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Anais do XVI CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...

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“Resfulego” da sanfona<br />

“Inté” que o sol raiar<br />

Esse teu funga<strong>do</strong> quente<br />

Bem no pé <strong>do</strong> meu pescoço<br />

Arrepia o corpo da gente<br />

Faz o “véio” ficar moço<br />

E o coração <strong>de</strong> repente<br />

Bota o sangue em “arvoroço”<br />

Vem, morena, pros meus braços<br />

Vem, morena, vem dançar<br />

Quero ver tu requebran<strong>do</strong><br />

Quero ver tu requebrar<br />

Quero ver tu remexen<strong>do</strong><br />

“Resfulego” da sanfona<br />

“Inté” que o sol raiar<br />

Esse teu suor “sarga<strong>do</strong>”<br />

É gostoso e tem sabor<br />

Pois o teu corpo sua<strong>do</strong><br />

Com esse cheiro <strong>de</strong> “fulô”<br />

Tem um gosto tempera<strong>do</strong><br />

Dos tempero <strong>do</strong> amor<br />

Vem, morena, pros meus braços...<br />

Apenas algumas expressões populares aparecem nesta canção: o<br />

rotacismo em sarga<strong>do</strong> (salga<strong>do</strong>) e arvoroço (alvoroço); os solecismos ou<br />

variantes linguísticas em resfulego (reesfolego) e inté (até); o suarabácti<br />

ou anaptixe em fulô e a vocalização em veio. Na edição original <strong>do</strong> disco,<br />

aparecia a grafia “remechen<strong>do</strong>”, que optamos por eliminar. Talvez isso<br />

se <strong>de</strong>va ao fato <strong>de</strong>, embora extremamente popular e agitada, esta canção<br />

tem uma estrutura bastante acadêmica, principalmente no que tange<br />

ao uso das formas nominais <strong>do</strong> verbo, que são empregadas com uma perícia<br />

louvável.<br />

Essa <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> conhecimento começa pela contraposição<br />

entre o gerúndio (em curso, em movimento, vivaz): quero ver tu requebran<strong>do</strong>,<br />

quero ver tu remexen<strong>do</strong>; e o infinitivo (absoluto, atemporal ou<br />

pontual): vem dançar, quero ver tu requebrar, “inté” que o sol raiar, faz<br />

o “véio” ficar moço. Já os particípios são usa<strong>do</strong>s, como substantivos ou<br />

adjetivos, com um senti<strong>do</strong> resultativo, daí serem acompanha<strong>do</strong>s <strong>do</strong> presente:<br />

funga<strong>do</strong> – arrepia, suor “sarga<strong>do</strong>” é gostoso e tem sabor, teu<br />

corpo sua<strong>do</strong> com esse cheiro <strong>de</strong> “fulô” tem um gosto tempera<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

tempero <strong>do</strong> amor. É como se fosse um movimento contínuo: o particípio<br />

conduz ao presente, que leva ao gerúndio e daí ao infinitivo, numa sequência<br />

que imita os movimentos e os <strong>de</strong>sejos <strong>do</strong>s dançarinos.<br />

Ca<strong>de</strong>rnos <strong>do</strong> <strong>CNLF</strong>, Vol. <strong>XVI</strong>, Nº 04, t. 2, pág. 1937.

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