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António de Andrade (1581-1634), natural de<br />
Oleiros, Castelo Branco, filho de Bartolomeu<br />
Gonçalves e de Margari<strong>da</strong> de Abreu, é um dos<br />
primeiros europeus que descreve correctamente a<br />
patologia provoca<strong>da</strong> pelo frio e será provavelmente<br />
o primeiro que com conhecimento de causa<br />
descreverá <strong>aqui</strong>lo que hoje designamos por<br />
fototraumatismo. Assim, não sendo médico tem o<br />
seu nome gravado a letras de oiro na <strong>História</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Medicina</strong> e a <strong>História</strong> dos Homens recordá-lo-á<br />
necessariamente por isto e ain<strong>da</strong> pelo valioso<br />
contributo que deu aos estudos geográficos e<br />
etnográficos e ao relacionamento entre os Homens.<br />
Era um Homem decidido, determinado, que não<br />
vergava nem torcia, que caminhava a direito por sítios<br />
onde apenas caberia um pé de ca<strong>da</strong> vez, em<br />
equilíbrio instável a grande altura ou deitado e<br />
rastejando na neve, indiferente ao frio, teimoso, a<br />
quem os sofrimentos não assustam, até que a morte,<br />
ou a peçonha... o vençam.<br />
Sabe-se que António de Andrade deu entra<strong>da</strong> no<br />
Colégio <strong>da</strong> Companhia de Jesus, em Coimbra, no<br />
dia 15 de Dezembro de 1596, tendo prosseguido os<br />
estudos em Lisboa, de onde partiu para Goa em 22<br />
de Abril de 1600 na nau S. Valentim, onde seguia o<br />
Vice-rei Aires de Sal<strong>da</strong>nha. Bom, esta a informação<br />
que parece correcta e que em 1987 foi transmiti<strong>da</strong><br />
para o grande público em “Navegadores, Viajantes<br />
e Aventurados Portugueses, séculos XV e XVI”, vol.2;<br />
- António de Andrade. A penetração pela fé”, pp.192-<br />
-201, <strong>da</strong> Editorial Caminho e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de de<br />
Luís Albuquerque ou mais recentemente na página<br />
70 do livro “Viagens na Ásia Central em deman<strong>da</strong> do<br />
Cataio. Bento de Goes e António de Andrade”,<br />
introdução e notas de Neves Águas, de Publicações<br />
Europa-América, 1988- Porém, a “Relação <strong>da</strong>s Naos<br />
e Arma<strong>da</strong>s <strong>da</strong> India com os successos dellas que se<br />
puderam saber, para a noticia e instrucção dos<br />
curiozos, e amantes <strong>da</strong> <strong>História</strong> <strong>da</strong> India (British Library,<br />
Codice Add.20902)”, Leitura e Anotações de<br />
Maria Hermínia Maldonado, Biblioteca Geral <strong>da</strong><br />
* Professor <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de <strong>Medicina</strong> de Coimbra<br />
16<br />
ANTONIO DE ANDRADE (1581-1634),<br />
O PROBLEMA DO CATAIO E AS PATOLOGIAS<br />
PELA LUZ E PELO FRIO EM GRANDES ALTITUDES<br />
Alfredo Rasteiro*<br />
Universi<strong>da</strong>de, Coimbra; 1985, diz-nos na página 103<br />
que no “Anno de 1600” “Aires de Sal<strong>da</strong>nha vizo-rei e<br />
capitão-mor de quatro naos partio a 4 de Abril.<br />
Capitães: Fernão Roiz de Sá que morreo antes de<br />
chegar a Goa,...”. O vizo-rei seguiu na nao S.<br />
Valentim. Fernão Roiz de Sa ia de capitão-mor na<br />
nao S. Francisco...,... e ain<strong>da</strong> outra informação<br />
importante é a de que “Nestas naos forão breves<br />
para Francisco Ros, religioso <strong>da</strong> Companhia, ser<br />
bispo Angamale que he nas serras de Cochim onde<br />
habitãm os christãos a que chamão de Sancthomé”.<br />
Aí fica essa diferença de 18 dias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de António<br />
de Andrade para entretenimento de historiadores<br />
profissionais e entretanto o nosso Herói continuará<br />
os seus estudos no Colégio de S. Paulo, em Goa e<br />
mais tarde seguirá para Agra, no reino de Akbar<br />
(reinado de 1556 a 1605), depois governado por<br />
Jahangir. Em Agra aprenderá a língua persa usa<strong>da</strong><br />
na Caxemira e colherá informações sobre as<br />
misteriosas terras do Cataio e Reinos de Tibet, que<br />
relações teriam com a China e sobre a possibili<strong>da</strong>de<br />
de atingir Samarkan<strong>da</strong> e a antiquíssima rota <strong>da</strong> se<strong>da</strong>.<br />
Os nossos Historiadores não falam nisso mas é esse<br />
o trajecto seguido por Bento de Góis (1562-1607) e<br />
será nessa direcção que irá situar-se: a Chaparangue<br />
ou Tsaparang, na parte mais ocidental do Himalaya,<br />
onde Andrade fun<strong>da</strong>rá uma missão em 1626.<br />
Curiosamente, na sua primeira viagem ao Tibet,<br />
para os lados <strong>da</strong> Caxemira, Andrade não levou na<strong>da</strong><br />
que induzisse os naturais a confundi-lo com um<br />
mercador, o que terá sido causa de preocupações e<br />
faltas à ver<strong>da</strong>de, nomea<strong>da</strong>mente que iria procurar<br />
um irmão e que os trajos negros seriam para o caso<br />
de já ter falecido:.. E depois, a ver<strong>da</strong>de e mentira<br />
tinham as suas regras, ficamos sem saber se António<br />
de Andrade ia acompanhado por dois meninos ou<br />
por três e até talvez nem fosse culpa sua porque o<br />
relato de que se dispõe foi impresso a partir de uma<br />
cópia, de que apenas se conhecem dois exemplares:<br />
um na Biblioteca Nacional e outro na Torre do Tombo,<br />
<strong>da</strong> iniciativa de Matheus Pinheiro, Lisboa, 1626,<br />
segundo a informação de Neves Águas.<br />
E a ver<strong>da</strong>de, o relato exacto dos factos é uma coisa,<br />
a descrição sem base real, outra. No relato que<br />
particularmente nos interessa, contido na Carta que