DE TEATRO - UTFPR
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QUERO UM <strong>DE</strong>STES PRA MIM TAMBÉM!<br />
No panorama curitibano na atualidade, é muito<br />
comum ir a espetáculos teatrais e não receber nenhum<br />
prospecto que cumpra a função de programa de<br />
espetáculo. Em algumas ocasiões, o material que se<br />
recebe corresponde apenas a informações da ficha<br />
técnica, às vezes patrocinadores e agradecimentos. É<br />
certo que a produção destes materiais demanda algum<br />
recurso financeiro para sua impressão bem como o<br />
custo de um designer. Todavia, mesmo espetáculos<br />
agraciados com verbas de incentivo à produção teatral<br />
apresentam esse mesmo perfil. Em espetáculos<br />
grandiosos e dotados de bom financiamento,<br />
encontram-se, em alguns casos, programas para serem<br />
vendidos, às vezes a um preço acessível, outras a preços<br />
que desafiam o interesse do espectador: “valerá a<br />
pena? Terá apenas belas fotos e ficha técnica num papel<br />
de alta qualidade e impressão?”<br />
Este breve artigo não se propõe a fazer uma análise<br />
profunda da situação e das implicações que estão por<br />
trás do padrão cultural acima apresentado. Mas fato é<br />
que as funções que um programa de espetáculo poderia<br />
cumprir estão sendo negligenciadas. Seriam fatores<br />
econômicos? Seria o estabelecimento de prioridades?<br />
Seria uma falta de reflexão a respeito deste assunto?<br />
Visitando o acervo de memória do TUT, encontramos<br />
vários programas dos espetáculos realizados desde<br />
sua fundação no início da década de 1970. Estes<br />
programas têm servido como base documental de<br />
extrema importância para a pesquisa histórica e para a<br />
compreensão da mentalidade que cercava o trabalho do<br />
grupo. No caso de alguns espetáculos, por hora, acaba<br />
sendo o único registro existente. Juntamente com o<br />
cartaz, sem haver nenhuma foto ou recorte de jornal nos<br />
QUESTÕES SOBRE OS PROGRAMAS<br />
<strong>DE</strong> ESPETÁCULO<br />
arquivos. A existência de programas dos espetáculos<br />
dirigidos por José Maria no TECEFET/ TETEF faz com<br />
que seja possível vislumbrar sua caminhada de 17<br />
anos no grupo, existindo arquivados programas de<br />
praticamente todas as peças principais. O teor destes<br />
folders é variável: alguns com breve histórico do<br />
grupo e ficha técnica, outros com citações de críticos<br />
sobre trabalhos passados, outros com reflexões e<br />
outros, ainda, mais aprofundados com informações do<br />
dramaturgo e da obra.<br />
A partir de 2007, percebendo a importância<br />
documental do instrumento e procurando aproximar o<br />
dramaturgo Federico García Lorca do público em geral,<br />
programas foram feitos para os dois espetáculos do ano:<br />
Bodas de Sangue e O O O Feitiço Feitiço Feitiço da da da Mariposa. Mariposa Ninguém<br />
que vem ao espetáculo tem a obrigação de ter algum<br />
conhecimento do dramaturgo espanhol ou de sua obra.<br />
Entendendo-se melhor o autor, melhor se entende o<br />
espetáculo. Se o espectador tem alguma diretriz sobre o<br />
que será visto, sobre como o espetáculo tomou àquele,<br />
sua relação com a peça será mais profunda.<br />
É interessante pensar quais seriam algumas funções<br />
que o programa de espetáculo pode desempenhar.<br />
Abaixo procuro identificar algumas, olhando sob<br />
a perspectiva de pesquisador, de professor e de<br />
encenador.<br />
1) O programa de espetáculo é um documento<br />
histórico. histórico E é um documento que serve muito mais do<br />
que ser um documento comprobatório útil ao currículo<br />
dos artistas. Nesse documento estão registrados<br />
dados de uma manifestação social que mobilizou<br />
formadores de opinião: quem foram estes formadores,<br />
quando trabalharam, quais opiniões possuíam, como<br />
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trabalharam, o que sabiam, o que só souberam depois,<br />
o que nunca souberam – são estas algumas questões<br />
que se pode tentar responder em pesquisas a partir<br />
de programas de espetáculos. Quanto mais o folder<br />
fornecer, mais possibilidades ele nos dá para o estudo<br />
e a produção de conhecimentos que contribuem para<br />
o presente momento. O programa, conforme citado,<br />
pode registrar dados importantes da produção e do<br />
pensamento, indo muito além da ficha técnica.<br />
2) Por outro lado, o programa de espetáculo pode<br />
também servir como um instrumento instrumento instrumento pedagógico pedagógico pedagógico e<br />
informativo sobre teatro, literatura, história e arte. Como<br />
instrumento pedagógico, ele se torna fundamental para<br />
o processo que chamamos de “ formação de platéia”,<br />
trazendo subsídios e orientações de leitura do espetáculo<br />
e compreensão sobre a obra teatral como um todo. Isto<br />
não significa “mastigar” a peça para o espectador,<br />
tão pouco pô-lo condicionado a uma leitura fechada<br />
da obra. Formar a platéia é um processo constante de<br />
ampliação de horizontes, de referenciais, de conexões<br />
históricas e influências artísticas, de procedimentos<br />
técnicos, de reflexão filosófica que fundamenta aquela<br />
produção. Esta instrumentalização torna-se parte de um<br />
processo de alfabetização e criação de um vocabulário<br />
mais amplo, que seguramente não acrescenta apenas<br />
na fruição de peças teatrais, mas também em todas<br />
as leituras que o ser humano realiza em sua vida:<br />
na percepção de um som no início da manhã, na<br />
compreensão do nervosismo absurdo de uma prima<br />
que se veste para o casamento.<br />
3) O programa também pode ser um link de<br />
ligação ligação ligação entre entre entre diversas diversas diversas textualidades, textualidades indicando outras<br />
referências literárias, audiovisuais, plásticas, sonoras e