04.09.2015 Views

Download this publication as PDF - CEAD - Unimontes

Download this publication as PDF - CEAD - Unimontes

Download this publication as PDF - CEAD - Unimontes

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

UAB/<strong>Unimontes</strong> - 1º Período<br />

42<br />

Uma pequena reportagem na Folha de<br />

São Paulo contava sobre esta nova febre, cujo<br />

nome refere-se ao desenho animado/jogo de<br />

cart<strong>as</strong>/videogame japonês que se transformara<br />

em polêmica - acusado de “coisa do demônio”<br />

- no programa de televisão de Gilberto<br />

Barros, na Bandeirantes. Há escol<strong>as</strong> desenvolvendo<br />

projeto para fazer frente à inv<strong>as</strong>ão dos<br />

Yu-Gi-Ohs, no qual <strong>as</strong> tais cart<strong>as</strong> com imagens<br />

representando demônios orientais são substituíd<strong>as</strong><br />

por tópicos humanist<strong>as</strong>, retirados do Estatuto<br />

da Criança e do Adolescente.<br />

Se os cards concentraram temporariamente<br />

a preferência dos meninos, <strong>as</strong> bonec<strong>as</strong> da linhagem<br />

Barbie, fabricada pela gigante Mattel,<br />

há mais de trinta anos vêm embalando os sonhos<br />

d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong> do Br<strong>as</strong>il e do mundo inteiro<br />

como modelo de mulher – adulta, sensual,<br />

charmosa, moderna, arrojada, independente,<br />

feminista. Milhões de menin<strong>as</strong> entre três e dez<br />

anos aprendem com a boneca lições para ser<br />

uma mulher bem-sucedida. Contudo, a pedagogia<br />

Barbie, <strong>as</strong>sentada, segundo seus críticos,<br />

sobre consumismo, futilidade e competição,<br />

faz da boneca um brinquedo perigoso, seja<br />

pelos valores que dissemina, seja por seu inegável<br />

sucesso em promover a identificação d<strong>as</strong><br />

menin<strong>as</strong> com seu universo existencial.<br />

Assim como os Yu-Gi-Ohs e <strong>as</strong> Barbies,<br />

inúmeros artefatos da cultura contemporânea,<br />

especialmente da cultura popular midiática,<br />

moldada, como sabemos, por forç<strong>as</strong> polític<strong>as</strong>,<br />

econômic<strong>as</strong>, sociais e culturais, têm não só<br />

invadido a escola como disputado com ela o<br />

espaço pedagógico. A indústria do entretenimento<br />

não se restringe a fazer circular mercadori<strong>as</strong>,<br />

ela protagoniza uma pedagogia cultural<br />

regida por poderos<strong>as</strong> dinâmic<strong>as</strong> comerciais,<br />

<strong>as</strong>sentad<strong>as</strong> sobre estética e prazer, que se impõem<br />

sobre <strong>as</strong> vid<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> e públic<strong>as</strong> de<br />

crianç<strong>as</strong>, jovens e adultos.<br />

Em outro departamento da cena escolar,<br />

podemos testemunhar, outra vez, a força d<strong>as</strong><br />

corporações empresariais nessa modelagem.<br />

Batata frita, salgadinho, hambúrguer e refrigerante<br />

têm sido os alimentos preferidos da população<br />

jovem escolar, em detrimento de uma<br />

merenda balanceada e nutritiva. Amplamente<br />

difundidos, os maus hábitos alimentares que<br />

vêm <strong>as</strong>solando a população mundial - principalmente<br />

crianç<strong>as</strong> e jovens -, dobrando o número<br />

de obesos, são incentivados por campanh<strong>as</strong><br />

promocionais que, não raro, potencia<br />

Além disso, a maior parte de tais guloseim<strong>as</strong><br />

está <strong>as</strong>sociada a desenhos animados, seriados<br />

de sucesso, grupos musicais etc. Salvo<br />

rar<strong>as</strong> exceções, <strong>as</strong> cantin<strong>as</strong> escolares são uma<br />

fulgurante vitrine desses produtos destituídos<br />

de valor nutricional, m<strong>as</strong> investidos de significados<br />

simbólicos que os tornam altamente desejáveis.<br />

Como nos alerta a pesquisa de Isleide<br />

Fontenelle (2002) sobre a McDonald´s, quem<br />

come um Big Mac ingere uma combinação<br />

complexa de valores, desejos, estilo de vida<br />

e padrão universal de gosto, embalados pelo<br />

nome da marca. Em sua vida cotidiana, jovens<br />

e crianç<strong>as</strong> são submetidos ao f<strong>as</strong>cínio e aos<br />

apelos estéticos consubstanciados em narrativ<strong>as</strong><br />

que empreendem uma verdadeira cruzada<br />

para a mercantilização de objetos, imagens e<br />

toda a sorte de artefatos consumíveis. Bem à<br />

propósito, poderíamos afirmar que no mundo<br />

que Guy Debord (1997) batizou de sociedade<br />

do espetáculo, pão e circo se confundem.<br />

Parte considerável d<strong>as</strong> análises contemporâne<strong>as</strong><br />

tem ressaltado enfaticamente <strong>as</strong><br />

subjetividades como objeto de sujeição e disciplina.<br />

Na escola e na família, parece que têm<br />

surgido linh<strong>as</strong> de fuga, m<strong>as</strong> é muito difícil escapar<br />

do que poderíamos denominar “subjetivação<br />

cultural”, algo mais ou menos fortuito<br />

em termos de endereçamento, m<strong>as</strong> que atinge<br />

a todos nós, de vári<strong>as</strong> form<strong>as</strong>, em praticamente<br />

tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> esfer<strong>as</strong> de nossa existência hoje em<br />

dia. Isto porque <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> de subjetivação<br />

escolares, familiares e religios<strong>as</strong> requerem, em<br />

grande parte, renúncia, abnegação, provação<br />

e obediência.<br />

A subjetivação cultural, por sua vez, reveste-se<br />

qu<strong>as</strong>e sempre de peculiaridades que<br />

acionam o lúdico, a f<strong>as</strong>cinação, o deleite, ou<br />

seja, somos subjetivados na fruição e no prazer,<br />

ou na expectativa destes; nesses c<strong>as</strong>os, parece<br />

que não há resistência.<br />

Assim, não podemos esquecer que os sujeitos<br />

do currículo são, antes de tudo, <strong>as</strong> subjetividades<br />

forjad<strong>as</strong> em uma cultura regida pelos<br />

apelos do mercado. As regr<strong>as</strong>, estratégi<strong>as</strong> e<br />

o modus operandi d<strong>as</strong> sociedades neoliberais<br />

de economi<strong>as</strong> globalizad<strong>as</strong> articulam-se caprichosamente<br />

para fabricar um cliente.<br />

Um olhar mais atento nos mostrará, também,<br />

a expansão de um contingente de cidadãos<br />

de “segunda cl<strong>as</strong>se” – crianç<strong>as</strong>, jovens e<br />

adultos pobres, trabalhadores eventuais, subempregados,<br />

desempregados, não empregáveis<br />

- que, segundo a lógica do capitalismo<br />

tardio, não podem ficar de fora do circuito do<br />

consumo. Mesmo que não estejam habilitados<br />

a adquirir mercadori<strong>as</strong> de primeira linha, inventam-se<br />

categori<strong>as</strong> a eles adaptad<strong>as</strong> - réplic<strong>as</strong>,<br />

versões barat<strong>as</strong> de objetos de consumo desejados<br />

–, que circulam amplamente no fluxo contínuo<br />

dos mercados globais espetacularizados.<br />

Esse consumo imaginário (em todos os<br />

sentidos da palavra imaginário) reforma os modos<br />

com que os setores populares se relacionam<br />

com sua própria experiência, com a polí-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!