cesar agenor fernandes da silva - ANPUH-SP - XXI Encontro ...
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filosóficos ou bárbaros. A análise, o método de indução, a lenta observação dos<br />
fatos, eis tão somente os únicos e últimos recursos deixados ao espírito do homem<br />
para compreender as maravilhas <strong>da</strong> criação, que os gênios <strong>da</strong>s i<strong>da</strong>des primitivas<br />
abraçaram na compreensão de uma deslumbrante intuição.<br />
Deser<strong>da</strong>do do conhecimento do princípio universal, o homem tem sido forçado a<br />
construir uma a uma a numerosa família <strong>da</strong>s ciências; mas uma esperança<br />
consoladora o tem sustentado nesta árdua tarefa; esta esperança é a de chegar um dia<br />
à CIÊNCIA<br />
Esta tarefa hoje está quase preenchi<strong>da</strong>. A anatomia compara<strong>da</strong> ata entre si todos os<br />
ramos <strong>da</strong> zoologia; os fenômenos <strong>da</strong> química e <strong>da</strong> física; a mesma sociabili<strong>da</strong>de<br />
humana se prende a princípios gerais; e a lei que rege os astros torna-se lei do<br />
gênero humano. A obra enciclopédica em vão empreendi<strong>da</strong> no último século, é já<br />
mais acessível, e se não é possível hoje, ao menos estamos cônscios que ela o será<br />
amanhã.<br />
To<strong>da</strong>via existe uma lacuna importante no magnífico conjunto dos conhecimentos<br />
modernos. Um deserto medonho, por sua nudez, ficou coberto de areias movediças;<br />
e pareça repelir a cultura que tem fecun<strong>da</strong>do a vasta campina dos conhecimentos<br />
humanos. A medicina ficou estacionária no meio dos incessantes progressos <strong>da</strong><br />
humani<strong>da</strong>de; enquanto tudo se tem coordenado em torno de luminosos faróis, ela tão<br />
somente ficou mergulha<strong>da</strong> nas trevas do caos, <strong>da</strong>s quais debalde têm tentado evadirse<br />
há três mil anos. O homem, que pondera os mundos ambulados no espaço, ignora<br />
as leis <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a razão <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> enfermi<strong>da</strong>de. Todos os sábios têm métodos<br />
apropriados aos seus diferentes gêneros de estudo: o médico unicamente impotente<br />
no descobrir ações curativas, pede às ciências acessórias o que elas não podem <strong>da</strong>r.<br />
O astrônomo na imensi<strong>da</strong>de dos espaços, o químico e o físico no mundo dos<br />
imponderáveis, deparam com o infinito na meta de todos os seus cálculos; o médico,<br />
tão somente ignora a ação dos agentes infinitesimais, e maravilha-se quando um<br />
homem de gênio vem em fim pô-la ao nível <strong>da</strong>s idéias vulgares. Em outras palavras,<br />
as ciências existem já, e to<strong>da</strong>s convergirão para um centro comum, se a vergonhosa<br />
imperfeição <strong>da</strong> medicina não tivesse por tanto tempo posto obstáculo insuperável a<br />
este derradeiro progresso que se não pode operar senão de uma maneira unitária (A<br />
Sciencia, ano 1, n 1, 1847, p.1).<br />
O interesse por esses temas estava ligado à cultura científica que se queria imprimir<br />
em larga escala. Foi constante, nas páginas dos periódicos, a defesa <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de se<br />
aplicar um trabalho racional aos diversos setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira oitocentista, ain<strong>da</strong><br />
que, muito do que foi veiculado em relação às memórias, 14 melhoramentos e métodos fosse<br />
direcionado, sobretudo, para a agricultura. O discurso do Brasil como um “gigante pela<br />
própria natureza” e detentor de um enorme potencial natural emergiu no começo do século<br />
XIX <strong>da</strong>s penas de José Bonifácio, Hipólito <strong>da</strong> Costa, José <strong>da</strong> Silva Lisboa e de to<strong>da</strong> uma leva<br />
de intelectuais do período pré e imediatamente posterior à Independência do país.<br />
O Jornal Scientífico, em 1826, trouxe alguns artigos que tratavam do tema, como os<br />
ensaios “Ciências e Artes” e “História Natural”. A defesa e a necessi<strong>da</strong>de de ampliação de tal<br />
conhecimento, especialmente no que toca à aclimatação de plantas, foi insistentemente<br />
defendido, não apenas pelos re<strong>da</strong>tores do Scientifico, mas por outros jornalistas ao longo dos<br />
primeiros decênios do século XIX. Não foi por acaso que o tema <strong>da</strong>s plantas esteve sempre<br />
associado à Agricultura e ao clima do país. De acordo com os re<strong>da</strong>tores:<br />
14 Alguns dos artigos técnicos recebiam o nome de memória, como “Memória sobre a cultura dos algodoeiros,<br />
por Manoel Arru<strong>da</strong> <strong>da</strong> Câmara”. O Patriota, v.1, n.1, 1813, p.22.<br />
Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />
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