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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS<br />
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA<br />
<strong>Muriel</strong> <strong>Bulsing</strong><br />
A BRUXARIA MODERNA:<br />
Conhecendo a Wicca e suas Representações e Relações de Gênero<br />
Santa Maria, 2010
<strong>Muriel</strong> <strong>Bulsing</strong><br />
A BRUXARIA MODERNA:<br />
Conhecendo a Wicca e suas Representações e Relações de Gênero<br />
Trabalho de conclusão de curso<br />
apresentado ao Curso de Ciências Sociais,<br />
para obtenção do título acadêmico de<br />
bacharel em Ciências Sociais, sob a<br />
orientação da profª. Jurema Gorski Brites e<br />
co-orientação da profª. Zulmira Newlands<br />
Borges.<br />
Santa Maria, 2010<br />
2
<strong>Muriel</strong> <strong>Bulsing</strong><br />
A BRUXARIA MODERNA:<br />
Conhecendo a Wicca e suas Representações e Relações de Gênero<br />
Este trabalho de conclusão de curso foi julgado adequado como parte dos<br />
requisitos para obtenção do título acadêmico de bacharel em Ciências Sociais,<br />
Departamento de Sociologia e Política/Centro de Ciências Sociais e Humanas/<br />
Universidade Federal de Santa Maria.<br />
Santa Maria, 15 de julho de 2010.<br />
______________________________________________________<br />
Profª. Fátima Perurena<br />
Universidade Federal de Santa Maria<br />
______________________________________________________<br />
Profª. Jurema Brites<br />
Universidade Federal de Santa Maria<br />
______________________________________________________<br />
Profª. Mari Cleise Sandalowski<br />
Universidade Federal de Santa Maria<br />
3
AGRADECIMENTOS<br />
Meu agradecimento mor vai à minha mãe, mulher<br />
esta que com complacência abdicou de seu tempo e<br />
seu espaço para que seus filhos pudessem seguir<br />
em busca de aprendizado e conhecimento com uma<br />
entrega e tranqüilidade que de outra forma jamais<br />
nos seria possível. Agradeço ao meu companheiro<br />
que durante toda minha graduação esteve ao meu<br />
lado apoiando-me e aturando meus momentos de<br />
estresse. Agradeço aos colegas de curso e aos<br />
colegas de mesas de bares onde inúmeras<br />
conversas, às vezes pequenas discussões, foram<br />
travadas em torno de assuntos que oscilavam entre<br />
a política, o relativismo, as ideologias e até<br />
devaneios sobre sentidos metafísicos, filosofia<br />
existencialista, ética e moral, etc. Agradeço, enfim,<br />
aos meus professores, mestres queridos que<br />
souberam transmitir seus conhecimentos<br />
possibilitando que nossas “cabeçinhas” exercitassem<br />
dia-a-dia o hábito de refletir e criticar, reconhecendo<br />
o (sem)sentido estúpido da intolerância e o respeito<br />
às idéias e valores alheios, pois não existe verdade<br />
que sustente o status de verdade absoluta.<br />
4
“Assim nos encontramos num Tempo sem tempo e<br />
num Lugar sem lugar, pois estamos entre os<br />
5<br />
mundos e além.”<br />
(DANIELS e TUITÉAN, 2006, p.100)
RESUMO<br />
Este trabalho propõe inicialmente uma introdução à Wicca visando à<br />
compreensão desse fenômeno religioso, para tanto será necessário abordar<br />
questões que versam sobre o sagrado e o profano, o simbólico, as crenças, a magia,<br />
as divindades, entre outras. Em seguida, incorporou-se nesse trabalho uma reflexão<br />
acerca das representações e relações de gênero na Wicca. Utilizei-me para tal da<br />
perspectiva antropológica, sobretudo das teorias sobre gênero tecidas dentro desta<br />
área do saber das Ciências Sociais.<br />
Na Introdução – Capítulo 1 – apresento os delineamentos metodológicos<br />
deste trabalho e trago um pouco da história da bruxaria e da Wicca a fim de ir já<br />
familiarizando o leitor com o universo da Wicca.<br />
No Capítulo 2 apresento uma breve revisão bibliográfica sobre Antropologia<br />
da Religião relacionada com a temática da bruxaria seguida de algumas<br />
considerações sobre a questão do gênero à luz da antropologia.<br />
No Capítulo 3 desenvolvo a descrição e análise da Wicca através da<br />
observação e leitura de sites e, principalmente, de livros destinados aos<br />
interessados nesta religião e à própria comunidade wiccaniana. Dessa forma espero<br />
ter sido possível realizar uma reflexão esclarecedora acerca das questões de gênero<br />
presentes nesta Religião Neo-Pagã. Em seguida apresento algumas considerações<br />
finais, no Capítulo 4.<br />
Palavras-chave: Bruxaria Moderna, Wicca, Crenças, Representações de Gênero e<br />
Relações de Gênero.<br />
6
RESUMEN<br />
Este trabajo propone una introducción a la Wicca, a comprender este<br />
fenómeno religioso será necesario hablar de lo sagrado y lo profano, lo simbólico, las<br />
creencias, deidades y magia, entre otras cosas. Incorporadas en este trabajo si<br />
encuentra una reflexión sobre la representación y las relaciones de género en la<br />
Wicca. Lo usé de la perspectiva antropológica, sobre todo las teorías de género que<br />
existen dentro de esta área de conocimiento de Ciencias Sociales.<br />
En la Introducción - Capítulo 1 - se presenta el esquema metodológico de este<br />
trabajo y cuento un poco de la historia de la brujería y la Wicca con el fin de<br />
conseguir que el lector ya está familiarizado con el mundo de la Wicca.<br />
En el capítulo 2 se presenta un breve repaso de Antropología de la Religión<br />
relacionados con el tema de la brujería, seguido de algunas consideraciones sobre<br />
la cuestión del género a la luz de la antropología.<br />
En el capítulo 3 se desarrolla una descripción y análisis de la Wicca través de<br />
la observación y la lectura de los sítios, y en especial de libros, para aquellos<br />
interesados en esta religión. Así que espero haber sido capaz de realizar un debate<br />
esclarecedor acerca de las cuestiones de género presentes en esta religión neo-<br />
pagana. Para término les presento algunas observaciones finales en el capítulo 4.<br />
Palabras clave: Brujería Moderna, Creencias Wicca, las Representaciones de<br />
Género y Relaciones de Género.<br />
7
LISTA DE FIGURAS<br />
Figura 01 - O Deus Cornífero.....................................................................................51<br />
Figura 02 - A Suma Sacerdotisa e o Sumo Sacerdote...............................................55<br />
Figura 03 - A Deusa Donzela, Mãe e Anciã...............................................................60<br />
Figura 04 - Altar..........................................................................................................61<br />
Figura 05 - Athame.....................................................................................................62<br />
Figura 06 - Caldeirão..................................................................................................63<br />
Figura 07 - Cálice.......................................................................................................63<br />
Figura 08 - As Três Faces da Deusa..........................................................................64<br />
8
QUADRO-SINÓPTICO<br />
Quadro Sinóptico dos Sabás .................................................................................. 57<br />
9
1 INTRODUÇAO<br />
SUMÁRIO:<br />
1.1 O Delineamento do Trabalho<br />
1.1.1 A Etnologia e A Etnografia<br />
1.1.2 E a “Netnografia”, o que seria?<br />
1.1.3 Nomenclatura e Conceituações<br />
1.2 Contextualizando a Wicca na história<br />
2 UMA BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />
2.1 Considerações acerca da Antropologia da Religião<br />
2.1.1 Evans-Pritchard e o estudo da bruxaria entre os Azande<br />
2.1.2 Nova Era<br />
2.2 As Questões de Gênero<br />
2.2.1 O Gênero enquanto categoria analítica<br />
2.2.2 Os Padrões de gênero e a percepção do diferente<br />
3 DESVENDANDO A WICCA<br />
3.1 Coven, Bruxaria Hereditária e Bruxaria Solitária<br />
3.2 As Tradições<br />
3.2.1 Tradição Diânica<br />
3.2.2 Tradição Gardneriana<br />
3.2.3 Tradição Seax Wicca<br />
3.3 Crenças e Práticas<br />
3.3.1 Círculo Mágico<br />
3.3.2 Magia<br />
3.4 Divindades<br />
3.5 Praticantes<br />
3.6 Ritos<br />
3.6.1 Os Sabás<br />
3.6.2 Os Esbás<br />
3.7 O Altar e os Instrumentos<br />
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
5 BIBLIOGRAFIA<br />
10
5.1 Bibliografia Acadêmica<br />
5.2 Bibliografia Êmica<br />
5.3 Dicionários Consultados<br />
5.4 Fontes da Internet e Outros Tipos de Publicação Eletrônica<br />
11
1 INTRODUÇÃO<br />
“A bruxaria é um modo de representação do mundo e das forças invisíveis<br />
que o animam.” (SALLMANN, 2002, pg.13)<br />
Este trabalho visa à apresentação da Religião Wicca e tem a pretensão de<br />
realizar nesta uma análise de gênero sob o viés das teorias antropológicas acerca<br />
do conceito de gênero.<br />
Procurarei, primeiramente, responder a algumas questões, tais quais:<br />
Qual a origem da Wicca?<br />
Como podemos definir o fenômeno “Wicca”?<br />
O que são as Tradições dentro da Wicca e o quê as especifica?<br />
Quais os fundamentos antropológicos do que convencionamos chamar de<br />
Bruxaria (Crenças, Práticas, Ritos, Mito e Símbolos)?<br />
Enfim, com essas questões clarificadas pude passar às indagações que<br />
permitiram a análise referente às questões de gênero na Wicca. Procurei então dar<br />
conta de um segundo grupo de questões:<br />
Quais as representações das Divindades wiccanianas?<br />
O que pode ser percebido em termos de representações e relações de<br />
gênero entre os praticantes da Wicca?<br />
Nos rituais wiccanianos, observando-se as práticas, o quê é possível<br />
inferir em termos de gênero?<br />
Articulando, pois, a religião com a análise de gênero é possível que<br />
compreender alguns aspectos desse fenômeno religioso denominado Wicca, que é<br />
relativamente novo e que vincula o conceito do feminino de uma forma muito mais<br />
preponderante do que convencionamos representar em outra gama de religiões.<br />
Uma das principais características da sociedade ocidental é ser fruto de um<br />
patriarcalismo 1 que apenas a partir de meados do século passado começou a ser<br />
pensado e conscientizado, pois as relações entre homens e mulheres foram durante<br />
1 Ver em: SCHOTTROFF, Luise. Patriarcado; apud GÖSMANN, Elisabeth et al.. Dicionário de<br />
Teologia Feminista. Tradução de Carlos Almeida Pereira. Petrópolis: Vozes, 1996. p.369-374.<br />
Schottroff nos diz que o “patriarcado não é, em absoluto, entendido pelas feministas de uma maneira<br />
única. Elas foram buscar o conceito em Max Weber, mas no e pelo movimento feminista „patriarcado‟<br />
muniu-se de múltiplos significados diferentes. Kate Millett teve grande influência na maneira de<br />
entender o conceito. Para ela o patriarcado como instituição é „uma constante social que perpassa<br />
todas as outras formas políticas, sociais ou econômicas‟, embora reconheça existirem diferenças<br />
históricas e geográficas”.<br />
12
muito tempo naturalizadas. Disto decorre uma forte postura androcêntrica em nossa<br />
sociedade que, inclusive, se estende à Academia, visto que a grande maioria dos<br />
estudos (assim como das análises, das investigações, das narrativas e das<br />
proposições, etc.) são focados a partir de uma perspectiva majoritariamente<br />
masculina, que se pretende neutra, e tomada como válida para a generalidade dos<br />
seres humanos, ou seja, tanto homens quanto mulheres.<br />
Mais do que romper o “silêncio das mulheres” ou reiterar uma vitimização que<br />
só é verdadeira enquanto consentida, pensar sob outras perspectivas nos possibilita<br />
a consciência de que valores e idéias são vinculados de forma contingente e a<br />
distribuição e o exercício do poder na sociedade fazem parte de uma rede de<br />
configuração extremamente complexa, mas, sobretudo, cultural e historicamente<br />
definida.<br />
O que proponho e entendo ser relevante é a possibilidade de pensar a<br />
constituição dos gêneros e a relação entre os sexos atuando num plano de<br />
significados religiosos, assim sendo míticos e cosmológicos à partir de uma<br />
perspectiva feminina, pois apesar da Wicca cultuar tanto o Deus quanto a Deusa é<br />
possível notar, a priori 2 , a reverência preponderante à Deusa. Mas isso não implica<br />
que o Deus sucumba ao poder da Deusa; o que me parece mais adequado falar é<br />
que, sob a perspectiva wiccaniana, percebemos imediatamente o feminino como<br />
sujeito e como representação e isso, por si só, enseja uma redistribuição de valor<br />
que, mais do que igualar ou inverter a posição entre os sexos, reorganiza uma<br />
relação para à qual não estamos acostumados em nossa sociedade ocidental<br />
tradicional: a mulher e o feminino ditando uma normalidade, estabelecendo uma<br />
ordem que dela parte e que só ela suspende.<br />
1.1. O delineamento do trabalho<br />
“... o trabalho de um antropólogo é investigar o que as pessoas fazem e em que<br />
acreditam, não o que os moralistas dizem que elas fazem e acreditam. Eles podem<br />
tirar suas próprias conclusões e dar à luz qualquer teoria, desde que deixem claro<br />
que são apenas suas próprias teorias e não fatos provados.” (GARDNER, 2003,<br />
p.148)<br />
2 Enfatizo esse “a priori” de forma a ressaltar que a idéia do feminino como fator central da Wicca foi<br />
meu ponto de partida, uma suposição baseada no senso-comum.<br />
13
Desde que comecei a participar das atividades vinculadas ao GEPACS –<br />
Grupo de Estudos e Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde – no primeiro<br />
semestre de 2008 que meu interesse por questões relativas ao gênero e a<br />
sexualidade foram crescendo e me envolvendo no universo da pesquisa acadêmica.<br />
Das primeiras leituras de Le Breton (2003; 2007) sobre as implicações sócio-<br />
culturais na constituição dos corpos passei aos Estudos Femininos, ou Estudos de<br />
Mulheres, do clássico livro de Simone de Beauvoir intitulado “O Segundo Sexo”<br />
(1970) à leitura de Margareth Mead (2003), daí à conscientização de que os gêneros<br />
se definem sempre em estreita relação, seja numa relação de oposição, como na<br />
composição do binômio dominação-subordinação, seja numa relação de<br />
complementaridade, foram precisas muitas noites em claro lendo e relendo a história<br />
silenciada das mulheres através de Michele Perrot (2005; 2007), os entremeios da<br />
dominação masculina em Pierre Bourdieu (2002), os intercursos de uma sexualidade<br />
bem disciplinada em Michel Foucault (2001), dentre tantos outros referentes nesse<br />
campo temático que vem crescendo dentro da Academia desde a década de 70.<br />
Com relação à religião denominada Wicca, o meu conhecimento era muito<br />
superficial; conhecia apenas aquelas poucas informações colhidas a esmo nos blogs<br />
e sites da internet, ou por algum comentário de um conhecido aqui e acolá. Foi com<br />
minha inserção no campo dos estudos de gênero que acabei vislumbrando na Wicca<br />
a possibilidade de melhor conhecer esse “movimento” que, me parecia, a priori,<br />
enfatizar o feminino em detrimento do masculino, num exemplo de inversão das<br />
relações de poder entre os sexos que comumente vemos em outras religiões que<br />
privilegiam o Deus, o Pai, o Espírito Santo, enfim, o masculino.<br />
Comumente vemos o conceito de gênero sendo empregado<br />
indiscriminadamente como sinônimo dos estudos femininos ou de mulheres, o que,<br />
nesses casos, perdem-se as possibilidades de análise que concernem ao caráter<br />
relacional que é essencial ao conceito de gênero. Portanto, neste trabalho, ao<br />
analisar uma religião que focaliza principalmente em aspectos femininos do sagrado<br />
procurarei não esquecer que o feminino se define em sua relação com o masculino e<br />
vice-versa. Ao centrar meu trabalho na tarefa de identificar as relações de gênero<br />
que constituem as representações do Deus e da Deusa, como também das práticas<br />
simbólicas nos ritos, a partir das relações que constituem e posicionam (não<br />
esquecendo as relações de poder que aí estão implicadas) tanto o feminino quanto o<br />
masculino na Wicca, procurei a confirmação ou refutação da minha hipótese de que<br />
realmente a Wicca é uma religião voltada, sobretudo, ao feminino e que, de alguma<br />
14
forma restabelece à mulher a posição de superioridade no domínio da religiosidade<br />
(pelo menos no domínio dessa religiosidade).<br />
A análise presente neste trabalho partiu de uma leitura exaustiva da literatura<br />
clássica wiccaniana; nesse sentido considerei que “os clássicos da Wicca” são os<br />
livros escritos pelos próprios praticantes da Wicca e que, entre seus iguais, são<br />
reconhecidos como autoridades na temática. Considerei os livros analisados como<br />
fonte documental, ou fonte primária, uma vez que são a manifestação e registro das<br />
tradições e costumes da comunidade wiccaniana e, com isso em mente, fui à busca<br />
da literatura que me serviria como fonte de dados para análise.<br />
Primeiramente, recorri aos sites temáticos da Wicca. Digitando o termo<br />
“Wicca” no site de busca Google em julho de 2009, aparece o exorbitante número de<br />
4.680.000 páginas encontradas, reduzindo a busca para páginas em português são<br />
aproximadamente 166.000 e, especificando ainda mais a busca para páginas do<br />
Brasil surge a cifra de 106.000. Utilizei alguns critérios para selecionar os sites que<br />
me pareciam mais relevantes, dentre esses critérios posso citar aqueles que tinham<br />
na própria denominação o termo Wicca, os que faziam atualizações diárias, os que<br />
eram referidos em outros sites e por outros wiccanianos em fóruns temáticos de<br />
wicca e bruxaria, etc. Citando a lista de sites que se sobressaíram em minha busca<br />
por referências e análise, temos:<br />
Old Religion – Wicca e as antigas religiões da bruxaria:<br />
http://www.oldreligion.com.br/novo/index.asp;<br />
Círculo Sagrado – A magia está dentro de você:<br />
http://www.circulosagrado.com/;<br />
Bruxaria.Net – O maior portal sobre Bruxaria, Wicca e Paganismo em Língua<br />
Portuguesa:<br />
http://bruxaria.net/;<br />
Abrawicca – Associação Brasileira da Arte e Religião Wicca:<br />
http://www.abrawicca.com.br/index.php?option=com_content&view=frontpage<br />
&Itemid=1;<br />
Wicca Gardneriana – A Comunidade Gardneriana do Brasil:<br />
http://www.wiccagardneriana.net/home.html;<br />
Dimensão Wicca – Portal de estudos sobre Wicca e magia:<br />
http://www.dimensaowicca.com/.<br />
Convém enfatizar o quanto a internet assumiu um papel relevante em meu<br />
trabalho de pesquisa, tanto como local de busca de referências e dados primários<br />
como lócus de comunicação com a própria comunidade wiccaniana. É interessante<br />
15
notar, já nas primeiras pesquisas a fim de revisão bibliográfica, que os fatores mais<br />
mencionados como meios de expansão da Wicca hoje seriam a globalização e a<br />
Internet 3 . Isso se deve, em grande parte, ao importante papel desempenhado pelas<br />
Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na construção de<br />
representações, novas formas de sociabilidade e percepções do mundo na<br />
atualidade.<br />
As TICs, e aqui falando mais especificamente da Internet, causaram<br />
mudanças significativas, desde as formas de relacionamentos entre indivíduos e/ou<br />
entre grupos (profissionais, afetivos, etc.) até a própria concepção de tempo e<br />
espaço; pois é neste território desterritorializado que se dão muitas de nossas<br />
interações e comunicações cotidianas. 4<br />
Seguindo adiante, em um segundo momento eu fiz uso desses sites e<br />
comunidades para comunicar-me através de e-mails, scraps e outros tipos de<br />
mensagens, onde procurei saber pelos próprios praticantes da Wicca quais as suas<br />
referências para o conhecimento da religião e posterior prática.<br />
Uma característica interessante que observei a partir do ambiente virtual é<br />
que o usuário da internet não é um ator passivo no recebimento da informação, ele<br />
de certa forma destila, adapta e transforma aquilo que capta através da internet de<br />
acordo com suas necessidades e possibilidades reais. Isso foi percebido,<br />
principalmente, na troca de correspondências via e-mail com um grupo de<br />
praticantes da Wicca onde, na troca de “receitas mágicas”, comumente surgia a<br />
necessidade de substituir algum ingrediente por outro dependendo da região e dos<br />
costumes locais do praticante.<br />
Aproveitando a oportunidade gostaria de falar um pouco mais sobre esse<br />
grupo no qual acabei me inserindo. Esse grupo, constituído unicamente por<br />
mulheres, mantinha uma intensa troca de correspondências diárias 5 através de e-<br />
mails (pelo Yahoo Grupos) cujo assunto era designado sempre por: “Ciclo Feminino<br />
3 Janluís Duarte Oliveira em artigo intitulado “As Bruxas da Internet” aponta-nos algumas<br />
características que o uso da internet ajudaria a disseminar a respeito de um imaginário wiccaniano: a<br />
linearidade da informação e das fontes, a disseminação de falácias históricas, a ênfase em lendas e<br />
mitos advindos do continente europeu, ênfase na prática e não na dogmática e a romantização da<br />
figura da bruxa. Disponível em:<br />
http://guinevere.diinoweb.com/files/Livros_PDF/As%20Bruxas%20na%20Internet.pdf, acessado em<br />
15/06/2009.<br />
4 Gostaria de pontuar aqui que não estou generalizando o acesso à internet como se fosse realidade<br />
para todos em todas as partes do mundo, sem maiores delongas, existem sim disparidades<br />
elevadíssimas em relação ao acesso não só à rede quanto à tecnologia.<br />
5 Geralmente apresentava-se um tópico por dia e este tópico era comentado e acrescido durante todo<br />
o dia, às vezes por dias a fio, pelas componentes do grupo.<br />
16
de Debates”. Inicialmente fiz contato com elas através do site Paganismo.Org 6 onde<br />
inclui um perfil sucinto a meu respeito apresentando-me com meus dados reais<br />
(nome, idade, cidade em que resido, universidade e curso que estou vinculada, etc.)<br />
e colocando meus interesses não só pessoais como também acadêmicos, ou seja, já<br />
expunha de imediato a possibilidade (que veio a se concretizar) de realizar meu<br />
trabalho de conclusão de curso justamente sobre a Wicca.<br />
A maioria dos tópicos discutidos nos e-mails do grupo acima citado girava em<br />
torno de questões femininas, como menstruação, gestação, sedução, receitas de<br />
rituais correspondentes com a fase da lua, exercícios de auto-reflexão, etc. Porém,<br />
vez ou outra, os homens eram inseridos no assunto quando, por exemplo, uma das<br />
componentes do grupo contava a reação do marido depois dela ter realizado<br />
determinado ritual; ou ainda quando elas mesmas incentivavam umas as outras para<br />
manterem um diálogo com os filhos ou companheiros não só sobre coisas que<br />
diziam respeito à relação da família como também sobre a opinião deles em relação<br />
ao caminho que elas seguiam, ou seja, o caminho da Arte.<br />
Enfim, devo dizer que esse grupo me foi extremamente útil porque me<br />
possibilitou um contato ativo com essas mulheres, já que eu podia ler e comentar<br />
seus tópicos assim como, também, tive a possibilidade de colocar pontos para<br />
serem pensados e discutidos.<br />
Após ter recolhidos muitas informações através dos sites e de meus contatos,<br />
montei um arcabouço do referencial literário da temática, donde parti para a análise<br />
de conteúdo que, compondo uma observação cautelosa e metódica, me permitiu a<br />
descrição sistemática, objetiva e, dentro do possível, interpretativa do conteúdo da<br />
comunicação na qual busquei respaldo, ou seja, da literatura escrita por aqueles aos<br />
quais em antropologia denominaríamos de nativos, ou seja, os próprios praticantes<br />
da Wicca.<br />
Eis a lista dos livros e algumas considerações acerca da obra e do autor:<br />
A Bruxaria Hoje (2003) e O Significado da Bruxaria (2004), de<br />
Gerald Gardner – representando a Tradição da Wicca Gardneriana<br />
Gerald Gardner nasceu em 1884 na Inglaterra, foi funcionário público,<br />
escritor, ocultista e antropólogo (sem formação formal). Nestes livros ele nos conta<br />
um pouco da história da bruxaria, desde possíveis raízes no antigo Egito até os<br />
tempos atuais, relata origens de histórias e superstições que são contadas sobre o<br />
6 Esse site foi retirado da rede pelo administrador B. Duncan a quem agradeço imensamente os<br />
esclarecimentos iniciais.<br />
17
ofício da bruxaria, nos familiariza sobre a prática da magia e ainda nos apresenta as<br />
significações para instrumentos, ritos e crenças. É importante ressaltar que nestes<br />
livros Gerald Gardner fala a partir de sua própria experiência, assim, já no prefácio<br />
do livro A Bruxaria Hoje, publicado em 1954, ele nos conta que escreve “apenas<br />
sobre o que ocorre no Norte, Sul, Leste e Oeste da Inglaterra de hoje, em grupos de<br />
bruxas que eu conheço” (2003: p.11). Ele também nos fala, em tom de<br />
esclarecimento, que ele é apenas um membro de um grupo de bruxas, não<br />
possuindo nenhum papel como chefe ou líder de forma alguma. 7<br />
Os livros desse autor são de fundamental interesse para os objetivos desse<br />
trabalho visto que é consenso 8 que foi Gardner o responsável por trazer à<br />
notoriedade no século XX a questão da Bruxaria como religião ao atestar em seus<br />
livros a veracidade das teorias de Margareth Murray 9 que versavam sobre a<br />
sobrevivência de um culto “marginal” presente no Ocidente desde o período<br />
Paleolítico; esse culto teria se mantido vivo e atuante e seria praticado<br />
paralelamente aos cultos oficiais de cada período.<br />
Apesar de Gardner ser referido como antropólogo (sem formação), tratei sua<br />
obra como referencial êmico, até porque nestes livros Gardner nem sempre cita<br />
todas as suas fontes, ele geralmente menciona os nomes aos quais se refere nas<br />
afirmações, mas nem sempre explicita citando a obra, a página, etc. Outra<br />
observação é que o livro é todo em tom de afirmações e suas fundamentações<br />
constantemente são acompanhadas de “eu acho”, “na minha opinião”, etc.<br />
O Guia da Tradição Wicca para Bruxos Solitários (2006) e Wicca – Um<br />
Estilo de Vida, Religião e Arte (2003), de<br />
Raymond Buckland – representando a Tradição da Seax Wicca e a Bruxaria<br />
Solitária<br />
Raymond Buckland foi iniciado na bruxaria por G. Gardner e a Sacerdotisa<br />
Lady Olwen (de nome civil Monique Marie Maurice Arnoux). Buckland migrou para<br />
os Estados Unidos da América em 1962 e foi nesse país que ganhou notoriedade<br />
por ter escrito diversos livros versando sobre Ocultismo. A Tradição fundada por<br />
Buckland, a Seax Wicca é também considerada a versão saxônica da Bruxaria e é<br />
uma das primeiras Tradições que não só aceitam como também ensinam o caminho<br />
7 GARDNER, Gerald. A Bruxaria Hoje. São Paulo: Madras Editora, 2003, p.11.<br />
8 Refiro-me aqui em consenso porque todos os sites e livros os quais eu utilizei para minha pesquisa<br />
explanatória sobre o tema deste trabalho mencionavam este autor como referência primária.<br />
9 Egiptóloga e antropóloga inglesa nascida no ano de 1863 e falecida em 1963.<br />
18
da Arte para os Bruxos Solitários e auto-iniciados, ou seja, aqueles que praticam a<br />
bruxaria sem fazer parte de um grupo instituído.<br />
Em O Guia da Tradição Wicca Buckland compila uma espécie de manual<br />
básico e abrangente sobre a prática da Wicca pontuando as questões pertinentes<br />
para a prática da bruxaria solitária. Assim Buckland apresenta instruções<br />
pragmáticas a respeito da religião, como, por exemplo, cita as vantagens e os<br />
obstáculos da prática solitária; descreve os instrumentos e o espaço necessários<br />
para a prática dos ritos sagrados e da magia; etc. Já em Wicca – Um Estilo de<br />
Vida, Religião e Arte o autor nos apresenta fundamentos consistentes do porquê<br />
ele considera a Wicca investida de um sentido total, ou seja, além de possibilitar<br />
uma prática religiosa universal (pois segundo o autor serve para qualquer pessoa,<br />
em qualquer lugar) a Wicca também fornece aos seus adeptos um sistema de ética<br />
e de moral para a vida que define-se à partir das próprias crenças wiccanianas.<br />
Wicca – A Religião da Deusa (2002) e Wicca – Ritos e Mistérios da<br />
Bruxaria Moderna (1999), de<br />
Claudiney Prieto – representando a Tradição da Wicca Diânica Nemorencis<br />
Esse autor é o pioneiro na divulgação da Wicca no Brasil. Prieto nos diz que a<br />
Religião Wicca, sendo uma religião não só de amor como também de prazer, trás ao<br />
seu praticante a possibilidade de religar o indivíduo às forças da natureza, ao<br />
princípio do Divino Feminino (aqui já temos uma referência clara à proeminência do<br />
feminino) e, de uma forma geral, a todos os deuses presentes em suas<br />
manifestações. 10 Os livros de Prieto apresentam a Wicca sob a prevalência da<br />
Deusa como a “Mãe Primordial” que teria criado a tudo e a todos, inclusive seu<br />
próprio complemento masculino, o Deus. 11<br />
Além das inúmeras referências em torno dessas obras e autores que obtive<br />
através dos sites e de contatos com praticantes wiccanianos, a escolha destes livros<br />
se deram também em função de representarem diferentes Tradições da Wicca. Bem<br />
sucintamente, uma Tradição, nesse contexto sempre grafada com letra maiúscula, é<br />
um subgrupo específico dentro da religião Wicca. A Tradição Gardneriana possui<br />
extrema relevância na temática da Wicca justamente porque seu fundador, Gerald<br />
Garner, é considerado o fundador da própria Wicca tal qual conhecemos hoje; a<br />
10 PRIETO, Claudiney. Wicca – Ritos e Mistérios da Bruxaria Moderna. São Paulo: Germinal, 1999,<br />
p.14.<br />
11 Ibid, p.28.<br />
19
Tradição Seax Wicca, cujo fundador trás do continente europeu, Inglaterra, para a<br />
América do Norte as crenças wiccanianas e também instaura a possibilidade da<br />
prática solitária; e, por fim, a Tradição Diânica que se mostra mais voltada à deusa e<br />
ao gênero feminino do que as tradições citadas acima.<br />
Em termos de análise essas escolhas me permitiram uma perspectiva<br />
comparada enriquecedora. No entanto, de modo geral as considerações feitas neste<br />
trabalho valem para todas as Tradições salvo quando eu citar expressamente que<br />
determinado fato ou circunstância aplica-se a uma Tradição em específico. Coloco<br />
também o fato de que fazer um levantamento exaustivo de todas as Tradições<br />
existentes, além de fugir aos objetivos desse trabalho, me seria impossível visto que<br />
existem inúmeras, por assim dizer, subtradições, ou seja, grupos menores que<br />
consideram-se wiccanianos (ou, se preferir, bruxos/as), cultuam A Deusa e O Deus,<br />
e possuem costumes próprios de acordo com suas próprias possibilidades e<br />
necessidades.<br />
Outros livros que foram por mim lidos, pois também foram recorrentemente<br />
citados pelos meus contatos e pelas fontes da Internet encontram-se referidos no<br />
subitem 5.2 Bibliografia Êmica. Estes livros não foram analisados exaustivamente<br />
como os livros da lista anterior porque, em primeiro lugar, eu quis me basear nos<br />
autores e tradições que são considerados fundantes na história da Wicca (na<br />
Inglaterra, nos Estados Unidos da América e no Brasil) e, em segundo lugar, porque<br />
um excesso de livros analisados poderiam causar tanto saturação quanto perda de<br />
dados relevantes.<br />
Finalmente definido meu “campo literário”, parti para a análise de conteúdo visto<br />
que esta é a técnica que mais se adéqua à análise de textos escritos (ou análise<br />
visual, quando a observação incidiu sobre imagens). Através desse procedimento<br />
procurei privilegiar a análise de conotação, ou seja, procurei revelar os significados<br />
dos conceitos num meio social diferenciado que é justamente o ambiente wiccaniano<br />
quando visto em relação a outras religiões hegemônicas da nossa<br />
contemporaneidade. Mediante este instrumento metodológico procurei captar as<br />
representações subjetivas, “compreender criticamente o sentido das comunicações,<br />
seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”<br />
(CHIZZOTTI, 1998, p.78) constantes no material que incidiu em leitura e observação.<br />
1.1.1. A Etnologia e A Etnografia<br />
A etnologia é um termo que se originou no século XIX para referir-se aos<br />
estudos sistemáticos e comparativos dos modos de vida dos seres humanos, da<br />
20
variedade de outros povos diferentes do nosso; dela descende a etnografia que se<br />
revelou uma das técnicas mais fundamentais dos estudos antropológicos. A<br />
etnografia consiste, pois, na observação cuidadosa, na descrição metódica e no<br />
exercício de compreensão das características particulares de determinadas culturas<br />
estruturalmente constituídas 12 .<br />
Clifford Geertz nos ensina que a etnografia é o exercício de tentar ler um<br />
manuscrito 13 (uma cultura...) estranho ( ...estranha à nossa!); disso podemos deduzir<br />
que um elemento essencial na definição da prática etnográfica “é o tipo de trabalho<br />
intelectual que ele representa” 14 . Assim, o exercício de etnografar implica alguns<br />
cuidados que são fundamentais, tais como (a) a preocupação em compreender a<br />
cultura pesquisada de forma holística e dialética; (b) o cuidado de revelar as<br />
relações significativas ao grupo tais como o próprio grupo as percebam e as<br />
organizam; (c) a visibilidade sobre todos os passos na execução da pesquisa; (d) a<br />
consciência de que, muitas vezes, é o discernimento do próprio pesquisador que vai<br />
decidir e repensar as técnicas e os procedimentos que mais se adéquam às<br />
situações não previstas quando a pesquisa foi inicialmente proposta, pois não raras<br />
são as vezes que os dados acabam por reorganizar a lógica da pesquisa e do<br />
pesquisador; (e) por sua vez, essa questão recém citada implica a necessidade do<br />
pesquisador manter uma postura de reflexividade constante; e, (f) ainda, convém<br />
citar a questão da ética na pesquisa que constitui fundamento e elemento<br />
legitimador do trabalho do pesquisador. Foram essas questões referentes ao aporte<br />
metodológico aos quais procurei me manter atenta durante toda a execução deste<br />
trabalho.<br />
1.1.2. E a “Netnografia”, o que seria?<br />
Acho fundamental introduzir aqui a idéia de um aporte metodológico que é<br />
relativamente novo na área acadêmica, à saber o conceito de netnografia. Esse<br />
conceito foi expresso pela 1ª vez por Robert V. Kozinets e expressa uma abordagem<br />
ressignificada da etnografia (assim como dos conceitos vinculados, como o conceito<br />
de nativo, de campo, etc.) a fim de contemplar o ethos de uma determinada situação<br />
no ambiente virtual. Assim, se a etnografia é fundamental para a compreensão de<br />
12 MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães de. A Abordagem etnográfica na Investigação Científica.<br />
UERJ, 2001. Disponível em:<br />
http://www.ines.gov.br/paginas/revista/A%20bordag%20_etnogr_para%20Monica.htm, acessado em<br />
1º/07/2010.<br />
13 GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989. p.20.<br />
14 Ibid. p.15.<br />
21
um grupo, por exemplo, em espaço real, o conceito de netnografia trás a<br />
possibilidade de compreensão qualitativa de um espaço virtual. Esmiuçando um<br />
pouco mais e, ainda segundo Kozinets, apud Costa et al., a netnografia consiste em:<br />
“uma descrição escrita resultante do trabalho de campo que estuda<br />
as culturas e comunidades on-line emergentes, mediadas por<br />
computador, ou comunicações baseadas na internet, onde tanto o<br />
trabalho de campo como a descrição textual são metodologicamente<br />
conduzidas pelas tradições e técnicas da antropologia cultural”<br />
(COSTA; NETO; PINTO, p.05).<br />
Podemos visualizar nessa técnica o “esforço” da própria ciência antropológica<br />
em se adequar aos novos tempos, procurando sempre obter da realidade uma<br />
experiência de entendimento mais profunda.<br />
Outro ponto em qual me apoio para fundamentar a minha escolha por essa<br />
técnica é que, se entendemos os contextos on-line como novos contextos culturais,<br />
imbuídos de novos significados e de resignificações, então nada mais acertado que<br />
buscarmos no âmago da etnografia a possibilidade de compreensão desse novo,<br />
pois apesar dos novos tempos e da incrível capacidade de mudança que<br />
acompanha esses novos ares, o que persiste é a capacidade de adaptação que na<br />
memória do velho encontra degraus seguros para criar o novo.<br />
O mesmo Kozinets acima citado contribui com referência às questões éticas<br />
desse processo específico de investigação na rede quando pronuncia que a<br />
diferença maior da netnografia para a etnografia tradicional está relacionada a<br />
necessidade do pesquisador atinar constantemente para a relação público-privado<br />
que se encontra em jogo nesse contexto e, além dessa percepção, respeitar os<br />
limites dessa distinção. Visando ter esse cuidado, sempre que mantinha um primeiro<br />
contato pela internet com alguém que “encontrei” através dos sites da Wicca, eu me<br />
apresentava expondo minhas curiosidades pessoais acerca do assunto e meu<br />
interesse acadêmico. As conversas pessoais que tive com essas pessoas serviram,<br />
acima de tudo, para me situar no “ambiente da Wicca”, para conhecer e distinguir<br />
palavras, idéias e conceitos que me eram estranhos, dúbios ou simplesmente<br />
parciais. Não foi necessário citar nomes nas narrativas e/ou descrições aqui postas e<br />
quando cito foi em ocasiões em que explicitei para a pessoa o motivo de minhas<br />
perguntas pedindo para usar a transcrição livre de suas palavras em minha<br />
pesquisa. Convém citar também que muito raramente tratávamo-nos por nossos<br />
nomes civis, pois, geralmente, uma vez tendo adentrado no caminho da Arte muitos<br />
dos wiccanianos escolhem um novo nome que seja representativo das escolhas<br />
pessoais da própria pessoa.<br />
22
Uma última consideração a ser feita em vista de expor o alcance deste<br />
trabalho é que por não me utilizar da realização de entrevistas com praticantes da<br />
Wicca, não aprofundei em demasiado a questão da análise das representações<br />
subjetivas, individuais, dos praticantes. No que diz respeito a essa questão me<br />
baseei em dados recolhidos durante a revisão bibliográfica deste trabalho em que<br />
foram lidos diversos livros e artigos de autores que trabalharam com a questão da<br />
identidade entre praticantes da Wicca como o artigo (citado na nota 3) de Janluís<br />
Duarte Oliveira sobre “As Bruxas da Internet” bem como sua dissertação<br />
apresentada ao programa de pós-graduação na Universidade de Brasília 15 , o artigo<br />
de Andréa Osório sobre as “Bruxas Modernas na Rede Virtual” 16 , a dissertação de<br />
mestrado de Regina Bostulim intitulada “Wicca” 17 , a tese de doutorado de Susana de<br />
Azevedo Araújo onde ela aborda a questão das crenças e da prática da bruxaria na<br />
cidade de Porto Alegre 18 , dentre outros trabalhos.<br />
Para terminar de expor minhas considerações metodológicas gostaria de<br />
lembrar que sempre que existe um grupo de pessoas reunidas em um contexto<br />
relacional, uma ordem social é desenvolvida por aquele grupo. Na comunidade<br />
wiccaniana também se cria uma ordem e um significado que difere do que é comum,<br />
do que é profano 19 , pois é uma ordem baseada numa representação do sagrado que<br />
se instaura na vivência e na prática da religiosidade. Procurei vislumbrar esses<br />
significados, essa “ordem das coisas”, através da observação dos sites, das<br />
conversas informais tidas por e-mails, scraps, etc. com os interessados no assunto e<br />
praticantes que contatei e, principalmente, através da leitura atenta dos livros<br />
escritos por aqueles que são considerados autoridades no campo da Wicca. Lembro,<br />
enfim, que um livro nos mostra uma situação ideal, nos descreve um local e uma<br />
relação na qual se espelhar; na prática, talvez, o que eu observaria se pudesse ter<br />
tido a chance de acompanhar grupos de wiccanianos pessoalmente, poderia ter sido<br />
um pouco diferente, sinceramente não sei, deixo essa possibilidade para um próximo<br />
trabalho.<br />
1.1.3. Nomenclatura e Conceituações<br />
15 OLIVEIRA, Janluis Duarte. Os Bruxos do Século XX: Neopaganismo e Invenção de Tradições na<br />
Inglaterra do Pós-Guerras. Dissertação (Mestrado). Universidade de Brasília, 2008. 178p.<br />
16 Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/703/70380108.pdf, acessado em 02/07/2010.<br />
17<br />
Disponível em:<br />
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_teses/ENSINORE<br />
LIGIOSO/dissertacoes/wicca.pdf, acessado em 12/12/2009.<br />
18<br />
ARAÚJO, Susana de Azevedo. Paradoxos da Modernidade: A crença em Bruxas e Bruxarias em<br />
Porto Alegre. UFRGS, Porto Alegre, 2007. 246p.<br />
19<br />
Lembrando a divisão binária entre sagrado e profano onde um define-se em relação ao outro.<br />
23
Durante a leitura desse trabalho será observado que algumas palavras<br />
encontram-se grafadas com as iniciais maiúsculas, isso se dará quando a palavra<br />
em questão possuir uma conotação wiccaniana específica como, por exemplo, Deus<br />
e Deusa, Tradição, etc.<br />
Demais definições relevantes ao trabalho serão apresentadas quando<br />
conveniente, logo após citação no texto ou em notas de rodapé.<br />
1.2 Contextualizando a Wicca na história<br />
Podemos dizer que a bruxaria tradicional tem as suas raízes mais distantes lá<br />
no período pré-histórico quando, por exemplo, um caçador desenhava na parede de<br />
uma caverna a imagem de um animal abatido, ele estava usando de “magia<br />
simpática” para influenciar o benemérito da caça ou, também podemos citar, quando<br />
um velho/a da aldeia, considerado(a) sábio(a), usava de suas capacidades de<br />
observação e de suas habilidades mágicas para prever, orientar e influenciar atos e<br />
decisões individuais ou coletivas da aldeia.<br />
Historicamente as bruxas eram aquelas pessoas que através do<br />
conhecimento das ervas, do auxílio dos espíritos e poder dos deuses, prestavam<br />
auxílio à população na cura de diversos problemas (de saúde, do amor, com as<br />
plantações, criações de animais, etc.). Mas, se por um lado as bruxas poderiam ser<br />
consideradas “do bem”, por outro elas também eram constantemente acusadas de<br />
praticar diversos males como enfeitiçar os homens, causar chuvas e desastres<br />
naturais, etc.<br />
Antes de falar um pouco mais sobre a questão histórica, gostaria de discorrer<br />
uns instantes acerca da questão conceitual, ou, melhor dizendo, da questão da<br />
nomenclatura referente à bruxaria e Wicca que utilizo na tessitura deste trabalho. O<br />
que difere e o que relaciona uma (bruxaria) à outra (Wicca)?<br />
A Wicca é uma palavra de origem anglo-saxã que baseia suas crenças e ritos<br />
em elementos que podemos designar como pagãos. A própria designação do termo<br />
paganismo está atrelada às religiões de origem judaicas e cristãs, pois se diz ser<br />
pagão aquele que não foi batizado 20 e o batismo, por definição, é o sacramento da<br />
Igreja Católica no qual a imersão em água representa a purificação da pessoa<br />
batizada. Resumidamente podemos dizer que a Wicca é um culto moderno (século<br />
XX), porém baseado na existência de uma bruxaria que podemos adjetivar por<br />
tradicional, por fim essa bruxaria se basearia em crenças que remontam a época<br />
20 FERREIRA, Aurélio B. de H. Minidicionário Aurélio. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.<br />
24
pré-cristã e que, passadas de geração à geração através dos tempos, tem seus ritos<br />
e práticas vinculados aos ciclos da natureza.<br />
Antes do Cristianismo existiram muitas formas de cultos pagãos. Nas grandes<br />
cidades como Grécia ou Roma, por exemplo, havia templos e uma forma mais ou<br />
menos estruturada em torno dos ritos religiosos; porém, nos campos as pessoas<br />
contavam principalmente com a natureza a sua volta para construir em cima dela<br />
sua fé e suas crenças. Nesse sentido que em sua genealogia a Wicca é uma religião<br />
ligada profundamente à Natureza, pois, de certa forma, é uma espécie de resgate<br />
dos valores ancestrais que cultuavam a manifestação dos deuses nos diversos<br />
elementos desta.<br />
A bruxaria tradicional reconhecia os deuses em elementos como o raio, o sol,<br />
o rio, etc.; elementos estes que eram (e ainda o são) vitais para a sobrevivência.<br />
Assim, os elementos cultuados não variavam muito de lugar para lugar, visto que<br />
eram os elementos referentes à caça, as plantações, a fertilidade de forma mais<br />
ampla, o quê geralmente variava bastante eram os nomes dados a cada uma das<br />
entidades.<br />
Gardner, ao nos apresentar a bruxaria hoje, nos diz que:<br />
“a bruxaria, em quase todo lugar, teve dois derivativos principais aos<br />
quais suas outras influências se ligaram; os cultos de fertilidade que<br />
vinham dos habitantes nativos de uma área e as práticas „mágicas‟<br />
posteriores derivadas por meio de canais diretos ou distorcidos da<br />
fonte egípcia centralizadora. A bruxaria, da forma como emerge na<br />
história e literatura européias, representa o antigo culto de fertilidade<br />
paleolítico mais a idéia mágica e várias paródias de religiões<br />
contemporâneas”. (GARDNER, 2003, p.91)<br />
A crença na existência da bruxaria, para o bem ou para o mal, persistiu ao<br />
longo da história do homem ocidental, se assim não o fosse, talvez não houvesse<br />
existido o fenômeno da Inquisição. Mesmo hoje em dia esse período, também<br />
conhecido como “Era das Fogueiras”, é muito lembrado pelos bruxos(as) atuais, pois<br />
fomentou uma verdadeira caça às bruxas através da perseguição sistemática,<br />
religiosa e social, sob as pessoas que eram vistas como nocivas à comunidade<br />
porque de acordo com os acusadores elas usavam magia e envenenamento para a<br />
consecução de objetivos obscuros e pactos com o diabo. Durante toda a Idade<br />
Média e nos períodos antecedentes a ela acreditava-se piamente na existência das<br />
bruxas e feiticeiros, mas as perseguições começaram efetivamente depois de 1300<br />
quando surgiram rumores de que havia uma espécie de conspiração para derrubar<br />
os reinos cristãos através de magia, pragas e toda espécie de infortúnios que seriam<br />
conseqüência da vontade e atos dessas supostas bruxas e bruxos.<br />
25
Em 1484 o Papa Inocêncio VIII proclama a Bula contra os Bruxos. Em 1486 é<br />
publicado o Malleus Malleficarum que se torna um verdadeiro guia para detectar,<br />
interrogar, torturar e enfim, executar a(o) bruxa(o) descoberta(o) como tal. O<br />
protestantismo também fez perseguições, mas ao invés de guiarem-se pelo “Martelo<br />
das Feiticeiras” (Malleus Malleficarum) para identificar as(os) possíveis culpadas(os),<br />
justificavam suas execuções com o uso da seguinte citação do Antigo Testamento:<br />
“Não deixarás que nenhum bruxo viva”.<br />
Segundo Sallmann (2002), o fenômeno da bruxaria do final da Idade Média e<br />
início da Idade Moderna foi um fenômeno rural que exprimia, sobretudo, a fragilidade<br />
do mundo camponês 21 . Ele ainda completa nos dizendo que:<br />
“o nascimento do mito demoníaco e as ondas de caça às bruxas<br />
devem ser situados no contexto religioso muito conturbado dos<br />
séculos XV e XVI. A cristandade ocidental é, então, dividida pelas<br />
heresias, em seguida, a partir de 1517, pela ruptura definitiva das<br />
Reformas protestantes. A bruxaria foi, à sua maneira, uma resposta<br />
às angústias religiosas da época” (SALLMANN, 2002, p. 21).<br />
De forma geral, as figuras mais perseguidas pela Inquisição sob a acusação<br />
da bruxaria eram: a velha solitária que vivia na companhia de seus bichos, não raras<br />
vezes o fadado gato ou cão, que seria o disfarce do demônio sob o olhar dos outros;<br />
também a mulher bela e sedutora que não conseguia conter uma sexualidade que<br />
não era própria às mulheres (o desejo, o prazer e o gozo); assim como, também,<br />
outras figuras que faziam inveja ou causavam cobiça cuja denúncia poderia valer<br />
alguma compensação, seja pecuniária, de favores ou de bens.<br />
Da Europa ao Novo Mundo as bruxas e bruxos foram perseguidas(os) como a<br />
mais diabólica personificação do mal e essa é a justificação para toda a crueldade<br />
praticada contra essas pessoas que eram torturadas a fim de confessarem seus<br />
crimes e depois afogadas, enforcadas, degoladas ou queimadas nas chamas. Em<br />
1692 as colônias Inglesas na América também fervilhavam com as heresias e<br />
acusações de bruxaria, tanto que temos como exemplo o caso muito documentado<br />
(que inclusive virou filme na década de 90 do nosso século) das bruxas de Salém.<br />
Depois desse período negro de nossa história as bruxas passaram muito<br />
tempo desacreditadas e esquecidas e foi só em 1937, ao publicar “Bruxaria,<br />
Oráculos e Magia entre os Azande”, que o antropólogo inglês Evans-Pritchard<br />
trabalha com a questão da bruxaria não como uma espécie de manifestação<br />
patológica, mas sim como uma religião, pois se trata de um sistema legítimo de<br />
crenças de uma comunidade, no caso de Evans-Pritchard a tribo dos Azande.<br />
21 SALLMANN, Jean-Michel. As Bruxas – Noivas de Satã. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.<br />
p.26.<br />
26
No ano de 1994, no Parlamento das Religiões, em Chicago, Illinois, a Wicca<br />
foi oficialmente reconhecida como uma religião 22 .<br />
Ao longo do texto será interessante e necessário relembrar alguns aspectos<br />
históricos referentes à Bruxaria e aos cultos pagãos e é para facilitar essa questão<br />
que trato dessa perspectiva histórica, pois apenas com o conhecimento dos fatos e a<br />
posterior reflexão é que podemos lançar luzes que desfaçam crenças equivocadas<br />
para que, sob a ótica da Antropologia, possamos compreender um pouco da<br />
essência do mito da(o) Bruxa(o) – que no caso do homem é popularmente<br />
conhecido como Feiticeiro ou Mago – e de sua magia. No fim das contas, veremos<br />
que a Bruxaria Moderna não tem nada a ver com satanismo ou adoração ao Diabo<br />
(entidade que não faz parte das crenças wiccanianas) e que, como uma religião pré-<br />
cristã, retira seus elementos de culto e divindades da própria Natureza.<br />
22 BUCKLAND, Raymond. Wicca: Um estilo de Vida, Religião e Arte. Rio de Janeiro: Record: Nova<br />
Era, 2003, p. 33.<br />
27
2 UMA BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />
“...há muito mais bruxaria no céu e na terra do que supõe a vã burocracia da<br />
razão.” (Nota do Tradutor in: EVANS-PRITCHARD, 2005, p.7)<br />
Tal como Carvalho (2000, p.16), consideremos o fenômeno religioso como um<br />
sistema simbólico na medida em que os diferentes movimentos religiosos têm, cada<br />
um deles a sua maneira, as suas leituras singulares do universo, do entendimento<br />
do eu, das potências divinas e, de um modo um tanto quanto amplo, do<br />
sobrenatural. Assim sendo, é possível dizermos que, ao tentarmos expor os<br />
fundamentos de referência que dão sustentabilidade a um sistema de crenças e<br />
práticas, estamos expondo a teia de significados pela qual seus praticantes<br />
percebem e representam o mundo ao seu redor.<br />
2.1. Considerações acerca da Antropologia da Religião<br />
A Antropologia da Religião se dedica ao estudo das crenças religiosas dos<br />
povos. Podemos afirmar que a religião constitui uma das maiores expressões da<br />
crença de um povo. A religião é uma instituição social de caráter universal, pois está<br />
presente, de um modo ou de outro, em todas as culturas. Toda sociedade que se<br />
conhece pratica alguma forma de religião.<br />
A palavra religião vem do latim, do verbo religare, o que nos dá a idéia de laço<br />
que liga o homem à divindade. A Religião, assim, representa a ligação do homem<br />
com o divino. Para a antropologia estudar uma religião específica significa procurar<br />
compreender todas as crenças e práticas dispostas em forma de doutrinas e rituais<br />
de uma determinada comunidade. 23<br />
Um estudo comparativo das religiões, sob a perspectiva antropológica<br />
funcionalista, mostra que todas as religiões apresentam determinadas funções<br />
culturais. Como, em todas as sociedades, as pessoas que formam essa sociedade<br />
vão apresentar determinadas necessidades espirituais, cada sistema cultural e<br />
religioso traça como que um caminho para satisfazer estas necessidades comuns e<br />
básicas aos indivíduos.<br />
Para aprofundar um pouco mais essa questão de definir conceitos, pensemos<br />
brevemente a relação da teologia com a religião: a teologia é a idéia, o pensamento,<br />
23 Etnoteologia. ANTROPOS, Capacitação Antropológica. Disponível em:<br />
http://www.antropos.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=98, acessado em<br />
27/12/2009.<br />
28
o conhecimento que o homem tem acerca do divino e da noção de deus (seja esse<br />
deus o quê ou quem for); a religião é a prática, nela o homem se expressa em<br />
atitudes, ações e hábitos o que o conhecimento do espiritual e do sagrado produziu<br />
nele. Assim a religião vem a ser a expressão da crença e é justamente devido à<br />
grande variabilidade de crenças que a antropologia vai ao encontro do diverso a fim<br />
de perceber e compreender a vivência das diferentes expressões religiosas.<br />
Os diversos movimentos religiosos existentes possuem, cada qual à sua<br />
maneira, uma leitura singular do universo, do próprio eu, das potências criadoras e<br />
divinas, etc. Assim, cada cultura possibilita e define uma cosmologia própria, pois é<br />
como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Essa cosmovisão é a<br />
percepção daquilo que é real (a realidade percebida do mundo), o modo de ver o<br />
mundo, é o sistema de crença que reflete os comportamentos e valores de um povo.<br />
A cosmologia de um povo reflete as suas suposições, os seus valores e o<br />
entendimento que possuem a respeito da vida e do mundo onde eles vivem.<br />
A dimensão simbólica presente no fenômeno religioso é um tema freqüente<br />
no campo das Ciências Sociais e especialmente na Antropologia. Clifford Geertz em<br />
“A Interpretação das Culturas” (1989, p. 68) afirma que a religião é responsável por<br />
produzir uma visão do mundo que informa o comportamento dos seres humanos,<br />
atuando por meio de um sistema de símbolos que permite aos homens interpretarem<br />
o mundo a sua volta; ele ainda define o símbolo como “qualquer objeto, ato,<br />
acontecimento, qualidade ou relação que serve como vínculo a uma concepção”. É<br />
dessa forma que Geertz compreende que um sistema de símbolos torna-se uma<br />
verdadeira grade interpretativa, uma espécie de caixa de ferramentas com a qual o<br />
homem utiliza no exercício de compreender o real (GEERTZ, 1989, p.72-80).<br />
Marcel Mauss completa o pensamento iniciado por Geertz e nos fala que ao<br />
classificar o mundo de acordo com uma ordem simbólica o homem opera numa<br />
ordem especulativa, abstrata cuja finalidade mor não é o de facilitar a ação, mas<br />
tornar inteligível as relações entre os seres humanos e o mundo ao seu redor<br />
(MAUSS, 2001, p.450).<br />
2.1.1 Evans-Pritchard e o estudo da bruxaria entre os Azande<br />
Para compreender melhor a idéia de grade interpretativa anunciada acima por<br />
Geertz, e tendo em conta que todo símbolo nos remete a um sistema de<br />
representação e interpretação, peguemos o exemplo do nativo Azande que Evans-<br />
Pritchard estudou e nos apresentou em livro intitulado “Bruxaria, Oráculo e Magia<br />
entre os Azande” (2005). Para os componentes da tribo dos Azande, a bruxaria<br />
29
fornece a grade interpretativa que permite enquadrar um evento fortuito (um<br />
infortúnio qualquer), que tem causas naturais, em um sentido mais tolerável para a<br />
existência de quem sofre o infortúnio. Considerando isso, quando nós pesquisadores<br />
tentamos compreender a simbologia à qual o nativo recorre para interpretar e<br />
compreender o evento sofrido, parece-nos que ocorre uma superposição de sentido,<br />
mas esta superposição é ilusória, ou quando muito, unilateral, pois para o nativo o<br />
sentido é um só. Os antropólogos, no exercício da profissão, deslocam a própria<br />
grade de interpretação para situarem-se diante a grade interpretativa do nativo, pois<br />
só assim podem ultrapassar a mera descrição de coisas, fatos e relações para<br />
captarem o ethos no qual o sentido mesmo se insere.<br />
Num exercício constante de observar e abstrair, Evans-Pritchard fornece aos<br />
seus leitores e estudiosos das culturas humanas em geral uma monografia teórica e<br />
descritiva que nos ajuda a despir-nos de preconceitos e pré-noções ao mostrar-nos<br />
que o trabalho do antropólogo nem sempre é estudar somente aquilo que ele deseja,<br />
mas, principalmente, aquilo que o próprio objeto de estudo (no caso dele a tribo dos<br />
Azande) acredita e vivencia. Assim o autor explica que a questão principal do por<br />
que os Azande acreditam na bruxaria reside no fato de que é a bruxaria que explica<br />
a questão dos infortúnios para as pessoas daquela tribo e da mesma forma oferece<br />
meios para combater esses infortúnios. Essa crença pode até nos parecer “infantil”,<br />
primitiva e/ou irracional, mas ao deslocarmos a nossa lógica pessoal e<br />
historicamente determinada para a lógica do indivíduo pertencente a aldeia dos<br />
Azande, logo compreendemos que mesmo na superstição existe uma razão, existe<br />
uma racionalidade, pois os Azande não desprezam as causas físicas do infortúnio,<br />
eles apenas conjugam uma variedade de causas possíveis que foram determinantes<br />
para um determinado evento ocorrer e é essa conjugação de causar que pode ser<br />
influenciada, quando não determinada, pela bruxaria.<br />
Juntamente com a bruxaria e os oráculos, a magia completa o sistema de<br />
crenças dos Azande:<br />
“Assim, a morte evoca a noção de bruxaria; os oráculos<br />
são consultados para determinar o curso da vingança; a magia<br />
é feita para executar essa vingança; os oráculos decidem se a<br />
magia executou a vingança; depois da tarefa cumprida, as<br />
drogas mágicas são destruídas” (EVANS-PRITCHARD, 2005 p.<br />
228).<br />
A contribuição de Evans-Pritchard vai ainda além de fornecer-nos<br />
fundamentos empíricos para a reiteração dessa grade interpretativa dos significados<br />
para a qual a religião fornece-nos modelos de compreensão da cultura. O próprio<br />
30
lançamento de “Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande” em 1937, traz à tona,<br />
em pleno século XX, o tema da bruxaria impingindo-a de uma seriedade que séculos<br />
de negação e racionalismo extremado haviam-lhe negado. Portanto, é fato que ao<br />
escrever sobre crenças, magia, religião e bruxaria torna-se mister invocar os estudos<br />
de Evans-Pritchard.<br />
2.1.2 Nova Era<br />
Muitas referências são encontradas no sentido de vincular a Wicca com o<br />
fenômeno da New Age, ou Nova Era 24 , porém aos “olhos” dos próprios adeptos da<br />
Wicca essa vinculação é um pouco forçada. Lugus Dagda Brigante, praticante de<br />
Wicca, tarólogo, fundador do Círculo 25 Wiccaniano Serpente de Fogo, nos diz que<br />
Wicca, Bruxaria e Paganismo não são sinônimos de Nova Era:<br />
“Wicca é uma religião e Bruxaria é uma prática antiguíssima.<br />
Ambos são caminhos pagãos – sendo o Paganismo uma cultura<br />
voltada para uma espiritualidade telúrica, centrada nos paradigmas<br />
que a Terra, a Natureza e o Cosmos nos evidenciam como verdade<br />
espiritual.” 26<br />
É Leila Amaral, Doutora em Antropologia Social e estudiosa de temas como<br />
religião e modernidade, sincretismo religioso e novas espiritualidades, quem nos<br />
esclarece acerca do fenômeno da Nova Era; segundo ela “um dos aspectos que<br />
está em foco, hoje, diz respeito à capacidade ou não das religiões se apresentarem<br />
como recursos simbólicos ou míticos para enfrentar problemas relativos à nova<br />
ordem social. 27 ” Nesse sentido é que podemos visualizar na Wicca uma religião que<br />
acompanha as mudanças que a própria sociedade vem passando, sobretudo desde<br />
a última metade do século XX, onde temos a realocação da mulher e do feminino<br />
num cenário de visibilidade muito mais proeminente do que em tempos passados. 28<br />
Citando a socióloga parisiense Hervieu-Léger, Leila Amaral nos diz que as<br />
tradições religiosas apresentam-se ao homem moderno como caixas de ferramentas<br />
simbólicas que são acionadas dado o fascínio que as religiões conservam numa<br />
24 Um exemplo disso é a Dissertação de Mestrado de Regina Bostulim intitulada “Wicca”, p. 20.<br />
25<br />
Os Círculos são entidades estabelecidas, sem hierarquia, onde os ensinamentos perpassam<br />
relativamente livres, muitas vezes em forma de cursos. Nos Círculos também é comum acontecerem<br />
rituais abertos ao público, como os promovidos em Porto Alegre – RS, pelo Círculo Wiccaniano<br />
Serpente de Fogo em 2007 (ver: http://wicca-rs.blogspot.com/, acessado em 04/07/2010) e 2009 (ver:<br />
http://dop.ninhodaserpente.com.br/, acessado em 04,07,2010).<br />
26<br />
Brigante, Lugus Dagda. A Preponderância da Deusa na Wicca e nos demais cultos pagãos.<br />
Disponível em: http://www.paganismo.org/artigos/lugus-dagda-brigante/a-preponderancia-da-deusana-wicca-e-nos-demais-cultos-pagaos.html,<br />
acessado em 19/06/2009.<br />
27<br />
AMARAL, Leila. Entrevista. Disponível em: http://www.antropologia.com.br/entr/entr8.html,<br />
acessado em 1º/06/2010.<br />
28<br />
À saber alguns itens de mudança como o movimento feminista e a luta pelos direitos das mulheres<br />
e pela consideração de novos valores sociais, morais e culturais; a incorporação da força de trabalho<br />
feminina no mercado de trabalho; etc.<br />
31
sociedade que se instaura, na atualidade, na e pela instabilidade e mobilidade 29 . No<br />
pensamento de Hervieu-Léger, a visão de mundo correspondente aos elementos<br />
que até então eram acessados na conformação da vida do indivíduo e sua religião<br />
passou a não mais ser reconhecida tal como se inscrevia na linguagem de suas<br />
respectivas tradições; temos que daí incorre a necessidade de surgirem novas<br />
configurações religiosas em sintonia com os valores da modernidade.<br />
2.2 As questões de Gênero<br />
As questões de gênero permeiam quase todos, se não todos, os aspectos de<br />
nossa vivência, pois fazem parte, de um modo ou de outro, de nossas instituições,<br />
nossas leis, nosso imaginário, nossas identidades.<br />
A História das Relações de Gênero é mais abrangente do que a História das<br />
Mulheres e foca na interação dos sexos e na co-relativa constituição dos gêneros.<br />
Foi visando uma análise mais rica e mais completa que foquei minha reflexão não<br />
apenas no papel da mulher na bruxaria moderna, mas também no papel do homem<br />
e na interação dos sexos que constituem a base das relações de gênero.<br />
A gênese do sistema de gêneros, ou seja, a estipulação de diferenciações de<br />
atributos determinantes de cada sexo e as respectivas definições de papéis sexuais<br />
é quase tão antiga quanto a história do homem. Peter N. Stearns em livro intitulado<br />
“História das Relações de Gênero” (2007) indica que foi com o surgimento da<br />
agricultura que as funções entre homens e mulheres na coletividade se distanciaram<br />
e se definiram. Segundo o autor:<br />
“O deslocamento da caça e coleta para a agricultura pôs fim<br />
gradualmente a um sistema de considerável igualdade entre homens<br />
e mulheres. Na caça e coleta, ambos os sexos, trabalhando<br />
separados, contribuíam com bens econômicos importantes. (...) A<br />
agricultura estabelecida, nos locais em que se espalhou, mudou isso,<br />
beneficiando o domínio masculino. À medida que os sistemas<br />
culturais, incluindo religiões politeístas, apontavam para a<br />
importância de deusas, como geradoras de forças criativas<br />
associadas com fecundidade e, portanto, vitais para a agricultura, a<br />
nova economia promovia uma hierarquia de gênero maior. Os<br />
homens agora eram responsáveis, em geral, pela plantação; a<br />
assistência feminina era vital, mas cabia aos homens suprir a maior<br />
parte dos alimentos.” (STEARNS, 2007, p.31-32)<br />
Dessa forma, segundo Stearns, as mulheres foram voltando-se para a vida<br />
doméstica, principalmente em função dos cuidados com a prole. Pode-se dizer que<br />
aí se estabelece o início de um prolongado patriarcalismo que vai enfatizar cada vez<br />
29 AMARAL, Leila. Entrevista. Disponível em: http://www.antropologia.com.br/entr/entr8.html,<br />
acessado em 1º/06/2010.<br />
32
mais a fragilidade e, em situações mais extremas, até mesmo a inferioridade da<br />
mulher.<br />
As questões de gênero envolvem papéis e definições tanto para os homens<br />
quanto para as mulheres, mas geralmente a literatura sobre o assunto foca-se mais<br />
nas considerações acerca da mulher. Isso se dá devido a alguns fatores históricos e<br />
sociais. Uma das possibilidades que podemos citar é que a prevalência do feminino<br />
na temática de Gênero pode justificar-se através de uma invocação a uma espécie<br />
de compensação ao silêncio e a repressão que a mulher sofreu (e ainda o sofre)<br />
com a constante hegemonia do patriarcado, recém citado, na história da<br />
humanidade. Mas é preciso enfatizar que o conceito de gênero sempre se refere<br />
tanto aos homens quanto às mulheres.<br />
Falando bem cruamente, o gênero nos remete às diferenças atribuídas<br />
culturalmente a homens e mulheres, porém, muitas vezes no senso comum o<br />
conceito de gênero acaba se confundindo com o próprio conceito de sexo<br />
(biológico). Introduzir a reflexão acerca do gênero quando tratamos das relações<br />
entre homens e mulheres nos permite incorporarmos a dimensão cultural às<br />
perspectivas psicológicas e biológicas das características destes.<br />
Os pesquisadores das Ciências Sociais e Humanas exploram a concepção de<br />
gênero nos seus múltiplos aspectos sociais, culturais e históricos 30 . Assim, cada<br />
cultura, cada sociedade, em um determinado espaço e tempo irá perceber, definir e<br />
representar as características que constituem homens e mulheres e suas<br />
respectivas masculinidades e feminilidades de uma maneira única, eficaz e<br />
simbólica; o que acaba por definir os sujeitos dessa realidade inclusivamente, ou, às<br />
vezes, excludentemente 31 .<br />
2.2.1 O Gênero enquanto Categoria Analítica<br />
O conceito de Gênero encontrou espaço fecundo no meio acadêmico,<br />
principalmente a partir das décadas de 1960 e 1970 com o surgimento de diversos<br />
Grupos de Estudos sobre a Mulher 32 , onde o uso do termo “gênero” veio como<br />
tentativa de terminologia alternativa ao uso do termo “sexo”, palavra esta que esteve<br />
30 Não esquecendo ainda do aspecto pessoal das referências de gênero, mas esse situa-se no<br />
âmbito da subjetividade mais característico do campo de estudo da Psicologia.<br />
31 E aqui, para citar, temos o exemplo das identidades e das sexualidades que são tidas como<br />
destoantes, ou dissidentes, por terem idéias e/ou práticas que não se enquadram conforme um<br />
padrão hegemônico de masculinidade ou feminilidade que é tido como modelo e ideal em<br />
determinada sociedade.<br />
32 Por exemplo, em 1975 a Organização das Nações Unidas declara o início do que convencionou-se<br />
chamar de Década da Mulher e no Brasil surgiram os primeiros grupos feministas comprometidos em<br />
lutar pela igualdade das mulheres.<br />
33
atrelada historicamente aos primórdios do movimento feminista e suas perspectivas<br />
teóricas. Deste modo, passou-se a utilizar o termo “gênero” no sentido de<br />
desnaturalizar a questão da identidade sexual atrelada univocamente ao sexo<br />
biológico. Nesse sentido, como define Maud Mannoni, psicanalista francesa citada<br />
por Moraes (1998), podemos pensar o gênero como o “significante” e o sexo<br />
biológico como o “significado”.<br />
Não é difícil perceber porque tanta confusão transcorre em torno de termos<br />
que se parecem equivalentes, mas não o são. Quando falamos em Gênero, estamos<br />
enfatizando, acima de qualquer outra coisa, o caráter social e cultural das<br />
construções feitas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e daí decorre as<br />
diferentes formas de feminilidades e masculinidades que variam de cultura para<br />
cultura, de local para local e de época para época. Os sexos, basicamente, são dois:<br />
o sexo masculino e o sexo feminino. Mas, os atributos que vão constituir as<br />
representações de masculinidade e de feminilidade em diferentes sociedades, em<br />
termos de aparência, comportamento, etc., vão variar em razão do que é<br />
culturalmente aceito e valorizado em cada sociedade e cultura específica.<br />
Margareth Mead em “Sexo e Temperamento” (2003) explicita que, não o<br />
gênero, mas o condicionamento social relativo a uma cultura específica que<br />
determina o comportamento normal (normatizado socialmente em virtude do<br />
costume) atribuído a homens e mulheres. Isso fica evidente quando ela nos expõe o<br />
comportamento comparado referente aos papéis sexuais da tribo dos Arapesh, dos<br />
Mundugumor e dos Tchambuli:<br />
“Nem os Arapesh nem os Mundugumor tiram proveito de um<br />
contraste entre os sexos; o ideal Arapesh é o homem dócil e<br />
suscetível, casado com uma mulher dócil e suscetível; o ideal<br />
Mundugumor é o homem violento e agressivo, casado com uma<br />
mulher também violenta e agressiva. Na terceira tribo, os Tchambuli,<br />
deparamos verdadeira inversão das atitudes sexuais de nossa<br />
própria cultura, sendo a mulher o parceiro dirigente, dominador e<br />
impessoal, e o homem a pessoa menos responsável e<br />
emocionalmente dependente.” (MEAD, 2003, p. 268)<br />
Mead afirma que a nossa sociedade acredita no comportamento diferenciado<br />
naturalmente devido ao sexo, porém seus estudos em torno do sexo e do<br />
temperamento levaram-na a acreditar que as diferenças comportamentais entre os<br />
sexos são resultados de um condicionamento social enraizado, por isso:<br />
“na divisão do trabalho, no vestuário, nas maneiras, na atividade<br />
social e religiosa – às vezes apenas em alguns destes aspectos,<br />
outras vezes em todos eles – homens e mulheres são socialmente<br />
diferenciados, e cada sexo, como sexo, é forçado a conformar-se ao<br />
papel que lhe é atribuído” (MEAD, 2003, p. 24-25).<br />
34
Segundo Maria Lygia Quartim de Moraes a perspectiva culturalista nos<br />
possibilita pensar o gênero de modo que:<br />
“as categorias diferenciais de sexo não implicam no reconhecimento<br />
de uma essência masculina ou feminina, de caráter abstrato e<br />
universal, mas, diferentemente, apontam para a ordem cultural como<br />
modeladora de mulheres e homens (...). Sob o substantivo gênero se<br />
agrupam todos os aspectos psicológicos, sociais e culturais da<br />
feminilidade/masculinidade, reservando-se sexo para os<br />
componentes biológicos, anatômicos e para designar o intercâmbio<br />
sexual propriamente” (MORAES, 1998, p.100-102).<br />
Enfim, é importante salientarmos o caráter relacional do Gênero, pois é a<br />
partir da relação entre os sexos que temos suas respectivas definições, ou, em<br />
outras palavras, os papéis sociais de homens e mulheres são estabelecidos através<br />
do mútuo (re)conhecimento, logo percebemos que a definição do eu está<br />
intrinsecamente ligada a definição do outro, e vice-versa.<br />
O sentido relacional das concepções de masculino/feminino é elemento<br />
constitutivo fundamental das relações sociais e decorre de processos condicionantes<br />
de socializações culturais e históricas intensamente marcados na construção das<br />
identidades de homens e mulheres. 33<br />
Só podemos compreender adequadamente o papel em sociedade de um<br />
determinado gênero se pudermos olhar também o papel designado ao outro. Na<br />
religião também é assim; não basta dizermos que a Wicca é a “religião da Deusa”,<br />
precisamos localizar onde o Deus fica “nessa história”.<br />
2.2.2 Os Padrões de Gênero e a Percepção do Diferente<br />
Mead (2003, p.269) nos afirma que “as padronizadas diferenças de<br />
personalidade entre os sexos são desta ordem, criações culturais às quais cada<br />
geração, masculina e feminina, é treinada a conformar-se”. Segundo essa autora<br />
algumas sociedades acabam por desenvolver técnicas educacionais a fim de<br />
assegurar que uma maioria de cada geração específica apresente um<br />
comportamento, uma personalidade, congruente com o que o grupo valora<br />
positivamente e estipula como adequado. Deste modo, podemos definir os padrões<br />
por aqueles elementos designados pela ênfase em determinados traços<br />
temperamentais carregados de valores culturalmente determinados que são<br />
selecionados, institucionalizados e passados adiante para cada novo membro do<br />
grupo.<br />
33 E, se olharmos com cuidado, podemos perceber que não é de hoje que os deuses assumem as<br />
próprias características daqueles que os adoram, pois é na supremacia dos deuses que visualizamos<br />
o ideal de realidade que aspiramos.<br />
35
Na maior parte dos casos essas características em torno da constituição dos<br />
gêneros vêm a nós na ordem do binário, ou seja, alguns traços que são consignados<br />
a um sexo são conseqüentemente denegados ao outro sexo. Isso por sua vez gera<br />
uma questão de valor que ultrapassa o aspecto inicial do sim-não, ter-não ter. Um<br />
exemplo básico dessa consideração é exposto quando a criança na fase pré-escolar<br />
aprende que os meninos possuem pipi (torneirinha, xixi, etc.) e as meninas não<br />
possuem pipi. Isso gera uma percepção de presença e ausência, positiva e negativa,<br />
que pode ensejar em relações de poder e subalternidade em favor dos que têm e<br />
em detrimento dos que não têm.<br />
Percebi claramente essa ordem do binário nessa minha imersão no universo<br />
da Wicca, talvez não tanto constituindo relações de poder, mas certamente<br />
constituindo relações de complementaridade.<br />
Voltando a idéia de padrão, Ruth Benedict (1983, p.280) reforça-nos o<br />
conceito de padrão quando nos diz que a grande maioria “das pessoas são<br />
moldadas segundo a forma que a sua cultura lhes dá, em virtude da maleabilidade<br />
dos seus dotes tradicionais. São plásticas para a força modeladora da sociedade em<br />
que nascem”.<br />
Apesar dos valores de gênero serem profundamente pessoais e serem<br />
elementos fundamentais na construção da identidade individual, suas raízes estão<br />
profundamente incrustadas nos valores vigentes na sociedade e constituem também<br />
elemento de identidade coletiva. São os padrões de gênero, ou seja, os elementos<br />
que constituem a formação dos gêneros, que acabam definindo as funções<br />
esperadas dos homens e das mulheres em uma determinada sociedade.<br />
Cada cultura em particular possui uma concepção convicta do que é ser<br />
homem e ser mulher em sua sociedade. Mas é fundamental acentuarmos a<br />
variabilidade dessas concepções. Mesmo sociedades que possuem padrões de<br />
gênero muito semelhantes podem especificar diferentes aspectos como preferíveis e<br />
diferentes mecanismos que detalham as relações entre os sexos.<br />
Sob o risco da intolerância ou da incompreensão, muitas vezes consideramos<br />
apenas a nossa realidade como a única realidade possível ou correta e nesses<br />
casos não é incomum julgarmos uma cultura inteira pelos aspectos que se<br />
distanciam da nossa realidade. Um exemplo dessa afirmação é a crítica ocidental a<br />
como alguns povos do oriente médio “tratam suas mulheres obrigando-as” ao mais<br />
estrito recato, cobrindo-se completamente com a burca. Claro que, se compararmos<br />
a vestimenta das mulheres afegãs com a vestimenta das mulheres que moram, por<br />
exemplo, no Rio de Janeiro e vestem short e camiseta (de todos os tipos e<br />
36
tamanhos) num calor de 40°, consideraremos um extremismo cruel o costume de<br />
usar a burca, mas convém lembrar aqui que, do ponto de vista cultural, o relativismo<br />
deve ser invocado e a crítica de uma cultura à outra ocorre em termos deveras<br />
assimétrico. Antes de qualquer julgamento deve-se perguntar àquelas mulheres que<br />
usam a burca o que elas acham de usar a burca e é possível que a maioria delas<br />
ache que é normal e adequado, pois faz parte dos costumes e das tradições delas<br />
desde tempos imemoráveis. Em se tratando de relativismo cultural a primeira<br />
consideração, sempre, a ser feita é que o quê é uma irracionalidade para nós, pode<br />
ser algo que faz sentido para eles e vice-versa. De certa forma o outro sempre será<br />
como nós e nos verá com as mesmas distorções com as quais nós os vemos.<br />
37
3 DESVENDANDO A WICCA<br />
“A religião Wicca está voltada para a terra, a natureza e a fertilidade; os seus<br />
adeptos prestam culto na mudança das estações e nas Luas Nova e Cheia. Eles<br />
geralmente aceitam divindades masculinas e femininas e acreditam na<br />
reencarnação, na magia e nas artes divinatórias. Embora a Wicca seja um<br />
caminho espiritual e filosófico, ela é acima de tudo e fundamentalmente uma<br />
religião, conhecida como „A Arte‟, significando a arte do sábio”<br />
(DANIELS; TUITÉAN, 2006, p.10)<br />
A egiptóloga Margaret Murray em seu livro “O Culto das Bruxas na Europa<br />
Ocidental” (2003) expõe-nos a tese de que a Moderna Bruxaria é uma sobrevivência<br />
dos cultos pagãos 34 da fertilidade que sobreviveram “nas sombras” desde épocas<br />
imemoriais. Em termos científicos a tese de Murray foi (e ainda é) extremamente<br />
criticada, porém para os escritos êmicos ela é um marco. Quando, em 1954, Gerald<br />
Gardner publica o já mencionado livro “A Bruxaria Hoje” (2003) ele oferece seu<br />
testemunho para confirmar a tese de Murray afirmando que ele próprio teria sido<br />
iniciado por um grupo de bruxas que teria sobrevivido às perseguições que a<br />
bruxaria sofreu ao longo dos tempos. Gardner acredita que, com o processo da<br />
Inquisição e o terror das perseguições o culto acabou por tornar-se praticamente<br />
uma espécie de sociedade familiar secreta. 35<br />
Ao contrário de Gardner, e apesar de ter sido iniciado nos caminhos da<br />
bruxaria por este, Raymond Buckland em “Wicca: Um estilo de Vida, Religião e Arte”<br />
(2003) discorda da idéia de que houve uma linhagem da bruxaria desde os<br />
habitantes das cavernas até a Idade Média; segundo este autor, há sim uma<br />
linhagem progressiva da religião mágica, mas isso não quer dizer que a bruxaria<br />
exercida hoje seja a mesma do Neolítico 36 .<br />
Histórica e simbolicamente falando é bem possível que as crenças pagãs de<br />
outrora que enfatizavam a adoração a um Deus de Chifres (Deus da Caça), a uma<br />
Deusa Mãe (Guardiã das Plantações e Colheitas) e que também realizavam os<br />
festivais sazonais, foram aos poucos se misturando sincreticamente com uma magia<br />
popular que consistia basicamente num conjunto de feitiços feitos com o uso de<br />
ervas, bonecos e outras ferramentas, numa perspectiva semelhante à magia<br />
34 Convém lembrar que os antigos cultos só receberam a denominação de “pagãos” com o advento<br />
do Cristianismo.<br />
35 GARDNER, 2003, p. 52.<br />
36 BUCKLAND, 2003, p.15-16.<br />
38
simpática pré-histórica, e unindo-se ao conhecimento xamânico advindo dos povos<br />
bárbaros, tornou-se o que hoje chamamos de Bruxaria Tradicional Européia que é<br />
de onde remonta a Bruxaria Moderna e, finalmente, a Wicca.<br />
Começo expondo algumas definições do que seria a Wicca. Considerada uma<br />
verdadeira religião por seus adeptos, a Wicca também é conhecida por Bruxaria<br />
Moderna (apesar desses termos não serem equivalente); é uma religião neo-pagã<br />
surgida, tal como a conhecemos hoje, em meados da década de 50 graças às<br />
publicações de Gerald Brosseau Gardner, um funcionário público da Coroa Britânica.<br />
Dito isso já se percebe que a Wicca, em termos restritos, não é um fenômenos<br />
antigo, porém suas bases fundamentais, e isso de acordo com seus fundadores e<br />
adeptos, remontam de crenças que nos vem desde o período Paleolítico onde<br />
podemos observar com definição a passagem de um culto as forças da Natureza<br />
para as festividades agrárias que acompanham os períodos lunares e sazonais do<br />
período Neolítico 37 .<br />
Meus contatos, praticantes da Wicca os quais conheci através dos sites da<br />
temática Wicca e me correspondi por e-mails e outros tipos de mensagens no<br />
ambiente virtual, também me ajudaram na definição básica do que seria Wicca e<br />
bruxaria à partir da própria experiência de seus adeptos: Galahad, correspondente<br />
do site Círculo Sagrado 38 , me contou por menssagem direta no site que:<br />
“a Wicca é uma forma de neo-paganismo criado por Gerald Gardner<br />
na década de 50. A bruxaria possui vários ramos e tradições e a<br />
Wicca é apenas uma das faces da mesma, existem linhas egípcias,<br />
nórdicas, celtas, além da bruxaria tradicional.”<br />
Dito isso, nota-se que esse praticante vincula claramente a existência da<br />
Wicca à figura de Gardner o qual teria se baseado nos mitos e crenças da bruxaria<br />
tradicional européia para fundar a Wicca que seria justamente o ressurgimento,<br />
adaptado aos novos tempos, das crenças e práticas da Bruxaria Tradicional. Através<br />
do mesmo site recém citado outra correspondente, Lisbeth Thy Witch, reforça-nos<br />
essa idéia ao nos dizer que a “Wicca é um nome mais moderno para a bruxaria, que<br />
engloba, inclusive, a Magia Natural. 39 ”<br />
37 PELLIZZARI, Daniel. A História da Bruxaria. Disponível em<br />
http://luanegra.no.sapo.pt/historia_bruxaria.htm, acessado em 12/06/09.<br />
38 Endereço eletrônico: http://www.circulosagrado.com. Acessado em 22 de maio de 2009.<br />
39 Segundo o site Círculo Sagrado, resumidamente, o termo Magia Natural refere-se aquela magia<br />
cujo poder vem da própria força da Natureza, ela é praticada através de uma representação direta e<br />
objetiva dos elementos presentes na Natureza. Fonte:<br />
http://www.circulosagrado.com/cs/magia/magianatural/magianatural.php, acessado em 22/06/2010.<br />
39
Em um blog dedicado a Wicca 40 , seu autor, um praticante da Arte, nos<br />
esclarece que:<br />
“todo Wiccano é um bruxo, porém, nem todo bruxo é Wiccano. A<br />
bruxaria não é utilizada apenas pelos Wiccanos. Muitas das religiões<br />
pagãs que mencionei acima 41 utilizam práticas mágicas, porém nem<br />
todos os bruxos seguem necessariamente essas religiões. Alguns<br />
são bruxos tradicionais, (...).”<br />
Outras definições da Wicca nos são dadas por escritores conhecidos dentro<br />
dessa religião. Buckland (2003) concebe a Wicca como um sistema de crenças e<br />
práticas que possibilita ao adepto como que criar sua própria realidade. Ele ainda<br />
nos passa a idéia da Wicca como um modelo sobre a qual seus adeptos podem<br />
estruturar suas vidas, dessa forma é coerente quando ele nos diz que considera a<br />
Wicca como uma religião universal, no sentido de que pode ser praticada por<br />
qualquer um em qualquer lugar.<br />
Gerina Dunwich, astróloga e escritora de diversos livros sobre bruxaria,<br />
concebe a Wicca como uma religião monista 42 , panteísta 43 , de natureza xamanística<br />
e positiva. Porém, existem aqueles que consideram a Wicca um modismo, um<br />
sistema mais ou menos organizado de meras superstições ou, ainda, critique o fato<br />
de determinadas pessoas se considerarem verdadeiras bruxas ou bruxos por<br />
simplesmente praticarem certos ritos; rebatendo essas críticas o bruxo Gardner nos<br />
fornece um parágrafo esclarecedor:<br />
“Se esse fosse um critério [o de acreditar em superstições],<br />
uma superstição não é uma crença? Um cristão que acredita em sua<br />
religião, e que, além disso, obtém prazer e conforto realizando seus<br />
ritos religiosos, deixaria de ser um cristão?” (GARDNER, 2003, p.55)<br />
Considerando que cada religião nos fornece seu próprio modo de considerar<br />
e estar no mundo. A literatura wiccaniana reflete toda uma visão característica do<br />
mundo, voltada significativamente para a Natureza, ao respeito a todos os seres<br />
vivos, à responsabilidade pelas próprias ações, etc. Em obra intitulada “Wicca<br />
Essencial” (2006), os autores nos dizem que:<br />
“Para tornar-se seguidor da Wicca são necessárias algumas<br />
mudanças no modo de ser e de agir. Damos a isso o nome de<br />
mudança de paradigma. Os valores e prioridades wiccanianos não<br />
são necessariamente os mesmos da cultura predominante, que no<br />
40<br />
Fonte: http://oqueewicca.blogspot.com/2007/05/diferenas-entre-wicca-paganismo-e.html. Acessado em 22<br />
de maio de 2009.<br />
41<br />
As Religiões pagãs mencionadas foram: a Wicca, o Helenismo, o Druidismo, o Dianismo, o Asatrú,<br />
ou Paganismo Nórdico, o Khemetic e, o mais conhecido, o xamanismo.<br />
42<br />
Segundo a qual o conjunto das coisas pode ser reduzido à unidade.<br />
43 Segundo a qual tudo o que existe é manifestação do Deus/Deusa.<br />
40
mundo de língua inglesa ou portuguesa é predominantemente cristã.”<br />
(DANIELS; TUITÉAN, 2006, p.11)<br />
De forma geral, existem algumas características básicas que podemos<br />
encontrar descritas na maior parte da literatura wiccaniana, são considerações que,<br />
salvo pequenas divergências, constituem consenso entre os autores que escrevem a<br />
respeito; à citar temos: (a) a crença na Lei do Triplo Retorno, ou seja, tudo aquilo<br />
que o praticante fizer (em ação ordinária e/ou em magia) retornará para ele três<br />
vezes; (b) respeito a todos os seres vivos, incluindo seres humanos, animais e<br />
plantas; (c) fazer o que quiser desde que não machuque ninguém, seguindo o<br />
preceito de responsabilidade consigo, com os outros e com a Natureza; e, (d) todos<br />
os wiccanianos concordam que a religião Wicca NÃO é sinônimo de satanismo, pois<br />
satanismo implica uma crença no Cristianismo, já que a idéia de Satã é o referente<br />
ao mal em oposição ao Deus bom dos cristãos. Como os wiccanianos baseiam sua<br />
fé em crenças que seriam anteriores ao cristianismo, eles próprios não acreditam na<br />
idéia de Satã.<br />
É interessante fazer um adendo sobre essa relação que a Wicca tem com o<br />
Cristianismo. Por um lado os autores wiccanianos defendem o não proselitismo e o<br />
respeito indiscriminado às outras pessoas incluindo suas escolhas religiosas. Por<br />
outro lado é comum vermos referências contrapondo os wiccanianos aos cristãos.<br />
Não há desrespeito nem desprezo nessas referências, mas exatamente isso: um<br />
contraponto, como se cristãos e wiccanianos estivessem incorrigivelmente em lados<br />
opostos da mesma balança. Em contrapartida existem muitas idéias erradas, que<br />
perfazem o senso comum, sobre os wiccanianos como considerar que toda a prática<br />
da magia é necessariamente má, ou confundir o Deus Cornífero com a figura do<br />
Demônio ou satã, ou ainda estereotipar o wiccaniano na figura da bruxa feia, entre<br />
outros.<br />
Ainda convém fazer uma outra consideração acerca da luta ou divisão entre o<br />
bem e a mal acima citado no item (d): Margaret Murray (2002, p.14) diz que “a idéia<br />
de dividir o poder do além em dois, um bom e outro mal, pertence a uma religião<br />
avançada. Nos cultos mais primitivos a divindade é ela própria a autora de tudo, seja<br />
bom ou mal” o que incorre numa perspectiva holística da realidade.<br />
A Wicca ainda é conhecida por ser uma religião de mistérios, não só no<br />
sentido de acreditar em “poderes invisíveis” (e como exemplo posso citar a força do<br />
pensamento, a sugestão, clarividência, etc.) que seriam manipuláveis por meio da<br />
magia como também num sentido mais literal onde a Wicca faria questão de manter<br />
seus ritos e identidade dos praticantes em segredo. Gardner justifica esse segredo<br />
em torno da bruxaria que ainda hoje persiste pelo fato de que as bruxas não teriam<br />
41
esquecido o que aconteceu com os seus ancestrais (sejam aqueles ligados por laços<br />
de consangüinidade ou pelo amor à Arte) nos tempos da Inquisição, ele ainda afirma<br />
que os dias de perseguição ainda não terminaram e que, por isso, em muitos lugares<br />
as bruxas ainda preferem manterem-se na marginalidade. 44<br />
Sobre essa questão do mistério alguns dos meus contatos ainda disseram,<br />
simplesmente, que a discrição em torno de suas práticas religiosas é necessária<br />
porque as pessoas ainda nutrem preconceitos, ainda vêem o praticante da bruxaria<br />
como uma pessoa excêntrica, esquisita, no melhor dos casos e de forma mais<br />
extremada, como aquele que pratica deliberadamente o mal través da magia, esta<br />
confundida comumente com magia negra 45 , vodu, etc.<br />
E quanto as(os) bruxas(os), o quê e quem seriam elas(es), afinal? Retiro uma<br />
auto definição do próprio fundador da religião, assim Gardner nos diz que:<br />
“são pessoas que chamam a si mesmas Wica, as „pessoas sábias‟,<br />
que praticam ritos antigos e que, junto com muita superstição e<br />
conhecimento herbal, preservaram um ensinamento oculto e<br />
processos de trabalho que elas próprias pensam ser magia ou<br />
bruxaria. (...) as bruxas tem seus próprios deuses e acreditam que<br />
eles são bons.” (GARDNER, 2003, p.102-104)<br />
Tecendo mais algumas definições pontuais do termo Bruxa(o), temos: (a) é a<br />
invocação ordinária do termo aos quais muitas pessoas fazem uso no cotidiano ao<br />
se referirem à alguém chamando-lhe de bruxa (geralmente no feminino) querendo<br />
dizer que é uma pessoa feia, mal-humorada, etc. Buckland (2003) a esse respeito<br />
nos coloca a questão do arquétipo em torno da imagem da bruxa que seria aquela<br />
mulher feia e má, montada em uma vassoura ou à beira de um caldeirão, adorando<br />
Satã. (b) a palavra “bruxa” também se refere a um termo que teve origem,<br />
provavelmente, na Idade Média e que, referido aos dois sexos, indica aquela pessoa<br />
que é praticante de magia; e, ainda (c) por mais que a maioria dos wiccaniano se<br />
considerem bruxas(os), nem toda bruxa(o) se considera wiccaniano.<br />
3.1 Coven, Bruxaria Hereditária e Bruxaria Solitária<br />
A palavra Coven designa, do latim convenire, estar de comum acordo e/ou<br />
unir-se. Podemos definir um Coven como um grupo de wiccanianos que se reúnem<br />
para estudar sobre a própria religião Wicca ou sobre assuntos correlatos, para<br />
44 GARDNER, 2003, p.106.<br />
45 A popular Wikipédia, uma das enciclopédias virtuais mais consultadas na atualidade pelos adeptos<br />
da Internet, já nos fala: “Os adeptos de práticas de magia negra são denominados popular e<br />
incorretamente como bruxos (...)”. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Magia_negra, acessado em<br />
05/07/2010.<br />
42
praticarem trabalhos de magia, cultuar seus deuses, etc. Daniels e Tuitéan (2003,<br />
p.299) nos dizem que por tradição os covens são formados por até treze membros,<br />
mas esse número pode variar de acordo com a vontade e a necessidade daqueles<br />
que o integram; os mesmos autores ainda nos dizem que a hierarquia interna, as<br />
regras e preceitos bem como o funcionamento geral que será seguido pelo coven<br />
são de escolha do grupo de bruxos e bruxas que o formam.<br />
Gardner afirma a importância de deixar claro o que seriam e o que fazem um<br />
grupo de bruxas:<br />
“a expressão grupo de bruxas é usada em dois sentidos. Primeiro é<br />
um bando que pode ter qualquer número de pessoas iniciadas com<br />
um líder comum, que se reúnem e celebram os ritos. O líder pode ser<br />
um homem ou uma mulher, mas uma Grande Sacerdotisa (que se<br />
pode emprestar de outro grupo, se esse não tiver a sua disponível)<br />
deve estar presente para celebrar os ritos. (...) Em segundo lugar um<br />
grupo de bruxas pode significar as pessoas que celebram os ritos no<br />
círculo. Tradicionalmente, consiste de seis casais perfeitos e um<br />
líder; de preferência, os casais são maridos e esposas, ou ao menos<br />
amigados. Ou seja, eles devem ser amantes, em sintonia um com o<br />
outro, pois é o que dá melhores resultados.” (GARDNER, 2003,<br />
p.111-112)<br />
Já adentrando nas questões de gênero é comum lermos referências<br />
indicando que o ideal da prática dos ritos seja realizá-los em casal. O par não<br />
precisa ser necessariamente o mesmo companheiro da esfera de vida ordinária, mas<br />
é recorrentemente indicado que assim o seja, bem como é comum ler referências de<br />
que o mesmo companheiro da prática mágica acaba tornando-se o companheiro na<br />
“vida real”. Uma explicação possível é que o carinho, respeito e cumplicidade que se<br />
forma durante a prática dos ritos e das mágicas persiste para muito além do espaço<br />
e do tempo do rito.<br />
Voltando à idéia de Coven, outra forma de um coven se formar é quando o<br />
grupo é formado por membros de uma mesma família. Buckland (2003) nos enfatiza<br />
essa prática da bruxaria em família, o que daria seguimento ao que poderíamos<br />
chamar de Bruxaria Hereditária. Diz-se que o bruxo hereditário é aquele que foi<br />
educado na Arte desde muito novo, pois sua família passou de geração para<br />
geração através dos tempos os ensinamentos e crenças pagãs. Como esses grupos<br />
teriam acesso direto a um conhecimento anterior aos ensinamentos lançados<br />
através dos livros de Gerald Gardner, esses grupos também são conhecidos por<br />
tradições pré-gardnerianas.<br />
43
Gardner diz que antigamente muitas das crianças aldeãs eram naturalmente<br />
educadas como bruxas, assim seria um fato que a bruxaria tratava-se de um culto<br />
hereditário. 46<br />
Por outro lado, temos também os adeptos da bruxaria que se dizem solitários;<br />
eles são pessoas que em um momento de sua vida tiveram contato com a Wicca e<br />
acabaram se identificando, daí passaram a buscar mais conhecimentos acerca da<br />
Wicca, através de leitura de livros, internet, etc. Também pode ser um solitário<br />
aquele praticante que, fazendo parte de um grupo acabou por preferir seguir<br />
sozinho. Sobre esse último tipo de bruxo(a) solitário(a) Daniels e Tuitéan (2006, p.<br />
10) nos falam que os “wiccanianos tendem a seguir seu próprio caminho se não<br />
estão satisfeitos com a situação do momento no coven, no grupo ou na comunidade<br />
locais. Por isso a Wicca não é uma religião com fortes laços de coesão.”<br />
3.2 As Tradições<br />
De forma mais geral podemos definir uma tradição como um método<br />
específico de ação, uma atitude e/ou também ensinamentos que são passados de<br />
geração em geração, visando manter algo que é de costume, que especifica uma<br />
cultura ou que mantém os laços de uma comunidade. Na Wicca, o conceito de<br />
tradição tem um significado um pouco diferente, pois uma Tradição (assim mesmo,<br />
com letra maiúscula) é um conjunto específico de rituais, de princípios éticos, de<br />
crenças e até mesmo de instrumentos utilizados nas práticas mágicas. Podemos<br />
dizer de forma um tanto quanto sintética que uma Tradição é um subgrupo<br />
específico dentro da religião Wicca 47 . Cada uma dessas Tradições tenta resgatar, de<br />
certa forma até recriar, os mistérios antigos. Mas o que seriam esses mistérios<br />
antigos? O próprio Gardner (2003) cita Vittorio Macchioro para nos passar essa<br />
idéia, donde os “mistérios antigos” seriam:<br />
“uma forma especial de religião que existia entre todos os povos<br />
antigos e, entre os povos primitivos (...) sua essência é a<br />
palingenesia mística, ou seja, uma regeneração trazida pela<br />
sugestão. Em seu mais perfeito estágio, a palingenesia é uma<br />
verdadeira substituição da personalidade: o homem é investido da<br />
personalidade de um deus, um herói ou um ancestral, repetindo e<br />
reproduzindo os gestos e ações a ele atribuídos pela tradição. (...)<br />
Antigamente, o mistério era uma cerimônia puramente mágica, mas<br />
com o tempo adquiriu conteúdo moral e espiritual.” (GARDNER,<br />
2003, p.81-82)<br />
46 GARDNER, 2003, p.117.<br />
47 Tradições: Principais tipos de Tradições. Círculo Sagrado. Disponível em<br />
http://www.circulosagrado.com/, acessado em 12/03/2009.<br />
44
Existem muitas Tradições wiccanianas, podemos encontrar os ensinamentos<br />
de algumas dispostas em livros, em outras é preciso ser admitido, algumas são mais<br />
abertas, outras mais fechadas preferindo o segredo e o anonimato de seus<br />
membros. As exigências da maioria das Tradições situam-se num ponto<br />
intermediário, ou seja, a pessoa pode entrar em contato com algumas crenças e<br />
práticas, mas em seguida precisa ser aceita no grupo e ser iniciada para aí<br />
prosseguir.<br />
É preciso dizer que algumas Tradições concebem o equilíbrio entre o feminino<br />
e o masculino, outras, no entanto, preferem enfatizar uma delas (geralmente o<br />
feminino, como no caso das tradições Diânicas).<br />
As Tradições citadas nominalmente neste trabalho, ou seja, a Tradição<br />
Gardneriana, a Tradição Diânica e a Tradição Seax Wicca foram assim escolhidas<br />
por estarem de acordo com a literatura por mim analisada. Outras Tradições<br />
existentes que são constantemente mencionadas em sites e cujos ensinamentos<br />
podemos encontrar em livros são: Tradição Alexandrina, fundada por Alex Sanders<br />
na década de 60; Tradição Aridiana e/ou Ariciana, fundada por Raven Grimassi na<br />
década de 80; Tradição Reclaiming, também fundada na década de 80 por Starhawk;<br />
entre outras.<br />
3.3.1 Tradição Diânica<br />
Essa Tradição originariamente foi fundada por Morgan MacFarland em Dallas,<br />
Texas, por volta dos anos 70; possui feição claramente feminista e cultua<br />
privilegiadamente a figura da Deusa em detrimento do Deus. Em geral é composta<br />
só por mulheres, no entanto um dos seguidores mais conhecidos no Brasil é o bruxo<br />
Claudiney Prieto, um dos pioneiro na divulgação da Wicca no território brasileiro.<br />
A maioria dos grupos que atuam sob o signo dessa Tradição atua em causas<br />
políticas, sociais e culturais a favor das mulheres. Os rituais praticados dentro dessa<br />
Tradição estão voltados para a espiritualidade feminina, para a valorização dos<br />
atributos femininos e para o desenvolvimento da auto-estima.<br />
3.3.2 Tradição Gardneriana<br />
Apesar da divulgação em livros, a Tradição fundada por Gerald Gardner é<br />
hoje uma das Tradições mais secretas, voltada para os Mistérios da Arte e para o<br />
desenvolvimento pessoal de seus praticantes. O próprio Gardner comumente<br />
comenta em seus livros que ele só escreveu aquilo que as bruxas o permitiram falar.<br />
45
A Tradição Gardneriana preza pelo caminho Sacerdotal e Iniciático, ou seja,<br />
não admite auto-iniciações e o ensinamento é passado por Graus de aprendizagem<br />
que podem levar até o “posto” de Alta Sacerdotisa ou Alto Sacerdote (em outras<br />
Tradições chamados de Suma Sacerdotisa e Sumo Sacerdote). Essa Tradição é<br />
passada de forma oral e aqui se inclui procedimentos ritualísticos, princípios, leis,<br />
etc. Os iniciados na Tradição Gardneriana servem aos Deuses através de práticas<br />
antigas, com o auxílio espiritual dos ancestrais, e trilham um caminho religioso<br />
calcado na honra tanto à Deusa quanto ao seu Consorte Divino, o Deus Cornífero.<br />
Homens e mulheres são igualmente aceitos nessa Tradição e apesar de algumas<br />
práticas serem mencionadas referidas ao papel da Alta Sacerdotisa, podemos dizer<br />
que existe certo equilíbrio no culto ao Deus e à Deusa.<br />
3.3.3 Tradição Seax Wicca<br />
Também conhecida por Wicca Saxônica, foi fundada por Raymond Buckland<br />
em 1973 quando este se desvinculou da Tradição Gardneriana. A principal diferença<br />
em relação a Tradição Gardneriana é que a Seax Wicca aceita as auto-iniciações<br />
praticadas pelos Bruxos Solitários 48 , sendo esta Tradição precursora na divulgação<br />
dessa “idéia”.<br />
3.2 Crenças e Práticas<br />
A Wicca não possui dogmas indiscutíveis, ela possui sim algumas crenças<br />
que são, por assim dizer, mais gerais e outras crenças que dizem respeito a história<br />
e contexto de cada praticante. Assim também são as práticas na Wicca; enquanto<br />
temos algumas práticas que, parece-me, todas as tradições e bruxos(as)<br />
solitários(as) efetuam, existem outras práticas que estão mais atreladas a costumes,<br />
disponibilidades e necessidades do grupo ou dos praticantes individuais. Daniels e<br />
Tuitéan (2006, p.34) nos dizem pontualmente que a Wicca se baseia em pontos<br />
comuns e que tende a aceitar, “mas não a enfatizar”, as diferenças entre os adeptos.<br />
Para me ater nos limites de meu trabalho citarei aqui apenas algumas das<br />
crenças que de forma mais geral foram mencionadas nos sites e na literatura por<br />
mim analisada.<br />
48 “Os bruxos solitários são aqueles que não participam de nenhum círculo ou coven, uns são<br />
Iniciados de alguma tradição wiccana ou de bruxaria tradicional, e outros não são iniciados em<br />
tradição alguma, mas praticam a bruxaria assim mesmo”, fonte:<br />
http://members.fortunecity.com/entremundos1/coven2.htm, acessado em 19/06/09.<br />
46
Observei ser comum na literatura wiccaniana lermos a respeito das<br />
Summerlands, traduzido do inglês literalmente como “Terras de Verão”. Esse termo<br />
refere-se à crença em um local de passagem, não de permanência, que seria para<br />
onde a alma iria, logo após o corpo morrer na vida terrestre, para poder refletir sobre<br />
esse tempo findo e preparar-se para o tempo vindouro.<br />
Outra idéia que é fundamental para compreendermos a práticas wiccanianas<br />
é a idéia de Roda do Ano que está intrinsecamente ligada aos principais Rituais<br />
Wiccanianos, à saber, os 8 (oito) Sabás, ou Dias Santos Solares, e os Esbás, ou<br />
Dias Santos Lunares 49 , pois são festivais sazonais que refletem o ciclo progressivo<br />
das sociedades agrárias e/ou caçadoras. A Roda do Ano também representa o ciclo<br />
anual da Deusa onde ela passa de Donzela à Mãe e, finalmente, Anciã; assim como<br />
representa o nascimento, casamento, maturação e morte do Deus.<br />
De caráter mais geral circula na Internet, e é referido em diversos sites<br />
wiccanianos, a existência de uma lista de Leis da Arte adaptadas por Wanderley<br />
Mayhé Jr. 50 e que originariamente fariam parte de um livro intitulado Llyfr y<br />
Doethineb (ou o Livro da Sabedoria). Esse livro possuiria diversas variações e,<br />
sendo de origem céltica, teria sobrevivido ao longo dos séculos como registro de<br />
uma série de Leis Wiccans cujo bruxo ou bruxa que segue o caminho da Arte<br />
deveria seguir. Podemos considerar alguns aspectos pertinentes no que tange às<br />
referências de gênero nessas Leis Wiccans conforme adaptadas e extraídas do livro<br />
por Mayhé. A grande maioria dos incisos faz referência aos Deuses e as Deusas<br />
concomitantemente, porém o inciso XII nomeia a deusa Arádia como Deusa<br />
Suprema; fica também a cargo dessa Grande Deusa infringir castigos aos adeptos<br />
que incorrerem em faltas com o Círculo e a Arte.<br />
Ainda segundo este texto acima citado os trabalhos no grupo devem ser<br />
presididos por uma Suma Sacerdotisa auxiliada sempre por um Sumo Sacerdote<br />
cuja escolha deste recai sob a responsabilidade da Suma Sacerdotisa. Ambos são<br />
representantes dos Deuses e Deusas. Em tempo hábil deve haver um Conselho dos<br />
adeptos para definir uma nova Suma Sacerdotisa (mais jovem) para assumir o lugar<br />
da velha que deverá de bom grado ceder seu posto a sucessão 51 . Aqui vemos que a<br />
figura tanto da Deusa quanto da Suma Sacerdotisa assumem posição superior em<br />
49 Estes Ritos serão detalhados adiante.<br />
50 Leis Wiccans. Texto Completo e Tradicional das Ordenações Célticas. Adaptação do Livro da<br />
Sabedoria de Wanderley Mayhé Jr. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/11543694/Caminho-de-<br />
Wicca-Leis-Wiccans, acessado em 13 de setembro de 2009.<br />
51 “XVIII – E por compensação de seu ato, ela voltará a esta posição de Suma Sacerdotisa numa vida<br />
futura, com poder e suprema beleza, sempre aumentados, pois assim é a prescrição da lei.”<br />
47
elação a alguma referência masculina, em termos de um Deus ou de um Sumo<br />
Sacerdote.<br />
Uma prática comum e citada em praticamente toda a literatura wiccaniana é a<br />
confecção de um Livro das Sombras que nada mais seria do que uma mistura de<br />
diário, caderno de receitas (de magias ou mesmo de bolos que são preparados para<br />
serem comidos e oferecidos às divindades durante os rituais) e enciclopédia pessoal<br />
que registra o conhecimento adquirido ao longo do tempo na prática da bruxaria.<br />
Outro ponto de vital importância para entendimento do que se passa em um<br />
grupo de bruxas e bruxos instituídos gira em torno do que convenientemente<br />
chamamos de Iniciação. A iniciação se dá depois que o interessado na Wicca após<br />
ler, informar-se, estruturar algum conhecimento sobre essa religião, opta por seguir<br />
nesse caminho; nesse caso faz-se uma cerimônia no grupo simbolizando que o<br />
interessado tornar-se-á adepto e passará a um grau mais elevado de entendimento<br />
e prática da Wicca.<br />
A Iniciação exige um ritual no qual é dada uma confirmação pelo iniciador(a),<br />
pelas testemunhas e pelo Deus e a Deusa ao adepto que assume uma<br />
responsabilidade perante si próprio, o grupo e as divindades. A maioria das<br />
iniciações wiccanianas contém os mesmo elementos que são designados por uma<br />
espécie de desafio simbólico, um juramento, a transmissão do conhecimento e uma<br />
morte e renascimento também simbólicos.<br />
Aproveito aqui para mencionar a idéia de Grau na Wicca que corresponde aos<br />
níveis de iniciação. A maioria das Tradições possui três níveis de iniciação e<br />
estabelecem um tempo e/ou uma condição para que a pessoa ascenda de nível.<br />
Segundo a Tradição Eclética, que informa o que é básico à maioria dos praticantes,<br />
tradicionalmente para a Primeira Iniciação que “transformará” o adepto em um<br />
bruxo(a) de Primeiro Grau, este precisará estudar um ano e um dia sobre a Wicca e<br />
a Tradição à qual pretende fazer parte. Para tornar-se um bruxo(a) de Segundo Grau<br />
será preciso mais um ano e um dia de estudos, o que tornará o bruxo(a) mais capaz<br />
e proficiente no conhecimento e na prática da bruxaria. O bruxo(a) que pretende<br />
chegar ao Terceiro Grau estudará com afinco pelo menos mais um ano e um dia e<br />
ascenderá então ao nível de Sumo Sacerdote ou Suma Sacerdotisa do grupo.<br />
Lembro que esses Graus podem tanto receber nomes específicos em diferentes<br />
Tradições quanto estabelecer critérios diferentes de ascensão; citei dessa forma<br />
porque foram esses os dados obtidos na literatura lida para este trabalho.<br />
3.2.4 Círculo Mágico<br />
48
Visto que quase não existem Igrejas wiccanianas ou espaços específicos para<br />
o culto e prática religiosa e, por ser a religião Wicca voltada, sobretudo, à natureza, o<br />
local de prática dos ritos wiccanianos tende a ser a própria Natureza – quando<br />
possível. Como hoje em dia a maioria dos adeptos da religião mora em grandes<br />
cidades o que acontece mais comumente é a prática num cômodo da própria casa<br />
(ou apartamento) do adepto. Porém é preciso fazer algum tipo de distinção entre o<br />
espaço ordinário e o espaço sagrado, para isso os wiccanianos utilizam-se do<br />
lançamento do círculo. O lançamento do círculo nada mais é do que<br />
consagrar/delimitar uma determinada área para uma prática religiosa, seja ela<br />
simples oração, celebração de um evento específico ou um trabalho de magia.<br />
Assim, resumindo, o Círculo serve para delimitar a área do Espaço Sagrado.<br />
Algumas tradições exigem que o Círculo tenha um tamanho específico de diâmetro<br />
ou ainda seja marcado no chão com giz ou outro material visível, outras tradições<br />
fazem o Círculo de acordo com o espaço e as necessidades do momento.<br />
Segundo a maioria das Tradições o Círculo é concluído através de 10 (dez)<br />
etapas. Resumidamente são: 1. Traçar, mental ou materialmente, a área que será<br />
utilizada; 2. Purificar essa área livrando-a de energias negativas; 3. Convocar os<br />
quadrantes, o que significa convidar as entidades guardiãs (referidas pelos 4 [quatro]<br />
pontos cardeais e elementos terra, fogo, ar e água) para que protejam o círculo; 4.<br />
Confirmar o círculo indicando que ele está pronto e apto para ser usado; 5. Invocar o<br />
Deus e a Deusa; 6. A Ação propriamente dita (celebrar um Sabá, uma oração de<br />
agradecimento ou de pedido de cura, etc.); 7. Dispensar os Deuses, onde se conclui<br />
a evocação; 8. Dispensar os quadrantes; 9. Recolher o círculo onde se devolve a<br />
origem as energias invocadas; e, 10. Abrir o círculo terminando a celebração.<br />
Gardner (2003, p.49) nos diz que imagina “que certas práticas, tais como o<br />
uso do círculo para segurar o poder, foram invenções locais, derivadas do uso do<br />
círculo druídico ou pré-druídico”. De qualquer forma os wiccanianos concordam que<br />
o Círculo mágico é o lugar mais seguro para o praticante comungar com os deuses<br />
e/ou praticar sua magia, pois é o espaço onde o bruxo(a) está “num lugar sem lugar<br />
e num tempo sem tempo, pois está entre o mundo e além deles”. 52<br />
3.2.5 Magia<br />
Do grego magikos, o termo magia pode ser definido como o uso controlado da<br />
vontade para produzir uma mudança, seja no ambiente, em uma circunstância ou<br />
52 DANIELS; TUITÉAN, 2006, p.296.<br />
49
até mesmo para influenciar o pensamento e ação de uma pessoa. Embora nem<br />
todos os wiccanianos a pratiquem, a magia é um componente da religião Wicca.<br />
Segundo Luciane Munhoz de Omena (2009) em artigo na Revista Caderno<br />
Espaço Feminino:<br />
“a concepção mágica do universo faz uso de leis de<br />
aplicação universal e não se limita às coisas humanas. A<br />
religião se separa da magia, pois aquela responde pela crença<br />
em seres sobrenaturais, os quais regem conscientemente o<br />
mundo de acordo com sua persuasão. (...) A prática mágica é<br />
uma intervenção humana no cotidiano.” (OMENA, p.102)<br />
Na Wicca não existe propriamente essa separação mencionada por Omena,<br />
pois a prática mágica é uma constante e perfaz o próprio ritual religioso.<br />
Os antigos cultos pagãos eram baseados na magia denominada simples,<br />
imitativa ou, ainda, simpática; um exemplo de um ato mágico realizado visando a<br />
resultados específicos pode ser encontrado em Raymond Buckland (2003, p.46)<br />
quando nos conta que na época das plantações, era costume nos campos da velha<br />
Inglaterra que o fazendeiro e sua esposa praticassem o intercurso ritualístico para<br />
garantir a fertilidade da colheita; na época dos primeiros brotos montavam em<br />
vassouras e davam pulos altos indicando o tamanho que as plantas deveriam<br />
crescer.<br />
Gardner (2003, p.133) aponta ainda que numa “operação mágica de sucesso<br />
um dos estímulos mais fortes é o fator emocional”, por isso nenhuma mágica deve<br />
ser realizada visando um objetivo banal, o bruxo(a) deve estar consciente tanto da<br />
necessidade quanto da responsabilidade que a manipulação mágica implica.<br />
3.4 Divindades<br />
Primordialmente a Deusa surgiu sozinha, porém, mais tarde surge como seu<br />
filho e consorte a figura do Deus Cornudo 53 (a exemplo do deus romano agropastoril<br />
Pã). Invocando a representação da Roda do Ano, este Deus morre todo ano numa<br />
espécie de morte ritual que encarna o ciclo natural de nascimento (solstício de<br />
inverno), vida, morte (solstício de verão) e renascimento enquanto a Deusa passa de<br />
Donzela à Mãe e, finalmente, Anciã.<br />
53 Porque um Deus Cornudo? Segundo Pellizzari, nesse tempo primordial, “os animais considerados<br />
mais valiosos, cujo abate cobria de honras aquele que o realizava, eram animais que possuíam<br />
chifres, como cervos e bisões. Assim, tomou forma na mente do ser humano primitivo a idéia de um<br />
Deus das Caçadas, dotado de chifres, símbolo de seu poder.” Disponível em<br />
http://luanegra.no.sapo.pt/historia_bruxaria.htm, acessado em 12/06/09.<br />
50
O Deus da Caça dos tempos longínquos dos cultos pagãos era uma figura de<br />
muita relevância, pois se acreditava que era a sua generosidade que garantiria o<br />
sucesso nas caçadas, atividade essencial para a subsistência do grupo nos períodos<br />
frios entre colheitas. Freqüentemente ele era representado com chifres, daí a<br />
nomenclatura até hoje utilizada para referis-se a ele: Deus Cornífero.<br />
Figura 01 – O Deus Cornífero. Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006,<br />
p.240.<br />
Outro fato que decorre da relevância da Roda do Ano é que, geralmente, no<br />
verão procura-se dar ênfase ao papel da Deusa como símbolo da plantação, da<br />
fertilidade e da reprodução, enquanto no inverno focalizam-se no Deus,<br />
simbolizando o período de caça quando cessa o período da plantação, assim<br />
mantêm-se a harmonia entre as energias complementares das divindades.<br />
Buckland (2003, p.28) reitera que “em toda parte na natureza estão ambos o<br />
masculino e o feminino, tanto no reino animal quanto no vegetal. Parece, portanto,<br />
natural que as divindades sejam tanto masculinas quanto femininas”. No entanto,<br />
Buckland nos conta que com a gradativa importância da agricultura, a caça passou a<br />
ser atividade concomitante à agricultura (e não mais atividade exclusiva) para o<br />
sustento do grupo, seguindo-se aí as possibilidades das estações do ano; com isso<br />
surge a tese de que com a agricultura substituindo a caça em importância para o<br />
grupo, esse seria o fator explicativo para a emergência da relevância da deusa nos<br />
cultos pagãos subseqüentes. Assim, se por um lado temos o Deus representando a<br />
subsistência da caça, temos também a figura da Grande Mãe como figura máxima<br />
da fertilidade que garantia não só a reprodução do clã como também sua adoração<br />
garantiria a abundância nas colheitas.<br />
51
O mitólogo Joseph Campbell (1990) fortalece essa idéia acima exposta<br />
quando nos fala que a veneração a uma entidade predominantemente feminina está<br />
associada à agricultura e às sociedades agrárias, pois está ligada à terra. Nas<br />
palavras de Campbell:<br />
“A mulher dá à luz, assim como da terra se originam as plantas.<br />
A mãe alimenta como fazem as plantas. Assim, a magia da mãe e a<br />
magia da terra são a mesma coisa. Relacionam-se. A personificação<br />
da energia que dá origem às formas e as alimenta é essencialmente<br />
feminina. A deusa é figura mítica dominante no mundo agrário da<br />
antiga Mesopotâmia, do Egito e dos primitivos sistemas de cultura do<br />
plantio. (...) O feminino representa o que, em termos kantianos,<br />
chamamos de formas da sensibilidade. Ela é espaço e tempo, e o<br />
mistério para além dela é o mistério para além de todos os pares de<br />
opostos. Assim, não é masculina nem feminina. Nem é, nem deixa<br />
de ser. Mas tudo está dentro dela (...).” (pg.184-5)<br />
Se seguirmos esse pensamento de Campbell perceberemos que a figura da<br />
Deusa, além de complementar à figura do Deus, é neutra o que inverte toda uma<br />
ordem discursiva que vige no ocidente moderno desde há muito tempo atrás. Se<br />
pararmos para pensar, no nosso cotidiano moderno, o neutro tende a ser o<br />
masculino.<br />
A Wicca, não raras vezes, costuma conceder à Deusa um papel<br />
preponderante, quer nas práticas ou mitos, criando assim o seu principal símbolo e<br />
mostrando a sua importância fundamental quer para as mulheres quer para os<br />
homens 54 . A escritora e bruxa wiccaniana Gerina Dunwich também reitera a<br />
preponderância do feminino na Wicca e nos fala de um consenso entre os<br />
praticantes da Wicca acerca do fato da divindade costumar manifestar-se sob a<br />
forma feminina 55 .<br />
Outra escritora e bruxa, engajada com o movimento feminista nos fala:<br />
"A importância do símbolo da Deusa para as mulheres não<br />
pode ser subestimada. A imagem da Deusa inspira-nos, mulheres,<br />
para que nos olhemos como divinas (...). Através da Deusa, (...)<br />
podemos passar para além das vidas estreitas e constrangidas e<br />
tornar-nos completas. A Deusa também é importante para os<br />
homens. A opressão dos homens no patriarcado governado por Deus<br />
- Pai é talvez menos óbvia, mas não menos trágica que a das<br />
mulheres. Os homens são encorajados a identificarem-se com um<br />
modelo que nenhum ser humano pode emular com sucesso: a serem<br />
mini-governantes de estreitos universos. Nos países protestantes<br />
onde dificilmente há lugar para a expressão dos valores femininos e<br />
54<br />
Valores Matrifocais. Disponível em http://marged.vilabol.uol.com.br/bruxas.html, acessado em<br />
18/06/09.<br />
55<br />
Wicca – A Feitiçaria Moderna. GERINA DUNWICH. p.2, disponível em:<br />
http://www.4shared.com/file/35913672/2055f6fe/Books_-_Wicca_A__Feitiaria_Mod.html?s=1, acessado em<br />
25/11/09.<br />
52
onde não existe qualquer figura feminina com caráter sagrado, esta<br />
perspectiva matrifocal da Wicca, contribui para a sua divulgação<br />
tanto junto dos homens como das mulheres. Segundo a „Wiccan<br />
Rede‟ holandesa muita gente é atraída pelo papel da mulher na Arte.<br />
Claro que as mulheres saúdam a oportunidade de se envolverem<br />
ativamente num movimento espiritual - e os homens vêem a Arte<br />
como uma oportunidade excelente para exprimirem a sua<br />
feminilidade". (STARHAWK. A Dança Cósmica das Feiticeiras.<br />
Capítulo 1. Disponível em: http://www.easyshare.com/1908089815/1908089815,<br />
acessado em 11/07/2010)<br />
Nesse sentido creio que essa preponderância ao feminino e à Deusa,<br />
principalmente nas Tradições Diânicas e na Tradição Reclaiming, podem ser uma<br />
forma de chamar a atenção para a necessidade de repensarmos as desigualdades<br />
persistentes entre as concepções do sexo e do gênero existentes ainda hoje nas<br />
mais diversas sociedades e culturas, principalmente em termos de religiosidade.<br />
Campbell afirma que a Deusa foi uma figura poderosa na cultura helenística<br />
do mediterrâneo e que retornou na tradição católica romana na figura da Virgem,<br />
mas s figura cultuada da Virgem cristã é muito diferente da Deusa wiccaniana, pois a<br />
Deusa na Wicca é uma figura bela que pode assumir a sua sexualidade livremente,<br />
pois é natural que, para que haja a fertilização que frutifica, haja tanto a sedução<br />
quanto o intercurso.<br />
Bostulim cita uma interessante cronologia mítica em sua Dissertação de<br />
Mestrado, (2007, p.35) donde a história humana dividir-se-ia em quatro fases<br />
distintas, a saber: uma deusa cria o mundo; um casal de deuses cria o mundo; um<br />
deus macho usurpa o poder da deusa; um deus macho cria o mundo. Nesse sentido<br />
a Wicca forneceria atualmente a possibilidade de resgate dos valores femininos que<br />
foram inferiorizados e renegados com a usurpação da cosmologia fornecida por um<br />
modelo cristão misógino ocidental.<br />
3.5 Praticantes<br />
De forma geral a literatura wiccaniana possibilita uma grande liberdade aos<br />
praticantes em termos de diversos níveis de escolha, isso me levou a acreditar,<br />
prematuramente, que não haveria nessa religião uma forte tendência<br />
heteronormativa. No entanto, uma leitura mais atenta me mostrou o contrário e, se<br />
por uma lado, existe a indicação de acolhimento à diversidade, inclusive no tocante<br />
a diversidade sexual, por outro lado encontrei diversas referências que<br />
explicitamente indicam o caráter tradicional na concepção do gênero e da<br />
sexualidade na Wicca. Por exemplo, gostaria de citar uma afirmação de Daniels e<br />
53
Tuitéan (2006, p.11) onde dizem que “de maneira geral, os casais wiccanianos ainda<br />
são heterossexuais, monógamos e mantém vínculos matrimoniais legais.”<br />
Outro dado relevante é que em correspondências com alguns praticantes da<br />
Wicca percebi uma boa abertura quanto ao acolhimento a homossexuais, porém<br />
achei um parágrafo extremamente paradoxal na obra de Gardner que aqui<br />
reproduzo:<br />
“As bruxas ensinam que para trabalhar com magia é preciso<br />
começar com um casal, pois é necessária uma inteligência masculina<br />
e feminina; eles devem estar em sintonia um com o outro; e elas<br />
acreditam que durante a prática eles gostam um do outro. Algumas<br />
vezes é indesejável que eles possam apaixonar-se. As bruxas têm<br />
métodos com os quais tentam evitá-lo, mas nem sempre têm<br />
sucesso. Por essas razões, segundo elas, a deusa proibiu<br />
estritamente um homem ser iniciado ou trabalhar com outro homem,<br />
ou uma mulher ser iniciada ou trabalhar com outra mulher; sendo as<br />
únicas exceções um pai que inicia um filho e a mãe, a filha, dito isso<br />
a maldição da deusa pode cair sobre aquele que quebrar essa lei.”<br />
(GARDNER, 2003, p.74)<br />
O que conclui disso é que pode existir uma verdadeira dissonância entre a<br />
literatura e a realidade dos praticantes. Deixo essa consideração em aberto visto que<br />
não me aprofundei em investigar a prática dos wiccanianos “fora da literatura”. Em<br />
relação à minha leitura, o que posso inferir analiticamente é que, apesar da<br />
valoração do feminino ser evidente na Wicca, o que inverti as relações de poder que<br />
tradicionalmente observamos em grande parte do cotidiano, fundamentalmente no<br />
que tange à realidade religiosa do ocidente, o que observamos é uma absoluta<br />
separação complementar das qualidades e características vinculadas ao gênero<br />
dentro da Wicca.<br />
Quando falamos em praticante é fundamental explicarmos a idéia de Suma<br />
Sacerdotisa e Sumo Sacerdote dentro da religião. A Suma Sacerdotisa vem a ser<br />
uma iniciada de Terceiro Grau, é a mulher que dirige o coven nos ritos sagrados,<br />
sendo geralmente a pessoa a quem é atribuída autoridade máxima dentro do grupo.<br />
Ao seu lado, e dependendo da Tradição pode exercer igual autoridade ou ser inferior<br />
a ela (porém nunca seu superior), temos a figura do Sumo Sacerdote. O Sumo<br />
Sacerdote é um iniciado também de Terceiro Grau que dirige o coven juntamente<br />
com a Suma Sacerdotisa, porém nem todos os Covens possuem um Sumo<br />
Sacerdote.<br />
54
Figura 02 – Suma Sacerdotiza e Sumo Sacerdote praticando um rito.<br />
Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006, p.317.<br />
Em relação à execução das funções do Sumo Sacerdote e da Suma<br />
Sacerdotisa na grande maioria das vezes os autores da literatura wiccaniana<br />
indicam alguma referência de gênero. No entanto, outras tradições, como a Tradição<br />
Eclética, explicitam que a competência para a realização dessas funções não<br />
dependem do sexo da pessoa:<br />
“O que uma Suma Sacerdotisa, um Sumo Sacerdote, um<br />
Sacerdote Assistente, ou uma Sacerdotisa Assistente é, no que diz<br />
respeito às hierarquias das várias Tradições, compete as práticas<br />
exclusivas de cada Tradição (...). (...) porque essas são descrições<br />
de tarefas e porque somos uma religião de igualdade, é<br />
definitivamente irrelevante o sexo da pessoa ao executar essas<br />
atividades.” (DANIELS e TUITÉAN, p.103)<br />
Outra representação significativa que podemos observar se dá quando a<br />
Grande Sacerdotisa, no rito, seja ele qual for, abre os braços na posição do<br />
Pentáculo (semelhante ao homem vitruviano de da Vinci, nesta posição ela está<br />
representando a Deusa e/ou o poder da regeneração 56 , da ressurreição. Quando a<br />
Grande Sacerdotisa quer representar o Deus, ou invocar os poderes masculinos ela<br />
fica em pé com os braços cruzados sob o peito, assim a cabeça marca o ápice de<br />
um triângulo enquanto as duas pontas dos cotovelos marcam os pontos extremos da<br />
horizontal, esta seria uma posição semelhante à de Osíris, conta-nos Gardner 57 , e<br />
representa o Deus e a Morte.<br />
Gardner nos diz ainda que:<br />
56 GARDNER, 2003, p.80.<br />
57 GARDNER, 2003, p.128.<br />
“As bruxas acreditam que, ao representar um papel, você<br />
realmente assume a natureza da coisa imitada.(...) Representando o<br />
papel da deusa, a sacerdotisa estaria em comunhão com ela; da<br />
mesma maneira o sacerdote, agindo como o deus, torna-se um com<br />
55
3.6 Os Ritos<br />
ele em seu aspecto de Morte, o Consolador, o Confortador, o<br />
portador de uma pós-vida feliz e da regeneração. O iniciado, ao se<br />
submeter às experiências dos deuses, vira um bruxo.” (GARDNER,<br />
2003, p.137-8)<br />
Podemos definir um ritual por ser uma cerimônia, uma celebração que visa<br />
aproximar o ordinário do sagrado a fim de obter um favor dos deuses ou encaminhar<br />
uma prece ou agradecimento. O mitólogo Joseph Campbell (1990, p.198), bem<br />
sucintamente, define o ritual como a encenação de um mito.<br />
De uma forma geral, me parece que é através do rito que a religião reformula o<br />
próprio cotidiano. É também através da dinâmica ritualística que o homem distancia-<br />
se do quotidiano, do profano e passa a operar numa realidade metafísica.<br />
O antropólogo Clifford Geertz (1989, p.82) nos conta que “num ritual, o mundo<br />
vivido e o mundo imaginado fundem-se sob a mediação de um único conjunto de<br />
formas simbólicas, tornando-se um mundo único e produzindo aquela transformação<br />
idiossincrática no sentido da realidade”.<br />
Há alguns componentes rituais os quais gostaria de chamar a atenção. Como<br />
um rito transcende o ordinário é comum vermos referências sobre a vestimenta<br />
adequada para a realização de um rito. Nos rituais wiccanianos os praticantes<br />
podem estar vestidos com um manto ritualístico ou até mesmo uma roupa comum,<br />
mas que seja específica para estas ocasiões para manter a divisão necessária entre<br />
o sagrado e o ordinário; ainda podem estar “vestidos de céu”, que seria a nudez<br />
ritualística indicando que o praticante está sob proteção das deidades e da<br />
Natureza. A nudez na Wicca é vista de uma forma muito natural e só fica nu aquele<br />
que assim decide, nunca por imposição.<br />
Outro fator comumente citado é o valor da ação rítmica, do canto, e também<br />
da dança. Gardner (2003, p.19) chama a atenção para o fato de que entre os povos<br />
primitivos a dança ter sido a forma usual de expressão religiosa e que “na tradição<br />
das bruxas, ela era necessária preliminarmente ao clímax do sabá, para produzir<br />
poder; além disso, outros objetivos eram trazer alegria e expressar a beleza”.<br />
E ele segue:<br />
“Nos velhos bons tempos, quando você se afastava um<br />
quilometro da aldeia, podia ter certeza de que não estava sendo<br />
espionado, pois todos os que não eram do ofício se apavoravam com<br />
o escuro, de forma que era possível realizar as antigas danças, com<br />
muita música, gritos agudos, cantar e fazer todo o barulho que se<br />
quisesse. Mas hoje em dia precisamos trabalhar em pequenas salas,<br />
em que não se pode fazer nenhum barulhinho sem que os vizinhos<br />
56
eclamem. O resultado é que as velhas danças estão sendo<br />
esquecidas. A dança do círculo pode ser mantida, desde que se<br />
dance em silêncio, mas os chamados – longos gritos agudos, que<br />
vibram e produzem terror – não podem ser usados. A espiral ou<br />
dança do encontro é realizada às vezes, se houver espaço. É uma<br />
espécie de dança „siga o líder‟, sendo normalmente a sacerdotisa a<br />
liderar, dançando no sentido horário em uma espiral em direção ao<br />
centro e virando-se de repente para desenrolar a espiral. Quando faz<br />
isso, beija cada homem com quem encontra e as outras mulheres<br />
fazem o mesmo. Elas dizem que se chama dança do encontro<br />
porque antigamente as pessoas vinham de lugares distantes e não<br />
se conheciam e isso era feito para que se apresentasse.”<br />
(GARDNER, 2003, p.135)<br />
Enquanto o culto pessoal pode tomar qualquer tipo de forma, um grupo de<br />
pessoas que cultuam juntas necessita de algum tipo de ritual, é por isso que cada<br />
tradição costuma “montar” o seus ritos com elementos que digam respeito<br />
diretamente ao grupo.<br />
3.6.1 Os Sabás<br />
Os Sabás definem-se em oito grandes festivais que acompanham o ciclo<br />
sazonal (ou Roda do Ano) da Natureza, mais especificamente, acompanham os<br />
grandes festivais do sol que, por sua vez, é a representação máxima do Deus e dos<br />
aspectos do masculino ligados a ele. Mas não é só ao Deus que os Sabás se<br />
referem, pois como o conceito de Gênero, que é relacional, os próprios Sabás<br />
contam a estória mítica do Deus e da Deusa em sua relação e complemento. As<br />
Tradições wiccanianas variam bastante na prática de seus mitos, muito dessa<br />
variação se deve ao contexto cultural específico de cada Tradição, como por<br />
exemplo, Célticas, Diânicas, Alexandrinas entre outras.<br />
Gardner nos afirma que:<br />
Quadro Sinóptico dos Sabás<br />
Hemisfério Sul<br />
“os dois festivais de verão são em honra da deusa, em que ela tem a<br />
prioridade, e os dois de inverno são aqueles em que o deus tem a<br />
prioridade. Na prática, parece-me que no verão a deusa tem a<br />
prioridade, montada em uma vassoura (ou algo semelhante) à frente<br />
do deus, se ele estiver presente; porém no inverno ele não é superior<br />
a ela, mas apena um seu igual; ambos correm lado a lado. Claro que<br />
é verdade que no verão as orações principais se dirigem à deusa,<br />
enquanto que no inverno é principalmente o deus que recebe as<br />
orações.” (GARDNER, 2003, p.125)<br />
Sabás – Roda do Ano<br />
1° de maio – Samhain<br />
21/22 de junho – Yule (Solstício de Inverno)<br />
57
Hemisfério Norte<br />
1° de agosto – Candlemas (ou Imbolg)<br />
21/22 de março – Mabon (Equinócio de<br />
Outono)<br />
21/22 de setembro – Eostre ou Ostara<br />
(Equinócio da Primavera)<br />
31 de Outubro – Beltane<br />
21/22 de dezembro – Litha (Solstício de<br />
Verão)<br />
2 de fevereiro – Lammas (ou Lughnashad)<br />
31 de outubro – Samhain (Halloween)<br />
21/22 de dezembro – Yule (Solstício de<br />
Inverno)<br />
2 de fevereiro – Candlemas (ou Imbolg)<br />
21/22 de março – Eostre ou Ostara<br />
(Equinócio da Primavera)<br />
1° de maio – Beltane<br />
21/22 de junho – Litha (Solstício de Verão)<br />
1° de agosto – Lammas (ou Lughnashad)<br />
21/22 de setembro – Mabon (Equinócio de<br />
Outono)<br />
Os Sabás (e também os Esbás) podem ser analisados em três níveis.<br />
Primeiro, constituem os períodos de culto religioso aos quais os wiccanianos se<br />
encontram com a Deusa e o Deus. Segundo, esses dias de poder são também<br />
períodos excelentes para a prática da magia e isso é feito com o auxílio das<br />
deidades. Finalmente são também celebrações, períodos propícios para risos,<br />
conversas e festividades, momentos privilegiados de socialização.<br />
Levando em consideração o ciclo de vivência e relação do Deus com a<br />
Deusa, podemos interpretar os Sabás da seguinte forma:<br />
O Samhaim é considerado o mais importante dos rituais wiccanianos, pois<br />
representa ao mesmo tempo o encerramento de um Ciclo e o início de outro. Nessa<br />
58
noite “o Deus Velho morre e volta ao País de Verão para esperar por seu<br />
renascimento em Yule. A Deusa em seu aspecto de Anciã lamenta a perda de seu<br />
Consorte” (PRIETO, p.132) e passará por um período de meditação e interiorização.<br />
A Natureza se recolhe com a proximidade do inverno. Esse festival também está<br />
ligado a antigos festivais de caça.<br />
O Sabá seguinte denomina-se Yule, celebramos, então, o nascimento do<br />
Deus, pois a partir desse dia as noites ficarão mais curtas e o dia mais longo,<br />
proporcionando um crescimento progressivo do astro Sol (ou seja, simbolicamente, o<br />
Deus). Na seqüência temos a comemoração de Candlemas (ou Imbolc) que<br />
demarca o período no qual celebramos a recuperação da Deusa Mãe após dar a luz<br />
ao Deus (nota-se que o Deus representa tanto seu filho como seu consorte) que,<br />
renascido da Deusa começa a aquecer a terra. Assim sendo é considerado um<br />
festival de purificação e de reverência pela renovada fertilidade da Terra. A palavra<br />
Imbolc quer dizer "no leite" o que caracteriza a utilização desse elemento no ritual 58 .<br />
O Equinócio da Primavera (Eostre ou Ostara) nos remete ao período de<br />
despertar da Natureza, ou em outras palavras, da Deusa no seu aspecto terrestre.<br />
Assim percebe-se que enquanto o sol aumenta em poder e calor, ou seja, o Deus<br />
amadurece, a Deusa também vai passando do seu aspecto donzela à maturidade,<br />
ambos florescem juntos para culminar no encontro de fertilidade que representa o<br />
próximo festival, a saber, Beltane, onde o jovem Deus ingressa na maturidade. Ele e<br />
a Deusa, sua mãe e amante apaixonam-se e se unirão para produzirem a fartura da<br />
natureza. De acordo com os princípios wiccanianos podemos entender a figura da<br />
Deusa e do Deus como duas metades, dois complementos de uma realidade maior e<br />
é essa complementaridade 59 , sem o sentido de oposição ou hierarquia e dominação<br />
que contrasta tanto com nossa criação ocidental baseada no patriarcado.<br />
Voltando ao Beltame, lembrei-me de James Frazer em “O Ramo de Ouro”<br />
(1982, p. 32) onde ele nos remete ao fato de como o povo pastoril pautava sua vida<br />
na dependência da manutenção dos rebanhos que eram levados aos campos nos<br />
festivais de Beltane, ou no início do verão, e trazidos de volta aos currais nos<br />
festivais de Samhain, início do inverno.<br />
Seguindo a Roda do Ano temos a comemoração de Litha, onde as forças da<br />
natureza criadas pela união do Deus (Sol) e da Deusa (Terra) atingem o seu ponto<br />
58 A Roda do Ano, Tradição Dragões de Avalon, disponível em<br />
http://www.dragoesdeavalon.org/index2.htm, acessado em 19/06/09.<br />
59 Ao menos em grande parte das Tradições, citações em textos, sites e praticantes da Wicca com os<br />
quais mantive contato. Não confundir, porém o sentido de complemento com a questão da<br />
dominação. Adiante cito exemplos onde a figura da Deusa prevalece ao Deus, mas não<br />
necessariamente dominando-o, pois ainda assim quando este surge, surge como valores<br />
complementais e necessários aos valores expressos pela Deusa.<br />
59
máximo. É um ritual marcado pela presença do fogo. A Partir daí temos o declínio do<br />
Sol (Deus).<br />
Lammas (ou Lughnassad) marca a primeira colheita. O Deus enfraquece<br />
enquanto os primeiros grãos e frutas são colhidos. Aqui se agradece aos Deuses<br />
pelo alimento que a Terra despendeu. Finalmente Mabon marca a segunda colheita<br />
e o declínio do Deus que se prepara para abandonar a vida enquanto os últimos<br />
frutos são colhidos para alimentar os povos da Terra. Assim, o calor diminui<br />
gradativamente e a Deusa já vai despedindo-se de seu consorte.<br />
3.6.2 Os Esbás<br />
Os Esbás não possuem um número determinado para ocorrer, pois variam de<br />
acordo com a determinação de cada Tradição ou praticante solitário. Trocando em<br />
miúdos são denominados Esbás as reuniões mensais de um coven ou círculo, ou<br />
ainda a prática solitária, que comumente são realizados no primeiro dia de lua cheia<br />
ou nova de cada mês. Assim percebemos que essas reuniões seguem os ciclos<br />
lunares, pois objetivam venerar a Deusa no seu triplo aspecto: virgem ou donzela<br />
(lua crescente), mãe (lua cheia) e velha ou anciã (lua minguante).<br />
Figura 03 – A Deusa Donzela, Mãe e Anciã. Fonte: DANIELS;<br />
TUITÉAN, 2006. p.52.<br />
Notem que enquanto os Sabás acompanham o ritmo do sol, ou seja, o Deus,<br />
os Esbás são característicos na veneração a Deusa Mãe e todos os aspectos do<br />
feminino ligados a ela.<br />
3.8. O Altar e os Instrumentos<br />
O altar é o centro de realização de todo rito sagrado praticado na Wicca. Ele<br />
representa o local onde se presta o respeito e a adoração às divindades, assim<br />
como também é o local das oferendas e sacrifícios; sacrifício esse, devo ressaltar,<br />
60
em sentido figurado, pois a Wicca é terminantemente contra ferir ou matar qualquer<br />
ser vivo, no entanto é crença comum que algumas gotas de sangue do próprio<br />
bruxo(a) que efetua o ritual, oferecido voluntariamente, é considerado de grande<br />
poder para a prática mágica.<br />
Voltando as considerações sobre o altar, o ideal seria o altar fabricado de<br />
algum material natural, como madeira ou pedra, mas visto que a Wicca costuma ser<br />
muito prática qualquer mesa, ou até uma toalha estendida que seja utilizada<br />
especificamente para este fim, serve. A localização do altar não costuma ser<br />
unanimidade entre as Tradições wiccanianas, algumas concebem o altar no centro<br />
do círculo, outras determinam um ponto cardeal específico, ou ainda a localização<br />
dependerá da própria disponibilidade de espaço do grupo ou do praticante solitário.<br />
Quanto aos instrumentos, eles consistem elementos característicos da Wicca<br />
e servem tanto para simbolizar uma “essência espiritual” quanto para canalizar<br />
concentração e poder num rito ou numa prática mágica. Assim notamos que suas<br />
funções são tanto simbólicas quanto práticas.<br />
O altar na Wicca simboliza a união do Deus com a Deusa e é sob o altar que<br />
temos dispostos uma série de instrumentos que representam ora o Deus, ora a<br />
Deusa, ora ambos (geralmente ambos) e prestam-se as mais diversas práticas<br />
mágicas e oratórias.<br />
Figura 04 – O Altar: Imagem de um altar e a disposição indicada dos<br />
instrumentos mais utilizados nos ritos wiccanianos. Fonte:<br />
DANIELS;TUITÉAN, 2006. p.63.<br />
Gardner (2003) nos diz que uma bruxa tem que ter 8 instrumentos que são<br />
usados para fins específicos; porém, ele nos fala que 3 deles são fundamentais para<br />
todas as práticas, estes seriam o bastão que funciona como uma espécie de<br />
condutor, o cordão com o qual os iniciados são amarrados como uma espécie de<br />
61
vítima voluntária que será sacrificada simbolicamente no ritual de iniciação ao<br />
caminho da Arte e um anel que simbolizaria a Vesica Piscis 60 do renascimento.<br />
Os demais instrumentos mais utilizados na Wicca são:<br />
Athame ou Punhal<br />
O Athame, tradicionalmente, consiste num punhal de cabo preferencialmente<br />
preto e lâmina nos dois gumes onde a dupla lâmina representa a dualidade presente<br />
em todas as coisas. Simbolizando o elemento fogo, ou ar, representa o aspecto<br />
masculino nos rituais. Ele é utilizado para direcionar a energia, fazer ou desfazer o<br />
círculo, entre outras coisas. Por ser um instrumento sagrado de grande importância<br />
na religião, ele jamais deve ser usado para o corte, pois sua utilização é, sobretudo,<br />
simbólica, daí decorre que o athame não precisa ser necessariamente afiado.<br />
Figura 05 – Athame. Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006. p.282.<br />
Bolline:<br />
Já o bolline é uma pequena faca, geralmente com o cabo branco, destinada a<br />
funções corriqueiras, como, por exemplo, cortar uma corda, inscrever palavras em<br />
uma vela ou outro objeto, partir uma maça ou o bolo oferendado, etc. Trata-se de<br />
uma lâmina simples, instrumental, ligada ao elemento ar.<br />
Caldeirão:<br />
O Caldeirão consiste no símbolo supremo do útero da Deusa, símbolo de<br />
renascimento e de perpetuação da vida; comumente possui apenas três pés<br />
simbolizando o triplo aspecto da Deusa. Ele é utilizado para várias finalidades<br />
mágicas como no preparo a poções mágicas, infusão de ervas, etc.<br />
60 “A Vesica Piscis é um modelo básico da própria criação, por isso entre todos os símbolos ele é o<br />
mais significativo. A Vesica Piscis é o símbolo que constitui a base da Geometria Sagrada e de<br />
inúmeros outros símbolos. Trata-se de um desenho representativo da manifestação do próprio<br />
universo; uma forma que resulta da interseção de dois círculos.” Fonte:<br />
http://www.joselaerciodoegito.com.br/site_tema1783.htm, acessado em 27/06/10.<br />
62
Figura 06 – Caldeirão. Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006. p.290.<br />
Cálice:<br />
Normalmente trata-se de um copo em pé, embora possa assumir outras<br />
formas, simbolizando o elemento água também representa o útero da Deusa e o<br />
poder sagrado do feminino. É utilizado principalmente em rituais de fertilidade.<br />
Figura 07 – Cálice. Fonte: DANIELS; TUITÉAN, 2006. p.290.<br />
Deusa Tríplice:<br />
Neste símbolo temos a união da lua crescente, da lua cheia e da lua<br />
minguante significando as três etapas da vida da Deusa (e da mulher em geral), ou<br />
seja, a jovem ou virgem, que representa a pureza, inocência e a virgindade; a figura<br />
da mãe, que encarna o aspecto da fertilidade, da procriação e do amor<br />
incondicional; e a figura da velha sábia ou Anciã, que encarna a sabedoria e a<br />
experiência.<br />
63
Figura 08 – As Três Faces da Deusa. Fonte: DANIELS; TUITÉAN,<br />
2006. p.303.<br />
Jarreteira:<br />
Encontrei referências sobre a jarreteira apenas nos livros de Gardner onde ele<br />
afirma que esta é o mais indubitável símbolo da alta posição entre as bruxas. 61<br />
Livro das Sombras:<br />
Segundo Wanderley Mayhé Jr. referindo-se às Ordenações Célticas 62 , o livro<br />
das sombras pode ser descrito como um álbum de anotações onde bruxos e<br />
feiticeiras registram o regulamento 63 secreto da Ordem.<br />
Lua Crescente:<br />
É um símbolo sagrado que representa a Deusa e também a energia feminina<br />
de uma forma mais geral, a fertilidade, o crescimento abundante e os poderes<br />
secretos da Natureza. É utilizado nas invocações à Deusa e a todas as deidades<br />
lunares (neste caso, tanto masculinas quanto femininas), na magia da lua, nas<br />
celebrações dos Sabás e nos rituais de cura das mulheres.<br />
Pentagrama:<br />
Um dos símbolos mais populares do Paganismo é basicamente uma estrela<br />
de cinco pontas circunscrita num círculo. Representa, sobretudo, o do Ser Humano<br />
Pode ser descrito como um Homem/Mulher com os braços e pernas abertas, porém<br />
61 GARDNER, 2003, p.116.<br />
62 In: Leis Wiccans. Texto Completo e Tradicional das Ordenações Célticas. Adaptação do Livro da<br />
Sabedoria de Wanderley Mayhé Jr. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/11543694/Caminho-de-<br />
Wicca-Leis-Wiccans, acessado em 13 de setembro de 2009.<br />
63 Também chamado de Leis da Arte.<br />
64
pode representar também os elementos fogo, água, ar e terra, circunscritos pelo<br />
círculo que representa o espírito. Na Wicca o símbolo do pentagrama é geralmente<br />
desenhado com a ponta para cima a fim de simbolizar as aspirações espirituais<br />
humanas. Ainda é interessante lembrar que um pentagrama voltado com duas<br />
pontas para cima é um símbolo do Deus Cornífero e não, necessariamente, do mal,<br />
como é comum ouvirmos.<br />
Triângulo:<br />
O triângulo é equivalente ao número três que comumente é visto como um<br />
número mágico poderoso e é um símbolo sagrado da Deusa Tripla: Virgem, Mãe e<br />
Anciã. Invertido simboliza o princípio masculino.<br />
Tridente:<br />
O tridente é um símbolo sagrado que representa três falos. Pode ser<br />
ostentado por qualquer deidade masculina cuja função é unir-se sexualmente à<br />
Deusa Tripla. Comumente usado em Grandes Rituais e rituais de fertilidade.<br />
cerdas.<br />
Vassoura:<br />
Representa tanto o homem através do cabo quanto a mulher através das<br />
Velas:<br />
Representam o Deus e/ou a Deusa de acordo com a cor e a invocação.<br />
Existem ainda outros instrumentos que podem variar de acordo com a Tradição<br />
e o ritual a ser praticado.<br />
65
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Com tudo o que vimos acima podemos perceber que existem fortes<br />
conotações atribuídas às diferenças de gênero na Wicca. Dessa forma temos os<br />
referentes ligados à Deusa tais como: energia estática, passiva, magnética; geração<br />
e fertilidade; representação da plenitude da Terra e de sua sacralidade; a Lua, a<br />
noite e os Mistérios; a pureza da donzela, o acolhimento da mãe e a sabedoria da<br />
anciã, etc. Mas para a maioria dos Wiccaniano (aqueles que dentre os seus são<br />
reconhecidos como os autênticos seguidores da Arte Antiga), a exaltação da figura<br />
da Deusa Mãe não implica de forma alguma o descarte ou a desvalorização do seu<br />
filho e consorte: o Deus Cornífero.<br />
Entendo que, nesse sentido, o Paganismo em suas manifestações das<br />
diversas Tradições wiccanianas, propõe-se a uma autêntica complementaridade<br />
entre homens e mulheres em sociedade, entre macho e fêmea, entre feminino e<br />
masculino, enfim, simbolizados na dupla do Deus e da Deusa, que não são, de<br />
modo algum, superiores um ao outro da forma como concebe comumente a cultura<br />
patriarcal, mas que se complementam sem as necessárias sobreposições<br />
hierárquicas da forma como conhecemos. Para compreendermos adequadamente<br />
esse aspecto da Wicca é necessário que nos desloquemos de toda uma concepção<br />
de mundo com a qual estamos tão familiarizados que muitas vezes sequer<br />
problematizamos.<br />
Assim, de forma complementar, visando a harmonia e a totalidade, atribuídos<br />
ao Deus temos os referentes de: ativo e móvel; em sua forma jovem ele é a criança<br />
que também é promessa e inocência; quando Jovem o Deus é o experimentador<br />
que explora o mundo; é o caçador que provê o alimento quando o frio do inverno<br />
impede o florescimento das plantações; ele perfaz a figura de luz e calor do Sol que<br />
reina durante o dia; quando maduro ele faz o papel do fertilizador e junto da Deusa<br />
garantem a vida que está por nascer; e, ao envelhecer, se mostra o Deus Justo.<br />
Desse modo fica claro que ambas as figuras, da Deusa e do Deus, são opostas,<br />
mas, sobretudo, complementares; uma dá origem à outra e juntas são a<br />
manifestação e o equilíbrio do Universo.<br />
Podemos entender também que, como movimento religioso contemporâneo, a<br />
Bruxaria moderna se propõe a recuperar uma complementaridade entre homens e<br />
mulheres que seria, digamos, de ordem Natural, visto que estaria representada na<br />
própria Natureza, assim temos o culto tanto da Deusa quanto do Deus, mesmo<br />
66
dando à Deusa um papel preponderante, quer nas suas práticas quer nos seus<br />
mitos, pois a questão principal está no fato de que essa preponderância à Deusa<br />
não significa superioridade, mas como que um resgate necessário para restabelecer<br />
alguns valores que historicamente foram negados ou denegridos às mulheres.<br />
Na atualidade ainda vemos a ocorrência de diversos lugares onde a<br />
expressão dos valores femininos são estereotipados e ainda percebemos<br />
claramente o fato de que não existe uma figura feminina como caráter principal de<br />
um sagrado cultuado no Ocidente, nesse sentido a perspectiva matrifocal da Wicca<br />
contribui para sua divulgação tanto junto aos homens como das mulheres.<br />
Cabe ressaltar também que, de forma mais geral, a Wicca é uma religião que<br />
aceita bem todas as formas de diversidade, incluindo aí a diversidade sexual. Apesar<br />
do Deus e da Deusa representarem aspectos bem distintos – e ressalto mais uma<br />
vez, complementares – de características relacionadas ao gênero feminino e ao<br />
gênero masculino.<br />
Outra questão foi que não achei em nenhum dos textos, na internet, ou seja<br />
onde for, referências a discriminações devidas a identidade de gênero, opção<br />
sexual, etc., o mais comum é encontrarmos referências abundantes no que tange ao<br />
respeito aos outros (Humanos, Natureza e/ou Animais). Algumas vezes, como na<br />
pesquisa de Osório 64 , foi até mesmo citada uma presença significativa de<br />
homossexuais.<br />
Ao contrário das minhas pré-noções à respeito da religião Wicca, esta se<br />
mostrou bastante tradicional ou até conservadora, mas de um modo completamente<br />
diferente da nossa lógica católica, urbana, racionalista e ocidental; visto que é uma<br />
religião que demarca bastante os caracteres de gênero (fato esse que precisei<br />
exercitar um olhar científico para finalmente perceber como tal), porém não<br />
desvaloriza um em relação ao outro. Também, por valorizar os aspectos da natureza<br />
creio que essa religião possibilite uma maior conscientização não só quanto a<br />
própria responsabilidade individual e coletiva como em relação a todos os seres<br />
vivos e a própria natureza.<br />
64 OSÓRIO, Andréia. Bruxas Modernas: um estudo sobre identidade feminina entre praticantes de<br />
Wicca. Disponível em http://www.clubedasbruxas.webcindario.com/BruxasModernas-<br />
AndreaOscrio.pdf, acessado em 16/03/09.<br />
67
5.1 Bibliografia Acadêmica<br />
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FERREIRA, Aurélio B. de H. Minidicionário Aurélio. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova<br />
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5.4 Fontes da Internet e Outros Tipos de Publicação Eletrônica<br />
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http://www.antropologia.com.br/entr/entr8.html, acessado em 1º/06/2010.<br />
Antropologia Cultural, o que é isto? Disponível em:<br />
http://pastorazevedo.com.br/artigos_ver.php?id=112, acessado em<br />
18/06/2010.<br />
Círculo Sagrado. Sítio Eletrônico: http://www.circulosagrado.com/, acessado em<br />
1º/06/2010.<br />
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http://www.consciencia.blog.br/2009/06/androcentrismo.html, acessado em<br />
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DAGDA, Brigante, Lugus. A Preponderância da Deusa na Wicca e nos demais<br />
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pagaos.html, acessado em 19/06/2009.<br />
Dia do Orgulho Pagão. Ver em: http://dop.ninhodaserpente.com.br/, acessado em<br />
04/07/2010.<br />
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Federal de Santa Maria. Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa. 6 ed.<br />
Ver. e ampl. Santa Maria: Ed. Da <strong>UFSM</strong>, 2006. 67p. Disponível em:<br />
http://w3.ufsm.br/csociais/arquivos/nova_mdt.pdf, acessado em 06.07.2010.<br />
Etnoteologia. ANTROPOS, Capacitação Antropológica. Disponível em:<br />
http://www.antropos.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=<br />
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HELLMANN, Géssica. Da deusa a bruxa. Disponível em:<br />
http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/da-deusa-a-bruxa-367168.html,<br />
acessado em: 28/06/2009.<br />
Leis Wiccans. Texto Completo e Tradicional das Ordenações Célticas. Adaptação do<br />
Livro da Sabedoria de Wanderley Mayhé Jr. Disponível<br />
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acessado em 13 de setembro de 2009.<br />
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Projeto Wicca – RS. Notícias, ações e eventos promovidos pelo Projeto Wicca-RS.<br />
Ver: http://wicca-rs.blogspot.com/, acessado em 04/07/2010.<br />
Tradições: Principais tipos de Tradições. Círculo Sagrado. Disponível em<br />
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