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Anais do XVI CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...

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curso, o que vem a ser discurso? Com Émile Benveniste, “discurso aproxima-se<br />

<strong>de</strong> ‘enunciação’: trata-se da ‘língua assumida pelo homem que<br />

fala, e na condição <strong>de</strong> intersubjetivida<strong>de</strong> que constitui o fundamento da<br />

comunicação linguística” (BENVENISTE, apud MAINGUENEAU,<br />

2006, p. 266).<br />

Maingueneau atualiza a AD ao consi<strong>de</strong>rar o caráter pragmático<br />

<strong>do</strong>s enuncia<strong>do</strong>s, re<strong>de</strong>finin<strong>do</strong> os conceitos <strong>de</strong> enunciação e enuncia<strong>do</strong>r. O<br />

autor “tenta inserir em um mo<strong>de</strong>lo integrativo as diversas dimensões <strong>do</strong><br />

discurso e reservar entre elas um lugar <strong>de</strong>terminante para as enunciações<br />

e para o enuncia<strong>do</strong>r” (AMOSSY, 2005, p. 16).<br />

O teórico compreen<strong>de</strong> o enuncia<strong>do</strong> que emerge numa cena <strong>de</strong> enunciação<br />

ou cenografia. Segun<strong>do</strong> ele, mais <strong>do</strong> que apresentar i<strong>de</strong>ias, a<br />

enunciação implica na construção e legitimação <strong>de</strong> um quadro cênico, o<br />

que implica que “to<strong>do</strong> discurso, por sua manifestação mesma, preten<strong>de</strong><br />

convencer instituin<strong>do</strong> a cena <strong>de</strong> enunciação que o legitima” (MAINGUE-<br />

NEAU, 2004, p. 87). Para isso, propõe um quadro em três ângulos: a cena<br />

englobante (finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> texto), a cena genérica (a inscrição <strong>do</strong> texto<br />

num gênero discursivo) e a cena <strong>de</strong> enunciação (construída pelo texto).<br />

A cenografia “é ao mesmo tempo a fonte <strong>do</strong> discurso e aquilo que ele<br />

engendra” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m).<br />

O enuncia<strong>do</strong>r, ponto <strong>de</strong> origem <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>, não é um ser estanque<br />

e aliena<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua produção. O mo<strong>do</strong> como ele constrói o discurso,<br />

ainda que não se coloque literalmente, leva a assunção <strong>de</strong> um fia<strong>do</strong>r. O<br />

discurso convoca o receptor (cf. a visão estruturalista <strong>de</strong> Jakobson) converti<strong>do</strong><br />

em coenuncia<strong>do</strong>r (cf. a pragmática <strong>de</strong> Bakhtin e Maingueneau)<br />

para, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar conteú<strong>do</strong>s, participar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> configura<strong>do</strong><br />

pela cena <strong>de</strong> enunciação. “Qualquer discurso escrito, mesmo que a negue,<br />

possui uma vocalida<strong>de</strong> específica, que permite relacioná-lo a uma<br />

fonte enunciativa, por meio <strong>de</strong> um tom que indica quem o disse” (A-<br />

MOSSY, 2005, p. 72). Assim,<br />

Esse tom [que dá autorida<strong>de</strong> ao que é dito] permite ao leitor construir uma<br />

representação <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r (e não, evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> autor<br />

efetivo). A leitura faz, então, emergir uma instância subjetiva que <strong>de</strong>sempenha<br />

o papel <strong>de</strong> fia<strong>do</strong>r <strong>do</strong> que é dito (MAINGUENEAU, 2004, p. 98).<br />

A figura <strong>do</strong> fia<strong>do</strong>r que, para<strong>do</strong>xalmente, enuncia e legitima o que<br />

diz é construí<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> um caráter e uma corporalida<strong>de</strong>. “O caráter<br />

correspon<strong>de</strong> a uma gama <strong>de</strong> traços psicológicos. Já a corporalida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong><br />

a uma compleição corporal, mas também a uma maneira <strong>de</strong> se<br />

vestir e se movimentar no espaço social” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 99). Deste mo<strong>do</strong>, as<br />

pág. 1850 – <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>XVI</strong> <strong>CNLF</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CiFEFiL, 2012.

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