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anarquistas e membros da Liga Patriótica. 95 Era cada vez mais comum o uso de armas entre<br />

trabalha<strong>do</strong>res. Inúmeras propagandas revelam este hábito, este anúncio de um picnic promovi<strong>do</strong> por La<br />

Antorcha é bem interessante:<br />

“Rosario, grande picnic familiar em beneficio <strong>do</strong>s presos sociais, na ilha<br />

Castellanos sobre o Rio Paraná, Homens $ 1,20; mulheres e menores $ 0,50; crianças<br />

grátis. Nota: advertimos que a subprefeitura fará revista no embarque, motivo pelo qual<br />

se recomenda não levar armas”.<br />

E mesmo nos picnics organiza<strong>do</strong>s por La Protesta, claramente avessa aos expropria<strong>do</strong>res,<br />

notava-se o uso de armas, comprovan<strong>do</strong> que o hábito não era exclusividade <strong>do</strong>s expropria<strong>do</strong>res, mas<br />

<strong>do</strong>s anarquistas e trabalha<strong>do</strong>res de maneira geral. Vejamos este trecho de um texto publica<strong>do</strong> após um<br />

picnic: “(...) Recomendamos pois aos camaradas que não façam disparos de armas de fogo em nossos<br />

picnics e que tratem de evitar que o façam aqueles concorrentes que não estejam em condições de ler<br />

esta recomendação”. 96 Há uma condenação das brincadeiras de disparo, mas em nenhum momento o<br />

texto pede que as pessoas deixem de portar armas. Além disso, este tipo de recomendação era sempre<br />

publicada e não uma coisa rara.<br />

O metalúrgico anarquista Miguel Arcángel Roscigna, um <strong>do</strong>s maiores anarquistas<br />

expropria<strong>do</strong>res, era também o principal anima<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Comité Pro Presos Sociales y Deporta<strong>do</strong>s, cujas<br />

principais funções eram: custear advoga<strong>do</strong>s, trâmites jurídicos, ajudar às famílias de presos. Para isso<br />

contavam com as cotizações que os próprios trabalha<strong>do</strong>res tiravam <strong>do</strong> bolso, o que obviamente era um<br />

gesto de solidariedade tenaz para quem tinha escassos recursos, mas pouco para cobrir os gastos. O<br />

comitê porém “Não se limita a conseguir estes meios como se fosse um Exército da Salvação ou uma<br />

Sociedade de Damas de Beneficência. Sua missão oculta é a de conseguir a fuga <strong>do</strong>s presos. E para isso<br />

é necessário contar com muitos recursos (...)” 97 Roscigna era quem “gerenciava” este trabalho, além de<br />

suas atividades sindicais como dirigente metalúrgico. De perfil cerebral, calculista e frio, ele foi o mais<br />

bem sucedi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s expropria<strong>do</strong>res. Chegou a se inscrever para trabalhar como guarda carcereiro em<br />

Ushuaia, para libertar o anarquista Simón Ra<strong>do</strong>witzky, 98 Miguel Arcángel Roscigna passou por vários<br />

trâmites burocráticos para conseguir trabalho em Ushuaia. Já estava emprega<strong>do</strong> no presídio preparan<strong>do</strong><br />

a fuga de Simón. No entanto, as disputas sindicais fizeram fracassar seus planos. No congresso da<br />

USA 99 , em meio a uma polêmica entre socialistas, comunistas e anarquistas, um comunista acusou<br />

Roscigna de “estar de perro en Ushuaia” para atacar os anarquistas. Os planos <strong>do</strong> anarquista foram<br />

aborta<strong>do</strong>s, porém antes de sair de Ushuaia, Roscigna ateou fogo à casa <strong>do</strong> diretor <strong>do</strong> presídio para não<br />

perder a viagem.<br />

Simón Ra<strong>do</strong>witzky se converteu em “el santo de la anarquía”, grandes manifestações pediram<br />

sua libertação por anos e anos, toman<strong>do</strong> uma dimensão semelhante ao caso de Sacco e Vanzetti na<br />

Argentina e Uruguai. Viveu 20 anos em Ushuaia, até que em 1930, Ypólito Yrigoyen concedeu<br />

liberdade a Simón desde que saísse <strong>do</strong> país. Atravessou o outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio da Prata e viveu no<br />

Uruguai desde então. Alguns anos depois lutou nas milícias anarquistas durante a Revolução<br />

Espanhola.<br />

As divergências entre os anarquistas “protestistas” e “antorchistas”, alcançou tal ponto que o<br />

Comité Pro Presos Sociales y Deporta<strong>do</strong>s se dividiu em <strong>do</strong>is. No comitê forma<strong>do</strong> pelos anarquistas de<br />

95 Agrupação ultra-nacionalista argentina que combatia violentamente o <strong>anarquismo</strong> e os sindicatos.<br />

96 BAYER, op. cit., p. 32.<br />

97 Ibidem, p. 34.<br />

98 Um jovem judeu anarquista que chegara na Argentina em 1908, e aos 17 anos foi condena<strong>do</strong> pela morte <strong>do</strong> Cel. Falcón<br />

em 1909, quan<strong>do</strong> vingou-se <strong>do</strong> massacre de trabalha<strong>do</strong>res no 1º de Maio daquele na Plaza Lorea em Buenos Aires. Depois<br />

foi condena<strong>do</strong> a cumprir pena em Ushuaia.<br />

99 Unión Sindical Argentina, de inspiração sindicalista revolucionária.<br />

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