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Fala aí, meu camarada!<br />
O Brasil é <strong>um</strong> verdadeiro caldeirão de sotaques, gírias e variações de falas.<br />
Conhecer cada <strong>um</strong> deles é saber <strong>um</strong> pouco mais sobre a nossa identidade.<br />
Por Mariana Sgarioni | Poemas Jorge Filó | Fotos Cia de Foto<br />
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico <strong>com</strong>o saudosa lembrança estas memórias<br />
póst<strong>um</strong>as.” Essa frase foi escrita por Machado de Assis, em 1881, ao abrir seu primeiro romance realista,<br />
Memórias Póst<strong>um</strong>as de Brás Cubas. Trata-se de <strong>um</strong> português perfeito, impecável, porém <strong>um</strong> pouco distante<br />
do que falamos nos dias de hoje.<br />
Por isso, vamos propor <strong>um</strong> exercício de imaginação e pensar <strong>com</strong>o Machado, <strong>com</strong> seu h<strong>um</strong>or impagável,<br />
escreveria essa mesma dedicatória <strong>com</strong> gírias populares, se estivesse vivinho da silva no ano de 2009. Acho<br />
que ficaria mais ou menos assim:<br />
“Para os bichos que <strong>com</strong>eram este meu presunto gelado, dedico estas memórias que escrevi depois de<br />
bater as botas.”<br />
E se pensássemos ainda que Machado fosse <strong>um</strong> blogueiro de mão cheia, e ficasse ligado o dia inteiro <strong>com</strong><br />
seu laptop, conectado <strong>com</strong> a rede wireless? Talvez escreveria algo parecido <strong>com</strong> isto:<br />
“Pros vermes q roeram meu kdaver, aki vão minhas lbrças. Abs.”<br />
Podemos viajar no tempo e escrever esse mesmo trecho nos anos 1950, 1970, 1990. Mesmo existindo formas<br />
atuais de dizer a mesma coisa, evidentemente, o original de 1881 continua sendo <strong>um</strong>a obra re<strong>com</strong>endadíssima<br />
– sobretudo para quem quer conhecer bem a <strong>língua</strong> portuguesa e dominar a escrita. Por outro<br />
lado, esse exercício simplório – e divertido – que propusemos aqui mostra quanto nosso idioma é vivo e está<br />
em constante movimento. A <strong>língua</strong> se transforma, ela é dinâmica. Só desaparece quando as pessoas que a<br />
falam são forçadas a adotar outra – coisa que passou a acontecer aqui no Brasil, quando, em 1757, o Marquês<br />
de Pombal instituiu o português <strong>com</strong>o <strong>língua</strong> oficial e proibiu o uso das <strong>língua</strong>s nativas.<br />
No Sudeste é “uai”<br />
Uma forma de expressão<br />
Se a pergunta é – “<strong>com</strong>o vai?”<br />
Se tá bom se diz “tá bão”.<br />
6 Continu<strong>um</strong> Itaú Cultural Participe <strong>com</strong> <strong>sua</strong>s ideias 7<br />
Línguas brasileiras: para muitos nosso português já se transformou n<strong>um</strong> novo idioma<br />
reportagem