Como vamos ouvir música no futuro - Fonoteca Municipal de Lisboa
Como vamos ouvir música no futuro - Fonoteca Municipal de Lisboa
Como vamos ouvir música no futuro - Fonoteca Municipal de Lisboa
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
para que <strong>futuro</strong>?<br />
XX, ou a cassete <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80, seria inimaginável este mundo <strong>de</strong> net<br />
s num apartamento. O <strong>no</strong>sso <strong>futuro</strong> como ouvintes, portanto, <strong>de</strong> iPod<br />
ocasiões especiais, nunca foi tão imprevisível. E já começou.<br />
. Texto Mário Lopes Ilustrações João Fazenda<br />
<strong>de</strong>morou a fazer-se sentir. A trompete<br />
<strong>de</strong> Louis Armstrong e os metais das<br />
bandas jazz, tornaram-se quase omnipresentes:<br />
ultrapassavam com o seu<br />
po<strong>de</strong>r estri<strong>de</strong>nte as limitações do gramofone<br />
que era, por exemplo, pouco<br />
dado às subtilezas das cordas <strong>de</strong> uma<br />
orquestra – problema que não se punha,<br />
outro exemplo, com as gravações<br />
do te<strong>no</strong>r Enrico Caruso, cuja voz<br />
ampla e po<strong>de</strong>rosa, captada e amplificada<br />
<strong>de</strong> uma forma única, o transformou<br />
numa das primeiras estrelas<br />
da alvorada da <strong>música</strong> gravada.<br />
Naquele período, maestros empali<strong>de</strong>ceram<br />
ao <strong>ouvir</strong>, nas gravações <strong>de</strong><br />
ensaios e <strong>de</strong> concertos, incorrecções<br />
<strong>de</strong> que nunca se tinham apercebido.<br />
Os violinistas passaram a usar mais<br />
assiduamente o “vibrato”, até então<br />
recurso esporádico, dado que o som<br />
assim produzido dava, nas gravações,<br />
outro peso à sua presença, e os dadaístas,<br />
vendo mais longe, utilizaram os<br />
gramofones não como emissores,<br />
mas como instrumentos <strong>de</strong> criação<br />
musical. Quais proto-DJs vanguardistas,<br />
organizaram sessões em que ligavam<br />
vários gramofones em simultâneo<br />
e em diferentes velocida<strong>de</strong>s,<br />
procurando <strong>de</strong>scobrir na <strong>música</strong> <strong>no</strong>vos<br />
sentidos – tudo isto é explicado<br />
por Alex Ross, crítico <strong>de</strong> <strong>música</strong> da<br />
“New Yorker”, num artigo, publicado<br />
em Junho <strong>de</strong> 2005, sobre “Capturing<br />
Sound: How Tech<strong>no</strong>logy Has Changed<br />
Music” (University Of California Press,<br />
2004), o livro <strong>de</strong> Mark Katz.<br />
Imersos em som<br />
“Fast-forward” até 2009. Para os inventores<br />
<strong>de</strong> inícios do século XX, seria<br />
inimaginável isto que agora temos: tanto<br />
mundo imaterial e tudo passível <strong>de</strong><br />
ser utilizado para a criação musical – <strong>de</strong><br />
resto, a partir do momento em que<br />
John Cage compôs o famoso “4’33””,<br />
<strong>no</strong> longínquo a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1952, instaurando<br />
Neste momento,<br />
as transformações<br />
suce<strong>de</strong>m-se ao ritmo<br />
dos “upgra<strong>de</strong>s<br />
informáticos”<br />
– ou seja, a velocida<strong>de</strong><br />
supersónica<br />
– e manifestam-se<br />
<strong>de</strong> forma múltipla<br />
o silêncio e o som ambiente como <strong>música</strong>,<br />
ficámos com todo um espaço,<br />
imenso, infinito, para preencher. Para<br />
os habitantes do início do século XX,<br />
prosseguimos, inimagináveis a Internet<br />
e as consolas, inimaginável a Torre <strong>de</strong><br />
Babel que é toda a <strong>música</strong> <strong>de</strong> todos os<br />
tempos tão facilmente disponível. Inimaginável<br />
tê-la tão portátil – 20 mil<br />
orquestras e 40 mil bandas num aparelho<br />
<strong>de</strong> “oh-tão-poucos-gramas” –,<br />
inimaginável a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser um<br />
músico megalóma<strong>no</strong> a criar épicos <strong>de</strong><br />
mil instrumentos <strong>no</strong> quarto <strong>de</strong> um<br />
apartamento. Entre tudo isto, porém,<br />
algo se mantém inalterável: a forma<br />
Ípsilon • Sexta-feira 18 Setembro 2009 • 7