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ESTUDO DA FORMAÇÃO DE MINERAIS

Formação dos minerais 2006.pdf - geomuseu

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RECURSOS GEOLÓGICOS<br />

<strong>ESTUDO</strong> <strong>DA</strong> <strong>FORMAÇÃO</strong> <strong>DE</strong><br />

<strong>MINERAIS</strong><br />

CARACTERIZAÇÃO DOS AMBIENTES E PROCESSOS <strong>DE</strong> <strong>FORMAÇÃO</strong><br />

2º ANO ENG. GEOLÓGICA E <strong>DE</strong> MINAS – 2008<br />

1


<strong>ESTUDO</strong> <strong>DA</strong> <strong>FORMAÇÃO</strong> <strong>DE</strong> <strong>MINERAIS</strong><br />

Índice<br />

1.Introdução<br />

2.Termometria Geológica<br />

2.1 Medições directas<br />

2.2 Pontos de Fusão<br />

2.3 Pontos de Inversão<br />

2.4 Dissociações<br />

2.5 Exsudações<br />

2.6 Alteração das Propriedades Físicas<br />

2.7 Recristalizações<br />

2.8 Inclusões Fluidas<br />

2.9 Minerais Indicadores de Temperatura<br />

2.10 Isótopos estáveis<br />

3.Formação dos Minerais<br />

3.1 Cristalização dos Magmas<br />

3.2 Sublimação<br />

3.3 Destilação<br />

3.4 Evaporação e Sobressaturação<br />

3.5 Reacções de gases sobre outros gases, líquidos ou sólidos<br />

3.6 Reacções de líquidos sobre outros líquidos ou sólidos<br />

3.7 Precipitação por Bactérias<br />

3.8 Deposição Coloidal<br />

3.9 Metamorfismo<br />

3.10 Deposição em espaços abertos e substituição metassomática<br />

3.10.1 Precipitação em espaços abertos<br />

3.10.2 Substituição metassomática<br />

4. Estabilidade dos Minerais<br />

4.1 Condições da alteração e tipos<br />

4.2 Alteração Deutérica<br />

5. Bibliografia<br />

2


Estudo da formação de minerais<br />

1.Introdução<br />

O estudo dos jazigos minerais baseia-se, fundamentalmente, na paragénese<br />

e na sucessão dos minerais que o constituem; como se viu, são estas duas<br />

características intrínsecas a considerar em primeiro lugar na caracterização<br />

de qualquer jazigo mineral. Impõe-se, portanto, estudar os minerais em si e<br />

nas respectivas associações naturais antes do estudo dos jazigos.<br />

A formação de qualquer mineral e mesmo de qualquer associação mineral é<br />

caracterizada pela temperatura e pressão ambiente em que se originou.<br />

Todavia, aqueles factores físicos podem variar entre limites latos para uma<br />

espécie mineral e mais latos ainda para uma dada paragénese. Outro<br />

aspecto essencial na formação de um mineral é a presença dos “nutrientes”<br />

necessários à sua formação (quais os elementos químicos presentes e quais<br />

as respectivas quantidades disponíveis no ambiente?).<br />

Quanto ao último aspecto, a presença de determinados elementos químicos<br />

depende, essencialmente, de três factores:<br />

- da origem: magmática juvenil, magmática por fusão de rochas préexistentes,<br />

da lixiviação de rochas, de desagregação mecânica<br />

- do transporte: sem transporte (autóctones) e com transporte (alóctones)<br />

- do mecanismo de concentração: físico, químico, mecânico ou misto<br />

A temperatura de formação dos minerais deve variar entre mais de 1200 ºC e<br />

poucas dezenas de graus negativos, e a pressão, provavelmente, entre<br />

20000 atmosferas e a pressão à superfície da Terra (Ramdohr in Freund,<br />

1966 p. 203).<br />

Se estas condições físicas podem ser reproduzidas de modo satisfatório no<br />

laboratório, está-se porém longe de reproduzir todas as associações<br />

paragenéticas e muito menos tirar conclusões sobre o modo como aquelas<br />

determinam a formação das associações naturais. Não obstante estas<br />

limitações, a temperatura de formação dos minerais e das respectivas<br />

associações pode ser inferida, frequentemente, com certa precisão por meio<br />

dos chamados termómetros geológicos que podem basear-se em medidas<br />

directas, pontos de fusão e de inversão, dissociações e exsudações,<br />

alteração de propriedades físicas, recristalizações e inclusões fluidas.<br />

Todas as interpretações baseadas nestes fenómenos têm de se revestir de<br />

enorme cuidado visto serem facilmente susceptíveis de erro. Daí o ser<br />

preferível, frequentemente, fazer-se simplesmente ideia da temperatura<br />

aproximada de formação das associações minerais pela identificação dos<br />

chamados minerais tipomórficos ou indicadores de temperatura e de<br />

texturas tipomórficas.<br />

3


Este último procedimento, embora seja mais prudente e deva ser seguido<br />

quando não se tenha suficiente experiência para recorrer aos termómetros<br />

geológicos, deve também ser seguido com cuidado, principalmente quando<br />

se trate de paragéneses raras.<br />

O significado termométrico dos minerais tipomórficos será tanto mais preciso<br />

ou convincente quanto mais numerosos forem numa dada paragénese.<br />

Não menos importante que a influência da temperatura e da pressão é<br />

processo de formação dos minerais. Não obstante este se processe sob a<br />

influência directa daquelas, um mesmo processo pode originar minerais<br />

dentro duma gama vasta de temperatura e pressões.<br />

Se interessa o estudo das condições de formação dos minerais, interessa<br />

também conhecer o respectivo domínio de estabilidade, visto este ser muito<br />

variável de mineral para mineral.<br />

O processo de formação e as condições de temperatura e pressão em que se<br />

originaram os minerais ficam, por assim dizer, impressos na respectiva<br />

textura e estrutura que, por isso, têm tão grande importância no estudo dos<br />

jazigos minerais.<br />

2.Termometria Geológica<br />

2.1 Medições directas<br />

Este método só é aplicável às lavas, fumarolas e nascentes quentes; dá<br />

indicação sobre as temperaturas máximas a que se podem ter formado os<br />

minerais constituintes das lavas e os originados pelas fumarolas e nascentes<br />

quentes e que se depositaram nas cavidades por onde os gases e as águas<br />

brotam à superfície da Terra ou nas proximidades imediatas.<br />

Para as lavas basálticas têm-se registado temperaturas superiores a 1300 ºC<br />

que diminuem, todavia, com o aumento da acidez das lavas.<br />

Os trabalhos de T. A. Jager, em Kilauea (Havai), provaram que aquelas<br />

temperaturas elevadas (1350 ºC) só se verificavam à superfície da lava<br />

líquida, através da qual se escapavam gases em combustão; cerca de um<br />

metro abaixo daquela superfície, a temperatura das mesmas lavas baixava<br />

para 850 e 750 ºC (Shand, 1943, p.68). Mesmo a estas temperaturas mais<br />

baixas, porém, a cristalização da lava já se pode ter iniciado como mostra o<br />

facto de se terem encontrado cristais, bem desenvolvidos, de augite e de<br />

leucite em lavas perfeitamente fluidas do Vesúvio.<br />

Minerais tais como a cromite, quando segregada em magmas básicos,<br />

devem cristalizar dentro do intervalo de temperaturas correspondente à<br />

formação das rochas básicas.<br />

4


Para os gases das fumarolas têm-se registado temperaturas desde cerca de<br />

650 ºC até 100 ºC e, por vezes menos, consoante as relações entre as<br />

fumarolas e as erupções vulcânicas.<br />

Assim, as indicações termométricas destas são talvez ainda menos precisas<br />

que as das lavas. Os minerais que se têm apontado como produtos<br />

sublimados das fumarolas são bastante variados e compreendem magnetite,<br />

pirrotite, pirite, galena, leucite, augite, etc.<br />

As águas termais apresentam à superfície temperaturas que vão até à do<br />

ponto de ebulição da água e, relacionadas com elas, observam-se depósitos<br />

de opala, gesso, cinábrio, antimonite, enxofre, etc.<br />

As observações directas de temperaturas não oferecem, portanto, grandes<br />

possibilidades como termómetros geológicos; todas fornecem, como se<br />

disse, valores que têm de ser considerados máximos e cuja correcção não é<br />

simples.<br />

2.2 Pontos de Fusão<br />

Este método baseia-se na determinação laboratorial dos pontos de fusão dos<br />

minerais; dá, portanto, valores máximos ou seja o limite superior do intervalo<br />

de temperaturas a que se podem ter formado os minerais.<br />

Deve atender-se a que os minerais, na natureza, se formam a partir de<br />

fluidos complexos, em que a presença de substâncias diversas dissolvidas e<br />

de outras voláteis deve acarretar um abaixamento dos pontos de fusão; a<br />

pressão deve exercer também uma certa influência, embora menos<br />

importante tanto mais que no estudo dos sistemas químicos naturais se tem<br />

de considerar mais intervalos de fusão do que pontos de fusão.<br />

Na prática, a utilização dos pontos de fusão também não se tem revelado de<br />

grande interesse, dado que os minerais têm, em regra, temperaturas de<br />

fusão mais elevadas que as respectivas temperaturas de formação e não<br />

sofreram fusão durante o processo de formação dos respectivos jazigos.<br />

2.3 Pontos de Inversão<br />

O método que se baseia nos pontos de inversão, isto é, na passagem de<br />

uma fase a outra, quimicamente idêntica mas cristalograficamente distinta<br />

(formas polimórficas) é de utilização mais generalizada porque a influência da<br />

pressão é bastante mais reduzida e muitas inversões verificam-se a<br />

temperaturas bem definidas e referenciáveis com relativa facilidade.<br />

Uma das inversões mais conhecidas e importantes é a do quartzo β<br />

(hexagonal, classe trapezoédrica) em quartzo α (romboédrico, classe<br />

trapezoédrica trigonal) que se verifica a 573 ºC.<br />

Alguns sulfuretos apresentam, semelhantemente, inversão entre duas formas<br />

polimórficas, que se dá a temperatura mais ou menos bem definida. No caso<br />

5


em que ao mineral de alta temperatura, sempre de simetria mais elevada,<br />

corresponde simetria cúbica, o exame da anisotropia pode dar indicações<br />

sobre a temperatura de formação. Assim, se o mineral apresenta anisotropia<br />

uniforme é porque se formou abaixo da temperatura de inversão e se, pelo<br />

contrário, apresenta anisotropia irregular é porque se formou acima daquela.<br />

2.4 Dissociações<br />

Este método baseia-se no estudo dos minerais que a dada temperatura<br />

libertam constituintes voláteis, como sejam os zeólitos em relação à água de<br />

constituição; porém, a temperatura destas dissociações é fortemente<br />

influenciada pela pressão. Fornece, pois, indicações sobre a temperatura<br />

máxima de formação dos minerais.<br />

2.5 Exsudações<br />

Baseia-se este método naqueles minerais que originam soluções sólidas que,<br />

a determinadas temperaturas mais baixas, deixam de ser estáveis, dando-se<br />

a separação dos constituintes da solução sólida com consequente formação<br />

de texturas de exsudação. Este método dá a temperatura inferior do intervalo<br />

de formação da solução sólida, isto é, o limite inferior do domínio de<br />

estabilidade desta; deve notar-se, todavia, que nem sempre é fácil determinar<br />

as texturas devidas realmente a fenómenos de exsudação e que a<br />

temperatura de exsudação varia com a concentração do material dissolvido.<br />

Um exemplo típico deste fenómeno é a exsudação da calcopirite na blenda<br />

que se dá a 550 ºC.<br />

A interpretação das texturas de exsudação baseia-se sobretudo em<br />

experiências laboratoriais e dada a frequência com que se observam aquelas<br />

a respectiva importância como termómetros geológicos aumentará<br />

certamente com o desenvolvimento das experiências laboratoriais.<br />

2.6 Alteração das Propriedades Físicas<br />

Alguns minerais sofrem modificações, facilmente reconhecíveis, de certas<br />

propriedades físicas sob a influência da temperatura. É o caso, por exemplo,<br />

dos halos pleocróicos da biotite que são destruídos a 480 ºC, do quartzo<br />

fumado e ametista que perdem a cor entre 240 e 260 ºC, o mesmo<br />

acontecendo com a fluorite a cerca de 175 ºC.<br />

Estas observações fornecem, portanto, indicações sobre a temperatura<br />

máxima de formação dos minerais.<br />

2.7 Recristalizações<br />

Este método baseia-se na propriedade que têm alguns minerais de sofrerem<br />

recristalizações a temperaturas particulares. Aplica-se sobretudo aos<br />

elementos nativos, permitindo distinguir se são de origem supergénica ou<br />

hipogénica.<br />

6


2.8 Inclusões Fluidas<br />

O fundamento deste método (no momento da sua formação cada cavidade<br />

encontra-se completamente preenchida por uma só fase, fluida, surgindo a<br />

fase gasosa durante o arrefecimento por retracção) foi estabelecido há mais<br />

de um século por Sorby, mostrando que a temperatura de formação dos<br />

cristais podia ser deduzida da concentração sofrida pelos fluidos inclusos nas<br />

cavidades dos cristais, supondo-se que tais fluidos teriam primitivamente<br />

preenchido de modo total as cavidades que os encerram.<br />

As temperaturas de formação dos cristais são determinadas aquecendo os<br />

cristais até que a dilatação do fluido provoque a decrepitação daqueles, daí o<br />

chamar-se a este método, também, decrepitação.<br />

Por vezes, tais inclusões fluidas mostram pequenos cristais de sais; o estudo<br />

da temperatura de formação destes cristais do fluido das inclusões, também<br />

tem sido utilizado para a determinação da temperatura mínima a que teriam<br />

sido encerradas as inclusões fluidas.<br />

Este método tem sido estudado em profundidade nos últimos anos e a<br />

respectiva aplicabilidade é, em princípio, muito simples pois só exige um<br />

microscópio equipado com platina de aquecimento. Na prática, no entanto,<br />

apresenta dificuldades pelo que diz respeito à introdução de uma correcção<br />

para o factor pressão e na distinção entre inclusões primárias e secundárias.<br />

Na verdade, tem que se ter em conta que nem todas as inclusões<br />

correspondem a inclusões contemporâneas da formação do mineral que as<br />

inclui e que, por vezes, são susceptíveis de deslocamento ao longo de<br />

alinhamentos estruturais dos cristais, movendo-se de vacúolo para vacúolo.<br />

Não obstante estas dificuldades, o método tem vindo a generalizar-se e a<br />

tornar-se preponderante no estudo térmico da formação dos jazigos minerais.<br />

Exige, contudo, que as observações incidam sobre amostras bem<br />

referenciadas quanto à geometria e história dos respectivos jazigos.<br />

2.9 Minerais Indicadores de Temperatura<br />

Além dos termómetros geológicos, baseados nos fenómenos e determinados<br />

pelos métodos referidos, recorre-se com muita frequência aos chamados<br />

minerais tipomórficos ou indicadores de temperatura que, embora constituam<br />

por assim dizer termómetros geológicos grosseiros, podem ser de grande<br />

auxílio desde que a respectiva utilização seja criteriosa.<br />

São minerais indicadores de temperatura aqueles que se formam a<br />

temperatura conhecida ou aqueles que ocorrem com certa constância<br />

associados a minerais reconhecidos como de alta, média ou baixa<br />

temperatura de formação. Estes últimos são chamados minerais<br />

termométricos auxiliares.<br />

7


Deve ter-se em atenção que um mineral de alta temperatura pode aparecer<br />

associado a minerais de baixa temperatura devido a condições anormais de<br />

formação e vice-versa. Assim, por exemplo, a pirrotite, mineral característico<br />

de alta temperatura, pode formar-se em certas circunstâncias a baixa<br />

temperatura.<br />

É, portanto, indispensável o maior cuidado com a atribuição de uma dada<br />

gama de temperaturas a uma certa associação mineral e a validade de uma<br />

tal atribuição depende mais da convergência de toda uma série de<br />

observações que simplesmente da presença de tais ou tais minerais. É<br />

necessário ter em conta os possíveis termómetros geológicos, os dados<br />

experimentais e o ambiente geológico do jazigo para que as considerações<br />

térmicas se reconheçam de interesse.<br />

No Quadro 1 apresentam-se os minerais tipomórficos mais comuns,<br />

ordenados tentativamente segundo temperaturas decrescentes de formação<br />

(Bateman, 1950, p.40).<br />

2.10 Isótopos Estáveis<br />

A composição (ou a distribuição da composição) isotópica de determinados<br />

minérios, em particular do S na pirite, é utilizada frequentemente para estimar<br />

ambientes de formação, sob o ponto de vista do processo ou da termometria,<br />

de determinados jazigos; é o caso dos jazigos da Faixa Piritosa Ibérica (FPI),<br />

onde já existem centenas de medições isotópicas (δ 34 S - % o ) efectuadas na<br />

pirite, calcopirite, blenda e barita. Na FPI, os resultados permitem distinguir<br />

jazigos autóctones, para-autóctones e alóctones, permitem diferenciar a<br />

contribuição magmática da contribuição biogénica dos isótopos de S e<br />

permitem, ainda, definir zonas distintas, isotopicamente, dentro de um<br />

mesmo jazigo (stockwork, minérios bandados, tecto, muro, zona intermédia)<br />

Nota: o S tem 4 isótopos estáveis sendo de particular interesse a relação<br />

S 34 /S 32 , donde resulta T ≈ 200 ºC fraccionação pirite/galena ≈ 4.6 % e<br />

blenda/galena ≈ 3 %<br />

A composição isotópica das águas apresenta-se, também, como uma<br />

ferramenta hidrogeológica extremamente importante na resolução de<br />

problemas específicos relacionados com a avaliação de recursos hídricos<br />

(ex. recursos geotérmicos) de determinada região. Neste caso os isótopos<br />

mais usados são o oxigénio-18, o deutério e o trítio. As determinações<br />

isotópicas, quando utilizadas em paralelo com análises geoquímicas<br />

convencionais, fornecem informação essencial no que respeita à origem e<br />

“idade” dos fluidos geotérmicos, áreas de recarga, sistemas de fluxo<br />

subterrâneo e misturas de águas com diferentes temperaturas.<br />

Nas figuras anexas apresentam-se alguns resultados isotópicos dos jazigos<br />

de sulfuretos polimetálicos da FPI.<br />

8


3.Formação dos Minerais<br />

A formação de minerais é, sem dúvida, controlada de modo importante pelas<br />

condições físicas, temperatura e pressão, e por isso se começou por<br />

examinar os métodos que podiam fornecer elementos sobre a temperatura de<br />

formação daqueles e, subsidiariamente, se apontou a acção da pressão, já<br />

que o estudo da influência desta apresenta grandes dificuldades. Porém, a<br />

formação dos minerais, embora controlada por aquelas condições físicas,<br />

pode processar-se por modos diversos que se vão passar em revista.<br />

3.1 Cristalização dos Magmas<br />

Um magma é definido como um banho de fusão silicatado e compreende<br />

toda a matéria rochosa natural fluida constituída, fundamentalmente, por uma<br />

fase líquida com a composição de um banho de fusão silicatado. Pode, pois,<br />

considerar-se, essencialmente, como um líquido formado pela fusão de<br />

silicatos.<br />

Deste modo, a cristalização dos minerais, a partir daquele, opera-se do<br />

mesmo modo que a partir de uma solução aquosa; quer dizer, atingida a<br />

saturação do magma para um dado mineral, este começa a cristalizar desde<br />

que a temperatura do magma, para a pressão dada, seja inferior à<br />

temperatura de fusão mínima daquele mineral (Bateman, 1950, p.29;<br />

Tatarinov, 1955, p.34).<br />

A cristalização de minérios a partir de um magma pode dar lugar a<br />

concentrações originando jazigos de cromite, apatite, titano-magnetite, etc.<br />

O processo é mais complexo do que se pode deduzir deste simples<br />

enunciado e a ele se voltará com mais pormenor.<br />

3.2 Sublimação<br />

O desenvolvimento de calor que acompanha a actividade vulcânica causa a<br />

volatilização de algumas substâncias que se libertam conjuntamente com<br />

gases, sob a forma de vapores. Estes dão facilmente origem à deposição de<br />

sublimados por contacto com as paredes frias das crateras e das fendas por<br />

onde se libertem os gases e os vapores que originam as fumarolas.<br />

Por este processo se origina a deposição do ácido bórico, posteriormente<br />

transformado em bórax, na dependência de certas fumarolas e, sobretudo, os<br />

jazigos vulcânicos de enxofre, enxofre das solfataras.<br />

3.3 Destilação<br />

Supõe-se que seja um processo de destilação lenta de matérias orgânicas<br />

que está na origem do processo que conduz à formação dos jazigos de<br />

petróleo e de gás natural.<br />

É esta a opinião, pelo menos, de alguns especialistas de jazigos petrolíferos.<br />

9


3.4 Evaporação e Sobressaturação<br />

É este o processo responsável pela precipitação de minerais a partir da<br />

evaporação de salmouras (“brines”). A evaporação intensiva da água das<br />

salmouras conduz à sobressaturação das substâncias dissolvidas que, pelo<br />

facto de constituírem soluções iónicas estáveis mesmo para valores elevados<br />

de pH (substâncias com potencial iónico inferior a 3), só precipitam por<br />

evaporação intensa do dissolvente, daí a designação que geralmente lhes é<br />

atribuída de evaporitos.<br />

São exemplos característicos os depósitos salíferos de sais de Na, K e Mg;<br />

no entanto, o mesmo processo pode dar origem a outros tipos de jazigos tais<br />

como os de nitratos e de boratos e cobre dos desertos de Atacama, Tarapoca<br />

e Antofagasta, no norte do Chile, cuja origem é atribuída à evaporação de<br />

águas subterrâneas transportando, em solução, aquelas substâncias.<br />

3.5 Reacções de gases sobre outros gases, líquidos ou sólidos<br />

A actividade vulcânica é acompanhada de libertação de importantes<br />

quantidades de gases e vapores que depositam compostos sulfúreos dos<br />

metais básicos (Cu, Pb, Zn) e de molibdénio, magnetite, quantidades<br />

importantes de cloretos e fluoretos, boratos, enxofre, etc.<br />

Como não há intervenção de soluções líquidas, a formação daquelas<br />

substâncias têm de resultar de reacções entre os diferentes gases e vapores<br />

presentes (Bateman, 1950, p.29; Tatarinov, 1955, p.35).<br />

São exemplos de reacções daquele tipo, a reacção do ácido sulfídrico com o<br />

anidro sulfuroso, originando a deposição de enxofre nativo<br />

2 H 2 S + SO 2 3 S +2 H 2 O<br />

e a reacção do cloreto férrico com o vapor de água, para dar origem à<br />

hematite<br />

Fe 2 Cl 6 + 3H 2 O<br />

Fe 2 O 3 + 6 HCl<br />

Como exemplo de reacções de gases sobre líquidos pode citar-se o caso<br />

frequente da precipitação de sulfureto de cobre, a partir das águas de mina<br />

sulfatadas, pelo ácido sulfídrico<br />

H 2 S + Cu SO 4<br />

H 2 SO 4 + CuS<br />

Reacções deste tipo tanto se podem verificar a alta como a baixa<br />

temperatura.<br />

De todas as reacções, em que intervêm gases, as mais importantes são,<br />

contudo, as que se verificam sobre substâncias sólidas, sobretudo no caso<br />

10


de estas serem quimicamente activas, como é o caso das rochas<br />

carbonatadas.<br />

Este processo dá origem, tipicamente, a silicatos cálcicos, sulfuretos e óxidos<br />

de diferentes metais em resultado da acção da emanações magmáticas<br />

sobre os minerais das rochas percoladas, particularmente importante no caso<br />

de estas serem calcárias.<br />

A deposição dos minerais resultantes destas últimas reacções realiza-se<br />

sobretudo por substituição metassomática, distinta da substituição química.<br />

3.6 Reacções de líquidos sobre outros líquidos ou sólidos<br />

As reacções de líquidos sobre líquidos ou sólidos estão na base da formação<br />

de numerosos e importantes jazigos minerais.<br />

Quer as soluções hipogénicas, de origem magmática ou outra, quer as<br />

soluções supergénicas, produzidas pelas águas superficiais, transportam<br />

quantidades importantes de substâncias minerais que se podem depositar<br />

em resultado da mistura de soluções de natureza diferente.<br />

Esta deposição é regida, normalmente pela Lei de Nernst, segundo a qual a<br />

solubilidade de um sal diminui em presença de um outro sal com um ião<br />

comum, mas pode também resultar simplesmente da diluição de uma solução<br />

concentrada pelas águas superficiais. Neste último caso são precipitados os<br />

metais transportados sob a forma complexa.<br />

A mistura de soluções diferentes pode também originar a precipitação de<br />

substâncias por redução e por oxidação.<br />

Mais importante ainda, para a formação de concentrações minerais, são as<br />

reacções entre soluções e substâncias sólidas que se podem dar entre as<br />

soluções e os minerais por elas depositados ou entre aquelas e os minerais<br />

das rochas através das quais percolam as soluções. Originam-se reacções<br />

de troca em que têm papel de relevo os fenómenos de metassomatismo.<br />

3.7 Precipitação por Bactérias<br />

A deposição de substâncias minerais por bactérias e outros microorganismos<br />

é conhecida de há muito e a fixação do ferro, sob a forma de hidróxido de<br />

férrico, por bactérias está bastante estudada. Contudo, são recentes os<br />

estudos para outros minerais que, aliás, adquirem particular interesse em<br />

face da possibilidade de lixiviação bacteriológica de jazigos pobres de cobre<br />

e de urânio.<br />

O papel desempenhado pelos microorganismos e outros seres orgânicos na<br />

fixação de metais (Routhier, 1963, p.388) pode revestir aspectos diversos,<br />

embora nem sempre bem elucidados:<br />

11


- Acção indirecta influenciando o pH do meio (sílica, ferro, manganês),<br />

- Assimilação de metais e restituição depois de mortos (urânio)<br />

- Fornecimento do enxofre indispensável para a formação dos sulfuretos<br />

metálicos, quer por redução bactérica dos sulfatos, quer por cisão<br />

bactérica da matéria orgânica com libertação de azoto, fósforo, enxofre,<br />

etc.<br />

3.8 Deposição Coloidal<br />

A concentração de substâncias a partir de soluções coloidais é frequente e<br />

importante pois numerosos minerais e metais, que são fracamente solúveis<br />

na água, dão facilmente soluções coloidais como seja (Tatarinov, 1955, p.37)<br />

por exemplo, sílica, alumina, ferro, manganês, níquel, etc.<br />

Dos diversos sistemas coloidais ou dispersos, que se conhecem, tem<br />

particular importância sob o ponto de vista da formação de jazigos minerais, o<br />

sistema sólido-líquido, em que o sólido constitui a fase dispersa e a água a<br />

fase dispersante. Um tal sistema constitui um sol (suspensóide) quando a<br />

fase dispersante domina largamente a fase dispersa, um gel no caso<br />

contrário, e uma pasta ou massa quando a predominância da fase dispersa é<br />

tal que representa, praticamente a massa do sistema. São representativas<br />

deste último as argilas plásticas (Manos, 1958, p.166).<br />

Os soles podem ser de dois tipos: hidrófilos quando existe uma forte<br />

interacção entre as partículas da fase dispersa e as moléculas de água, e<br />

hidrófobos quando não existe aquela interacção. Estes últimos são menos<br />

estáveis e, portanto, mais facilmente precipitados; por outro lado, os<br />

primeiros, quando precipitados por qualquer mudança física, são em geral<br />

reversíveis enquanto os últimos não.<br />

Como exemplo de substância originando soles hidrófilos pode citar-se a sílica<br />

e de substâncias dando soles hidrófobos o hidróxido de alumínio.<br />

Evidentemente, não existem limites precisos entre aqueles tipos de sistemas<br />

dispersos sólido-líquido, nem entre estes tipos de soles.<br />

As partículas coloidais apresentam-se electricamente carregadas, facto que<br />

resulta da adsorção de iões do líquido ou da ionização directa das próprias<br />

partículas coloidais. Assim, as cargas dos colóides de hidróxido de alumínio e<br />

de hidróxido férrico são positivas, enquanto os de sílica, hidróxido ferroso,<br />

dióxido de manganês hidratado, colóides húmicos e soles de sulfuretos têm<br />

cargas negativas.<br />

Os colóides podem ser produzidos por duas vias diferentes: por<br />

fragmentação de partículas sólidas até dimensões coloidais (como sucede<br />

durante a preparação do tratamento mineralúrgico por flutuação em Neves-<br />

Corvo) ou por aglomeração de partículas moleculares ou iões até às mesmas<br />

dimensões. É este último processo que parece originar a maior parte dos<br />

colóides naturais.<br />

12


A carga eléctrica das partículas coloidais influencia profundamente a<br />

estabilidade dos sistemas coloidais. Assim, para que se mantenham exigem<br />

uma certa concentração de electrólitos; porém, quando esta concentração é<br />

demasiada provoca a floculação dos colóides. Deve-se a este facto a acção<br />

floculante da água do mar para a maioria dos colóides.<br />

São processos importantes, intervenientes na deposição dos colóides<br />

(Rankama & Sahama, 1950, p. 233):<br />

- precipitação de colóides dissolvidos,<br />

- floculação de colóides por acção de electrólitos,<br />

- floculação de colóides por interacção de soles com cargas eléctricas<br />

opostas,<br />

- adsorção iónica e troca de bases.<br />

O primeiro processo depende do pH e do Eh do meio, enquanto os restantes<br />

da adsorção. Esta pode ser de dois tipos: adsorção física ou de Van der<br />

Waals e adsorção química.<br />

A adsorção física caracteriza-se por fracos calores de adsorção e por fraca<br />

ligação do adsorvido ao adsorvente; a adsorção química, pelo contrário,<br />

apresenta altos calores de adsorção e forte ligação química, de valência,<br />

entre adsorvido e adsorvente.<br />

As ligações de valência, que se verificam no segundo caso, podem resultar<br />

da ligação a valências livres à superfície das partículas coloidais ou da<br />

substituição de catiões e aniões. Este último caso tem grande importância<br />

nas argilas, onde os fenómenos de trocas de bases são frequentes.<br />

B. Mason (1958, p. 169) esquematiza do seguinte modo os princípios que<br />

dirigem os fenómenos de adsorção:<br />

- a taxa de adsorção aumenta inversamente ao tamanho das partículas<br />

adsorventes e, portanto, directamente, à área total destas;<br />

- a adsorção é favorecida quando o adsorvido forma um composto de fraca<br />

solubilidade com o adsorvente (é exemplo a adsorção do anião PO 4 3- pelo<br />

hidróxido férrico);<br />

- a taxa de adsorção de uma substância de uma solução aumenta com a<br />

respectiva concentração nessa solução;<br />

- os iões mais fortemente carregados são mais facilmente adsorvidos que<br />

os iões fracamente carregados.<br />

É por adsorção que numerosos iões são removidos das águas naturais, entre<br />

estes iões de elementos biologicamente muito perigosos, como sejam de Cu,<br />

Se, As, Pb que são fornecidos em quantidade tal pelos processos de<br />

meteorização que, se não fossem eliminados por fenómenos de adsorção,<br />

acabariam por envenenar as águas do mar.<br />

É ainda em consequência destes fenómenos que se nota a concentração de<br />

iões complexos de P, As e Mo, por exemplo nos minérios sedimentares de<br />

13


ferro e de manganês. Também a transformação de montmorilonite em ilite se<br />

deve à adsorção, por aquela, do ião potássio.<br />

3.9 Metamorfismo<br />

Os processos metamórficos têm de ser considerados geradores de<br />

concentrações minerais porquanto os respectivos agentes<br />

(fundamentalmente, pressão, temperatura e água) actuam sobre os minerais,<br />

provocando recombinações de outros minerais estáveis sob as novas<br />

condições físicas. São exemplo de tais concentrações, jazigos de granadas,<br />

grafite, silimanite, alguns dos asbestos, etc.<br />

3.10 Deposição em espaços abertos e substituição metassomática<br />

A deposição dos minerais, qualquer que seja o processo gerador deles, pode<br />

resultar de precipitação em espaços abertos ou de substituição<br />

metassomática. Qualquer daqueles tipos de deposição é extremamente<br />

importante na formação dos jazigos minerais e se podem ocorrer isolados, é<br />

frequente a associação mútua; por exemplo, o enchimento por precipitação<br />

de uma cavidade pode ser acompanhado por substituição metassomática nas<br />

rochas que constituem as paredes daquelas cavidades.<br />

3.10.1 Precipitação em espaços abertos<br />

O enchimento de cavidades por precipitação consiste na deposição de<br />

minerais, nas cavidades das rochas, a partir de soluções aquosas; estas são<br />

em geral hidrotermais mas também podem ser frias e de origem meteórica.<br />

Qualquer tipo de cavidades nas rochas pode tornar-se sede de uma<br />

deposição de minérios; Bateman (1942, p.119) apresenta a seguinte<br />

classificação para as cavidades:<br />

- cavidades originais (contemporâneas das rochas que as contêm):<br />

1. poros<br />

2. vacúolos<br />

3. cavidades em rochas conglomeráticas<br />

4. fendas de arrefecimento ou fendas de contracção<br />

- cavidades subsequentes ou induzidas:<br />

1. fracturas com ou sem movimento<br />

2. cavidades provenientes de laminagem (“shearing cavities”)<br />

3. cavidades devidas a enrugamento e ondulações<br />

a. cavidades em sela (“saddle reefs”)<br />

b. cavidades nas zonas axiais das dobras (“pitches” e “flats”)<br />

c. fracturação anticlinal e sinclinal<br />

4. cavidades de dissolução<br />

5. brechas tectónicas<br />

6. brechas de colapso<br />

7. chaminés vulcânicas<br />

8. aberturas provocadas pela alteração das rochas<br />

14


Esta classificação de Bateman dá uma agrupação mais racional dos diversos<br />

tipos de cavidade que muitas outras e tem a vantagem de conduzir a tipos<br />

naturais de jazigos minerais que, evidentemente, são sobretudo morfológicos<br />

(Bateman, 1959, p.110):<br />

- filões<br />

- jazigos em zonas de corte (“shear zone deposits”)<br />

- “stockworks”<br />

- “saddle reefs”<br />

- “ladder veins”<br />

- “pitches” e “flats”; fracturas de dobramento<br />

- enchimentos de brechas: vulcânicas, de colapso, tectónicas<br />

- enchimentos de cavidades de dissolução: cavernas, canais, fendas<br />

- enchimento de poros<br />

- enchimentos vesiculares<br />

No processo de formação de jazigos por enchimento de cavidades têm de se<br />

distinguir duas séries de fenómenos distintos: a formação das cavidades e a<br />

subsequente deposição nelas dos minerais. Os dois fenómenos tanto se<br />

podem dar quase simultaneamente como muito espaçados no tempo.<br />

Nestes jazigos, os minerais começam por depositar-se nas paredes das<br />

cavidades e desenvolvem-se no sentido do interior das mesmas, quer dizer<br />

para o espaço ainda livre, tendendo deste modo a formar crustas de<br />

revestimento das paredes das cavidades, crustas estas que podem chegar a<br />

preencher totalmente a cavidade ou deixarem ainda espaços abertos na zona<br />

central, os chamados geodes.<br />

Quando estas crustas de revestimento são constituídas por minerais<br />

diferentes conduzem ao tipo de textura de crustificação. Quando o<br />

enchimento é realizado por uma só espécie mineral, não se nota, em geral,<br />

uma textura crustificada mas sim maciça.<br />

Deve ter-se em conta que nos jazigos formados a baixa temperatura e até<br />

mesmo a temperatura moderada, ao lado de deposições a partir de soluções<br />

verdadeiras ou electrolíticas, podem ter-se deposições a partir de dispersões<br />

coloidais que podem mesmo suplantar em importância aquelas.<br />

3.10.2 Substituição metassomática<br />

A evolução de um magma e dos produtos que dele se separam bem como<br />

das soluções supergénicas não se faz em sistema fechado; todos aqueles<br />

produtos, gasosos ou líquidos, reagem, em maior ou menor escala, com o<br />

material das cavidades ou fendas que os encerram ou por onde circulam,<br />

originando-se trocas entre aqueles e o material das rochas encaixantes que<br />

sofrem modificações mineralógicas e químicas bem como aqueles mesmos<br />

produtos.<br />

15


Esta troca de substâncias dá-se, pois, por substituição e o processo<br />

denomina-se substituição metassomática ou, simplesmente, metassomatose.<br />

A substituição da matéria orgânica por sílica nas madeiras é um exemplo de<br />

substituição metassomática que tem o nome particular de petrificação. Outros<br />

exemplos bem conhecidos são dados pelas pseudomorfoses, isto é, a<br />

substituição de uma espécie mineral por outra que conserva a forma e o<br />

tamanho da primeira; São casos correntes a pseudomorfose de calcite em<br />

quartzo, de pirite em limonite e hematite, de galena em quartzo, etc.<br />

Todos estes casos são, todavia, limitados; a metassomatose pode, para além<br />

destes, originar grandes massas de minérios por substituição de outras de<br />

igual volume de rochas e, então os fenómenos são bastante complexos.<br />

A metassomatose opera-se em sistema aberto, quer dizer as soluções que<br />

transportam as substâncias substituidoras depositam estas e,<br />

concomitantemente, dissolvem as substâncias substituídas e transportamnas<br />

para outras zonas.<br />

Os fenómenos de metassomatose são característicos de fluidos deslocandose<br />

ao longo de fendas muito estreitas, frequentemente sub-capilares, donde<br />

resulta que a superfície de contacto ou superfície de reacção seja muito<br />

grande em relação ao volume de fluido reagente, facto que causa uma quase<br />

instantânea modificação deste e a deposição dos minerais substituidores nos<br />

mesmos locais ocupados pelos minerais dissolvidos.<br />

Em regra os minerais de formação metassomática têm manifesta tendência<br />

para o idiomorfismo; é o caso dos cubos de pirite nos xistos argilosos.<br />

Todavia, o pseudomorfismo resulta também de processos metassomáticos e,<br />

assim, quando o pseudomorfismo se observa em grande, as texturas e<br />

estruturas mais delicadas das substâncias substituídas são conservadas<br />

pelas substâncias metassomáticas.<br />

Pareceria à primeira vista que a substituição metassomática poderia ser<br />

traduzida pelas reacções químicas normais, isto é, que a substituição se<br />

daria molécula a molécula. Contudo, se fosse este caso, quando um mineral<br />

mais denso substitui um mineral mais denso teria de ocupar um menor<br />

volume e dever-se-iam observar texturas de esmagamento devidas à<br />

colmatação dos vazios em consequência das pressões a que estão<br />

submetidas as rochas, mais que não seja a pressão causada pelo próprio<br />

peso das rochas. Ora não se observam tais factos.<br />

A substituição metassomática dá-se entre volumes iguais, o que constitui a<br />

chamada lei dos volumes iguais e para que ela se dê é necessário que a<br />

substância substituidora e a substituída possuam um ião comum. As simples<br />

reacções químicas não indicam mais do que as tendências e os produtos<br />

finais de tais substituições.<br />

A substituição metassomática é dirigida pela fracturação; assim, nota-se que<br />

se dá a partir das fendas principais e, depois, das fendas capilares e sub-<br />

16


capilares. Ao microscópio, em superfície polida, observa-se que a<br />

substituição metassomática, dirigida pela fracturação, clivagem e contornos<br />

dos grãos minerais, se espande como uma mancha de gordura.<br />

Os critérios para determinar a existência de substituições metassomáticas<br />

não são simples de estabelecer e sempre de delicada observação. Lindgreen<br />

(1933, p.184) esquematiza-os do seguinte modo:<br />

1. forma mais ou menos irregular das massas minerais; limites<br />

esbatendo-se gradualmente (não é critério sempre decisivo);<br />

2. presença de massas residuais da rocha substituída no seio da<br />

nova rocha; algumas vezes nota-se que a estratificação ou<br />

xistosidade daquelas massas residuais é concordante com a das<br />

rochas encaixantes;<br />

3. ausência de crustificação; uma certa “estratificação” pode ser<br />

verificada em algumas zonas devida à conservação de planos de<br />

estratificação, xistosidade ou de laminagem (“shearing”);<br />

4. ausência de contactos côncavos, a substituição conduz à formação<br />

de configurações convexas em relação à rocha não substituída;<br />

5. conservação de texturas da rocha original (este é o critério mais<br />

decisivo).<br />

A comissão especial encarregada do estudo das para géneses pelo National<br />

Research Council dos Estados Unidos da América (Bastin et al., 1931, p.588)<br />

conclui das seguintes regras para a metassomatose:<br />

1. os sulfuretos substituem todos os outros minerais das rochas, das<br />

gangas e todos os sulfuretos;<br />

2. os minerais das gangas substituem os minerais das rochas e<br />

outros minerais das gangas mas não substituem em regra os<br />

sulfuretos;<br />

3. os óxidos formados a alta temperatura (magnetite, cassiterite, etc.)<br />

substituem todos os minerais das rochas e das gangas mas são<br />

raramente substituídos pelos minerais das gangas;<br />

4. os óxidos raramente substituem sulfuretos;<br />

5. os sulfuretos podem substituir as rochas e as gangas em todas as<br />

direcções mas a substituição é geralmente dirigida por fracturas e<br />

fendas e mais raramente por clivagens;<br />

6. os minerais metassomáticos das gangas, por exemplo, quartzo,<br />

turmalina, barita, fluorite, alunite e carbonatos de ferro e magnésio<br />

podem desenvolver-se em cristais idiomórficos nos minerais das<br />

rochas; a tendência para o idiomorfismo é muito mais é muito mais<br />

acusada nas rochas calcárias do que nas rochas silicatadas;<br />

7. certos sulfuretos podem desenvolver-se em cristais idiomórficos,<br />

como a pirite, os arsenietos, a enargite e a jamesonite, outros<br />

sulfuretos só raramente o fazem;<br />

8. os óxidos formados a alta temperatura desenvolvem-se muitas<br />

vezes em cristais idiomórficos;<br />

9. os minerais que se apresentam idiomórficos nas secções de<br />

minerais metassomáticos podem ser devidos:<br />

17


a) a cristais residuais, por exemplo, fenocristais de quartzo e<br />

feldspato nos pórfiros, a cristais de pirite e de magnetite nas<br />

rochas cristalofílicas;<br />

b) a produtos de enchimento local, muitas vezes envolvidos por<br />

produtos de enchimento ulterior;<br />

c) a cristais de metassomatose;<br />

10. a presença de minerais com faces arredondadas nos minérios não<br />

indica necessariamente substituição metassomática pois<br />

encontram-se faces semelhantes em fenocristais e em cristais<br />

depositados em espaços abertos;<br />

11. uma substituição metassomática inicial não é necessariamente<br />

seguida por outras substituições metassomáticas; noutros casos<br />

diferentes metassomatoses podem suceder-se no tempo e uma<br />

dada metassomatose pode operar-se quer sobre minerais<br />

metassomáticos, formados anteriormente, quer sobre minerais das<br />

rochas.<br />

Deve ter-se em atenção que o termo “sulfuretos” é aqui sempre empregado<br />

num sentido lato, englobando, além dos sulfuretos, os arsenietos, teluretos,<br />

selenietos e sulfossais.<br />

Quando não existem apreciáveis espaços livres (abertos) que os minerais<br />

possam preencher, a deposição pode ainda dar-se por substituição<br />

metassomática, daí a grande importância que este processo tem na formação<br />

de concentrações de minerais. Aquela substituição pode ser definida como a<br />

dissolução de um mineral ou grupo de minerais e a simultânea deposição de<br />

um mineral ou grupo de minerais no lugar daqueles.<br />

Esta dissolução e deposição efectua-se correntemente sem intervenção de<br />

espaços abertos de dimensões apreciáveis e a substituição, que resulta, não<br />

envolve mudança de volume.<br />

4. Estabilidade dos Minerais<br />

4.1 Condições de Alteração e Tipos<br />

Qualquer mineral traduz, mais ou menos vincadamente, as condições físicas<br />

do meio em que se originou e corresponde, em geral, a um estado de<br />

equilíbrio em relação àquelas condições.<br />

É por este motivo que os minerais formados a elevadas temperatura e<br />

pressão, quando transportados para a superfície da Terra, se alteram em<br />

regra, mais ou menos facilmente, dando origem a outros minerais,<br />

representando um novo estado de equilíbrio em relação às novas condições<br />

físicas do meio.<br />

Do mesmo modo, os minerais formados à superfície da Terra, geralmente<br />

oxidados e hidratados, quando transportados para as zonas profundas da<br />

crusta terrestre, transformam-se de modo a originarem outros minerais que<br />

18


correspondem a um estado de equilíbrio em relação às novas condições<br />

físicas do meio.<br />

Há contudo, alguns minerais que se revelam pouco sensíveis às condições<br />

físicas do meio, como seja por exemplo a cassiterite, e outros que se podem<br />

formar sob condições bastante variáveis, tais como a pirite e o quartzo. Estes<br />

últimos são designados como minerais persistentes.<br />

As modificações mais espectaculares, devidas a instabilidade, ocorrem<br />

durante os processos de meteorização em que, sob a acção da água e do ar,<br />

a grande maioria dos minerais hipogénicos se transformam em metais<br />

nativos, óxidos, carbonatos, sulfatos, cloretos, silicatos, etc. São os óxidos<br />

aqueles que se mostram mais resistentes e os sulfuretos os mais sensíveis<br />

aos processos de decomposição meteórica.<br />

Numerosos minerais sofrem transformações, sob a influência do meio, de<br />

ordem molecular que, como se viu, são utilizadas como termómetros<br />

geológicos.<br />

O conhecimento do campo de estabilidade dos minerais oferece, como é<br />

evidente, informação muito útil sobre os problemas de meteorização, de<br />

alteração deutérica, de metamorfismo e sobre a temperatura de formação<br />

dos jazigos minerais.<br />

4.2 Alteração Deutérica<br />

O reconhecimento da alteração deutérica é feito através da cor, textura,<br />

formas mineralógicas e da composição química.<br />

As causas relacionam-se com a presença de fluidos ascendentes (alteração<br />

hipogénica) ou fluidos descendentes (alteração supergénica)<br />

O reconhecimento da alteração deutérica é muito importante devido às<br />

mineralizações frequentemente associadas.<br />

19


Tipos de Alteração Deutérica<br />

Argilização intensa – caracterizada pela caulinite, pirofilite e quartzo<br />

Sericitização- caracterizada pela sericite (moscovite de grão fino) e quartzo,<br />

resultante da alteração de rochas ricas em alumínio, ex. granito<br />

Argilização média – caracterizada pelos minerais do grupo da<br />

montmorilonite, resultante basicamente da alteração da plagioclase<br />

Propilitização – alteração complexa caracterizada pela existência de clorite,<br />

epídoto, albite e carbonatos<br />

Cloritização – caracterizada pela clorite e quartzo ou turmalina, sendo a<br />

relação Fe/Mg variável com a distância ao jazigo<br />

Carbonatação – caracterizada pela dolomite, que pela porosidade que cria<br />

desempenha papel importante na passagem de soluções hidrotermais ricas<br />

em elementos minerais<br />

Silicificação – caracterizada pelo aumento da percentagem de quartzo na<br />

rocha alterada<br />

Feldspatização (albitização) – caracterizada pelo desenvolvimento de<br />

ortoclase ou microclina (feldspatos potássicos) ou albite (feldspato sódico)<br />

Turmalinização – caracterizada pelo desenvolvimento da turmalina<br />

Piritização - caracterizada pelo desenvolvimento da pirite<br />

Greisenização – desenvolvimento do quartzo e mica, muito característica<br />

das paredes dos jazigos de Sn, W e Be<br />

Fenitização – caracterizada pelo desenvolvimento de anfíbolas sódicas nos<br />

jazigos associados aos carbonatitos<br />

Serpentinização – caracterizada pela existência de serpentina e talco<br />

Zeolitização– acompanha o cobre nativo nos basaltos<br />

20


6.Bibliografia<br />

Os documentos referidos ao longo do texto encontram-se disponíveis na<br />

Biblioteca Prof. Décio Thadeu (Secção de Geologia do Departamento de<br />

Minas do IST). Citam-se aqui apenas os autores e a data da publicação.<br />

Bateman, 1942<br />

Bateman, 1950<br />

Bateman, Alan M.,1959, The Formation of Mineral Deposits, Economic<br />

Mineral Deposits, Ed.John Wiley & Sons Inc.,2ª edição,371 pp.<br />

Lindgreen,1933<br />

Manos, 1958<br />

Mason,1958<br />

Freund, Hugo,1966. Applied Ore Microscopy, Theory and Technique. The<br />

Macmilliam Company, New York. 607 pp.<br />

Rankama & Sahama, 1950<br />

Routhier, 196<br />

Shand, 1943<br />

Tatarinov, 1955<br />

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