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Marisa Valladares - Uninove

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A produção globalizada se alimenta da competitividade que estabelece entre as<br />

empresas em processos informacionais, organizacionais, produtivos, técnicos,<br />

reguladores e territorializadores. As relações estabelecidas a partir desses processos não<br />

se restringem aos aspectos empresariais ou governamentais: elas se estendem às<br />

sociedades e aos homens, em embates que, espacializados, não marcam lugares fixos.<br />

Nessa complexa rede das geografias de técnicas, tempos, razões e emoções, a natureza<br />

do espaço assim refeita, desvela que os trabalhadores são desterritorializados em seu<br />

trabalho por diferentes formas.<br />

Oliveira (2004) e Maués (2006) chamam a atenção para a perda gradativa de controle<br />

sobre o trabalho docente pelo professor, devido à centralização de decisões sobre<br />

„resultados‟ dele. A excessiva carga de atribuições paralelas ao ato pedagógico; a<br />

desvalorização da especificidade do fazer do professor; a intervenção do comunitarismo<br />

e do voluntariado na escola, de forma desintegrada e desrespeitosa ao trabalho do<br />

profissional docente; as condições difíceis de infraestrutura e de salário docente: todos<br />

esses fatores causam a proletarização e a precarização do trabalho docente.<br />

Como bem o diz a Professora N., da escola, na escola com os estagiários, quando eles<br />

pediram que ela falasse um pouco sobre a profissão professora e sobre si:<br />

“ Tenho 50 anos de idade, 31 anos de luta na profissão. Há seis anos trabalho de graça,<br />

porque quando completei o tempo para a aposentadoria, a legislação mudou: mudou a regra<br />

no meio do jogo! Já passei por tudo: salário atrasado, contas vencidas, filhos querendo<br />

coisas, eu precisando de coisas – tudo sem poder...” Nessa sua fala é perceptível que se sente<br />

lesada, sem estímulos e, por conseguinte, o que a mantém atuando no mais estreito limite do<br />

cumprimento do dever é um princípio moral que elaborou ao longo de sua vida, estendido ao<br />

campo profissional.<br />

Há sinais claros de um desfalecimento no ímpeto de seu fazer docente, mas há pistas que ela<br />

nega a desistência - “[...] tudo que é muito repetitivo se torna enjoativo. Infelizmente nosso<br />

cotidiano é repetitivo.” A repetição (re)negada, talvez o seja porque, inconscientemente, é<br />

(re)conhecida como impossível de acontecer... O que se anuncia como repetitivo, o que<br />

cansa, parece ser o exigente enfrentamento das dificuldades no dia-a-dia rotineiro - igual sem<br />

sê-lo verdadeiramente: uma retomada constante e um refazer permanente das ações docentes;<br />

um investir, um persistir em lutas pela educação tais como greves, manifestos, discussões...<br />

E, contraditoriamente, professorar é processo, não expresso claramente, que se caracteriza<br />

como irrepetível a cada momento, a cada dia, a cada tempo, em cada lugar...<br />

Também há evidências de uma „teimosia‟ na manutenção de coisas em que acredita e que a<br />

sustentam num fazer compromissado, mesmo que cansado: “Geralmente, eu faço o<br />

planejamento todo em casa, pois na escola o barulho e a agitação dos alunos me<br />

desconcentram.”<br />

O que faz a professora N. em seus horários de planejamento na escola? Fui à busca de<br />

descobrir. Encontrei com a professora conversando com alunos que se estão com

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