CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL A crise na cúpula ¤¨¢¥¤§©¡ ¡¢£¤¢¤¥£¢¦¦¤§ Declarações feitas pelo general Stanley McChrystal à imprensa comprometeram a confiança do governo Obama em seu trabalho e levam a uma nova mudança na direção prática da guerra Karzai afirma que demissão de McChrystal vai prejudicar a guerra ¢§£¤§ ©¡¡ § ¤¨¢¥¤§©¡ AFEGANISTÃO: A “ARÁBIA SAUDITA DO LÍTIO”? Não se depender do imperialismo Página A19 O general norte-americano demitido Stanley McChrystal e o presidente afegão Hamid Karzai. O pano de fundo da demissão do general Stanley McChrystal é o impasse da guerra no Afeganistão. Algumas das declarações que levaram à demissão do general ¥¢§¢¦¤¢ ¦¢©¦¤¤ ELEIÇÕES NA COLÔMBIA Quase 70% da população rejeitou Juan Manuel Santos como presidente Página A19
27 DE JUNHO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL A19 AFEGANISTÃO: A “ARÁBIA SAUDITA DO LÍTIO”? Não, se depender do imperialismo O presidente afegão Hamid Karzai já anunciou que a descoberta de enormes reservas minerais no país está à disposição de investidores internacionais. Para o país ocupado pelo imperialismo, nem um pingo de soberania Após anos buscando riquezas minerais no Afeganistão, o Pentâgono anunciou na semana passada a descoberta de depósitos de ferro, cobre, lítio e outros minérios. Caso as riquezas sejam exploradas plenamente, o país se tornará um dos maiores produtores do mundo. Estima-se que a riqueza esteja em torno de três trilhões de dólares. Fala-se em valores ainda maiores na imprensa econômica internacional. Durante a invasão soviética na década 1980, foi elaborado um mapa com a localização das reservas afegãs, e com a invasão dos EUA em 2004, a busca por tais riquezas foi retomada. Logo após ter anunciado a descoberta, o governo norteamericano declarou que o país não tem máquinas e experiência para explorar as minas. Para manter sua invasão no país, afirmou que está disposto a “ajudar” na exploração. Na segunda-feira, dia 21, o Ministério de Minas do Afeganistão anunciou que abrirá suas reservas para os investidores internacionais. De acordo com o ministro de Minas, Wahidullah Shahrani, as notícias sobre o potencial são “boas”, pois “valorizarão a economia afegã e servirão para desenvolver o país”. O leilão das minas já tem local marcado, será realizado em Londres e de acordo com Craig Andrews, especialista em mineração do Banco Mun- dial para o Afeganistão, foram convidados 200 investidores do setor de mineração que durante a reunião farão suas propostas. Segundo Craig, após as propostas o ministério irá lançar uma oferta. De acordo com o especialista, ao que tudo indica o governo irá ter como exigência que a empre- AFEGANISTÃO Número de soldados britânicos mortos na guerra chega a 300 Com cerca de 10 mil pessoas mobilizadas no país, o Reino Unido perdeu na última semana seu 300º soldado no conflito que já se arrasta há nove anos. O membro de um esquadrão britânico, atingido por uma explosão no último dia 12 na província de Helmand, teve sua morte confirmada pelo governo neste final de semana. A morte do 300º soldado britânico atingiu o governo do novo premiê, David Cameron, como um duro golpe. Com cerca de 10 mil pessoas, entre soldados e civis estacionados no Afeganistãtn:o, Cameron enfrenta o mesmo problema que Obama: “como sair da guerra?” sa invista nas instalações siderúrgicas e de minas e ferro. O ministro disse ainda que as expectativas não devem ser muito altas, pois os investimentos vão levar anos para serem vistos, já que a exploração é lenta. Apesar das expectativas, a população está mais preocupada com o que pode vir a acontecer com as minas. De acordo com moradores de Cabul citados pela imprensa internacional, o único interesse é que os resultados cheguem até eles, seja por meio de investimentos em estrutura, transporte etc. Segundo o estudante de direito e ciências políticas da Universidade de Cabul, Faisal Farooqi, o principal desejo da população é se apoderar da riqueza encontrada, já que essa é a oportunidade de saírem da miséria. Já alguns especialistas em mineração e recursos afirmam que as minas encontradas podem prejudicar ainda mais o país. Isso porque os lucros com a exploração das minas levarão cerca de 20 anos para aparecerem. Segundo Murray W. Hitzman, professor de geologia econômica da School of Mines do Colorado, “nenhuma empresa de mineração no seu perfeito estado de juízo iria agora para o Afeganistão”. (The New York Times, 18/5/ 2010) De acordo com Murray diante da crise econômica, seria extremamente arriscado para uma empresa investir dinheiro em uma mina onde só teria lucro mais de 10 anos depois. De acordo com Michael T. Klare, professor de Estudos da Paz e segurança mundial no Hampshire College, o tesouro subterrâneo será bom para os senhores da guerra e não para os afegãos. Segundo ele, a história em diversas épocas mostrou que impérios foram construídos em cima da exploração de minas, principalmente de ouro, citando como exemplo Espanha e Portugal que enriqueceram com a exploração do ouro da América do Sul e ainda a Os EUA planejam colocar em prática uma das maiores atividades de rapina do globo no Afeganistão. O governo norte-americano, que já perdeu mais de mil soldados no Afeganistão, está atolado na guerra. Cameron chegou a declarar, pouco depois de assumir o cargo de primeiro-ministro, que o país deveria esperar “mais mortes” em julho. Pressionado, por um lado, pelos aliados norte-americanos a permanecer na guer- ra e, por outro, pela opinião pública em seu próprio país, contra a manutenção das tropas no Oriente Médio, Cameron teve que se desdobrar em justificativas para manter a guerra. Após o anúncio da morte do soldado de número 300, o novo premiê se saiu com esta: “Estamos pagando um preço alto para manter nosso país seguro, para tornar o nosso mundo um lugar mais seguro e devemos continuar a nos perguntar porque estamos lá e por quanto tempo deveremos ficar lá”, disse. “Estamos lá porque os afegãos ainda não estão prontos para manter seu próprio país a salvo e manter os terroristas e campos de treinamento de terroristas fora de seu país”. “As forças britânicas devem evacuar assim que o Afeganistão possa garantir sua própria segurança”, acrescentou (BBC, 21/6/2010). As articulações políticas promovidas pelo governo do presidente Hamid Karzai mostram, pelo contrário, que a justificativa apresentada pelo governo britânico é apenas um pretexto para a manutenção das tropas no Afeganistão. A tentativa (fracassada) de corromper uma parte do Talibã e incorporar a organização islâmica extremista ao governo revela que a disposição do imperialismo mundial, por trás da manobra, é viabilizar o quanto antes a retirada de suas tropas, por quaisquer meios que encontre, para evitar que a crise já instalada em seus próprios países se acentue. Apenas em 2010, 55 soldados britânicos morreram no Afeganistão. Já é mais da metade do número de mortos no ano passado (108) e mais do que morreram no ano de 2008 Apenas em 2010, 55 soldados britânicos morreram no Afeganistão, mais da metade do número de mortos no ano passado e mais do que morreram no ano de 2008 inteiro (51). inteiro (51). Enquanto os soldados britânicos, norte-americanos e dos demais países que compõem a coalizão liderada pela OTAN continuarem a morrer no Afeganistão, a crise está garantida nestes países. Resta saber por quanto tempo seus governos vão sustentar este ônus. dominação da Indonésia pela Holanda e da China pelo Japão. “Países com uma história de conflitos geralmente não conseguem resultados benéficos com a descoberta de riquezas minerais, mas sim, mais guerras, corrupção, menos democracia e mais desigualdade”, afirmou Terry Lynn Karl, professor de ciências politicas na Universidade de Stanford. Terry cita como exemplo a Nigéria, que depois da descoberta do petróleo, se tornou ainda mais pobre. Isso ocorreu porque uma pequena elite do país, vendeu o petróleo para investidores internacionais em troca de migalhas para se manterem no poder, não trazendo nenhum benefício à população, que só conseguiu ser mais explorada. Atualmente a economia do país é totalmente dependente do petróleo e apesar disso toda a produção é privatizada. Diante da crescente probreza no país, que já registra 70% da população abaixo da linha da pobreza, o governo apresentou em 2007 um projeto, declarando que iria se comprometer em reformar a economia da Nigéria. Na época foi apresentado como principal problema para o crescimento do país o investimento em infra-estrutura, mas como solução o governo declarou que estava na busca de parcerias público-privadas para o “desenvolvimento” do país. De acordo com Klare, o Afeganistão não pode ser comparado com a Arábia Saudida, como fez o Pentâgono, mas sim com o Congo. Segundo ele o diamante e cobalto encontrados no país levaram o Congo à miséria total, com governos corruptos e guerras brutais. O próprio jornal The New York Times levanta a questão de quem irá proteger as minas durante os próximos 20 anos enquanto a exploração não dá lucro. Com isso, os EUA planejam para o Afeganistão o mesmo que acontece com o Congo, Nigéria e outros países oprimidos: estimular os conflitos internos para justificar a manutenção de suas tropas que vão abrir o caminho para que as empresas e bancos norteamericanos e europeus se apoderem da riqueza natural do país. ELEIÇÕES NA COLÔMBIA Quase 70% da população rejeitou Juan Manuel Santos como presidente A maioria absoluta da população da Colômbia não votou em Santos e na continuação do estado policial de Uribe. A maioria esmagadora da população não compareceu às urnas no último final de semana. Mesmo assim, o candidato do governo se elegeu com uma das maiores abstenções entre os eleitorados. Juan Manuel Santos, foi eleito presidente da Colômbia com 69,05% dos votos, o seu adversário Antanas Mockus ficou com 27,5%. As eleições foram marcadas pela presença do exército nos locais de votação, uma forma de pressionar e intimidar a população a votar no candidato do governo. Apesar da aparência de uma vitória arrasadora, os números absolutos das eleições mostram o verdadeiro fracasso por trás da vitória do candidato de Uribe. Do total de eleitores, 30 milhões, apenas 13,5 milhões foram votar, menos da metade. Os números são maiores se considerarmos a população como um todo. No caso da Colômbia, dos 44 milhões de habitantes, 14 milhões não são eleitores e não votam em ninguém. O número total, somado às abstenções, é de quase 30,5 milhões de pessoas que não elegeram Santos a presidente. O resultado é que a maioria absoluta da população da Colômbia não votou em Santos e na continuação do estado policial de Uribe. Com a vitória fraudulenta de Santos, o imperialismo norteamericano garantiu sua presença na América Latina. “A vitória do Sr. Santos, para os economistas, aponta para a continuidade nas relações da Colômbia com os Estados Unidos, que prevê ao país centenas de milhões de dólares em ajuda de segurança a cada ano. Sr. Santos, como o presidente que sucede Álvaro Uribe, disse que quer preservar a posição da Colômbia como principal aliado de Washington na América Latina” (The New York Times, 20/6/2010). Com isso, o governo norteamericano quer fazer na America Latina algo parecido com o Oriente Médio. A Colômbia seria uma espécie de Israel, um país cão-de-guarda para os interesses do imperialismo na região. Os alvos seriam os atuais governos nacionalistas que dominam a região (Venezuela, Bolívia, Equador etc.). O próprio The New York Times revela que “as ambições de Santos de cultivar laços estreitos com Washington irão torná-lo uma espécie de observador em uma região que está para ver uma erosão contínua da influência norte-americana, e com a China aumentando o seu representação no hemisfério e no Brasil, potência em ascensão na América Latina, amplia o seu alcance político e econômico” (idem) Assim como no Afeganistão e no Iraque, onde a “ordem” é mantida sob a ocupação militar norte-americana, o presidente escolhido pelo imperialismo só pode ser imposto por meio da fraude e da manipulação da vontade do eleitorado. A eleição de Juan Manuel Santos é o símbolo da fraqueza do imperialismo e de seus prepostos na América Latina.