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Como vamos ouvir música no futuro - Fonoteca Municipal de Lisboa

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Capa<br />

6 • Sexta-feira 18 Setembro 2009 • Ípsilon<br />

De auscultadores p<br />

Eis-<strong>no</strong>s numa sumptuosa casa<br />

parisiense, em ple<strong>no</strong>s Campos<br />

Elísios. Uma orquestra toca<br />

num salão, animando alguns<br />

dos convivas. Não todos, que<br />

há quem prefira <strong>ouvir</strong> teatro ou<br />

ópera <strong>no</strong>utra divisão, seleccionando<br />

o canal que o espírito<br />

julgue a<strong>de</strong>quado ao momento,<br />

há quem prefira ser<br />

senhor total da companhia<br />

so<strong>no</strong>ra e, <strong>no</strong>utra divisão<br />

ainda, seleccione o registo<br />

que queira <strong>ouvir</strong>, do princípio<br />

ao fim, com as interrupções<br />

que julga apropria-<br />

Para quem ouvia o gramofone <strong>no</strong> início do século X<br />

e mp3, <strong>de</strong> épicos <strong>de</strong> mil instrumentos criados n<br />

<strong>no</strong> bolso, “phones” na cabeça, <strong>de</strong>z ou 20 CD para o<br />

Vai valer tudo, até ressuscitar a cassete. T<br />

das. Relato <strong>de</strong> hoje, tempo <strong>de</strong> mil<br />

dispositivos e outras tantas plataformas<br />

<strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong> iPhones, iPods, iTunes,<br />

Blu-Ray e Surround 5.1? Nem por<br />

isso. Relato <strong>de</strong> uma festa <strong>no</strong> 202 dos<br />

Campos Elísios, mansão <strong>de</strong> Jacinto <strong>de</strong><br />

Tormes, personagem principal <strong>de</strong> “A<br />

Cida<strong>de</strong> e As Serras”, romance póstumo<br />

<strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós, editado em<br />

1901 – esta não parecerá, convenhamos,<br />

a forma mais apropriada <strong>de</strong> iniciar<br />

um texto que se preten<strong>de</strong> sobre<br />

o <strong>futuro</strong>. E, <strong>no</strong> entanto, avançamos.<br />

A animação na mansão: a orquestra,<br />

o Teatrofone ligado por linha telefónica<br />

às gran<strong>de</strong>s salas parisienses,<br />

o gramofone soltando melodias preservadas<br />

em cilindros <strong>de</strong> cera. O início<br />

<strong>de</strong>sta história: a íntima relação entre<br />

tec<strong>no</strong>logia e <strong>música</strong>. Uma alimentando<br />

a outra, conduzindo-a à mudança<br />

– quer por aproveitamento, quer por<br />

reacção. Resumindo: do gramofone<br />

<strong>de</strong> início do século XX à <strong>música</strong> feita<br />

em Playstation <strong>no</strong> XXI.<br />

Na viragem <strong>de</strong> século parisiense em<br />

que encontrámos Jacinto, está<strong>vamos</strong><br />

à beira <strong>de</strong> uma revolução. Com a possibilida<strong>de</strong><br />

da gravação, os processos<br />

<strong>de</strong> fruição, criação e interpretação da<br />

<strong>música</strong> transformar-se-iam irremediavelmente.<br />

Nessa altura, composi-<br />

tores como John Philip Sousa, catastróficos,<br />

anunciaram o fim das cantorias<br />

amadoras, caseiras, e o<br />

<strong>de</strong>semprego dos músicos profissionais.<br />

Outros, por sua vez, elogiaram<br />

a <strong>de</strong>mocratização que o invento traria:<br />

a <strong>música</strong>, toda a <strong>música</strong>, dos cantores<br />

populares aos líricos, das gran<strong>de</strong>s<br />

orquestras aos peque<strong>no</strong>s combos,<br />

acessível a todos (on<strong>de</strong> é que já ouvimos<br />

isto, e recentemente?).<br />

<strong>Como</strong> sabemos, o apocalipse <strong>de</strong><br />

Sousa não se concretizou. <strong>Como</strong> sabemos,<br />

a <strong>de</strong>mocratização tor<strong>no</strong>u-se<br />

realida<strong>de</strong> – e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação<br />

ao modo “<strong>de</strong>mocrático” não

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