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Quanto à Argentina, no dia 6 de setembro de 1930 o Gal. Uriburu coman<strong>do</strong>u um golpe de<br />

esta<strong>do</strong> na Argentina derruban<strong>do</strong> o até então presidente Ypólito Yrigoyen. A ligação <strong>do</strong> general,<br />

pretensamente nacionalista, com os grupos petroleiros estrangeiros era notória, tanto que 3 de seus 8<br />

ministros eram membros de empresas petroleiras. 141 A partir deste golpe teve início aquela que ficou<br />

conhecida na Argentina como a “década infame” 142 , marcada por uma brutal repressão sobre o<br />

movimento operário e o <strong>anarquismo</strong>. O perío<strong>do</strong> mais tenebroso da repressão foram os dezoito meses<br />

em que o Gal. Uriburu esteve no poder.<br />

A FORA sofreu uma imensa repressão e mesmo com as baixas sofridas durante a década de<br />

1920 a federação chegou em 1930 com mais de 102 mil filia<strong>do</strong>s, um número expressivo para a<br />

época 143 , que fazia da FORA, apesar de todas as cisões, unificações e disputas sindicais, a maior das<br />

centrais argentinas até 1930. 144 Dez anos depois a repressão havia contribuí<strong>do</strong> bastante para destruir o<br />

sindicalismo de tom mais combativo e a correlação de forças havia se altera<strong>do</strong> de maneira<br />

substancial. 145<br />

Com o movimento anarquista, em especial, a repressão organizada por Uriburu foi<br />

implacável. 146 Severino Di Giovanni, um <strong>do</strong>s anarquista expropria<strong>do</strong>res mais destaca<strong>do</strong>s foi fuzila<strong>do</strong><br />

durante esta perío<strong>do</strong>. 147 O Gal. Uriburu havia nomea<strong>do</strong> um senhor chama<strong>do</strong> Rosasco, conheci<strong>do</strong> pelo<br />

seu ódio aos militantes operários em geral e pelos seus méto<strong>do</strong>s “eficazes” de interrogatório, como<br />

chefe de polícia e o encarregou diretamente de “hacer una limpia”, principalmente no bairro operário<br />

de Avellaneda, onde se concentravam muitos militantes anarquistas. Em poucas semanas Rosasco<br />

prendeu, torturou e deportou dezenas de militantes. Entretanto, desafian<strong>do</strong> a ditadura, os trabalha<strong>do</strong>res<br />

portuários entraram em greve. Este sindicato era tradicionalmente um reduto de militantes anarquistas e<br />

a influência libertária já vinha de longa data. Durante a greve, Rosasco como de praxe prendeu e<br />

torturou vários militantes sindicais. Morán 148 se vingou alguns dias depois executan<strong>do</strong> o chefe de<br />

polícia a balas dentro de um restaurante. Foi talvez o último ato de vingança realiza<strong>do</strong> por um<br />

anarquista expropria<strong>do</strong>r neste perío<strong>do</strong>. 149<br />

Também no Uruguai a reação golpista tomava fôlego e se articulou progressivamente. No<br />

processo de preparação <strong>do</strong> golpe teve importância fundamental a formação <strong>do</strong> Comité de Vigilancia<br />

Económica, que unificou num só bloco a Federação Rural, a Federação de Indústrias e a Câmara de<br />

Comércio, ou seja; praticamente toda a classe <strong>do</strong>minante uruguaia. 150 Este comitê, apelida<strong>do</strong> pelo povo<br />

de “comitê <strong>do</strong> vintém”, fixou como objetivo “neutralizar o perigo de um efetivo reformismo e iniciar<br />

derruba<strong>do</strong> por militares nacionalistas. Em Cuba, no ano de 1933 Gerar<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> era derruba<strong>do</strong> por militares sob man<strong>do</strong><br />

de Fulgêncio Batista. No Paraguai, Ayala foi derruba<strong>do</strong> pelo coronel nacionalista Franco, em 1936.<br />

141 MACHADO, op. cit., p. 107.<br />

142 KAPLAN, Marcos. Cinqüenta anos de história argentina (1925-1975): o labirinto da frustração. In: América Latina,<br />

história de meio século. Brasília: EdUNB, 1988. p. 36.<br />

143 RAMA; CAPPELLETTI, op. cit., p. XXXXIX.<br />

144 A COA tinha, no mesmo perío<strong>do</strong>, 93 mil filia<strong>do</strong>s e a USA 22 mil.<br />

145 A CGT possuía 311 mil membros, a USA 32 mil e a FORA, soman<strong>do</strong> os chama<strong>do</strong>s sindicatos autônomos, impulsiona<strong>do</strong>s<br />

por anarquistas 120 mil membros. Cf. RAMA, op. cit., p. 99.<br />

146 Ibidem, p. 96.<br />

147 RAMA; CAPPELLETTI, op. cit., p. XXXXIX.<br />

148 Uma das figuras mais destacadas <strong>do</strong> <strong>anarquismo</strong> entre os trabalha<strong>do</strong>res marítimos era Juan Antonio Morán, sindicalista<br />

de dia, expropria<strong>do</strong>r durante a noite. Vejamos uma descrição sobre as greves portuárias e a atitude deste anarquista durante<br />

os conflitos: “(...) Quan<strong>do</strong> é greve, é greve, e não se admite pelegos e crumiros, porém ele não ordena piquetes de greve<br />

enquanto fica no sindicato; não sai ele mesmo a percorrer o porto, e quan<strong>do</strong> sai leva uma pistola na cinta. Quan<strong>do</strong> os<br />

marítimos que se recusam a cumprir as ordens o vem aparecer, deixam o trabalho de imediato. E se não param, os pára<br />

Morán. Numa oportunidade, num barco na Boca, Morán ve desde longe que há um pelego trabalhan<strong>do</strong>. Saca a pistola,<br />

aponta acima da cabeça <strong>do</strong> pelego e atira. O argumento é suficiente. O pelego pára e desaparece corren<strong>do</strong>.” Cf. BAYER, op.<br />

cit., p. 89.<br />

149 Ibidem, p. 89-92.<br />

150 MACHADO, op. cit., p. 102.<br />

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