Marisa Valladares - Uninove
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comercial e do produto interno bruto (MAUÉS, 2006). A crise estrutural que abalou<br />
todo o mundo tem implicações com novos paradigmas capitalistas de “acumulação<br />
flexível” (HARVEY, 1998); tem desdobramentos na emergência de novos padrões<br />
culturais, influenciados pelo mais frequente contato entre diferentes povos,<br />
nacionalidades e grupos sociais, além de ter imbricamentos com a revolução<br />
tecnológica, que mudou a organização do processo produtivo, sua estrutura, suas<br />
relações com trabalhadores, empresários e consumidores.<br />
Essas alterações exigiram um novo modo de se pensar e de proporcionar a formação de<br />
um trabalhador polivalente, integrado às constantes inovações tecnológicas, e, capaz de<br />
se adaptar às relações trabalhistas desta „nova ordem‟. Em consequência, nas<br />
instituições de ensino, outras formas organizacionais alteraram anteriores relações de<br />
trabalho exigindo, não apenas, que os professores se adaptassem e (sobre)vivessem com<br />
as mesmas, mas que, também, as colocassem no foco de seu fazer profissional. O<br />
Estado atuou/atua como regulador e como avaliador nesse processo, com a justificativa<br />
de „melhoria da formação‟, na maioria das vezes, apropriando-se, indevidamente, de<br />
reclamos e de produções teóricas dos próprios docentes, manipulando-as a favor de<br />
interesses mercantilistas.<br />
Conversa entre alunos numa viagem a um município do interior, para realização de oficinas:<br />
“Pois é, acho tão bacana a campanha dos „amigos da escola‟. Eu também vou participar<br />
oferecendo a oficina na escola do meu bairro. Acho graça que tem gente contra, professora,<br />
mas não é legal a sociedade ajudar na escola?” Nem me sobrou tempo, um aluno entrou na<br />
conversa: “Por isso é que professora ganha mal: por causa de má colega, como você. Isso é<br />
articulação da TV para ganhar o governo como freguês na propaganda. Não precisa ninguém<br />
bancar professor: é preciso pagar para ter professor na rede pública. Não deveria precisar da<br />
comunidade consertar a escola. O dinheiro para manutenção não poderia escapar para outras<br />
coisas, você entendeu? Professor é profissional, muito amigo da escola sim, mas é um<br />
profissional, não é agregado...” Preciso falar algo? Difícil foi viver anotando às pressas o que<br />
me falavam e o que falavam entre si. Ainda bem que desenvolvi este hábito em 1997, na<br />
escrita de um artigo 2 , andando em ônibus urbanos e nunca mais abandonei o exercício. Claro<br />
que, de certa maneira, „filtro‟ o que ouvi, mas aí me salva a metodologia das narrativas, que<br />
não castiga omissões e esquecimentos – compreende-os como parte do processo de lembrar,<br />
recortar, „arrumar‟...<br />
2 Trata-se de um artigo, A geografia no transcol – do senso comum e da sabedoria popular, escrito a partir<br />
de conversas ouvividas no decorrer de „viagens‟, realizadas em ônibus urbanos, no deslocamento entre<br />
universidade e residência, durante o meu tempo do mestrado.Ver referências.