Ética - La Salle
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Se, agora, imaginamos outro exemplo, a propriedade de uma pessoa humana, neste<br />
caso, já não é a composição química que fornece a propriedade humana, mas, as possibilidades<br />
desta pessoa. Quando definimos uma pessoa, certamente, a capacidade de decisão e a de<br />
esforço pessoal é mais destacada do que a sua propriedade química. E as possibilidades dão ao<br />
ser humano a capacidade de fazer algo com as pessoas e com as coisas.<br />
Voltando ao exemplo da água, se ela for potável e de um rio navegável, veremos que<br />
nem a navegabilidade e nem o fato desta água ser potável dependem da propriedade da água,<br />
mas dependem das pessoas que se utilizam da água. Vemos, no entanto que no exemplo as<br />
possibilidades estão ligadas à propriedade da água porque o ser humano oferece as<br />
possibilidades.<br />
Segundo Germán Marquínez Argote 10<br />
“No mundo há coisas e as coisas têm propriedades. As propriedades das coisas<br />
oferecem possibilidades de vida. Propriedades e possibilidades dividem as coisas em coisas reais<br />
e em coisas-sentido. O sentido diz relação positiva ou negativa da vida. Em sentido positivo se<br />
constituem os valores, sendo a vida a norma suprema que determina o caráter positivo ou<br />
negativo de um valor”.<br />
Decorre disso que o ser humano cria possibilidades de vida sobre as propriedades (faz a<br />
água ser potável e navegável, etc.). As possibilidades estão, pois, relacionadas à vida humana,<br />
porque as pessoas têm esta capacidade de extrapolar as propriedades das coisas para produzir<br />
obras e realizar-se a si mesmo. Antes mesmo de fazer qualquer coisa, o ser humano se sente<br />
dotado da capacidade de poder exercer uma ação sobre esta coisa: é a possibilidade de poder<br />
fazer algo sobre esta coisa.<br />
Se as possibilidades humanas têm a capacidade de agir sobre as coisas, emerge logo<br />
uma questão: podem todas as pessoas fazer isto em nível de igualdade? Se eu, por exemplo,<br />
quisesse ser astronauta, poderia sê-lo, se sou pobre, analfabeto e desempregado?<br />
10. Realidade e Sentido<br />
Assim como a água de um rio pode ser navegável e potável, a inteligência humana é<br />
uma propriedade que se abre a muitas possibilidades. Estas possibilidades podem acrescentarlhe,<br />
por exemplo, o saber, capacidade de raciocínio, etc. assim também todo o real humano é<br />
constituído de um conjunto de propriedades psicossomáticas. Assim como a água está aberta a<br />
possibilidades, o ser humano está aberto a coisas e a si mesmo.<br />
O ser humano, diferentemente dos outros animais, não está apenas aberto aos<br />
estímulos, mas tem a capacidade de transcender esta realidade pela sua capacidade de<br />
perguntar em torno do “quê”, do “porque” e do “para quê”. Ele se interroga a respeito de si<br />
mesmo e de tudo quanto o rodeia e lhes dá significados. Esta capacidade abre-lhe<br />
possibilidades de sentido. Está ali sua propriedade específica: a de conferir sentido às coisas.<br />
Quando se inventa a fazer um prato, uma faca ou qualquer outro objeto, ele o faz para algo.<br />
Significa que o ser humano, através do sentido ou da intencionalidade, ultrapassa a realidade.<br />
Assim como o átomo de hidrogênio é uma realidade, a intencionalidade humana pode<br />
transformá-la em uma bomba.<br />
10 ARGOTE, Germán Marquínez et alii. El Hombre <strong>La</strong>tinoamericano y sus valores. Bogotá: Nueva América, 1991,<br />
p.18.