Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sociedade que se instaura, na atualidade, na e pela instabilidade e mobilidade 29 . No<br />
pensamento de Hervieu-Léger, a visão de mundo correspondente aos elementos<br />
que até então eram acessados na conformação da vida do indivíduo e sua religião<br />
passou a não mais ser reconhecida tal como se inscrevia na linguagem de suas<br />
respectivas tradições; temos que daí incorre a necessidade de surgirem novas<br />
configurações religiosas em sintonia com os valores da modernidade.<br />
2.2 As questões de Gênero<br />
As questões de gênero permeiam quase todos, se não todos, os aspectos de<br />
nossa vivência, pois fazem parte, de um modo ou de outro, de nossas instituições,<br />
nossas leis, nosso imaginário, nossas identidades.<br />
A História das Relações de Gênero é mais abrangente do que a História das<br />
Mulheres e foca na interação dos sexos e na co-relativa constituição dos gêneros.<br />
Foi visando uma análise mais rica e mais completa que foquei minha reflexão não<br />
apenas no papel da mulher na bruxaria moderna, mas também no papel do homem<br />
e na interação dos sexos que constituem a base das relações de gênero.<br />
A gênese do sistema de gêneros, ou seja, a estipulação de diferenciações de<br />
atributos determinantes de cada sexo e as respectivas definições de papéis sexuais<br />
é quase tão antiga quanto a história do homem. Peter N. Stearns em livro intitulado<br />
“História das Relações de Gênero” (2007) indica que foi com o surgimento da<br />
agricultura que as funções entre homens e mulheres na coletividade se distanciaram<br />
e se definiram. Segundo o autor:<br />
“O deslocamento da caça e coleta para a agricultura pôs fim<br />
gradualmente a um sistema de considerável igualdade entre homens<br />
e mulheres. Na caça e coleta, ambos os sexos, trabalhando<br />
separados, contribuíam com bens econômicos importantes. (...) A<br />
agricultura estabelecida, nos locais em que se espalhou, mudou isso,<br />
beneficiando o domínio masculino. À medida que os sistemas<br />
culturais, incluindo religiões politeístas, apontavam para a<br />
importância de deusas, como geradoras de forças criativas<br />
associadas com fecundidade e, portanto, vitais para a agricultura, a<br />
nova economia promovia uma hierarquia de gênero maior. Os<br />
homens agora eram responsáveis, em geral, pela plantação; a<br />
assistência feminina era vital, mas cabia aos homens suprir a maior<br />
parte dos alimentos.” (STEARNS, 2007, p.31-32)<br />
Dessa forma, segundo Stearns, as mulheres foram voltando-se para a vida<br />
doméstica, principalmente em função dos cuidados com a prole. Pode-se dizer que<br />
aí se estabelece o início de um prolongado patriarcalismo que vai enfatizar cada vez<br />
29 AMARAL, Leila. Entrevista. Disponível em: http://www.antropologia.com.br/entr/entr8.html,<br />
acessado em 1º/06/2010.<br />
32