais e a<br />
educação<br />
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
Existem muitos jeitos de se abordar a<br />
questão da identidade. A própria flexão da palavra<br />
no singular ou no plural expressa, por si<br />
só, um posicionamento teórico-conceitual.<br />
Se perguntarmos “o que quer dizer identidade?”,<br />
podemos nos referir tanto à noção psicanalítica<br />
de sujeito, ao processo psíquico de<br />
aquisição de identidade, como à concepção<br />
antropológica de conjunto de característic<strong>as</strong><br />
distintiv<strong>as</strong> de um grupo, ou à recente tendência<br />
culturalista de conceber a identidade como<br />
uma “celebração móvel”.<br />
O termo identidade é relativamente novo<br />
n<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais, tornando-se um conceito<br />
central apen<strong>as</strong> nos meados do século XX. Contudo,<br />
<strong>as</strong> questões que hoje estão implicad<strong>as</strong><br />
na rubrica da identidade não foram inteiramente<br />
desconhecid<strong>as</strong> dos clássicos.<br />
O fato de a identidade ocupar um lugar<br />
tão proeminente na teoria cultural contemporânea<br />
está relacionado às transformações<br />
radicais em andamento no mundo e, particularmente,<br />
às ruptur<strong>as</strong>, descontinuidades, deslocamentos<br />
e instabilidades que se instalam<br />
no panorama d<strong>as</strong> teorizações, concepções e<br />
manifestações dit<strong>as</strong> pós-modern<strong>as</strong>.<br />
A identidade é um dos construtos modernos<br />
que se estilhaça inapelavelmente. Tal<br />
estado de cois<strong>as</strong> tem sido diagnosticado como<br />
“crise da identidade” - condição em que os indivíduos<br />
e grupos estariam deslocados tanto<br />
de seu lugar no mundo quanto de si mesmos.<br />
De uma concepção una, centrada, equilibrada,<br />
coerente e estável de identidade, p<strong>as</strong>sa-se a<br />
fragmentação, efemeridade, mobilidade, superficialidade,<br />
flutuação. (CASTELLS, 1999, p.88)<br />
Podemos ser um e muitos ao mesmo<br />
tempo e em diferentes tempos. A identidade<br />
parece que está à deriva no tempo e no espaço,<br />
o que a torna permanentemente capturável,<br />
ancorável, m<strong>as</strong>, paradoxalmente, ao<br />
mesmo tempo escorregadia - uma celebração<br />
móvel, como recém mencionei, utilizando-me<br />
de expressão empregada por Stuart<br />
Hall (2003).<br />
A constituição da identidade de crianç<strong>as</strong><br />
e jovens como estudantes e como sujeitos do<br />
currículo dá-se no entrecruzamento de vários<br />
fluxos e redes de poder.<br />
Os sujeitos escolares são subjetivados<br />
simultaneamente por múltiplos discursos.<br />
Crianç<strong>as</strong> e jovens quando chegam à escola já<br />
foram objeto de um conjunto de discursos,<br />
que produziram diferentes “posições de sujeito”,<br />
entre eles, aqueles que os constituem<br />
como consumidores, como clientes. (DEBORD,<br />
1997, p.26)<br />
Quem são? Que querem? Que fazer<br />
com eles?<br />
As mudanç<strong>as</strong> verificad<strong>as</strong> a partir da segunda<br />
metade do século XX, desencadead<strong>as</strong>,<br />
sobretudo, pelos vertiginosos avanços n<strong>as</strong><br />
tecnologi<strong>as</strong> da informação e da comunicação,<br />
estão intimamente relacionad<strong>as</strong> com a<br />
verdadeira revolução pela qual p<strong>as</strong>sam tais<br />
conceitos. A “virada cultural”, posicionando<br />
a cultura no centro dos acontecimentos e da<br />
vida n<strong>as</strong> sociedades do limiar do novo milênio,<br />
estabelece nova direção de fluxo na definição<br />
da identidade. O sujeito, antes concebido<br />
como uma agência centrada, estável<br />
e emanadora do sentido identitário, tem sua<br />
posição deslocada.<br />
Crianç<strong>as</strong>, jovens, mulheres, negros, idosos,<br />
docentes, surdos etc., são exemplos de identidades<br />
recriad<strong>as</strong> e reinventad<strong>as</strong> de múltipl<strong>as</strong><br />
form<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> variad<strong>as</strong> narrativ<strong>as</strong> que p<strong>as</strong>sam a<br />
circular de forma planetária, fazendo aparecer<br />
novos atores sociais. Contemporaneamente,<br />
delineiam-se nitidamente <strong>as</strong> condições que<br />
instauram o caráter provisório e construído d<strong>as</strong><br />
identidades. (BIGUM,1995, p. 33)<br />
5.3.1 Artefatos culturais contemporâneos na vida escolar<br />
Tais acontecimentos têm descortinado<br />
um v<strong>as</strong>to e novo repertório da cultura pósmoderna,<br />
predominantemente midiática, que<br />
se insinua na vida d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, alterando <strong>as</strong><br />
rotin<strong>as</strong> e <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> cotidian<strong>as</strong> no interior de<br />
instituições consagrad<strong>as</strong>, como é o c<strong>as</strong>o da família<br />
e da escola.<br />
Os pesquisadores e pesquisador<strong>as</strong> voltados<br />
para análises da cultura são questionados<br />
se já haviam se dedicado a examinar a inv<strong>as</strong>ão<br />
dos Yu-Gi-Ohs na vida da garotada e n<strong>as</strong> escol<strong>as</strong>.<br />
41
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
42<br />
Uma pequena reportagem na Folha de<br />
São Paulo contava sobre esta nova febre, cujo<br />
nome refere-se ao desenho animado/jogo de<br />
cart<strong>as</strong>/videogame japonês que se transformara<br />
em polêmica - acusado de “coisa do demônio”<br />
- no programa de televisão de Gilberto<br />
Barros, na Bandeirantes. Há escol<strong>as</strong> desenvolvendo<br />
projeto para fazer frente à inv<strong>as</strong>ão dos<br />
Yu-Gi-Ohs, no qual <strong>as</strong> tais cart<strong>as</strong> com imagens<br />
representando demônios orientais são substituíd<strong>as</strong><br />
por tópicos humanist<strong>as</strong>, retirados do Estatuto<br />
da Criança e do Adolescente.<br />
Se os cards concentraram temporariamente<br />
a preferência dos meninos, <strong>as</strong> bonec<strong>as</strong> da linhagem<br />
Barbie, fabricada pela gigante Mattel,<br />
há mais de trinta anos vêm embalando os sonhos<br />
d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong> do Br<strong>as</strong>il e do mundo inteiro<br />
como modelo de mulher – adulta, sensual,<br />
charmosa, moderna, arrojada, independente,<br />
feminista. Milhões de menin<strong>as</strong> entre três e dez<br />
anos aprendem com a boneca lições para ser<br />
uma mulher bem-sucedida. Contudo, a pedagogia<br />
Barbie, <strong>as</strong>sentada, segundo seus críticos,<br />
sobre consumismo, futilidade e competição,<br />
faz da boneca um brinquedo perigoso, seja<br />
pelos valores que dissemina, seja por seu inegável<br />
sucesso em promover a identificação d<strong>as</strong><br />
menin<strong>as</strong> com seu universo existencial.<br />
Assim como os Yu-Gi-Ohs e <strong>as</strong> Barbies,<br />
inúmeros artefatos da cultura contemporânea,<br />
especialmente da cultura popular midiática,<br />
moldada, como sabemos, por forç<strong>as</strong> polític<strong>as</strong>,<br />
econômic<strong>as</strong>, sociais e culturais, têm não só<br />
invadido a escola como disputado com ela o<br />
espaço pedagógico. A indústria do entretenimento<br />
não se restringe a fazer circular mercadori<strong>as</strong>,<br />
ela protagoniza uma pedagogia cultural<br />
regida por poderos<strong>as</strong> dinâmic<strong>as</strong> comerciais,<br />
<strong>as</strong>sentad<strong>as</strong> sobre estética e prazer, que se impõem<br />
sobre <strong>as</strong> vid<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> e públic<strong>as</strong> de<br />
crianç<strong>as</strong>, jovens e adultos.<br />
Em outro departamento da cena escolar,<br />
podemos testemunhar, outra vez, a força d<strong>as</strong><br />
corporações empresariais nessa modelagem.<br />
Batata frita, salgadinho, hambúrguer e refrigerante<br />
têm sido os alimentos preferidos da população<br />
jovem escolar, em detrimento de uma<br />
merenda balanceada e nutritiva. Amplamente<br />
difundidos, os maus hábitos alimentares que<br />
vêm <strong>as</strong>solando a população mundial - principalmente<br />
crianç<strong>as</strong> e jovens -, dobrando o número<br />
de obesos, são incentivados por campanh<strong>as</strong><br />
promocionais que, não raro, potencia<br />
Além disso, a maior parte de tais guloseim<strong>as</strong><br />
está <strong>as</strong>sociada a desenhos animados, seriados<br />
de sucesso, grupos musicais etc. Salvo<br />
rar<strong>as</strong> exceções, <strong>as</strong> cantin<strong>as</strong> escolares são uma<br />
fulgurante vitrine desses produtos destituídos<br />
de valor nutricional, m<strong>as</strong> investidos de significados<br />
simbólicos que os tornam altamente desejáveis.<br />
Como nos alerta a pesquisa de Isleide<br />
Fontenelle (2002) sobre a McDonald´s, quem<br />
come um Big Mac ingere uma combinação<br />
complexa de valores, desejos, estilo de vida<br />
e padrão universal de gosto, embalados pelo<br />
nome da marca. Em sua vida cotidiana, jovens<br />
e crianç<strong>as</strong> são submetidos ao f<strong>as</strong>cínio e aos<br />
apelos estéticos consubstanciados em narrativ<strong>as</strong><br />
que empreendem uma verdadeira cruzada<br />
para a mercantilização de objetos, imagens e<br />
toda a sorte de artefatos consumíveis. Bem à<br />
propósito, poderíamos afirmar que no mundo<br />
que Guy Debord (1997) batizou de sociedade<br />
do espetáculo, pão e circo se confundem.<br />
Parte considerável d<strong>as</strong> análises contemporâne<strong>as</strong><br />
tem ressaltado enfaticamente <strong>as</strong><br />
subjetividades como objeto de sujeição e disciplina.<br />
Na escola e na família, parece que têm<br />
surgido linh<strong>as</strong> de fuga, m<strong>as</strong> é muito difícil escapar<br />
do que poderíamos denominar “subjetivação<br />
cultural”, algo mais ou menos fortuito<br />
em termos de endereçamento, m<strong>as</strong> que atinge<br />
a todos nós, de vári<strong>as</strong> form<strong>as</strong>, em praticamente<br />
tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> esfer<strong>as</strong> de nossa existência hoje em<br />
dia. Isto porque <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> de subjetivação<br />
escolares, familiares e religios<strong>as</strong> requerem, em<br />
grande parte, renúncia, abnegação, provação<br />
e obediência.<br />
A subjetivação cultural, por sua vez, reveste-se<br />
qu<strong>as</strong>e sempre de peculiaridades que<br />
acionam o lúdico, a f<strong>as</strong>cinação, o deleite, ou<br />
seja, somos subjetivados na fruição e no prazer,<br />
ou na expectativa destes; nesses c<strong>as</strong>os, parece<br />
que não há resistência.<br />
Assim, não podemos esquecer que os sujeitos<br />
do currículo são, antes de tudo, <strong>as</strong> subjetividades<br />
forjad<strong>as</strong> em uma cultura regida pelos<br />
apelos do mercado. As regr<strong>as</strong>, estratégi<strong>as</strong> e<br />
o modus operandi d<strong>as</strong> sociedades neoliberais<br />
de economi<strong>as</strong> globalizad<strong>as</strong> articulam-se caprichosamente<br />
para fabricar um cliente.<br />
Um olhar mais atento nos mostrará, também,<br />
a expansão de um contingente de cidadãos<br />
de “segunda cl<strong>as</strong>se” – crianç<strong>as</strong>, jovens e<br />
adultos pobres, trabalhadores eventuais, subempregados,<br />
desempregados, não empregáveis<br />
- que, segundo a lógica do capitalismo<br />
tardio, não podem ficar de fora do circuito do<br />
consumo. Mesmo que não estejam habilitados<br />
a adquirir mercadori<strong>as</strong> de primeira linha, inventam-se<br />
categori<strong>as</strong> a eles adaptad<strong>as</strong> - réplic<strong>as</strong>,<br />
versões barat<strong>as</strong> de objetos de consumo desejados<br />
–, que circulam amplamente no fluxo contínuo<br />
dos mercados globais espetacularizados.<br />
Esse consumo imaginário (em todos os<br />
sentidos da palavra imaginário) reforma os modos<br />
com que os setores populares se relacionam<br />
com sua própria experiência, com a polí-
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
tica, com a linguagem, com o mercado, com os<br />
ideais de beleza e saúde. Quer dizer: tudo aquilo<br />
que configura uma identidade social.<br />
A escola é uma dest<strong>as</strong> aren<strong>as</strong>, no entanto<br />
“empobrecida material e simbolicamente,<br />
não sabe como fazer para que sua oferta seja<br />
mais atraente do que a da cultura audiovisual”<br />
(FONTENELLE, 2002) .<br />
Enquanto, por um lado, proliferam <strong>as</strong> representações<br />
de crianç<strong>as</strong> e jovens integrados<br />
na condição pós-moderna, familiarizados com<br />
a cibercultura, com mundos e relacionamentos<br />
virtuais, imersos criativamente em nov<strong>as</strong><br />
cultur<strong>as</strong> juvenis, adaptados às form<strong>as</strong> e composições<br />
contemporâne<strong>as</strong> de “vida familiar”,<br />
por outro despontam os bem-sucedidos manuais<br />
para pais e professores, best-sellers que<br />
celebram a retomada da disciplina, da hierarquia<br />
familiar, da definição de limites, d<strong>as</strong> fórmul<strong>as</strong><br />
doméstic<strong>as</strong> e escolares de vigilância sobre<br />
a vida cotidiana de crianç<strong>as</strong> e jovens que<br />
estariam fora de controle.<br />
É relevante destacar em um texto como<br />
este que pretende contemplar uma d<strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong><br />
da conexão entre identidade e currículo,<br />
é a forma como <strong>as</strong> identidades se reconfiguram<br />
face à perda de um cenário que se<br />
manteve estável por longos anos. Vivemos em<br />
um tempo em que novos desenvolvimentos<br />
tecnológicos e culturais, muito especialmente<br />
a mídia, a computação e a internet, tornaramse<br />
organizadores privilegiados da ação e do<br />
significado na vida dos humanos. Essa fantástica<br />
mudança desestruturou <strong>as</strong> instituições<br />
consagrad<strong>as</strong>, subverteu prátic<strong>as</strong> centenári<strong>as</strong><br />
e instalou em seu lugar a incerteza, a provisoriedade<br />
e a imprevisibilidade. A mudança é<br />
radical, <strong>as</strong> conseq Fontenelle (2002uênci<strong>as</strong> são<br />
séri<strong>as</strong> e exigem investimentos na busca de um<br />
novo modo de ser e de fazer escola.<br />
Não poderemos vencer uma competição<br />
contra <strong>as</strong> pedagogi<strong>as</strong> da mídia, tampouco deveremos<br />
fugir amedrontados de nossos alunos<br />
e alun<strong>as</strong>, bem como seria inépcia desqualificar<br />
e desperdiçar noss<strong>as</strong> habilidades e capacidades<br />
para viver num mundo que, concordemos<br />
ou não, parece que está se tornando cada vez<br />
mais pós-moderno. (VORRABER, 2004, p.51)<br />
5.4 O ser cultural e a virtualidade<br />
Estudando C<strong>as</strong>tells (1999), verificamos importantes<br />
transformações que vem ocorrendo<br />
nos processos de construção de novos significados,<br />
de nov<strong>as</strong> identidades e, portanto, de<br />
uma nova cultura.<br />
Identidade é o processo pelo qual um<br />
ator social se reconhece e constrói significado,<br />
principalmente com b<strong>as</strong>e em determinado<br />
atributo cultural, a ponto de excluir uma referência<br />
mais ampla a outr<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> sociais.<br />
A afirmação de identidade não significa<br />
necessariamente incapacidade de relacionarse<br />
com outr<strong>as</strong> identidades ou abarcar toda a<br />
sociedade sob essa identidade.<br />
Numa sociedade pós-industrial, em que<br />
os serviços culturais substituíram os bens materiais<br />
no cerne da produção, é a defesa da<br />
personalidade e cultura do sujeito contra a lógica<br />
dos aparatos e mercados que substitui a<br />
ideia de luta de cl<strong>as</strong>se.<br />
A integração potencial de texto, imagens<br />
e sons no mesmo sistema, interagindo a partir<br />
de pontos múltiplos, no tempo escolhido (real<br />
ou atr<strong>as</strong>ado) em uma rede global, em condições<br />
de acesso aberto e de preço acessível,<br />
muda de forma fundamental o caráter da comunicação.<br />
Como a cultura é mediada e determinada<br />
pela comunicação, <strong>as</strong> própri<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>, isto é,<br />
nossos sistem<strong>as</strong> de crenç<strong>as</strong> e códigos historicamente<br />
produzidos são transformados de maneira<br />
fundamental pelo novo sistema tecnológico.<br />
Enquanto a grande mídia é um sistema<br />
de comunicação de mão-única, o processo<br />
◄<br />
ATIVIDADE<br />
Pesquise, leia e organize<br />
um grupo para debater<br />
sobre o <strong>as</strong>sunto:<br />
no fórum de discussão<br />
Os teletrabalhos,<br />
<strong>as</strong> telecompr<strong>as</strong>, os<br />
telebancos, educação a<br />
distância são sintom<strong>as</strong><br />
do fim d<strong>as</strong> cidades, do<br />
congestionamento, d<strong>as</strong><br />
aglomerações human<strong>as</strong>?<br />
Para Saber Mais<br />
Como combinar nov<strong>as</strong><br />
tecnologi<strong>as</strong> e memória<br />
coletiva,<br />
ciência universal e<br />
cultur<strong>as</strong> comunitári<strong>as</strong>,<br />
paixão e razão?<br />
Figura 13: Filme<br />
Denise está<br />
chamando<br />
Fonte: www..oficinadeimagens.org.br.Acessado<br />
em 22 abr. 2010.<br />
43
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
real de comunicação não o é, m<strong>as</strong> depende da<br />
interação entre o emissor e o receptor na interpretação<br />
da mensagem.<br />
Isto não implica que os meios de comunicação<br />
sejam instituições neutr<strong>as</strong> ou que seus<br />
efeitos sejam negligenciáveis. A mídia é a expressão<br />
de nossa cultura, e nossa cultura funciona<br />
principalmente por intermédio dos materiais<br />
propiciados pela mídia.<br />
A era da informação está introduzindo<br />
uma nova forma urbana, a cidade informacional.<br />
A crescente dissociação entre a proximidade<br />
espacial e o desempenho d<strong>as</strong> funções<br />
rotineir<strong>as</strong>: trabalho, compr<strong>as</strong>, entretenimento,<br />
<strong>as</strong>sistência à saúde, educação, serviços públicos,<br />
governo, significam o fim d<strong>as</strong> cidades?<br />
Para saber mais <strong>as</strong>sista ao Filme “Denise<br />
está chamando”<br />
Cercados de fax, telefones e computadores,<br />
os personagens vivem e se relacionam unicamente<br />
por meio desses aparatos eletrônicos,<br />
criando um grande ciclo de relacionamentos<br />
“virtuais” e dando em uma divertida sátira social<br />
sobre a vida nos grandes centros urbanos.<br />
(1995). Estados Unidos<br />
Diretor: Hal Salwen - roteiro: Harold<br />
Salwen - fotografia: Harold Salwen - montagem:<br />
Edil Giguere - música: Lynn Geller<br />
Referênci<strong>as</strong><br />
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.<br />
COSTA, Marisa Vorraber. Quem são? Que querem? Que fazer com eles? eis que chegam às<br />
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BIGUM, Chris. Alienígen<strong>as</strong> em sala de aula (Trad. Tomaz Tadeu da Silva). Tomaz Tadeu da Silva<br />
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DEBORD, GUY. A Crise civilizacional. Editora Civilização Br<strong>as</strong>ileira. São Paulo, 1997.<br />
HALL. Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG: Representações<br />
da UNESCO no Br<strong>as</strong>il, 2003.<br />
44
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
Resumo<br />
1. A antropologia configura-se pelo enfoque na diversidade cultural. È a percepção da diferença<br />
que permite a constituição da identidade entre nós e os outros.<br />
2. A antropologia institui-se como objeto <strong>as</strong> sociedades dit<strong>as</strong>, nos meados do século XIX,<br />
“primitiv<strong>as</strong>”. Em outros termos, sociedades exteriores ás sociedades européi<strong>as</strong> ou norte<br />
-american<strong>as</strong>.<br />
3. A especificidade teórica da Antropologia não se reduz ás particularidades d<strong>as</strong> “cultur<strong>as</strong> primitiv<strong>as</strong>”.<br />
M<strong>as</strong> envolve <strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong> dimensões do ser humano.<br />
4. Carlos Rodrigues nos provoca a pensar sobre o que é educação exatamente na perspectiva<br />
antropológica: ninguém escapa da educação. Em c<strong>as</strong>a, na rua, na igreja ou na escola, de<br />
um modo ou de muitos outros todos nós envolvemos pedaços da vida com ela.<br />
5. A educação existe de form<strong>as</strong> diferentes em mundos diversos( sociedades tribais, agricultores,<br />
educação em países desenvolvidos, mundos sociais sem cl<strong>as</strong>ses).<br />
6. Na espécie humana a educação não constitui apen<strong>as</strong> o trabalho da vida. Ela se instala dentro<br />
de um domínio propriamente humano de troc<strong>as</strong>: de símbolos, de intenções de padrões<br />
de cultura e de relações de poder.<br />
7. A educação do homem existe por toda partee, muito mais do que a escola, é o resultado<br />
de todo o meio sociocultural sobre seus participantes.<br />
8. A gênese da Antropologia Aplicada a Educação se encontra no âmbito da Antropologia<br />
Cultural norte – Americana, concretamente na Escola de cultura e personalidade liderada<br />
por Francis Bo<strong>as</strong>.<br />
9. Margareth Mead, nos anos 30 do século p<strong>as</strong>sado, procurava entender de que forma os valores,<br />
gestos, atitudes e crenç<strong>as</strong> eram transmitidos pelos adultos a crianç<strong>as</strong> com o objetivo<br />
central de moldá-los para a vida em sociedade.<br />
10. O capital cultural, ampliamente desenvolvido por Pierre Bordieu, seria o acúmulo dos bens<br />
culturais adquiridos ou investidos durante a vida. Seria o investimento em arte, literatura e<br />
imersão no meio de cultura.<br />
11. Em todo o processo educativo encontra-se um modelo de ser humano, de comportamento<br />
e de sociedade. Educar é humanizar, contribuir com a pessoa para que ela reconheça<br />
seus próprios limites e possibilidades.<br />
12. Toda prática educativa, de maneira consciente ou inconsciente, firma-se sobre um conceito<br />
de ser humano e de sociedade.<br />
13. O específico da Antropologia da Educação consiste em criar teori<strong>as</strong> que possam explicar<br />
os fenômenos educativos e contribuir eficazmente com o desenvolvimento pedagógico.<br />
14. No desenvolvimento da pesquisa educativa, podem –se seguir vári<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> que, de modo<br />
geral, obedecem ás grandes correntes filosófic<strong>as</strong> do século XIX e início do século XX: positivismo,<br />
fenomenologia e dialética.<br />
15. O multiculturalismo na educação merece um olhar antropológico e um viés crítico, pois<br />
a sensibilidade para a pluralidade nos espaços de formação humana tem que acontecer<br />
com a redução de preconceitos e discriminações.<br />
16. As instituições podem auxiliar <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> a valorizar a cultura, seu corpo, seu jeito de ser,<br />
ou pelo contrário, favorecer a discriminação quando silenciam diante da diversidade e da<br />
necessidade de realizar abordagens de forma positiva.<br />
45
UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />
17. Os silêncios, os ritos, o currículo, a forma de organização escolar, os tempos e espaços escolares,<br />
<strong>as</strong> linguagens que perp<strong>as</strong>sam a noss<strong>as</strong> atuações docentes produzem menin<strong>as</strong> e<br />
meninos e perpetuam relações desiguais entre el<strong>as</strong> e eles.<br />
18. O novo complexo cultural representado pela combinação entre cultura popular ( nos chamados<br />
meios de comunicação de m<strong>as</strong>sa) e <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong> de comunicação estão<br />
produzindo uma transformação radical nos processos de produção de subjetividade e de<br />
identidades sociais.<br />
19. O currículo é o espaço onde se corporificam form<strong>as</strong> de conhecimento e de saber. Como<br />
tal, o desc<strong>as</strong>o pel<strong>as</strong> radicais transformações efetuad<strong>as</strong> na produção da subjetividade pel<strong>as</strong><br />
nov<strong>as</strong> mídi<strong>as</strong> demonstrado pela escola e pelos educadores profissionais, significa deixar<br />
de fora desse espaço form<strong>as</strong> importantes de conhecimento e de saber, que, no entanto, á<br />
contracorrente da escola, estão, na realidade, moldando e formando nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de existência<br />
e sociabilidae.<br />
20. Crianç<strong>as</strong>, jovens, mulheres, negros, idosos, docentes, surdos etc, são exemplos de identidades<br />
recriad<strong>as</strong> e reinventad<strong>as</strong> de múltipl<strong>as</strong> form<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> variad<strong>as</strong> narrativ<strong>as</strong> que p<strong>as</strong>sam a<br />
circular de forma planetária, fazendo aparecer novos atores sociais<br />
46
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
Referênci<strong>as</strong><br />
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48
Pedagogia - Antropologia e Educação<br />
Atividades de<br />
aprendizagem - AA<br />
1) Qual o objeto de estudo da Antropologia Social e Cultural?<br />
2) O que contr<strong>as</strong>ta o paradoxo da unidade biológica do homem?<br />
3) O que é etnografia?<br />
4) Qual forma de intervenção em educação que merece um olhar antropológico e um viés crítico,<br />
levando em conta a sensibilidade para a pluralidade nos espaços de formação humana com a<br />
intenção de reduzir preconceitos e discriminações?<br />
5) Qual o ramo da Antropologia que estuda <strong>as</strong> língu<strong>as</strong> (a linguagem) como expressão de valores,<br />
preocupações, idei<strong>as</strong> pensamentos, enfim como a produção cultural e ao mesmo tempo como<br />
produto da cultura?<br />
6) A Antropologia social e cultural estuda <strong>as</strong> sociedades human<strong>as</strong>, evitando o julgamento de caráter<br />
etnocêntrico. Explica o que isso significa.<br />
7) No estudo d<strong>as</strong> sociedades “primitiv<strong>as</strong>” contemporâne<strong>as</strong>, qual método a Antropologia social e<br />
cultural aplicou desde cedo?<br />
8) A Antropologia social e cultural estuda <strong>as</strong> sociedades human<strong>as</strong>, evitando o julgamento de caráter<br />
etnocêntrico. Explique essa afirmação.<br />
9) O que é Etnocentrismo?<br />
10) As diferenç<strong>as</strong> físic<strong>as</strong>, _______________________________ são um fato, m<strong>as</strong> não o foco da<br />
discussão.<br />
( ) étnic<strong>as</strong>, culturais, de gênero, etári<strong>as</strong>.<br />
( ) etári<strong>as</strong>, sociais, de geração, etári<strong>as</strong>.<br />
( ) Intergeracional, convencional, de gênero, etári<strong>as</strong>.<br />
( ) cultural, de gênero, etári<strong>as</strong>, convencional.<br />
49