Tradução de Marcelo Schild - Grupo Editorial Record
Tradução de Marcelo Schild - Grupo Editorial Record
Tradução de Marcelo Schild - Grupo Editorial Record
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
e violência vinha necessariamente <strong>de</strong> noticiários e <strong>de</strong> programas <strong>de</strong><br />
TV. Eles supunham que crimes violentos estavam limitados ao centro<br />
metropolitano, a uma subclasse <strong>de</strong> caipiras urbanos. Estavam errados<br />
quanto a isso, é claro, mas não eram tolos e não fi cariam tão chocados<br />
com o assassinato <strong>de</strong> um adulto. O que tornava o homicídio <strong>de</strong> Rifkin<br />
tão profano era que envolvia uma das crianças da cida<strong>de</strong>. Era uma violação<br />
da autoimagem <strong>de</strong> Newton. Durante algum tempo, ergueram<br />
uma placa no Centro <strong>de</strong> Newton <strong>de</strong>clarando o lugar “Uma Comunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Famílias, Uma Família <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>s”, e ouvia-se com<br />
fre quência repetirem que a localida<strong>de</strong> era “um bom lugar para criar os<br />
fi lhos”. E realmente era. A cida<strong>de</strong> era repleta <strong>de</strong> cursinhos preparatórios<br />
com aulas após o horário escolar, <strong>de</strong> dojos <strong>de</strong> caratê e campeonatos<br />
<strong>de</strong> futebol aos sábados. Os jovens pais da cida<strong>de</strong> valorizavam especialmente<br />
essa visão <strong>de</strong> Newton como um paraíso para as crianças. Muitos<br />
tinham <strong>de</strong>ixado a cida<strong>de</strong> sofi sticada e mo<strong>de</strong>rna para se mudar para cá.<br />
Aceitaram <strong>de</strong>spesas gigantescas, uma monotonia sem tamanho e a <strong>de</strong>cepção<br />
<strong>de</strong>sagradável <strong>de</strong> se acomodar em uma vida convencional. Para<br />
esses habitantes ambivalentes, todo o projeto suburbano só fazia sentido<br />
por ser “um bom lugar para criar os fi lhos”. Eles tinham apostado<br />
tudo nisso.<br />
Indo <strong>de</strong> cômodo em cômodo, passei por uma tribo após a outra. Os<br />
jovens, amigos do menino morto, haviam se reunido em um pequeno<br />
cômodo na parte da frente da casa. Falavam baixo e encaravam as pessoas.<br />
O rímel <strong>de</strong> uma das garotas estava borrado <strong>de</strong> lágrimas. Meu próprio<br />
fi lho, Jacob, encontrava-se sentado em uma ca<strong>de</strong>ira baixa, magrelo<br />
e <strong>de</strong>sengonçado, afastado dos outros. Olhava para a tela <strong>de</strong> seu celular,<br />
nada interessado nas conversas ao redor.<br />
A família enlutada e chocada estava ao lado, na sala <strong>de</strong> estar, velhas<br />
avós, primos bebês.<br />
Na cozinha, fi nalmente, estavam os pais dos garotos que estudaram<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenos em Newton com Ben Rifkin. Aquele era o nosso pessoal.<br />
Conhecíamos uns aos outros <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nossos fi lhos apareceram<br />
para o primeiro dia no jardim <strong>de</strong> infância, oito anos antes. Estivemos<br />
juntos mil vezes, <strong>de</strong>ixando as crianças na escola <strong>de</strong> manhã e pegando-as<br />
à tar<strong>de</strong>, em infi nitos jogos <strong>de</strong> futebol e eventos para arrecadar<br />
16