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DE TEATRO - UTFPR

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Nossa estréia foi na sala Salvador de Ferrante,<br />

o pequeno auditório do Teatro Guaíra. Era difícil<br />

acreditar que estávamos pisando um palco que<br />

fazia parte da história do teatro do Paraná.<br />

Estávamos nervosos, porém confiantes. Antes<br />

de iniciar o espetáculo Zé nos reuniu, olhou bem<br />

na nossa cara e disse sem pestanejar: merda!<br />

Ante o susto geral, explicou que aquela era uma<br />

velha tradição francesa utilizada pelos atores<br />

para desejarem sorte no espetáculo. Ao final da<br />

apresentação lembro do olhar do Zé com aquele<br />

brilho orgulhoso. As apresentações se repetiram<br />

no teatro da Escola e no Centro de Criatividade<br />

do Parque São Lourenço. Zé conseguiu que o<br />

TETEF fosse participar do I FENATA, o Festival<br />

Nacional de Teatro Amador na cidade de Ponta<br />

Grossa. É de se esperar de um grupo de teatro<br />

disposição para fugir do convencional e do<br />

conservador. Este também era nosso caso,<br />

mas alguém imaginou que, se o TETEF iria<br />

representar a Escola Técnica Federal do Paraná,<br />

deveria viajar a caráter. Na prática, isto significou<br />

vestir um paletó amarelo ouro com a logomarca<br />

da escola no bolso. Nossa chegada em Ponta<br />

Grossa não poderia ter sido mais impactante.<br />

Quebramos um paradigma ao contrário. No<br />

início fomos ridicularizados pelos demais grupos<br />

que nos chamavam de “canarinhos”. ” Aquilo nos<br />

perturbou. Logo, demos um jeito de deixar os<br />

paletós no alojamento, mas o estrago já estava<br />

feito. Agora, nos perguntavam onde estavam os<br />

paletós “bacanas”, ” porque não usávamos mais o<br />

uniforme e outras coisas do gênero. Felizmente<br />

logo chegou o dia da apresentação. O Teatro<br />

Universitário veio abaixo. Fomos aplaudidíssimos<br />

e tudo mudou. Conquistamos no palco o respeito<br />

de críticos e companheiros de arte. Durante<br />

o festival, havia palestras e oficinas. Uma foi<br />

com Luiza Barreto Leite que dirigiu um exercício<br />

cênico improvisado, ao ar livre, sobre a Lenda<br />

de Vila Velha, em meio às rochas do parque.<br />

Particularmente, foi meu grande momento:<br />

além de protagonista, tive como companheira<br />

de cena uma pontagrossense que anos mais<br />

tarde tornou-se miss Paraná.<br />

Em seguida, veio Chapetuba Futebol Clube,<br />

de Oduvaldo Vianna Filho. Quando Zé falou em<br />

montar uma peça que falava em futebol o espanto<br />

foi geral. Ficamos imaginando que aquele texto<br />

deveria ser muito chato. Iniciamos as leituras<br />

com uma pontinha de má vontade. Zé nos deu<br />

um grande puxão de orelhas. À medida que as<br />

leituras prosseguiam foi definindo os papéis<br />

segundo o velho critério: “você tem cara desse<br />

personagem!”. ” Com Chapetuba percorremos o<br />

mesmo itinerário das apresentações anteriores<br />

com exceção do Parque São Lourenço. Voltamos<br />

à Ponta Grossa, para o II FENATA, desta vez com<br />

muito mais responsabilidade e sem os paletós<br />

amarelos. Havia muita expectativa com relação<br />

à apresentação da peça. Ao fazer uma crítica ao<br />

submundo do futebol e revelar as tragédias que<br />

temperam a vida humana, Chapetuba exigia uma<br />

força dramática que alguns críticos supunham<br />

ser muito difícil de conseguir de um grupo<br />

de adolescentes e amadores. O que eles não<br />

imaginavam é que o técnico deste time era o Zé.<br />

Foi um golaço atrás do outro. A interpretação<br />

de todos os membros do grupo foi marcante,<br />

mas Alcir Bay foi excepcional. Tínhamos como<br />

certo de que ele ganharia o prêmio destinado ao<br />

melhor ator. Infelizmente, isso não aconteceu,<br />

mas ninguém tinha do que se queixar: Chapetuba<br />

ganhou o prêmio de melhor espetáculo. Até hoje<br />

tenho viva na memória a manchete do jornal<br />

Folha de Londrina sobre nossa apresentação:<br />

“Chapetuba Futebol Clube é bola na rede...<br />

Linda... Linda, Linda”.<br />

Porém, o grande momento ainda estava<br />

por vir. Antes dele, um interlúdio com texto de<br />

20<br />

Martins Pena, Os Os Os Irmãos Irmãos Irmãos das das das Almas. Almas Almas Esta peça<br />

foi o batismo de fogo para os novos membros<br />

do TETEF. Havíamos esquecido que o “para<br />

sempre, sempre acaba”, ” mas o Zé não. Assim,<br />

começou a preparar novos atores e a repartir<br />

atribuições das quais, normalmente cuidava<br />

sozinho. Foi mais ou menos nesta época que<br />

me tornei uma espécie de assistente voluntário<br />

do Zé para assuntos do TETEF. Foi um grande<br />

aprendizado. Recebi noções de direção,<br />

cenografia, iluminação e figurino.<br />

O grande momento do primeiro grupo do<br />

TETEF e, acredito, da própria história do grupo,<br />

foi a montagem do texto de Dias Gomes: O<br />

Pagador Pagador Pagador de de de Promessas. Promessas<br />

Promessas Para a direção da peça,<br />

Zé convidou Aluízio Cherobin. O novo diretor<br />

trouxe um modelo diferente de trabalho, mas<br />

igualmente exigente. Com Aluízio também<br />

chegou ao grupo sua esposa Luciana. Era dela<br />

o trabalho de preparação dos atores. O curso de<br />

Decorações da Escola foi convidado pelo Zé para<br />

elaborar o projeto do cenário. Na condição de<br />

assistente da direção, fiz o trabalho de ligação<br />

com os alunos do curso que participavam do<br />

projeto. Lembro que pesquisando fachadas de<br />

igrejas encontrei um desenho num fascículo<br />

sobre história do Brasil dedicado a Tiradentes.<br />

Pareceu o mais adequado. Foi assim que uma<br />

igreja de Vila Rica inspirou a composição do<br />

cenário. A estréia foi no auditório Bento Munhoz<br />

da Rocha Neto, o Guairão, completamente lotado,<br />

fato repetido por três dias seguidos. Lembro que<br />

o espetáculo nos levou ao limite da exaustão<br />

emocional. A tensão estava presente em todas<br />

as cenas. Numa delas quase que a apresentação<br />

ficou comprometida. Era normal que alguns<br />

técnicos teatrais nas áreas de iluminação,<br />

carpintaria e figurino fossem convidados para dar<br />

apoio às produções. Um desses técnicos, auxiliar<br />

de produção, pediu para fazer uma figuração.

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