DE TEATRO - UTFPR
DE TEATRO - UTFPR
DE TEATRO - UTFPR
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
1972a1977<br />
TETEF: registro de um olhar da primeira fila<br />
Penso que a dimensão da importância do<br />
TETEF possa ser melhor avaliada se antes<br />
houver uma compreensão do cenário em que<br />
esta história se desenrolou. Quando o grupo<br />
foi criado, em 1972, o Brasil estava no meio<br />
do mandato presidencial do General Ernesto<br />
Garrastazu Médici, um período de violenta<br />
repressão que, por conta disso, ficou conhecido<br />
como “os anos negros da ditadura”. ”. ” Qualquer<br />
forma de organização ou manifestação que<br />
pudesse ser confundida com algum tipo de<br />
protesto ou crítica ao regime ou à ordem<br />
estabelecida era prontamente reprimida.<br />
Campanhas ufanistas com o lema “Brasil,<br />
ame-o ou deixe-o” procuravam desqualificar ou<br />
transformar em inimigos do País e do progresso<br />
todos os críticos do regime. O grande projeto<br />
para o Brasil no período da ditadura militar<br />
era o de transformar o País numa potência<br />
internacional. Foi um período de grandes<br />
investimentos em infra-estrutura e de índices de<br />
crescimento na casa dos dois dígitos.<br />
A Escola Técnica Federal do Paraná, que<br />
tinha na sua origem uma escola de ofícios,<br />
transformou-se num pólo formador de mão-de-<br />
obra voltada ao atendimento das necessidades<br />
do setor industrial. Possuía um elevado nível<br />
de organização que a tornava um centro de<br />
excelência no ensino de segundo grau. Havia<br />
qualidade no ensino e rigor na avaliação. A<br />
disciplina interna era quase espartana. Em<br />
alguns níveis da administração da escola,<br />
principalmente na relação com os alunos, o<br />
exercício do poder, às vezes, chegava a ser<br />
arbitrário. As normas da escola e os conteúdos<br />
a serem estudados em cada disciplina estavam<br />
devidamente registrados no manual “Aurora”.<br />
Em determinadas avaliações os alunos eram<br />
levados ao teatro, instalados afastados uns<br />
dos outros. As questões eram projetadas numa<br />
tela e as respostas deveriam ser marcadas num<br />
talonário parecido com uma folha de cheque<br />
com opções de “a” a “e”. ”. ” Os talões de prova<br />
deviam ser entregues juntamente com uma<br />
folha contendo a memória de cálculos o que, por<br />
si, já desencorajava a cola e o “chute”. ”. ” Aos que<br />
arriscavam assim mesmo, uma penalidade se<br />
impunha: questões erradas anulavam questões<br />
certas. Não era sem razão que os alunos da<br />
Escola Técnica eram disputados no mercado<br />
de trabalho. Muitos, antes mesmo de concluir o<br />
curso, já tinham garantido seus empregos.<br />
Ironicamente para um período político<br />
de arbítrio, os alunos tinham um espaço de<br />
representação dentro da Escola. Havia o Diretório<br />
Central César Lattes - <strong>DE</strong>CEL e os representantes<br />
de turma eleitos pelos colegas. Esta estrutura de<br />
representação permitia controlar e ordenar o<br />
fluxo de reivindicações as quais ficavam, em<br />
geral, restritas, ao encaminhamento prático<br />
de questões administrativas ou disciplinares. O<br />
<strong>DE</strong>CEL, por sua vez, organizava atividades de<br />
18<br />
Jorge Luiz Bostelmann de Oliveira*<br />
caráter recreativo e cultural. Os alunos, trajando<br />
os guarda-pós coloridos de seus respectivos<br />
cursos, tinham a tendência de permanecer<br />
agrupados com seus pares tanto nos intervalos<br />
de aula quanto nos recreios. Mas todas estas<br />
“colônias” distintas tendiam a agrupar-se numa<br />
defesa incondicional da Escola nas competições<br />
esportivas e nas apresentações da banda e do<br />
coral.<br />
Foi neste contexto que a semente do TETEF<br />
foi lançada. Lembro que, certa noite, voltando<br />
de ônibus para casa, sentou-se ao meu lado um<br />
outro estudante da Escola que morava no mesmo<br />
bairro. Salvo por alguma troca esporádica de<br />
cumprimentos, nunca havíamos conversado.<br />
Influência, talvez, dos guarda-pós: ele era<br />
“graxeiro” e eu “pedreiro”, ”, ” denominações com<br />
as quais eram identificados os alunos dos cursos<br />
de mecânica e edificações. Foi ele que puxou o<br />
assunto perguntando se eu sabia do grupo de<br />
teatro que iriam organizar na Escola. A reunião<br />
seria no dia seguinte. Conversamos sobre<br />
teatro e cinema. Ele contou que já participara<br />
de uma representação teatral chamada O<br />
Cerco Cerco Cerco de de de Numância. Numância No bairro, descemos no<br />
mesmo ponto, e cada um foi para sua casa.<br />
Antes, combinamos de participar da tal reunião.<br />
Aquela conversa rápida no ônibus marcou o<br />
início de uma grande amizade. No dia seguinte,<br />
eu e Alcyr Bay (o graxeiro) nos juntamos a um<br />
pequeno grupo, que viria a ser o núcleo central