cesar agenor fernandes da silva - ANPUH-SP - XXI Encontro ...
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marceneiros, engenheiros, militares, missionários, <strong>da</strong>guerreotipistas, comerciantes de diversos<br />
tratos, entre tantos outros. 2 Alguns só estavam de passagem, outros vieram para ficar. A<br />
esperança era geral. Os administradores joaninos acreditavam que a presença dos estrangeiros<br />
traria modos civilizados para o Brasil e aju<strong>da</strong>ria a desenvolver a economia e a socie<strong>da</strong>de –<br />
crença manti<strong>da</strong> no período imperial. Já os estrangeiros que vinham fixar residência no país,<br />
esses estavam atrás de novas oportuni<strong>da</strong>des, de ganhar e fazer a vi<strong>da</strong> em uma nova terra.<br />
A cultura estrangeira, porém, não foi simplesmente copia<strong>da</strong> pelo brasileiro. Como em<br />
todo processo de contato entre culturas diferentes, o que ocorreu foi uma a<strong>da</strong>ptação de hábitos<br />
e costumes. Os indivíduos pertencentes aos estratos médio e alto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de do período, ao<br />
mesmo tempo que encaravam o sol escal<strong>da</strong>nte <strong>da</strong>s ruas vestidos à inglesa ou à francesa,<br />
escarravam em público e expunham roupa de cama e tapeçarias nas janelas. Já os populares<br />
incorporaram poucos destes costumes, a<strong>da</strong>ptando-os às suas práticas cotidianas.<br />
Por vezes, as cama<strong>da</strong>s populares resistiram à influência européia. A figura do<br />
estrangeiro, eleita pelas elites como a representante <strong>da</strong> civilização, foi também alvo de<br />
chacota e hostili<strong>da</strong>de. Essa “antipatia” manifestou-se nas festas populares, como o entrudo, e<br />
nas pia<strong>da</strong>s e apelidos <strong>da</strong>dos ao estrangeiro. Gilberto Freyre descreve esta tensão nos seguintes<br />
termos:<br />
Dois sistemas socioculturais que se defrontaram no espaço e no tempo estu<strong>da</strong>dos:<br />
um sistema encarnado pelos ingleses, outro pelos brasileiros, ou pelos lusobrasileiros.<br />
Não se espante ninguém de ver o moleque incluído entre os<br />
representantes do sistema brasileiro: ele foi por excelência o caricaturista do intruso,<br />
o que o insultou nas ruas, o que o reduziu a Ju<strong>da</strong>s no sábado de aleluia, o que o<br />
macaqueou nas troças de carnaval, ridicularizando-o em proveito <strong>da</strong> cultura<br />
invadi<strong>da</strong>. Foi quem propagou os qualificativos pejorativos do inglês no Brasil: bode,<br />
missa-seca, bíblia (quando protestantes), gringo, baeta, bicho, beef, marinheiro.<br />
[...]<br />
Pois enorme como foi a influência britânica no Brasil, a cultura técnica e<br />
literariamente superior não agiu de modo absoluto, ou sempre soberanamente, sobre<br />
a inferior. Do contato dos britânicos com a socie<strong>da</strong>de brasileira resultaram também<br />
influências brasileiras sobre a cultura do povo imperial (FREYRE, 2000, p.45).<br />
Malgrado, no entanto, as antipatias e resistências, os homens de letras apreciavam<br />
muito os valores e conhecimentos desenvolvidos no Velho Mundo, pois consideravam que a<br />
Europa era o local onde se desenvolvia uma “cultura técnica e literariamente superior”. Ao<br />
2 O coronel Maler, em 1817, fez a seguinte observação sobre a presença ca<strong>da</strong> vez maior de franceses e outros<br />
estrangeiros no Rio de Janeiro: “O número de franceses nesta capital aumenta consideravelmente; as duas<br />
últimas naves que chegaram trouxeram mais 54 pessoas, <strong>da</strong>s quais a maioria são artesãos. Muitos outros são<br />
anunciados como vindos diretamente <strong>da</strong> França e de portos dos Estados Unidos. O governo português considera<br />
com boa vontade essas chega<strong>da</strong>s, mas esse é o único apoio que lhes é proporcionado. Parece óbvio que, por<br />
menos que se pense em protegê-los e ajudá-los desde seu embarque, este país [o Brasil] faria aquisições muito<br />
importantes que teriam uma influência fun<strong>da</strong>mental para a prosperi<strong>da</strong>de dessa comuni<strong>da</strong>de.” (apud DUMNOT,<br />
2009, p.109-110).<br />
Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />
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