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modernismo brasileiro: antecedentes de 1922 - marcelo::frizon

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Tudo se presta à literatura, inclusive<br />

um pobre morto anônimo, como aquele<br />

que Ferreira Gullar poetizou em “Notícia<br />

da morte <strong>de</strong> Alberto Silva”:<br />

Morava no Méier <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menino<br />

Seu gran<strong>de</strong> sonho era tocar violino<br />

Fez o curso primário numa escola pública<br />

quanto ao secundário resta muita dúvida<br />

Aos treze anos já estava empregado<br />

num escritório da rua do Senado<br />

Quando o pai morreu criou os irmãos<br />

Sempre foi um homem <strong>de</strong> bom coração<br />

Começou contínuo e acabou funcionário<br />

Sempre eficiente e cumpridor do horário<br />

Gostou <strong>de</strong> Nezinha, <strong>de</strong> cabelos longos,<br />

que um dia sumiu com um tal <strong>de</strong><br />

Raimundo<br />

Gostou <strong>de</strong> Esmeralda uma <strong>de</strong> olhos pretos<br />

Ela nunca soube <strong>de</strong>ste amor secreto<br />

Endoidou <strong>de</strong> fato por Laura Marlene<br />

que dormiu com todos menos com ele<br />

Casou com Luísa, que morava longe,<br />

não tinha olhos pretos nem cabelos longos<br />

Apesar <strong>de</strong> tudo, foi pai <strong>de</strong> família<br />

sua casa tinha uma boa mobília<br />

Conversava pouco mas foi bom marido<br />

comprou televisão e um rádio transístor<br />

Não foi carinhoso com a mulher e a filha<br />

mas <strong>de</strong>ixou para elas um seguro <strong>de</strong> vida<br />

Morreu <strong>de</strong> repente ao chegar em casa<br />

ainda com o terno puído que usava<br />

Não saiu notícia em jornal nenhum<br />

Foi apenas a morte <strong>de</strong> um homem comum<br />

E porque ninguém noticiou o fato<br />

fazemos aqui este breve relato. (...)

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