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A Blogosfera policial no Brasil: do tiro ao twitter ... - Marcos Rolim

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32SÉRIE <strong>Debates</strong> <strong>CI</strong> A Blogosfera policial no Brasil: do tiro ao Twitterarmas. Fiquei um mês e meio trabalhando semarmas. Cheguei a fazer escolta de preso, desarmado.Foi naquela mesma delegacia de Pedregulho quenasceu o que é considerado o primeiro blog dablogosfera policial, em junho de 2004.Nós ganhamos um ponto de internet e começamosa ter e-mail. Começou a onda do ICQ, de trocarmensagens. Nos fins de semana, eu ficava 24 horas,48 horas de plantão sozinho na delegacia, semninguém naquele prédio gigante. Eu com um mêsna polícia, e a delegacia ficava sob minha responsabilidade,o delegado só aparecia quando tinhacoisa mais grave e a gente ligava pra ele.A internet era a grande distração daquelas horassolitárias.Comecei a fazer amigos pelo ICQ, bater papo.Foi assim que conheci a Olívia, minha atualesposa. Ela é escritora de romances policiais, eume interessei pelas coisas que ela escrevia, ela memandava. Eu tinha algumas coisas escritas também,mandei para ela e ela me perguntou: ‘Por quevocê não abre um blog? Em vez de guardar coisasna gaveta e correr o risco de perder, você colocano blog’.Em julho de 2004, Roger criou o seu primeiro blog,chamado de Hollow Point – o nome em inglês dasbalas dundum, aquelas que se fragmentam ao atingiro alvo. Depois de cinco meses, Franchini foichamado a participar de um condomínio de blogschamado Verbeat (www.verbeat.org). Era precisomudar de publicador para participar do site, e Rogerdecidiu mudar também o nome do blog, adotandoo título Cultcoolfreak. Escreveu o primeiro post donovo blog em 31 de dezembro de 2004.Eu não tinha nenhuma pretensão de que seriaum blog sobre segurança pública, policial. Eu nãotinha audiência nenhuma, ninguém lia aquilo. Eufalava do dia a dia na delegacia, falava dos meusavós, da morte do Marlon Brando... Era um diáriopessoal, simples, falava do meu café da manhã, daroupa que não estava passada e ao mesmo tempode quando fui cumprir um mandado de busca e asenhora da casa nos recebeu bem, nos serviu café,queijo. Era meio cult, meio freak. Achei que era sonoro.Foram as informações sobre o cotidiano dasdelegacias as que atraíram a audiência. “As pessoascomeçaram a se interessar porque viram queera a rotina de um investigador. O Ale [AlexandreSouza, criador do blog Diário de Um PM] foi umdos primeiros que leu o blog e achou ótimo”. Umdos espaços de divulgação era a comunidade daPolícia Civil no Orkut, da qual Roger fazia parte.Investigadores policiais começaram a falar dosmeus posts, lembra Roger. Um caso em especialchamou a atenção: “Teve uma discussão muitogrande sobre um post que fiz quando ouvi norádio um policial pedindo ajuda. A pessoa estavamorrendo na frente dele e ele chamava a Central,pedindo que mandasse o resgate. A Central nãorespondia, ficava muda. Ele chamou várias vezes,e aí fez silêncio. Aí ele disse, ‘CPol, cancela o resgatee manda um carro apanhar o cadáver,porque a pessoa morreu.’ Eu achei isso chocante,e coloquei a história no blog. Isso deu uma repercussãono Orkut, disseram que não era verdade,queriam saber onde o caso tinha acontecido,acionar a corregedoria.O post atraiu comentários agressivos.Um delegado disse que eu era mentiroso, quenão trabalhava para a mesma polícia que eu trabalho.Depois ele me enchia o saco, me chamavade X-9, de cagueta. Primeiro dizia que eu não erapolicial, depois começou a escrever coisas ofensivassobre posts.A repercussão moldou o blog.Aos poucos fui mudando o perfil do meu blog.Percebia que as pessoas queriam ler histórias dapolícia, ficavam revoltadas com a situação em queo policial se encontrava. Ele deixou de ser uma coisatão pessoal para ter uma atuação mais intensa.Uma nova mudança coincidiu com a saída de Rogerda Polícia Civil, em dezembro de 2008. A baixa foicausada por um episódio que ocorreu em outubrode 2007, quando o apresentador Luciano Huck, daTV Globo, publicou um artigo no jornal Folha de S.Paulo sobre o roubo de seu relógio Rolex na capitalpaulista. “Huck supostamente teve o relógio roubadoe estava bravo com a Polícia paulista, diziaque ela não fazia nada e ainda brincava: ‘Chama oCapitão Nascimento que ele vai resolver isso’.“,lembra Roger.O artigo de Huck falava do assalto e de outrasocorrências que haviam atingido conhecidos seus

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