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Em 1484 o Papa Inocêncio VIII proclama a Bula contra os Bruxos. Em 1486 é<br />
publicado o Malleus Malleficarum que se torna um verdadeiro guia para detectar,<br />
interrogar, torturar e enfim, executar a(o) bruxa(o) descoberta(o) como tal. O<br />
protestantismo também fez perseguições, mas ao invés de guiarem-se pelo “Martelo<br />
das Feiticeiras” (Malleus Malleficarum) para identificar as(os) possíveis culpadas(os),<br />
justificavam suas execuções com o uso da seguinte citação do Antigo Testamento:<br />
“Não deixarás que nenhum bruxo viva”.<br />
Segundo Sallmann (2002), o fenômeno da bruxaria do final da Idade Média e<br />
início da Idade Moderna foi um fenômeno rural que exprimia, sobretudo, a fragilidade<br />
do mundo camponês 21 . Ele ainda completa nos dizendo que:<br />
“o nascimento do mito demoníaco e as ondas de caça às bruxas<br />
devem ser situados no contexto religioso muito conturbado dos<br />
séculos XV e XVI. A cristandade ocidental é, então, dividida pelas<br />
heresias, em seguida, a partir de 1517, pela ruptura definitiva das<br />
Reformas protestantes. A bruxaria foi, à sua maneira, uma resposta<br />
às angústias religiosas da época” (SALLMANN, 2002, p. 21).<br />
De forma geral, as figuras mais perseguidas pela Inquisição sob a acusação<br />
da bruxaria eram: a velha solitária que vivia na companhia de seus bichos, não raras<br />
vezes o fadado gato ou cão, que seria o disfarce do demônio sob o olhar dos outros;<br />
também a mulher bela e sedutora que não conseguia conter uma sexualidade que<br />
não era própria às mulheres (o desejo, o prazer e o gozo); assim como, também,<br />
outras figuras que faziam inveja ou causavam cobiça cuja denúncia poderia valer<br />
alguma compensação, seja pecuniária, de favores ou de bens.<br />
Da Europa ao Novo Mundo as bruxas e bruxos foram perseguidas(os) como a<br />
mais diabólica personificação do mal e essa é a justificação para toda a crueldade<br />
praticada contra essas pessoas que eram torturadas a fim de confessarem seus<br />
crimes e depois afogadas, enforcadas, degoladas ou queimadas nas chamas. Em<br />
1692 as colônias Inglesas na América também fervilhavam com as heresias e<br />
acusações de bruxaria, tanto que temos como exemplo o caso muito documentado<br />
(que inclusive virou filme na década de 90 do nosso século) das bruxas de Salém.<br />
Depois desse período negro de nossa história as bruxas passaram muito<br />
tempo desacreditadas e esquecidas e foi só em 1937, ao publicar “Bruxaria,<br />
Oráculos e Magia entre os Azande”, que o antropólogo inglês Evans-Pritchard<br />
trabalha com a questão da bruxaria não como uma espécie de manifestação<br />
patológica, mas sim como uma religião, pois se trata de um sistema legítimo de<br />
crenças de uma comunidade, no caso de Evans-Pritchard a tribo dos Azande.<br />
21 SALLMANN, Jean-Michel. As Bruxas – Noivas de Satã. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.<br />
p.26.<br />
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