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Muriel Bulsing - UFSM

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS<br />

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA<br />

<strong>Muriel</strong> <strong>Bulsing</strong><br />

A BRUXARIA MODERNA:<br />

Conhecendo a Wicca e suas Representações e Relações de Gênero<br />

Santa Maria, 2010


<strong>Muriel</strong> <strong>Bulsing</strong><br />

A BRUXARIA MODERNA:<br />

Conhecendo a Wicca e suas Representações e Relações de Gênero<br />

Trabalho de conclusão de curso<br />

apresentado ao Curso de Ciências Sociais,<br />

para obtenção do título acadêmico de<br />

bacharel em Ciências Sociais, sob a<br />

orientação da profª. Jurema Gorski Brites e<br />

co-orientação da profª. Zulmira Newlands<br />

Borges.<br />

Santa Maria, 2010<br />

2


<strong>Muriel</strong> <strong>Bulsing</strong><br />

A BRUXARIA MODERNA:<br />

Conhecendo a Wicca e suas Representações e Relações de Gênero<br />

Este trabalho de conclusão de curso foi julgado adequado como parte dos<br />

requisitos para obtenção do título acadêmico de bacharel em Ciências Sociais,<br />

Departamento de Sociologia e Política/Centro de Ciências Sociais e Humanas/<br />

Universidade Federal de Santa Maria.<br />

Santa Maria, 15 de julho de 2010.<br />

______________________________________________________<br />

Profª. Fátima Perurena<br />

Universidade Federal de Santa Maria<br />

______________________________________________________<br />

Profª. Jurema Brites<br />

Universidade Federal de Santa Maria<br />

______________________________________________________<br />

Profª. Mari Cleise Sandalowski<br />

Universidade Federal de Santa Maria<br />

3


AGRADECIMENTOS<br />

Meu agradecimento mor vai à minha mãe, mulher<br />

esta que com complacência abdicou de seu tempo e<br />

seu espaço para que seus filhos pudessem seguir<br />

em busca de aprendizado e conhecimento com uma<br />

entrega e tranqüilidade que de outra forma jamais<br />

nos seria possível. Agradeço ao meu companheiro<br />

que durante toda minha graduação esteve ao meu<br />

lado apoiando-me e aturando meus momentos de<br />

estresse. Agradeço aos colegas de curso e aos<br />

colegas de mesas de bares onde inúmeras<br />

conversas, às vezes pequenas discussões, foram<br />

travadas em torno de assuntos que oscilavam entre<br />

a política, o relativismo, as ideologias e até<br />

devaneios sobre sentidos metafísicos, filosofia<br />

existencialista, ética e moral, etc. Agradeço, enfim,<br />

aos meus professores, mestres queridos que<br />

souberam transmitir seus conhecimentos<br />

possibilitando que nossas “cabeçinhas” exercitassem<br />

dia-a-dia o hábito de refletir e criticar, reconhecendo<br />

o (sem)sentido estúpido da intolerância e o respeito<br />

às idéias e valores alheios, pois não existe verdade<br />

que sustente o status de verdade absoluta.<br />

4


“Assim nos encontramos num Tempo sem tempo e<br />

num Lugar sem lugar, pois estamos entre os<br />

5<br />

mundos e além.”<br />

(DANIELS e TUITÉAN, 2006, p.100)


RESUMO<br />

Este trabalho propõe inicialmente uma introdução à Wicca visando à<br />

compreensão desse fenômeno religioso, para tanto será necessário abordar<br />

questões que versam sobre o sagrado e o profano, o simbólico, as crenças, a magia,<br />

as divindades, entre outras. Em seguida, incorporou-se nesse trabalho uma reflexão<br />

acerca das representações e relações de gênero na Wicca. Utilizei-me para tal da<br />

perspectiva antropológica, sobretudo das teorias sobre gênero tecidas dentro desta<br />

área do saber das Ciências Sociais.<br />

Na Introdução – Capítulo 1 – apresento os delineamentos metodológicos<br />

deste trabalho e trago um pouco da história da bruxaria e da Wicca a fim de ir já<br />

familiarizando o leitor com o universo da Wicca.<br />

No Capítulo 2 apresento uma breve revisão bibliográfica sobre Antropologia<br />

da Religião relacionada com a temática da bruxaria seguida de algumas<br />

considerações sobre a questão do gênero à luz da antropologia.<br />

No Capítulo 3 desenvolvo a descrição e análise da Wicca através da<br />

observação e leitura de sites e, principalmente, de livros destinados aos<br />

interessados nesta religião e à própria comunidade wiccaniana. Dessa forma espero<br />

ter sido possível realizar uma reflexão esclarecedora acerca das questões de gênero<br />

presentes nesta Religião Neo-Pagã. Em seguida apresento algumas considerações<br />

finais, no Capítulo 4.<br />

Palavras-chave: Bruxaria Moderna, Wicca, Crenças, Representações de Gênero e<br />

Relações de Gênero.<br />

6


RESUMEN<br />

Este trabajo propone una introducción a la Wicca, a comprender este<br />

fenómeno religioso será necesario hablar de lo sagrado y lo profano, lo simbólico, las<br />

creencias, deidades y magia, entre otras cosas. Incorporadas en este trabajo si<br />

encuentra una reflexión sobre la representación y las relaciones de género en la<br />

Wicca. Lo usé de la perspectiva antropológica, sobre todo las teorías de género que<br />

existen dentro de esta área de conocimiento de Ciencias Sociales.<br />

En la Introducción - Capítulo 1 - se presenta el esquema metodológico de este<br />

trabajo y cuento un poco de la historia de la brujería y la Wicca con el fin de<br />

conseguir que el lector ya está familiarizado con el mundo de la Wicca.<br />

En el capítulo 2 se presenta un breve repaso de Antropología de la Religión<br />

relacionados con el tema de la brujería, seguido de algunas consideraciones sobre<br />

la cuestión del género a la luz de la antropología.<br />

En el capítulo 3 se desarrolla una descripción y análisis de la Wicca través de<br />

la observación y la lectura de los sítios, y en especial de libros, para aquellos<br />

interesados en esta religión. Así que espero haber sido capaz de realizar un debate<br />

esclarecedor acerca de las cuestiones de género presentes en esta religión neo-<br />

pagana. Para término les presento algunas observaciones finales en el capítulo 4.<br />

Palabras clave: Brujería Moderna, Creencias Wicca, las Representaciones de<br />

Género y Relaciones de Género.<br />

7


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 01 - O Deus Cornífero.....................................................................................51<br />

Figura 02 - A Suma Sacerdotisa e o Sumo Sacerdote...............................................55<br />

Figura 03 - A Deusa Donzela, Mãe e Anciã...............................................................60<br />

Figura 04 - Altar..........................................................................................................61<br />

Figura 05 - Athame.....................................................................................................62<br />

Figura 06 - Caldeirão..................................................................................................63<br />

Figura 07 - Cálice.......................................................................................................63<br />

Figura 08 - As Três Faces da Deusa..........................................................................64<br />

8


QUADRO-SINÓPTICO<br />

Quadro Sinóptico dos Sabás .................................................................................. 57<br />

9


1 INTRODUÇAO<br />

SUMÁRIO:<br />

1.1 O Delineamento do Trabalho<br />

1.1.1 A Etnologia e A Etnografia<br />

1.1.2 E a “Netnografia”, o que seria?<br />

1.1.3 Nomenclatura e Conceituações<br />

1.2 Contextualizando a Wicca na história<br />

2 UMA BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

2.1 Considerações acerca da Antropologia da Religião<br />

2.1.1 Evans-Pritchard e o estudo da bruxaria entre os Azande<br />

2.1.2 Nova Era<br />

2.2 As Questões de Gênero<br />

2.2.1 O Gênero enquanto categoria analítica<br />

2.2.2 Os Padrões de gênero e a percepção do diferente<br />

3 DESVENDANDO A WICCA<br />

3.1 Coven, Bruxaria Hereditária e Bruxaria Solitária<br />

3.2 As Tradições<br />

3.2.1 Tradição Diânica<br />

3.2.2 Tradição Gardneriana<br />

3.2.3 Tradição Seax Wicca<br />

3.3 Crenças e Práticas<br />

3.3.1 Círculo Mágico<br />

3.3.2 Magia<br />

3.4 Divindades<br />

3.5 Praticantes<br />

3.6 Ritos<br />

3.6.1 Os Sabás<br />

3.6.2 Os Esbás<br />

3.7 O Altar e os Instrumentos<br />

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

5 BIBLIOGRAFIA<br />

10


5.1 Bibliografia Acadêmica<br />

5.2 Bibliografia Êmica<br />

5.3 Dicionários Consultados<br />

5.4 Fontes da Internet e Outros Tipos de Publicação Eletrônica<br />

11


1 INTRODUÇÃO<br />

“A bruxaria é um modo de representação do mundo e das forças invisíveis<br />

que o animam.” (SALLMANN, 2002, pg.13)<br />

Este trabalho visa à apresentação da Religião Wicca e tem a pretensão de<br />

realizar nesta uma análise de gênero sob o viés das teorias antropológicas acerca<br />

do conceito de gênero.<br />

Procurarei, primeiramente, responder a algumas questões, tais quais:<br />

Qual a origem da Wicca?<br />

Como podemos definir o fenômeno “Wicca”?<br />

O que são as Tradições dentro da Wicca e o quê as especifica?<br />

Quais os fundamentos antropológicos do que convencionamos chamar de<br />

Bruxaria (Crenças, Práticas, Ritos, Mito e Símbolos)?<br />

Enfim, com essas questões clarificadas pude passar às indagações que<br />

permitiram a análise referente às questões de gênero na Wicca. Procurei então dar<br />

conta de um segundo grupo de questões:<br />

Quais as representações das Divindades wiccanianas?<br />

O que pode ser percebido em termos de representações e relações de<br />

gênero entre os praticantes da Wicca?<br />

Nos rituais wiccanianos, observando-se as práticas, o quê é possível<br />

inferir em termos de gênero?<br />

Articulando, pois, a religião com a análise de gênero é possível que<br />

compreender alguns aspectos desse fenômeno religioso denominado Wicca, que é<br />

relativamente novo e que vincula o conceito do feminino de uma forma muito mais<br />

preponderante do que convencionamos representar em outra gama de religiões.<br />

Uma das principais características da sociedade ocidental é ser fruto de um<br />

patriarcalismo 1 que apenas a partir de meados do século passado começou a ser<br />

pensado e conscientizado, pois as relações entre homens e mulheres foram durante<br />

1 Ver em: SCHOTTROFF, Luise. Patriarcado; apud GÖSMANN, Elisabeth et al.. Dicionário de<br />

Teologia Feminista. Tradução de Carlos Almeida Pereira. Petrópolis: Vozes, 1996. p.369-374.<br />

Schottroff nos diz que o “patriarcado não é, em absoluto, entendido pelas feministas de uma maneira<br />

única. Elas foram buscar o conceito em Max Weber, mas no e pelo movimento feminista „patriarcado‟<br />

muniu-se de múltiplos significados diferentes. Kate Millett teve grande influência na maneira de<br />

entender o conceito. Para ela o patriarcado como instituição é „uma constante social que perpassa<br />

todas as outras formas políticas, sociais ou econômicas‟, embora reconheça existirem diferenças<br />

históricas e geográficas”.<br />

12


muito tempo naturalizadas. Disto decorre uma forte postura androcêntrica em nossa<br />

sociedade que, inclusive, se estende à Academia, visto que a grande maioria dos<br />

estudos (assim como das análises, das investigações, das narrativas e das<br />

proposições, etc.) são focados a partir de uma perspectiva majoritariamente<br />

masculina, que se pretende neutra, e tomada como válida para a generalidade dos<br />

seres humanos, ou seja, tanto homens quanto mulheres.<br />

Mais do que romper o “silêncio das mulheres” ou reiterar uma vitimização que<br />

só é verdadeira enquanto consentida, pensar sob outras perspectivas nos possibilita<br />

a consciência de que valores e idéias são vinculados de forma contingente e a<br />

distribuição e o exercício do poder na sociedade fazem parte de uma rede de<br />

configuração extremamente complexa, mas, sobretudo, cultural e historicamente<br />

definida.<br />

O que proponho e entendo ser relevante é a possibilidade de pensar a<br />

constituição dos gêneros e a relação entre os sexos atuando num plano de<br />

significados religiosos, assim sendo míticos e cosmológicos à partir de uma<br />

perspectiva feminina, pois apesar da Wicca cultuar tanto o Deus quanto a Deusa é<br />

possível notar, a priori 2 , a reverência preponderante à Deusa. Mas isso não implica<br />

que o Deus sucumba ao poder da Deusa; o que me parece mais adequado falar é<br />

que, sob a perspectiva wiccaniana, percebemos imediatamente o feminino como<br />

sujeito e como representação e isso, por si só, enseja uma redistribuição de valor<br />

que, mais do que igualar ou inverter a posição entre os sexos, reorganiza uma<br />

relação para à qual não estamos acostumados em nossa sociedade ocidental<br />

tradicional: a mulher e o feminino ditando uma normalidade, estabelecendo uma<br />

ordem que dela parte e que só ela suspende.<br />

1.1. O delineamento do trabalho<br />

“... o trabalho de um antropólogo é investigar o que as pessoas fazem e em que<br />

acreditam, não o que os moralistas dizem que elas fazem e acreditam. Eles podem<br />

tirar suas próprias conclusões e dar à luz qualquer teoria, desde que deixem claro<br />

que são apenas suas próprias teorias e não fatos provados.” (GARDNER, 2003,<br />

p.148)<br />

2 Enfatizo esse “a priori” de forma a ressaltar que a idéia do feminino como fator central da Wicca foi<br />

meu ponto de partida, uma suposição baseada no senso-comum.<br />

13


Desde que comecei a participar das atividades vinculadas ao GEPACS –<br />

Grupo de Estudos e Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde – no primeiro<br />

semestre de 2008 que meu interesse por questões relativas ao gênero e a<br />

sexualidade foram crescendo e me envolvendo no universo da pesquisa acadêmica.<br />

Das primeiras leituras de Le Breton (2003; 2007) sobre as implicações sócio-<br />

culturais na constituição dos corpos passei aos Estudos Femininos, ou Estudos de<br />

Mulheres, do clássico livro de Simone de Beauvoir intitulado “O Segundo Sexo”<br />

(1970) à leitura de Margareth Mead (2003), daí à conscientização de que os gêneros<br />

se definem sempre em estreita relação, seja numa relação de oposição, como na<br />

composição do binômio dominação-subordinação, seja numa relação de<br />

complementaridade, foram precisas muitas noites em claro lendo e relendo a história<br />

silenciada das mulheres através de Michele Perrot (2005; 2007), os entremeios da<br />

dominação masculina em Pierre Bourdieu (2002), os intercursos de uma sexualidade<br />

bem disciplinada em Michel Foucault (2001), dentre tantos outros referentes nesse<br />

campo temático que vem crescendo dentro da Academia desde a década de 70.<br />

Com relação à religião denominada Wicca, o meu conhecimento era muito<br />

superficial; conhecia apenas aquelas poucas informações colhidas a esmo nos blogs<br />

e sites da internet, ou por algum comentário de um conhecido aqui e acolá. Foi com<br />

minha inserção no campo dos estudos de gênero que acabei vislumbrando na Wicca<br />

a possibilidade de melhor conhecer esse “movimento” que, me parecia, a priori,<br />

enfatizar o feminino em detrimento do masculino, num exemplo de inversão das<br />

relações de poder entre os sexos que comumente vemos em outras religiões que<br />

privilegiam o Deus, o Pai, o Espírito Santo, enfim, o masculino.<br />

Comumente vemos o conceito de gênero sendo empregado<br />

indiscriminadamente como sinônimo dos estudos femininos ou de mulheres, o que,<br />

nesses casos, perdem-se as possibilidades de análise que concernem ao caráter<br />

relacional que é essencial ao conceito de gênero. Portanto, neste trabalho, ao<br />

analisar uma religião que focaliza principalmente em aspectos femininos do sagrado<br />

procurarei não esquecer que o feminino se define em sua relação com o masculino e<br />

vice-versa. Ao centrar meu trabalho na tarefa de identificar as relações de gênero<br />

que constituem as representações do Deus e da Deusa, como também das práticas<br />

simbólicas nos ritos, a partir das relações que constituem e posicionam (não<br />

esquecendo as relações de poder que aí estão implicadas) tanto o feminino quanto o<br />

masculino na Wicca, procurei a confirmação ou refutação da minha hipótese de que<br />

realmente a Wicca é uma religião voltada, sobretudo, ao feminino e que, de alguma<br />

14


forma restabelece à mulher a posição de superioridade no domínio da religiosidade<br />

(pelo menos no domínio dessa religiosidade).<br />

A análise presente neste trabalho partiu de uma leitura exaustiva da literatura<br />

clássica wiccaniana; nesse sentido considerei que “os clássicos da Wicca” são os<br />

livros escritos pelos próprios praticantes da Wicca e que, entre seus iguais, são<br />

reconhecidos como autoridades na temática. Considerei os livros analisados como<br />

fonte documental, ou fonte primária, uma vez que são a manifestação e registro das<br />

tradições e costumes da comunidade wiccaniana e, com isso em mente, fui à busca<br />

da literatura que me serviria como fonte de dados para análise.<br />

Primeiramente, recorri aos sites temáticos da Wicca. Digitando o termo<br />

“Wicca” no site de busca Google em julho de 2009, aparece o exorbitante número de<br />

4.680.000 páginas encontradas, reduzindo a busca para páginas em português são<br />

aproximadamente 166.000 e, especificando ainda mais a busca para páginas do<br />

Brasil surge a cifra de 106.000. Utilizei alguns critérios para selecionar os sites que<br />

me pareciam mais relevantes, dentre esses critérios posso citar aqueles que tinham<br />

na própria denominação o termo Wicca, os que faziam atualizações diárias, os que<br />

eram referidos em outros sites e por outros wiccanianos em fóruns temáticos de<br />

wicca e bruxaria, etc. Citando a lista de sites que se sobressaíram em minha busca<br />

por referências e análise, temos:<br />

Old Religion – Wicca e as antigas religiões da bruxaria:<br />

http://www.oldreligion.com.br/novo/index.asp;<br />

Círculo Sagrado – A magia está dentro de você:<br />

http://www.circulosagrado.com/;<br />

Bruxaria.Net – O maior portal sobre Bruxaria, Wicca e Paganismo em Língua<br />

Portuguesa:<br />

http://bruxaria.net/;<br />

Abrawicca – Associação Brasileira da Arte e Religião Wicca:<br />

http://www.abrawicca.com.br/index.php?option=com_content&view=frontpage<br />

&Itemid=1;<br />

Wicca Gardneriana – A Comunidade Gardneriana do Brasil:<br />

http://www.wiccagardneriana.net/home.html;<br />

Dimensão Wicca – Portal de estudos sobre Wicca e magia:<br />

http://www.dimensaowicca.com/.<br />

Convém enfatizar o quanto a internet assumiu um papel relevante em meu<br />

trabalho de pesquisa, tanto como local de busca de referências e dados primários<br />

como lócus de comunicação com a própria comunidade wiccaniana. É interessante<br />

15


notar, já nas primeiras pesquisas a fim de revisão bibliográfica, que os fatores mais<br />

mencionados como meios de expansão da Wicca hoje seriam a globalização e a<br />

Internet 3 . Isso se deve, em grande parte, ao importante papel desempenhado pelas<br />

Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na construção de<br />

representações, novas formas de sociabilidade e percepções do mundo na<br />

atualidade.<br />

As TICs, e aqui falando mais especificamente da Internet, causaram<br />

mudanças significativas, desde as formas de relacionamentos entre indivíduos e/ou<br />

entre grupos (profissionais, afetivos, etc.) até a própria concepção de tempo e<br />

espaço; pois é neste território desterritorializado que se dão muitas de nossas<br />

interações e comunicações cotidianas. 4<br />

Seguindo adiante, em um segundo momento eu fiz uso desses sites e<br />

comunidades para comunicar-me através de e-mails, scraps e outros tipos de<br />

mensagens, onde procurei saber pelos próprios praticantes da Wicca quais as suas<br />

referências para o conhecimento da religião e posterior prática.<br />

Uma característica interessante que observei a partir do ambiente virtual é<br />

que o usuário da internet não é um ator passivo no recebimento da informação, ele<br />

de certa forma destila, adapta e transforma aquilo que capta através da internet de<br />

acordo com suas necessidades e possibilidades reais. Isso foi percebido,<br />

principalmente, na troca de correspondências via e-mail com um grupo de<br />

praticantes da Wicca onde, na troca de “receitas mágicas”, comumente surgia a<br />

necessidade de substituir algum ingrediente por outro dependendo da região e dos<br />

costumes locais do praticante.<br />

Aproveitando a oportunidade gostaria de falar um pouco mais sobre esse<br />

grupo no qual acabei me inserindo. Esse grupo, constituído unicamente por<br />

mulheres, mantinha uma intensa troca de correspondências diárias 5 através de e-<br />

mails (pelo Yahoo Grupos) cujo assunto era designado sempre por: “Ciclo Feminino<br />

3 Janluís Duarte Oliveira em artigo intitulado “As Bruxas da Internet” aponta-nos algumas<br />

características que o uso da internet ajudaria a disseminar a respeito de um imaginário wiccaniano: a<br />

linearidade da informação e das fontes, a disseminação de falácias históricas, a ênfase em lendas e<br />

mitos advindos do continente europeu, ênfase na prática e não na dogmática e a romantização da<br />

figura da bruxa. Disponível em:<br />

http://guinevere.diinoweb.com/files/Livros_PDF/As%20Bruxas%20na%20Internet.pdf, acessado em<br />

15/06/2009.<br />

4 Gostaria de pontuar aqui que não estou generalizando o acesso à internet como se fosse realidade<br />

para todos em todas as partes do mundo, sem maiores delongas, existem sim disparidades<br />

elevadíssimas em relação ao acesso não só à rede quanto à tecnologia.<br />

5 Geralmente apresentava-se um tópico por dia e este tópico era comentado e acrescido durante todo<br />

o dia, às vezes por dias a fio, pelas componentes do grupo.<br />

16


de Debates”. Inicialmente fiz contato com elas através do site Paganismo.Org 6 onde<br />

inclui um perfil sucinto a meu respeito apresentando-me com meus dados reais<br />

(nome, idade, cidade em que resido, universidade e curso que estou vinculada, etc.)<br />

e colocando meus interesses não só pessoais como também acadêmicos, ou seja, já<br />

expunha de imediato a possibilidade (que veio a se concretizar) de realizar meu<br />

trabalho de conclusão de curso justamente sobre a Wicca.<br />

A maioria dos tópicos discutidos nos e-mails do grupo acima citado girava em<br />

torno de questões femininas, como menstruação, gestação, sedução, receitas de<br />

rituais correspondentes com a fase da lua, exercícios de auto-reflexão, etc. Porém,<br />

vez ou outra, os homens eram inseridos no assunto quando, por exemplo, uma das<br />

componentes do grupo contava a reação do marido depois dela ter realizado<br />

determinado ritual; ou ainda quando elas mesmas incentivavam umas as outras para<br />

manterem um diálogo com os filhos ou companheiros não só sobre coisas que<br />

diziam respeito à relação da família como também sobre a opinião deles em relação<br />

ao caminho que elas seguiam, ou seja, o caminho da Arte.<br />

Enfim, devo dizer que esse grupo me foi extremamente útil porque me<br />

possibilitou um contato ativo com essas mulheres, já que eu podia ler e comentar<br />

seus tópicos assim como, também, tive a possibilidade de colocar pontos para<br />

serem pensados e discutidos.<br />

Após ter recolhidos muitas informações através dos sites e de meus contatos,<br />

montei um arcabouço do referencial literário da temática, donde parti para a análise<br />

de conteúdo que, compondo uma observação cautelosa e metódica, me permitiu a<br />

descrição sistemática, objetiva e, dentro do possível, interpretativa do conteúdo da<br />

comunicação na qual busquei respaldo, ou seja, da literatura escrita por aqueles aos<br />

quais em antropologia denominaríamos de nativos, ou seja, os próprios praticantes<br />

da Wicca.<br />

Eis a lista dos livros e algumas considerações acerca da obra e do autor:<br />

A Bruxaria Hoje (2003) e O Significado da Bruxaria (2004), de<br />

Gerald Gardner – representando a Tradição da Wicca Gardneriana<br />

Gerald Gardner nasceu em 1884 na Inglaterra, foi funcionário público,<br />

escritor, ocultista e antropólogo (sem formação formal). Nestes livros ele nos conta<br />

um pouco da história da bruxaria, desde possíveis raízes no antigo Egito até os<br />

tempos atuais, relata origens de histórias e superstições que são contadas sobre o<br />

6 Esse site foi retirado da rede pelo administrador B. Duncan a quem agradeço imensamente os<br />

esclarecimentos iniciais.<br />

17


ofício da bruxaria, nos familiariza sobre a prática da magia e ainda nos apresenta as<br />

significações para instrumentos, ritos e crenças. É importante ressaltar que nestes<br />

livros Gerald Gardner fala a partir de sua própria experiência, assim, já no prefácio<br />

do livro A Bruxaria Hoje, publicado em 1954, ele nos conta que escreve “apenas<br />

sobre o que ocorre no Norte, Sul, Leste e Oeste da Inglaterra de hoje, em grupos de<br />

bruxas que eu conheço” (2003: p.11). Ele também nos fala, em tom de<br />

esclarecimento, que ele é apenas um membro de um grupo de bruxas, não<br />

possuindo nenhum papel como chefe ou líder de forma alguma. 7<br />

Os livros desse autor são de fundamental interesse para os objetivos desse<br />

trabalho visto que é consenso 8 que foi Gardner o responsável por trazer à<br />

notoriedade no século XX a questão da Bruxaria como religião ao atestar em seus<br />

livros a veracidade das teorias de Margareth Murray 9 que versavam sobre a<br />

sobrevivência de um culto “marginal” presente no Ocidente desde o período<br />

Paleolítico; esse culto teria se mantido vivo e atuante e seria praticado<br />

paralelamente aos cultos oficiais de cada período.<br />

Apesar de Gardner ser referido como antropólogo (sem formação), tratei sua<br />

obra como referencial êmico, até porque nestes livros Gardner nem sempre cita<br />

todas as suas fontes, ele geralmente menciona os nomes aos quais se refere nas<br />

afirmações, mas nem sempre explicita citando a obra, a página, etc. Outra<br />

observação é que o livro é todo em tom de afirmações e suas fundamentações<br />

constantemente são acompanhadas de “eu acho”, “na minha opinião”, etc.<br />

O Guia da Tradição Wicca para Bruxos Solitários (2006) e Wicca – Um<br />

Estilo de Vida, Religião e Arte (2003), de<br />

Raymond Buckland – representando a Tradição da Seax Wicca e a Bruxaria<br />

Solitária<br />

Raymond Buckland foi iniciado na bruxaria por G. Gardner e a Sacerdotisa<br />

Lady Olwen (de nome civil Monique Marie Maurice Arnoux). Buckland migrou para<br />

os Estados Unidos da América em 1962 e foi nesse país que ganhou notoriedade<br />

por ter escrito diversos livros versando sobre Ocultismo. A Tradição fundada por<br />

Buckland, a Seax Wicca é também considerada a versão saxônica da Bruxaria e é<br />

uma das primeiras Tradições que não só aceitam como também ensinam o caminho<br />

7 GARDNER, Gerald. A Bruxaria Hoje. São Paulo: Madras Editora, 2003, p.11.<br />

8 Refiro-me aqui em consenso porque todos os sites e livros os quais eu utilizei para minha pesquisa<br />

explanatória sobre o tema deste trabalho mencionavam este autor como referência primária.<br />

9 Egiptóloga e antropóloga inglesa nascida no ano de 1863 e falecida em 1963.<br />

18


da Arte para os Bruxos Solitários e auto-iniciados, ou seja, aqueles que praticam a<br />

bruxaria sem fazer parte de um grupo instituído.<br />

Em O Guia da Tradição Wicca Buckland compila uma espécie de manual<br />

básico e abrangente sobre a prática da Wicca pontuando as questões pertinentes<br />

para a prática da bruxaria solitária. Assim Buckland apresenta instruções<br />

pragmáticas a respeito da religião, como, por exemplo, cita as vantagens e os<br />

obstáculos da prática solitária; descreve os instrumentos e o espaço necessários<br />

para a prática dos ritos sagrados e da magia; etc. Já em Wicca – Um Estilo de<br />

Vida, Religião e Arte o autor nos apresenta fundamentos consistentes do porquê<br />

ele considera a Wicca investida de um sentido total, ou seja, além de possibilitar<br />

uma prática religiosa universal (pois segundo o autor serve para qualquer pessoa,<br />

em qualquer lugar) a Wicca também fornece aos seus adeptos um sistema de ética<br />

e de moral para a vida que define-se à partir das próprias crenças wiccanianas.<br />

Wicca – A Religião da Deusa (2002) e Wicca – Ritos e Mistérios da<br />

Bruxaria Moderna (1999), de<br />

Claudiney Prieto – representando a Tradição da Wicca Diânica Nemorencis<br />

Esse autor é o pioneiro na divulgação da Wicca no Brasil. Prieto nos diz que a<br />

Religião Wicca, sendo uma religião não só de amor como também de prazer, trás ao<br />

seu praticante a possibilidade de religar o indivíduo às forças da natureza, ao<br />

princípio do Divino Feminino (aqui já temos uma referência clara à proeminência do<br />

feminino) e, de uma forma geral, a todos os deuses presentes em suas<br />

manifestações. 10 Os livros de Prieto apresentam a Wicca sob a prevalência da<br />

Deusa como a “Mãe Primordial” que teria criado a tudo e a todos, inclusive seu<br />

próprio complemento masculino, o Deus. 11<br />

Além das inúmeras referências em torno dessas obras e autores que obtive<br />

através dos sites e de contatos com praticantes wiccanianos, a escolha destes livros<br />

se deram também em função de representarem diferentes Tradições da Wicca. Bem<br />

sucintamente, uma Tradição, nesse contexto sempre grafada com letra maiúscula, é<br />

um subgrupo específico dentro da religião Wicca. A Tradição Gardneriana possui<br />

extrema relevância na temática da Wicca justamente porque seu fundador, Gerald<br />

Garner, é considerado o fundador da própria Wicca tal qual conhecemos hoje; a<br />

10 PRIETO, Claudiney. Wicca – Ritos e Mistérios da Bruxaria Moderna. São Paulo: Germinal, 1999,<br />

p.14.<br />

11 Ibid, p.28.<br />

19


Tradição Seax Wicca, cujo fundador trás do continente europeu, Inglaterra, para a<br />

América do Norte as crenças wiccanianas e também instaura a possibilidade da<br />

prática solitária; e, por fim, a Tradição Diânica que se mostra mais voltada à deusa e<br />

ao gênero feminino do que as tradições citadas acima.<br />

Em termos de análise essas escolhas me permitiram uma perspectiva<br />

comparada enriquecedora. No entanto, de modo geral as considerações feitas neste<br />

trabalho valem para todas as Tradições salvo quando eu citar expressamente que<br />

determinado fato ou circunstância aplica-se a uma Tradição em específico. Coloco<br />

também o fato de que fazer um levantamento exaustivo de todas as Tradições<br />

existentes, além de fugir aos objetivos desse trabalho, me seria impossível visto que<br />

existem inúmeras, por assim dizer, subtradições, ou seja, grupos menores que<br />

consideram-se wiccanianos (ou, se preferir, bruxos/as), cultuam A Deusa e O Deus,<br />

e possuem costumes próprios de acordo com suas próprias possibilidades e<br />

necessidades.<br />

Outros livros que foram por mim lidos, pois também foram recorrentemente<br />

citados pelos meus contatos e pelas fontes da Internet encontram-se referidos no<br />

subitem 5.2 Bibliografia Êmica. Estes livros não foram analisados exaustivamente<br />

como os livros da lista anterior porque, em primeiro lugar, eu quis me basear nos<br />

autores e tradições que são considerados fundantes na história da Wicca (na<br />

Inglaterra, nos Estados Unidos da América e no Brasil) e, em segundo lugar, porque<br />

um excesso de livros analisados poderiam causar tanto saturação quanto perda de<br />

dados relevantes.<br />

Finalmente definido meu “campo literário”, parti para a análise de conteúdo visto<br />

que esta é a técnica que mais se adéqua à análise de textos escritos (ou análise<br />

visual, quando a observação incidiu sobre imagens). Através desse procedimento<br />

procurei privilegiar a análise de conotação, ou seja, procurei revelar os significados<br />

dos conceitos num meio social diferenciado que é justamente o ambiente wiccaniano<br />

quando visto em relação a outras religiões hegemônicas da nossa<br />

contemporaneidade. Mediante este instrumento metodológico procurei captar as<br />

representações subjetivas, “compreender criticamente o sentido das comunicações,<br />

seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”<br />

(CHIZZOTTI, 1998, p.78) constantes no material que incidiu em leitura e observação.<br />

1.1.1. A Etnologia e A Etnografia<br />

A etnologia é um termo que se originou no século XIX para referir-se aos<br />

estudos sistemáticos e comparativos dos modos de vida dos seres humanos, da<br />

20


variedade de outros povos diferentes do nosso; dela descende a etnografia que se<br />

revelou uma das técnicas mais fundamentais dos estudos antropológicos. A<br />

etnografia consiste, pois, na observação cuidadosa, na descrição metódica e no<br />

exercício de compreensão das características particulares de determinadas culturas<br />

estruturalmente constituídas 12 .<br />

Clifford Geertz nos ensina que a etnografia é o exercício de tentar ler um<br />

manuscrito 13 (uma cultura...) estranho ( ...estranha à nossa!); disso podemos deduzir<br />

que um elemento essencial na definição da prática etnográfica “é o tipo de trabalho<br />

intelectual que ele representa” 14 . Assim, o exercício de etnografar implica alguns<br />

cuidados que são fundamentais, tais como (a) a preocupação em compreender a<br />

cultura pesquisada de forma holística e dialética; (b) o cuidado de revelar as<br />

relações significativas ao grupo tais como o próprio grupo as percebam e as<br />

organizam; (c) a visibilidade sobre todos os passos na execução da pesquisa; (d) a<br />

consciência de que, muitas vezes, é o discernimento do próprio pesquisador que vai<br />

decidir e repensar as técnicas e os procedimentos que mais se adéquam às<br />

situações não previstas quando a pesquisa foi inicialmente proposta, pois não raras<br />

são as vezes que os dados acabam por reorganizar a lógica da pesquisa e do<br />

pesquisador; (e) por sua vez, essa questão recém citada implica a necessidade do<br />

pesquisador manter uma postura de reflexividade constante; e, (f) ainda, convém<br />

citar a questão da ética na pesquisa que constitui fundamento e elemento<br />

legitimador do trabalho do pesquisador. Foram essas questões referentes ao aporte<br />

metodológico aos quais procurei me manter atenta durante toda a execução deste<br />

trabalho.<br />

1.1.2. E a “Netnografia”, o que seria?<br />

Acho fundamental introduzir aqui a idéia de um aporte metodológico que é<br />

relativamente novo na área acadêmica, à saber o conceito de netnografia. Esse<br />

conceito foi expresso pela 1ª vez por Robert V. Kozinets e expressa uma abordagem<br />

ressignificada da etnografia (assim como dos conceitos vinculados, como o conceito<br />

de nativo, de campo, etc.) a fim de contemplar o ethos de uma determinada situação<br />

no ambiente virtual. Assim, se a etnografia é fundamental para a compreensão de<br />

12 MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães de. A Abordagem etnográfica na Investigação Científica.<br />

UERJ, 2001. Disponível em:<br />

http://www.ines.gov.br/paginas/revista/A%20bordag%20_etnogr_para%20Monica.htm, acessado em<br />

1º/07/2010.<br />

13 GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989. p.20.<br />

14 Ibid. p.15.<br />

21


um grupo, por exemplo, em espaço real, o conceito de netnografia trás a<br />

possibilidade de compreensão qualitativa de um espaço virtual. Esmiuçando um<br />

pouco mais e, ainda segundo Kozinets, apud Costa et al., a netnografia consiste em:<br />

“uma descrição escrita resultante do trabalho de campo que estuda<br />

as culturas e comunidades on-line emergentes, mediadas por<br />

computador, ou comunicações baseadas na internet, onde tanto o<br />

trabalho de campo como a descrição textual são metodologicamente<br />

conduzidas pelas tradições e técnicas da antropologia cultural”<br />

(COSTA; NETO; PINTO, p.05).<br />

Podemos visualizar nessa técnica o “esforço” da própria ciência antropológica<br />

em se adequar aos novos tempos, procurando sempre obter da realidade uma<br />

experiência de entendimento mais profunda.<br />

Outro ponto em qual me apoio para fundamentar a minha escolha por essa<br />

técnica é que, se entendemos os contextos on-line como novos contextos culturais,<br />

imbuídos de novos significados e de resignificações, então nada mais acertado que<br />

buscarmos no âmago da etnografia a possibilidade de compreensão desse novo,<br />

pois apesar dos novos tempos e da incrível capacidade de mudança que<br />

acompanha esses novos ares, o que persiste é a capacidade de adaptação que na<br />

memória do velho encontra degraus seguros para criar o novo.<br />

O mesmo Kozinets acima citado contribui com referência às questões éticas<br />

desse processo específico de investigação na rede quando pronuncia que a<br />

diferença maior da netnografia para a etnografia tradicional está relacionada a<br />

necessidade do pesquisador atinar constantemente para a relação público-privado<br />

que se encontra em jogo nesse contexto e, além dessa percepção, respeitar os<br />

limites dessa distinção. Visando ter esse cuidado, sempre que mantinha um primeiro<br />

contato pela internet com alguém que “encontrei” através dos sites da Wicca, eu me<br />

apresentava expondo minhas curiosidades pessoais acerca do assunto e meu<br />

interesse acadêmico. As conversas pessoais que tive com essas pessoas serviram,<br />

acima de tudo, para me situar no “ambiente da Wicca”, para conhecer e distinguir<br />

palavras, idéias e conceitos que me eram estranhos, dúbios ou simplesmente<br />

parciais. Não foi necessário citar nomes nas narrativas e/ou descrições aqui postas e<br />

quando cito foi em ocasiões em que explicitei para a pessoa o motivo de minhas<br />

perguntas pedindo para usar a transcrição livre de suas palavras em minha<br />

pesquisa. Convém citar também que muito raramente tratávamo-nos por nossos<br />

nomes civis, pois, geralmente, uma vez tendo adentrado no caminho da Arte muitos<br />

dos wiccanianos escolhem um novo nome que seja representativo das escolhas<br />

pessoais da própria pessoa.<br />

22


Uma última consideração a ser feita em vista de expor o alcance deste<br />

trabalho é que por não me utilizar da realização de entrevistas com praticantes da<br />

Wicca, não aprofundei em demasiado a questão da análise das representações<br />

subjetivas, individuais, dos praticantes. No que diz respeito a essa questão me<br />

baseei em dados recolhidos durante a revisão bibliográfica deste trabalho em que<br />

foram lidos diversos livros e artigos de autores que trabalharam com a questão da<br />

identidade entre praticantes da Wicca como o artigo (citado na nota 3) de Janluís<br />

Duarte Oliveira sobre “As Bruxas da Internet” bem como sua dissertação<br />

apresentada ao programa de pós-graduação na Universidade de Brasília 15 , o artigo<br />

de Andréa Osório sobre as “Bruxas Modernas na Rede Virtual” 16 , a dissertação de<br />

mestrado de Regina Bostulim intitulada “Wicca” 17 , a tese de doutorado de Susana de<br />

Azevedo Araújo onde ela aborda a questão das crenças e da prática da bruxaria na<br />

cidade de Porto Alegre 18 , dentre outros trabalhos.<br />

Para terminar de expor minhas considerações metodológicas gostaria de<br />

lembrar que sempre que existe um grupo de pessoas reunidas em um contexto<br />

relacional, uma ordem social é desenvolvida por aquele grupo. Na comunidade<br />

wiccaniana também se cria uma ordem e um significado que difere do que é comum,<br />

do que é profano 19 , pois é uma ordem baseada numa representação do sagrado que<br />

se instaura na vivência e na prática da religiosidade. Procurei vislumbrar esses<br />

significados, essa “ordem das coisas”, através da observação dos sites, das<br />

conversas informais tidas por e-mails, scraps, etc. com os interessados no assunto e<br />

praticantes que contatei e, principalmente, através da leitura atenta dos livros<br />

escritos por aqueles que são considerados autoridades no campo da Wicca. Lembro,<br />

enfim, que um livro nos mostra uma situação ideal, nos descreve um local e uma<br />

relação na qual se espelhar; na prática, talvez, o que eu observaria se pudesse ter<br />

tido a chance de acompanhar grupos de wiccanianos pessoalmente, poderia ter sido<br />

um pouco diferente, sinceramente não sei, deixo essa possibilidade para um próximo<br />

trabalho.<br />

1.1.3. Nomenclatura e Conceituações<br />

15 OLIVEIRA, Janluis Duarte. Os Bruxos do Século XX: Neopaganismo e Invenção de Tradições na<br />

Inglaterra do Pós-Guerras. Dissertação (Mestrado). Universidade de Brasília, 2008. 178p.<br />

16 Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/703/70380108.pdf, acessado em 02/07/2010.<br />

17<br />

Disponível em:<br />

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_teses/ENSINORE<br />

LIGIOSO/dissertacoes/wicca.pdf, acessado em 12/12/2009.<br />

18<br />

ARAÚJO, Susana de Azevedo. Paradoxos da Modernidade: A crença em Bruxas e Bruxarias em<br />

Porto Alegre. UFRGS, Porto Alegre, 2007. 246p.<br />

19<br />

Lembrando a divisão binária entre sagrado e profano onde um define-se em relação ao outro.<br />

23


Durante a leitura desse trabalho será observado que algumas palavras<br />

encontram-se grafadas com as iniciais maiúsculas, isso se dará quando a palavra<br />

em questão possuir uma conotação wiccaniana específica como, por exemplo, Deus<br />

e Deusa, Tradição, etc.<br />

Demais definições relevantes ao trabalho serão apresentadas quando<br />

conveniente, logo após citação no texto ou em notas de rodapé.<br />

1.2 Contextualizando a Wicca na história<br />

Podemos dizer que a bruxaria tradicional tem as suas raízes mais distantes lá<br />

no período pré-histórico quando, por exemplo, um caçador desenhava na parede de<br />

uma caverna a imagem de um animal abatido, ele estava usando de “magia<br />

simpática” para influenciar o benemérito da caça ou, também podemos citar, quando<br />

um velho/a da aldeia, considerado(a) sábio(a), usava de suas capacidades de<br />

observação e de suas habilidades mágicas para prever, orientar e influenciar atos e<br />

decisões individuais ou coletivas da aldeia.<br />

Historicamente as bruxas eram aquelas pessoas que através do<br />

conhecimento das ervas, do auxílio dos espíritos e poder dos deuses, prestavam<br />

auxílio à população na cura de diversos problemas (de saúde, do amor, com as<br />

plantações, criações de animais, etc.). Mas, se por um lado as bruxas poderiam ser<br />

consideradas “do bem”, por outro elas também eram constantemente acusadas de<br />

praticar diversos males como enfeitiçar os homens, causar chuvas e desastres<br />

naturais, etc.<br />

Antes de falar um pouco mais sobre a questão histórica, gostaria de discorrer<br />

uns instantes acerca da questão conceitual, ou, melhor dizendo, da questão da<br />

nomenclatura referente à bruxaria e Wicca que utilizo na tessitura deste trabalho. O<br />

que difere e o que relaciona uma (bruxaria) à outra (Wicca)?<br />

A Wicca é uma palavra de origem anglo-saxã que baseia suas crenças e ritos<br />

em elementos que podemos designar como pagãos. A própria designação do termo<br />

paganismo está atrelada às religiões de origem judaicas e cristãs, pois se diz ser<br />

pagão aquele que não foi batizado 20 e o batismo, por definição, é o sacramento da<br />

Igreja Católica no qual a imersão em água representa a purificação da pessoa<br />

batizada. Resumidamente podemos dizer que a Wicca é um culto moderno (século<br />

XX), porém baseado na existência de uma bruxaria que podemos adjetivar por<br />

tradicional, por fim essa bruxaria se basearia em crenças que remontam a época<br />

20 FERREIRA, Aurélio B. de H. Minidicionário Aurélio. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.<br />

24


pré-cristã e que, passadas de geração à geração através dos tempos, tem seus ritos<br />

e práticas vinculados aos ciclos da natureza.<br />

Antes do Cristianismo existiram muitas formas de cultos pagãos. Nas grandes<br />

cidades como Grécia ou Roma, por exemplo, havia templos e uma forma mais ou<br />

menos estruturada em torno dos ritos religiosos; porém, nos campos as pessoas<br />

contavam principalmente com a natureza a sua volta para construir em cima dela<br />

sua fé e suas crenças. Nesse sentido que em sua genealogia a Wicca é uma religião<br />

ligada profundamente à Natureza, pois, de certa forma, é uma espécie de resgate<br />

dos valores ancestrais que cultuavam a manifestação dos deuses nos diversos<br />

elementos desta.<br />

A bruxaria tradicional reconhecia os deuses em elementos como o raio, o sol,<br />

o rio, etc.; elementos estes que eram (e ainda o são) vitais para a sobrevivência.<br />

Assim, os elementos cultuados não variavam muito de lugar para lugar, visto que<br />

eram os elementos referentes à caça, as plantações, a fertilidade de forma mais<br />

ampla, o quê geralmente variava bastante eram os nomes dados a cada uma das<br />

entidades.<br />

Gardner, ao nos apresentar a bruxaria hoje, nos diz que:<br />

“a bruxaria, em quase todo lugar, teve dois derivativos principais aos<br />

quais suas outras influências se ligaram; os cultos de fertilidade que<br />

vinham dos habitantes nativos de uma área e as práticas „mágicas‟<br />

posteriores derivadas por meio de canais diretos ou distorcidos da<br />

fonte egípcia centralizadora. A bruxaria, da forma como emerge na<br />

história e literatura européias, representa o antigo culto de fertilidade<br />

paleolítico mais a idéia mágica e várias paródias de religiões<br />

contemporâneas”. (GARDNER, 2003, p.91)<br />

A crença na existência da bruxaria, para o bem ou para o mal, persistiu ao<br />

longo da história do homem ocidental, se assim não o fosse, talvez não houvesse<br />

existido o fenômeno da Inquisição. Mesmo hoje em dia esse período, também<br />

conhecido como “Era das Fogueiras”, é muito lembrado pelos bruxos(as) atuais, pois<br />

fomentou uma verdadeira caça às bruxas através da perseguição sistemática,<br />

religiosa e social, sob as pessoas que eram vistas como nocivas à comunidade<br />

porque de acordo com os acusadores elas usavam magia e envenenamento para a<br />

consecução de objetivos obscuros e pactos com o diabo. Durante toda a Idade<br />

Média e nos períodos antecedentes a ela acreditava-se piamente na existência das<br />

bruxas e feiticeiros, mas as perseguições começaram efetivamente depois de 1300<br />

quando surgiram rumores de que havia uma espécie de conspiração para derrubar<br />

os reinos cristãos através de magia, pragas e toda espécie de infortúnios que seriam<br />

conseqüência da vontade e atos dessas supostas bruxas e bruxos.<br />

25


Em 1484 o Papa Inocêncio VIII proclama a Bula contra os Bruxos. Em 1486 é<br />

publicado o Malleus Malleficarum que se torna um verdadeiro guia para detectar,<br />

interrogar, torturar e enfim, executar a(o) bruxa(o) descoberta(o) como tal. O<br />

protestantismo também fez perseguições, mas ao invés de guiarem-se pelo “Martelo<br />

das Feiticeiras” (Malleus Malleficarum) para identificar as(os) possíveis culpadas(os),<br />

justificavam suas execuções com o uso da seguinte citação do Antigo Testamento:<br />

“Não deixarás que nenhum bruxo viva”.<br />

Segundo Sallmann (2002), o fenômeno da bruxaria do final da Idade Média e<br />

início da Idade Moderna foi um fenômeno rural que exprimia, sobretudo, a fragilidade<br />

do mundo camponês 21 . Ele ainda completa nos dizendo que:<br />

“o nascimento do mito demoníaco e as ondas de caça às bruxas<br />

devem ser situados no contexto religioso muito conturbado dos<br />

séculos XV e XVI. A cristandade ocidental é, então, dividida pelas<br />

heresias, em seguida, a partir de 1517, pela ruptura definitiva das<br />

Reformas protestantes. A bruxaria foi, à sua maneira, uma resposta<br />

às angústias religiosas da época” (SALLMANN, 2002, p. 21).<br />

De forma geral, as figuras mais perseguidas pela Inquisição sob a acusação<br />

da bruxaria eram: a velha solitária que vivia na companhia de seus bichos, não raras<br />

vezes o fadado gato ou cão, que seria o disfarce do demônio sob o olhar dos outros;<br />

também a mulher bela e sedutora que não conseguia conter uma sexualidade que<br />

não era própria às mulheres (o desejo, o prazer e o gozo); assim como, também,<br />

outras figuras que faziam inveja ou causavam cobiça cuja denúncia poderia valer<br />

alguma compensação, seja pecuniária, de favores ou de bens.<br />

Da Europa ao Novo Mundo as bruxas e bruxos foram perseguidas(os) como a<br />

mais diabólica personificação do mal e essa é a justificação para toda a crueldade<br />

praticada contra essas pessoas que eram torturadas a fim de confessarem seus<br />

crimes e depois afogadas, enforcadas, degoladas ou queimadas nas chamas. Em<br />

1692 as colônias Inglesas na América também fervilhavam com as heresias e<br />

acusações de bruxaria, tanto que temos como exemplo o caso muito documentado<br />

(que inclusive virou filme na década de 90 do nosso século) das bruxas de Salém.<br />

Depois desse período negro de nossa história as bruxas passaram muito<br />

tempo desacreditadas e esquecidas e foi só em 1937, ao publicar “Bruxaria,<br />

Oráculos e Magia entre os Azande”, que o antropólogo inglês Evans-Pritchard<br />

trabalha com a questão da bruxaria não como uma espécie de manifestação<br />

patológica, mas sim como uma religião, pois se trata de um sistema legítimo de<br />

crenças de uma comunidade, no caso de Evans-Pritchard a tribo dos Azande.<br />

21 SALLMANN, Jean-Michel. As Bruxas – Noivas de Satã. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.<br />

p.26.<br />

26


No ano de 1994, no Parlamento das Religiões, em Chicago, Illinois, a Wicca<br />

foi oficialmente reconhecida como uma religião 22 .<br />

Ao longo do texto será interessante e necessário relembrar alguns aspectos<br />

históricos referentes à Bruxaria e aos cultos pagãos e é para facilitar essa questão<br />

que trato dessa perspectiva histórica, pois apenas com o conhecimento dos fatos e a<br />

posterior reflexão é que podemos lançar luzes que desfaçam crenças equivocadas<br />

para que, sob a ótica da Antropologia, possamos compreender um pouco da<br />

essência do mito da(o) Bruxa(o) – que no caso do homem é popularmente<br />

conhecido como Feiticeiro ou Mago – e de sua magia. No fim das contas, veremos<br />

que a Bruxaria Moderna não tem nada a ver com satanismo ou adoração ao Diabo<br />

(entidade que não faz parte das crenças wiccanianas) e que, como uma religião pré-<br />

cristã, retira seus elementos de culto e divindades da própria Natureza.<br />

22 BUCKLAND, Raymond. Wicca: Um estilo de Vida, Religião e Arte. Rio de Janeiro: Record: Nova<br />

Era, 2003, p. 33.<br />

27


2 UMA BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

“...há muito mais bruxaria no céu e na terra do que supõe a vã burocracia da<br />

razão.” (Nota do Tradutor in: EVANS-PRITCHARD, 2005, p.7)<br />

Tal como Carvalho (2000, p.16), consideremos o fenômeno religioso como um<br />

sistema simbólico na medida em que os diferentes movimentos religiosos têm, cada<br />

um deles a sua maneira, as suas leituras singulares do universo, do entendimento<br />

do eu, das potências divinas e, de um modo um tanto quanto amplo, do<br />

sobrenatural. Assim sendo, é possível dizermos que, ao tentarmos expor os<br />

fundamentos de referência que dão sustentabilidade a um sistema de crenças e<br />

práticas, estamos expondo a teia de significados pela qual seus praticantes<br />

percebem e representam o mundo ao seu redor.<br />

2.1. Considerações acerca da Antropologia da Religião<br />

A Antropologia da Religião se dedica ao estudo das crenças religiosas dos<br />

povos. Podemos afirmar que a religião constitui uma das maiores expressões da<br />

crença de um povo. A religião é uma instituição social de caráter universal, pois está<br />

presente, de um modo ou de outro, em todas as culturas. Toda sociedade que se<br />

conhece pratica alguma forma de religião.<br />

A palavra religião vem do latim, do verbo religare, o que nos dá a idéia de laço<br />

que liga o homem à divindade. A Religião, assim, representa a ligação do homem<br />

com o divino. Para a antropologia estudar uma religião específica significa procurar<br />

compreender todas as crenças e práticas dispostas em forma de doutrinas e rituais<br />

de uma determinada comunidade. 23<br />

Um estudo comparativo das religiões, sob a perspectiva antropológica<br />

funcionalista, mostra que todas as religiões apresentam determinadas funções<br />

culturais. Como, em todas as sociedades, as pessoas que formam essa sociedade<br />

vão apresentar determinadas necessidades espirituais, cada sistema cultural e<br />

religioso traça como que um caminho para satisfazer estas necessidades comuns e<br />

básicas aos indivíduos.<br />

Para aprofundar um pouco mais essa questão de definir conceitos, pensemos<br />

brevemente a relação da teologia com a religião: a teologia é a idéia, o pensamento,<br />

23 Etnoteologia. ANTROPOS, Capacitação Antropológica. Disponível em:<br />

http://www.antropos.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=98, acessado em<br />

27/12/2009.<br />

28


o conhecimento que o homem tem acerca do divino e da noção de deus (seja esse<br />

deus o quê ou quem for); a religião é a prática, nela o homem se expressa em<br />

atitudes, ações e hábitos o que o conhecimento do espiritual e do sagrado produziu<br />

nele. Assim a religião vem a ser a expressão da crença e é justamente devido à<br />

grande variabilidade de crenças que a antropologia vai ao encontro do diverso a fim<br />

de perceber e compreender a vivência das diferentes expressões religiosas.<br />

Os diversos movimentos religiosos existentes possuem, cada qual à sua<br />

maneira, uma leitura singular do universo, do próprio eu, das potências criadoras e<br />

divinas, etc. Assim, cada cultura possibilita e define uma cosmologia própria, pois é<br />

como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Essa cosmovisão é a<br />

percepção daquilo que é real (a realidade percebida do mundo), o modo de ver o<br />

mundo, é o sistema de crença que reflete os comportamentos e valores de um povo.<br />

A cosmologia de um povo reflete as suas suposições, os seus valores e o<br />

entendimento que possuem a respeito da vida e do mundo onde eles vivem.<br />

A dimensão simbólica presente no fenômeno religioso é um tema freqüente<br />

no campo das Ciências Sociais e especialmente na Antropologia. Clifford Geertz em<br />

“A Interpretação das Culturas” (1989, p. 68) afirma que a religião é responsável por<br />

produzir uma visão do mundo que informa o comportamento dos seres humanos,<br />

atuando por meio de um sistema de símbolos que permite aos homens interpretarem<br />

o mundo a sua volta; ele ainda define o símbolo como “qualquer objeto, ato,<br />

acontecimento, qualidade ou relação que serve como vínculo a uma concepção”. É<br />

dessa forma que Geertz compreende que um sistema de símbolos torna-se uma<br />

verdadeira grade interpretativa, uma espécie de caixa de ferramentas com a qual o<br />

homem utiliza no exercício de compreender o real (GEERTZ, 1989, p.72-80).<br />

Marcel Mauss completa o pensamento iniciado por Geertz e nos fala que ao<br />

classificar o mundo de acordo com uma ordem simbólica o homem opera numa<br />

ordem especulativa, abstrata cuja finalidade mor não é o de facilitar a ação, mas<br />

tornar inteligível as relações entre os seres humanos e o mundo ao seu redor<br />

(MAUSS, 2001, p.450).<br />

2.1.1 Evans-Pritchard e o estudo da bruxaria entre os Azande<br />

Para compreender melhor a idéia de grade interpretativa anunciada acima por<br />

Geertz, e tendo em conta que todo símbolo nos remete a um sistema de<br />

representação e interpretação, peguemos o exemplo do nativo Azande que Evans-<br />

Pritchard estudou e nos apresentou em livro intitulado “Bruxaria, Oráculo e Magia<br />

entre os Azande” (2005). Para os componentes da tribo dos Azande, a bruxaria<br />

29


fornece a grade interpretativa que permite enquadrar um evento fortuito (um<br />

infortúnio qualquer), que tem causas naturais, em um sentido mais tolerável para a<br />

existência de quem sofre o infortúnio. Considerando isso, quando nós pesquisadores<br />

tentamos compreender a simbologia à qual o nativo recorre para interpretar e<br />

compreender o evento sofrido, parece-nos que ocorre uma superposição de sentido,<br />

mas esta superposição é ilusória, ou quando muito, unilateral, pois para o nativo o<br />

sentido é um só. Os antropólogos, no exercício da profissão, deslocam a própria<br />

grade de interpretação para situarem-se diante a grade interpretativa do nativo, pois<br />

só assim podem ultrapassar a mera descrição de coisas, fatos e relações para<br />

captarem o ethos no qual o sentido mesmo se insere.<br />

Num exercício constante de observar e abstrair, Evans-Pritchard fornece aos<br />

seus leitores e estudiosos das culturas humanas em geral uma monografia teórica e<br />

descritiva que nos ajuda a despir-nos de preconceitos e pré-noções ao mostrar-nos<br />

que o trabalho do antropólogo nem sempre é estudar somente aquilo que ele deseja,<br />

mas, principalmente, aquilo que o próprio objeto de estudo (no caso dele a tribo dos<br />

Azande) acredita e vivencia. Assim o autor explica que a questão principal do por<br />

que os Azande acreditam na bruxaria reside no fato de que é a bruxaria que explica<br />

a questão dos infortúnios para as pessoas daquela tribo e da mesma forma oferece<br />

meios para combater esses infortúnios. Essa crença pode até nos parecer “infantil”,<br />

primitiva e/ou irracional, mas ao deslocarmos a nossa lógica pessoal e<br />

historicamente determinada para a lógica do indivíduo pertencente a aldeia dos<br />

Azande, logo compreendemos que mesmo na superstição existe uma razão, existe<br />

uma racionalidade, pois os Azande não desprezam as causas físicas do infortúnio,<br />

eles apenas conjugam uma variedade de causas possíveis que foram determinantes<br />

para um determinado evento ocorrer e é essa conjugação de causar que pode ser<br />

influenciada, quando não determinada, pela bruxaria.<br />

Juntamente com a bruxaria e os oráculos, a magia completa o sistema de<br />

crenças dos Azande:<br />

“Assim, a morte evoca a noção de bruxaria; os oráculos<br />

são consultados para determinar o curso da vingança; a magia<br />

é feita para executar essa vingança; os oráculos decidem se a<br />

magia executou a vingança; depois da tarefa cumprida, as<br />

drogas mágicas são destruídas” (EVANS-PRITCHARD, 2005 p.<br />

228).<br />

A contribuição de Evans-Pritchard vai ainda além de fornecer-nos<br />

fundamentos empíricos para a reiteração dessa grade interpretativa dos significados<br />

para a qual a religião fornece-nos modelos de compreensão da cultura. O próprio<br />

30


lançamento de “Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande” em 1937, traz à tona,<br />

em pleno século XX, o tema da bruxaria impingindo-a de uma seriedade que séculos<br />

de negação e racionalismo extremado haviam-lhe negado. Portanto, é fato que ao<br />

escrever sobre crenças, magia, religião e bruxaria torna-se mister invocar os estudos<br />

de Evans-Pritchard.<br />

2.1.2 Nova Era<br />

Muitas referências são encontradas no sentido de vincular a Wicca com o<br />

fenômeno da New Age, ou Nova Era 24 , porém aos “olhos” dos próprios adeptos da<br />

Wicca essa vinculação é um pouco forçada. Lugus Dagda Brigante, praticante de<br />

Wicca, tarólogo, fundador do Círculo 25 Wiccaniano Serpente de Fogo, nos diz que<br />

Wicca, Bruxaria e Paganismo não são sinônimos de Nova Era:<br />

“Wicca é uma religião e Bruxaria é uma prática antiguíssima.<br />

Ambos são caminhos pagãos – sendo o Paganismo uma cultura<br />

voltada para uma espiritualidade telúrica, centrada nos paradigmas<br />

que a Terra, a Natureza e o Cosmos nos evidenciam como verdade<br />

espiritual.” 26<br />

É Leila Amaral, Doutora em Antropologia Social e estudiosa de temas como<br />

religião e modernidade, sincretismo religioso e novas espiritualidades, quem nos<br />

esclarece acerca do fenômeno da Nova Era; segundo ela “um dos aspectos que<br />

está em foco, hoje, diz respeito à capacidade ou não das religiões se apresentarem<br />

como recursos simbólicos ou míticos para enfrentar problemas relativos à nova<br />

ordem social. 27 ” Nesse sentido é que podemos visualizar na Wicca uma religião que<br />

acompanha as mudanças que a própria sociedade vem passando, sobretudo desde<br />

a última metade do século XX, onde temos a realocação da mulher e do feminino<br />

num cenário de visibilidade muito mais proeminente do que em tempos passados. 28<br />

Citando a socióloga parisiense Hervieu-Léger, Leila Amaral nos diz que as<br />

tradições religiosas apresentam-se ao homem moderno como caixas de ferramentas<br />

simbólicas que são acionadas dado o fascínio que as religiões conservam numa<br />

24 Um exemplo disso é a Dissertação de Mestrado de Regina Bostulim intitulada “Wicca”, p. 20.<br />

25<br />

Os Círculos são entidades estabelecidas, sem hierarquia, onde os ensinamentos perpassam<br />

relativamente livres, muitas vezes em forma de cursos. Nos Círculos também é comum acontecerem<br />

rituais abertos ao público, como os promovidos em Porto Alegre – RS, pelo Círculo Wiccaniano<br />

Serpente de Fogo em 2007 (ver: http://wicca-rs.blogspot.com/, acessado em 04/07/2010) e 2009 (ver:<br />

http://dop.ninhodaserpente.com.br/, acessado em 04,07,2010).<br />

26<br />

Brigante, Lugus Dagda. A Preponderância da Deusa na Wicca e nos demais cultos pagãos.<br />

Disponível em: http://www.paganismo.org/artigos/lugus-dagda-brigante/a-preponderancia-da-deusana-wicca-e-nos-demais-cultos-pagaos.html,<br />

acessado em 19/06/2009.<br />

27<br />

AMARAL, Leila. Entrevista. Disponível em: http://www.antropologia.com.br/entr/entr8.html,<br />

acessado em 1º/06/2010.<br />

28<br />

À saber alguns itens de mudança como o movimento feminista e a luta pelos direitos das mulheres<br />

e pela consideração de novos valores sociais, morais e culturais; a incorporação da força de trabalho<br />

feminina no mercado de trabalho; etc.<br />

31


sociedade que se instaura, na atualidade, na e pela instabilidade e mobilidade 29 . No<br />

pensamento de Hervieu-Léger, a visão de mundo correspondente aos elementos<br />

que até então eram acessados na conformação da vida do indivíduo e sua religião<br />

passou a não mais ser reconhecida tal como se inscrevia na linguagem de suas<br />

respectivas tradições; temos que daí incorre a necessidade de surgirem novas<br />

configurações religiosas em sintonia com os valores da modernidade.<br />

2.2 As questões de Gênero<br />

As questões de gênero permeiam quase todos, se não todos, os aspectos de<br />

nossa vivência, pois fazem parte, de um modo ou de outro, de nossas instituições,<br />

nossas leis, nosso imaginário, nossas identidades.<br />

A História das Relações de Gênero é mais abrangente do que a História das<br />

Mulheres e foca na interação dos sexos e na co-relativa constituição dos gêneros.<br />

Foi visando uma análise mais rica e mais completa que foquei minha reflexão não<br />

apenas no papel da mulher na bruxaria moderna, mas também no papel do homem<br />

e na interação dos sexos que constituem a base das relações de gênero.<br />

A gênese do sistema de gêneros, ou seja, a estipulação de diferenciações de<br />

atributos determinantes de cada sexo e as respectivas definições de papéis sexuais<br />

é quase tão antiga quanto a história do homem. Peter N. Stearns em livro intitulado<br />

“História das Relações de Gênero” (2007) indica que foi com o surgimento da<br />

agricultura que as funções entre homens e mulheres na coletividade se distanciaram<br />

e se definiram. Segundo o autor:<br />

“O deslocamento da caça e coleta para a agricultura pôs fim<br />

gradualmente a um sistema de considerável igualdade entre homens<br />

e mulheres. Na caça e coleta, ambos os sexos, trabalhando<br />

separados, contribuíam com bens econômicos importantes. (...) A<br />

agricultura estabelecida, nos locais em que se espalhou, mudou isso,<br />

beneficiando o domínio masculino. À medida que os sistemas<br />

culturais, incluindo religiões politeístas, apontavam para a<br />

importância de deusas, como geradoras de forças criativas<br />

associadas com fecundidade e, portanto, vitais para a agricultura, a<br />

nova economia promovia uma hierarquia de gênero maior. Os<br />

homens agora eram responsáveis, em geral, pela plantação; a<br />

assistência feminina era vital, mas cabia aos homens suprir a maior<br />

parte dos alimentos.” (STEARNS, 2007, p.31-32)<br />

Dessa forma, segundo Stearns, as mulheres foram voltando-se para a vida<br />

doméstica, principalmente em função dos cuidados com a prole. Pode-se dizer que<br />

aí se estabelece o início de um prolongado patriarcalismo que vai enfatizar cada vez<br />

29 AMARAL, Leila. Entrevista. Disponível em: http://www.antropologia.com.br/entr/entr8.html,<br />

acessado em 1º/06/2010.<br />

32


mais a fragilidade e, em situações mais extremas, até mesmo a inferioridade da<br />

mulher.<br />

As questões de gênero envolvem papéis e definições tanto para os homens<br />

quanto para as mulheres, mas geralmente a literatura sobre o assunto foca-se mais<br />

nas considerações acerca da mulher. Isso se dá devido a alguns fatores históricos e<br />

sociais. Uma das possibilidades que podemos citar é que a prevalência do feminino<br />

na temática de Gênero pode justificar-se através de uma invocação a uma espécie<br />

de compensação ao silêncio e a repressão que a mulher sofreu (e ainda o sofre)<br />

com a constante hegemonia do patriarcado, recém citado, na história da<br />

humanidade. Mas é preciso enfatizar que o conceito de gênero sempre se refere<br />

tanto aos homens quanto às mulheres.<br />

Falando bem cruamente, o gênero nos remete às diferenças atribuídas<br />

culturalmente a homens e mulheres, porém, muitas vezes no senso comum o<br />

conceito de gênero acaba se confundindo com o próprio conceito de sexo<br />

(biológico). Introduzir a reflexão acerca do gênero quando tratamos das relações<br />

entre homens e mulheres nos permite incorporarmos a dimensão cultural às<br />

perspectivas psicológicas e biológicas das características destes.<br />

Os pesquisadores das Ciências Sociais e Humanas exploram a concepção de<br />

gênero nos seus múltiplos aspectos sociais, culturais e históricos 30 . Assim, cada<br />

cultura, cada sociedade, em um determinado espaço e tempo irá perceber, definir e<br />

representar as características que constituem homens e mulheres e suas<br />

respectivas masculinidades e feminilidades de uma maneira única, eficaz e<br />

simbólica; o que acaba por definir os sujeitos dessa realidade inclusivamente, ou, às<br />

vezes, excludentemente 31 .<br />

2.2.1 O Gênero enquanto Categoria Analítica<br />

O conceito de Gênero encontrou espaço fecundo no meio acadêmico,<br />

principalmente a partir das décadas de 1960 e 1970 com o surgimento de diversos<br />

Grupos de Estudos sobre a Mulher 32 , onde o uso do termo “gênero” veio como<br />

tentativa de terminologia alternativa ao uso do termo “sexo”, palavra esta que esteve<br />

30 Não esquecendo ainda do aspecto pessoal das referências de gênero, mas esse situa-se no<br />

âmbito da subjetividade mais característico do campo de estudo da Psicologia.<br />

31 E aqui, para citar, temos o exemplo das identidades e das sexualidades que são tidas como<br />

destoantes, ou dissidentes, por terem idéias e/ou práticas que não se enquadram conforme um<br />

padrão hegemônico de masculinidade ou feminilidade que é tido como modelo e ideal em<br />

determinada sociedade.<br />

32 Por exemplo, em 1975 a Organização das Nações Unidas declara o início do que convencionou-se<br />

chamar de Década da Mulher e no Brasil surgiram os primeiros grupos feministas comprometidos em<br />

lutar pela igualdade das mulheres.<br />

33


atrelada historicamente aos primórdios do movimento feminista e suas perspectivas<br />

teóricas. Deste modo, passou-se a utilizar o termo “gênero” no sentido de<br />

desnaturalizar a questão da identidade sexual atrelada univocamente ao sexo<br />

biológico. Nesse sentido, como define Maud Mannoni, psicanalista francesa citada<br />

por Moraes (1998), podemos pensar o gênero como o “significante” e o sexo<br />

biológico como o “significado”.<br />

Não é difícil perceber porque tanta confusão transcorre em torno de termos<br />

que se parecem equivalentes, mas não o são. Quando falamos em Gênero, estamos<br />

enfatizando, acima de qualquer outra coisa, o caráter social e cultural das<br />

construções feitas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e daí decorre as<br />

diferentes formas de feminilidades e masculinidades que variam de cultura para<br />

cultura, de local para local e de época para época. Os sexos, basicamente, são dois:<br />

o sexo masculino e o sexo feminino. Mas, os atributos que vão constituir as<br />

representações de masculinidade e de feminilidade em diferentes sociedades, em<br />

termos de aparência, comportamento, etc., vão variar em razão do que é<br />

culturalmente aceito e valorizado em cada sociedade e cultura específica.<br />

Margareth Mead em “Sexo e Temperamento” (2003) explicita que, não o<br />

gênero, mas o condicionamento social relativo a uma cultura específica que<br />

determina o comportamento normal (normatizado socialmente em virtude do<br />

costume) atribuído a homens e mulheres. Isso fica evidente quando ela nos expõe o<br />

comportamento comparado referente aos papéis sexuais da tribo dos Arapesh, dos<br />

Mundugumor e dos Tchambuli:<br />

“Nem os Arapesh nem os Mundugumor tiram proveito de um<br />

contraste entre os sexos; o ideal Arapesh é o homem dócil e<br />

suscetível, casado com uma mulher dócil e suscetível; o ideal<br />

Mundugumor é o homem violento e agressivo, casado com uma<br />

mulher também violenta e agressiva. Na terceira tribo, os Tchambuli,<br />

deparamos verdadeira inversão das atitudes sexuais de nossa<br />

própria cultura, sendo a mulher o parceiro dirigente, dominador e<br />

impessoal, e o homem a pessoa menos responsável e<br />

emocionalmente dependente.” (MEAD, 2003, p. 268)<br />

Mead afirma que a nossa sociedade acredita no comportamento diferenciado<br />

naturalmente devido ao sexo, porém seus estudos em torno do sexo e do<br />

temperamento levaram-na a acreditar que as diferenças comportamentais entre os<br />

sexos são resultados de um condicionamento social enraizado, por isso:<br />

“na divisão do trabalho, no vestuário, nas maneiras, na atividade<br />

social e religiosa – às vezes apenas em alguns destes aspectos,<br />

outras vezes em todos eles – homens e mulheres são socialmente<br />

diferenciados, e cada sexo, como sexo, é forçado a conformar-se ao<br />

papel que lhe é atribuído” (MEAD, 2003, p. 24-25).<br />

34


Segundo Maria Lygia Quartim de Moraes a perspectiva culturalista nos<br />

possibilita pensar o gênero de modo que:<br />

“as categorias diferenciais de sexo não implicam no reconhecimento<br />

de uma essência masculina ou feminina, de caráter abstrato e<br />

universal, mas, diferentemente, apontam para a ordem cultural como<br />

modeladora de mulheres e homens (...). Sob o substantivo gênero se<br />

agrupam todos os aspectos psicológicos, sociais e culturais da<br />

feminilidade/masculinidade, reservando-se sexo para os<br />

componentes biológicos, anatômicos e para designar o intercâmbio<br />

sexual propriamente” (MORAES, 1998, p.100-102).<br />

Enfim, é importante salientarmos o caráter relacional do Gênero, pois é a<br />

partir da relação entre os sexos que temos suas respectivas definições, ou, em<br />

outras palavras, os papéis sociais de homens e mulheres são estabelecidos através<br />

do mútuo (re)conhecimento, logo percebemos que a definição do eu está<br />

intrinsecamente ligada a definição do outro, e vice-versa.<br />

O sentido relacional das concepções de masculino/feminino é elemento<br />

constitutivo fundamental das relações sociais e decorre de processos condicionantes<br />

de socializações culturais e históricas intensamente marcados na construção das<br />

identidades de homens e mulheres. 33<br />

Só podemos compreender adequadamente o papel em sociedade de um<br />

determinado gênero se pudermos olhar também o papel designado ao outro. Na<br />

religião também é assim; não basta dizermos que a Wicca é a “religião da Deusa”,<br />

precisamos localizar onde o Deus fica “nessa história”.<br />

2.2.2 Os Padrões de Gênero e a Percepção do Diferente<br />

Mead (2003, p.269) nos afirma que “as padronizadas diferenças de<br />

personalidade entre os sexos são desta ordem, criações culturais às quais cada<br />

geração, masculina e feminina, é treinada a conformar-se”. Segundo essa autora<br />

algumas sociedades acabam por desenvolver técnicas educacionais a fim de<br />

assegurar que uma maioria de cada geração específica apresente um<br />

comportamento, uma personalidade, congruente com o que o grupo valora<br />

positivamente e estipula como adequado. Deste modo, podemos definir os padrões<br />

por aqueles elementos designados pela ênfase em determinados traços<br />

temperamentais carregados de valores culturalmente determinados que são<br />

selecionados, institucionalizados e passados adiante para cada novo membro do<br />

grupo.<br />

33 E, se olharmos com cuidado, podemos perceber que não é de hoje que os deuses assumem as<br />

próprias características daqueles que os adoram, pois é na supremacia dos deuses que visualizamos<br />

o ideal de realidade que aspiramos.<br />

35


Na maior parte dos casos essas características em torno da constituição dos<br />

gêneros vêm a nós na ordem do binário, ou seja, alguns traços que são consignados<br />

a um sexo são conseqüentemente denegados ao outro sexo. Isso por sua vez gera<br />

uma questão de valor que ultrapassa o aspecto inicial do sim-não, ter-não ter. Um<br />

exemplo básico dessa consideração é exposto quando a criança na fase pré-escolar<br />

aprende que os meninos possuem pipi (torneirinha, xixi, etc.) e as meninas não<br />

possuem pipi. Isso gera uma percepção de presença e ausência, positiva e negativa,<br />

que pode ensejar em relações de poder e subalternidade em favor dos que têm e<br />

em detrimento dos que não têm.<br />

Percebi claramente essa ordem do binário nessa minha imersão no universo<br />

da Wicca, talvez não tanto constituindo relações de poder, mas certamente<br />

constituindo relações de complementaridade.<br />

Voltando a idéia de padrão, Ruth Benedict (1983, p.280) reforça-nos o<br />

conceito de padrão quando nos diz que a grande maioria “das pessoas são<br />

moldadas segundo a forma que a sua cultura lhes dá, em virtude da maleabilidade<br />

dos seus dotes tradicionais. São plásticas para a força modeladora da sociedade em<br />

que nascem”.<br />

Apesar dos valores de gênero serem profundamente pessoais e serem<br />

elementos fundamentais na construção da identidade individual, suas raízes estão<br />

profundamente incrustadas nos valores vigentes na sociedade e constituem também<br />

elemento de identidade coletiva. São os padrões de gênero, ou seja, os elementos<br />

que constituem a formação dos gêneros, que acabam definindo as funções<br />

esperadas dos homens e das mulheres em uma determinada sociedade.<br />

Cada cultura em particular possui uma concepção convicta do que é ser<br />

homem e ser mulher em sua sociedade. Mas é fundamental acentuarmos a<br />

variabilidade dessas concepções. Mesmo sociedades que possuem padrões de<br />

gênero muito semelhantes podem especificar diferentes aspectos como preferíveis e<br />

diferentes mecanismos que detalham as relações entre os sexos.<br />

Sob o risco da intolerância ou da incompreensão, muitas vezes consideramos<br />

apenas a nossa realidade como a única realidade possível ou correta e nesses<br />

casos não é incomum julgarmos uma cultura inteira pelos aspectos que se<br />

distanciam da nossa realidade. Um exemplo dessa afirmação é a crítica ocidental a<br />

como alguns povos do oriente médio “tratam suas mulheres obrigando-as” ao mais<br />

estrito recato, cobrindo-se completamente com a burca. Claro que, se compararmos<br />

a vestimenta das mulheres afegãs com a vestimenta das mulheres que moram, por<br />

exemplo, no Rio de Janeiro e vestem short e camiseta (de todos os tipos e<br />

36


tamanhos) num calor de 40°, consideraremos um extremismo cruel o costume de<br />

usar a burca, mas convém lembrar aqui que, do ponto de vista cultural, o relativismo<br />

deve ser invocado e a crítica de uma cultura à outra ocorre em termos deveras<br />

assimétrico. Antes de qualquer julgamento deve-se perguntar àquelas mulheres que<br />

usam a burca o que elas acham de usar a burca e é possível que a maioria delas<br />

ache que é normal e adequado, pois faz parte dos costumes e das tradições delas<br />

desde tempos imemoráveis. Em se tratando de relativismo cultural a primeira<br />

consideração, sempre, a ser feita é que o quê é uma irracionalidade para nós, pode<br />

ser algo que faz sentido para eles e vice-versa. De certa forma o outro sempre será<br />

como nós e nos verá com as mesmas distorções com as quais nós os vemos.<br />

37


3 DESVENDANDO A WICCA<br />

“A religião Wicca está voltada para a terra, a natureza e a fertilidade; os seus<br />

adeptos prestam culto na mudança das estações e nas Luas Nova e Cheia. Eles<br />

geralmente aceitam divindades masculinas e femininas e acreditam na<br />

reencarnação, na magia e nas artes divinatórias. Embora a Wicca seja um<br />

caminho espiritual e filosófico, ela é acima de tudo e fundamentalmente uma<br />

religião, conhecida como „A Arte‟, significando a arte do sábio”<br />

(DANIELS; TUITÉAN, 2006, p.10)<br />

A egiptóloga Margaret Murray em seu livro “O Culto das Bruxas na Europa<br />

Ocidental” (2003) expõe-nos a tese de que a Moderna Bruxaria é uma sobrevivência<br />

dos cultos pagãos 34 da fertilidade que sobreviveram “nas sombras” desde épocas<br />

imemoriais. Em termos científicos a tese de Murray foi (e ainda é) extremamente<br />

criticada, porém para os escritos êmicos ela é um marco. Quando, em 1954, Gerald<br />

Gardner publica o já mencionado livro “A Bruxaria Hoje” (2003) ele oferece seu<br />

testemunho para confirmar a tese de Murray afirmando que ele próprio teria sido<br />

iniciado por um grupo de bruxas que teria sobrevivido às perseguições que a<br />

bruxaria sofreu ao longo dos tempos. Gardner acredita que, com o processo da<br />

Inquisição e o terror das perseguições o culto acabou por tornar-se praticamente<br />

uma espécie de sociedade familiar secreta. 35<br />

Ao contrário de Gardner, e apesar de ter sido iniciado nos caminhos da<br />

bruxaria por este, Raymond Buckland em “Wicca: Um estilo de Vida, Religião e Arte”<br />

(2003) discorda da idéia de que houve uma linhagem da bruxaria desde os<br />

habitantes das cavernas até a Idade Média; segundo este autor, há sim uma<br />

linhagem progressiva da religião mágica, mas isso não quer dizer que a bruxaria<br />

exercida hoje seja a mesma do Neolítico 36 .<br />

Histórica e simbolicamente falando é bem possível que as crenças pagãs de<br />

outrora que enfatizavam a adoração a um Deus de Chifres (Deus da Caça), a uma<br />

Deusa Mãe (Guardiã das Plantações e Colheitas) e que também realizavam os<br />

festivais sazonais, foram aos poucos se misturando sincreticamente com uma magia<br />

popular que consistia basicamente num conjunto de feitiços feitos com o uso de<br />

ervas, bonecos e outras ferramentas, numa perspectiva semelhante à magia<br />

34 Convém lembrar que os antigos cultos só receberam a denominação de “pagãos” com o advento<br />

do Cristianismo.<br />

35 GARDNER, 2003, p. 52.<br />

36 BUCKLAND, 2003, p.15-16.<br />

38


simpática pré-histórica, e unindo-se ao conhecimento xamânico advindo dos povos<br />

bárbaros, tornou-se o que hoje chamamos de Bruxaria Tradicional Européia que é<br />

de onde remonta a Bruxaria Moderna e, finalmente, a Wicca.<br />

Começo expondo algumas definições do que seria a Wicca. Considerada uma<br />

verdadeira religião por seus adeptos, a Wicca também é conhecida por Bruxaria<br />

Moderna (apesar desses termos não serem equivalente); é uma religião neo-pagã<br />

surgida, tal como a conhecemos hoje, em meados da década de 50 graças às<br />

publicações de Gerald Brosseau Gardner, um funcionário público da Coroa Britânica.<br />

Dito isso já se percebe que a Wicca, em termos restritos, não é um fenômenos<br />

antigo, porém suas bases fundamentais, e isso de acordo com seus fundadores e<br />

adeptos, remontam de crenças que nos vem desde o período Paleolítico onde<br />

podemos observar com definição a passagem de um culto as forças da Natureza<br />

para as festividades agrárias que acompanham os períodos lunares e sazonais do<br />

período Neolítico 37 .<br />

Meus contatos, praticantes da Wicca os quais conheci através dos sites da<br />

temática Wicca e me correspondi por e-mails e outros tipos de mensagens no<br />

ambiente virtual, também me ajudaram na definição básica do que seria Wicca e<br />

bruxaria à partir da própria experiência de seus adeptos: Galahad, correspondente<br />

do site Círculo Sagrado 38 , me contou por menssagem direta no site que:<br />

“a Wicca é uma forma de neo-paganismo criado por Gerald Gardner<br />

na década de 50. A bruxaria possui vários ramos e tradições e a<br />

Wicca é apenas uma das faces da mesma, existem linhas egípcias,<br />

nórdicas, celtas, além da bruxaria tradicional.”<br />

Dito isso, nota-se que esse praticante vincula claramente a existência da<br />

Wicca à figura de Gardner o qual teria se baseado nos mitos e crenças da bruxaria<br />

tradicional européia para fundar a Wicca que seria justamente o ressurgimento,<br />

adaptado aos novos tempos, das crenças e práticas da Bruxaria Tradicional. Através<br />

do mesmo site recém citado outra correspondente, Lisbeth Thy Witch, reforça-nos<br />

essa idéia ao nos dizer que a “Wicca é um nome mais moderno para a bruxaria, que<br />

engloba, inclusive, a Magia Natural. 39 ”<br />

37 PELLIZZARI, Daniel. A História da Bruxaria. Disponível em<br />

http://luanegra.no.sapo.pt/historia_bruxaria.htm, acessado em 12/06/09.<br />

38 Endereço eletrônico: http://www.circulosagrado.com. Acessado em 22 de maio de 2009.<br />

39 Segundo o site Círculo Sagrado, resumidamente, o termo Magia Natural refere-se aquela magia<br />

cujo poder vem da própria força da Natureza, ela é praticada através de uma representação direta e<br />

objetiva dos elementos presentes na Natureza. Fonte:<br />

http://www.circulosagrado.com/cs/magia/magianatural/magianatural.php, acessado em 22/06/2010.<br />

39


Em um blog dedicado a Wicca 40 , seu autor, um praticante da Arte, nos<br />

esclarece que:<br />

“todo Wiccano é um bruxo, porém, nem todo bruxo é Wiccano. A<br />

bruxaria não é utilizada apenas pelos Wiccanos. Muitas das religiões<br />

pagãs que mencionei acima 41 utilizam práticas mágicas, porém nem<br />

todos os bruxos seguem necessariamente essas religiões. Alguns<br />

são bruxos tradicionais, (...).”<br />

Outras definições da Wicca nos são dadas por escritores conhecidos dentro<br />

dessa religião. Buckland (2003) concebe a Wicca como um sistema de crenças e<br />

práticas que possibilita ao adepto como que criar sua própria realidade. Ele ainda<br />

nos passa a idéia da Wicca como um modelo sobre a qual seus adeptos podem<br />

estruturar suas vidas, dessa forma é coerente quando ele nos diz que considera a<br />

Wicca como uma religião universal, no sentido de que pode ser praticada por<br />

qualquer um em qualquer lugar.<br />

Gerina Dunwich, astróloga e escritora de diversos livros sobre bruxaria,<br />

concebe a Wicca como uma religião monista 42 , panteísta 43 , de natureza xamanística<br />

e positiva. Porém, existem aqueles que consideram a Wicca um modismo, um<br />

sistema mais ou menos organizado de meras superstições ou, ainda, critique o fato<br />

de determinadas pessoas se considerarem verdadeiras bruxas ou bruxos por<br />

simplesmente praticarem certos ritos; rebatendo essas críticas o bruxo Gardner nos<br />

fornece um parágrafo esclarecedor:<br />

“Se esse fosse um critério [o de acreditar em superstições],<br />

uma superstição não é uma crença? Um cristão que acredita em sua<br />

religião, e que, além disso, obtém prazer e conforto realizando seus<br />

ritos religiosos, deixaria de ser um cristão?” (GARDNER, 2003, p.55)<br />

Considerando que cada religião nos fornece seu próprio modo de considerar<br />

e estar no mundo. A literatura wiccaniana reflete toda uma visão característica do<br />

mundo, voltada significativamente para a Natureza, ao respeito a todos os seres<br />

vivos, à responsabilidade pelas próprias ações, etc. Em obra intitulada “Wicca<br />

Essencial” (2006), os autores nos dizem que:<br />

“Para tornar-se seguidor da Wicca são necessárias algumas<br />

mudanças no modo de ser e de agir. Damos a isso o nome de<br />

mudança de paradigma. Os valores e prioridades wiccanianos não<br />

são necessariamente os mesmos da cultura predominante, que no<br />

40<br />

Fonte: http://oqueewicca.blogspot.com/2007/05/diferenas-entre-wicca-paganismo-e.html. Acessado em 22<br />

de maio de 2009.<br />

41<br />

As Religiões pagãs mencionadas foram: a Wicca, o Helenismo, o Druidismo, o Dianismo, o Asatrú,<br />

ou Paganismo Nórdico, o Khemetic e, o mais conhecido, o xamanismo.<br />

42<br />

Segundo a qual o conjunto das coisas pode ser reduzido à unidade.<br />

43 Segundo a qual tudo o que existe é manifestação do Deus/Deusa.<br />

40


mundo de língua inglesa ou portuguesa é predominantemente cristã.”<br />

(DANIELS; TUITÉAN, 2006, p.11)<br />

De forma geral, existem algumas características básicas que podemos<br />

encontrar descritas na maior parte da literatura wiccaniana, são considerações que,<br />

salvo pequenas divergências, constituem consenso entre os autores que escrevem a<br />

respeito; à citar temos: (a) a crença na Lei do Triplo Retorno, ou seja, tudo aquilo<br />

que o praticante fizer (em ação ordinária e/ou em magia) retornará para ele três<br />

vezes; (b) respeito a todos os seres vivos, incluindo seres humanos, animais e<br />

plantas; (c) fazer o que quiser desde que não machuque ninguém, seguindo o<br />

preceito de responsabilidade consigo, com os outros e com a Natureza; e, (d) todos<br />

os wiccanianos concordam que a religião Wicca NÃO é sinônimo de satanismo, pois<br />

satanismo implica uma crença no Cristianismo, já que a idéia de Satã é o referente<br />

ao mal em oposição ao Deus bom dos cristãos. Como os wiccanianos baseiam sua<br />

fé em crenças que seriam anteriores ao cristianismo, eles próprios não acreditam na<br />

idéia de Satã.<br />

É interessante fazer um adendo sobre essa relação que a Wicca tem com o<br />

Cristianismo. Por um lado os autores wiccanianos defendem o não proselitismo e o<br />

respeito indiscriminado às outras pessoas incluindo suas escolhas religiosas. Por<br />

outro lado é comum vermos referências contrapondo os wiccanianos aos cristãos.<br />

Não há desrespeito nem desprezo nessas referências, mas exatamente isso: um<br />

contraponto, como se cristãos e wiccanianos estivessem incorrigivelmente em lados<br />

opostos da mesma balança. Em contrapartida existem muitas idéias erradas, que<br />

perfazem o senso comum, sobre os wiccanianos como considerar que toda a prática<br />

da magia é necessariamente má, ou confundir o Deus Cornífero com a figura do<br />

Demônio ou satã, ou ainda estereotipar o wiccaniano na figura da bruxa feia, entre<br />

outros.<br />

Ainda convém fazer uma outra consideração acerca da luta ou divisão entre o<br />

bem e a mal acima citado no item (d): Margaret Murray (2002, p.14) diz que “a idéia<br />

de dividir o poder do além em dois, um bom e outro mal, pertence a uma religião<br />

avançada. Nos cultos mais primitivos a divindade é ela própria a autora de tudo, seja<br />

bom ou mal” o que incorre numa perspectiva holística da realidade.<br />

A Wicca ainda é conhecida por ser uma religião de mistérios, não só no<br />

sentido de acreditar em “poderes invisíveis” (e como exemplo posso citar a força do<br />

pensamento, a sugestão, clarividência, etc.) que seriam manipuláveis por meio da<br />

magia como também num sentido mais literal onde a Wicca faria questão de manter<br />

seus ritos e identidade dos praticantes em segredo. Gardner justifica esse segredo<br />

em torno da bruxaria que ainda hoje persiste pelo fato de que as bruxas não teriam<br />

41


esquecido o que aconteceu com os seus ancestrais (sejam aqueles ligados por laços<br />

de consangüinidade ou pelo amor à Arte) nos tempos da Inquisição, ele ainda afirma<br />

que os dias de perseguição ainda não terminaram e que, por isso, em muitos lugares<br />

as bruxas ainda preferem manterem-se na marginalidade. 44<br />

Sobre essa questão do mistério alguns dos meus contatos ainda disseram,<br />

simplesmente, que a discrição em torno de suas práticas religiosas é necessária<br />

porque as pessoas ainda nutrem preconceitos, ainda vêem o praticante da bruxaria<br />

como uma pessoa excêntrica, esquisita, no melhor dos casos e de forma mais<br />

extremada, como aquele que pratica deliberadamente o mal través da magia, esta<br />

confundida comumente com magia negra 45 , vodu, etc.<br />

E quanto as(os) bruxas(os), o quê e quem seriam elas(es), afinal? Retiro uma<br />

auto definição do próprio fundador da religião, assim Gardner nos diz que:<br />

“são pessoas que chamam a si mesmas Wica, as „pessoas sábias‟,<br />

que praticam ritos antigos e que, junto com muita superstição e<br />

conhecimento herbal, preservaram um ensinamento oculto e<br />

processos de trabalho que elas próprias pensam ser magia ou<br />

bruxaria. (...) as bruxas tem seus próprios deuses e acreditam que<br />

eles são bons.” (GARDNER, 2003, p.102-104)<br />

Tecendo mais algumas definições pontuais do termo Bruxa(o), temos: (a) é a<br />

invocação ordinária do termo aos quais muitas pessoas fazem uso no cotidiano ao<br />

se referirem à alguém chamando-lhe de bruxa (geralmente no feminino) querendo<br />

dizer que é uma pessoa feia, mal-humorada, etc. Buckland (2003) a esse respeito<br />

nos coloca a questão do arquétipo em torno da imagem da bruxa que seria aquela<br />

mulher feia e má, montada em uma vassoura ou à beira de um caldeirão, adorando<br />

Satã. (b) a palavra “bruxa” também se refere a um termo que teve origem,<br />

provavelmente, na Idade Média e que, referido aos dois sexos, indica aquela pessoa<br />

que é praticante de magia; e, ainda (c) por mais que a maioria dos wiccaniano se<br />

considerem bruxas(os), nem toda bruxa(o) se considera wiccaniano.<br />

3.1 Coven, Bruxaria Hereditária e Bruxaria Solitária<br />

A palavra Coven designa, do latim convenire, estar de comum acordo e/ou<br />

unir-se. Podemos definir um Coven como um grupo de wiccanianos que se reúnem<br />

para estudar sobre a própria religião Wicca ou sobre assuntos correlatos, para<br />

44 GARDNER, 2003, p.106.<br />

45 A popular Wikipédia, uma das enciclopédias virtuais mais consultadas na atualidade pelos adeptos<br />

da Internet, já nos fala: “Os adeptos de práticas de magia negra são denominados popular e<br />

incorretamente como bruxos (...)”. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Magia_negra, acessado em<br />

05/07/2010.<br />

42


praticarem trabalhos de magia, cultuar seus deuses, etc. Daniels e Tuitéan (2003,<br />

p.299) nos dizem que por tradição os covens são formados por até treze membros,<br />

mas esse número pode variar de acordo com a vontade e a necessidade daqueles<br />

que o integram; os mesmos autores ainda nos dizem que a hierarquia interna, as<br />

regras e preceitos bem como o funcionamento geral que será seguido pelo coven<br />

são de escolha do grupo de bruxos e bruxas que o formam.<br />

Gardner afirma a importância de deixar claro o que seriam e o que fazem um<br />

grupo de bruxas:<br />

“a expressão grupo de bruxas é usada em dois sentidos. Primeiro é<br />

um bando que pode ter qualquer número de pessoas iniciadas com<br />

um líder comum, que se reúnem e celebram os ritos. O líder pode ser<br />

um homem ou uma mulher, mas uma Grande Sacerdotisa (que se<br />

pode emprestar de outro grupo, se esse não tiver a sua disponível)<br />

deve estar presente para celebrar os ritos. (...) Em segundo lugar um<br />

grupo de bruxas pode significar as pessoas que celebram os ritos no<br />

círculo. Tradicionalmente, consiste de seis casais perfeitos e um<br />

líder; de preferência, os casais são maridos e esposas, ou ao menos<br />

amigados. Ou seja, eles devem ser amantes, em sintonia um com o<br />

outro, pois é o que dá melhores resultados.” (GARDNER, 2003,<br />

p.111-112)<br />

Já adentrando nas questões de gênero é comum lermos referências<br />

indicando que o ideal da prática dos ritos seja realizá-los em casal. O par não<br />

precisa ser necessariamente o mesmo companheiro da esfera de vida ordinária, mas<br />

é recorrentemente indicado que assim o seja, bem como é comum ler referências de<br />

que o mesmo companheiro da prática mágica acaba tornando-se o companheiro na<br />

“vida real”. Uma explicação possível é que o carinho, respeito e cumplicidade que se<br />

forma durante a prática dos ritos e das mágicas persiste para muito além do espaço<br />

e do tempo do rito.<br />

Voltando à idéia de Coven, outra forma de um coven se formar é quando o<br />

grupo é formado por membros de uma mesma família. Buckland (2003) nos enfatiza<br />

essa prática da bruxaria em família, o que daria seguimento ao que poderíamos<br />

chamar de Bruxaria Hereditária. Diz-se que o bruxo hereditário é aquele que foi<br />

educado na Arte desde muito novo, pois sua família passou de geração para<br />

geração através dos tempos os ensinamentos e crenças pagãs. Como esses grupos<br />

teriam acesso direto a um conhecimento anterior aos ensinamentos lançados<br />

através dos livros de Gerald Gardner, esses grupos também são conhecidos por<br />

tradições pré-gardnerianas.<br />

43


Gardner diz que antigamente muitas das crianças aldeãs eram naturalmente<br />

educadas como bruxas, assim seria um fato que a bruxaria tratava-se de um culto<br />

hereditário. 46<br />

Por outro lado, temos também os adeptos da bruxaria que se dizem solitários;<br />

eles são pessoas que em um momento de sua vida tiveram contato com a Wicca e<br />

acabaram se identificando, daí passaram a buscar mais conhecimentos acerca da<br />

Wicca, através de leitura de livros, internet, etc. Também pode ser um solitário<br />

aquele praticante que, fazendo parte de um grupo acabou por preferir seguir<br />

sozinho. Sobre esse último tipo de bruxo(a) solitário(a) Daniels e Tuitéan (2006, p.<br />

10) nos falam que os “wiccanianos tendem a seguir seu próprio caminho se não<br />

estão satisfeitos com a situação do momento no coven, no grupo ou na comunidade<br />

locais. Por isso a Wicca não é uma religião com fortes laços de coesão.”<br />

3.2 As Tradições<br />

De forma mais geral podemos definir uma tradição como um método<br />

específico de ação, uma atitude e/ou também ensinamentos que são passados de<br />

geração em geração, visando manter algo que é de costume, que especifica uma<br />

cultura ou que mantém os laços de uma comunidade. Na Wicca, o conceito de<br />

tradição tem um significado um pouco diferente, pois uma Tradição (assim mesmo,<br />

com letra maiúscula) é um conjunto específico de rituais, de princípios éticos, de<br />

crenças e até mesmo de instrumentos utilizados nas práticas mágicas. Podemos<br />

dizer de forma um tanto quanto sintética que uma Tradição é um subgrupo<br />

específico dentro da religião Wicca 47 . Cada uma dessas Tradições tenta resgatar, de<br />

certa forma até recriar, os mistérios antigos. Mas o que seriam esses mistérios<br />

antigos? O próprio Gardner (2003) cita Vittorio Macchioro para nos passar essa<br />

idéia, donde os “mistérios antigos” seriam:<br />

“uma forma especial de religião que existia entre todos os povos<br />

antigos e, entre os povos primitivos (...) sua essência é a<br />

palingenesia mística, ou seja, uma regeneração trazida pela<br />

sugestão. Em seu mais perfeito estágio, a palingenesia é uma<br />

verdadeira substituição da personalidade: o homem é investido da<br />

personalidade de um deus, um herói ou um ancestral, repetindo e<br />

reproduzindo os gestos e ações a ele atribuídos pela tradição. (...)<br />

Antigamente, o mistério era uma cerimônia puramente mágica, mas<br />

com o tempo adquiriu conteúdo moral e espiritual.” (GARDNER,<br />

2003, p.81-82)<br />

46 GARDNER, 2003, p.117.<br />

47 Tradições: Principais tipos de Tradições. Círculo Sagrado. Disponível em<br />

http://www.circulosagrado.com/, acessado em 12/03/2009.<br />

44


Existem muitas Tradições wiccanianas, podemos encontrar os ensinamentos<br />

de algumas dispostas em livros, em outras é preciso ser admitido, algumas são mais<br />

abertas, outras mais fechadas preferindo o segredo e o anonimato de seus<br />

membros. As exigências da maioria das Tradições situam-se num ponto<br />

intermediário, ou seja, a pessoa pode entrar em contato com algumas crenças e<br />

práticas, mas em seguida precisa ser aceita no grupo e ser iniciada para aí<br />

prosseguir.<br />

É preciso dizer que algumas Tradições concebem o equilíbrio entre o feminino<br />

e o masculino, outras, no entanto, preferem enfatizar uma delas (geralmente o<br />

feminino, como no caso das tradições Diânicas).<br />

As Tradições citadas nominalmente neste trabalho, ou seja, a Tradição<br />

Gardneriana, a Tradição Diânica e a Tradição Seax Wicca foram assim escolhidas<br />

por estarem de acordo com a literatura por mim analisada. Outras Tradições<br />

existentes que são constantemente mencionadas em sites e cujos ensinamentos<br />

podemos encontrar em livros são: Tradição Alexandrina, fundada por Alex Sanders<br />

na década de 60; Tradição Aridiana e/ou Ariciana, fundada por Raven Grimassi na<br />

década de 80; Tradição Reclaiming, também fundada na década de 80 por Starhawk;<br />

entre outras.<br />

3.3.1 Tradição Diânica<br />

Essa Tradição originariamente foi fundada por Morgan MacFarland em Dallas,<br />

Texas, por volta dos anos 70; possui feição claramente feminista e cultua<br />

privilegiadamente a figura da Deusa em detrimento do Deus. Em geral é composta<br />

só por mulheres, no entanto um dos seguidores mais conhecidos no Brasil é o bruxo<br />

Claudiney Prieto, um dos pioneiro na divulgação da Wicca no território brasileiro.<br />

A maioria dos grupos que atuam sob o signo dessa Tradição atua em causas<br />

políticas, sociais e culturais a favor das mulheres. Os rituais praticados dentro dessa<br />

Tradição estão voltados para a espiritualidade feminina, para a valorização dos<br />

atributos femininos e para o desenvolvimento da auto-estima.<br />

3.3.2 Tradição Gardneriana<br />

Apesar da divulgação em livros, a Tradição fundada por Gerald Gardner é<br />

hoje uma das Tradições mais secretas, voltada para os Mistérios da Arte e para o<br />

desenvolvimento pessoal de seus praticantes. O próprio Gardner comumente<br />

comenta em seus livros que ele só escreveu aquilo que as bruxas o permitiram falar.<br />

45


A Tradição Gardneriana preza pelo caminho Sacerdotal e Iniciático, ou seja,<br />

não admite auto-iniciações e o ensinamento é passado por Graus de aprendizagem<br />

que podem levar até o “posto” de Alta Sacerdotisa ou Alto Sacerdote (em outras<br />

Tradições chamados de Suma Sacerdotisa e Sumo Sacerdote). Essa Tradição é<br />

passada de forma oral e aqui se inclui procedimentos ritualísticos, princípios, leis,<br />

etc. Os iniciados na Tradição Gardneriana servem aos Deuses através de práticas<br />

antigas, com o auxílio espiritual dos ancestrais, e trilham um caminho religioso<br />

calcado na honra tanto à Deusa quanto ao seu Consorte Divino, o Deus Cornífero.<br />

Homens e mulheres são igualmente aceitos nessa Tradição e apesar de algumas<br />

práticas serem mencionadas referidas ao papel da Alta Sacerdotisa, podemos dizer<br />

que existe certo equilíbrio no culto ao Deus e à Deusa.<br />

3.3.3 Tradição Seax Wicca<br />

Também conhecida por Wicca Saxônica, foi fundada por Raymond Buckland<br />

em 1973 quando este se desvinculou da Tradição Gardneriana. A principal diferença<br />

em relação a Tradição Gardneriana é que a Seax Wicca aceita as auto-iniciações<br />

praticadas pelos Bruxos Solitários 48 , sendo esta Tradição precursora na divulgação<br />

dessa “idéia”.<br />

3.2 Crenças e Práticas<br />

A Wicca não possui dogmas indiscutíveis, ela possui sim algumas crenças<br />

que são, por assim dizer, mais gerais e outras crenças que dizem respeito a história<br />

e contexto de cada praticante. Assim também são as práticas na Wicca; enquanto<br />

temos algumas práticas que, parece-me, todas as tradições e bruxos(as)<br />

solitários(as) efetuam, existem outras práticas que estão mais atreladas a costumes,<br />

disponibilidades e necessidades do grupo ou dos praticantes individuais. Daniels e<br />

Tuitéan (2006, p.34) nos dizem pontualmente que a Wicca se baseia em pontos<br />

comuns e que tende a aceitar, “mas não a enfatizar”, as diferenças entre os adeptos.<br />

Para me ater nos limites de meu trabalho citarei aqui apenas algumas das<br />

crenças que de forma mais geral foram mencionadas nos sites e na literatura por<br />

mim analisada.<br />

48 “Os bruxos solitários são aqueles que não participam de nenhum círculo ou coven, uns são<br />

Iniciados de alguma tradição wiccana ou de bruxaria tradicional, e outros não são iniciados em<br />

tradição alguma, mas praticam a bruxaria assim mesmo”, fonte:<br />

http://members.fortunecity.com/entremundos1/coven2.htm, acessado em 19/06/09.<br />

46


Observei ser comum na literatura wiccaniana lermos a respeito das<br />

Summerlands, traduzido do inglês literalmente como “Terras de Verão”. Esse termo<br />

refere-se à crença em um local de passagem, não de permanência, que seria para<br />

onde a alma iria, logo após o corpo morrer na vida terrestre, para poder refletir sobre<br />

esse tempo findo e preparar-se para o tempo vindouro.<br />

Outra idéia que é fundamental para compreendermos a práticas wiccanianas<br />

é a idéia de Roda do Ano que está intrinsecamente ligada aos principais Rituais<br />

Wiccanianos, à saber, os 8 (oito) Sabás, ou Dias Santos Solares, e os Esbás, ou<br />

Dias Santos Lunares 49 , pois são festivais sazonais que refletem o ciclo progressivo<br />

das sociedades agrárias e/ou caçadoras. A Roda do Ano também representa o ciclo<br />

anual da Deusa onde ela passa de Donzela à Mãe e, finalmente, Anciã; assim como<br />

representa o nascimento, casamento, maturação e morte do Deus.<br />

De caráter mais geral circula na Internet, e é referido em diversos sites<br />

wiccanianos, a existência de uma lista de Leis da Arte adaptadas por Wanderley<br />

Mayhé Jr. 50 e que originariamente fariam parte de um livro intitulado Llyfr y<br />

Doethineb (ou o Livro da Sabedoria). Esse livro possuiria diversas variações e,<br />

sendo de origem céltica, teria sobrevivido ao longo dos séculos como registro de<br />

uma série de Leis Wiccans cujo bruxo ou bruxa que segue o caminho da Arte<br />

deveria seguir. Podemos considerar alguns aspectos pertinentes no que tange às<br />

referências de gênero nessas Leis Wiccans conforme adaptadas e extraídas do livro<br />

por Mayhé. A grande maioria dos incisos faz referência aos Deuses e as Deusas<br />

concomitantemente, porém o inciso XII nomeia a deusa Arádia como Deusa<br />

Suprema; fica também a cargo dessa Grande Deusa infringir castigos aos adeptos<br />

que incorrerem em faltas com o Círculo e a Arte.<br />

Ainda segundo este texto acima citado os trabalhos no grupo devem ser<br />

presididos por uma Suma Sacerdotisa auxiliada sempre por um Sumo Sacerdote<br />

cuja escolha deste recai sob a responsabilidade da Suma Sacerdotisa. Ambos são<br />

representantes dos Deuses e Deusas. Em tempo hábil deve haver um Conselho dos<br />

adeptos para definir uma nova Suma Sacerdotisa (mais jovem) para assumir o lugar<br />

da velha que deverá de bom grado ceder seu posto a sucessão 51 . Aqui vemos que a<br />

figura tanto da Deusa quanto da Suma Sacerdotisa assumem posição superior em<br />

49 Estes Ritos serão detalhados adiante.<br />

50 Leis Wiccans. Texto Completo e Tradicional das Ordenações Célticas. Adaptação do Livro da<br />

Sabedoria de Wanderley Mayhé Jr. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/11543694/Caminho-de-<br />

Wicca-Leis-Wiccans, acessado em 13 de setembro de 2009.<br />

51 “XVIII – E por compensação de seu ato, ela voltará a esta posição de Suma Sacerdotisa numa vida<br />

futura, com poder e suprema beleza, sempre aumentados, pois assim é a prescrição da lei.”<br />

47


elação a alguma referência masculina, em termos de um Deus ou de um Sumo<br />

Sacerdote.<br />

Uma prática comum e citada em praticamente toda a literatura wiccaniana é a<br />

confecção de um Livro das Sombras que nada mais seria do que uma mistura de<br />

diário, caderno de receitas (de magias ou mesmo de bolos que são preparados para<br />

serem comidos e oferecidos às divindades durante os rituais) e enciclopédia pessoal<br />

que registra o conhecimento adquirido ao longo do tempo na prática da bruxaria.<br />

Outro ponto de vital importância para entendimento do que se passa em um<br />

grupo de bruxas e bruxos instituídos gira em torno do que convenientemente<br />

chamamos de Iniciação. A iniciação se dá depois que o interessado na Wicca após<br />

ler, informar-se, estruturar algum conhecimento sobre essa religião, opta por seguir<br />

nesse caminho; nesse caso faz-se uma cerimônia no grupo simbolizando que o<br />

interessado tornar-se-á adepto e passará a um grau mais elevado de entendimento<br />

e prática da Wicca.<br />

A Iniciação exige um ritual no qual é dada uma confirmação pelo iniciador(a),<br />

pelas testemunhas e pelo Deus e a Deusa ao adepto que assume uma<br />

responsabilidade perante si próprio, o grupo e as divindades. A maioria das<br />

iniciações wiccanianas contém os mesmo elementos que são designados por uma<br />

espécie de desafio simbólico, um juramento, a transmissão do conhecimento e uma<br />

morte e renascimento também simbólicos.<br />

Aproveito aqui para mencionar a idéia de Grau na Wicca que corresponde aos<br />

níveis de iniciação. A maioria das Tradições possui três níveis de iniciação e<br />

estabelecem um tempo e/ou uma condição para que a pessoa ascenda de nível.<br />

Segundo a Tradição Eclética, que informa o que é básico à maioria dos praticantes,<br />

tradicionalmente para a Primeira Iniciação que “transformará” o adepto em um<br />

bruxo(a) de Primeiro Grau, este precisará estudar um ano e um dia sobre a Wicca e<br />

a Tradição à qual pretende fazer parte. Para tornar-se um bruxo(a) de Segundo Grau<br />

será preciso mais um ano e um dia de estudos, o que tornará o bruxo(a) mais capaz<br />

e proficiente no conhecimento e na prática da bruxaria. O bruxo(a) que pretende<br />

chegar ao Terceiro Grau estudará com afinco pelo menos mais um ano e um dia e<br />

ascenderá então ao nível de Sumo Sacerdote ou Suma Sacerdotisa do grupo.<br />

Lembro que esses Graus podem tanto receber nomes específicos em diferentes<br />

Tradições quanto estabelecer critérios diferentes de ascensão; citei dessa forma<br />

porque foram esses os dados obtidos na literatura lida para este trabalho.<br />

3.2.4 Círculo Mágico<br />

48


Visto que quase não existem Igrejas wiccanianas ou espaços específicos para<br />

o culto e prática religiosa e, por ser a religião Wicca voltada, sobretudo, à natureza, o<br />

local de prática dos ritos wiccanianos tende a ser a própria Natureza – quando<br />

possível. Como hoje em dia a maioria dos adeptos da religião mora em grandes<br />

cidades o que acontece mais comumente é a prática num cômodo da própria casa<br />

(ou apartamento) do adepto. Porém é preciso fazer algum tipo de distinção entre o<br />

espaço ordinário e o espaço sagrado, para isso os wiccanianos utilizam-se do<br />

lançamento do círculo. O lançamento do círculo nada mais é do que<br />

consagrar/delimitar uma determinada área para uma prática religiosa, seja ela<br />

simples oração, celebração de um evento específico ou um trabalho de magia.<br />

Assim, resumindo, o Círculo serve para delimitar a área do Espaço Sagrado.<br />

Algumas tradições exigem que o Círculo tenha um tamanho específico de diâmetro<br />

ou ainda seja marcado no chão com giz ou outro material visível, outras tradições<br />

fazem o Círculo de acordo com o espaço e as necessidades do momento.<br />

Segundo a maioria das Tradições o Círculo é concluído através de 10 (dez)<br />

etapas. Resumidamente são: 1. Traçar, mental ou materialmente, a área que será<br />

utilizada; 2. Purificar essa área livrando-a de energias negativas; 3. Convocar os<br />

quadrantes, o que significa convidar as entidades guardiãs (referidas pelos 4 [quatro]<br />

pontos cardeais e elementos terra, fogo, ar e água) para que protejam o círculo; 4.<br />

Confirmar o círculo indicando que ele está pronto e apto para ser usado; 5. Invocar o<br />

Deus e a Deusa; 6. A Ação propriamente dita (celebrar um Sabá, uma oração de<br />

agradecimento ou de pedido de cura, etc.); 7. Dispensar os Deuses, onde se conclui<br />

a evocação; 8. Dispensar os quadrantes; 9. Recolher o círculo onde se devolve a<br />

origem as energias invocadas; e, 10. Abrir o círculo terminando a celebração.<br />

Gardner (2003, p.49) nos diz que imagina “que certas práticas, tais como o<br />

uso do círculo para segurar o poder, foram invenções locais, derivadas do uso do<br />

círculo druídico ou pré-druídico”. De qualquer forma os wiccanianos concordam que<br />

o Círculo mágico é o lugar mais seguro para o praticante comungar com os deuses<br />

e/ou praticar sua magia, pois é o espaço onde o bruxo(a) está “num lugar sem lugar<br />

e num tempo sem tempo, pois está entre o mundo e além deles”. 52<br />

3.2.5 Magia<br />

Do grego magikos, o termo magia pode ser definido como o uso controlado da<br />

vontade para produzir uma mudança, seja no ambiente, em uma circunstância ou<br />

52 DANIELS; TUITÉAN, 2006, p.296.<br />

49


até mesmo para influenciar o pensamento e ação de uma pessoa. Embora nem<br />

todos os wiccanianos a pratiquem, a magia é um componente da religião Wicca.<br />

Segundo Luciane Munhoz de Omena (2009) em artigo na Revista Caderno<br />

Espaço Feminino:<br />

“a concepção mágica do universo faz uso de leis de<br />

aplicação universal e não se limita às coisas humanas. A<br />

religião se separa da magia, pois aquela responde pela crença<br />

em seres sobrenaturais, os quais regem conscientemente o<br />

mundo de acordo com sua persuasão. (...) A prática mágica é<br />

uma intervenção humana no cotidiano.” (OMENA, p.102)<br />

Na Wicca não existe propriamente essa separação mencionada por Omena,<br />

pois a prática mágica é uma constante e perfaz o próprio ritual religioso.<br />

Os antigos cultos pagãos eram baseados na magia denominada simples,<br />

imitativa ou, ainda, simpática; um exemplo de um ato mágico realizado visando a<br />

resultados específicos pode ser encontrado em Raymond Buckland (2003, p.46)<br />

quando nos conta que na época das plantações, era costume nos campos da velha<br />

Inglaterra que o fazendeiro e sua esposa praticassem o intercurso ritualístico para<br />

garantir a fertilidade da colheita; na época dos primeiros brotos montavam em<br />

vassouras e davam pulos altos indicando o tamanho que as plantas deveriam<br />

crescer.<br />

Gardner (2003, p.133) aponta ainda que numa “operação mágica de sucesso<br />

um dos estímulos mais fortes é o fator emocional”, por isso nenhuma mágica deve<br />

ser realizada visando um objetivo banal, o bruxo(a) deve estar consciente tanto da<br />

necessidade quanto da responsabilidade que a manipulação mágica implica.<br />

3.4 Divindades<br />

Primordialmente a Deusa surgiu sozinha, porém, mais tarde surge como seu<br />

filho e consorte a figura do Deus Cornudo 53 (a exemplo do deus romano agropastoril<br />

Pã). Invocando a representação da Roda do Ano, este Deus morre todo ano numa<br />

espécie de morte ritual que encarna o ciclo natural de nascimento (solstício de<br />

inverno), vida, morte (solstício de verão) e renascimento enquanto a Deusa passa de<br />

Donzela à Mãe e, finalmente, Anciã.<br />

53 Porque um Deus Cornudo? Segundo Pellizzari, nesse tempo primordial, “os animais considerados<br />

mais valiosos, cujo abate cobria de honras aquele que o realizava, eram animais que possuíam<br />

chifres, como cervos e bisões. Assim, tomou forma na mente do ser humano primitivo a idéia de um<br />

Deus das Caçadas, dotado de chifres, símbolo de seu poder.” Disponível em<br />

http://luanegra.no.sapo.pt/historia_bruxaria.htm, acessado em 12/06/09.<br />

50


O Deus da Caça dos tempos longínquos dos cultos pagãos era uma figura de<br />

muita relevância, pois se acreditava que era a sua generosidade que garantiria o<br />

sucesso nas caçadas, atividade essencial para a subsistência do grupo nos períodos<br />

frios entre colheitas. Freqüentemente ele era representado com chifres, daí a<br />

nomenclatura até hoje utilizada para referis-se a ele: Deus Cornífero.<br />

Figura 01 – O Deus Cornífero. Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006,<br />

p.240.<br />

Outro fato que decorre da relevância da Roda do Ano é que, geralmente, no<br />

verão procura-se dar ênfase ao papel da Deusa como símbolo da plantação, da<br />

fertilidade e da reprodução, enquanto no inverno focalizam-se no Deus,<br />

simbolizando o período de caça quando cessa o período da plantação, assim<br />

mantêm-se a harmonia entre as energias complementares das divindades.<br />

Buckland (2003, p.28) reitera que “em toda parte na natureza estão ambos o<br />

masculino e o feminino, tanto no reino animal quanto no vegetal. Parece, portanto,<br />

natural que as divindades sejam tanto masculinas quanto femininas”. No entanto,<br />

Buckland nos conta que com a gradativa importância da agricultura, a caça passou a<br />

ser atividade concomitante à agricultura (e não mais atividade exclusiva) para o<br />

sustento do grupo, seguindo-se aí as possibilidades das estações do ano; com isso<br />

surge a tese de que com a agricultura substituindo a caça em importância para o<br />

grupo, esse seria o fator explicativo para a emergência da relevância da deusa nos<br />

cultos pagãos subseqüentes. Assim, se por um lado temos o Deus representando a<br />

subsistência da caça, temos também a figura da Grande Mãe como figura máxima<br />

da fertilidade que garantia não só a reprodução do clã como também sua adoração<br />

garantiria a abundância nas colheitas.<br />

51


O mitólogo Joseph Campbell (1990) fortalece essa idéia acima exposta<br />

quando nos fala que a veneração a uma entidade predominantemente feminina está<br />

associada à agricultura e às sociedades agrárias, pois está ligada à terra. Nas<br />

palavras de Campbell:<br />

“A mulher dá à luz, assim como da terra se originam as plantas.<br />

A mãe alimenta como fazem as plantas. Assim, a magia da mãe e a<br />

magia da terra são a mesma coisa. Relacionam-se. A personificação<br />

da energia que dá origem às formas e as alimenta é essencialmente<br />

feminina. A deusa é figura mítica dominante no mundo agrário da<br />

antiga Mesopotâmia, do Egito e dos primitivos sistemas de cultura do<br />

plantio. (...) O feminino representa o que, em termos kantianos,<br />

chamamos de formas da sensibilidade. Ela é espaço e tempo, e o<br />

mistério para além dela é o mistério para além de todos os pares de<br />

opostos. Assim, não é masculina nem feminina. Nem é, nem deixa<br />

de ser. Mas tudo está dentro dela (...).” (pg.184-5)<br />

Se seguirmos esse pensamento de Campbell perceberemos que a figura da<br />

Deusa, além de complementar à figura do Deus, é neutra o que inverte toda uma<br />

ordem discursiva que vige no ocidente moderno desde há muito tempo atrás. Se<br />

pararmos para pensar, no nosso cotidiano moderno, o neutro tende a ser o<br />

masculino.<br />

A Wicca, não raras vezes, costuma conceder à Deusa um papel<br />

preponderante, quer nas práticas ou mitos, criando assim o seu principal símbolo e<br />

mostrando a sua importância fundamental quer para as mulheres quer para os<br />

homens 54 . A escritora e bruxa wiccaniana Gerina Dunwich também reitera a<br />

preponderância do feminino na Wicca e nos fala de um consenso entre os<br />

praticantes da Wicca acerca do fato da divindade costumar manifestar-se sob a<br />

forma feminina 55 .<br />

Outra escritora e bruxa, engajada com o movimento feminista nos fala:<br />

"A importância do símbolo da Deusa para as mulheres não<br />

pode ser subestimada. A imagem da Deusa inspira-nos, mulheres,<br />

para que nos olhemos como divinas (...). Através da Deusa, (...)<br />

podemos passar para além das vidas estreitas e constrangidas e<br />

tornar-nos completas. A Deusa também é importante para os<br />

homens. A opressão dos homens no patriarcado governado por Deus<br />

- Pai é talvez menos óbvia, mas não menos trágica que a das<br />

mulheres. Os homens são encorajados a identificarem-se com um<br />

modelo que nenhum ser humano pode emular com sucesso: a serem<br />

mini-governantes de estreitos universos. Nos países protestantes<br />

onde dificilmente há lugar para a expressão dos valores femininos e<br />

54<br />

Valores Matrifocais. Disponível em http://marged.vilabol.uol.com.br/bruxas.html, acessado em<br />

18/06/09.<br />

55<br />

Wicca – A Feitiçaria Moderna. GERINA DUNWICH. p.2, disponível em:<br />

http://www.4shared.com/file/35913672/2055f6fe/Books_-_Wicca_A__Feitiaria_Mod.html?s=1, acessado em<br />

25/11/09.<br />

52


onde não existe qualquer figura feminina com caráter sagrado, esta<br />

perspectiva matrifocal da Wicca, contribui para a sua divulgação<br />

tanto junto dos homens como das mulheres. Segundo a „Wiccan<br />

Rede‟ holandesa muita gente é atraída pelo papel da mulher na Arte.<br />

Claro que as mulheres saúdam a oportunidade de se envolverem<br />

ativamente num movimento espiritual - e os homens vêem a Arte<br />

como uma oportunidade excelente para exprimirem a sua<br />

feminilidade". (STARHAWK. A Dança Cósmica das Feiticeiras.<br />

Capítulo 1. Disponível em: http://www.easyshare.com/1908089815/1908089815,<br />

acessado em 11/07/2010)<br />

Nesse sentido creio que essa preponderância ao feminino e à Deusa,<br />

principalmente nas Tradições Diânicas e na Tradição Reclaiming, podem ser uma<br />

forma de chamar a atenção para a necessidade de repensarmos as desigualdades<br />

persistentes entre as concepções do sexo e do gênero existentes ainda hoje nas<br />

mais diversas sociedades e culturas, principalmente em termos de religiosidade.<br />

Campbell afirma que a Deusa foi uma figura poderosa na cultura helenística<br />

do mediterrâneo e que retornou na tradição católica romana na figura da Virgem,<br />

mas s figura cultuada da Virgem cristã é muito diferente da Deusa wiccaniana, pois a<br />

Deusa na Wicca é uma figura bela que pode assumir a sua sexualidade livremente,<br />

pois é natural que, para que haja a fertilização que frutifica, haja tanto a sedução<br />

quanto o intercurso.<br />

Bostulim cita uma interessante cronologia mítica em sua Dissertação de<br />

Mestrado, (2007, p.35) donde a história humana dividir-se-ia em quatro fases<br />

distintas, a saber: uma deusa cria o mundo; um casal de deuses cria o mundo; um<br />

deus macho usurpa o poder da deusa; um deus macho cria o mundo. Nesse sentido<br />

a Wicca forneceria atualmente a possibilidade de resgate dos valores femininos que<br />

foram inferiorizados e renegados com a usurpação da cosmologia fornecida por um<br />

modelo cristão misógino ocidental.<br />

3.5 Praticantes<br />

De forma geral a literatura wiccaniana possibilita uma grande liberdade aos<br />

praticantes em termos de diversos níveis de escolha, isso me levou a acreditar,<br />

prematuramente, que não haveria nessa religião uma forte tendência<br />

heteronormativa. No entanto, uma leitura mais atenta me mostrou o contrário e, se<br />

por uma lado, existe a indicação de acolhimento à diversidade, inclusive no tocante<br />

a diversidade sexual, por outro lado encontrei diversas referências que<br />

explicitamente indicam o caráter tradicional na concepção do gênero e da<br />

sexualidade na Wicca. Por exemplo, gostaria de citar uma afirmação de Daniels e<br />

53


Tuitéan (2006, p.11) onde dizem que “de maneira geral, os casais wiccanianos ainda<br />

são heterossexuais, monógamos e mantém vínculos matrimoniais legais.”<br />

Outro dado relevante é que em correspondências com alguns praticantes da<br />

Wicca percebi uma boa abertura quanto ao acolhimento a homossexuais, porém<br />

achei um parágrafo extremamente paradoxal na obra de Gardner que aqui<br />

reproduzo:<br />

“As bruxas ensinam que para trabalhar com magia é preciso<br />

começar com um casal, pois é necessária uma inteligência masculina<br />

e feminina; eles devem estar em sintonia um com o outro; e elas<br />

acreditam que durante a prática eles gostam um do outro. Algumas<br />

vezes é indesejável que eles possam apaixonar-se. As bruxas têm<br />

métodos com os quais tentam evitá-lo, mas nem sempre têm<br />

sucesso. Por essas razões, segundo elas, a deusa proibiu<br />

estritamente um homem ser iniciado ou trabalhar com outro homem,<br />

ou uma mulher ser iniciada ou trabalhar com outra mulher; sendo as<br />

únicas exceções um pai que inicia um filho e a mãe, a filha, dito isso<br />

a maldição da deusa pode cair sobre aquele que quebrar essa lei.”<br />

(GARDNER, 2003, p.74)<br />

O que conclui disso é que pode existir uma verdadeira dissonância entre a<br />

literatura e a realidade dos praticantes. Deixo essa consideração em aberto visto que<br />

não me aprofundei em investigar a prática dos wiccanianos “fora da literatura”. Em<br />

relação à minha leitura, o que posso inferir analiticamente é que, apesar da<br />

valoração do feminino ser evidente na Wicca, o que inverti as relações de poder que<br />

tradicionalmente observamos em grande parte do cotidiano, fundamentalmente no<br />

que tange à realidade religiosa do ocidente, o que observamos é uma absoluta<br />

separação complementar das qualidades e características vinculadas ao gênero<br />

dentro da Wicca.<br />

Quando falamos em praticante é fundamental explicarmos a idéia de Suma<br />

Sacerdotisa e Sumo Sacerdote dentro da religião. A Suma Sacerdotisa vem a ser<br />

uma iniciada de Terceiro Grau, é a mulher que dirige o coven nos ritos sagrados,<br />

sendo geralmente a pessoa a quem é atribuída autoridade máxima dentro do grupo.<br />

Ao seu lado, e dependendo da Tradição pode exercer igual autoridade ou ser inferior<br />

a ela (porém nunca seu superior), temos a figura do Sumo Sacerdote. O Sumo<br />

Sacerdote é um iniciado também de Terceiro Grau que dirige o coven juntamente<br />

com a Suma Sacerdotisa, porém nem todos os Covens possuem um Sumo<br />

Sacerdote.<br />

54


Figura 02 – Suma Sacerdotiza e Sumo Sacerdote praticando um rito.<br />

Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006, p.317.<br />

Em relação à execução das funções do Sumo Sacerdote e da Suma<br />

Sacerdotisa na grande maioria das vezes os autores da literatura wiccaniana<br />

indicam alguma referência de gênero. No entanto, outras tradições, como a Tradição<br />

Eclética, explicitam que a competência para a realização dessas funções não<br />

dependem do sexo da pessoa:<br />

“O que uma Suma Sacerdotisa, um Sumo Sacerdote, um<br />

Sacerdote Assistente, ou uma Sacerdotisa Assistente é, no que diz<br />

respeito às hierarquias das várias Tradições, compete as práticas<br />

exclusivas de cada Tradição (...). (...) porque essas são descrições<br />

de tarefas e porque somos uma religião de igualdade, é<br />

definitivamente irrelevante o sexo da pessoa ao executar essas<br />

atividades.” (DANIELS e TUITÉAN, p.103)<br />

Outra representação significativa que podemos observar se dá quando a<br />

Grande Sacerdotisa, no rito, seja ele qual for, abre os braços na posição do<br />

Pentáculo (semelhante ao homem vitruviano de da Vinci, nesta posição ela está<br />

representando a Deusa e/ou o poder da regeneração 56 , da ressurreição. Quando a<br />

Grande Sacerdotisa quer representar o Deus, ou invocar os poderes masculinos ela<br />

fica em pé com os braços cruzados sob o peito, assim a cabeça marca o ápice de<br />

um triângulo enquanto as duas pontas dos cotovelos marcam os pontos extremos da<br />

horizontal, esta seria uma posição semelhante à de Osíris, conta-nos Gardner 57 , e<br />

representa o Deus e a Morte.<br />

Gardner nos diz ainda que:<br />

56 GARDNER, 2003, p.80.<br />

57 GARDNER, 2003, p.128.<br />

“As bruxas acreditam que, ao representar um papel, você<br />

realmente assume a natureza da coisa imitada.(...) Representando o<br />

papel da deusa, a sacerdotisa estaria em comunhão com ela; da<br />

mesma maneira o sacerdote, agindo como o deus, torna-se um com<br />

55


3.6 Os Ritos<br />

ele em seu aspecto de Morte, o Consolador, o Confortador, o<br />

portador de uma pós-vida feliz e da regeneração. O iniciado, ao se<br />

submeter às experiências dos deuses, vira um bruxo.” (GARDNER,<br />

2003, p.137-8)<br />

Podemos definir um ritual por ser uma cerimônia, uma celebração que visa<br />

aproximar o ordinário do sagrado a fim de obter um favor dos deuses ou encaminhar<br />

uma prece ou agradecimento. O mitólogo Joseph Campbell (1990, p.198), bem<br />

sucintamente, define o ritual como a encenação de um mito.<br />

De uma forma geral, me parece que é através do rito que a religião reformula o<br />

próprio cotidiano. É também através da dinâmica ritualística que o homem distancia-<br />

se do quotidiano, do profano e passa a operar numa realidade metafísica.<br />

O antropólogo Clifford Geertz (1989, p.82) nos conta que “num ritual, o mundo<br />

vivido e o mundo imaginado fundem-se sob a mediação de um único conjunto de<br />

formas simbólicas, tornando-se um mundo único e produzindo aquela transformação<br />

idiossincrática no sentido da realidade”.<br />

Há alguns componentes rituais os quais gostaria de chamar a atenção. Como<br />

um rito transcende o ordinário é comum vermos referências sobre a vestimenta<br />

adequada para a realização de um rito. Nos rituais wiccanianos os praticantes<br />

podem estar vestidos com um manto ritualístico ou até mesmo uma roupa comum,<br />

mas que seja específica para estas ocasiões para manter a divisão necessária entre<br />

o sagrado e o ordinário; ainda podem estar “vestidos de céu”, que seria a nudez<br />

ritualística indicando que o praticante está sob proteção das deidades e da<br />

Natureza. A nudez na Wicca é vista de uma forma muito natural e só fica nu aquele<br />

que assim decide, nunca por imposição.<br />

Outro fator comumente citado é o valor da ação rítmica, do canto, e também<br />

da dança. Gardner (2003, p.19) chama a atenção para o fato de que entre os povos<br />

primitivos a dança ter sido a forma usual de expressão religiosa e que “na tradição<br />

das bruxas, ela era necessária preliminarmente ao clímax do sabá, para produzir<br />

poder; além disso, outros objetivos eram trazer alegria e expressar a beleza”.<br />

E ele segue:<br />

“Nos velhos bons tempos, quando você se afastava um<br />

quilometro da aldeia, podia ter certeza de que não estava sendo<br />

espionado, pois todos os que não eram do ofício se apavoravam com<br />

o escuro, de forma que era possível realizar as antigas danças, com<br />

muita música, gritos agudos, cantar e fazer todo o barulho que se<br />

quisesse. Mas hoje em dia precisamos trabalhar em pequenas salas,<br />

em que não se pode fazer nenhum barulhinho sem que os vizinhos<br />

56


eclamem. O resultado é que as velhas danças estão sendo<br />

esquecidas. A dança do círculo pode ser mantida, desde que se<br />

dance em silêncio, mas os chamados – longos gritos agudos, que<br />

vibram e produzem terror – não podem ser usados. A espiral ou<br />

dança do encontro é realizada às vezes, se houver espaço. É uma<br />

espécie de dança „siga o líder‟, sendo normalmente a sacerdotisa a<br />

liderar, dançando no sentido horário em uma espiral em direção ao<br />

centro e virando-se de repente para desenrolar a espiral. Quando faz<br />

isso, beija cada homem com quem encontra e as outras mulheres<br />

fazem o mesmo. Elas dizem que se chama dança do encontro<br />

porque antigamente as pessoas vinham de lugares distantes e não<br />

se conheciam e isso era feito para que se apresentasse.”<br />

(GARDNER, 2003, p.135)<br />

Enquanto o culto pessoal pode tomar qualquer tipo de forma, um grupo de<br />

pessoas que cultuam juntas necessita de algum tipo de ritual, é por isso que cada<br />

tradição costuma “montar” o seus ritos com elementos que digam respeito<br />

diretamente ao grupo.<br />

3.6.1 Os Sabás<br />

Os Sabás definem-se em oito grandes festivais que acompanham o ciclo<br />

sazonal (ou Roda do Ano) da Natureza, mais especificamente, acompanham os<br />

grandes festivais do sol que, por sua vez, é a representação máxima do Deus e dos<br />

aspectos do masculino ligados a ele. Mas não é só ao Deus que os Sabás se<br />

referem, pois como o conceito de Gênero, que é relacional, os próprios Sabás<br />

contam a estória mítica do Deus e da Deusa em sua relação e complemento. As<br />

Tradições wiccanianas variam bastante na prática de seus mitos, muito dessa<br />

variação se deve ao contexto cultural específico de cada Tradição, como por<br />

exemplo, Célticas, Diânicas, Alexandrinas entre outras.<br />

Gardner nos afirma que:<br />

Quadro Sinóptico dos Sabás<br />

Hemisfério Sul<br />

“os dois festivais de verão são em honra da deusa, em que ela tem a<br />

prioridade, e os dois de inverno são aqueles em que o deus tem a<br />

prioridade. Na prática, parece-me que no verão a deusa tem a<br />

prioridade, montada em uma vassoura (ou algo semelhante) à frente<br />

do deus, se ele estiver presente; porém no inverno ele não é superior<br />

a ela, mas apena um seu igual; ambos correm lado a lado. Claro que<br />

é verdade que no verão as orações principais se dirigem à deusa,<br />

enquanto que no inverno é principalmente o deus que recebe as<br />

orações.” (GARDNER, 2003, p.125)<br />

Sabás – Roda do Ano<br />

1° de maio – Samhain<br />

21/22 de junho – Yule (Solstício de Inverno)<br />

57


Hemisfério Norte<br />

1° de agosto – Candlemas (ou Imbolg)<br />

21/22 de março – Mabon (Equinócio de<br />

Outono)<br />

21/22 de setembro – Eostre ou Ostara<br />

(Equinócio da Primavera)<br />

31 de Outubro – Beltane<br />

21/22 de dezembro – Litha (Solstício de<br />

Verão)<br />

2 de fevereiro – Lammas (ou Lughnashad)<br />

31 de outubro – Samhain (Halloween)<br />

21/22 de dezembro – Yule (Solstício de<br />

Inverno)<br />

2 de fevereiro – Candlemas (ou Imbolg)<br />

21/22 de março – Eostre ou Ostara<br />

(Equinócio da Primavera)<br />

1° de maio – Beltane<br />

21/22 de junho – Litha (Solstício de Verão)<br />

1° de agosto – Lammas (ou Lughnashad)<br />

21/22 de setembro – Mabon (Equinócio de<br />

Outono)<br />

Os Sabás (e também os Esbás) podem ser analisados em três níveis.<br />

Primeiro, constituem os períodos de culto religioso aos quais os wiccanianos se<br />

encontram com a Deusa e o Deus. Segundo, esses dias de poder são também<br />

períodos excelentes para a prática da magia e isso é feito com o auxílio das<br />

deidades. Finalmente são também celebrações, períodos propícios para risos,<br />

conversas e festividades, momentos privilegiados de socialização.<br />

Levando em consideração o ciclo de vivência e relação do Deus com a<br />

Deusa, podemos interpretar os Sabás da seguinte forma:<br />

O Samhaim é considerado o mais importante dos rituais wiccanianos, pois<br />

representa ao mesmo tempo o encerramento de um Ciclo e o início de outro. Nessa<br />

58


noite “o Deus Velho morre e volta ao País de Verão para esperar por seu<br />

renascimento em Yule. A Deusa em seu aspecto de Anciã lamenta a perda de seu<br />

Consorte” (PRIETO, p.132) e passará por um período de meditação e interiorização.<br />

A Natureza se recolhe com a proximidade do inverno. Esse festival também está<br />

ligado a antigos festivais de caça.<br />

O Sabá seguinte denomina-se Yule, celebramos, então, o nascimento do<br />

Deus, pois a partir desse dia as noites ficarão mais curtas e o dia mais longo,<br />

proporcionando um crescimento progressivo do astro Sol (ou seja, simbolicamente, o<br />

Deus). Na seqüência temos a comemoração de Candlemas (ou Imbolc) que<br />

demarca o período no qual celebramos a recuperação da Deusa Mãe após dar a luz<br />

ao Deus (nota-se que o Deus representa tanto seu filho como seu consorte) que,<br />

renascido da Deusa começa a aquecer a terra. Assim sendo é considerado um<br />

festival de purificação e de reverência pela renovada fertilidade da Terra. A palavra<br />

Imbolc quer dizer "no leite" o que caracteriza a utilização desse elemento no ritual 58 .<br />

O Equinócio da Primavera (Eostre ou Ostara) nos remete ao período de<br />

despertar da Natureza, ou em outras palavras, da Deusa no seu aspecto terrestre.<br />

Assim percebe-se que enquanto o sol aumenta em poder e calor, ou seja, o Deus<br />

amadurece, a Deusa também vai passando do seu aspecto donzela à maturidade,<br />

ambos florescem juntos para culminar no encontro de fertilidade que representa o<br />

próximo festival, a saber, Beltane, onde o jovem Deus ingressa na maturidade. Ele e<br />

a Deusa, sua mãe e amante apaixonam-se e se unirão para produzirem a fartura da<br />

natureza. De acordo com os princípios wiccanianos podemos entender a figura da<br />

Deusa e do Deus como duas metades, dois complementos de uma realidade maior e<br />

é essa complementaridade 59 , sem o sentido de oposição ou hierarquia e dominação<br />

que contrasta tanto com nossa criação ocidental baseada no patriarcado.<br />

Voltando ao Beltame, lembrei-me de James Frazer em “O Ramo de Ouro”<br />

(1982, p. 32) onde ele nos remete ao fato de como o povo pastoril pautava sua vida<br />

na dependência da manutenção dos rebanhos que eram levados aos campos nos<br />

festivais de Beltane, ou no início do verão, e trazidos de volta aos currais nos<br />

festivais de Samhain, início do inverno.<br />

Seguindo a Roda do Ano temos a comemoração de Litha, onde as forças da<br />

natureza criadas pela união do Deus (Sol) e da Deusa (Terra) atingem o seu ponto<br />

58 A Roda do Ano, Tradição Dragões de Avalon, disponível em<br />

http://www.dragoesdeavalon.org/index2.htm, acessado em 19/06/09.<br />

59 Ao menos em grande parte das Tradições, citações em textos, sites e praticantes da Wicca com os<br />

quais mantive contato. Não confundir, porém o sentido de complemento com a questão da<br />

dominação. Adiante cito exemplos onde a figura da Deusa prevalece ao Deus, mas não<br />

necessariamente dominando-o, pois ainda assim quando este surge, surge como valores<br />

complementais e necessários aos valores expressos pela Deusa.<br />

59


máximo. É um ritual marcado pela presença do fogo. A Partir daí temos o declínio do<br />

Sol (Deus).<br />

Lammas (ou Lughnassad) marca a primeira colheita. O Deus enfraquece<br />

enquanto os primeiros grãos e frutas são colhidos. Aqui se agradece aos Deuses<br />

pelo alimento que a Terra despendeu. Finalmente Mabon marca a segunda colheita<br />

e o declínio do Deus que se prepara para abandonar a vida enquanto os últimos<br />

frutos são colhidos para alimentar os povos da Terra. Assim, o calor diminui<br />

gradativamente e a Deusa já vai despedindo-se de seu consorte.<br />

3.6.2 Os Esbás<br />

Os Esbás não possuem um número determinado para ocorrer, pois variam de<br />

acordo com a determinação de cada Tradição ou praticante solitário. Trocando em<br />

miúdos são denominados Esbás as reuniões mensais de um coven ou círculo, ou<br />

ainda a prática solitária, que comumente são realizados no primeiro dia de lua cheia<br />

ou nova de cada mês. Assim percebemos que essas reuniões seguem os ciclos<br />

lunares, pois objetivam venerar a Deusa no seu triplo aspecto: virgem ou donzela<br />

(lua crescente), mãe (lua cheia) e velha ou anciã (lua minguante).<br />

Figura 03 – A Deusa Donzela, Mãe e Anciã. Fonte: DANIELS;<br />

TUITÉAN, 2006. p.52.<br />

Notem que enquanto os Sabás acompanham o ritmo do sol, ou seja, o Deus,<br />

os Esbás são característicos na veneração a Deusa Mãe e todos os aspectos do<br />

feminino ligados a ela.<br />

3.8. O Altar e os Instrumentos<br />

O altar é o centro de realização de todo rito sagrado praticado na Wicca. Ele<br />

representa o local onde se presta o respeito e a adoração às divindades, assim<br />

como também é o local das oferendas e sacrifícios; sacrifício esse, devo ressaltar,<br />

60


em sentido figurado, pois a Wicca é terminantemente contra ferir ou matar qualquer<br />

ser vivo, no entanto é crença comum que algumas gotas de sangue do próprio<br />

bruxo(a) que efetua o ritual, oferecido voluntariamente, é considerado de grande<br />

poder para a prática mágica.<br />

Voltando as considerações sobre o altar, o ideal seria o altar fabricado de<br />

algum material natural, como madeira ou pedra, mas visto que a Wicca costuma ser<br />

muito prática qualquer mesa, ou até uma toalha estendida que seja utilizada<br />

especificamente para este fim, serve. A localização do altar não costuma ser<br />

unanimidade entre as Tradições wiccanianas, algumas concebem o altar no centro<br />

do círculo, outras determinam um ponto cardeal específico, ou ainda a localização<br />

dependerá da própria disponibilidade de espaço do grupo ou do praticante solitário.<br />

Quanto aos instrumentos, eles consistem elementos característicos da Wicca<br />

e servem tanto para simbolizar uma “essência espiritual” quanto para canalizar<br />

concentração e poder num rito ou numa prática mágica. Assim notamos que suas<br />

funções são tanto simbólicas quanto práticas.<br />

O altar na Wicca simboliza a união do Deus com a Deusa e é sob o altar que<br />

temos dispostos uma série de instrumentos que representam ora o Deus, ora a<br />

Deusa, ora ambos (geralmente ambos) e prestam-se as mais diversas práticas<br />

mágicas e oratórias.<br />

Figura 04 – O Altar: Imagem de um altar e a disposição indicada dos<br />

instrumentos mais utilizados nos ritos wiccanianos. Fonte:<br />

DANIELS;TUITÉAN, 2006. p.63.<br />

Gardner (2003) nos diz que uma bruxa tem que ter 8 instrumentos que são<br />

usados para fins específicos; porém, ele nos fala que 3 deles são fundamentais para<br />

todas as práticas, estes seriam o bastão que funciona como uma espécie de<br />

condutor, o cordão com o qual os iniciados são amarrados como uma espécie de<br />

61


vítima voluntária que será sacrificada simbolicamente no ritual de iniciação ao<br />

caminho da Arte e um anel que simbolizaria a Vesica Piscis 60 do renascimento.<br />

Os demais instrumentos mais utilizados na Wicca são:<br />

Athame ou Punhal<br />

O Athame, tradicionalmente, consiste num punhal de cabo preferencialmente<br />

preto e lâmina nos dois gumes onde a dupla lâmina representa a dualidade presente<br />

em todas as coisas. Simbolizando o elemento fogo, ou ar, representa o aspecto<br />

masculino nos rituais. Ele é utilizado para direcionar a energia, fazer ou desfazer o<br />

círculo, entre outras coisas. Por ser um instrumento sagrado de grande importância<br />

na religião, ele jamais deve ser usado para o corte, pois sua utilização é, sobretudo,<br />

simbólica, daí decorre que o athame não precisa ser necessariamente afiado.<br />

Figura 05 – Athame. Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006. p.282.<br />

Bolline:<br />

Já o bolline é uma pequena faca, geralmente com o cabo branco, destinada a<br />

funções corriqueiras, como, por exemplo, cortar uma corda, inscrever palavras em<br />

uma vela ou outro objeto, partir uma maça ou o bolo oferendado, etc. Trata-se de<br />

uma lâmina simples, instrumental, ligada ao elemento ar.<br />

Caldeirão:<br />

O Caldeirão consiste no símbolo supremo do útero da Deusa, símbolo de<br />

renascimento e de perpetuação da vida; comumente possui apenas três pés<br />

simbolizando o triplo aspecto da Deusa. Ele é utilizado para várias finalidades<br />

mágicas como no preparo a poções mágicas, infusão de ervas, etc.<br />

60 “A Vesica Piscis é um modelo básico da própria criação, por isso entre todos os símbolos ele é o<br />

mais significativo. A Vesica Piscis é o símbolo que constitui a base da Geometria Sagrada e de<br />

inúmeros outros símbolos. Trata-se de um desenho representativo da manifestação do próprio<br />

universo; uma forma que resulta da interseção de dois círculos.” Fonte:<br />

http://www.joselaerciodoegito.com.br/site_tema1783.htm, acessado em 27/06/10.<br />

62


Figura 06 – Caldeirão. Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006. p.290.<br />

Cálice:<br />

Normalmente trata-se de um copo em pé, embora possa assumir outras<br />

formas, simbolizando o elemento água também representa o útero da Deusa e o<br />

poder sagrado do feminino. É utilizado principalmente em rituais de fertilidade.<br />

Figura 07 – Cálice. Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006. p.290.<br />

Deusa Tríplice:<br />

Neste símbolo temos a união da lua crescente, da lua cheia e da lua<br />

minguante significando as três etapas da vida da Deusa (e da mulher em geral), ou<br />

seja, a jovem ou virgem, que representa a pureza, inocência e a virgindade; a figura<br />

da mãe, que encarna o aspecto da fertilidade, da procriação e do amor<br />

incondicional; e a figura da velha sábia ou Anciã, que encarna a sabedoria e a<br />

experiência.<br />

63


Figura 08 – As Três Faces da Deusa. Fonte: DANIELS; TUITÉAN,<br />

2006. p.303.<br />

Jarreteira:<br />

Encontrei referências sobre a jarreteira apenas nos livros de Gardner onde ele<br />

afirma que esta é o mais indubitável símbolo da alta posição entre as bruxas. 61<br />

Livro das Sombras:<br />

Segundo Wanderley Mayhé Jr. referindo-se às Ordenações Célticas 62 , o livro<br />

das sombras pode ser descrito como um álbum de anotações onde bruxos e<br />

feiticeiras registram o regulamento 63 secreto da Ordem.<br />

Lua Crescente:<br />

É um símbolo sagrado que representa a Deusa e também a energia feminina<br />

de uma forma mais geral, a fertilidade, o crescimento abundante e os poderes<br />

secretos da Natureza. É utilizado nas invocações à Deusa e a todas as deidades<br />

lunares (neste caso, tanto masculinas quanto femininas), na magia da lua, nas<br />

celebrações dos Sabás e nos rituais de cura das mulheres.<br />

Pentagrama:<br />

Um dos símbolos mais populares do Paganismo é basicamente uma estrela<br />

de cinco pontas circunscrita num círculo. Representa, sobretudo, o do Ser Humano<br />

Pode ser descrito como um Homem/Mulher com os braços e pernas abertas, porém<br />

61 GARDNER, 2003, p.116.<br />

62 In: Leis Wiccans. Texto Completo e Tradicional das Ordenações Célticas. Adaptação do Livro da<br />

Sabedoria de Wanderley Mayhé Jr. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/11543694/Caminho-de-<br />

Wicca-Leis-Wiccans, acessado em 13 de setembro de 2009.<br />

63 Também chamado de Leis da Arte.<br />

64


pode representar também os elementos fogo, água, ar e terra, circunscritos pelo<br />

círculo que representa o espírito. Na Wicca o símbolo do pentagrama é geralmente<br />

desenhado com a ponta para cima a fim de simbolizar as aspirações espirituais<br />

humanas. Ainda é interessante lembrar que um pentagrama voltado com duas<br />

pontas para cima é um símbolo do Deus Cornífero e não, necessariamente, do mal,<br />

como é comum ouvirmos.<br />

Triângulo:<br />

O triângulo é equivalente ao número três que comumente é visto como um<br />

número mágico poderoso e é um símbolo sagrado da Deusa Tripla: Virgem, Mãe e<br />

Anciã. Invertido simboliza o princípio masculino.<br />

Tridente:<br />

O tridente é um símbolo sagrado que representa três falos. Pode ser<br />

ostentado por qualquer deidade masculina cuja função é unir-se sexualmente à<br />

Deusa Tripla. Comumente usado em Grandes Rituais e rituais de fertilidade.<br />

cerdas.<br />

Vassoura:<br />

Representa tanto o homem através do cabo quanto a mulher através das<br />

Velas:<br />

Representam o Deus e/ou a Deusa de acordo com a cor e a invocação.<br />

Existem ainda outros instrumentos que podem variar de acordo com a Tradição<br />

e o ritual a ser praticado.<br />

65


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Com tudo o que vimos acima podemos perceber que existem fortes<br />

conotações atribuídas às diferenças de gênero na Wicca. Dessa forma temos os<br />

referentes ligados à Deusa tais como: energia estática, passiva, magnética; geração<br />

e fertilidade; representação da plenitude da Terra e de sua sacralidade; a Lua, a<br />

noite e os Mistérios; a pureza da donzela, o acolhimento da mãe e a sabedoria da<br />

anciã, etc. Mas para a maioria dos Wiccaniano (aqueles que dentre os seus são<br />

reconhecidos como os autênticos seguidores da Arte Antiga), a exaltação da figura<br />

da Deusa Mãe não implica de forma alguma o descarte ou a desvalorização do seu<br />

filho e consorte: o Deus Cornífero.<br />

Entendo que, nesse sentido, o Paganismo em suas manifestações das<br />

diversas Tradições wiccanianas, propõe-se a uma autêntica complementaridade<br />

entre homens e mulheres em sociedade, entre macho e fêmea, entre feminino e<br />

masculino, enfim, simbolizados na dupla do Deus e da Deusa, que não são, de<br />

modo algum, superiores um ao outro da forma como concebe comumente a cultura<br />

patriarcal, mas que se complementam sem as necessárias sobreposições<br />

hierárquicas da forma como conhecemos. Para compreendermos adequadamente<br />

esse aspecto da Wicca é necessário que nos desloquemos de toda uma concepção<br />

de mundo com a qual estamos tão familiarizados que muitas vezes sequer<br />

problematizamos.<br />

Assim, de forma complementar, visando a harmonia e a totalidade, atribuídos<br />

ao Deus temos os referentes de: ativo e móvel; em sua forma jovem ele é a criança<br />

que também é promessa e inocência; quando Jovem o Deus é o experimentador<br />

que explora o mundo; é o caçador que provê o alimento quando o frio do inverno<br />

impede o florescimento das plantações; ele perfaz a figura de luz e calor do Sol que<br />

reina durante o dia; quando maduro ele faz o papel do fertilizador e junto da Deusa<br />

garantem a vida que está por nascer; e, ao envelhecer, se mostra o Deus Justo.<br />

Desse modo fica claro que ambas as figuras, da Deusa e do Deus, são opostas,<br />

mas, sobretudo, complementares; uma dá origem à outra e juntas são a<br />

manifestação e o equilíbrio do Universo.<br />

Podemos entender também que, como movimento religioso contemporâneo, a<br />

Bruxaria moderna se propõe a recuperar uma complementaridade entre homens e<br />

mulheres que seria, digamos, de ordem Natural, visto que estaria representada na<br />

própria Natureza, assim temos o culto tanto da Deusa quanto do Deus, mesmo<br />

66


dando à Deusa um papel preponderante, quer nas suas práticas quer nos seus<br />

mitos, pois a questão principal está no fato de que essa preponderância à Deusa<br />

não significa superioridade, mas como que um resgate necessário para restabelecer<br />

alguns valores que historicamente foram negados ou denegridos às mulheres.<br />

Na atualidade ainda vemos a ocorrência de diversos lugares onde a<br />

expressão dos valores femininos são estereotipados e ainda percebemos<br />

claramente o fato de que não existe uma figura feminina como caráter principal de<br />

um sagrado cultuado no Ocidente, nesse sentido a perspectiva matrifocal da Wicca<br />

contribui para sua divulgação tanto junto aos homens como das mulheres.<br />

Cabe ressaltar também que, de forma mais geral, a Wicca é uma religião que<br />

aceita bem todas as formas de diversidade, incluindo aí a diversidade sexual. Apesar<br />

do Deus e da Deusa representarem aspectos bem distintos – e ressalto mais uma<br />

vez, complementares – de características relacionadas ao gênero feminino e ao<br />

gênero masculino.<br />

Outra questão foi que não achei em nenhum dos textos, na internet, ou seja<br />

onde for, referências a discriminações devidas a identidade de gênero, opção<br />

sexual, etc., o mais comum é encontrarmos referências abundantes no que tange ao<br />

respeito aos outros (Humanos, Natureza e/ou Animais). Algumas vezes, como na<br />

pesquisa de Osório 64 , foi até mesmo citada uma presença significativa de<br />

homossexuais.<br />

Ao contrário das minhas pré-noções à respeito da religião Wicca, esta se<br />

mostrou bastante tradicional ou até conservadora, mas de um modo completamente<br />

diferente da nossa lógica católica, urbana, racionalista e ocidental; visto que é uma<br />

religião que demarca bastante os caracteres de gênero (fato esse que precisei<br />

exercitar um olhar científico para finalmente perceber como tal), porém não<br />

desvaloriza um em relação ao outro. Também, por valorizar os aspectos da natureza<br />

creio que essa religião possibilite uma maior conscientização não só quanto a<br />

própria responsabilidade individual e coletiva como em relação a todos os seres<br />

vivos e a própria natureza.<br />

64 OSÓRIO, Andréia. Bruxas Modernas: um estudo sobre identidade feminina entre praticantes de<br />

Wicca. Disponível em http://www.clubedasbruxas.webcindario.com/BruxasModernas-<br />

AndreaOscrio.pdf, acessado em 16/03/09.<br />

67


5.1 Bibliografia Acadêmica<br />

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5.4 Fontes da Internet e Outros Tipos de Publicação Eletrônica<br />

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