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O embaixa<strong>do</strong>r britânico no Uruguai avaliava que “as greves devem ser mais temidas no Uruguai<br />

que as rivalidades entre as frações políticas”. 9 De janeiro a julho de 1905 estiveram em conflito cerca<br />

de 15 mil operários, 50% <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong> da capital, o que foi, segun<strong>do</strong> o jornal conserva<strong>do</strong>r britânico<br />

The Montevideo Times, “a maior greve da história <strong>do</strong> pais”. 10<br />

Notamos que a fundação da FORU não foi um simples ato de vontade de alguns militantes, mas<br />

resulta<strong>do</strong> de um processo de amadurecimento da classe trabalha<strong>do</strong>ra uruguaia, foi o momento em que<br />

pela primeira vez o movimento grevista chegou com força ao interior <strong>do</strong> país 11 , extrapolan<strong>do</strong> os<br />

limites da capital. Em meio a este clima social, em agosto de 1905, numa reunião realizada no Centro<br />

Internacional de Estudios Sociales, foi fundada a Federación Obrera Regional Uruguaya, FORU.<br />

Seguin<strong>do</strong> a tradição de relações entre o movimento operário <strong>uruguaio</strong> e o argentino, participaram <strong>do</strong><br />

congresso de fundação da FORU delega<strong>do</strong>s da Federación Obrera Regional Argentina, FORA, que<br />

neste mesmo ano realizara seu 5ª Congresso, momento em que passou a pre<strong>do</strong>minar a linha anarcosindicalista<br />

na Argentina.<br />

A fundação da FORU (Federação Operária Regional Uruguaia) unificou a maioria <strong>do</strong><br />

proletaria<strong>do</strong> <strong>uruguaio</strong>. 12 Conviveriam a partir de então no Uruguai - sem jamais se unirem 13 -, três<br />

centrais sindicais, a própria FORU, a UGT 14 de caráter socialista e a CUG 15 , de linha democratacristã.<br />

16 No entanto, nenhuma delas chegou a fazer sombra para a FORU. Rama afirma que a FORU<br />

“constituía então uma verdadeira “central única” de trabalha<strong>do</strong>res, porém não por decreto<br />

guvernamental ou por alguma medida fascistóide, mas sim por vontade da própria classe operária”. 17 A<br />

reivindicação principal da FORU naquele momento era a jornada de 8 horas de trabalho, que vários<br />

sindicatos já haviam consegui<strong>do</strong> nos últimos 10 anos. Porém, outras reivindicações também foram<br />

objeto de luta até 1911. 18<br />

A situação <strong>do</strong> movimento sindical argentino é de suma importância para a compreensão <strong>do</strong><br />

movimento sindical <strong>uruguaio</strong>. A semelhança de nomes entre FORA e FORU era apenas a expressão<br />

simbólica de uma trajetória sindical muito próxima, que mesmo possuin<strong>do</strong> algumas particularidades,<br />

pode muito bem ser chamada de platense. Na construção <strong>do</strong>s laços de afinidade, um sindicato em<br />

especial teve papel fundamental: os marítimos e portuários. Pelas próprias características <strong>do</strong> serviço,<br />

estes trabalha<strong>do</strong>res levavam e traziam notícias, trocavam idéias e construiam canais de solidariedade<br />

real, afinal era através de seu trabalho que as duas margens <strong>do</strong> Rio da Prata entravam em contato.<br />

Também <strong>do</strong> exterior, sobretu<strong>do</strong> da Europa, chegavam através destes trabalha<strong>do</strong>res muitos <strong>do</strong>s informes<br />

e idéias circulantes. Por estas e outras características intrínsecas ao próprio trabalho, as federações <strong>do</strong>s<br />

marítimos desempenharam papel fundamental na construção da FORA e da FORU.<br />

9 CORES, op. cit., p. 38.<br />

10 THE MONTEVIDEO TIMES. Montevidéu, 27 maio 1905.<br />

11 TOURON, Lucia Sala de; LANDINELLI, Jorge. 50 Años del Movimiento Obrero Uruguayo. In: CASANOVA, Pablo<br />

Gonzalez. Historia del Movimiento Obrero en America Latina. México D.F.: Siglo XXI, 1984. p. 254. 4 v.<br />

12 Estavam filia<strong>do</strong>s à FORU, neste momento, os sindicatos mais combativos: a Federação <strong>do</strong>s Operários <strong>do</strong> Porto de<br />

Montevidéu, com todas as categorias de filia<strong>do</strong>s (tripulantes, estiva<strong>do</strong>res, lancheiros, etc.), Federação <strong>do</strong>s Operários da<br />

Construção, Federação <strong>do</strong>s Pedreiros, Sociedade <strong>do</strong>s Operários <strong>do</strong> Cerro, Federação Metalúrgica, Federação <strong>do</strong>s<br />

Ferroviários, Federação Local de Salto e muitas outras. Nesta época, a FORU contava com 3 periódicos, La Emancipación,<br />

La Federación e Solidaridad. Cf. RAMA; Carlos Maria; CAPPELLETTI, José Angel. El Anarquismo en America Latina.<br />

Caracas: Ayacucho, 1990. p. LXV-LXVI.<br />

13 ZUBILLAGA, Carlos. El Aporte de la Inmigración Italiana en la Conformación del Movimiento Sindical Uruguayo. In:<br />

DEVOTO, Fernan<strong>do</strong> J.; MIGUEZ, Eduar<strong>do</strong> J. Asociacionismo, Trabajo y Identidad Etnica:los italianos en la América<br />

Latina en una perspectiva comparada. Buenos Aires: CEMLA/CSER/IEHS, 1992. p. 245.<br />

14 Unión General de los Trabaja<strong>do</strong>res<br />

15 Confederación de Uniones Gremiales<br />

16 ZUBILLAGA, op. cit. p. 273.<br />

17 RAMA; CAPPELLETTI, op. cit., p. LXVI.<br />

18 Supressão <strong>do</strong> trabalho noturno, abolição <strong>do</strong> trabalho por tarefa, responsabilização <strong>do</strong>s patrões pelos acidentes de trabalho,<br />

luta contra a carestia de vida, descanso semanal, higiene nos locais de trabalho, proibição <strong>do</strong> trabalho infantil, etc.<br />

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