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Anais do XVI CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...

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ódio <strong>de</strong> autoflagelação. Por esse motivo, A<strong>do</strong>nias Filho é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

como gran<strong>de</strong> representante da tragédia no Brasil, cria<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong><br />

trágico e bárbaro, varri<strong>do</strong> pela violência e mistério e por um sopro <strong>de</strong> poesia.<br />

Nesse romance, o escritor narra os conflitos eternos da natureza<br />

humana, situan<strong>do</strong> o homem em face <strong>de</strong> seus dilemas e conferin<strong>do</strong>, à obra,<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> dramática.<br />

O primeiro capítulo já apresenta essa tensão. No diálogo entre o<br />

casal – Paulino Duarte e Elisa – é evi<strong>de</strong>nciada a repulsa da esposa pelo<br />

mari<strong>do</strong>, além da alusão ao casamento como sacrifício, realiza<strong>do</strong> para que<br />

a mesma livre a sua mãe e irmã da miséria. Já nesse momento, a crise é<br />

estabelecida numa relação <strong>de</strong> ódio que se prolongará durante anos. A<br />

trama acontece em uma remota proprieda<strong>de</strong> rural com o nome “Baluarte”,<br />

localizada em plena floresta tropical, ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> vegetação tão <strong>de</strong>nsa<br />

que chega às vezes a barrar a luz, a fazenda respira uma intemporalida<strong>de</strong><br />

propícia à interação <strong>do</strong>s seres semibárbaros que formam o tipo pre<strong>do</strong>minante<br />

na obra.<br />

O narra<strong>do</strong>r onisciente acrescenta um <strong>de</strong>talhe sugestivo ao <strong>de</strong>screver<br />

o ambiente como um espaço secular, que apresenta ruí<strong>do</strong>s, chuva e<br />

vento. Nesse ambiente, numa construção muita próxima da tragédia grega,<br />

habitam Paulino Duarte e os seus subservientes cinco filhos, quase<br />

to<strong>do</strong>s seus rivais em primarismo e brutalida<strong>de</strong> (SILVERMAN, 1981, p.<br />

12). A narrativa é marcada por reminiscências que fornecem ao leitor da<strong>do</strong>s<br />

importantes para compreen<strong>de</strong>r a origem para esse primarismo:<br />

Foi assim. Passaram-se os anos, o menino cria<strong>do</strong> pelo velho Juca, atormenta<strong>do</strong><br />

pela ferocida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pai. Vivia entre os cães, como eles <strong>de</strong>ita<strong>do</strong> na<br />

sombra da casa rugin<strong>do</strong> como eles em presença <strong>de</strong> pessoas estranhas. Paulino<br />

Duarte crescia entre os cães bravios e os <strong>do</strong>is bêba<strong>do</strong>s. Dormia na varanda, algumas<br />

vezes, aspiran<strong>do</strong> o perfume das plantas, as estrelas nos olhos. Vagava<br />

pelas estradas, ouvia o murmúrio <strong>do</strong> povo quan<strong>do</strong> passava, os cabelos enormes,<br />

a pele queimada, os pés no chão. (ADONIAS FILHO, 1965, p. 2)<br />

Paulino é cria<strong>do</strong> entre os cães ferozes e age como eles, e, nessas<br />

mesmas condições são cria<strong>do</strong>s seus cinco filhos, to<strong>do</strong>s eles seus rivais<br />

em primarismo e bestialida<strong>de</strong>, frutos da herança maldita. A tragédia é<br />

perpetuada por meio <strong>de</strong> seus filhos, o proscrito Ângelo, o mais novo <strong>do</strong>s<br />

irmãos, está sempre provocan<strong>do</strong> Paulino por ter maltrata<strong>do</strong> Elisa - a martirizada<br />

mãe <strong>de</strong>funta. A<strong>do</strong>nias Filho reproduz, então, a origem e continuida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssa tragédia, num ambiente sombrio, on<strong>de</strong> as crianças crescem à<br />

semelhança <strong>do</strong> pai, entre murros e grunhi<strong>do</strong>s.<br />

Ca<strong>de</strong>rnos <strong>do</strong> <strong>CNLF</strong>, Vol. <strong>XVI</strong>, Nº 04, t. 2, pág. 1301.

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