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A Blogosfera policial no Brasil: do tiro ao twitter ... - Marcos Rolim

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e indagava: “Onde está a polícia? Onde está a‘Elite da Tropa’? Quem sabe até a ‘Tropa de Elite’!Chamem o capitão Nascimento! Está na hora dediscutirmos segurança pública de verdade”Roger mandou para o jornal um e-mail em quediz ter usado “a mesma ironia de Luciano Huck”:Os policiais que estão na linha de frente do combateao crime (todos os que não são delegadosou oficiais da PM), sabemos onde está o ‘rolexroubado’ do Luciano Huck – metáfora para ograal da segurança pública brasileira.Mas não vou trocar tiro com bandidos recebendoum salário base de R$ 568,29 ao mês (e agora semo ticket alimentação de R$ 80,00 que nos foi retiradoem agosto de 2007).Prefiro correr risco no bico para sustentar meus filhos.Se Huck não está feliz conosco, pode entrar parao movimento CANSEI e cobrar do governadorSerra o motivo do PSDB ter tanta raiva da políciapaulista e mantê-la na miséria há 14 anos.Eu queria fazer minha inscrição lá, mas será queaceitam um policial sem dinheiro?Roger FranchiniO caso teve uma repercussão inesperada paraRoger. “A Folha de São Paulo fez uma leitura deturpada,a gente não espera que um jornalista nãocompreenda uma ironia. Colocou em manchete:‘Policial diz que sabe onde está rolex de Huck, masnão vai atrás’”, lamenta o blogueiro. “Foram atrásda polícia para saber quem era o Roger, entrevistaramo meu chefe”. A Polícia Civil reagiu no mesmotom. Abriu um inquérito para investigar Rogerpelo crime de prevaricação e o delegado-corregedorFrancisco Campos declarou: “Se ele sabe ondeestá o rolex do Huck, deveria apreender o materialou comunicar a seus superiores onde ele está”.Roger lembra o caso com amargura.Foi uma coisa kafkiana. Tive de explicar para odelegado o que era uma metáfora, de maneirabem didática. Ele abriu um Aurélio na minhafrente para saber se eu tinha razão. Só eu serinvestigado em inquérito, o meio usado contrabandidos, foi uma humilhação.O caso, que foi destaque em revistas e jornaisnacionais, acabou sendo arquivado pelo MinistérioPúblico. A promotora designada para o processoconsiderou que o inquérito era um atentado contrao estado de direito e que o investigador tinhausado o direito de expressão. “Graças a Deus caiuna mão de alguém que sabe ler”, comenta Roger.O policial saiu do episódio com a convicção deque não teria mais ambiente para trabalhar naPolícia Civil. Pediu exoneração e aproveitou o fatode ter sido apro-vado na prova da OAB para finalmenteexercer a profissão de advogado. Por umtempo, deixou o blog.Foi um trauma tão grande aquela história.Acordei com três policiais na minha casa para meconduzir para a corregedoria. Pensei: Se porcausa de uma merdinha de 13 linhas tinha havidoum bafafá, poderiam me enforcar pelo blog’.A página ficou três meses suspensa. “Só voltouà normalidade depois da publicação da minhasaída no Diário Oficial. Porque, caso quisessemcensurá-lo, seria mais fácil me defender.Ao sair da corporação, Roger não deixou deescrever sobre questões de segurança pública esobre a polícia. Voltou decidido a expor a truculênciado governo estadual contra os servidores públicosque não concordam com as suas diretrizes.“Eu me sinto um espécie de porta-voz dos policiaiscivis paulistas”. O tom da página também mudou.A partir da saída, me senti mais livre para falarda polícia. Hoje é o mesmo blog, mas está maisprofundo. Antes era mais virulento, irônico. Hojeconsigo fazer mais análise, tenho referênciasbibliográficas mais ricas. Noto que com a militânciana advocacia, o contato com a jurisprudência,parti para a análise técnica dos fatos – decisõesjudiciais, o papel do policial...Sobre o seu pioneirismo, Roger diz:Eu não gosto de chamar responsabilidade paramim, dizendo que fui criador de alguma coisa.A blogosfera foi se desenvolvendo, foi nascendocoletivamente, gradualmente. Os blogs iriam nascersozinhos, mesmo que um não soubesse daexistência do outro.Isso, diz ele, é porque aPolícia Civil de São Paulo é uma fábrica de loucose oprimidos. Obriga a pessoa fazer coisa que nãoconcorda e não gosta e não deixa que falem com maisninguém. Os blogs são uma válvula de escape.33SÉRIE <strong>Debates</strong> <strong>CI</strong> A Blogosfera policial no Brasil: do tiro ao Twitter

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