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No que tange à concepção sindical, a afirmação <strong>do</strong> anarco-sindicalismo foi aos poucos toman<strong>do</strong><br />
corpo na medida em que houve primeiramente a cisão com os socialistas, depois a radicalização de<br />
princípios libertários na FOA, e a seguir uma importante participação da FOA numa onda de greves,<br />
onde a federação inclusive cresceu numericamente Tu<strong>do</strong> parecia confluir para explicar esta ascensão<br />
como obra de uma definição ideológica mais clara, da radicalização da federação; na mesma medida<br />
em que se minimizava a importância de uma central unificada <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, imaginan<strong>do</strong>-se que<br />
uma central anarquista seria capaz de unificar os trabalha<strong>do</strong>res pela força <strong>do</strong> exemplo de sua prática,<br />
sem a necessidade de acor<strong>do</strong>s e concessões a outras correntes. Esta parece ter si<strong>do</strong>, a nosso ver, a base<br />
real das propostas claramente anarquistas que logo a seguir foram aprovadas.<br />
Uma mostra <strong>do</strong> crescimento da FOA é que no 3º congresso, realiza<strong>do</strong> de 6 a 8 de junho de 1903,<br />
compareceram 80 delega<strong>do</strong>s, revelan<strong>do</strong> um aumento numérico significativo, uma vez que o último<br />
congresso, antes da cisão que causou uma baixa de cerca de 20% <strong>do</strong>s filia<strong>do</strong>s, teve 76 delega<strong>do</strong>s. No<br />
segun<strong>do</strong> semestre deste mesmo ano, a federação já contava com 42 sociedades operárias e 15.212<br />
trabalha<strong>do</strong>res filia<strong>do</strong>s. 24 Entre 30 de julho e 2 de agosto de 1904, ocorreu o 4º Congresso da FOA<br />
quan<strong>do</strong> se resolveu mudar o nome para Federación Obrera Regional Argentina (FORA). Neste mesmo<br />
congresso foi aprova<strong>do</strong> o Pacto de Solidaridad¸ que seria a Base de Acor<strong>do</strong> tomada de empréstimo<br />
pela FORU em sua fundação.<br />
Merece destaque a palavra regional incluída na sigla, cuja intenção foi afirmar de maneira bem<br />
clara que não se considerava a Argentina como um Esta<strong>do</strong> ou unidade política, mas como uma região<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> onde existiam trabalha<strong>do</strong>res. Também neste congresso de 1904 foi aprovada uma declaração<br />
onde ainda não se empregava claramente o termo comunismo libertário, entretanto faltava muito pouco<br />
para isso, pois os objetivos da FORA (ex-FOA) passavam a ser alcançar “(...) uma sociedade sem<br />
classes, sem propriedade privada e sem Esta<strong>do</strong> (...)”, o que era praticamente o mesmo que o anarcocomunismo<br />
pregava.<br />
Neste momento uma grande repressão se abateu sobre os trabalha<strong>do</strong>res argentinos e a<br />
proximidade entre Argentina e Uruguai teve grande importância. A pequena distância entre os <strong>do</strong>is<br />
países, a língua comum e as inúmeras semelhanças existentes entre eles permitiu que militantes fugin<strong>do</strong><br />
da repressão se abrigassem, ora de um la<strong>do</strong>, ora de outro <strong>do</strong> Rio da Prata, e não somente na condição de<br />
um exila<strong>do</strong> relativamente isola<strong>do</strong> da vida social, mas como militantes ativos, que rapidamente<br />
conseguiam se vincular ao movimento operário e anarquista, conforme o caso. Isso já havia aconteci<strong>do</strong><br />
no perío<strong>do</strong> de dura repressão às greves de 1901 e 1902 na Argentina, quan<strong>do</strong> muitos militantes<br />
passaram ao Uruguai, e se passou novamente em 1905, quan<strong>do</strong> a repressão, o exílio e a fuga para o<br />
Uruguai foram mais intensos ainda. 25<br />
A FORA criou um comitê de propaganda internacional contra a lei de residência que funcionou<br />
em Montevidéu. Os anarquistas <strong>uruguaio</strong>s, quan<strong>do</strong> se intensificou a perseguição contra seus<br />
companheiros argentinos, se entregaram abertamente à campanha de ajuda aos exilia<strong>do</strong>s e os acolheram<br />
em suas filas. Os anarquistas da Argentina se integraram rapidamente na atividade local e nas lutas <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res <strong>uruguaio</strong>s. Dezenas de militantes que atuavam na Argentina se fixaram no Uruguai, em<br />
meio ao processo de construção <strong>do</strong> congresso operário que fundaria a FORU e uma intensa agitação<br />
grevista em Montevidéu. Muitos destes militantes haviam participa<strong>do</strong> da FORA. 26<br />
24 Ibidem, p. XXVI.<br />
25 O governo argentino decretou esta<strong>do</strong> de sítio Foi desatada uma grande repressão aos anarquistas e muitos deles foram<br />
deporta<strong>do</strong>s para o Uruguai. O navio de guerra Maipú foi transforma<strong>do</strong> em prisão e alojou uma boa quantidade de<br />
anarquistas. Depois da onda de deportações e prisões, terminou o esta<strong>do</strong> de sítio, fato que os trabalha<strong>do</strong>res avaliaram como<br />
uma vitória e, por isso mesmo, decidiram realizar uma grande manifestação comemorativa. Foram reprimi<strong>do</strong>s à bala,<br />
resultan<strong>do</strong> em 3 mortos e 17 feri<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s oficiais. Uma vez mais se iniciaram as deportações e desta feita<br />
foram incluí<strong>do</strong>s na lista negra to<strong>do</strong>s os membros da redação <strong>do</strong> periódico anarquista La Protesta, que acabaram em<br />
Montevidéu. Cita<strong>do</strong> em MECHOSO, op. cit. p. 35.<br />
26 A concentração crescente de anarquistas exila<strong>do</strong>s no Uruguai, desde a aplicação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de sítio na Argentina, nos<br />
meses de fevereiro a maio de 1905, e a integração nas atividades sindicais de operários deste país se expressou na imprensa<br />
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