New Golf de Portugal Ele tinha Lendas do golfe o “segredo” do golfe Habitualmente silencioso e até rude, o “Homem de Gelo” Ben Hogan superou adversidades e tornou o seu nome sinônimo de trabalho e devoção. Era tão evidente seu talento e tão perfeito seu swing que chegavam a dizer que ele possuía o “segredo” do golfe Por Tiago Matos Fotos: DR 44
William Ben Hogan teve uma vida difícil. Logo aos nove anos de idade, o franzino rapaz, terceiro filho de uma família pobre da região do Texas, testemunhou o suicídio de seu pai, um ferreiro chamado Chester, que se matou com um tiro no peito. O episódio viria a ter uma enorme influência na personalidade de Hogan, tornando-o para sempre um homem duro e marcadamente introvertido. Com o desaparecimento do sustento da família, Hogan e os seus irmãos viram-se obrigados a começar a trabalhar cedo. Durante algum tempo, ele saía da escola e corria para perto da estação de comboios da sua zona, onde distribuía jornais. Aos 11 anos, porém, arranjou um novo trabalho, como caddy, no Glen Garden Country Club. Foi lá, entre torneios amigáveis com outros caddies, um dos quais Byron Nelson, que Hogan conheceu e se familiarizou com o esporte que viria a torná-lo uma lenda. Aos 17 anos, tornou-se profissional. Os resultados, no entanto, tardaram a aparecer. Hogan exibia, normalmente, um swing desajeitado e uma irregularidade enorme na qualidade das tacadas. Após quase sete anos de insucesso e sem dinheiro no bolso para continuar, cogitou mudar de carreira. Foi nessa altura que o amigo Henry Picard o aconselhou a antes tentar fazer o seu swing com a mão esquerda. A alteração, por muito básica que parecesse, teve consequências imediatas em seu jogo. Em 1937, conquistou o segundo lugar em um torneio da PGA e, talvez mais importante ainda, ganhou um prêmio de 380 dólares, que o convenceu a não abandonar o golfe. O episódio mostrou-lhe ainda a importância da técnica no sucesso da modalidade. Tornou-se um estudante obstinado e quase obcecado na procura do swing perfeito, chegando a praticar até lhe sangrarem as mãos, numa altura em que os treinos entre golfistas profissionais eram quase inexistentes. Eventualmente, descobriu o “segredo”, uma forma quase automática de controlar o percurso da bola, que o levou a vencer vários torneios por todo o mundo. O seu talento, combinado com a personalidade distante e misteriosa, vulgarmente transposta para o campo, tornaram-no rapidamente um dos mais populares golfistas de todos os tempos. Um acidente quase fatal No dia 2 de fevereiro de 1949, Ben Hogan conduzia o seu Cadillac acompanhado pela esposa, Valerie Fox, quando foi abalroado por um autocarro de excursão. Durante o acidente, numa tentativa de proteger a mulher com o próprio corpo, Hogan atirou-se para frente dela. Segundos depois, percebeu que, caso não o tivesse feito, teria sido esmagado pela barra de direção do automóvel. Não evitou, contudo, sofrer graves lesões, e os médicos disseram-lhe que podia esquecer definitivamente o golfe, já que era provável que não voltasse a andar. Insatisfeito com o diagnóstico, Hogan iniciou uma das mais impressionantes reabilitações da história do esporte, ensinando a si mesmo não apenas a voltar a andar, mas a dominar uma vez mais o seu golfe. Dezesseis meses após o acidente, Hogan estava de volta às competições e conquistava uma dolorosa vitória no U. S. Open realizado em Merion, em 1950. Alguns meses depois, distinguiram-no como o melhor jogador do ano, ultra- “ Reverta todos os instintos naturais, faça o oposto daquilo que está propenso a fazer e, possivelmente, ficará muito perto de ter um swing de golfe perfeito ” 45