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A CRÓNICA DOS CÓNEGOS REGRANTES DE SANTO AGOSTINHO E A PRIMEIRA<br />
ESCOLA DE MEDICINA PORTUGUESA<br />
“Chronica <strong>da</strong> Ordem dos Cónegos Regrantes do<br />
Patriarcha J. Agostinho”, pelo P.Dom Nicolao de<br />
S.Maria, natural de Lisboa, Cóne go Regrante e<br />
Cronista <strong>da</strong> Congregação de Santa Cruz de Coimbra,<br />
foi publica<strong>da</strong> em Lisboa e impressa na Officina de<br />
Joam <strong>da</strong> Costa no ano de MDCLXVIlI, “com to<strong>da</strong>s<br />
as licenças necessárias<br />
Trata-se de uma obra rara, tendo desaparecido<br />
recentemente o único exemplar que havia na<br />
Biblioteca Pública Municipal do Porto, encontrando-<br />
-se dois ou três exemplares na Biblioteca Nacional<br />
(Pinto, 1982).<br />
A Crónica consta de duas partes, a primeira<br />
constituí<strong>da</strong> por 6 livros e 98 capítulos e a segun<strong>da</strong><br />
com 6 livros e 185 capítulos num in-fólio de 582<br />
páginas numera<strong>da</strong>s (Santa Maria N 1668), com um<br />
total de 12 livros e 284 capítulos.<br />
De acordo com Barbosa Machado (1966) o autor<br />
recebeu o hábito em 5 de Dezembro de 1615 e<br />
faleceu a 7 de Novembro de 1675. Francisco Leitão<br />
Ferreira nas “Me mórias Cronológicas <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de Coimbra”, pág.538 § 1153, chamalhe<br />
Douto Cronista.<br />
Os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho<br />
pertencem a uma Instituição <strong>da</strong> época <strong>da</strong>s grandes<br />
reformas gregorianas, forma<strong>da</strong> pelos membros dos<br />
cabidos <strong>da</strong>s colegia<strong>da</strong>s e catedrais que, depois de<br />
aceitarem a Regra de Santo Agostinho, se uniram<br />
para levar uma vi<strong>da</strong> de Comuni<strong>da</strong>de. A ideia de se<br />
unirem os clérigos de uma mesma igreja numa vi<strong>da</strong><br />
em comum havia surgido já antes de Santo<br />
Agostinho, debaixo <strong>da</strong> influência do Monacato Oriental<br />
mas não chegou a realizar-se.<br />
No ano de 1061, Alexandre II levou a reforma à<br />
mais antiga <strong>da</strong>s Congregações de cónegos<br />
regulares, a de S. Salvador de Latrão. No século XVI<br />
houve em Itália uns 500 Institutos e no resto <strong>da</strong><br />
Europa cerca de 400. Deles saíram 36 papas, uns<br />
600 cardeais e muitos bispos. O hábito branco que<br />
usa o Santo Padre é uma recor<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> sua<br />
* Delegado Nacional <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de internacional de<br />
<strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong><br />
Romero Bandeira *<br />
residência com os Agostinhos em Latrão. Em Portugal,<br />
a Congregação de Santa Cruz em Coimbra foi<br />
fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1132 e reforma<strong>da</strong> em 1537 pelo padre<br />
Jerónimo, Bias de Braga (Ferreres, 1950). Do ponto<br />
de vista sócio-cultural se dividirmos a I<strong>da</strong>de Média<br />
em quatro períodos, os séculos XI e XII são a<br />
charneira de todo o movimento teocêntrico que faz<br />
com que a socie<strong>da</strong>de viva em torno <strong>da</strong> Igreja, sendo-<br />
-lhe cometi<strong>da</strong>s praticamente to<strong>da</strong>s as tarefas do foro<br />
assistencial. Desde os pobres aos peregrinos, a<br />
acção dos vários tipos de congregações foi<br />
extraordinariamente importante.<br />
Nos séculos XI e XII, sobretudo o século XII é a<br />
época criadora <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, assiste-se à<br />
introdução de um regime novo, marcado pela<br />
formação do senhorio feu<strong>da</strong>l, depois pelo<br />
renascimento do estado e pela emancipação popular.<br />
A I<strong>da</strong>de Média procura instituir uma socie<strong>da</strong>de<br />
perfeita, a Cristan<strong>da</strong>de, onde se conciliem a bela<br />
época, a uni<strong>da</strong>de de espírito indispensável à sua<br />
existência, a diversi<strong>da</strong>de e a independência vitais <strong>da</strong>s<br />
nações, <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s pessoas que têm<br />
ca<strong>da</strong> uma o seu lugar na colectivi<strong>da</strong>de. Ela possui<br />
um poder espiritual, o Papa, superior a todo e<br />
qualquer poder.<br />
Esta socie<strong>da</strong>de possui também os seus meios de<br />
expansão: as cruza<strong>da</strong>s, as peregrinações, p.ex. a<br />
de Santiago de Compostela, fazendo convergir to<strong>da</strong>s<br />
as Ordens, to<strong>da</strong>s as classes, todos os povos, num<br />
mesmo pensamento e ideal ao serviço de Deus e <strong>da</strong><br />
Cristan<strong>da</strong>de (Chevalier, 1956). Durante a Alta I<strong>da</strong>de<br />
Média, na Gália Merovíngia, as peregrinações a S.<br />
Maninho de Tours condicionaram uma marca<strong>da</strong><br />
deslocação de populações com a concomitante<br />
necessi<strong>da</strong>de de protecção e assistência (Lelong,<br />
1963). Nasce também na província de Narbone a<br />
congregação de Santa Maria de Rocamador que virá<br />
a <strong>da</strong>r os seus frutos em Portugal, quando chegar ao<br />
pais em 1189, difundindo-se a partir de 1193 por<br />
vários estabelecimentos assistenciais.<br />
D. Afonso II no seu testamento de 1221 lembra-se<br />
de Santa Maria de Rocamador; nas Inquirições de<br />
D. Afonso III analisamos que há um elevado número<br />
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