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DE TEATRO - UTFPR

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Cartaz do espetáculo Na Na Na Boca Boca Boca dos dos dos Poetas, Poetas 1997<br />

mil quilômetros e dezessete horas de viagem.<br />

– “Zé... É melhor desistir! Não tem jeito de fazer<br />

sem o cenário,” repetia Ulisses para Zé Maria.<br />

O diretor não concordava e a decisão, segundo<br />

ele, já estava tomada. O grupo iria agora e ele,<br />

Zé Maria, chegaria horas antes da estréia em<br />

Pelotas, após fazer sua estréia em Curitiba.<br />

Acervo TUT<br />

A viagem foi cansativa, desgastante e<br />

bastante preocupante. Chegando na cidade,<br />

imediatamente o elenco foi acomodado num<br />

dormitório de soldados no quartel do Exército<br />

da cidade. Aquela primeira noite seria muito<br />

pior do que tinha sido a longa viagem. O elenco<br />

foi colocado em beliches num pavilhão com<br />

janelas quebradas. O frio foi insuportável, quase<br />

ninguém conseguiu dormir. Aquilo estava saindo<br />

pior do que o soneto. Na manhã seguinte, após<br />

o café da manhã militar, Ulisses reuniu todo o<br />

grupo e disse que era preciso tomar algumas<br />

decisões e que estas precisavam ser votadas.<br />

A primeira delas seria reivindicar a estada do<br />

elenco num hotel e a segunda, tentar viabilizar<br />

o cenário. Nenhuma dessas ações, segundo<br />

Ulisses, seria resolvida pela responsável do<br />

grupo naquela viagem, a esposa de Zé Maria.<br />

Ela não convivia com o grupo, não tinha a menor<br />

proximidade com o fazer teatral daqueles alunos.<br />

Simplesmente ela estava ali naquela excursão,<br />

porque Zé Maria acreditava na necessidade de<br />

uma pessoa adulta e de sua inteira confiança<br />

junto àqueles adolescentes. Nada mais do que<br />

isso. “Como é que a dona Ruth vai poder nos<br />

ajudar se ela nem sabe a importância desse<br />

cenário para o espetáculo”, dizia Ulisses. As<br />

discussões foram acaloradas, uns concordando<br />

com as observações de Ulisses, outros dizendo<br />

que apesar de concordarem que Ruth Santos não<br />

tinha nenhuma outra função além da de guardiã<br />

do grupo, “não iremos admitir que Ulisses tome<br />

o posto da pessoa designada pelo Zé Maria”.<br />

Por fim, a maioria ficou com Ulisses. Este,<br />

como primeira medida se dirigiu ao CEFET-<br />

Pelotas para negociar com o diretor-<br />

geral a mudança do elenco para um hotel. No<br />

caminho do CEFET, ele e os colegas passaram<br />

por um canteiro de obras. Ulisses, que estava<br />

acompanhado de Cley Scholz, René Scholz e<br />

Claudete Oliveira viram que ali havia andaimes<br />

de metal usados pelos trabalhadores para<br />

atingir os andares superiores do edifício. Numa<br />

entusiasmada conversa com o mestre de obras,<br />

o problema do cenário foi resolvido. Os andaimes<br />

“montáveis” seriam emprestados por dois<br />

dias. Tempo necessário para o ensaio geral e<br />

apresentação do espetáculo.<br />

Depois de ouvir o grupo de alunos, o diretor<br />

30<br />

do CEFET argumentou que não teria verba para<br />

hospedar o elenco num hotel, mas que as portas<br />

do CEFET estavam abertas, ou melhor, salas<br />

de aula seriam improvisadas com colchões e a<br />

alimentação seria fornecida por um restaurante<br />

do centro da cidade, o Alles Alles Alles Blau. Blau Não havendo<br />

outra alternativa, foi aceita a sugestão, pois<br />

qualquer lugar seria melhor do que aquele<br />

dormitório militar. Com a boa nova, a comissão<br />

voltou ao quartel para comunicar a mudança e o<br />

transporte dos andaimes. Todos deviam ajudar,<br />

pois o tempo era escasso e era preciso montar<br />

o cenário, ou desistir da apresentação. E assim<br />

passaram o dia todo trabalhando. Dia seguinte,<br />

após a conclusão da montagem do cenário,<br />

foram realizados três ensaios.<br />

Horas antes da estréia, Zé Maria chegou<br />

acompanhado do diretor Ivo Mezzadri. Queria<br />

ensaiar justamente quando todos já haviam<br />

sido liberados para descansar e se concentrar<br />

para apresentação. Além da montagem do<br />

improvisado cenário, de ajustes de iluminação e<br />

som já tinham sido feitos os ensaios, que Zé Maria<br />

pretendia fazer quando chegou. Mas como?<br />

Estavam todos exaustos! Ulisses estava deitado<br />

em seu colchão na sala de aula, quando alguém<br />

veio avisar que Zé Maria exigia a presença dele<br />

no palco para ensaiar. Ulisses disse que não iria<br />

e não foi! Passados alguns minutos, três colegas<br />

vieram chamá-lo. Mesmo cansado, Ulisses foi até<br />

o palco contrariado. O que se viu então foi uma<br />

discussão sem precedentes entre o aluno-ator<br />

Ulisses e o professor-diretor José Maria Santos.<br />

Foi preciso que a Ruth, esposa de Zé Maria<br />

interviesse. Ulisses se recusava a ensaiar outra<br />

vez. Zé Maria, por sua vez exigia que o ensaio<br />

geral fosse feito. Depois de muita discussão foi<br />

feito o ensaio do primeiro ato. Zé Maria vendo<br />

que o elenco estava realmente exausto, deu-se<br />

por satisfeito e desejou “merda” a todos.

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