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SEMANÁRIO NACIONAL OPERÁRIO E SOCIALISTA<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

WWW.<strong>PCO</strong>.ORG.BR/CAUSAOPERARIA • FUNDADO EM JUNHO DE 1979 • ANO XXX • Nº 500 • DE 21 A 27 DE SETEMBRO DE 2008 • R$ 3,00<br />

O MAIS ANTIGO JORNAL DA ESQUERDA NACIONAL<br />

Nº 500<br />

Leia nesta edição o caderno<br />

especial sobre os quase 30<br />

anos e 500 números já publicados<br />

do jornal que foi funda-<br />

RUMO AOS 30 ANOS<br />

O jornal mais antigo em<br />

atividade da esquerda brasileira<br />

O Partido da Causa Operária recebeu<br />

este nome depois da fundação<br />

de seu jornal, em 1979. O jornal Causa<br />

Operária é desde então o instrumento<br />

de propaganda e agitação da<br />

classe <strong>operária</strong> brasileira, dos movi-<br />

mental na elaboração de um<br />

programa revolucionário e<br />

marxista para a classe <strong>operária</strong><br />

brasileira.<br />

mentos populares, da juventude, dos<br />

negros, das mulheres e da população<br />

em geral. Como jornal mais antigo da<br />

esquerda, é o órgão difusor das idéias<br />

do marxismo e do programa do<br />

partido revolucionário.<br />

2003 - 2008<br />

Causa Operária lança o único jornal<br />

diário da esquerda na internet<br />

CAUSA OPERÁRIA ONLINE<br />

Mais de três milhões de acessos em cinco<br />

anos ao jornal diário do <strong>PCO</strong> na Internet<br />

O jornal Causa Operária Online<br />

foi fundado no dia 2 de dezembro<br />

de 2003. São praticamente cinco<br />

anos de uma verdadeira imprensa<br />

marxista e <strong>operária</strong> na internet. Nestes<br />

cinco anos de informação diária,<br />

mais de três milhões de internautas<br />

acessaram o sítio do <strong>PCO</strong>, tendo<br />

acesso aos mais variados assuntos<br />

e análises marxistas de temas políticos,<br />

internacionais, econômicos,<br />

além do acompanhamento das lutas<br />

<strong>operária</strong>s e populares no Brasil e no<br />

mundo.<br />

Leia nesta edição os artigos especiais comemorativos do grande êxito da imprensa revolucionária dos<br />

trabalhadores. Saiba mais sobre a história do jornal, seu futuro e seu programa.<br />

O QUE É UM JORNAL REVOLUCIONÁRIO<br />

Uma expressão consciente das lutas<br />

<strong>operária</strong>s e populares em todo o País<br />

MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />

O único jornal que cobriu as<br />

ocupações estudantis históricas<br />

Com destaque para a ocupação<br />

de 51 dias da reitoria da USP em<br />

2007, o Causa Operária acompanhou<br />

também de perto as ocupações<br />

da Unicamp, da UnB, da Uni-<br />

DEZ MIL MULHERES ACUSADAS<br />

<strong>PCO</strong> realizou ampla campanha<br />

nacional contra a perseguição às<br />

mulheres do Mato Grosso do Sul<br />

Causa Operária foi fundada em<br />

1979, início do grande ascenso da classe<br />

<strong>operária</strong> e das lutas históricas do<br />

ABC que deram origem à fundação<br />

do PT e da CUT. Do interior destas<br />

mobilizações massivas surgiu uma expressão<br />

da consciência de classe, o jornal<br />

que se tornaria o mais antigo da<br />

esquerda brasileira e o único que realmente<br />

apresenta a compreensão e as<br />

tarefas do movimento operário nacional<br />

e internacional.<br />

LUTA PELA TERRA<br />

A única tribuna em defesa dos<br />

camponeses de Rondônia<br />

Contra a investida da burguesia<br />

que pede um massacre através da<br />

revista Istoé, o jornal Causa Operária<br />

organiza campanha nacional de<br />

denúncias. No último período esta foi<br />

uma das únicas imprensas a defender<br />

os sem-terra de Rondônia, um<br />

dos estados mais conflituosos do<br />

País, que sofrem um massacre no<br />

campo perpretado pelo latifúndio.<br />

fesp, da UFMS e foi a única imprensa<br />

que além de noticiar, publicou<br />

balanços políticos fundamentais<br />

distribuídos e lidos em todo o<br />

País aos estudantes.<br />

O governo do estado do Mato<br />

Grosso do Sul iniciou no primeiro<br />

semestre deste ano, juntamente<br />

com o poder local dos grandes empresários,<br />

a perseguição de cerca<br />

de 10 mil mulheres indiciadas por<br />

terem cometido aborto nas duas<br />

últimas décadas em clínicas clandestinas.<br />

O Partido da Causa Operária<br />

e seu coletivo de mulheres<br />

Rosa Luxemburgo foram as únicas<br />

organizações e denunciar este ataque<br />

contra os direitos das mulheres,<br />

realizando uma campanha nacional<br />

contra os políticos burgueses<br />

e a Igreja Católica.<br />

1979<br />

Nasce um jornal<br />

proletário, socialista<br />

e revolucionário na<br />

esquerda brasileira<br />

1980<br />

Por um PT operário<br />

e socialista<br />

O jornal Causa Operária publica<br />

como proposta para o congresso<br />

de fundação do PT um programa<br />

socialista e revolucionário, pela<br />

independência de classes, pelas reivindicaçlões<br />

dos trabalhadores e<br />

pelo governo operário e camponês.<br />

1983<br />

Pela ruptura com<br />

os pelegos por uma<br />

central <strong>operária</strong><br />

independente<br />

O jornal Causa Operária luta<br />

pela construção de uma central<br />

<strong>operária</strong> através da ruptura com<br />

o peleguismo.<br />

1989<br />

Não à frente<br />

popular e à<br />

colaboração de<br />

classes<br />

O jornal Causa Operária lança<br />

uma campanha contra a frente de<br />

colaboração de classes de Lula e do<br />

PT e propõe o fim da frente popular.<br />

1992<br />

Precursor na luta<br />

pelo impeachment<br />

A Aliança da Juventude Revolucionária<br />

(AJR), a juventude do <strong>PCO</strong>,<br />

foi a primeira organização a expressar<br />

a palavra-de-ordem Fora Collor.<br />

Antes que a burguesia e a rede Globo<br />

iniciassem sua campanha pela<br />

derrubada do presidente, a AJR e o<br />

<strong>PCO</strong> iniciaram muito antes um movimento<br />

de mobilização da juventude<br />

e dos trabalhadores contra a burguesia<br />

e suas instituições em crise.


21 DE SETEMBRO DE 2008<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

2<br />

UM MARCO NA HISTÓRIA DO TROTSKISMO BRASILEIRO<br />

500 números de história revolucionária<br />

Em seus quase 30 anos de existência, o jornal Causa<br />

<br />

<br />

sendo a expressão consciente da sua experiência a partir<br />

<br />

ditadura militar no país, quando houve um importante<br />

período de ascenso operário<br />

A história do jornal Causa Operária,<br />

o mais antigo jornal da esquerda<br />

nacional se confunde com<br />

a história da vanguarda trotskista<br />

agrupada hoje no Partido da<br />

Causa Operária.<br />

O Partido da Causa Operária,<br />

ou os grupos que a ela deram<br />

origem, surgiu como um agrupamento<br />

de militantes trotskistas<br />

rompidos com a Organização<br />

Socialista Internacionalista no<br />

<br />

assumiu o nome de Tendência<br />

Trotskista do Brasil (TTB). Em<br />

<br />

primeiro número do jornal Causa<br />

Operária que está, como se pode<br />

ver, para completar 30 anos de<br />

<br />

izado<br />

o Congresso de Fundação<br />

da Organização IV Internacional,<br />

<br />

neste congresso.<br />

Esta ruptura foi parte de um<br />

processo de ruptura no movimento<br />

trotskista internacional,<br />

com a cisão entre diversos partidos<br />

latino-americanos, como<br />

<br />

<br />

(Bolívia) com a organização<br />

francesa Organisation Communiste<br />

Internacionaliste (OCI)<br />

mentares<br />

premissas do programa<br />

marxista, entre elas a política<br />

de construir “sindicatos livres”<br />

como alternativa aos sindicatos<br />

<br />

ditadura militar.<br />

No PT, por um partido<br />

operário revolucionário<br />

ção<br />

política ingressou no PT e se<br />

transformou na fração trotskista<br />

e revolucionária daquele partido,<br />

conhecida pelo nome do<br />

seu jornal, Causa Operária. Os<br />

primeiros números do jornal<br />

trazem uma clara caracterização<br />

do PT como uma iniciativa da<br />

-<br />

<br />

deveria ser assumida pela vanguarda<br />

<strong>operária</strong>, cuja tarefa seria<br />

a de lhe dar um conteúdo de<br />

massas e operário.<br />

<br />

<br />

<br />

construção de um verdadeiro<br />

partido operário e que, para tor-<br />

<br />

a vanguarda <strong>operária</strong> consciente<br />

deveria intervir energicamente<br />

neste processo com um programa<br />

socialista e na defesa<br />

da construção de um partido<br />

<br />

massas.<br />

<br />

Operária, como porta-voz da<br />

corrente revolucionária do PT se<br />

diferenciava completamente da<br />

política do restante da esquerda<br />

que ingressava no partido contra<br />

a idéia de construir um partido<br />

operário e em defesa do pro-<br />

<br />

sindical.<br />

<br />

fundação do PT, o jornal teve<br />

uma edição especial dedicada<br />

integralmente ao programa a<br />

ser proposto para o PT, um pro-<br />

<br />

Transição da IV Internacional<br />

que reivindicava a luta pela independência<br />

de classe, a construção<br />

de um partido operário, o<br />

governo operário e o socialismo<br />

em oposição à política do conjunto<br />

da esquerda de construir<br />

um partido oportunista.<br />

<br />

eleições em que o PT participou,<br />

teve destaque a atuação<br />

dos trotskistas em Diadema,<br />

onde a tendência Causa Operária<br />

participou ativamente da<br />

eleição do primeiro prefeito do<br />

<br />

da corrente revolucionária estava<br />

<br />

<br />

Causa Operária apresentou um<br />

programa de reivindicações<br />

<strong>operária</strong>s e democráticas, reivindicando<br />

a integral autonomia<br />

dos municípios e a luta por um<br />

governo da classe <strong>operária</strong> em<br />

oposição à perspectiva oportunista<br />

eleitoral da esmagadora<br />

maioria do partido que defendia<br />

o lançamento de candidaturas<br />

<br />

<br />

<br />

mesmo democrático, de luta por<br />

dependência<br />

das administrações<br />

em relação ao partido e à classe<br />

<strong>operária</strong>.<br />

As páginas do jornal retratam<br />

em todo este período de formação<br />

do PT uma intensa luta<br />

programática, cujo eixo era a<br />

defesa de um verdadeiro partido<br />

operário.<br />

Em defesa de uma<br />

central <strong>operária</strong><br />

independente e das<br />

lutas <strong>operária</strong>s<br />

<br />

Causa Operária participaram ativamente<br />

da luta pela construção<br />

da CUT como central <strong>operária</strong> in-<br />

sionando,<br />

inclusive, a principal<br />

oposição classista no seu interior,<br />

conhecida então como CUT Pela<br />

<br />

ascenso das lutas <strong>operária</strong>s,<br />

o partido passa a ter uma expressiva<br />

atuação nos sindicatos<br />

operários através da construção<br />

de inúmeras oposições classistas<br />

<br />

A formação de uma oposição<br />

classista dentro da CUT em<br />

cal,<br />

quando toda a esquerda<br />

reivindicava a aliança com esta<br />

<br />

de defesa de um movimento<br />

independente.<br />

A derrota da oposição clas-<br />

tações<br />

de vários setores sindicais<br />

<br />

<br />

<br />

estatutos da CUT e liquidou as<br />

oposições sindicais em comum<br />

acordo com a esquerda, levando,<br />

concretamente, à completa neutralização<br />

da central sindical e<br />

ao seu atrelamento completo ao<br />

<br />

As páginas do jornal Causa<br />

Operária nestes anos estão repletas<br />

de artigos de orientação das<br />

lutas <strong>operária</strong>s, de análise das<br />

greves e da organização das<br />

oposições sindicais, na formação<br />

das quais teve um papel de<br />

primeiro plano<br />

As “diretas já” e uma<br />

política revolucionárias<br />

para as eleições<br />

ticipam<br />

da luta pelas “diretas já”<br />

procurando apontar um caminho<br />

alternativo de luta das massas<br />

contra a via que levará à derrota<br />

do movimento no Congresso<br />

<br />

O jornal Causa Operária de-<br />

tamente<br />

com a direção do PT<br />

tas<br />

já.<br />

<br />

tendência Causa Operária apresentou<br />

candidatos a deputados<br />

<br />

<br />

<br />

com um programa classista e<br />

revolucionário, inclusive para<br />

<br />

<br />

oposição às ilusões levantadas<br />

pela direção oficial do PT, o<br />

jornal Causa Operária denuncia o<br />

caráter antidemocrático da Con-<br />

<br />

conter a expansão e a evolução<br />

política do movimento dos tra-<br />

<br />

A luta<br />

contra a frente popular<br />

<br />

participou da campanha eleitoral<br />

denunciando, nas páginas<br />

do jornal, a formação de uma<br />

<br />

e chamando a formar comitês<br />

eleitorais exclusivamente compostos<br />

pelos militantes classistas<br />

do PT, independentes da frente<br />

popular. Esta denúncia provocou<br />

a intervenção da direção do PT<br />

e a destituição dos diretórios<br />

municipais dirigidos pelo partido<br />

que se opunham à aliança com<br />

<br />

<br />

não ser acompanhada por nenhuma<br />

das tendências do PT que<br />

se reivindicavam de esquerda e<br />

de oposição, a campanha contra a<br />

coligação entre o<br />

<br />

teve ampla repercussão<br />

dentro<br />

do partido,<br />

propiciando um<br />

crescimento da<br />

ca<br />

dos revolucionários.<br />

Os números<br />

do jornal deste<br />

período contêm<br />

um verdadeiro<br />

manual de análise<br />

da frente<br />

popular no Brasil,<br />

que representa<br />

uma aplicação<br />

concreta<br />

do programa<br />

do trotskismo<br />

à situação atual<br />

e inúmeros<br />

artigos de<br />

polêmica com<br />

o restante da esquerda que,<br />

<br />

frente popular e a política de<br />

<br />

Da mesma forma que no momento<br />

da formação do PT e<br />

dentro da CUT, o jornal Causa<br />

Operária destaca-se do conjunto<br />

da esquerda pela sua defesa intransigente<br />

da independência da<br />

guesia,<br />

pelo que terá que pagar<br />

com o isolamento, a calúnia e<br />

a perseguição política da parte<br />

do partido atualmente no governo<br />

e do conjunto da esquerda<br />

<br />

<br />

Causa Operária impulsiona a<br />

criação da Aliança da Juventude<br />

<br />

da juventude <strong>operária</strong> e estudantil<br />

que luta pela aliança entre<br />

<br />

como meio para a conquista de<br />

<br />

<br />

jovens em vários estados do<br />

país e participa da direção de<br />

várias entidades estudantis e da<br />

<br />

até que esta última entidade seja<br />

completamente dominada por<br />

<br />

<br />

O jornal retrata a organização<br />

ganização<br />

juvenil de vanguarda<br />

<br />

período.<br />

Isolamento e<br />

perseguição<br />

<br />

<br />

a deputado federal e estadual<br />

foram cassados pela direção do<br />

PT, entre eles os companheiros<br />

<br />

presidente pelo <strong>PCO</strong> nas eleições<br />

<br />

<br />

e Lurdes Sarmento, candidata a<br />

<br />

<br />

mesmo ano, uma aliança da esquerda<br />

que se opunha à política<br />

da<br />

por Causa Operária, foi majoritária<br />

na convenção estadual<br />

do PT e escolheu o candidato a<br />

governador. A Convenção foi<br />

anulada pela direção nacional<br />

que teve de intervir em todo<br />

o diretório regional da capital<br />

federal.<br />

<br />

eleições, Causa Operária fez<br />

uma ampla campanha contra o<br />

<br />

<br />

de-ordem: “sou PT, não voto em<br />

<br />

os cartazes da campanha foram<br />

apreendidos pela polícia por demanda<br />

do PT junto ao judiciário.<br />

O companheiro que dirigida a<br />

regional do <strong>PCO</strong> naquele estado<br />

foi vítima de uma grande<br />

perseguição por esta ousadia,<br />

chegando a ser espancado no<br />

interior do seu sindicato, o Sindicato<br />

dos Bancários.<br />

tantes<br />

de Causa Operária foram<br />

expulsos do PT em todos os<br />

estados, apesar de uma enorme<br />

campanha que conseguiu mais<br />

de mil declarações de militantes<br />

de destaque do partido contra a<br />

expulsão.<br />

Todo este processo de<br />

perseguição dentro e fora do<br />

PT, nos sindicatos e organizações<br />

estudantis é apoiado ativamente<br />

<br />

hoje no PSTU e no Psol, que faz<br />

coro com as calúnias e com os<br />

ataques da direção do PT contra<br />

os trotskistas.<br />

O jornal Causa Operária espelha<br />

toda esta luta, em particular<br />

a campanha que chegou a recolher<br />

duas mil moções contra<br />

a expulsão da corrente Causa<br />

Operária do PT.<br />

<br />

<br />

<br />

a corrente Causa Operária, já<br />

fora do PT, constrói o Coletivo<br />

<br />

<br />

Cândido, desenvolvendo uma<br />

ampla atividade prática e teórica<br />

no que diz respeito à luta destes<br />

segmentos oprimidos da popu-<br />

<br />

<br />

Causa Operária não pode lançar<br />

candidatos por não ter um partido<br />

legalizado. A posição do partido<br />

foi a de apoiar os candidatos<br />

operários do PT, mas não os seus<br />

<br />

camente<br />

a candidatura de Lula,<br />

com seu programa socialista<br />

e revolucionário tendo como<br />

eixo um governo operário e<br />

denunciando a frente popular<br />

como uma política de traição à<br />

classe <strong>operária</strong>.<br />

Consciente do completo fracasso<br />

do PT e da sua liquidação<br />

<br />

de construção de um verdadeiro<br />

<br />

militantes de Causa Operária<br />

lançaram-se à tarefa de construir<br />

um novo partido operário, o<br />

<br />

em relação ao PT, constituía-se<br />

em uma necessidade impostergável.<br />

<br />

provisório do Partido da Causa<br />

<br />

árdua campanha de filiação<br />

<br />

O <strong>PCO</strong> surgia mostrando na<br />

prática que a luta revolucionária<br />

<br />

<br />

mesma coloca no caminho para<br />

intervenção política da classe<br />

<strong>operária</strong>.<br />

<br />

o <strong>PCO</strong> lançou candidatos a<br />

prefeito em João Pessoa (PB),<br />

Salvador (BA), São Bernardo<br />

(SP), Bauru (SP) e candidatos a<br />

vereador em S. Paulo (SP), Belo<br />

<br />

outras poucas cidades.<br />

O jornal Causa Operária desenvolve<br />

uma intensa atividade<br />

programática para a intervenção<br />

nas eleições.<br />

<br />

um único candidato ao governo<br />

(DF) e candidatos a deputado em<br />

vários estados.<br />

<br />

candidatos a prefeito em Porto<br />

<br />

<br />

Belo Horizonte, Salvador, Feira<br />

de Santana, João Pessoa e outras<br />

cidades. Em João Pessoa, o<br />

<br />

nas eleições, seu crescimento<br />

<br />

<br />

lançou cerca de 300 candidatos<br />

em todo o país, incluindo candidato<br />

a presidente e a governador<br />

<br />

Durante os governos Collor e<br />

FHC, o partido se destacou pela<br />

oposição sistemática à política<br />

de privatizações, de recessão,<br />

desemprego, alta das tarifas<br />

-<br />

dores<br />

em todos os terrenos.<br />

do<br />

lança candidato a presidente e<br />

vê a única candidatura <strong>operária</strong> e<br />

socialista ser cassada na eleição<br />

presidencial, em torno do que faz<br />

uma grande campanha.<br />

Durante todo este período, o<br />

Partido da Causa Operária foi<br />

vitorioso em agrupar um núcleo<br />

de vanguarda que, nos momentos<br />

de ascenso e refluxo das lutas<br />

<br />

e consolidar um programa so-<br />

<br />

caminho para construir uma<br />

verdadeira alternativa política de<br />

<br />

<br />

popular ao governo, falando<br />

<br />

oprimidos e explorados, mas<br />

levando adiante uma política que<br />

defende apenas e tão somente<br />

o interesse dos exploradores,<br />

os capitalistas, latifundiários e<br />

força<br />

ainda mais a necessidade<br />

da construção de um partido operário<br />

que possa ser uma direção<br />

<br />

<br />

a que se propõe o Partido da<br />

Causa Operária.<br />

O jornal Causa Operária, lutando<br />

com dificuldades enormes,<br />

foi durante todo este período o<br />

<br />

através de lutas, revezes, vitórias<br />

e perseguições, um programa socialista<br />

e revolucionário testado<br />

pelos acontecimentos e que se<br />

<br />

com todas as correntes que se<br />

dizem socialistas, mas defendem,<br />

ração<br />

de classes.<br />

O jornal Causa Operária teve<br />

várias fases, acompanhando a<br />

evolução da situação política e<br />

do partido, chegando em alguns<br />

momentos a uma situação de<br />

grande irregularidade.<br />

O dado fundamental do momento<br />

atual é que o jornal vem<br />

crescendo nos últimos anos,<br />

acompanhando a recomposição<br />

dos movimentos de luta da classe<br />

<strong>operária</strong>, da juventude e outros<br />

setores dos exploradores e realizando<br />

intensas campanhas<br />

políticas. Sua atividade foi de-<br />

cação<br />

do Causa Operária Online,<br />

jornal diário para a internet, único<br />

<br />

<br />

jornal para o próximo período<br />

<br />

amplo e consolidar-se como<br />

agitador, propagandista e organização<br />

do setor decisivo das<br />

lutas que estão se desenvolvendo<br />

neste momento.


SEMANÁRIO NACIONAL OPERÁRIO E SOCIALISTA<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

WWW.<strong>PCO</strong>.ORG.BR/CAUSAOPERARIA • FUNDADO EM JUNHO DE 1979 • ANO XXX • Nº 500 • DE 21 A 27 DE SETEMBRO DE 2008 • R$ 3,00<br />

APROFUNDA-SE O COLAPSO FINANCEIRO MUNDIAL. BRASIL, AINDA HÁ TEMPO<br />

A HORA É AGORA:<br />

ESTATIZAÇÃO DE TODO<br />

O SISTEMA FINANCEIRO<br />

Enquanto as maiores potências<br />

mundiais, Estados Unidos, os países<br />

da Europa, Japão, China, Austrália<br />

etc. estão se movimentando<br />

freneticamente para tentar conter o<br />

avanço da crise financeira, no Brasil<br />

o governo insiste em dizer que a<br />

crise não existe.<br />

Diante deste quadro em que a crise<br />

tem todas as condições para se<br />

desenvolver no Brasil destruindo<br />

ainda mais o mercado interno e a<br />

produção industrial do País é necessário<br />

que os trabalhadores tenham<br />

uma solução própria para a crise. É<br />

possível reverter este quadro com<br />

a estatização do sistema financeiro<br />

brasileiro. Dessa forma o País pode<br />

ter o controle sobre os bancos privados<br />

que possuem lucros imensos<br />

às custas do governo brasileiro, mas<br />

que investem esse dinheiro fora do<br />

País. Outras medidas que os governos<br />

capitalistas se recusam terminantemente<br />

a adotar, como o não<br />

pagamento das dívidas interna e<br />

externa, e o controle total sobre o<br />

Banco Central e as remessas de<br />

lucros e capitais ao exterior gerariam<br />

uma poupança interna que não<br />

dependa dos capitais especulativos.<br />

Leia o editorial, a análise política<br />

e a cobertura completa nesta<br />

edição.<br />

COM MEDO DA CRISE<br />

Bancos centrais despejam mais de<br />

US$ 500 bilhões em uma semana<br />

O agravamento da crise financeira<br />

mundial nesta semana, com a falência<br />

do banco Lehman Brothers,<br />

com a compra da seguradora AIG e<br />

com a suspeita de falência de dezenas<br />

de outras instituições financeiras<br />

que estão expostas, colocou em<br />

alerta os bancos centrais dos principais<br />

países. Nesta semana, os bancos<br />

centrais da Europa (BCE), Banco<br />

do Japão, Banco da Inglaterra,<br />

Banco do Canadá, SNI, da Suíça e o<br />

Fed (Federal Reserve), banco central<br />

dos Estados Unidos, colocaram<br />

no mercado financeiro mais de US$<br />

500 bilhões para garantir liquidez (dinheiro<br />

em caixa), para os bancos.<br />

Página 8<br />

LEIA TAMBÉM NA COBERTURA ESPECIAL:<br />

Até onde vai a intervenção estatal nos EUA?<br />

Na última semana o mundo pôde perceber claramente em direção a que extremos caminha a crise econômica e<br />

política. Os extremos aos quais o governo norte-americano está sendo forçado a chegar para conter a crise financeira,<br />

e os desdobramentos da desestabilização política na Bolívia anunciam a nova etapa da situação mundial.<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

chega ao seu nº 500 em<br />

quase 30 anos de existência<br />

Leia o caderno especial, nesta edição<br />

10 PRIMEIROS ANOS DA OPOSIÇÃO DE ESQUERDA<br />

A ruptura do bloco entre a ala direita<br />

Publicamos nesta edição a penúltima<br />

parte da tradução inédita em<br />

português do folheto escrito pelo<br />

450 DA MORTE DE OLIVER CROMWELL – PARTE III<br />

A revolução burguesa na Inglaterra<br />

No ano em que se completam 450<br />

anos da morte do líder da revolução<br />

burguesa na Inglaterra, a importância<br />

do estudo e da compreensão<br />

do episódio que derrubou a<br />

ordem monárquica e abriu as portas<br />

para a revolução industrial na<br />

trotskista norte-americano Max Shachtman<br />

sobre o movimento dirigido<br />

por Trótski. Página 16<br />

Inglaterra dá a oportunidade de entender<br />

o período de hoje, fase de<br />

completa decadência da burguesia,<br />

que de classe revolucionária passou<br />

a ser uma classe contra-revolucionária<br />

e inimiga do progresso humano.<br />

Página 18<br />

UMA REVOLUÇÃO<br />

ARTÍSTICA EM 1917<br />

Parte IV – A<br />

maturidade da<br />

obra de Gógol<br />

Na quarta parte de nosso especial,<br />

analisamos o final da carreira literária<br />

de Nicolai Gógol, desde a criação<br />

de seus maiores clássicos, como “O<br />

inspetor Geral” e “Almas Mortas” até<br />

os duros anos de crise no final de sua<br />

vida, quando ele, angustiado com as<br />

críticas que recebe, entrega-se ao<br />

misticismo e cai em uma completa<br />

prostração criativa. Página 22<br />

CORREIOS<br />

ECT e Fentect juntos<br />

na campanha<br />

salarial... agora para<br />

enterrá-la em outubro<br />

Comissão de Negociação Salarial<br />

da ECT retoma “negociações” com<br />

a Comissão de Negociação Salarial<br />

dos trabalhadores afirmando que<br />

continuará firme na posição de não<br />

discutir a pauta de reivindicações da<br />

categoria, mas estabelecerá novas<br />

reuniões acatando sem nenhuma divergência<br />

o novo calendário da Fentect.<br />

Página 12<br />

PESQUISA<br />

78% dos magistrados<br />

são favoráveis a<br />

modificação na lei<br />

que pune o aborto<br />

Pesquisa aponta que 78% dos magistrados<br />

vêem necessidade de mudanças<br />

na lei para que se ampliem as circunstâncias<br />

em que o aborto não seja<br />

crime no Brasil. Para o caso específico<br />

de anencefalia, 80% dos entrevistados<br />

se colocaram favoráveis à liberação<br />

da interrupção da gravidez e<br />

10% dos juízes que atuam na área criminal<br />

afirmaram já ter recebido e permitido<br />

um caso do tipo. Página 17<br />

GREVE NA VOLKSWAGEN<br />

Dezenas de milhares<br />

de metalúrgicos<br />

protestam na<br />

Alemanha<br />

Na sexta-feira (12) mais de<br />

40 mil metalúrgicos da Volkswagen<br />

alemã protagonizaram um<br />

dos maiores protestos da história<br />

da montadora. Os trabalhadores<br />

reuniram-se em Wolfsburg,<br />

sede da empresa, para<br />

defender a chamada “lei Volkswagen”.<br />

Página 19<br />

NÃO À PRIVATIZAÇÃO<br />

Pela estatização da Petrobras e<br />

cancelamento dos leilões<br />

Página 9<br />

NOVOS ATAQUES DOS LATIFUNDIÁRIOS<br />

Camponeses torturados e presos<br />

em União Bandeirantes, Rondônia<br />

Cerca de 30 famílias de sem-terra<br />

do acampamento União Bandeirantes<br />

foram atacados por 30 policiais<br />

e jagunços que chegaram ao<br />

UNIFESP<br />

Não à punição dos estudantes<br />

que estão em luta para derrotar<br />

a ditadura na universidade<br />

Cerca de dez estudantes da Unifesp<br />

(Universidade Federal do Estado<br />

de São Paulo) receberam uma<br />

intimação para depor em uma comissão<br />

interna para apuração e punição<br />

pela ocupação da reitoria ocorrida<br />

em junho deste ano, contra o corrupto<br />

ex-reitor, Ulysses Fagundes Neto.<br />

Há ainda mais de vinte estudantes<br />

que participaram da ocupação da<br />

CRISE POLÍTICA<br />

Quais são os planos<br />

da direita boliviana?<br />

A direita quer colocar a Bolívia<br />

novamente nos trilhos do imperialismo.<br />

Estes planos só podem<br />

ser alcançados com a capitulação<br />

do governo e a ajuda das<br />

Forças Armadas, o que de fato<br />

acampamento atirando contra os<br />

sem-terra, depois que no dia 8 de<br />

setembro, segunda-feira, as famílias<br />

haviam retomado a área. Página 8<br />

reitoria no dia 14 de junho, após uma<br />

série de denúncias de desvio de verba,<br />

que serão intimados.<br />

A sindicância contra os estudantes<br />

que ocuparam a reitoria é para<br />

tentar calar os que se opõem às<br />

eleições-farsa e querem acabar<br />

com este regime de corrupção e ditadura<br />

da burocracia universitária.<br />

Página 15<br />

está acontecendo. Porém há<br />

uma barreira intransponível:<br />

vencer o movimento revolucionário<br />

das massas. Leia a cobertura<br />

completa nas páginas<br />

20 e 21


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA ATIVIDADES 4<br />

Celebração<br />

4 DE OUTUBRO<br />

Participe do jantar de encerramento da campanha eleitoral 2008<br />

A data escolhida para a realização<br />

do jantar de encerramento<br />

da campanha eleitoral e<br />

lançamento da edição de número<br />

500 do jornal Causa Operária<br />

marca o fechamento de<br />

mais um ciclo de atividades.<br />

A experiência adquirida na<br />

campanha eleitoral, bem<br />

como a que faz de Causa<br />

Operária um jornal verdadeiramente<br />

operário, socialista e<br />

revolucionário serão os principais<br />

eixos em torno dos<br />

quais o partido concentrou<br />

suas forças no último período.<br />

Uma ótima oportunidade<br />

para reunir os companheiros<br />

que lêem e apóiam o jornal<br />

Causa Operária no seu local<br />

de trabalho, nas universidades,<br />

nas lutas sindicais e populares.<br />

O jantar servirá também<br />

como parte da campanha financeira<br />

para arrecadar fundos<br />

e cobrir as despesas da<br />

Partido da Causa Operária<br />

campanha eleitoral.<br />

Em São Paulo, o jantar<br />

será realizado no restaurante<br />

Graça Mineira, à rua Machado<br />

Bitencourt,<br />

75 - Vila Mariana - São Paulo<br />

- SP - (Metrô Sta. Cruz)<br />

Além de uma atividade de<br />

confraternização, o jantar faz<br />

parte da luta travada pelo par-<br />

tido por sua independência e<br />

auto-financiamento, apoiado<br />

na contribuição de seus militantes<br />

e simpatizantes. Os<br />

convites estão sendo vendidos<br />

R$50,00<br />

O Partido da Causa Operária convida para o seu<br />

jantar de encerramento da campanha eleitoral 2008<br />

Participe da confraternização entre os militantes e simpatizantes<br />

Adquira o convite e contribua com a campanha financeira de um partido<br />

operário, socialista e revolucionário<br />

a R$ 50,00.<br />

Venha participar do jantar.<br />

Entre em contato e reserve sua<br />

mesa: tel. (11)5584-9322, ou<br />

por e-mail, pco@pco.org.br.<br />

NO PORTAL DO PARTIDO NA INTERNET<br />

Assista a entrevistas, debates e palestras<br />

com os candidatos do <strong>PCO</strong> nas eleições<br />

O portal do <strong>PCO</strong> na Internet<br />

traz toda a cobertura sobre<br />

a atividade do partido na<br />

campanha eleitoral.<br />

Assista vídeos, leia entrevistas<br />

e saiba mais informações<br />

sobre o partido, sua posição<br />

nas eleições e seus candidatos<br />

nas principais cidades<br />

do País.<br />

Acompanhe a campanha da<br />

companheira Anaí Caproni<br />

através da gravação das palestras<br />

e debates das quais a candidata<br />

do <strong>PCO</strong> em São Paulo<br />

participou durante a campanha,<br />

como com os estudantes<br />

de Economia da USP e de Direito<br />

da PUC e da FAAP.<br />

Leia também as matérias<br />

publicadas sobre a campanha<br />

do partido na imprensa além<br />

da cobertura completa feita<br />

pelo jornal diário do <strong>PCO</strong> na<br />

Internet.<br />

O folheto publicado neste<br />

mês pelo Partido da Causa<br />

Operária traz um balanço e<br />

a crítica da política da extrema-esquerda<br />

que participa<br />

do empreendimento<br />

sindical dirigido pelo<br />

PSTU, a Conlutas.<br />

A publicação conta<br />

com 51 páginas e trata, em<br />

seus 17 tópicos, de temas<br />

como o porquê de a esquerda<br />

querer ocultar o<br />

debate sobre as questões<br />

políticas envolvidas na realização<br />

dos atos do 1º de<br />

maio, as falsas acusações<br />

dirigidas pelos “trotskistas”<br />

contra o <strong>PCO</strong> e o<br />

porquê de o “stalinismo”<br />

ter sido evocado no debate.<br />

o folheto esclarece<br />

ainda o significado do<br />

“showmissa” realizado<br />

em conjunto pela Conlutas<br />

e Psol e a Igreja<br />

Católica no 1º de maio<br />

da Praça da Sé, o sentido<br />

da política da Frente<br />

de Esquerda e o verdadeiro<br />

significado do Psol e da alian-<br />

Basta acessar o endereço<br />

eletrônico www.pco.org.br.<br />

Leia também a cobertura<br />

completa das eleições, os detalhes<br />

da campanha do <strong>PCO</strong>,<br />

e demais notícias sobre política<br />

nacional e internacional.<br />

“Aonde vai a esquerda pequeno-burguesa?”<br />

ça com este partido.<br />

O debate a respeito de qual<br />

deve ser o programa revoluci-<br />

Acompanhe, escreva também<br />

para o portal eletrônico<br />

do <strong>PCO</strong> para apresentar dúvidas,<br />

sugestões, informarse<br />

de como participar da<br />

campanha em defesa do socialismo.<br />

Lançamento das edições Causa Operária<br />

onário para a classe <strong>operária</strong><br />

diante da crise política nacional,<br />

do governo de aliança<br />

do PT e PCdoB –<br />

e das organizações<br />

sindicais e<br />

políticas dirigidas<br />

por este bloco –<br />

com a burguesia<br />

adquiriram contornos<br />

definidos na<br />

realização dos atos<br />

de 1º de maio neste<br />

ano. A publicação<br />

do Partido da Causa<br />

Operária procura<br />

esclarecer as<br />

questões em torno<br />

ao oportunismo do<br />

governo de “esquerda”<br />

da frente<br />

popular, de aliança<br />

com a burguesia brasileira<br />

e o imperialismo<br />

e da sua ala “esquerda”<br />

oficial,<br />

agrupada em torno à<br />

Conlutas.<br />

Garanta já seu<br />

exemplar e participe<br />

do debate.<br />

Peça já o seu por e-mail (livraria@pco.org.br); telefone (11) 5584-9322 ou escreva<br />

para Av. Miguel Stéfano, 349, Saúde, São Paulo SP, CEP 04302-000.<br />

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CAMPANHA DE ASSINATURAS 2008<br />

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o site: www.pco.org.br/<strong>causa</strong>operaria.<br />

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1 ano de Causa Operária<br />

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Causa Operária<br />

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Escreva para o Causa Operária<br />

Causa Operária está baseado em um claro programa político e no marxismo<br />

e, por este motivo, esforça-se para ser uma tribuna das necessidades<br />

e dos anseios das massas exploradas de trabalhadores da cidade e do<br />

campo, dos negros, das mulheres e da juventude oprimida. Neste sentido,<br />

as páginas do nosso jornal estão abertas para que qualquer trabalhador<br />

faça dele um veículo das suas denúncias contra a exploração e opressão<br />

de qualquer setor da sociedade. Convidamos, ainda, nossos leitores a fazer<br />

desta página um espaço para discussão das idéias relacionadas a esta<br />

luta que julguem importante.<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

Fundado em junho de 1979<br />

Semanário de circulação nacional<br />

Ano XXX - nº 500 - R$3,00<br />

de 21 a 27 de setembro de 2008<br />

Editor - Rui Costa Pimenta - Tiragem - seis mil exemplares - Redação - Av. Miguel<br />

Stéfano nº 349, Saúde, São Paulo, Capital, CEP 040301-010 - Telefone (11) 5589-<br />

6023 - Sede Nacional - São Paulo - Av Miguel Stéfano, nº 349, Saúde, São Paulo,<br />

Capital, CEP 04301-010, Fone (11) 5584-9322 - Correspondência - Todas as<br />

cartas, pedidos de assinaturas ou de informações sobre as publicações Causa<br />

Operária devem ser enviadas para a redação ou para o endereço eletrônico -<br />

pco@pco.org.br, página na internet - www.pco.org.br/<strong>causa</strong>operaria


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA 5<br />

Editoriais<br />

Pela estatização de todo o sistema financeiro:<br />

um programa socialista da classe <strong>operária</strong><br />

diante da crise que se aproxima<br />

Enquanto as maiores potências mundiais, Estados Uni<br />

dos, os países da Europa, Japão, China, Austrália etc.<br />

estão se movimentando freneticamente para tentar<br />

conter o avanço da crise financeira, no Brasil, o governo<br />

insiste em dizer que a crise não existe.<br />

A crise, que já é uma recessão nos Estados Unidos, potencialmente<br />

a maior desde a década de 1930, e que no resto do mundo<br />

está prestes a entrar em um período recessivo de grandes proporções<br />

parece que nem passou por perto da economia brasileira. Claro<br />

que isso não é verdade, se alguém for confiar em alguma coisa que<br />

o governo Lula diz vai passar a viver em uma Ilha da Fantasia, onde<br />

não existem contradições sociais, desemprego, arrocho salarial, inflação,<br />

pobres, miséria, fome e muito menos crise financeira.<br />

Enquanto instituições financeiras centenárias entram em falência<br />

e provocam um efeito dominó em toda a economia mundial, o Brasil,<br />

segundo Lula, está imune a tudo isso. É óbvio que a crise financeira<br />

já chegou ao País e que o governo Lula quer esconder a realidade<br />

da população e deixar que o pior venha arrasando a economia<br />

brasileira como nunca se viu antes.<br />

Em primeiro lugar, precisa ficar absolutamente claro que a crise<br />

afeta diretamente a economia brasileira. Qualquer pessoa, mesmo<br />

que não seja especialista em economia, pode facilmente chegar à<br />

conclusão de que se a crise afeta principalmente os Estados Unidos,<br />

o mais importante país capitalista do mundo, ela deve afetar<br />

e bastante os países menores que dependem de sua economia, como<br />

por exemplo, o Brasil. Apesar da insistência do governo Lula em<br />

dizer que o Brasil estaria com folga em relação à crise nos Estados<br />

Unidos, pois possui uma economia diversificada, comercializando<br />

com outros países e por isso não seria afetado, esta tese não tem<br />

qualquer sustentação na realidade. A crise financeira mundial afeta<br />

o Brasil de diversas formas e as principais delas por meio da economia<br />

norte-americana. Em primeiro lugar todo o montante de dinheiro<br />

arrecadado pela economia brasileira nos últimos anos, com<br />

aumento das exportações, por exemplo, se deve ao seu principal<br />

comprador, principalmente de matérias-primas, os Estados Unidos<br />

da América. A recessão nos EUA afetou principalmente o consumo,<br />

que compõe 70% da economia deste País, isso já provocou<br />

a diminuição na compra de produtos de outros países, entre eles,<br />

o Brasil. E neste segmento, desde o início do ano, as exportações<br />

brasileiras caíram significativamente, mais de 50% em relação a<br />

2007, ficando em um patamar bem próximo às importações que<br />

faz com que o País praticamente não arrecade nada, pois gasta mais<br />

comprando que vendendo produtos. O aumento do dólar, provocado<br />

também pela crise, faz com que as importações fiquem mais<br />

caras para o País e influencia diretamente nos preços dos produtos<br />

importados, aumentando assim a inflação.<br />

A atual desvalorização das commodities no mercado financeiro<br />

também afeta o País, pois estes são os principais produtos exportados,<br />

que com o preço menor, vão arrecadar menos também. A<br />

reserva de mais de US$ 200 bilhões que o governo usa para dizer<br />

que vai combater a crise, também está sujeita às alterações no valor<br />

do dólar, ou seja, o País está intrinsecamente ligado à crise financeira<br />

dos Estados Unidos sofrendo diretamente os efeitos que ela<br />

<strong>causa</strong>. A respeito da tal economia diversificada o País também é<br />

suscetível, pois a crise atinge em cheio a Europa, que está com<br />

índices de inflação e desemprego nas alturas, a Ásia, Japão e China<br />

e também os países da América Latina.<br />

O mais importante, no entanto, é que a própria política do governo<br />

Lula, de dólar barato para permitir a entrada de capital especulativo<br />

em detrimento das exportações e da indústria em geral está completamente<br />

na contramão da situação atual, onde os mercados<br />

financeiros são a principal <strong>causa</strong> de desequilíbrio. Também, a<br />

dependência cada vez maior do Brasil na exportação de matériasprimas<br />

torna o país completamente vulnerável à atual tendência de<br />

oscilação das commodities no mercado mundial em função também<br />

da crise financeira. O gigantesco predomínio das finanças<br />

sobre a economia brasileira, impulsionado pelos governos FHC e<br />

Lula é o calcanhar de Aquiles da economia capitalista nacional diante<br />

da crise mundial.<br />

A estatização dos bancos e dos mercados financeiros ficou<br />

provada como uma necessidade diante da política do governo norteamericano<br />

que praticamente estatizou os bancos e seus créditos<br />

podres.<br />

Diante deste fato, é necessário que os trabalhadores tenham uma<br />

solução própria para a crise. Coloca-se a seguinte disjuntiva: ou<br />

“estatizar”, quer dizer socializar para toda a população, como está<br />

acontecendo nos EUA, as dívidas do bancos, para preservar os seus<br />

lucros milionários para um punhado de aventureiros e criminosos,<br />

ou estatizar de fato todo o sistema financeiro, colocá-lo sob o<br />

controle da classe <strong>operária</strong>, e proceder a uma reorganização geral<br />

das finanças nacionais, sobre a base dos interesses da maioria do<br />

país, a classe <strong>operária</strong> e os explorados em geral.<br />

Dessa forma o País pode ter o controle sobre os bancos privados<br />

que possuem lucros imensos às custas do governo brasileiro,<br />

mas que investem esse dinheiro fora do país ou o destinam para<br />

operações arriscadas e contrárias ao interesses nacional. Outras<br />

medidas que os governos capitalistas se recusam terminantemente<br />

a adotar, como o não pagamento das dívidas interna e externa,<br />

e o controle total sobre o Banco Central e a expropriação das<br />

empresas chave na economia como a Petrobrás e a Vale do Rio Doce<br />

gerariam uma poupança interna que não dependa dos capitais<br />

especulativos.<br />

O programa econômico da burguesia, alardeado como uma<br />

verdadeira perfeição durante os últimos 15 anos, mas que colocou<br />

toda a economia nacional em retrocesso, agora ameaça produzir<br />

o mesmo efeito que a política especulativa da República Velha<br />

promoveu em 1929, ou seja, derrubar completamente a economia<br />

nacional.<br />

Contra a política econômica da grande burguesia nacional e do<br />

imperialismo, é preciso levantar um programa econômico socialista<br />

da classe <strong>operária</strong>: estatização do sistema financeiro, não<br />

pagamento da dívida aos especuladores, estatização dos ramos<br />

econômicos chave como petróleo e mineração, confisco do latifúndio,<br />

reforma agrária com distribuição de terras aos camponeses<br />

sem-terra, controle operário da produção, monopólio estatal<br />

do comércio exterior, aumento salarial, redução da jornada de<br />

trabalho e investimento estatal na saúde, educação e moradia com<br />

o confisco do capital nestas áreas.<br />

A tentativa de volta da censura e do crime de opinião<br />

Na semana que passou, o Partido da Causa Operária sofreu<br />

três processos que tinham por objetivo retirar o seu<br />

programa eleitoral do ar. Os candidatos Gilberto Kassab,<br />

do DEM e Marta Suplicy, do PT, reivindicaram direito de resposta<br />

aos programas da candidata do <strong>PCO</strong> à prefeitura de São Paulo, Anaí<br />

Caproni.<br />

Além destes, também a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos,<br />

onde trabalha a candidata, entrou com uma ação contra o<br />

partido.<br />

O que chama a atenção nos três casos é a falta de justificação<br />

para os processos. Nos três programas, as críticas da candidata<br />

foram estritamente políticas, de denúncia da situação do transporte<br />

e da educação na cidade e da situação dos trabalhadores dos<br />

Correios.<br />

O direito de resposta é concedido em casos de calúnia, injúria<br />

e difamação. Nos três programas, nenhuma dessas características<br />

estava presente, o que não impediu que se tentasse censurar<br />

o programa.<br />

Marta Suplicy chegou ao extremo de afirmar que a palavra<br />

“indústria” na expressão “indústria das multas”, utilizada pelo <strong>PCO</strong><br />

para se referir à enorme quantidade de leis abusivas que resultam<br />

em multa, dava a “ofensiva idéia de quadrilha”. Isso além de protestar<br />

contra a palavra “agressão”, que sequer foi utilizada no<br />

programa.<br />

Em todos os três casos vê-se claramente a tentativa de, por meio<br />

de uma lei já restritiva, cercear a liberdade de expressão e impedir<br />

a crítica política, a exposição de opiniões e o debate de idéias com<br />

Charge e da semana<br />

a população.<br />

Embora o caso fique mais evidente nas eleições, pois a críticas<br />

expostas são exibidas para um amplo setor da população através<br />

do rádio e da televisão, a política de censura disfarçada é rotina no<br />

país, colocando este como o primeiro no ranking dos países onde<br />

a imprensa sofre maior perseguição.<br />

Recentemente vieram à tona casos inclusive de censura prévia,<br />

como no caso do jornalista Juca Kfouri, proibido de antemão de<br />

criticar um parlamentar do PSDB, uma figura pública, e do Jornal<br />

da Tarde, censurado por denunciar um escândalo de corrupção<br />

numa fundação.<br />

A liberdade de expressão no País revela-se, desta maneira, uma<br />

farsa. A lei de imprensa, até pouco tempo a mesma que a elaborada<br />

na época da ditadura, sofreu mudanças muito parciais e é utilizada<br />

para impedir o livre debate de idéias.<br />

Nas eleições é ainda mais gritante este fato, pois um período que<br />

deveria ser de intenso debate político é transformado em seu exato<br />

oposto, ao proliferarem os processos para censurar programas,<br />

e com as absurdas restrições de propaganda eleitoral, de colagem<br />

de cartazes, showmícios etc., que tem por objetivo impedir que<br />

a população tenha acesso a informações e debata a situação política.<br />

Nesse sentido, os candidatos da situação, incluindo aí o PT,<br />

e dos partidos burgueses mais tradicionais, fazem uma frente única<br />

para impedir este debate.<br />

O fato de o regime político não conseguir conviver com a crítica<br />

e nem com uma sombra de oposição só demonstra a sua enorme<br />

fragilidade.<br />

70 anos do Programa de<br />

Transição da IV Internacional<br />

RUI COSTA PIMENTA<br />

Oprograma da IV Internacional foi escrito por Leon Trótski<br />

e aprovado no Congresso de Fundação da IV Internacional<br />

em 1938.<br />

Este é, sem dúvida, o mais importante documento programático<br />

da classe <strong>operária</strong> desde o Manifesto Comunista, escrito por Marx<br />

e Engels em 1848 e que está completando neste ano 160 anos.<br />

Não é que os marxistas não tenham escrito documentos da maior<br />

importância. A II Internacional contou com o programa de Erfuhrt,<br />

escrito por Kautski sob a supervisão de Engels, que consolidou as<br />

conquistas do movimento socialista à época. A social-democracia<br />

russa, da qual saiu o Partido Bolchevique teve no programa aprovado<br />

no II Congresso, de 1902, o programa escrito por Lênin e que, pela<br />

primeira vez em um programa de um partido social-democrata estabelecia<br />

claramente a luta pela ditadura do proletariado. A III Internacional<br />

teve as resoluções aprovadas nos seus quatro primeiros<br />

congressos, realizados quando Lênin ainda dirigia a Internacional. São<br />

todos documentos da maior importância para o conhecimento do que<br />

é o marxismo, do que é o movimento revolucionário da classe <strong>operária</strong><br />

e para a compreensão da evolução da classe <strong>operária</strong> mundial.<br />

A importância do Programa de Transição, considerado neste quadro<br />

da evolução histórica da luta e da organização <strong>operária</strong> está principalmente<br />

em que se coloca na fronteira entre duas épocas claramente<br />

distintas da evolução do capitalismo e, conseqüentemente, da luta<br />

revolucionária do proletariado. E, acima de tudo, que sintetiza e<br />

responde aos problemas da época com extraordinária clareza, expressando<br />

o nível de consciência alcançado pela classe <strong>operária</strong> naquele<br />

momento.<br />

O Programa de Transição recolhe todas as conquistas da III<br />

Internacional e lhes dá forma em um programa claro para toda uma<br />

época revolucionária, a época de transição entre o capitalismo e o<br />

socialismo, época de convulsões sociais e políticas, época de guerras<br />

e revoluções.<br />

O período de transição é a etapa de “agonia do capitalismo”, ou<br />

seja, quando o esgotamento de toda uma época histórica e um modo<br />

de produção se manifesta exteriormente nas maiores convulsões<br />

sociais e políticas.<br />

A realidade confirmou esta caracterização cortante da etapa histórica?<br />

Disso não pode haver dúvida, mesmo levando-se em consideração<br />

o curto período de crescimento capitalista dos anos 50. Mais:<br />

o século XX foi o período das maiores convulsões sociais e políticas<br />

que a humanidade assistiu em toda a sua existência. O final do século<br />

XX mostrou esta situação da maneira mais catastrófica possível desde<br />

o início do período de transição há mais de 100 anos.<br />

Para esta situação, ou seja, guerras e revoluções, completa desorganização<br />

financeira através de cracks econômico e hiperinflação,<br />

para uma situação de demissão em massa, falência e fechamento de<br />

empresas, repressão fascista e outras características tão conhecidas,<br />

foram elaboradas as reivindicações transitórias, especialmente<br />

adaptadas para esta época de crise.<br />

As reivindicações de transição não têm como objetivo a reforma<br />

do capitalismo, objetivo que se tornou ilusório com a decadência<br />

capitalista, mas “a mobilização das massas como preparação para a<br />

tomada do poder”. São reivindicações que, não saindo do marco<br />

econômico do regime capitalista, já não serão atendidas por este<br />

regime, que nada mais tem a oferecer nem à classe <strong>operária</strong> nem a<br />

ninguém.<br />

O Programa de Transição, nesse sentido, torna obsoleta a velha<br />

divisão, base da tática social-democrata, entre programa máximo e<br />

programa mínimo. O sistema de reivindicações transitório, na realidade,<br />

anexa tudo o que mantém atualidade do velho programa, mas<br />

para mudar o seu caráter e subordinar todas as grandes e pequenas<br />

tarefas à luta pelo poder. Seu objetivo é tomar a classe <strong>operária</strong> tal<br />

como é, com um nível de consciência, ou seja, de organização política<br />

dado, seus problemas imediatos diante da crise, e levá-la à compreensão<br />

da necessidade da luta pela tomada do poder como tarefa que<br />

decorre do próprio caráter da época. Mesmo que a luta comece em<br />

torno das reivindicações do “programa mínimo”, este último é sempre<br />

ultrapassado pela dinâmica da época de transição, de mobilização<br />

permanente em um sentido revolucionário e não reformista.<br />

A classe <strong>operária</strong> brasileira fez uma longa experiência com os<br />

métodos reformistas da esquerda oportunista, partidária da colaboração<br />

de classe.<br />

Tudo o que esta experiência comprovou é que os métodos “graduais”,<br />

“moderados” e “democráticos” não produziram absolutamente<br />

nenhum resultado positivo, mas empurraram as massas exploradas<br />

para uma situação de crise ainda maior, agravando as contradições<br />

sociais.<br />

O núcleo deste trabalho “preparatório” consiste na construção do<br />

partido revolucionário da classe <strong>operária</strong>.<br />

O capitalismo é uma fruta podre, que já ultrapassou o seu tempo<br />

devido sobre a face do planeta, mas não cairá sozinha. Esta não é a<br />

natureza dos regimes sociais históricos. Neles, os privilegiados – e<br />

o capitalismo conta com os maiores privilegiados de todas as épocas<br />

– tendem a resistir à mudança social até o seu último alento. É preciso<br />

derrubá-lo e, para derrubá-lo, é preciso um instrumento adequado<br />

e este instrumento é o partido da classe <strong>operária</strong>.<br />

As lutas da classe <strong>operária</strong> no período de transição são “a preparação<br />

para a tomada do poder” e a essência da preparação consiste<br />

em organizar politicamente a classe <strong>operária</strong> através de uma vanguarda<br />

revolucionária.<br />

É esse o significado prático da grande idéia do programa da IV<br />

Internacional de que “a crise histórica da humanidade reduz-se à crise<br />

de direção do proletariado”.<br />

Como eles disseram...<br />

"O centrismo, privado de qualquer âncora em quaisquer<br />

princípios, sem nenhuma plataforma distinta própria, é<br />

arrastado à esquerda pela pressão dos acontecimentos e da<br />

crítica. Sem uma fundamentação real, precisa se basear em<br />

um prestígio artificialmente preservado".<br />

Datas<br />

Max Shachtman<br />

Os 10 primeiros anos da Oposição de Esquerda<br />

22 de setembro de 1897<br />

Falecia Antônio Conselheiro, líder de Canudos, assassinado<br />

Frases da semana<br />

22 de setembro de 1980<br />

O Iraque invadia o Irã<br />

"Os EUA não estão fora de perigo. Penso que a<br />

crise financeira está no meio do caminho. Iria adiante<br />

dizendo que o pior ainda está por vir" Kenneth Rogoff,<br />

ex-economista-chefe do Fundo Monetário<br />

Internacional (FMI)<br />

"Se nada mudar, estamos caminhando para uma<br />

guerra civil de baixa intensidade, mas guerra civil. Civis<br />

brigando contra civis e sem a intervenção das forças<br />

de segurança" disse o diretor de mestrado da<br />

Universidade Católica Boliviana, Gonzalo Chávez


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 6<br />

ANÁLISE POLÍTICA SEMANAL<br />

Uma nova etapa da crise financeira, rumo<br />

a uma nova etapa da crise política mundial<br />

Na última semana o mundo pôde perceber claramente<br />

em direção a que extremos caminha a crise econômica<br />

e política. Os extremos aos quais o governo norteamericano<br />

está sendo forçado a chegar para conter a<br />

crise financeira, e os desdobramentos da<br />

desestabilização política na Bolívia anunciam a nova<br />

etapa da situação mundial<br />

A devastação observada entre<br />

as grandes instituições financeiras<br />

norte-americanas ainda não<br />

teve equivalente na chamada<br />

“economia real”, isto é, na produção<br />

industrial, no comércio, nos<br />

aspectos da economia que afetam<br />

diretamente a vida da população.<br />

Isto não quer dizer que a crise não<br />

chegará a este ponto, como afirmam<br />

os próprios banqueiros envolvidos<br />

na maior crise financeira<br />

desde o crash da Bolsa de Nova<br />

Iorque em 1929. Como já afirmamos<br />

várias vezes, a crise financeira<br />

atual tem maior amplitude e<br />

magnitude que a de 29, embora<br />

não tenha ainda chegado ao ponto<br />

de derrubar completamente o<br />

mercado mundial.<br />

Pelo contrário, o fato de a crise<br />

durar tanto tempo (13 meses) e<br />

se desenvolver com relativa rapidez<br />

dos bancos de hipotecas de<br />

alto risco, o chamado mercado<br />

subprime, para agências de securitização<br />

de contratos de compra<br />

e venda e para os maiores bancos<br />

e fundos de investimentos norteamericanos,<br />

saldados apenas pela<br />

intervenção do banco central<br />

norte-americano, é um sinal quase<br />

cem por cento seguro de que<br />

as grandes empresas e o próprio<br />

Estado se comprometerão ainda<br />

mais, tal o entrelaçamento existente<br />

entre suas contas e o mercado<br />

financeiro.<br />

A crise, que tem o seu epicentro<br />

no mercado de hipotecas de<br />

alto risco, está atingindo outros<br />

mercados com mais força do que<br />

os banqueiros e administradores<br />

achavam ou, pelo menos, diziam<br />

que achavam, que iria acontecer.<br />

Ao que tudo indica, superestimaram<br />

ou ocultaram a sua real capacidade<br />

de absorver os impactos<br />

de um desfalque tão grande em<br />

um fundo tido como seguro entre<br />

amplas parcelas do mercado<br />

financeiro.<br />

A ausência de uma iniciativa<br />

política independente vinda do<br />

movimento operário tem dado até<br />

aqui aos banqueiros, de maneira<br />

relativa, a tranqüilidade de que<br />

precisam para deslocar seus capitais<br />

de um lado a outro e forçar<br />

o Estado a queimar o dinheiro<br />

público para salvar as maiores<br />

instituições financeiras da falência.<br />

Esta receita, onde a humanidade<br />

paga a falência dos bancos<br />

não seria possível diante de uma<br />

classe <strong>operária</strong> em ascenso.<br />

A crise que está em marcha no<br />

sistema financeiro avança por<br />

etapas, tende inevitavelmente a<br />

atingir a economia produtiva o que<br />

provocará uma retração sem<br />

comparação até hoje das forças<br />

produtivas, arrastando consigo<br />

indústrias, o comércio, empregos<br />

e a vida de milhões de pessoas.<br />

Esta movimentação, aliada à evolução<br />

da crise política – que como<br />

colocado acima, também vem<br />

caminhando a passos largos – levará<br />

a uma nova etapa da situação<br />

política mundial.<br />

Para curar a<br />

doença que se<br />

espalha<br />

As perdas do último período<br />

são recorde e os valores de mercado<br />

das principais instituições<br />

financeiras caíram em um ano<br />

entre 62,1% e 99,3%. A generalização<br />

dos prejuízos de um mercado<br />

para todo o sistema financeiro<br />

é uma etapa intermediária<br />

no desenvolvimento da crise<br />

econômica mundial em seu conjunto,<br />

em caráter geral para a<br />

economia e mundial.<br />

Será necessário que o governo<br />

norte-americano injete centenas<br />

de bilhões de dólares para<br />

conter a crise, como os próprios<br />

chefe do Tesouro, Henry Paulson,<br />

e o presidente Bush anunciaram<br />

na semana.<br />

Com um valor ainda desconhecido,<br />

o governo norte-americano<br />

já decidiu pela intervenção na<br />

economia, como Bush o colocou,<br />

agindo de maneira sem precedentes<br />

para conter uma crise sem<br />

precedentes.<br />

“A intervenção pública nos<br />

mercados é essencial para preservar<br />

o sistema financeiro. O risco<br />

de não agir seria muito maior com<br />

a alta do desemprego e a escassez<br />

de empréstimos”, disse Bush<br />

em seu discurso em frente à Casa<br />

Branca na sexta-feira (19) acompanhado<br />

dos presidentes do Fed<br />

e do Tesouro. Bush declarou abertamente<br />

que usará o dinheiro do<br />

contribuinte norte-americano<br />

para comprar os créditos podres<br />

dos bancos, mas acrescentou que<br />

“acha” que este dinheiro voltará<br />

porque... a economia norte-americana<br />

é sólida!<br />

Em seu apelo ao Congresso<br />

norte-americano pela união de<br />

Democratas e Republicanos na<br />

aprovação de um plano de emergência<br />

para regular os mercados<br />

financeiros e impedir a quebra<br />

generalizada dos bancos, o secretário<br />

do Tesouro afirmou temer o<br />

sufocamento dos empréstimos<br />

pelas dívidas contraídas no terreno<br />

doméstico. Este sufocamento<br />

seria o completo estrangulamento<br />

da produção por falta de<br />

investimentos e um colapso imediato<br />

de toda a economia norteamericana<br />

e mundial.<br />

Tentam, assim como no período<br />

anterior, ganhar tempo antes<br />

que a crise atinja em cheio a economia<br />

real. Fica claro nas próprias<br />

declarações das autoridades<br />

econômicas e políticas do imperialismo<br />

que não se trata de conter,<br />

mas de suavizar a queda inevitável<br />

para que a crise se desenvolva,<br />

aparentemente, não como<br />

catástrofe, mas como um fenômeno<br />

aparentemente gradual e<br />

possa ser absorvida sem efeitos<br />

políticos revolucionários imediatos.<br />

Os dados do Bureau of Labor,<br />

do FMI e do Departamento de<br />

Comércio e do governo norteamericano<br />

atestam os danos já<br />

<strong>causa</strong>dos pela crise financeira.<br />

Os economistas esperam que<br />

o PIB, norte-americano, que em<br />

2004 cresceu 3,6%, chegue a<br />

apenas 1,3% ao final deste ano, o<br />

que seria um resultado relativamente<br />

bom dado o estágio da<br />

crise, mas que não seria mantido<br />

em 2009. O desemprego, por sua<br />

vez, na casa dos 4,8% em 2005,<br />

pode chegar a 5,7% e até mesmo<br />

6,1% segundo algumas estimativas,<br />

muito alto pelos padrões da<br />

economia norte-americana.<br />

A inflação norte-americana<br />

também começou a subir após<br />

um período de queda de quatro<br />

meses no primeiro semestre. Dos<br />

4,3% registrados em janeiro, a<br />

inflação norte-americana já alcançou<br />

5,6% em julho.<br />

As contas públicas que não<br />

fechavam com saldo positivo<br />

desde 2003 – especialmente em<br />

função da guerra – alcançaram o<br />

seu maior prejuízo desde o auge<br />

do conflito no Iraque em 2004,<br />

chegando a uma estimativa de<br />

perda de 389 bilhões de dólares<br />

neste ano e 482 bilhões em 2009,<br />

contra os 412 bilhões perdidos em<br />

2003.<br />

Como afirmou o Wall Street<br />

Journal na quinta-feira (18), “A<br />

crise financeira que se iniciou há<br />

13 meses atrás entrou em uma<br />

fase nova e muito mais séria.<br />

“As esperanças que restavam<br />

de que o dano pudesse ser restrito<br />

a um punhado de instituiçõr:es<br />

financeiras que fizeram apostas<br />

ruins em hipotecas evaporaram.<br />

Novas linhas de quebra estão<br />

emergindo além do problema<br />

original – as hipotecas subprime<br />

com problemas – em áreas como<br />

as trocas de crédito, contratos de<br />

crédito assegurados vendidos<br />

pelo American International<br />

Group Inc. e outros. Há também<br />

um crescente sentido de preocupação<br />

sobre a saúde dos parceiros<br />

comerciais.<br />

“As conseqüências para as<br />

companhias e executivos que<br />

aguardam – esperando tempos<br />

melhores nos quais levantar capital,<br />

vender ativos ou reconhecer<br />

perdas – são agora claras e brutais,<br />

na medida em que os preços<br />

das ações caem e emprestadores<br />

temerosos mandam companhias<br />

em problemas para buracos ainda<br />

mais fundos”.<br />

O quadro generalizado de crise<br />

assusta os investidores e provoca<br />

uma seqüência de vendas de<br />

títulos e ações, dificultando ainda<br />

mais o fluxo de negócios nos<br />

mercados internacionais, ou seja,<br />

levando em um círculo vicioso ao<br />

estrangulamento do crédito que<br />

deve aliviado pelo dinheiro público<br />

e intervenção estatal.<br />

O nível de contágio parece ser<br />

muito mais alto do que estimam,<br />

como atesta a bolsa da Rússia,<br />

que fechou por dois dias seguidos<br />

após registrar perdas sucessivas<br />

de 10% e 30%. Seu fechamento<br />

no meio do pregão na<br />

quarta-feira e logo após a abertura<br />

na quinta-feira, quando as<br />

ações dos principais bancos russos<br />

despencaram vertiginosamente<br />

mostra que está cada vez<br />

mais difícil sustentar a ciranda<br />

financeira internacional. O restabelecimento<br />

do seu funcionamento<br />

em níveis “normais” só se<br />

deu na sexta-feira, após o pacote<br />

econômico anunciado por<br />

Bush, que provocou um enorme,<br />

embora temporário alívio nos<br />

mercados, quando conseguiu se<br />

recuperar com alta 22,39%, mas<br />

funcionando de maneira intermitente<br />

ao longo do dia.<br />

Na UTI<br />

Uma comparação feita pelo<br />

Wall Street Journal, porta-voz da<br />

bolsa, ilustra com clareza a situação<br />

do sistema financeiro norteamericano.<br />

“O sistema financeiro norteamericano<br />

lembra um paciente na<br />

UTI. O corpo está tentando combater<br />

uma doença que está se<br />

espalhando, e enquanto esta o faz,<br />

o corpo entra em convulsão, se<br />

acomoda por um tempo e depois<br />

entra em convulsão novamente.<br />

A doença parece estar superando<br />

as tendências do mercado a se<br />

curar sozinho. Os médicos encarregados<br />

estão se recorrendo a<br />

um tratamento cada vez mais<br />

invasivo, e agora estão experimentando<br />

remédios que não tinham<br />

sido nunca aplicados. O<br />

presidente do Fed, Bernanke e o<br />

Secretário do Tesouro Henry<br />

Paulson, entrando em uma reunião<br />

arranjada às pressas com<br />

líderes do Congresso na terçafeira<br />

à noite para informá-los<br />

sobre o resgate sem precedentes<br />

da AIG pelo governo, pareciam<br />

cirurgiões exaustos entregando<br />

notícias sombrias à família”.<br />

Ao fazê-lo, incidentalmente, o<br />

imperialismo norte-americano<br />

reconhece que toda a sua conversa<br />

de décadas de que as crises ao<br />

estilo da de 29 eram impossíveis<br />

porque os governos e mercados<br />

haviam desenvolvido mecanismos<br />

que impediam este tipo de<br />

descontrole caem totalmente por<br />

terra e os governos e mercados<br />

ingressam como estes “métodos<br />

sem precedentes” novamente no<br />

terreno do desconhecido.<br />

O encadeamento das dívidas e<br />

a conseqüente quebradeira das<br />

instituições financeiras foi chamado<br />

de “desalavancamento”<br />

(deleveraging) pelo presidente do<br />

Fed. A onda de perdas iniciada<br />

com a falta de cobertura para as<br />

garantias atreladas ao subprime,<br />

se espalhou para muito além dos<br />

imóveis residenciais hipotecados,<br />

atingindo propriedades comerciais<br />

e empréstimos tomados para<br />

a compra de automóveis e compromissos<br />

de curto prazo.<br />

À medida em que o sistema<br />

financeiro norte-americano se vê<br />

mais e mais paralisado, vêem à<br />

tona as indicações de quais serão<br />

as próximas áreas comprometidas<br />

e de que recursos os grandes<br />

especuladores pretendem dispor.<br />

Os fundos hedge, de alto risco e<br />

alta rentabilidade, tendem a ser os<br />

próximos a entrar em colapso,<br />

segundo os analistas de Wall Street.<br />

Os fundos soberanos, como o<br />

que o governo Lula está pretendendo<br />

formar a partir da captação<br />

de reservas internacionais e da<br />

valorização do mercado interno<br />

brasileiro e, fundamentalmente, as<br />

exportações de petróleo e etanol,<br />

tendem a ser atirados à fornalha<br />

descontrolada da crise financeira.<br />

É o que o próprio governo<br />

Bush já afirmou que fará ao anunciar<br />

que seria mais favorável gastar<br />

o dinheiro público com a crise<br />

dos bancos do que deixá-los ir à<br />

falência – e com eles o restante da<br />

economia.<br />

Diante da evolução da crise fica<br />

absolutamente claro, até para<br />

quem não queria ver, que a formação<br />

deste “colchão de divisas”<br />

pelo governo Lula nada mais era<br />

que um depósito à vista para garantir<br />

a entrada de capital especulativo<br />

no país e, também, diante<br />

da dimensão da crise, é uma gota<br />

de água no oceano. Utilizado em<br />

outras formas, como investimento<br />

na saúde, educação etc. teria<br />

tido extraordinário valor. Agora,<br />

é dinheiro perdido.<br />

A própria avaliação dos economistas<br />

de Wall Street não esconde<br />

o fato: é a população mundial,<br />

em especial dos países capitalistas<br />

atrasados e dominados pelo<br />

imperialismo que paga pela crise.<br />

“Em parte, a economia mais<br />

ampla se manteve mais estável<br />

porque as exportações têm sido<br />

tão fortes no momento exato, um<br />

lembrete da importância da economia<br />

mundial para os EUA e em<br />

parte, porque a economia norteamericana<br />

está demonstrando<br />

uma impressionante elasticidade,<br />

na medida em que a tecnologia da<br />

informação permite que os executivos<br />

reajam mais rapidamente<br />

a problemas que surgem e – para<br />

o desconforto dos trabalhadores<br />

– as empresas estão mais rápidas<br />

no ajuste dos salários, contratação<br />

e jornadas de trabalho quando<br />

a economia amolece”.<br />

O capitalismo mundial, em<br />

particular o imperialismo, está<br />

gastando as reservas que acumulou<br />

com as extraordinárias conquistas<br />

contra a classe <strong>operária</strong><br />

mundial, em particular sobre os<br />

salários, e contra os países atrasados,<br />

em particular na troca<br />

desigual entre matérias-primas e<br />

tecnologia.<br />

A evolução da crise<br />

até 2007<br />

A situação atual está relacionada<br />

diretamente à evolução da crise<br />

econômica e política do imperialismo<br />

que se abriu com a recessão<br />

mundial de 1974, resultado da<br />

derrota do imperialismo no Vietnã<br />

a partir de 68, formalizada em<br />

1975 e aprofundada com a crise<br />

do petróleo em 1979.<br />

O processo que conduziu as<br />

economias imperialistas ao ataque<br />

às condições de vida e trabalho da<br />

classe <strong>operária</strong>, à privatização de<br />

empresas e ao avanço no desmonte<br />

da estrutura estatal durante os<br />

anos 80 e 90 não foram suficientes<br />

para solucionar o problema,<br />

embora tenham contribuído significativamente<br />

para, através de<br />

uma política de deflação e do congelamento<br />

da economia e do<br />

monstruoso rebaixamento do<br />

mercado de trabalho mundial,<br />

conter o movimento operário e<br />

retardar a evolução da crise política<br />

nos principais centros econômicos<br />

mundialmente.<br />

O plano para o controle do<br />

petróleo do Oriente Médio, conduzido<br />

pela Casa Branca, levou à<br />

operação militar para a invasão do<br />

Iraque e controle de uma das<br />

maiores reservas da matéria-prima<br />

no mundo. A operação resultou<br />

em um retumbante fracasso<br />

em que os EUA já investiram mais<br />

de US$ 3 trilhões. Mais importante<br />

que isso, no entanto, é a desmoralização<br />

do poder militar imperialista<br />

que não se mostra à altura<br />

da conquista pela força dos mercados<br />

e fontes de matéria-prima<br />

que é absolutamente indispensável<br />

na situação atual.<br />

Este gasto, diluído entre os<br />

últimos cinco anos, acrescido da<br />

alta dos preços do petróleo criou<br />

as condições para que os “investidores”<br />

estimulassem a bolha de<br />

consumo, em particular o imobiliário.<br />

O resultado da falência<br />

deste mercado levou à crise das<br />

hipotecas subprime em agosto<br />

passado.<br />

A espiral de crise vem se acentuando<br />

nos últimos 13 meses. A<br />

desconfiança no mercado financeiro<br />

é generalizada e as previsões<br />

otimistas de um ano atrás, de que<br />

a crise seria passageira, restrita ao<br />

mercado imobiliário evaporaram<br />

como os próprios analistas e<br />

porta-vozes do mercado financeiro<br />

anunciaram na última semana<br />

na sua tribuna, o Wall Street Journal.<br />

Ao mesmo tempo em que a<br />

crise financeira se aprofundava,<br />

os elos mais fracos na conjunção<br />

de forças que dá sustentação à<br />

dominação imperialista no mundo<br />

começaram a se romper no<br />

ano passado.<br />

O caso mais evidente da degringolada<br />

dos regimes pró-imperialistas<br />

foi o fim da ditadura do<br />

ex-general Pervez Musharraf no<br />

Paquistão, principal ponto de<br />

apoio do imperialismo naquela<br />

região diante do crescimento da<br />

rebelião mulçumana que expressa<br />

as tendências ao levante das<br />

nações atrasadas árabes, africanas<br />

e asiáticas, depois de quase<br />

dez anos em estreita aliança com<br />

Washington. Juntamente com<br />

este, as ditaduras pró-imperialistas<br />

do Sul da Ásia passaram por<br />

um processo semelhante com<br />

enfrentamentos nas ruas de Bangladesh,<br />

da Birmânia, o fim da<br />

monarquia no Nepal etc., em uma<br />

onda de crise política que continua<br />

avançando.<br />

A ampliação da crise política no<br />

Paquistão levou a um processo de<br />

características revolucionárias no<br />

país que está na linha divisória<br />

entre a crise política no Oriente<br />

Médio e a crise verdadeira bomba-relógio<br />

financeira na Ásia. A<br />

ação das massas estudantis sob a<br />

liderança de clérigos muçulmanos<br />

colocou o regime de Musharraf<br />

em xeque com a ocupação da<br />

Mesquita Vermelha no ano passado,<br />

que terminou em um massacre<br />

promovido pelo exército e<br />

condenado amplamente pela população.<br />

Os fatos que se seguiram<br />

marcaram a profunda desmoralização<br />

do governo e o esvaziamento<br />

do seu apoio pelo próprio<br />

imperialismo. A operação abortada<br />

que iria substituir a ditadura<br />

militar pró-imperialista pelo da expremiê<br />

Benazir Bhutto, que havia<br />

concordado em assumir preservando<br />

Musharraf no governo<br />

terminou, menos de um ano depois,<br />

por entregar o poder ao<br />

partido da ex-premiê assassinada.<br />

A coalizão de partidos burgueses,<br />

sem nenhuma base no movimento<br />

popular, que se reuniu para obter<br />

maioria no Parlamento se dissolveu<br />

logo após a renúncia de<br />

Musharraf em agosto deste ano.<br />

A crise Boliviana e a<br />

crise no Brasil<br />

Evo Morales foi forçado a<br />

prender Leopoldo Fernandes,<br />

governador do departamento de<br />

Pando, responsável pelo massacre<br />

ocorrido na última semana,<br />

tendo deixado mais de 100 desaparecidos<br />

e detido em La Paz sob<br />

a acusação de genocídio devido<br />

à pressão revolucionária das<br />

massas.<br />

O governo boliviano pediu ao<br />

Brasil que expulse os bolivianos<br />

envolvidos nos conflitos no departamento<br />

de Pando que se refugiaram<br />

no Acre.<br />

Lula se dispôs durante a última<br />

semana a prestar o auxílio necessário<br />

a que o governo de Evo<br />

Morales restabeleça a ordem.<br />

“Fortalecer a democracia boliviana”<br />

como o próprio presidente<br />

colocou, significa, impedir que a<br />

crise cresça e passe de uma crise<br />

com claras características revolucionárias<br />

pela iniciativa das<br />

massas camponesas e trabalhadoras<br />

da Bolívia para uma derrubada<br />

geral do regime político<br />

burguês.<br />

Tivemos na semana retrasada<br />

uma ofensiva dos setores que<br />

querem dividir a Bolívia ao meio.<br />

Na última semana, foi a vez dos<br />

camponeses assumirem a iniciativa<br />

em resposta à iniciativa dos<br />

setores contra-revolucionários<br />

apoiados e impulsionados pelo<br />

imperialismo. Nos departamentos<br />

governados pela direita, os direitistas<br />

deram um verdadeiro “golpe<br />

de estado”, impondo um bloqueio<br />

de estradas, ocupando os<br />

prédios públicos, fechando a<br />

fronteira com o Brasil no departamento<br />

de Santa Cruz, o mais<br />

importante da direita.<br />

Nesta semana, os bloqueios de<br />

estradas, a marcha dos camponeses<br />

em direção a Santa Cruz de La<br />

Sierra dominaram o panorama<br />

promovendo a fuga de vários<br />

setores da direita para o Brasil.<br />

Evo Morales agiu para expulsar<br />

o embaixador norte-americano<br />

e prender o governador de<br />

Pando, bem como a realizar algumas<br />

ações em comum acordo<br />

com o Exército na tentativa de<br />

conter as tendências revolucionárias<br />

das massas que cercaram a<br />

cidade de Santa Cruz de La Sierra<br />

para liquidar de vez a direita em<br />

uma ação revolucionária que reabre<br />

todo o período revolucionário<br />

que deu lugar à insurreição<br />

contra o governo pró-imperialista<br />

e ao governo de Morales. A<br />

política de Morales de, sobre a<br />

base da derrota da direita nas mãos<br />

das massas, chegar a um acordo<br />

com a direita, expressa o temor do<br />

governo nacionalista burguês de<br />

ficar sob a pressão das massas<br />

sem um contrapeso das forças revolucionárias.<br />

O método de<br />

Morales é o de arbitrar entre as<br />

tendências revolucionárias das<br />

massas e contra-revolucionárias<br />

usando a carta da democracia.<br />

Sem a direita, o governo cai diretamente<br />

sob a pressão das massas<br />

sem qualquer contrapeso. Por<br />

isso, Morales busca agora, salvar<br />

a direita das massas. O governo<br />

recusou-se durante toda a crise a<br />

mobilizar os sindicatos, as organizações<br />

camponesas, a população<br />

em geral que acabaram, por<br />

tomar esta iniciativa por conta<br />

própria, ultrapassando Morales, o<br />

qual agiu para retomar a iniciativa<br />

diante das massas.<br />

A crise mostra a tendência à<br />

polarização onde, no caso boliviano,<br />

as massas tomaram a inici-<br />

ativa, anos atrás derrubando os<br />

governos de Sánchez “el Gringo”<br />

de Losada e Carlos Mesa, e agora,<br />

diante da reação da direita, as<br />

massas estão novamente começando<br />

a se agitar e tendem a se<br />

organizar – como o mostra o<br />

cerco à Santa Cruz – por fora das<br />

instituições do regime burguês e<br />

do próprio MAS, sendo que os<br />

dirigentes os mais próximos das<br />

bases pelo menos, estão forçados<br />

a assumirem uma política mais<br />

conseqüente. Se Morales não<br />

atuasse para retomar a iniciativa<br />

e superar a sua completa paralisação<br />

e prostração diante da política<br />

da direita corre o risco de ver<br />

o seu próprio partido rachar e<br />

lançar contra seu governo uma<br />

ampla parcela das massas insatisfeita<br />

com a falta de resultados da<br />

política governamental e a sua<br />

prostração diante da direita.<br />

É impossível para a direita<br />

governar a Bolívia novamente.<br />

Nesse sentido, a divisão do país<br />

é a sua política natural, a qual<br />

foram levando adiante com cautela,<br />

disfarçando-a com uma crítica<br />

de tipo constitucional ao<br />

governo Morales, por medo às<br />

massas. O medo se justificou<br />

plenamente na mobilização atual<br />

dos camponeses que tende a se<br />

transformar em uma revolução do<br />

conjunto das massas <strong>operária</strong>s e<br />

camponesas bolivianas.<br />

O medo da direita não é, de<br />

forma alguma, de Evo Morales e<br />

do MAS, mas das massas exploradas<br />

e oprimidas bolivianas que<br />

já a derrubou do poder uma vez<br />

em uma violenta insurreição popular<br />

que derrotou e neutralizou<br />

o Exército e o imperialismo. A<br />

direita explora a tendência conciliadora<br />

de Evo Morales e a sua<br />

política “legalista” e “constitucional”,<br />

em relação ao movimento<br />

revolucionário das massas, para<br />

levar adiante a liquidação da Bolívia.<br />

Esta estratégia da direita é<br />

encoberta por uma tática “constitucional”,<br />

o que leva a maioria da<br />

direita latino-americana a acreditar<br />

que se trata de uma disputa em<br />

torno da constituição de Morales,<br />

a qual, na realidade, só tem como<br />

significado criar um marco legal<br />

e “democrático” para conter as<br />

massas.<br />

Morales está à frente de um<br />

governo fraco, prensado entre<br />

forças poderosas: de um lado o<br />

imperialismo, de outro as massas.<br />

Sua força vem do equilíbrio entre<br />

o imperialismo e as massas sem<br />

direção revolucionária. Daí a sua<br />

necessidade de negociar com a<br />

direita e o imperialismo.<br />

O fiel da balança nessas negociações<br />

será, sem dúvida, o Brasil.<br />

O governo Lula é o representante<br />

da política do imperialismo<br />

norte-americano para a região<br />

procurando evitar o confronto<br />

das massas com a direita ao<br />

mesmo tempo em que procura<br />

apresentar a Morales uma solução<br />

pelas vias institucionais do regime<br />

burguês, preservando o regime<br />

e procurando minimizar a<br />

dispersão das massas atreladas ao<br />

MAS e ao governo.<br />

As massas bolivianas devem,<br />

no curso da luta atual, desenvolver<br />

uma nova organização de luta<br />

(sovietes) e uma direção política<br />

capaz de unificá-las diante das<br />

dificuldades políticas que se colocam.<br />

Uma nova etapa de<br />

crise<br />

A crise do imperialismo se alterna,<br />

manifestando-se ora no<br />

terreno econômico com a escalada<br />

da desestabilização do sistema<br />

financeiro, no coração da<br />

economia mundial, ora no terreno<br />

político, avançando dos membros<br />

mais periféricos para se<br />

aproximar cada vez mais do seu<br />

centro nervoso.<br />

A alternância entre a crise<br />

econômica e a crise política se dá<br />

de maneira cada vez mais acelerada,<br />

em uma velocidade cada<br />

vez maior. Se no ano passado a<br />

crise financeira atingiu – profundamente<br />

– as hipotecas de alto<br />

risco e a crise política arrasou o<br />

governo pró-imperialista de<br />

Musharraf, em 2008, a crise financeira<br />

já é capaz de abalar de<br />

maneira mais evidente a própria<br />

estabilidade financeira do imperialismo<br />

e ameaçar os setores<br />

elementares da economia e o<br />

governo abalado por uma crise<br />

política de grande envergadura é<br />

o da Bolívia, muito mais próximo<br />

e mais importante diretamente<br />

para o imperialismo por colocar<br />

em perspectiva a desestabilização<br />

de uma região que está<br />

diretamente sob sua influência,<br />

todo o subcontinente sul-americano.<br />

A crise no Paquistão primeiro<br />

e agora na Bolívia prenunciam um<br />

agravamento da crise política e a<br />

abertura de uma nova etapa da<br />

crise mundial.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 7<br />

LEHMAN BROTHERS<br />

Mais um gigante decreta falência nos Estados Unidos<br />

O quarto maior banco dos EUA decretou falência na<br />

segunda-feira passada (15), depois que o britânico<br />

Barclays recusou a compra do banco sem a ajuda<br />

financeira pública do governo norte-americano<br />

Falência do Lehman Brothers foi devastadora para os<br />

mercados financeiros.<br />

Um dos principais bancos<br />

envolvidos na crise do crédito<br />

imobiliário norte-americano, o<br />

quarto maior, o Lehman Brothers,<br />

pediu falência na última<br />

segunda-feira, (15). É uma das<br />

maiores falências de um banco<br />

de investimentos nos últimos<br />

anos. O banco é um dos mais<br />

antigos dos Estados Unidos, tinha<br />

mais de 150 anos de existência,<br />

foi fundado em 1850.<br />

O banco pediu a concordata<br />

mediante o capítulo 11 da lei norte-americana<br />

de falências. Esta<br />

lei dá o direito ao banco de tentar<br />

entrar em acordo com os credores<br />

mediante o controle de um<br />

tribunal. Este recurso pode ser<br />

acionado pelo banco ou por algum<br />

de seus credores.<br />

A falência do Lehman Brothers<br />

foi devastadora para os<br />

mercados financeiros, provocando<br />

perdas recordes nas<br />

bolsas de todo o mundo com<br />

quedas nas ações de grandes<br />

empresas. As bolsas de Nova<br />

Iorque e do Brasil tiveram os<br />

piores resultados em sete<br />

anos, desde o 11 de setembro<br />

de 2001.<br />

Sendo um dos principais bancos<br />

de investimentos que possui<br />

uma grande quantidade os títulos<br />

hipotecários subprime (investimentos<br />

de alto risco), o Lehman<br />

Brothers, apresentou uma dívida<br />

de US$ 613 bilhões com este<br />

segmento. Um valor que não foi<br />

coberto pelo governo norteamericano,<br />

por meio do Federal<br />

Reserve (Fed), banco central dos<br />

Estados Unidos, como ocorreu<br />

com as financiadoras Fannie<br />

Mae e Freddie Mac na semana<br />

passada.<br />

O Lehman também estava na<br />

expectativa de ser salvo pelos<br />

bancos Bank of America Corp.,<br />

dos Estados Unidos e o britânico,<br />

Barclays Plc que estavam em<br />

negociação para comprá-lo. A<br />

falência do Lehman Brothers<br />

ocorreu depois que o banco havia<br />

perdido, desde o início da<br />

crise no ano passado, 94% de seu<br />

valor de mercado.<br />

Efeito em cadeia<br />

A bancarrota do Lehman<br />

deve surtir um efeito em cadeia<br />

em outras instituições, como<br />

Uma lista de falências pela frente<br />

A bancarrota promovida<br />

pelo banco Lehman Brothers e<br />

todo o tremor <strong>causa</strong>do nas<br />

bolsas não vai ser algo passageiro<br />

no âmbito da crise financeira<br />

mundial. Os analistas já anunciaram<br />

que com o Lehman Brothers<br />

vai haver uma onda de<br />

bancos e instituições financeiras<br />

entrando em falência e todos<br />

de grande porte.<br />

O mais evidente é a seguradora<br />

American Internacional<br />

Group (AIG), a maior dos Estados<br />

Unidos. Esta seguradora<br />

já anunciou graves problemas<br />

financeiros de liquidez (dinheiro<br />

em caixa). Segundo a AIG,<br />

para continuar operando de<br />

maneira satisfatória seriam necessários,<br />

no mínimo, US$ 70<br />

bilhões.<br />

Com a queda do Lehman, a<br />

AIG não terá muita dificuldade<br />

em cair também. Juntamente<br />

com a seguradora está o banco<br />

Merril Lynch & Co. Inc. que foi<br />

vendido, também na segundafeira,<br />

dia 15, para o A Bank of<br />

America Corporation como<br />

medida paliativa de contenção da<br />

crise. A transação foi da ordem<br />

de US$ 50 bilhões de dólares. E<br />

ao invés de mostrar um fortalecimento<br />

do mercado, como quis<br />

aparentar o Bank of America é<br />

um evidente sinal de fraqueza<br />

das instituições financeiras norte-americanas<br />

que estão se fundindo<br />

para diminuir o impacto da<br />

crise.<br />

Outro banco que está na lista<br />

negra e pode ser considerado<br />

como franco candidato à<br />

falência é o Goldman Sachs<br />

Group que anunciou esta semana,<br />

um prejuízo de 70% em<br />

seu lucro do último trimestre.<br />

O banco arrecadou US$ 845<br />

milhões entre junho e agosto<br />

deste ano, bem abaixo do registrado<br />

no mesmo período<br />

do ano passado, US$ 2,85<br />

bilhões.<br />

Vale lembrar que a queda do<br />

Lehman Brothers não é o início,<br />

mas a continuidade da crise, pois<br />

em março outro gigante, o Bear<br />

Stearns, também sucumbiu à<br />

crise imobiliária e foi “salvo” por<br />

outro banco, o JP Morgan Chase.<br />

A tendência nos próximos<br />

meses é a concentração de capital<br />

destes bancos que não<br />

conseguem mais se manter em<br />

pé com a gravidade da crise.<br />

Este fato foi ressaltado pelo<br />

diretor-gerente do Fundo Monetário<br />

Internacional (FMI),<br />

Dominique Strauss-Kahn que<br />

disse que agora haverá um “setor<br />

financeiro global mais estreito”,<br />

ou seja, mais perdas, mais<br />

prejuízos, mais falências etc.<br />

analisou o especialista em falências<br />

e concordatas, Charles<br />

“Chuck” Tatelbaum, “É provável<br />

que haja um efeito dominó, à<br />

medida que outras empresas e<br />

indivíduos que dependiam do<br />

Lehman para seu financiamento<br />

sentirem os efeitos da sua dissolução.<br />

Tudo isso é realmente<br />

assustador para a economia dos<br />

Estados Unidos.” (Gazeta Mercantil,<br />

16/9/2008).<br />

Este efeito cascata é bem visível<br />

quando analisado para<br />

quem o quarto banco norteamericano<br />

de investimentos<br />

deve. Entre os maiores credores<br />

do Lehman estão bancos importantes<br />

da Ásia, como o Aozora<br />

Bank, de Tóquio, que sozinho<br />

teria que receber do banco falido<br />

a quantia de US$ 463 milhões.<br />

Outros bancos em situação semelhante<br />

são o Mizuho Corporate<br />

Bank e uma seção do Citigroup<br />

Inc.com sede em Hong<br />

Cong que possuem US$ 382<br />

milhões e US$ 275 milhões, respectivamente,<br />

do Lehman, para<br />

receber.<br />

Depois do anúncio de falência,<br />

as ações foram cotadas a<br />

US$ 0,20 cada para os acionistas.<br />

Entre os maiores credores e<br />

acionistas o banco deve mais de<br />

US$ 300 bilhões. São US$ 155<br />

bilhões para os acionistas e US$<br />

158 bilhões para os 30 maiores<br />

credores.<br />

A crise foi tão avassaladora<br />

que mesmo os US$ 147 bilhões<br />

em caixa que o Lehman havia<br />

arrecado no segundo trimestre<br />

deste ano, com a venda de títulos<br />

não foi suficiente para conter<br />

a corrida ao banco dos credores.<br />

Veja aqui a lista das perdas de 12<br />

bancos norte-americanos desde o<br />

início da crise em agosto de 2007<br />

Queda nas hipotecas e nas vendas<br />

no varejo dos EUA agrava recessão<br />

Novos dados negativos da economia<br />

norte-americana mantêm o<br />

clima de instabilidade no maior<br />

mercado financeiro do mundo.<br />

Foram divulgados que as hipotecas<br />

que estão em vias de serem<br />

executadas tiveram aumento recorde<br />

em agosto. Segundo a agência<br />

RealtyTrac são 303.879 imóveis<br />

que estão na iminência de terem<br />

as hipotecas executadas, o<br />

que afetará cerca de 416 famílias<br />

norte-americanas, detentoras destas<br />

propriedades. Desde janeiro de<br />

2005 que a quantidade de imóveis<br />

prestes a serem executados é divulgada<br />

e nunca tinha atingido um<br />

patamar tão alto. É um aumento de<br />

até 27% em relação à última medição.<br />

Outro agravante é a queda<br />

abrupta do valor dos imóveis que<br />

em 20 regiões dos Estados Unidos<br />

teve redução média de 15,9% no<br />

mês de junho em comparação com<br />

o mesmo período do ano anterior<br />

e há ainda a previsão de que até o<br />

final de 2009 os preços devam cair<br />

ainda mais 10%.<br />

As vendas no varejo também<br />

foram afetadas em agosto. Segundo<br />

o Departamento do Comércio<br />

dos Estados Unidos, divulgados na<br />

sexta-feira (12), as vendas no<br />

varejo caíram 0,3% na média. Este<br />

é o segundo mês seguido em que<br />

as vendas dão resultado negativo.<br />

Em julho foi registrada perda de<br />

0,5% no consumo, o mais baixo<br />

em cinco meses.<br />

Em uma análise feita, em que as<br />

vendas de automóveis é desprezada,<br />

o resultado é duas vezes pior.<br />

Com a exclusão das vendas de<br />

automóveis a queda no consumo<br />

é de 0,7%, inferior ao atingido em<br />

dezembro de 2007.<br />

O anúncio de falência do Lehman<br />

Brothers se refere à sede<br />

instalada em Nova Iorque, mas<br />

as filiais do banco instaladas em<br />

vários países devem seguir o<br />

mesmo caminho. Junto com a<br />

derrocada do banco, os 25 mil<br />

funcionários da quarta maior instituição<br />

financeira de crédito imobiliário<br />

dos Estados Unidos devem<br />

perder os empregos.<br />

Esta falência apenas revela o<br />

quadro completo de recessão<br />

dos Estados Unidos e a recessão<br />

mundial latente. Os efeitos que<br />

serão gerados com a derrocada<br />

do Lehman Brothers ainda estão<br />

por vir e irão agravar ainda mais<br />

as instituições financeiras de<br />

todo o mundo.<br />

Os piores resultados são de<br />

lojas de departamentos, aparelhos<br />

domésticos, roupas, construção,<br />

jardinagem e também a venda de<br />

combustível.<br />

Estes resultados negativos aumentam<br />

ainda mais a crise financeira<br />

nos Estados Unidos, pois<br />

depende de maneira crucial do<br />

consumo dos norte-americanos<br />

para se manter em pé. O consumo<br />

corresponde a 70% da movimentação<br />

financeira no País. A redução<br />

do valor dos imóveis e as hipotecas<br />

em vias de execução estão<br />

diretamente relacionadas com<br />

a redução do consumo. Com o desenvolvimento<br />

da recessão nos<br />

Estados Unidos, os outros países<br />

ficam ainda mais suscetíveis à<br />

crise, pois dependem em muitos<br />

aspectos da economia norte-americana.<br />

NOTAS<br />

Bovespa cai mais de 7%<br />

Após o pedido de concordata<br />

do Lehman Brothers, na segunda-feira,<br />

dia 15, a venda do Merrill<br />

Lynch para o Bank of America<br />

por US$ 50 bilhões e a tentativa<br />

da AIG, principal companhia<br />

de seguros dos EUA, de obter um<br />

empréstimo-ponte de US$ 40<br />

bilhões do Fed, o cenário dos<br />

mercados globais apresentaramse<br />

com um completo caos.<br />

Acompanhando a queda das<br />

demais bolsas, a Bolsa de Valores<br />

de São Paulo (Bovespa) caiu<br />

7,59% às 16h30, uma das maiores<br />

quedas vistas hoje, com a<br />

baixa do petróleo e dos metais<br />

ajudando a afundar suas principais<br />

ações Petrobrás e Vale.<br />

Entre o fechamento da sextafeira,<br />

dia 12, e a mínima da segunda-feira,<br />

dia 15, o Ibovespa perdeu<br />

mais de 3 mil pontos. No<br />

mercado de câmbio doméstico,<br />

a aversão ao risco fez com que o<br />

dólar voltasse a subir para a casa<br />

dos R$ 1,80 - na máxima, o dólar<br />

à vista no balcão chegou a R$<br />

1,823 - mas as cotações esbarram<br />

em limites técnicos.<br />

Segundo os analistas, a Bolsa<br />

esteve tão instável que era impossível<br />

saber se haveria mais quedas<br />

durante a semana. Durante a<br />

manhã de segunda-feira, dia 15,<br />

o Fed teve de fazer duas operações,<br />

num total de US$ 70 bilhões,<br />

para oferecer liquidez ao mercado,<br />

em meio à disparada na demanda<br />

por financiamento. Na<br />

terça-feira, 16, a Bovespa manteve<br />

queda de 6,5% e se recuperou<br />

na sexta-feira, dia 19, com alta de<br />

mais de 9%, mas com pequena<br />

variação positiva acima de 1%.<br />

Com quebra de banco<br />

investidor norteamericano,<br />

as bolsas<br />

do mundo inteiro<br />

caíram<br />

O Banco da Inglaterra (Banco<br />

Central britânico) disse na última<br />

segunda-feira dia 15, que vai<br />

observar com atenção as condições<br />

nos mercados da libra esterlina<br />

após o anúncio de quebra do<br />

banco investidor norte-americano<br />

Lehman Brothers e que intervirá<br />

para estabilizá-los se for necessário,<br />

disse a entidade em<br />

comunicado.<br />

O Lehman informou em comunicado<br />

que apresentou a documentação<br />

necessária para se declarar<br />

em quebra perante o tribunal<br />

de Quebras do Distrito Sul de<br />

Nova York. A falência, que já era<br />

esperada, ficou iminente depois<br />

que o banco britânico Barclays<br />

decidiu abandonar as negociações,<br />

no fim de semana.<br />

O Lehman Brothers mantém<br />

negócios com os principais bancos<br />

do mundo e sua provável liquidação<br />

deverá <strong>causa</strong>r prejuízos<br />

a todas essas instituições. O banco<br />

perdeu mais de 77% de seu<br />

valor de mercado. Apenas entre<br />

o início de março e o final de<br />

agosto deste ano, a instituição<br />

financeira perdeu US$ 6,7 bilhões.<br />

As bolsas cairam no mundo<br />

todo.<br />

Na Ásia, a Bolsa de Mumbai<br />

(Índia) fechou, na terça-feira, dia<br />

16, em queda de 5,4% no índice<br />

Sensex; a Bolsa de Taipé (Taiwan)<br />

caiu 4,1%; e Bolsa de Sydney<br />

(Austrália) fechou em baixa de<br />

2%; e a Bolsa de Cingapura caiu<br />

2,9%.<br />

Bancos centrais se<br />

unem na tentativa de<br />

conter o pânico nos<br />

mercados<br />

Os bancos centrais do mundo<br />

anunciaram na quinta-feira, dia<br />

18, uma medida coordenada para<br />

conter o pânico nos mercados<br />

financeiros, enquanto a consolidação<br />

do setor bancário se acelera<br />

em meio aos rumores de novas<br />

falências.<br />

Acordos de “swap” entre os<br />

bancos centrais norte-americano,<br />

europeu, o nacional da Suíça, da<br />

Inglaterra, do Japão e Canadá<br />

permitirão empréstimos entre eles<br />

a curto prazo.<br />

Após a decisão de ação conjunta,<br />

ouve leve alta nas bolsas<br />

européias no mesmo dia, mas<br />

especialistas não vêem isto com<br />

otimismo: a alta é quase insignificante<br />

perto das últimas perdas,<br />

além de refletirem ainda grande<br />

insegurança mesmo com os bilhões<br />

injetados. Algumas bolsas<br />

tiveram queda, como é o caso de<br />

Xangai (baixa de 1,72%) e outras<br />

da Ásia. Em Tóquio, o índice<br />

Nikkei perdeu 2,22% no fechamento<br />

e registrou o menor valor<br />

em mais de três anos.<br />

EUA inauguram era<br />

de “socorro aos<br />

gigantes”<br />

O governo dos Estados Unidos<br />

inaugurou uma prática inédita<br />

ao socorrer na última semana<br />

a maior firma de seguros dos<br />

Estados Unidos com uma injeção<br />

de US$ 85 bilhões e adquirindo<br />

80% das ações da empresa.<br />

Até então, o Tesouro americano<br />

havia se limitado a intervir<br />

em instituições financeiras,<br />

como o banco Bear Stearns e as<br />

gigantes de hipotecas Fannie<br />

Mae e Freddie Mac, mas nunca<br />

em uma companhia de seguros.<br />

“Os Bancos Centrais mundiais<br />

seguem o princípio de<br />

que há bancos em seus países<br />

que são grandes demais para<br />

deixar que eles entrem em concordata”,<br />

disse à BBC Brasil<br />

Richard Marston, professor<br />

de finanças da Wharton Business<br />

School.<br />

Para o economista, “o Fed<br />

(Banco Central americano) seguramente<br />

iria intervir se o Bank<br />

of America ameaçasse falir. E o<br />

Bank of England certamente<br />

seria salvo pelo Banco da Inglaterra,<br />

mas salvar uma companhia<br />

de seguros é sem precedentes”.<br />

Banco HBOS, um dos<br />

maiores do Reino<br />

Unido, perde 40% de<br />

suas ações<br />

O maior banco hipotecário do<br />

Reino Unido, o Halifax Bank of<br />

Scotland (HBOS), viu suas<br />

ações caírem na quarta-feira<br />

(17) 40% na Bolsa de Londres,<br />

diante da crise econômica colossal<br />

que devastou os bancos<br />

norte-americanos e europeus.<br />

“Os títulos do HBOS caíam,<br />

por volta das 8h12 (local) desta<br />

quarta, 37,91%, para 1,13 libra<br />

esterlina, apesar de registrar<br />

uma alta de 7% no começo da<br />

sessão” (EFE, 17-9-2008).<br />

O banco pretende se salvar<br />

com o refinanciamento de 100<br />

bilhões de libras (cerca de 125<br />

bilhões de euros) nos próximos<br />

meses, mas teme que seja impossível<br />

conseguir este fundo<br />

devido à crise do mercado.<br />

Soros diz que crise<br />

continua se dirigindo<br />

para uma recessão<br />

Em entrevista para a rede<br />

britânica BBC, o financista norte-americano<br />

George Soros,<br />

77, afirmou que a crise econômica<br />

mundial e a recessão nos<br />

EUA estão longe do fim.<br />

“Temo que não tenhamos<br />

saído da tempestade financei-<br />

ra, que de algum modo continuamos<br />

nos dirigindo para a<br />

tempestade, ao invés de nos<br />

afastarmos”, disse (BBC, 17/<br />

9/2008).<br />

Dentre várias perguntas, sobre<br />

a concordata do banco Lehman<br />

Brothers, Soros respondeu<br />

que “se o sistema financeiro<br />

deve sobreviver, teria sido bom<br />

não deixá-lo afundar”, referindo-se<br />

ao fato de que o governo<br />

norte-americano não conseguiu<br />

salvar o banco.<br />

Soros comparou a atual situação<br />

com a Grande Depressão<br />

de 1929 e a década seguinte,<br />

na qual afirmou que o secretário<br />

de Tesouro dos EUA,<br />

Henry Paulson, trata a crise de<br />

forma muito parecida com<br />

aquela época.<br />

Relacionando a crise com a<br />

Europa, ele disse que a Grã-<br />

Bretanha será um dos países<br />

mais afetados.<br />

Soros comparou a atual situação com a Grande<br />

Depressão de 1929 e a década seguinte.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA ECONOMIA 8<br />

COM MEDO DA CRISE<br />

Bancos centrais despejam mais de<br />

US$ 500 bilhões em uma semana<br />

Em uma ação conjunta entre os bancos centrais dos<br />

principais países do mundo, foram injetados nesta última<br />

semana mais de US$ 500 bilhões para salvar os bancos<br />

da falta de liquidez<br />

O agravamento da crise financeira<br />

mundial nesta semana,<br />

com a falência do banco<br />

Lehman Brothers, com a compra<br />

da seguradora AIG e com<br />

a suspeita de falência de dezenas<br />

de outras instituições financeiras<br />

que estão expostas, colocou<br />

em alerta os bancos centrais<br />

dos principais países. Nesta<br />

semana, os bancos centrais<br />

da Europa (BCE), Banco do Japão,<br />

Banco da Inglaterra, Banco<br />

do Canadá, SNI, da Suíça e<br />

o Fed (Federal Reserve), banco<br />

central dos Estados Unidos,<br />

colocaram no mercado financeiro<br />

mais de US$ 500 bilhões<br />

Bilhões dos bancos<br />

centrais entre os dias de<br />

15 a 19 de setembro<br />

Banco Central<br />

EUA (Fed)<br />

Europa (BCE)<br />

Banco da Inglaterra<br />

Banco do Japão (BOJ)<br />

Banco de Taiwan<br />

Banco da Canadá<br />

Banco da Suíça<br />

Banco da Austrália<br />

Banco da Coréia<br />

Banco de Cingapura<br />

Banco de Hong Cong<br />

Total<br />

US$ (bilhões)<br />

250<br />

140<br />

40<br />

76<br />

15,5<br />

10<br />

10<br />

5,5<br />

3,1<br />

2,8<br />

0,2<br />

553,1<br />

para garantir liquidez (dinheiro<br />

em caixa), para os bancos.<br />

Os pioneiros da semana foram<br />

o Fed e o Banco Central<br />

Europeu. De segunda-feira, dia<br />

15 de setembro, a sexta-feira,<br />

dia 19, o banco central norteamericano<br />

tinha colocado no<br />

mercado para desafogar o sufoco<br />

dos bancos nada mais que<br />

US$ 250 bilhões. Já o BCE disponibilizou<br />

para os bancos europeus<br />

US$ 140 bilhões no<br />

mesmo período.<br />

O Banco da Inglaterra colocou<br />

nesta semana outros US$<br />

40 bilhões. Os bancos centrais<br />

do Canadá e da Suíça colocaram<br />

à disposição cada um US$<br />

10 bilhões.<br />

Todas estas transações foram<br />

feitas em conjunto com o<br />

Fed que facilitou as linhas de<br />

empréstimos para estes bancos.<br />

Uma executiva-chefe do<br />

BCE falou de como os bancos<br />

centrais estão atuando em conjunto<br />

para tentar diminuir o impacto<br />

da crise: “Temos estado<br />

e continuaremos a estar em estreito<br />

contato com outros reguladores<br />

internacionais e norteamericanos,<br />

autoridades supervisoras<br />

e bancos centrais para<br />

supervisionar e partilhar informação<br />

sobre as condições nos<br />

mercados financeiros e empresas<br />

em todo o mundo” (SIC, 19/<br />

9/2008).<br />

Os bancos da Ásia também<br />

colocaram dezenas de bilhões<br />

para tapar os buracos da crise.<br />

O Banco do Japão (BOJ) injetou<br />

US$ 35,7 bilhões na sextafeira<br />

e, durante a semana, o total<br />

foi de US$ 76 bilhões. O Banco<br />

da Austrália injetou na última<br />

semana US$ 5,5 bilhões. O<br />

banco central de Taiwan disponibilizou<br />

US$ 15,5 bilhões e já<br />

anunciou um montante de US$<br />

200 bilhões nas próximas semanas.<br />

Em Cingapura, o banco<br />

central colocou US$ 2,8 bilhões.<br />

O banco chinês de Hong<br />

Kong também colocou US$<br />

200 milhões no mercado financeiro<br />

asiático e o banco central<br />

da Coréia disponibilizou outros<br />

US$ 3,1 bilhões.<br />

Esta ação em conjunto dos<br />

bancos centrais para conter de<br />

maneira coordenada em todo<br />

mundo os efeitos devastadores<br />

da crise imobiliária demonstra<br />

ainda mais a fragilidade do sistema<br />

financeiro mundial e o tamanho<br />

da crise.<br />

Até onde vai a intervenção<br />

estatal nos EUA na crise?<br />

Obviamente que a saída de dinheiro dos<br />

cofres públicos para conter a sangria do<br />

mercado deve continuar<br />

A recessão norte-americana<br />

está provocando um colapso<br />

financeiro como nunca se viu.<br />

De um lado, instituições financeiras<br />

seculares estão vindo abaixo,<br />

como ocorreu recentemente<br />

com o Lehman Brothers, o quarto<br />

maior banco de investimentos<br />

dos Estados Unidos que foi fundado<br />

em 1850 e registrou dívidas<br />

de mais de 600 bilhões de dólares.<br />

Por outro lado, existe um<br />

esforço colossal dos bancos<br />

centrais em tapar os buracos<br />

provocados pela crise. O país<br />

mais afetado, os<br />

Estados Unidos,<br />

é também o<br />

que mais tem<br />

colocado bilhões<br />

no mercado<br />

para salvar<br />

bancos e instituições<br />

financeiras<br />

da crise.<br />

A crise evoluiu<br />

para um patamar<br />

onde somente<br />

emprestar<br />

dinheiro,<br />

mesmo com todas as facilidades<br />

oferecidas, não está mais contendo<br />

o avanço da crise. A medida<br />

adotada pelos Estados Unidos<br />

é de estatizar as instituições<br />

mais importantes e problemáticas.<br />

Estas ajudas do Tesouro norte-americano<br />

aos especuladores<br />

e banqueiros já provocaram uma<br />

transferência de mais de um trilhão<br />

de dólares. Este valor corresponde<br />

a quase 10% do PIB<br />

(Produto Interno Bruto) dos<br />

Estados Unidos. Significa que<br />

foram retirados dos cofres do<br />

governo um décimo de toda a riqueza<br />

produzida pelos norteamericanos<br />

para satisfazer os<br />

capitalistas internacionais.<br />

As instituições que mais deram<br />

dinheiro foram o Tesouro<br />

Nacional e Federal Reserve que<br />

é o que mais liberou verbas.<br />

Somente nas recentes transações<br />

das financiadoras de imóveis<br />

Fannie Mae e Freddie Mac,<br />

na compra do Bear Stearns pela<br />

J.P. Morgan e aquisição do AIG<br />

esta semana, o Federal Reserve<br />

desembolsou US$ 314 bilhões<br />

de dólares. Foram US$ 29 bilhões<br />

para a compra do Bear Stearns<br />

e US$ 85 bilhões da AIG.<br />

Para os especialistas econômicos<br />

a farra com o dinheiro<br />

público dos Estados Unidos<br />

deve continuar: “É difícil para<br />

governos pararem uma vez que<br />

começam [as operações resgate],<br />

principalmente se eles decidem<br />

que um orçamento equilibrado<br />

não é meta para os próximos<br />

anos” ( Folha de São Paulo,<br />

18/9/2008).<br />

Obviamente que a saída de<br />

dinheiro dos cofres públicos<br />

para conter a sangria do mercado<br />

deve continuar. Um sintoma<br />

disso é que as montadoras<br />

de automóveis já pediram<br />

ajuda de US$ 25 bilhões ao Fed.<br />

O que fica evidente com todas<br />

essas movimentações é o agravamento<br />

da crise que está mobilizando<br />

os bancos centrais<br />

dos maiores países do mundo.<br />

A contenção da crise por meio<br />

dessas estatizações do governo<br />

norte-americano é apenas um<br />

paliativo para uma situação econômica<br />

que está fugindo do<br />

controle e que vai adquirir contornos<br />

muito maiores nos próximos<br />

meses.<br />

EVITANDO MAIS UMA FALÊNCIA<br />

Estados Unidos paga US$ 85 bilhões<br />

para salvar seguradora AIG<br />

A crise financeira mundial,<br />

em especial nos Estados Unidos,<br />

está realmente profunda. Menos<br />

de dois dias após o pedido de<br />

concordata do quarto maior<br />

banco de investimentos dos<br />

Estados Unidos, o Lehman Brothers,<br />

outro gigante da economia<br />

norte-americana entrou em processo<br />

semelhante: a<br />

seguradora AIG<br />

(American International<br />

Group). Esta seguradora<br />

estava praticamente<br />

falida, precisava<br />

de, no mínimo,<br />

US$ 70 bilhões para<br />

continuar em pé. Somente<br />

nos três primeiros<br />

trimestres deste<br />

ano esta teve perdas de<br />

US$ 18,5 bilhões.<br />

Diante da recente<br />

falência do banco de<br />

investimentos Lehman<br />

Brothers que arrasou os<br />

mercados financeiros de todo o<br />

mundo e do fato de que a AIG<br />

é simplesmente a maior seguradora<br />

dos Estados Unidos, o governo<br />

norte-americano, por meio do<br />

Fed, (Federal Reserve), banco<br />

central dos Estados Unidos, adquiriu<br />

a seguradora por US$ 85 bilhões.<br />

A transação inclui este valor em<br />

ações que correspondem a 79,9%<br />

da seguradora, dando plenos<br />

poderes ao Fed de tomar decisões.<br />

Os outros 20,1% ficam a<br />

cargo de acionistas particulares<br />

que não terão praticamente nenhum<br />

poder de decisão.<br />

A compra ou mesmo estatização<br />

da seguradora AIG pelo Fed<br />

foi uma atitude bastante inesperada<br />

pelos analistas econômicos. O<br />

próprio Lehman Brothers foi<br />

abandonado pelo governo norteamericano<br />

e sucumbiu. O governo<br />

evitou a queda da AIG dias<br />

depois que o secretário do Tesouro,<br />

Henry Paulson, anunciou que<br />

os Estados Unidos não gastariam<br />

mais nenhum centavo com a crise,<br />

a exemplo do tinham feito com<br />

as financiadoras Freddie Mac e<br />

Fannie Mae uma semana antes.<br />

A medida “salva-vidas” do Fed<br />

com a AIG foi nitidamente para<br />

evitar uma derrocada internacional<br />

da crise financeira.<br />

O papel da seguradora AIG na<br />

atual crise é estratégico, pois<br />

vende seguros para grandes<br />

empresas que realizam megatransações<br />

financeiras. Com a crise do<br />

“subprime” (investimentos de alto<br />

Quem pagará para não ver a pior<br />

crise da história do capitalismo?<br />

A Agência das Nações Unidas<br />

para a Alimentação e Agricultura<br />

(FAO) divulgou um<br />

relatório afirmando que o número<br />

de pessoas que passam<br />

fome no mundo aumentou<br />

para 925 milhões em 2007.<br />

Devido ao aumento dos preços<br />

dos alimentos, que teve<br />

altas de até 50%, os países<br />

mais atrasados, principalmente<br />

na África, no Sudeste Asiático<br />

e na América Latina, ou<br />

seja, tradicionalmente em quase<br />

todos os países abaixo da<br />

linha do Equador, foram os<br />

mais atingidos pela crise, gerando<br />

revoltas e greves pelo<br />

mundo todo.<br />

A Organização das Nações<br />

Unidas sugeriu, como solução<br />

para acabar com a fome, a injeção<br />

de 30 bilhões de dólares<br />

por ano aos países necessitados.<br />

O que são 30 bilhões de dólares<br />

para os grandes capitalistas?<br />

A resposta é nada. Só na<br />

última quarta-feira (17), o Federal<br />

Reserve, o banco central<br />

A medida “salva-vidas” do Fed com a AIG<br />

foi nitidamente para evitar uma derrocada<br />

internacional da crise financeira<br />

norte-americano, autorizou<br />

um empréstimo de US$ 85<br />

bilhões para salvar uma única<br />

seguradora preste a falir, a AIG<br />

(American International<br />

Group). Enquanto os capitalistas<br />

estão preocupados em salvar<br />

seus investimentos bilionários,<br />

ao menos um sexto do<br />

mundo passa fome, segundo a<br />

ONU, que é uma instituição<br />

controlada por estes mesmos<br />

capitalistas. Na realidade, o<br />

número é expressivamente<br />

maior.<br />

O problema da fome não é<br />

a alta dos alimentos, mas a acumulação<br />

do capital. Os capitalistas<br />

estão revelando toda a<br />

sua riqueza para salvar seus<br />

bancos.<br />

A crise hipotecária norteamericana<br />

que estourou no ano<br />

passado causou um prejuízo<br />

nas bolsas da América Latina<br />

e dos EUA de nada menos que<br />

US$ 3,56 trilhões, segundo um<br />

levantamento feito pela Economática,<br />

que usou os dados de<br />

1.991 empresas com capital<br />

aberto. O valor<br />

de mercado<br />

destas empresas<br />

despencou<br />

19%, de US$<br />

18,32 trilhões<br />

para US$ 14,76<br />

trilhões.<br />

O governo<br />

Bush colocou<br />

meio trilhão de<br />

dólares só para<br />

“tranqüilizar” a<br />

crise financeira<br />

mundial, o que<br />

não adiantou<br />

nada.<br />

Se antes ninguém<br />

gostava<br />

de falar em recessão<br />

norteamericana<br />

- o<br />

que ninguém<br />

mais tem a cara<br />

de pau de desmentir<br />

- ainda<br />

há aqueles que<br />

torcem o nariz<br />

para uma recessão<br />

mundial. Já<br />

risco do setor imobiliário), a AIG<br />

que tem assegurado as transações<br />

de milhões de clientes particulares,<br />

bancos e outras instituições<br />

financeiras estava evitando as<br />

perdas destas instituições. Caso<br />

ela viesse à falência total, o número<br />

de empresas que iriam sucumbir<br />

juntamente com a seguradora<br />

seria incomensurável, ou seja, a<br />

queda da AIG seria o estopim para<br />

uma quebradeira geral em grande<br />

escala, não somente nos Estados<br />

Unidos, mas também no mundo<br />

todo. A AIG possui diversas<br />

filiais em outros países. Os números<br />

da seguradora são impressionantes.<br />

São 74 milhões de clientes<br />

em 130 países, a maioria norte-americanos.<br />

Possuía até o ano<br />

passado, 116.000 funcionários.<br />

Estima-se que a exposição da AIG,<br />

aos créditos imobiliários de risco<br />

cheguem a US$ 441 bilhões.<br />

Segundo o Washington Post,<br />

a medida do Fed foi o limiar entre<br />

a catástrofe local nos Estados Unidos<br />

e a catástrofe internacional.<br />

O jornal disse que “o governo<br />

[norte-americano] assumiu o<br />

controle do gigante dos seguros<br />

para evitar a quebra do sistema financeiro<br />

mundial”. Não é por<br />

acaso que estão comparando a<br />

atual crise com a o crack da bolsa<br />

de Nova Iorque em 1929.<br />

estamos nela. Mais ainda. Estamos<br />

iniciando provavelmente<br />

a pior crise que o capitalismo<br />

já viu em toda sua história.<br />

O que são 30 bilhões de dólares para os<br />

grandes capitalistas? A resposta é nada<br />

NOTAS<br />

Bush anuncia<br />

“medidas sem<br />

precedentes para<br />

conter crise sem<br />

precedentes”<br />

O presidente dos Estados<br />

Unidos, George W. Bush, falou<br />

em rede nacional, no último<br />

dia 19, visando acalmar os<br />

investidores e conter as desastrosas<br />

quedas da bolsa de<br />

valores dos últimos dias. Em<br />

seu pronunciamento, Bush defendeu<br />

a intervenção estatal<br />

nas bolsas, que, segundo os<br />

analistas do governo, “não só<br />

é justificada, é essencial” para<br />

se evitar maiores perdas para<br />

a economia norte-americana.<br />

“Devemos agir agora para<br />

proteger a saúde econômica de<br />

nossa nação”, enfatizou, afirmando<br />

ainda a necessidade da<br />

união do partido Democrata e<br />

Republicano para que a crise<br />

seja resolvida o quanto antes.<br />

“Agora não é o momento para<br />

posições partidárias”, observou<br />

ele.<br />

W. Bush fez seu pronunciamento<br />

menos de uma hora<br />

após Henry Paulson, o secretário<br />

do tesouro, dar explicações<br />

gerais sobre o pacote de<br />

medidas que será implementado<br />

pelo governo, que inclui a<br />

medida de intervenção governamental<br />

no andamento dos<br />

mercados imobiliários.<br />

Um dos destaques de seu<br />

discurso foi o apelo ao Congresso<br />

para aprovar “o quanto<br />

antes” o pacote que está sendo<br />

elaborado, e deverá ser<br />

apresentado oficialmente no<br />

início da próxima semana, e<br />

acrescentou ainda que os congressistas<br />

não atrasassem as<br />

medidas e não incluíssem<br />

“cláusulas polêmicas” ao pacote.<br />

A intenção deste pronunciamento<br />

visava dar segurança e<br />

acalmar os ânimos dos investidores<br />

que estavam à beira da<br />

histeria com o anúncio da estatização<br />

da gigante das seguradoras<br />

internacionais AIG e a<br />

quebra colosso norte-americano,<br />

o banco centenário Lehman<br />

Brothers, quando a bolsa de valores<br />

teve quedas recordes,<br />

chegando a atingir 30 pontos<br />

negativos em Moscou.<br />

Bush ressaltou ainda que a<br />

atual crise econômica não tem<br />

precedentes na história da<br />

economia norte-americana,<br />

superando já a histórica quebra<br />

da bolsa de Nova Iorque<br />

em 1929.<br />

“A confiança no sistema financeiro<br />

é essencial para que<br />

a economia funcione sem problemas<br />

e recentemente essa<br />

confiança foi abalada”, concluiu.<br />

Banco HBOS, um<br />

dos maiores do<br />

Reino Unido, perde<br />

40% de suas ações<br />

O maior banco hipotecário<br />

do Reino Unido, o Halifax<br />

Bank of Scotland (HBOS), viu<br />

suas ações caírem só nesta<br />

quarta-feira (17) 40% na Bolsa<br />

de Londres, diante da crise<br />

econômica colossal que devasta<br />

os bancos norte-americanos<br />

e europeus.<br />

“Os títulos do HBOS caíam,<br />

por volta das 8h12 (local)<br />

desta quarta, 37,91%, para<br />

1,13 libra esterlina, apesar de<br />

registrar uma alta de 7% no<br />

começo da sessão” (EFE, 17/<br />

9/2008).<br />

O banco pretende se salvar<br />

com o refinanciamento de 100<br />

bilhões de libras (cerca de<br />

125 bilhões de euros) nos próximos<br />

meses, mas teme que<br />

seja impossível conseguir este<br />

fundo devido à crise do mercado.<br />

Outros bancos em Londres<br />

também estão com suas ações<br />

desabando na Bolsa após a falência<br />

do Lehman Brothers no<br />

início da semana.<br />

Ford anuncia corte de<br />

4.200 funcionários<br />

nos EUA<br />

A crise é geral e já vinha<br />

atingindo a indústria norteanericana.<br />

A Ford anunciou já<br />

no dia 11 que planeja demitir<br />

cerca de 4.200 funcionários.<br />

A crise financeira, ao invés<br />

de amenizar, mas se aprofundando,<br />

vai despertar os operários<br />

para intervirem na situação<br />

atual.<br />

Ainda para tentar economizar<br />

à custa das demissões dos<br />

trabalhadores, a empresa fará<br />

dispensas temporárias e está<br />

oferecendo pacotes prévios de<br />

aposentadoria nas operações<br />

de manufatura em Ohio, Michigan,<br />

Kentucky e Indiana.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 9<br />

PRIVATIZAÇÃO PELOS FLANCOS<br />

A farsa da incapacidade de produção<br />

para entregar o Petróleo nacional<br />

A Petrobrás, que já possui 70% do seu capital privado,<br />

alugará 10 plataformas de empresas privadas para<br />

explorar o petróleo na camada pré-sal<br />

A Petrobrás anunciou na semana<br />

passada um convênio privado<br />

na instalação de duas das primeiras<br />

10 plataformas de exploração<br />

do petróleo da camada pré-sal, ou<br />

seja, a grandes profundidades.<br />

Elas serão instaladas nos próximos<br />

anos no território das novas bacias<br />

que foram descobertas. As<br />

FPSO são plataformas para o mar,<br />

que extraem, estocam e escoam<br />

petróleo para as refinarias.<br />

Um outro acordo já havia sido<br />

fechado no dia 26 de agosto com<br />

a empresa japonesa Mitsui Ocean<br />

Development e Engineering Co.<br />

(Modec), prevendo a manutenção<br />

por 15 anos de duas outras plataformas.<br />

No mesmo dia, a Petrobrás deu<br />

uma declaração sobre os altos<br />

custos para extrair petróleo da<br />

camada pré-sal. O presidente da<br />

Petrobrás, José Sérgio Gabrielli,<br />

em discurso na segunda-feira<br />

(15), em seminário no Rio de Janeiro,<br />

em nome da empresa disse<br />

que ainda não se pode calcular os<br />

gastos na área pré-sal, apenas dizendo<br />

que cada módulo produtivo<br />

para extrair 150 mil barris diários,<br />

custa de US$ 5 bilhões a US$<br />

8 bilhões.<br />

Segundo estes números, se<br />

vendidos a US$ 100 cada barril,<br />

estimando-se outros gastos de<br />

transporte e refino, em um ano<br />

obteria-se um lucro de US$ 5,4<br />

bilhões, ou seja, fica mais que<br />

claro que a empresa teria toda a<br />

capacidade para não privatizar<br />

seus equipamentos e em um espaço<br />

curto de tempo produzir, isto<br />

sem contar qualquer investimento<br />

estatal.<br />

A empresa, apenas no primeiro<br />

semestre deste ano, já obteve lucros<br />

de R$ 15,7 bilhões.<br />

No entanto, o governo alardeia<br />

a incapacidade de cobrir os gastos,<br />

uma completa farsa já que o<br />

acordo que está sendo fechado é<br />

que só depois de 2020 a Petrobrás<br />

retrocederia no aluguel de plataformas<br />

das empresas privadas.<br />

Também há um plano para que<br />

plataformas nacionais só sejam<br />

instaladas apenas em 2015 e a Petrobrás<br />

abrirá ainda licitação para<br />

contratar as empresas que farão<br />

os cascos. A empresa vem até<br />

agora se baseando em uma estimativa<br />

de gastos na base de US$<br />

112,4 bilhões para o período entre<br />

2008 e 2012, ainda não incluindo<br />

os gastos na exploração do<br />

pré-sal, que continuam secretos.<br />

Isso ocorre em um momento<br />

em que o petróleo brasileiro - cujas<br />

reservas da Petrobrás são hoje<br />

de 11,7 bilhões de barris no présal<br />

já descoberto - tem estimativas<br />

de somar a estes mais outros<br />

12 bilhões de barris, nas bacias de<br />

Tupi e Iara. Estudiosos calculam<br />

que de 100 a 350 bilhões de barris<br />

possam estar concentrados nas<br />

bacias que não foram todas analisadas.<br />

A reserva de Iara, que possui,<br />

segundo a Petrobrás de 3 a 4 bilhões<br />

de barris já foi privatizada em<br />

2000 por empresas portuguesas<br />

e britânicas, permanecerão sob o<br />

poder destas mesmo depois de<br />

uma revisão da capacidade da<br />

área.<br />

A privatização, seja do equipamento,<br />

seja da produção, é a privatização<br />

pura e simples do petróleo<br />

nacional. Enquanto isso, Lula<br />

calou-se sobre as novas leis de<br />

extração do Petróleo e sobre a<br />

criação de uma nova empresa<br />

100% estatal, depois de admitir<br />

pessoalmente que 62% das ações<br />

da Petrobrás estão nas bolsas de<br />

Nova Iorque.<br />

Este havia feito a declaração,<br />

cinicamente, de que não poderia<br />

privatizar a produção do pré-sal,<br />

admitindo ineditamente que a Petrobrás<br />

está em sua maior parte<br />

privatizada. “Se vocês não sabem<br />

62% dos dividendos de todo o<br />

investimento, de toda a renda da<br />

Petrobrás, são pagos na bolsa de<br />

Nova Iorque. Nós não poderemos<br />

com o pré-sal, ficar na<br />

mesma proporção, de ficar rico<br />

quem está rico, e de ficar pobre<br />

quem está pobre” (O Estado de<br />

S. Paulo, 4 de setembro de 2008).<br />

Fica claro o jogo cínico do<br />

governo que está fazendo o oposto<br />

do que este mesmo havia anunciado,<br />

no início de setembro. Em<br />

uma declaração ao jornal Gazeta<br />

Mercantil este havia dito que “Não<br />

adianta a Petrobrás economizar<br />

US$ 100 milhões contratando<br />

estaleiros de Cingapura, porque<br />

esta é uma decisão empresarial de<br />

quem tem ações na Bolsa de Nova<br />

Iorque”.<br />

Lula discursou para fazer o<br />

exato oposto do que diz, contra o<br />

País e a população que está em<br />

maioria na miséria.<br />

Privatização pelos<br />

flancos<br />

Há uma clara privatização pelos<br />

flancos das novas bacias, a começar<br />

por acordos nos leilões de<br />

empresas estrangeiras que se encontram<br />

na área e também pela<br />

privatização dos equipamentos, a<br />

pretexto de incapacidade para<br />

produzir petróleo.<br />

A operação para privatizar as<br />

bacias pré-sal é apenas a seqüência<br />

da política dos governos Lula<br />

e FHC que realizaram a maior<br />

privatização da história, na orgia<br />

das rodadas de leilão das bacias<br />

petrolíferas.<br />

A Petrobrás, que possui a maior<br />

parte de seu capital privatizado,<br />

sendo uma parte de ações do<br />

BNDES e outra de empresas privadas<br />

internacionais e nacionais<br />

estão sob poder dos especuladores<br />

estrangeiros.<br />

Somente a estatização total da<br />

Petrobrás, que só pode ser obra<br />

dos próprios trabalhadores e da<br />

pressão contra os governos entreguistas<br />

pode fazer com que a<br />

imensa riqueza seja repassada<br />

para a população e suas necessidades<br />

básicas e não para engordar<br />

os banqueiros internacionais<br />

que mandam na Petrobrás e também<br />

as empresas 100% estrangeiras,<br />

que configuraria um roubo<br />

que superaria todas as atividades<br />

de rapina que o País sofreu desde<br />

a colonização européia.<br />

A MENTIRA DA NOVA ESTATAL<br />

Lula defende novamente<br />

a manutenção da<br />

entrega do petróleo<br />

Nas últimas declarações do<br />

governo fica claro que este<br />

enterrou de vez a proposta de<br />

criação de uma nova estatal<br />

do petróleo completamente<br />

nacional, para monopolizar a<br />

exploração do petróleo das bacias<br />

pré-sal.<br />

Na terça-feira Lula já havia<br />

declarado que não irá adotar,<br />

como havia dito antes, o modelo<br />

norueguês para a nova<br />

estatal na área pré-sal, no qual<br />

é cobrado um imposto de<br />

cerca de 78% das empresas<br />

que exploram petróleo.<br />

“Estrangeiras pagam 78%<br />

de impostos e não reclamam.<br />

No Brasil, é preciso ter noção<br />

clara para não mudar as regras<br />

do jogo”, afirmou o presidente<br />

em rápida entrevista<br />

no Itamaraty (Revista Exame,<br />

16/9/2008).<br />

Claramente sob pressão<br />

das empresas internacionais,<br />

Lula já negociou a manutenção<br />

de todas as taxas de exploração.<br />

Este ainda reforçou<br />

que a nova estatal não irá de<br />

forma alguma substituir a Petrobrás<br />

como exploradora de<br />

Petróleo. Ao contrário, será<br />

uma subsidiária desta, que<br />

hoje tem 70% de seu capital<br />

privado.<br />

“Quando falamos em empresa<br />

estatal, nós não queremos<br />

criar uma outra Petrobras.<br />

Na verdade, é outra<br />

coisa, parecida com o que<br />

acontece na Noruega. É um<br />

fundo, uma pequena empresa,<br />

que na Noruega deve ter 60<br />

funcionários, que é o Estado<br />

cuidando do petróleo”, disse,<br />

em entrevista na quarta-feira<br />

pela TV Brasil.<br />

“Uma das hipóteses é utilizar<br />

parte do petróleo para aumentar<br />

o capital da União na<br />

Petrobras” (Folha de S. Paulo,<br />

18/9/2008).<br />

Fica mais claro que Lula<br />

apenas levantou a criação de<br />

um nova estatal para impulsionar<br />

o mercado especulativo<br />

em torno do petróleo e em<br />

nenhum momento, mesmo<br />

sob pressão de um setor nacional<br />

em torno do problema,<br />

estatizar o petróleo. Ao contrário,<br />

já foi anunciada esta semana<br />

pela presidência da Petrobrás<br />

indicada pelo governo<br />

a privatização dos equipamentos<br />

de exploração do Petróleo.<br />

Neste sentido a nova estatal<br />

não seria mais que uma<br />

agenciadora do pré-sal, uma<br />

empresa de fachada para o<br />

controle estrangeiro e privado<br />

nacional de uma imensa riqueza<br />

nacional. Toda a bacia descoberta<br />

pode, segundo especialistas,<br />

multiplicar por sete<br />

a produção de petróleo nacional<br />

e ainda em melhores condições<br />

já que o petróleo da área<br />

pré-sal tem extração mais<br />

barata.<br />

Toda esta riqueza deve ser<br />

imediatamente repassada para<br />

o povo brasileiro, por meio da<br />

estatização completa do petróleo<br />

nacional e da Petrobrás.<br />

NÃO À PRIVATIZAÇÃO<br />

Pela estatização da Petrobrás<br />

e cancelamento dos leilões<br />

A Petrobrás, que controla<br />

hoje uma imensa parcela da<br />

produção de Petróleo nacional,<br />

foi aberta ao capital estrangeiro<br />

nas duas últimas décadas por<br />

meio de uma privatização lenta<br />

e por meio da terceirização<br />

e da abertura de suas ações nas<br />

bolsas.<br />

Esta empresa sequer pode<br />

ser hoje considerada estatal já<br />

que a menor parte de suas<br />

ações são brasileiras e muito<br />

menos estatais.<br />

A Petrobrás hoje possui<br />

67,8% de seu capital privado,<br />

sendo que 40% de seu capital<br />

é estrangeiro e outros 27,8%<br />

pertencem ao BNDES, ou<br />

seja, estão ao sabor dos empresários<br />

nacionais.<br />

Segundo um documento do<br />

Centro Cultural Antônio Carlos<br />

de Carvalho, datado de<br />

agosto de 2006. “O Estado<br />

brasileiro possui apenas<br />

32,2% de seu capital total e<br />

55,7% de seu capital votante.<br />

Ou seja, manteve o controle da<br />

empresa, um controle aparente,<br />

mas não a maioria de seu<br />

capital. Com o agravante de<br />

que este “controle” (...) vem<br />

servindo apenas para aplicar e<br />

legitimar as necessidades e decisões<br />

do imperialismo e das<br />

classes dominantes brasileiras<br />

a ele associadas”.<br />

Em 1995 a Petrobrás contava<br />

com mais de 46 mil efetivos<br />

e 29 mil terceirizados, o que se<br />

inverteu em 1998 para mais de<br />

38 mil efetivos e 57 mil terceirizados<br />

em 1998<br />

Um estudo do CeCAC mostra<br />

que hoje “76,5% (mais de<br />

3/4) dos trabalhadores da Petrobras<br />

são terceirizados<br />

(155,3 mil terceirizados contra<br />

47,7 mil concursados, segundo<br />

o Balanço Social da empresa<br />

em 2005).<br />

O fato de a maior petrolífera<br />

brasileira estar nas mãos de<br />

acionistas estrangeiros é o<br />

meio pelo qual se privatiza de<br />

antemão as reservas das bacias<br />

que foram descobertas no<br />

Brasil.<br />

As bravatas do governo<br />

Lula sobre a criação de uma<br />

empresa 100% estatal, são<br />

apenas para esconder da população<br />

um processo lento de<br />

aprofundamento da privatização,<br />

que representa em longo<br />

prazo um roubo sem precedentes<br />

da riqueza nacional.<br />

Somente a estatização completa<br />

da empresa pode livrar o<br />

País da especulação capitalista<br />

internacional mais venal que<br />

é a do petróleo.<br />

Somente uma campanha em<br />

cada local de trabalho, especialmente<br />

dos setores da Petrobrás,<br />

e também uma campanha<br />

de esclarecimento á toda a população<br />

sobre o roubo do petróleo<br />

nacional, poderá fazer com<br />

que os vampiros da população<br />

brasileira sejam desfavorecidos<br />

nos enfrentamentos que se darão<br />

daqui em diante. É necessário<br />

preparar a classe trabalhadora,<br />

que é o setor que irá fundamentalmente<br />

ter capacidades<br />

para reverter o avanço imperialista<br />

sobre o petróleo. É necessária<br />

igualmente uma campanha<br />

desde já pelo cancelamento<br />

da doação das bacias<br />

petrolíferas descobertas e também<br />

para reverter todo o criminoso<br />

processo de privatização<br />

da economia nacional.<br />

Um episódio que foi apurado<br />

no qual um avião da Gol<br />

quase colidiu com um jato da<br />

FAB (Força Aérea Brasileira)<br />

em junho deste ano, na Amazônia,<br />

está sendo atribuído aos<br />

controladores de vôo, e não ao<br />

sucateamento do setor provocado<br />

pelos militares.<br />

O chefe do Centro de Investigação<br />

e Prevenção de Acidentes<br />

Aeronáuticos (Cenipa),<br />

brigadeiro Jorge Kersul Filho,<br />

divulgou na segunda-feira (15),<br />

uma acusação do órgão controlado<br />

pelos militares de que um<br />

incidente que quase provocou<br />

a colisão entre um avião da Gol<br />

com um da Força Aérea Brasileira<br />

em junho deste ano, foi<br />

provocado por falha humana.<br />

Esta falha seria dos controladores<br />

de vôo. As acusações ocorrem<br />

em um momento em que<br />

há uma ação penal movida há<br />

dois meses pela federação de<br />

controladores de vôo contra o<br />

comando da Aeronáutica no<br />

Supremo Tribunal Federal<br />

(STF). A declaração seria com<br />

o objetivo de juntar dados sobre<br />

erros humanos em vôos.<br />

ACIDENTE DA GOL<br />

Novamente a farsa de erro humano<br />

para defender as empresas aéreas<br />

No entanto, o próprio Cenipa<br />

vem registrando um aumento<br />

muito grande de acidentes e incidentes<br />

aéreos em todo o Brasil.<br />

No mesmo dia em que divulgou<br />

a “falha humana” dos controladores,<br />

esta também divulgou<br />

que no ano passado 97 aeronaves<br />

se envolveram em acidentes<br />

- 31 a mais que em 2006.<br />

De 1998 a 2007 foram registrados<br />

654 acidentes aéreos que<br />

<strong>causa</strong>ram a morte de 991 pessoas.<br />

Em 2006 e 2007, os anos com<br />

mais mortes por acidentes aéreos<br />

morreram 215 e 270 pessoas<br />

respectivamente.<br />

A Cenipa registrou nada menos<br />

que 66 acidentes aéreos de<br />

janeiro a agosto deste ano.<br />

Dados do próprio Cenipa<br />

mostram também que a perseguição<br />

incessante que foi feita aos<br />

trabalhadores de empresas aéreas,<br />

controladores de vôo e tripulantes,<br />

especialmente os que se<br />

insurgiram realizando uma greve<br />

geral no ano passado que paralisou<br />

todos os aeroportos do<br />

País, dos quais muitos foram<br />

expulsos do exército ou presos,<br />

fez com que estes parassem de<br />

denunciar a situação precária e<br />

falhas técnicas ou mesmo humanas<br />

dos vôos, com medo de<br />

represálias.<br />

O número de relatórios confidenciais<br />

para a segurança de<br />

vôo (RCSV) encaminhados por<br />

tripulantes à Aeronáutica e encaminhados<br />

ao Cenipa caiu de 90<br />

em 2007 para apenas 9 este ano.<br />

A situação limite em que os<br />

capitalistas aéreos e os militares<br />

colocaram os controladores de<br />

vôo e trabalhadores do setor fez<br />

com que se mantivesse um silêncio,<br />

mas uma latente situação<br />

de crise, que ameaça a população<br />

que utiliza os meios aéreos.<br />

Para esconder sua responsabilidade<br />

no caso aéreo, os governos<br />

culpam funcionários e<br />

trabalhadores que são constantemente<br />

ameaçados.<br />

Esta situação vem se tornando<br />

cada vez mais explosiva já<br />

que em nada se alterou a situação<br />

desde a greve dos controladores<br />

e os maiores acidentes<br />

aéreos da história do país entre<br />

o jato Legacy e o Boeing da Gol,<br />

em 2006, e a tragédia com o<br />

Airbus da TAM em 2007.<br />

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21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 10<br />

GOVERNO LULA E CASSOL MAIS ATAQUES DOS LATIFUNDIÁRIOS<br />

Camponeses são torturados e presos<br />

em União Bandeirantes, Rondônia<br />

No dia 9 de setembro 30 famílias localizadas no<br />

acampamento de Nova Conquista foram atacados<br />

violentamente por pistoleiros e 30 policiais Camponeses<br />

foram torturados diante de suas famílias por horas e foram<br />

presos<br />

No dia 9 de setembro, mais<br />

um ataque foi desferido pelos<br />

latifundiários e pelo governo<br />

do estado de Rondônia, Ivo<br />

Cassol contra os sem-terra.<br />

Cerca de 30 famílias de<br />

sem-terra do acampamento<br />

União Bandeirantes foram atacados<br />

por 30 policiais e jagunços<br />

que chegaram no acampamento<br />

atirando contra os semterra,<br />

depois que no dia 8 de<br />

setembro, segunda-feira, as<br />

famílias haviam retomado a<br />

área. Aos gritos de “vamos<br />

matar todos”, “bandidos” e<br />

“vagabundos”, a polícia obrigou<br />

os trabalhadores a sentar<br />

no chão, espancou-os e tirou<br />

fotos do rosto de cada um<br />

apontando armas para suas<br />

cabeças.<br />

Os policiais roubaram ferramentas,<br />

alimentos e outros<br />

pertences dos camponeses,<br />

como remédio e roupas.<br />

Quando não roubavam, jogavam<br />

os utensílios no chão e<br />

quebravam estes.<br />

Os policiais ameaçavam a<br />

RONDÔNIA<br />

Pela imediata libertação dos presos<br />

políticos da luta pela terra!<br />

todo o tempo de morte e um<br />

dos comandantes da operação,<br />

cabo Isaac, dizia que estava<br />

disposto a defender as terras<br />

para os fazendeiros mesmo<br />

ESTE É O GOVERNO LULA E DOS<br />

LATIFUNDIÁRIOS<br />

Camponês idoso é torturado,<br />

preso e mantido acorrentado<br />

pela polícia em hospital<br />

No dia 9 de setembro, a Polícia<br />

Militar despejou e torturou<br />

camponeses do Acampa-<br />

A polícia de Rondônia, a<br />

mando do governo do estado<br />

de Ivo Cassol atacou e prendeu<br />

sete trabalhadores semterra<br />

do acampamento Nova<br />

Conquista depois de uma série<br />

de torturas.<br />

Sete trabalhadores entre homens<br />

e mulheres foram levados<br />

para o cadeião de Urso<br />

Branco, simplesmente por defenderem<br />

uma terra para plantar<br />

e sustentar suas famílias.<br />

As terras da União foram<br />

griladas e são de interesse do<br />

maior latifundiário da região e<br />

um dos maiores de Rondônia,<br />

Sebastião Conti Neto, por<br />

meio de atividade de grilagem<br />

de Luiz Dipar.<br />

O governo de Ivo Cassol<br />

prendeu nos últimos anos dezenas<br />

de sem-terra e suas lideranças<br />

em Rondônia. Há casos<br />

de trabalhadores que foram<br />

presos sem quaisquer acusações,<br />

como Wenderson Francisco<br />

dos Santos, o “Russo”,<br />

que permaneceu por quatro<br />

anos preso, os últimos anos no<br />

presídio de Urso Branco em<br />

Porto Velho, onde sofreu todos<br />

os tipos de tortura, sem<br />

sequer ser julgado, tendo sido<br />

libertado há dois anos.<br />

Há uma ofensiva impulsionada<br />

pelos latifundiários nacionalmente<br />

para dissolver o<br />

movimento dos sem-terra, inclusive<br />

aqueles dirigidos por<br />

direções lulistas, que procuram<br />

ao máximo frear a luta dos trabalhadores.<br />

É o caso do MST<br />

no Rio Grande do Sul que vem<br />

Imagens do acampamento Nova Conquista, em União<br />

Bandeirantes, registradas em abril deste ano pela equipe do<br />

Causa Operária. Na imagem os sem-terra se encapuzam na<br />

chegada da polícia.<br />

mento Nova<br />

Conquista, em<br />

União Bandeirantes,<br />

Rondônia.<br />

Dez camponeses<br />

foram<br />

presos e torturados<br />

na sede da<br />

fazenda Mutum,<br />

um deles é<br />

Gerolino Nogueira<br />

de Souza,<br />

de 56 anos<br />

Depois de, no<br />

dia 9 de setembro,<br />

a Polícia<br />

Militar ter torturado<br />

e prendido camponeses<br />

em União Bandeirante, Rondônia,<br />

os trabalhadores continuam<br />

sendo torturados pela PM.<br />

Dez camponeses estão encarcerados<br />

no presídio de Urso<br />

Branco, o pior do estado.<br />

Gerolino Nogueira de Souza,<br />

de 56 anos de idade, depois<br />

de ter sido torturado por<br />

horas está sendo mantido<br />

preso a correntes no Hospital<br />

João Paulo II, em Porto<br />

Velho. Este ficou sete dias<br />

preso a uma cadeira sem receber<br />

tratamento médico suficiente,<br />

observado pela polícia<br />

e impedido de receber<br />

visitas. Depois disso, foi<br />

colocado em uma cama,<br />

acorrentado a esta e com<br />

chances de falecer, pois está<br />

com pneumonia, hepatite,<br />

erisipela e anemia profunda.<br />

Desde 2003 este já participava<br />

de ocupação de terra na<br />

região e já foi preso no cadeião<br />

de Urso Branco e sofreu vários<br />

atentados de jagunços<br />

pagos pelos latifundiários.<br />

O acampamento Nova Conquista,<br />

que recentemente se<br />

aliou à Liga dos Camponeses<br />

Pobres, tem sofrido ataques e<br />

Gerolino Nogueira de Souza, de 56 anos de<br />

idade, depois de ter sido torturado por horas<br />

está sendo mantido preso a correntes no<br />

Hospital João Paulo II, em Porto Velho.<br />

o companheiro identificado<br />

como uma das lideranças é um<br />

dos mais atacados.<br />

Durante a ação policial este<br />

foi espancado e humilhado,<br />

assim como os outros semterra,<br />

mulheres, crianças e<br />

homens. Foi chamado de “velho<br />

safado” e “vagabundo”<br />

pelos policiais.<br />

Este é o retrato do governo<br />

Lula, que assassina, tortura e<br />

ataca os sem-terra impunemente,<br />

impondo a sua própria<br />

lei no campo.<br />

O acampamento em União<br />

Bandeirantes foi atacado apenas<br />

dez dias antes de vencer<br />

na justiça uma ação de reintegração<br />

de posse, pela qual os<br />

latifundiários locais deveriam<br />

ser expulsos das terras, uma<br />

vez que nela é comprovada a<br />

grilagem das terras.<br />

Contra a “terra sem lei” dos<br />

latifundiários é necessário se<br />

fazer uma ampla campanha de<br />

denúncias contra os latifundiários<br />

de Rondônia e pela imediata<br />

punição aos assassinos<br />

dos sem-terra.<br />

sofrendo da justiça ameaças de<br />

dissolução do movimento e de<br />

sem-terra no Pará, que receberam<br />

imensas multas por promoverem<br />

ocupações da ferrovia<br />

da companhia Vale do Rio<br />

Doce.<br />

Há uma clara tentativa de<br />

dissolver o movimento semterra<br />

nacionalmente.<br />

Em Rondônia, onde os<br />

sem-terra romperam ligações<br />

com o MST e organizam de<br />

forma independente sua luta<br />

por meio de outras organizações,<br />

como a Liga dos Camponeses<br />

Pobres, estes são<br />

perseguidos dia-a-dia por jagunços<br />

armados e pela polícia.<br />

É imprescindível a defesa da<br />

liberdade de organização dos<br />

RONDÔNIA<br />

que fosse por meio de um<br />

massacre de camponeses.<br />

Os trabalhadores em seguida<br />

foram levados de camburão<br />

para a sede da fazenda e foram<br />

torturados na frente de suas famílias.<br />

Sete camponeses entre<br />

homens e mulheres foram presos<br />

e levados para o presídio<br />

de Urso Branco.<br />

Policiais de União Bandeirantes,<br />

Jaci-Paraná e Porto<br />

Velho participaram da operação<br />

enviada pelo governo do<br />

estado de Ivo Cassol.<br />

As famílias de União Bandeirantes<br />

já foram expulsas<br />

cinco vezes de suas terras, em<br />

uma área que é da União e que<br />

foi repassada para os latifundiários<br />

por grilagem.<br />

Mesmo assim, a justiça decidiu<br />

e favor dos latifundiários.<br />

Há cerca de dois meses, um<br />

sem-terra já havia sido atacado<br />

por policiais e baleado teve<br />

de ser levado para a UTI. Dois<br />

camponeses que participavam<br />

das ocupações há alguns anos<br />

permanecem presos no presídio<br />

de Urso Branco.<br />

É preciso denunciar amplamente<br />

os latifundiários e os<br />

governos estaduais e federal,<br />

de Cassol e de Lula que apóiam<br />

os massacres de sem-terra<br />

e que tratam como bandidos<br />

e marginais as famílias que<br />

lutam pela terra não apenas em<br />

Rondônia e vários outros estados<br />

do País.<br />

Fazemos um chamado às<br />

organizações <strong>operária</strong>s e populares,<br />

sindicatos e a população<br />

em geral a denunciar e repudiar<br />

mais estes ataques aos<br />

sem-terra de Rondônia e a impunidade<br />

dos torturadores e<br />

assassinos dos sem-terra que<br />

agem a mando dos latifundiários<br />

e dos governos.<br />

Jovem sem-terra que abortou<br />

é presa e impedida de receber<br />

tratamento e remédios<br />

Assim como os latifundiários<br />

torturam idosos e crianças<br />

estes também mandam torturar<br />

mulheres dos modos mais<br />

monstruosos.<br />

O governo Ivo Cassol comanda<br />

uma polícia militar assassina<br />

dos sem-terra e especializada<br />

em promover o linchamento<br />

dos trabalhadores.<br />

Deidiane de Jesus Silva, de<br />

20 anos, foi presa pela PM, a<br />

mando dos latifundiários e está<br />

presa também no Urso Branco,<br />

na ala feminina.<br />

Tendo sofrido um aborto, ela<br />

está sendo impedida de receber<br />

atendimento médico e remédios<br />

na prisão. A companheira<br />

sofre hemorragia interna.<br />

Tal aberração é comum nos<br />

estados da chamada Amazônia<br />

Legal, onde mulheres foram<br />

inclusive encontradas em prisões<br />

com homens, obrigadas<br />

a se prostituir, como no estado<br />

do Pará, governado pelo<br />

PT.<br />

Também na “Amazônia Legal”,<br />

no estado de Mato Grosso<br />

do Sul, comandado pelo latifundiário<br />

da soja Blairo Maggi,<br />

hoje 10 mil mulheres são<br />

ameaçadas de prisão por supostamente<br />

terem realizado<br />

aborto. A justiça junto à Igreja<br />

Católica teve acesso a uma lista<br />

de mulheres que abortaram em<br />

clínicas clandestinas, o que é<br />

resultado da falta de atendimento<br />

público para o aborto,<br />

e agora querem mandar estas<br />

para a prisão.<br />

Os estados governados pelos<br />

interesses dos latifundiários<br />

são terras onde se impõe<br />

pela força a lei do latifúndio, e<br />

no caso das mulheres esta violência<br />

é ainda mais brutal.<br />

Isto é resultado da imposição<br />

de um regime ultrapassado,<br />

pré-capitalista, de miséria,<br />

que ocorre graças à expropriação<br />

que a especulação e o monopólio<br />

da terra impuseram à<br />

população, por isso também<br />

impedida de ter acesso ao<br />

mínimo desenvolvimento estrutural.<br />

O atraso jurídico e<br />

político do estado faz com que<br />

isto recaia principalmente nas<br />

mulheres.<br />

O governo Ivo Cassol comanda uma polícia militar<br />

assassina dos sem-terra e especializada em promover o<br />

linchamento dos trabalhadores.<br />

sem-terra para defender o direito<br />

de organização da classe<br />

trabalhadora de conjunto.<br />

Exigimos a imediata libertação<br />

dos trabalhadores sem-terra<br />

e a libertação de todos os<br />

presos da luta pela terra pelo<br />

governo Ivo Cassol, madeireiro<br />

e latifundiário de Rondônia<br />

e do governo Lula em todo o<br />

País.<br />

Pela libertação imediata dos<br />

sete camponeses do acampamento<br />

Nova Conquista!<br />

Pela libertação de todos os<br />

presos da Luta pela terra em<br />

Rondônia e em todo o País!<br />

Pelo fim do latifúndio! Terra<br />

para quem nela trabalha!<br />

Pela Reforma Agrária já,<br />

com expropriação do latifúndio<br />

sem indenização!<br />

RONDÔNIA<br />

Punição aos assassinos<br />

dos sem-terra!<br />

Nota da Liga dos Camponeses<br />

Pobres de Rondônia<br />

Leia aqui nota da Liga dos Camponeses Pobres de<br />

Rondônia sobre o massacre em União Bandeirantes<br />

no último dia 9, no qual sete sem-terra foram presos<br />

e 30 famílias sofreram violência policial<br />

No dia 9 de setembro de<br />

2008 por volta das 14:30 hs as<br />

mais de 30 famílias do acampamento<br />

Nova Conquista (Fazenda<br />

Mutum) em União Bandeirantes<br />

foram violentamente<br />

atacadas por policiais e bandos<br />

de pistoleiros. Cerca de 30<br />

policiais militares de União<br />

Bandeirantes, Jaci-Paraná e<br />

Porto Velho, chegaram ao<br />

acampamento disparando tiros<br />

contra os acampados. As<br />

famílias haviam retomado a<br />

área na madrugada de segunda-feira,<br />

dia 8 de setembro.<br />

Durante a operação os policiais<br />

gritavam que estavam<br />

dispostos a matar, pois ali todos<br />

eram vagabundos.<br />

Os camponeses foram<br />

rendidos, obrigados a sentar<br />

no chão com armas apontadas<br />

para a cabeça. Um dos<br />

policiais começou a tirar fotos<br />

de todos e os que resistiam<br />

eram espancados com<br />

tapas no ouvido e empurrões.<br />

Um dos acampados perguntou<br />

aos policiais se tinham<br />

ordens para agirem daquela<br />

forma, e eles responderam<br />

que “faziam do jeito deles e<br />

que todos que estavam ali<br />

eram bandidos”, disseram<br />

que o governo do estado estava<br />

pagando para que vigiassem<br />

aquela fazenda.<br />

Temos informações de que<br />

o latifundiário Luiz da Dipar<br />

(Luiz Carlos Garcia) e o chefe<br />

de pistolagem Odailton Martins<br />

passaram aproximadamente<br />

450 alqueires de terras<br />

para o sargento da polícia<br />

militar de Jaci-Paraná para<br />

que retirasse os camponeses<br />

da área. Uma das provas que<br />

atestam isso é que o cabo PM<br />

Isaac, vulgo “Manchinha”,<br />

também de Jaci-Paraná, falou<br />

que estava disposto a fazer um<br />

massacre para defender o fazendeiro.<br />

Os policiais não satisfeitos<br />

em humilhar e espancar homens<br />

e mulheres, tomaram<br />

foices, facões, enxadas, cavadeiras,<br />

entraram nos barracos<br />

despejando as roupas no chão,<br />

chutando os pertences, lançando<br />

alimentos ao chão e quebrando<br />

utensílios de cozinha.<br />

Chamavam os camponeses de<br />

porcos. Roubaram ainda remédios,<br />

livros, roupas, receitas,<br />

bolsas, máquina fotográfica,<br />

uma moto, um moto-serra<br />

e até bíblia.<br />

Os camponeses foram bastante<br />

humilhados com palavrões,<br />

principalmente após terem<br />

sido levados algemados ao<br />

camburão, policiais ameaçavam<br />

o tempo todo dizendo que<br />

eles iriam para o inferno. Ao<br />

todo foram presos sete companheiros<br />

e três companheiras.<br />

Um dos camponeses que<br />

resistiu às humilhações foi<br />

agredido, caiu de cara no chão<br />

ficando com a boca e o nariz<br />

sangrando.<br />

O governo de Ivo Cassol e<br />

os ruralistas realizaram nos últimos<br />

anos uma série de ataques<br />

aos sem-terra de Rondônia, que<br />

contou com a colaboração da<br />

imprensa mais reacionária<br />

como a revista Istoé, que para<br />

justificar o assassinato de trabalhadores,<br />

os acusou de comandar<br />

uma guerrilha e aterrorizar<br />

a população.<br />

Estes acusavam principalmente<br />

a Liga dos Camponeses<br />

Pobres, organização dos camponeses<br />

que vem sendo acusada<br />

de organizar uma narcoguerrilha<br />

no estado em conjunto<br />

com as FARC (Forças Armadas<br />

Revolucionárias da Colômbia).<br />

A matéria, que foi lançada<br />

nacionalmente, incentivou diversos<br />

ataques aos acampamentos<br />

nos meses de abril e maio.<br />

No dia 9 de abril, cerca de<br />

300 camponeses foram atacados<br />

em Campo Novo, Jacinópolis.<br />

30 desapareceram e três<br />

foram encontrados mortos depois<br />

do ataque de dezenas de<br />

jagunços.<br />

No dia 30 de abril, os semterra<br />

sofreram mais um ataque<br />

no qual um vereador ligado aos<br />

sem-terra de Jacinópolis foi assassinado<br />

em uma emboscada.<br />

No mês de março, o companheiro<br />

Bentão, um dos fundadores<br />

da Liga dos Camponeses<br />

Pobres foi assassinado em uma<br />

emboscada em Jacinópolis. Outra<br />

liderança dos camponeses,<br />

assim como Bigodinho, que foi<br />

assassinado na mesma região.<br />

O maior massacre que ocorreu<br />

no estado, sob o governo de<br />

Valdir Raupp (PMDB) - hoje liderança<br />

do PMDB e um dos<br />

maiores aliados de Lula no Senado<br />

- em 1995 continua completamente<br />

impune. Cerca de 50<br />

trabalhadores sem-terra foram<br />

mortos no acampamento de<br />

Santa Elina, em Corumbiara,<br />

norte do estado, naquela época,<br />

depois de serem torturados durante<br />

horas.<br />

Depois de 13 anos os semterra<br />

reocuparam a área de Santa<br />

Elina e estão sendo cotidianamente<br />

ameaçados de despejo e<br />

de morte.<br />

Todos os crimes dos latifundiários<br />

continuam completamente<br />

impunes em Rondônia.<br />

Somente uma luta conjunta,<br />

uma ampla denúncia e uma campanha<br />

pela punição dos assassinos<br />

dos sem-terra, dos latifundiários<br />

e do governo de Ivo<br />

Cassol poderão pressionar a<br />

justiça burguesa pela punição de<br />

policiais, fazendeiros e jagunços.<br />

- Pela imediata punição aos<br />

assassinos dos sem-terra!<br />

Após terem realizado a ação<br />

truculenta, os policiais levaram<br />

os camponeses para a sede da<br />

fazenda Mutum onde foram<br />

torturados diante das companheiras<br />

por horas. Só depois<br />

(homens e mulheres) foram levados<br />

para Porto Velho no<br />

presídio Urso Branco.<br />

Os camponeses foram ilegal<br />

e covardemente atacados para<br />

que os policiais reintegrassem<br />

na posse do latifúndio o grileiro<br />

que reclamava a área. Uma<br />

decisão da justiça federal comprovou<br />

que a terra é pública, e<br />

que quem não poderia de forma<br />

nenhuma reclamar ou utilizar<br />

as terras era o latifundiário.<br />

A justiça federal deu imissão<br />

de posse para o Incra! Os<br />

camponeses foram atacados<br />

pelos guaxebas e pela polícia.<br />

Em nenhum momento as<br />

notícias divulgadas pela polícia<br />

e reproduzidas pelos jornais a<br />

serviço do latifúndio falam de<br />

ataques de pistoleiros e policiais<br />

ao acampamento.<br />

Sabemos que todas as mentiras<br />

divulgadas na imprensa<br />

foram arrancadas com tortura,<br />

e também sabemos que os camponeses<br />

presos estão sendo<br />

barbaramente torturados para<br />

que a polícia continue o seu<br />

“minucioso trabalho de inteligência”<br />

regado a choque elétrico<br />

e afogamentos.<br />

Será que os banqueiros ricos<br />

e corruptos, presos e depois<br />

soltos, que a grande imprensa<br />

reclamou “serem maltratados”<br />

pela polícia, foram atacados a<br />

tiro em suas casas a noite?<br />

No mais são as velhas e requentadas<br />

calúnias contra a<br />

Liga dos Camponeses Pobres<br />

de Rondônia, agora colocadas<br />

pela repressão na boca de uma<br />

inocente “mãe”. A verdade é<br />

que os policiais fizeram uma<br />

reintegração de posse ilegal e a<br />

noite, contra camponeses e<br />

camponesas sem defesa.<br />

A Liga dos Camponeses Pobres<br />

de Rondônia e a Comissão<br />

Nacional Coordenadora das Ligas<br />

de Camponeses Pobres<br />

conclamam a todos os verdadeiros<br />

democratas e apoiadores<br />

da luta camponesa a prontamente<br />

se manifestarem contra<br />

o absurdo da ação policial<br />

contra os camponeses de<br />

União Bandeirantes que lutam<br />

pela posse da fazenda Mutum<br />

há mais de 5 anos!<br />

Exigimos a verdade!<br />

Exigimos a libertação de todos<br />

os companheiros presos!<br />

Exigimos que se cumpra a<br />

decisão da justiça federal!<br />

Fora Luiz Carlos Garcia! A<br />

terra pública é para os camponeses!<br />

Abaixo a criminalização da<br />

luta camponesa!<br />

Comissão Nacional das Ligas<br />

dos Camponeses Pobres<br />

Liga dos Camponeses Pobres<br />

de Rondônia - LCP


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 11<br />

CORREIO QUER CENSURA DO PROGRAMA ELEITORAL DO <strong>PCO</strong> EM SÃO PAULO<br />

ECT perde na Justiça e não tem direito de<br />

resposta no programa eleitoral do <strong>PCO</strong><br />

A ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos –<br />

entrou na justiça com processo contra o programa<br />

eleitoral da companheira Anaí Caproni, em São Paulo<br />

No pedido, a empresa afirma<br />

ser uma calúnia as críticas feitas<br />

de que o salário médio na<br />

empresa seria de miseráveis R$<br />

800,00 e de que o banco de<br />

horas escraviza os trabalhadores<br />

grevistas com o aumento da<br />

jornada de trabalho. Além do<br />

pedido de direito de resposta, a<br />

ECT também requeria a instauração<br />

de medidas legais pelo Ministério<br />

Público contra a trabalhadora<br />

do Correio, Anaí Caproni,<br />

por infração do código de<br />

ética da empresa e por má-fé ao<br />

dizer que as negociações do<br />

PCCS (Plano de Cargos, Carreira<br />

e Salários, caminham para a<br />

retirada de direitos dos trabalhadores.<br />

A ECT alegava, cinicamente,<br />

que não é possível dizer que as<br />

negociações não vão chegar a<br />

bom termo antes do seu final,<br />

como se ninguém soubesse o<br />

golpe que está sendo preparado,<br />

com o apoio dos dirigentes sindicais<br />

do Bando dos Quatro<br />

(PT-PCdoB-PSTU-Psol).<br />

A justiça paulista não atendeu<br />

a nenhum pedido feito pela ECT<br />

com a seguinte sentença:<br />

“Com efeito não se verifica<br />

ofensa à honra da empresa e<br />

tampouco qualquer ridicularização<br />

ou degradação de sua imagem<br />

em razão das expressões<br />

utilizadas na propaganda veiculada.<br />

De fato as manifestações da<br />

candidata estão dentro da margem<br />

de direito de crítica à gestão<br />

exercida pela referida empresa<br />

e não podem ser interpretadam<br />

como calúnia, difamação<br />

ou injúria.<br />

As expressões atacadas enquadram-se<br />

perfeitamente<br />

como crítica à forma empregada,<br />

pela empresa, na gestão de<br />

recursos humanos e, assim, não<br />

podem ser tidas como ofensivas<br />

à imagem da suposta ofendida.<br />

Sobretudo porque o contexto da<br />

mensagem veiculada traduz a liberdade<br />

de expressão da ótica<br />

laborativa de uma de suas funcionárias.”<br />

A decisão da justiça contra a<br />

ECT mostra o nível da ditadura<br />

da empresa contra a categoria.<br />

O próprio tribunal, que sempre<br />

privilegia o governo e os poderosos,<br />

considerou totalmente<br />

impróprio o pedido de punição<br />

da companheira Anaí Caproni e<br />

a intervenção no programa eleitoral<br />

do <strong>PCO</strong> pela ECT.<br />

Além da ECT, o <strong>PCO</strong> sofreu<br />

mais 15 processos por suposto<br />

crime de calúnia, injúria e difamação,<br />

os quais foram abertos<br />

pela ex-prefeita de São Paulo<br />

Marta Suplicy e pelo atual prefeito<br />

Gilberto<br />

Kassab os<br />

quais tentam<br />

impedir a divulgação<br />

das<br />

informações<br />

sobre a política<br />

de privatização<br />

da saúde, da<br />

educação e do<br />

transporte na<br />

cidade.<br />

Todos os<br />

processos<br />

contra o <strong>PCO</strong><br />

foram julgados<br />

improcedentes<br />

em primeira<br />

instância,<br />

aguardando<br />

decisão definitiva<br />

em instância<br />

superior,<br />

uma vez que os<br />

candidatos do<br />

PT e do DEM<br />

entraram com<br />

recursos.<br />

Além do pedido de direito de resposta a ECT<br />

também requeria a instauração de medidas<br />

legais pelo Ministério Público contra a<br />

trabalhadora do Correio, Anaí Caproni.<br />

RIO GRANDE DO NORTE<br />

Mais 12 municípios terão<br />

tropas do Exército nas eleições<br />

Além das invasões do Exército<br />

nas favelas do Rio de Janeiro,<br />

onde até 10 mil homens do Exército<br />

estão de prontidão para atuar<br />

em 24 comunidades no próximo<br />

mês, que durarão de maneira<br />

inédita dois meses inteiros, outros<br />

seis estados requisitaram o Exército<br />

durante as eleições. Amazonas,<br />

Amapá, Pará, Rio de Janeiro,<br />

Tocantins, Rio Grande do<br />

Norte e Piauí<br />

Um total de 120 municípios<br />

teve a presença do Exército aprovada<br />

pelo TSE no País, mas este<br />

número pode ser ainda aumentado<br />

já que inúmeros municípios<br />

requisitam as tropas federais.<br />

A justiça eleitoral do Rio Grande<br />

do Norte aprovou na quartafeira<br />

(17) a ocupação do Exército<br />

em mais 12 municípios do estado.<br />

Outros 28 requisitam o<br />

Exército. Assim, 40<br />

municípios em todo<br />

o estado podem ter a<br />

presença do Exército<br />

aprovada agora<br />

por decisão do Tribunal<br />

Superior Eleitoral.<br />

Os pedidos foram<br />

feitos pelo presidente<br />

do TRE, desembargador<br />

Expedito<br />

Ferreira de Souza.<br />

O Piauí também é<br />

um dos estados que<br />

irá definir nos próximos<br />

dias a quantidade<br />

de cidades, com<br />

pedidos na justiça<br />

para ter intervenção<br />

do Exército.<br />

Até a última terçafeira,<br />

o Tribunal<br />

Regional Eleitoral (TRE) do Piauí<br />

deferiu 110 cidades para receberem<br />

tropas federais das quais<br />

cinco já foram aprovadas pelo<br />

TSE e o resto aguarda decisão.<br />

O secretário estadual de Segurança<br />

Pública, Robert Rios Magalhães,<br />

anunciou na segunda-feira<br />

Um total de 120 municípios teve a presença do Exército aprovada pelo TSE no<br />

País, mas este número pode ser ainda aumentado já que inúmeros municípios<br />

requisitam as tropas federais.<br />

(15), que antecipará o envio de<br />

dois mil homens para reforçar as<br />

eleições no dia 5 de outubro nas<br />

sete maiores cidades do Piauí:<br />

Teresina, Parnaíba, Piripiri, Campo<br />

Maior, Valença, Floriano e Piracuruca.<br />

Em todo o Piauí, além das tropas<br />

policiais, pelo menos<br />

550 homens do<br />

Exército participarão<br />

das operações.<br />

Outro estado que<br />

possui um grande número<br />

de municípios<br />

com presença do Exército<br />

aprovado é o Pará,<br />

com 80 cidades aprovadas.<br />

Este é o estado<br />

de um dos maiores<br />

conflitos agrários do<br />

País e onde, há cerca<br />

de um mês, na cidade<br />

de Viseu, a população<br />

queimou o cartório eleitoral<br />

e a delegacia para<br />

protestar contra a violência<br />

policial, fazendo<br />

com que juízes tivessem<br />

que fugir de helicóptero.<br />

O pedido de Exérci-<br />

to se dá em sua maioria dos estados<br />

do País de economia predominantemente<br />

rural, tipicamente<br />

dominados pelas oligarquias. Isto<br />

mostra uma imensa crise do regime<br />

político, da incapacidade da<br />

burguesia tradicional de dominar<br />

a população por meio das eleições.<br />

O Rio de Janeiro evidencia esta<br />

crise, que se expressa na tentativa<br />

de estabelecer um tipo de voto<br />

de cabresto devido claramente ao<br />

desinteresse popular em apoiar<br />

candidatos ligados às milícias,<br />

uma boa parte da bancada dos parlamentares<br />

e a apoiarem candidatos<br />

burgueses em geral. A desmoralização<br />

do regime é proporcional<br />

à crescente revolta da população<br />

das favelas, especialmente<br />

contra a repressão desenfreada da<br />

Polícia Militar.<br />

Já nos estados onde historicamente<br />

a burguesia adotava o voto<br />

de cabresto nas eleições, há um<br />

esgotamento do regime político<br />

que se desenvolve no sentido de<br />

uma falência geral e incapacidade<br />

de mostrar qualquer caráter<br />

democrático das eleições, graças<br />

à impopularidade dos partidos<br />

burgueses.<br />

SÃO PAULO CABIDE DE EMPREGO DA BURGUESIA<br />

Cargos da Câmara ganham duas<br />

vezes mais que o permitido por lei<br />

O cabide de emprego que se<br />

acumula nos governos burgueses<br />

anteriores em São Paulo,<br />

custa aos bolsos dos trabalhadores<br />

somente para pagar salários<br />

de vereadores e seus apadrinhados<br />

na Câmara, quase R$<br />

2 bilhões por ano<br />

Mesmo sendo estabelecido<br />

por lei que os funcionários da<br />

Câmara Municipal de São Paulo<br />

não devem receber atualmente<br />

mais que R$ 12.384,06, um<br />

balanço feito pelo Ministério<br />

Público mostrou que 23 servidores<br />

recebem acima de R$ 20<br />

mil mensais. Alguns deles receberam<br />

mais de R$ 30 mil por<br />

mês, como uma funcionária do<br />

departamento técnico-administrativo<br />

da Secretaria Geral Parlamentar,<br />

que recebeu R$<br />

31.084,07 em agosto.<br />

A Câmara Municipal gasta<br />

nada menos que R$ 163 milhões<br />

em salários de vereadores e seus<br />

funcionários de confiança por<br />

mês, um total de 2.000 pessoas.<br />

Isto representa um gasto<br />

somente na Câmara municipal<br />

de R$ 1,9 bilhão por ano para os<br />

bolsos dos trabalhadores que<br />

pagam impostos ao estado.<br />

A investigação, no entanto,<br />

acabou arquivada em maio passado.<br />

Questionado pelos promotores,<br />

o TCM (Tribunal de Contas<br />

do Município) garantiu que<br />

não havia qualquer irregularidade<br />

nos pagamentos dos salários.<br />

A investigação foi arquivada,<br />

pois o Tribunal de Contas do<br />

Município negou irregularidades<br />

alegando que os benefícios<br />

recebidos por funcionários de<br />

altos cargos são diferentes de<br />

salário e que estes não poderiam<br />

ser contabilizados no teto<br />

constitucional, hoje estabelecido<br />

no salário do prefeito.<br />

Enquanto para os trabalhadores<br />

municipais não há aumentos<br />

de salários, enquanto a saúde e<br />

a educação públicas são destruídas,<br />

os parlamentares, além de<br />

receberem bilhões, ainda ganham<br />

dos empresários e banqueiros<br />

para governar contra o<br />

povo, para investir em repressão.<br />

Além disto, como é conhecido<br />

por toda a população, os<br />

prefeitos lucram controlando os<br />

transportes e recebendo comissão<br />

dos empresários, enquanto<br />

aparece em sua folha de pagamento<br />

um salário fictício, completamente<br />

falso.<br />

Ao contrário de aumentar os<br />

salários dos corruptos, é necessário<br />

tirar destas verbas estabelecidas<br />

para investir no cabide<br />

de emprego criado pelos últimos<br />

governos e repassar a imensa<br />

parte aos trabalhadores e, além<br />

disto, cobrar impostos sobre os<br />

lucros de todos os empresários<br />

e banqueiros.<br />

Os “supersalários” dos parlamentares<br />

devem ser revertidos<br />

em um salário mínimo vital<br />

para os trabalhadores das prefeituras<br />

e do estado, como se<br />

prevê na Constituição para uma<br />

família de quatro pessoas, hoje<br />

avaliado em torno de R$<br />

2.200,00, suficiente para garantir<br />

vestimenta, alimentação,<br />

moradia, educação, transporte,<br />

entre outros.<br />

Isto só pode se dar por meio<br />

da mobilização da massa trabalhadora<br />

contra as prefeituras e<br />

uma campanha a partir dos sindicatos<br />

e organizações dos trabalhadores<br />

por um salário mínimo<br />

vital, contra o salário de<br />

fome hoje pago pelos prefeitos<br />

e pelos governos estaduais.<br />

Mais uma renúncia de um<br />

parlamentar mostra a crise política<br />

da burguesia.<br />

O presidente<br />

da Assembléia<br />

Legislativa de<br />

Alagoas, deputado<br />

Antonio Albuquerque,<br />

se retirou<br />

do cargo na<br />

quarta-feira (17)<br />

somente dois<br />

meses depois de<br />

ter sido indicado,<br />

por uma denúncia<br />

de desvio de quase<br />

R$ 300 milhões de verbas da<br />

Assembléia Legislativa. Este<br />

aceitou sua saída do cargo depois<br />

que os parlamentares de<br />

casa votaram por unanimidade<br />

sua saída.<br />

Não apenas isso, desde março,<br />

nove deputados dos 27 fo-<br />

CRISE POLÍTICA<br />

Cai presidente da Assembléia<br />

Legislativa de Alagoas<br />

ram afastados acusados de participar<br />

no desvio de verbas,<br />

sendo toda a<br />

mesa diretora da<br />

Assembléia Legislativa.<br />

Ele era o principal<br />

mentor do<br />

desvio de verbas<br />

para contas de<br />

servidores fantasmas<br />

e parentes,<br />

esquema<br />

pelo qual foram<br />

acusados 14 deputados<br />

estaduais<br />

e outros cem altos cargos<br />

do governo estadual.<br />

A renúncia em massa em<br />

mais uma Assembléia Legislativa<br />

mostra o aprofundamento da<br />

crise política nacional, que se<br />

desenvolve de maneira acelerada<br />

também nos rincões do País.<br />

ESQUERDA POLICIAL<br />

Psol homenageia delegado da<br />

Polícia Federal em Goiânia<br />

O vereador Elias Vaz<br />

(Psol) de Goiânia chamou no<br />

auditório da Câmara Municipal<br />

da cidade uma manifestação<br />

em favor do delegado<br />

acusado de na Operação Satiagraha,<br />

Protógenes Queiroz,<br />

ter promovido junto com<br />

a Abin (Agência Brasileira de<br />

Inteligência), órgão provindo<br />

da ditadura militar, centenas<br />

de grampos clandestinos.<br />

Este foi o responsável pela<br />

operação que prendeu por algumas<br />

horas o banqueiro Daniel<br />

Dantas.<br />

O Psol convocou estudantes<br />

universitários, parlamentares<br />

e promotores da justiça<br />

para o ato em homenagem<br />

ao delegado, que recebeu<br />

pessoalmente uma homenagem<br />

de Vaz, recebendo uma<br />

placa de “agente anticorrupção”.<br />

Em seu discurso o vereador<br />

do Psol declarou: “Se o<br />

senhor for derrotado, a sociedade<br />

brasileira terá sido derrotada<br />

também” (O Estado<br />

de S. Paulo, 11/9/2008).<br />

O delegado recebeu diversas<br />

homenagens no encontro<br />

promovido pelo Psol.<br />

“Não vamos deixar o Protógenes<br />

sozinho. Luiz Carlos<br />

Prestes fez a Coluna Prestes,<br />

que percorreu o Brasil contra<br />

a República Velha. Ganhou o<br />

título de Cavaleiro da Esperança<br />

(...) Você, Protógenes,<br />

é o delegado da esperança”,<br />

disse o promotor Fernando<br />

Krebs, da Defesa do Patrimônio<br />

Público, e professor universitário<br />

(Idem).<br />

Mais uma vez o Psol mostra<br />

que está atrelado ao Estado,<br />

inclusive aos seus órgãos<br />

repressores, neste caso a Polícia<br />

Federal, dominada por<br />

inúmeros interesses parlamentares,<br />

inclusive internacionais<br />

e responsável por inúmeros<br />

casos de repressão<br />

contra o povo.<br />

O Psol decididamente nestas<br />

eleições resolveu defender<br />

o Estado capitalista, desde<br />

seus órgãos mais reacionários.<br />

Este fez não esta somente,<br />

mas diversas homenagens<br />

à polícia, tanto à PM<br />

como à federal e até membros<br />

do BOPE.<br />

Como qualquer partido<br />

burguês, formado neste por<br />

parlamentares de carreira<br />

menores, este defende o programa<br />

fundamental para a<br />

burguesia e o Estado burguês,<br />

que é a manutenção da<br />

polícia, indo ainda além, pedindo<br />

reforço para a repressão<br />

contra a classe trabalhadora.<br />

Neste sentido, como nem<br />

a própria burguesia pode fazer<br />

elogios rasgados às impopulares<br />

Polícia Federal e Militar,<br />

o Psol adota o mesmo<br />

argumento dos governos assassinos<br />

do povo, como o<br />

governo Sérgio Cabral no<br />

Rio, de que existem policiais<br />

honestos e não honestos. Na<br />

versão do Psol existem inclusive<br />

policiais que buscam<br />

acabar com a corrupção,<br />

quando a primeira corrupção<br />

da policia é ser paga para defender<br />

a propriedade privada<br />

de uma minoria de ricos contra<br />

uma maioria de pobres,<br />

aliás sua única função e razão<br />

de existir.<br />

Nas eleições municipais, o<br />

Psol teve de deixar evidente<br />

ainda mais que nas eleições<br />

presidenciais as suas relações<br />

concretas com a burguesia e<br />

inclusive com a polícia.<br />

CRISE DOS GRAMPOS<br />

Prisão cinematográfica do segundo<br />

homem da Polícia Federal<br />

Mais uma operação teatral<br />

da Polícia federal e da Justiça<br />

atingiram desta vez a própria<br />

PF, em uma continuação da<br />

crise dos Grampos, na qual<br />

setores de dentro da Abin<br />

(Agência Brasileira de Inteligência)<br />

e da Polícia Federal<br />

vem sendo acusados entre<br />

estes. Não por acaso a prisão,<br />

feita na quarta-feira (17), durou<br />

horas e foi realizada pouco<br />

antes de novos depoimentos<br />

à CPI dos Grampos de<br />

vários diretores da Polícia<br />

Federal. Esta CPI é a única<br />

comissão em funcionamento<br />

no Congresso Nacional, que<br />

está em recesso antes das eleições<br />

municipais.<br />

Romero Lucena de Menezes<br />

é quem comandava operações<br />

de grande porte da PF,<br />

usadas para dar uma fachada<br />

de moralidade para a polícia.<br />

Este foi acusado de advocacia<br />

administrativa, corrupção<br />

passiva e tráfico de<br />

influência.<br />

O Tribunal Regional Federal<br />

(TRF) da 1º Região revogou<br />

a prisão do delegado na<br />

madrugada do mesmo dia madrugada.<br />

Este é acusado de ter repassado<br />

informações da Polícia<br />

Federal para favorecer a empresa<br />

MMX Logística. A empresa<br />

é subsidiária da EBX,<br />

empresa de Eike Batista, que<br />

era investigada pela Operação<br />

Toque de Midas, sobre fraudes<br />

em licitações.<br />

Escutas telefônicas atingiram<br />

a própria Polícia Federal.<br />

A prisão foi feita depois de conversas<br />

telefônicas terem sido<br />

grampeadas com autorização<br />

judicial, entre o gerente da<br />

MMX Amapá Ltda., Renato<br />

Camargo dos Santos e Menezes<br />

Junior.<br />

O delegado da PF é acusado<br />

de favorecer a empresa de<br />

seu irmão, a Serv-San, de segurança,<br />

para esta conseguir<br />

contratos com a empresa de<br />

Eike Batista. Este possui junto<br />

com o irmão uma sociedade<br />

de 50% da empresa.<br />

A operação, ao mesmo<br />

tempo em que gerou uma crise<br />

entre o Ministério Público que<br />

fez as apurações, e a Polícia<br />

Federal, <strong>causa</strong> grande desmoralização<br />

das próprias autoridades<br />

e da Polícia Federal e<br />

mostra o tráfico de influência<br />

que predomina em todas estas<br />

operações, feitas para favorecer<br />

sempre um setor dos capitalistas,<br />

como na Operação<br />

Satiagraha. A operação foi<br />

feita para favorecer setores da<br />

telefonia internacionais e nacionais,<br />

concorrentes do grupo<br />

de Daniel Dantas, a Brasil<br />

Telecom.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA<br />

MOVIMENTO OPERÁRIO 12<br />

CAMPANHA SALARIAL<br />

ECT e Fentect trabalham juntos na campanha<br />

salarial... agora para enterrar campanha em outubro<br />

Comissão de Negociação Salarial da ECT retoma<br />

“negociações” com a Comissão de Negociação Salarial<br />

dos trabalhadores afirmando que continuará firme na<br />

posição de não discutir a pauta de reivindicações da<br />

categoria, mas estabelecerá novas reuniões acatando<br />

sem nenhuma divergência o novo calendário da Fentect<br />

Nesta terça-feira 16/9, a Comissão<br />

de Negociação da ECT e a<br />

Comissão de Negociação Salarial<br />

da Fentect - Federação dos Trabalhadores<br />

da Empresa de Correios<br />

e Telégrafos - se reuniram em Brasília<br />

para retomar as negociações<br />

da campanha salarial 2008/2009.<br />

A reunião foi convocada pela<br />

ECTQuem iniciou as discussões,<br />

no entanto, foram os membros do<br />

Bando dos Quatro (PT, PCdoB,<br />

PSTU e Psol) que compõem a<br />

Comissão de Negociação Salarial<br />

dos trabalhadores, apresentando<br />

oficialmente para empresa o novo<br />

calendário da Fentect. Depois de<br />

fracassarem vergonhosamente<br />

na tentativa de acabar com a campanha<br />

salarial em setembro, conforme<br />

também era pretendido<br />

pela ECT, agora estarão trabalhando<br />

para acabar com a campanha<br />

salarial em 15 de outubro, 15 dias<br />

antes do término das negociações<br />

do novo PCCS da ECT.<br />

A Comissão de Negociação salarial<br />

da ECT, mostrando que continua<br />

sem interesse pelas necessidades<br />

dos trabalhadores, reafirmou<br />

que não vai debater a pauta<br />

de reivindicação da categoria, não<br />

quer pagar mais que os míseros<br />

6,37% de reajuste salarial, no<br />

entanto, para ajudar a Fentect<br />

enterrar a campanha salarial em<br />

outubro, depois das eleições municipais<br />

e antes da Negociação do<br />

PCCS do Cargo Amplo.<br />

Os negociadores da ECT se<br />

propuseram a marcar reuniões<br />

para debater apenas algumas cláusulas<br />

sociais que a ECT não<br />

precise dispor de dinheiro para<br />

aprovar, ou seja, quase nenhuma.<br />

ECT e Fentect vão<br />

encenar que estão<br />

negociando até<br />

outubro, para<br />

aprovar o PCCS da<br />

escravidão em<br />

novembro<br />

As reivindicações mais<br />

exigidas pelos trabalhadores<br />

nesta campanha salarial precisam<br />

de investimento da<br />

ECT.<br />

Só com a contratação de<br />

novos funcionários, a ECT<br />

poderá diminuir a hora da<br />

madrugada; reduzir a jornada<br />

de trabalho da categoria; por<br />

fim ao Banco de Horas, presente<br />

de grego da Fentect;<br />

por fim as dobras; estabelecer<br />

a entrega da correspondência<br />

pela manhã; estabelecer<br />

a licença gestante de seis<br />

meses; o sistema de redistritamento<br />

feito pelos próprios<br />

trabalhadores etc.<br />

A comissão de negociação<br />

salarial da ECT, ao afirmar<br />

que só vai negociar reivindicações<br />

que não precisem de<br />

dinheiro, está mostrando que<br />

vai continuar enrolando os<br />

trabalhadores, mas ao mesmo<br />

tempo, fica claro também,<br />

que só podem enrolar os trabalhadores<br />

com a ajuda da<br />

burocracia da Fentect, os sindicalistas<br />

do Bando dos Quatro,<br />

que possuem a função de<br />

levar os trabalhadores a não<br />

brigar com a ECT, nem antes<br />

das eleições municipais no<br />

país, nem depois de terminado<br />

as negociações do PCCS<br />

do Cargo Amplo, de Agente<br />

de Correios, da privatização.<br />

A ECT sabe perfeitamente<br />

que uma greve em novembro<br />

dentro dos Correios pode unificar<br />

os trabalhadores na luta<br />

pelas reivindicações salariais<br />

e contra o PCCS da escravidão,<br />

colocando em risco o<br />

acordo fechado entre ECT e<br />

Fentect de dar para os Juízes<br />

biônicos do TST a responsabilidade<br />

de oficializar o PCCS<br />

em novembro.<br />

Contra a manobra da ECT<br />

e da Fentect, os trabalhadores<br />

devem rejeitar o calendário<br />

conjunto da Federação<br />

com a Empresa nesta campanha<br />

salarial, e se organizar<br />

para fazer uma grande greve<br />

em novembro, exigindo o fim<br />

do PCCS da escravidão e que<br />

sejam atendidas as reivindicações<br />

da pauta salarial da categoria.<br />

- Pelo atendimento das reivindicações<br />

da pauta salarial<br />

2008!<br />

- Pelo fim do banco de horas!<br />

- Abaixo o Cargo Amplo de<br />

Agente de Correios!<br />

- Pelo fim do gerenciamento<br />

da corrupta direção da<br />

ECT sobre os trabalhadores!<br />

- Pela eleição direta de trabalhadores<br />

aos cargos de gerenciamento<br />

dentro da ECT!<br />

- Pelo Controle Operário<br />

da empresa dos Correios,<br />

para impedir a privatização da<br />

ECT!<br />

CORREIOS CAMPINAS<br />

Carteiros param contra o banco de horas do Bando<br />

dos Quatro (PT-PCdoB-PSTU-Psol) e da ECT<br />

Na quinta-feira (11-09), às 8<br />

horas da manhã, os trabalhadores<br />

do CDD Hortolândia – Centro<br />

de Distribuição Domiciliar da<br />

cidade de Hortolândia - se reuniram<br />

na frente da unidade e<br />

resolveram não entrar para trabalhar<br />

se a direção regional da<br />

empresa não viesse negociar<br />

melhores condições de trabalho.<br />

Depois de uma hora de paralisação,<br />

a ECT encaminhou para<br />

negociar com os trabalhadores<br />

o Coordenador Bissaco, o CAE<br />

Marcos – Coordenador de Área<br />

de Entrega, o Corsin Faustão –<br />

Coordenador de Relações Sindicais,<br />

além do próprio sindicato.<br />

Os carteiros reivindicavam a<br />

contratação imediata de mais<br />

carteiros e o fim da perseguição<br />

da chefia aos trabalhadores que<br />

não podem fazer horas extras.<br />

Há mais de um ano os carteiros<br />

do CDD Hortolândia estão<br />

trabalhando além do limite, sendo<br />

submetidos a uma intensa<br />

exploração pela ECT, pois é o<br />

setor da região que ocupa a liderança<br />

em quantidade de resto<br />

diário da carga.<br />

Para dar conta deste resto, a<br />

empresa inaugurou um processo<br />

de super-exploração da categoria,<br />

realizando dobras diárias,<br />

exigindo todos os dias que<br />

os carteiros façam horas-extras<br />

e trabalhem todos os sábados<br />

do mês.<br />

Com a assinatura do Acordo<br />

de Banco de Horas em julho<br />

pelos sindicalistas do Bando dos<br />

Quatro (PT, PCdoB, PSTU e<br />

Psol) na Fentect e apoiados integralmente<br />

por todos os membros<br />

da diretoria do sindicato de<br />

Campinas, os chefes ganharam<br />

amplos poderes para punir os<br />

trabalhadores que se recusam a<br />

fazer horas extras.<br />

O chefe do CDD Hortolândia,<br />

Admilson Brunell, exercendo<br />

sadicamente o poder consentido<br />

pelo Banco de Horas, distribuiu<br />

punições para vários trabalhadores,<br />

suspendendo aqueles que não<br />

fossem trabalhar no sábado.<br />

Paralisação coloca<br />

ECT na defensiva e<br />

transforma acordo<br />

do sindicato de<br />

Banco de Horas<br />

sem efeito<br />

Depois de mais de três horas<br />

de paralisação, os Coordenadores<br />

da ECT, mais três diretores<br />

do sindicato de Campinas reunidos<br />

com os representantes dos<br />

trabalhadores do CDD, concordaram<br />

verbalmente em anular as<br />

punições dadas aos trabalhadores<br />

que não podem fazer horasextras;<br />

também ficou definido<br />

que as horas extras serão feitas<br />

de acordo com a disponibilidade<br />

do funcionário e não mais de<br />

acordo com a exigência da ECT<br />

conforme acordo de Banco<br />

Horas assinado pelo sindicato.<br />

Quanto ao trabalho aos sábados,<br />

os Coordenadores da ECT determinaram<br />

que o chefe do CDD<br />

Hortolândia poderá convocar o<br />

carteiro para trabalhar apenas<br />

dois sábados por mês.<br />

No dia seguinte, a direção da<br />

ECT em Campinas enviou cinco<br />

carteiros para Hortolândia,<br />

emprestados de outros CDD´s,<br />

além de iniciarem através dos<br />

chefes de outros CDD´s o SD –<br />

Sistema de Distritamento – em<br />

Hortolândia.<br />

A paralisação dos trabalhadores<br />

do CDD Hortolândia mostrou<br />

que a direção da ECT e os<br />

sindicatos ligados ao Bando dos<br />

Quatro da Fentect, que assinaram<br />

o Banco de Horas, não têm<br />

força para se impor contra os<br />

trabalhadores organizados, no<br />

entanto, os trabalhadores do<br />

CDD Hortolândia só resolverão<br />

minimamente as péssimas condições<br />

de trabalho a que estão<br />

expostos com a formação de no<br />

mínimo mais dois CDD´s na<br />

cidade, além de um CEE – Centro<br />

de Encomendas Especiais, o<br />

que demandaria um verdadeiro<br />

SD feito pelos próprios carteiros<br />

da unidade e a contratação de no<br />

mínimo o dobro de carteiros<br />

existente hoje no CDD.<br />

A cidade de Hortolândia cresce<br />

todos os dias, aumentando o<br />

contingente populacional, mas<br />

os Correios, para economizar às<br />

custas da saúde da categoria,<br />

querem dar conta da demanda<br />

apenas com um único CDD<br />

(Centro de Distribuição Domiciliar)<br />

para fazer toda entrega do<br />

município, cerca de 200 mil<br />

habitantes, jogando nas costas<br />

dos trabalhadores da unidade o<br />

excesso do serviço acumulado.<br />

Por isso os trabalhadores<br />

devem exigir;<br />

- SD – Sistema de Distritamento<br />

- feito pelos próprios<br />

carteiros que conhecem como<br />

ninguém toda região de Hortolândia,<br />

ao contrário dos chefes,<br />

pau mandados da direção da<br />

ECT, que buscaram fazer um<br />

SD onde a ECT não precise<br />

contratar ninguém.<br />

- Contratação de mais carteiros<br />

para o CDD, quantos forem<br />

necessários;<br />

-Formação de uma comissão<br />

de trabalhadores do CDD para<br />

acompanhar se as punições estão<br />

sendo anuladas e não está<br />

havendo o assédio moral da<br />

chefia aos trabalhadores que não<br />

pode fazer horas extras.<br />

- Anulação integral do banco<br />

de horas assinado pelo Bando<br />

dos Quatro (PT-PCdoB-PSTU-<br />

PSOL)<br />

No último sábado (13), às 8h,<br />

seguranças da empresa que presta<br />

serviços aos correios de Bauru<br />

detiveram o militante do movimento<br />

sindical de bauru e da<br />

corrente sindical CAUSA OPE-<br />

RARIA Osmar Brito , quando este<br />

fazia a distribuição do boletim nacional<br />

Ecetistas em Luta.<br />

O boletim que discute a campanha<br />

salarial da categoria causou<br />

furor na chefia, a qual organizou<br />

a agressão de Osmar Brito.<br />

Ele foi derrubado no chão<br />

pelos seguranças que pisaram em<br />

seu pescoço e desferiram várias<br />

coturnadas em seu corpo.<br />

Foram, ainda, colocadas algemas<br />

em seus braços pelos próprios<br />

seguranças privados, os quais o<br />

deixaram mais de meia hora com<br />

CTCE DE BAURU<br />

Empresa de Segurança e<br />

PM espancam apoiador de<br />

Ecetistas em Luta<br />

Osmar Brito sofreu vários ferimentos<br />

no braço esquerdo e deslocamento e<br />

luxações no ombro direito.<br />

o rosto fricionado sobre o chão.<br />

Após a chegada de viaturas da<br />

policia militar com vários<br />

soldados, as algemas<br />

da empresa privada<br />

foram substituídas<br />

pelas algemas da policia<br />

militar. A PM de<br />

Bauru, repetindo o ritual<br />

de tortura contra<br />

os trabalhadores, chamavam-no<br />

de vagabundo,<br />

apertavam sua<br />

garganta e perguntavam<br />

ironicamente<br />

quantos quilos de droga<br />

carregava em sua<br />

bolsa, cujo conteúdo era de quinhentos<br />

panfletos que foram confiscados<br />

pelos chefes do correio<br />

local e, até agora, não devolvidos.<br />

OSMAR Brito sofreu vários<br />

ferimentos no braço esquerdo<br />

e deslocamento e luxações no<br />

ombro direito sendo levado ao<br />

pronto socorro municipal para<br />

avaliação medica e ingestão de<br />

remédios.<br />

Nos próximos dias a Corrente<br />

Ecetistas em Luta estará organizando<br />

ato público em frente ao<br />

CTCE para protestar contra a<br />

agressão, bem como tomando as<br />

medidas legais contra os chefes,<br />

a empresa de segurança e os<br />

PM´s envolvidos.<br />

FRIGORÍFICOS BOM CHARQUE E MARGEM<br />

Unificar as fábricas para derrotar o golpe do patrão<br />

Nesta segunda-feira, dezenas<br />

de trabalhadores do frigorífico<br />

Bom Charque participaram de<br />

uma passeata pelas ruas da zona<br />

Norte de São Paulo, no bairro de<br />

Santana, com destino à Delegacia<br />

Regional do Trabalho (DRT).<br />

O objetivo da passeata foi realizar<br />

um protesto junto ao órgão<br />

público para exigir a presença de<br />

fiscais do trabalho no frigorífico,<br />

uma vez que os patrões estão<br />

atrasando no pagamento dos<br />

salários e da cesta básica, não<br />

estão depositando o FGTS e não<br />

estão pagando as verbas rescisórias<br />

de inúmeros trabalhadores.<br />

Os patrões do Bom Charque<br />

querem dar o calote em mais de<br />

300 pais de família, fazendo todos<br />

assinarem o aviso-prévio,<br />

sem ter a mínima intenção de<br />

pagar tudo o que devem aos trabalhadores.<br />

Na mesma situação se encontram<br />

os trabalhadores do frigorífico<br />

Margem, localizado na cidade<br />

de Barueri. Os cerca de 200<br />

trabalhadores desse frigorífico<br />

também estão com os salários<br />

atrasados e de aviso-prévio, sem<br />

qualquer garantia de que receberão<br />

dos patrões todos os seus<br />

direitos.<br />

A verdade é que tanto o frigorífico<br />

Bom Charque, localizado<br />

no bairro de Taipas, extremo<br />

Oeste de S. Paulo, quanto o frigorífico<br />

Margem, de Barueri, são<br />

propriedade do mesmo patrão.<br />

Este está dando calote em milhares<br />

de trabalhadores de várias<br />

outras unidades espalhadas por<br />

todo o país, que também estão<br />

fechando as suas portas.<br />

Apesar dos chefes e dos encarregados,<br />

nos setores de trabalho,<br />

tentarem enganar os trabalhadores,<br />

dizendo que a situação<br />

vai melhorar, o arrendamento das<br />

fábricas do grupo Margem para<br />

o grupo Arantes Alimentos significa<br />

apenas uma manobra típica<br />

de patrões caloteiros para não<br />

pagar os trabalhadores.<br />

Na sexta-feira, dia 12, cerca de<br />

200 trabalhadores do Bom Charque<br />

também realizaram um protesto<br />

na frente da fábrica para<br />

exigir dos patrões o pagamento<br />

dos salários atrasados. Há mais de<br />

dois meses o frigorífico vem dando<br />

sinais de falência e os patrões<br />

estão enrolando os trabalhadores,<br />

que são constantemente mandados<br />

para casa por não ter matéria-prima<br />

para trabalhar.<br />

Apenas recentemente os trabalhadores<br />

tiveram conhecimento<br />

sobre a venda do frigorífico<br />

Bom Charque para o grupo Margem<br />

S/A.<br />

A notícia sobre a demissão em<br />

massa dos trabalhadores do Bom<br />

Charque e o fechamento da fábrica<br />

foi anunciada apenas na<br />

sexta-feira pelos patrões. Após a<br />

realização dos protestos e a dispersão<br />

da maioria dos trabalhadores,<br />

os patrões chamaram os<br />

representantes do sindicato para<br />

uma reunião dentro da empresa,<br />

onde informaram sobre o fechamento<br />

da unidade e os planos de<br />

arrendamento da mesma, para<br />

outro grupo, chamado de Arantes<br />

Alimentos.<br />

Este grupo está arrendando<br />

inúmeras fábricas por todo o país,<br />

como o antigo Mozaquatro, em<br />

Fernandópolis, do interior de São<br />

Paulo, no último dia 3 de setembro.<br />

O grupo Arantes Alimentos<br />

fazia parte do antigo frigorífico<br />

Alta, que em 2005 também em<br />

processo de falência arrendou<br />

várias de suas unidades de Goiás,<br />

Mato Grosso e interior de São<br />

Paulo para o mesmo grupo Margem.<br />

Em 2007, o grupo Arantes<br />

também foi denunciado pela Secretaria<br />

do Estado da Fazenda por<br />

sonegação de impostos e por oferecer<br />

propina a um fiscal do<br />

ICMS. O caso, que foi investigado<br />

pela Delegacia Especializada<br />

de Polícia Fazendária do Mato<br />

Grosso, resultou na prisão de um<br />

dos representantes do frigorífico,<br />

Lauro Cunha Guimarães Junior,<br />

que responde a um Inquérito<br />

Policial pelos crimes de ameaça,<br />

cárcere privado, corrupção ativa<br />

e constrangimento legal.<br />

Na reunião com os representantes<br />

do sindicato, os patrões do<br />

Bom Charque alegaram cinicamente<br />

que o arrendamento da<br />

fábrica resolveria os problemas<br />

do grupo Margem, mas não dos<br />

trabalhadores, uma vez que afirmaram<br />

não ter dinheiro e não<br />

deram qualquer prazo para o<br />

pagamento dos salários atrasados<br />

e do depósito do Fundo de Garantia.<br />

Os patrões querem apenas resolver<br />

os seus problemas, sem<br />

levar minimamente em consideração<br />

o interesse dos trabalhadores.<br />

Enquanto fazem todo tipo de<br />

escândalos, trocando o nome da<br />

empresa com o objetivo de dar<br />

calote no mercado e abafar toda<br />

espécie de irregularidades em que<br />

estão envolvidos, os trabalhadores<br />

correm sérios riscos de não<br />

receberem seus salários, são sonegados<br />

o FGTS (Fundo de Garantida<br />

Por Tempo de Serviço),<br />

verbas rescisórias, etc.<br />

Por isso, o sindicato estará<br />

todos os dias desta semana na<br />

porta da fábrica, com boletins,<br />

faixas, carro de som, convocando<br />

todos os trabalhadores e seus<br />

familiares para unificar a luta das<br />

duas fábricas para, na próxima segunda-feira,<br />

dia 22, realizar uma<br />

grande manifestação no centro de<br />

São Paulo, junto ao Ministério Público,<br />

para exigir que sejam cumpridas<br />

as Leis Trabalhistas e que<br />

os trabalhadores recebam seus<br />

salários e seus direitos.<br />

Vamos pressionar o poder<br />

público para fazer com que os<br />

patrões caloteiros paguem tudo<br />

METALÚRGICOS ABC<br />

Metalúrgicos de auto-peças iniciam greve no ABC<br />

Depois de tentativas de acordo<br />

entre o sindicato e as empresas<br />

para tentar barrar a tendência<br />

grevista dos trabalhadores,<br />

como foi feito na semana passada<br />

com as montadoras, os<br />

metalúrgicos do setor de autopeças<br />

aprovaram em assembléia,<br />

no último dia 12, greve por<br />

tempo indeterminado. As empresas<br />

do grupo 3 (autopeças,<br />

forjarias e parafusos) não aceitaram<br />

a proposta de aumento<br />

salarial de 11,01% sendo 3,6%<br />

de aumento real e mais abono,<br />

diferente do que havia acontecido<br />

com as montadoras.<br />

Diante disso, os metalúrgicos<br />

do grupo 3 aprovaram a<br />

greve por tempo indeterminado<br />

a partir já do último turno da<br />

sexta-feira, 12. Somente o grupo<br />

3 representa uma base de 22<br />

mil trabalhadores parados, que<br />

só voltarão ao trabalho caso os<br />

patrões ofereçam o mesmo reajuste<br />

salarial obtido no grupo<br />

das montadoras. Por enquanto,<br />

as empresas do grupo 3 só ofereceram<br />

7,17% de reposição da<br />

inflação e 3% de aumento real,<br />

totalizando 10,4%, mas sem o<br />

abono. As montadoras aceitaram,<br />

na semana passada, proposta<br />

de aumento de 11,01%<br />

mais abono de R$ 1.200, o que<br />

fez a diretoria do Sindicato dos<br />

Metalúrgicos do ABC defender<br />

o fim da campanha salarial para<br />

o grupo das montadoras, o<br />

maior da categoria. A interrupção<br />

da campanha salarial e das<br />

paralisações dos trabalhadores<br />

das montadoras serviu para<br />

o que devem aos trabalhadores,<br />

sem deixar um único centavo<br />

para trás.<br />

Os trabalhadores sabem que<br />

apenas com a sua mobilização é<br />

que podem conseguir fazer valer<br />

os seus direitos.<br />

Exigimos:<br />

enfraquecer o restante da categoria<br />

que ainda não havia chegado<br />

em acordo.<br />

A entrada do grupo 3 em greve<br />

por tempo indeterminado é<br />

uma mostra da enorme tendência<br />

de luta entre os metalúrgicos.<br />

Essa tendência está relacionada<br />

com o crescimento da inflação<br />

no Brasil e em todo o mundo, o<br />

aumento conseguido pelas montadoras,<br />

apesar de ser o maior<br />

índice de aumento real obtido<br />

entre todas as campanhas salariais,<br />

vai ficar bem abaixo da inflação<br />

em um curto período de<br />

tempo. Essa situação deve acirrar<br />

ainda mais a luta dos metalúrgicos<br />

com as empresas e a<br />

própria burocracia sindical, já<br />

que as campanhas são bianuais<br />

depois de acordo entre as duas<br />

partes. É necessário, em todas<br />

as categorias de trabalhadores,<br />

exigir reposição trimestral de salários.<br />

Na assembléia foi ainda aprovado<br />

que as empresas que quiserem<br />

negociar separadamente<br />

com o sindicato poderão fazer.<br />

Essa é outra manobra para enfraquecer<br />

os trabalhadores, já que<br />

pode haver divisão dos trabalhadores<br />

que aderem à greve, já que<br />

à medida em que vão se firmando<br />

os acordos haverá pressão das<br />

empresas para que os trabalhadores<br />

retornem às fábricas. Foi o<br />

que acabou acontecendo.<br />

Há um esforço para acabar<br />

com a mobilização. No domingo,<br />

dia 14, as empresas do grupo 3<br />

procuraram o sindicato para a retomada<br />

das negociações para<br />

1) O imediato pagamento de<br />

todos os salários atrasados e da<br />

cesta básica;<br />

2) Depósito do Fundo de<br />

Garantia atrasado;<br />

3) Pagamento das verbas<br />

rescisórias;<br />

4) Comissão de fábrica.<br />

tentar evitar a greve por tempo<br />

indeterminado.<br />

O sindicato cedeu e em nota<br />

enviada à imprensa afirmou que<br />

os trabalhadores dessas empresas<br />

que se reuniram com o sindicato<br />

voltariam ao trabalho na<br />

segunda, 15, até que os acordos<br />

fossem discutidos. Somente o<br />

Sindipeças (Sindicato Nacional<br />

da Indústria de Componentes<br />

para Veículos Automotores)<br />

não participou da reunião e os<br />

acordos serão fechados separadamente.<br />

Nesta terça-feira, 16, foram<br />

apresentados os balanços das<br />

negociações em separado à categoria.<br />

Ainda assim não houve<br />

acordo e finalmente, no dia 17<br />

os trabalhadores do grupo 3 iniciaram<br />

a greve. Porém, novas<br />

negociações, já no primeiro dia<br />

de greve, resultaram em sete<br />

acordos fechados entre o sindicato<br />

e as empresas.<br />

O quadro mostra que há uma<br />

enorme tendência grevista entre<br />

os operários metalúrgicos de<br />

todo o País. No entanto, a atuação<br />

do sindicato, dominado<br />

pela Articulação do PT, foi de<br />

enterrar a campanha salarial dividindo<br />

os trabalhadores; primeiro<br />

aceitando o acordo com<br />

o principal grupo da categoria,<br />

o das montadoras, isolando os<br />

grupos que ainda não haviam<br />

conseguido sequer a reposição<br />

de 11,01% e depois negociando<br />

com cada empresa do grupo<br />

3 separadamente para fazer<br />

evitar o desenvolvimento da<br />

greve.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA JUVENTUDE 13<br />

TAMBÉM NA USP<br />

A comédia eleitoral para diretor da FFLCH<br />

mostra que está na hora de organizar a luta pela<br />

maioria estudantil na maior universidade do país<br />

Nos dias 18 e 19 foram realizadas as chamadas<br />

“eleições” para o diretor da FFLCH (Faculdade de<br />

Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP: mais uma<br />

farsa visando envolver os estudantes que precisa ser<br />

denunciada<br />

A mais importante universidade<br />

do País é, também, uma<br />

das mais reacionárias e conservadoras<br />

do ponto de vista do<br />

regime interno e da burocracia<br />

que a controla.<br />

Não há na USP qualquer idéia<br />

nem mesmo de eleição do reitor<br />

ou de qualquer outro administrador.<br />

No Conselho Universitário<br />

da USP, a minoria de representantes<br />

discentes tem, mais que<br />

em todos os lugares, um papel<br />

mais que decorativo: servem<br />

apenas para criar uma tênue ilusão<br />

de democracia em uma universidade<br />

controlada pela direita.<br />

Isso se dá porque o controle<br />

da universidade pelos grupos<br />

políticos burgueses e aos interesses<br />

capitalistas é um dos<br />

maiores do País. Como os políticos<br />

da burguesia e os capitalistas<br />

não iriam cobiçar a mais<br />

importante universidade do<br />

país, com quase 100 mil integrantes<br />

e vários centros de<br />

pesquisa?<br />

A ditadura contra os estudantes<br />

é total. A reitoria da USP<br />

está processando estudantes<br />

que participaram da ocupação<br />

de maio do ano passado e impôs<br />

uma multa ao DCE por<br />

“danos ao patrimônio”.<br />

A função deste regime retrógrado<br />

e ditatorial é mater a universidade<br />

como um instrumento<br />

dos capitalistas e das camarilhas<br />

da burocracia universitária<br />

esmagando todo e qualquer<br />

movimento independente<br />

dos estudantes.<br />

Como são as<br />

“eleições” na<br />

FFLCH<br />

Tudo isso pode ser visto no<br />

processo de escolha do novo<br />

diretor de uma das maiores faculdades,<br />

a Faculdade de Filosofia,<br />

Letras e Ciências Humanas,<br />

de onde saiu a maioria dos<br />

ocupantes da reitoria no ano<br />

passado.<br />

Concorreram três professores<br />

graduados, Sandra Margarida<br />

Nitrini, das Letras, Osvaldo<br />

Coggiola, da História e<br />

Maria Arminda do Nascimento<br />

Arruda, das Ciências Sociais.<br />

Os estudantes e funcionários,<br />

párias dentro da universidade,<br />

logicamente não podem<br />

nem se apresentar como candidatos,<br />

privilégio reservado<br />

exclusivamente aos professores<br />

mais graduados.<br />

O máximo de democracia<br />

que a burocracia universitária<br />

conseguiu elaborar para respaldar<br />

o seu novo líder foi a realização<br />

de dois debates com os<br />

estudantes e funcionários e<br />

uma consulta pela internet aos<br />

estudantes sem qualquer valor<br />

deliberativo!<br />

A eleição para diretor da FFL-<br />

CH, que ocorreram a portas<br />

fechadas é decidida por uma<br />

ínfima minoria da comunidade<br />

universitária. No final, é a própria<br />

reitoria quem decide. A<br />

votação é feita por apenas duas<br />

centenas de membros de uma<br />

universidade de 15 mil estudantes,<br />

que irão definir uma lista<br />

tríplice, ou seja, três nomes dentro<br />

de um órgão completamente<br />

restritivo, a congregação da<br />

faculdade, para que ao final a reitora<br />

escolha um dentre os três<br />

mais cotados.<br />

Este processo acontece sem<br />

qualquer real participação estudantil.<br />

Quem decide são apenas<br />

os professores titulares da universidade.<br />

Trata-se de uma regime<br />

de funcionamento verdadeiramente<br />

medieval e uma sobrevivência<br />

sem retoques do<br />

regime militar.<br />

A Congregação, que é o órgão<br />

que escolhe como utilizar as<br />

verbas, logicamente com o consentimento<br />

da reitoria, é formado<br />

hoje por 82 membros, sendo<br />

que destes só cinco são estudantes<br />

(6%) e 3 funcionários<br />

(3,5%). O total de professores<br />

é de 74, ou seja, 90,5% do total!<br />

Só estes números servem<br />

para mostrar que a participação<br />

estudantil e dos funcionários é<br />

uma completa farsa, utilizada<br />

para dar uma aparência débil de<br />

democracia a um regime de ditadura<br />

contra os estudantes.<br />

Este órgão é ampliado durante<br />

as eleições para 196 membros<br />

colegiados com as diretorias<br />

de departamento e com os<br />

representantes discentes (estudantis)<br />

de cada curso.É um<br />

colégio eleitoral ao estilo do que<br />

havia na época da ditadura, programada<br />

para dar infalivelmente<br />

o mesmo resultado: a escolha<br />

do candidato do setor mais<br />

forte e mais direitista da burocracia<br />

universitária.<br />

Neste colegiado, de 196<br />

membros,13 são estudantes.<br />

São apenas 13 estudantes que<br />

representam os 15 mil e ainda<br />

sob o tacão da reitoria. Os estudantes,<br />

que são cerca de 80%<br />

dos integrantes da faculdade<br />

recebem menos de 10% dos<br />

votos, enquanto que os professores,<br />

uma ínfima minoria, recebem<br />

a quase totalidade dos<br />

votos.<br />

O resto dos estudantes, que<br />

são a imensa maioria da universidade<br />

em sua composição, não<br />

tem sequer direito a voto, mas<br />

apenas recebem o direito da diretoria<br />

da faculdade de participar<br />

de uma vergonhosa consulta<br />

eletrônica pela internet, um<br />

completo cinismo.<br />

É sobre este órgão de tipo<br />

monárquico, que é fruto de um<br />

estatuto que é uma sobrevivência<br />

da ditadura militar, que se<br />

ergue toda a estrutura de poder<br />

corrupta e carreirista da universidade.<br />

O significado das<br />

“eleições” na<br />

FFLCH<br />

A FFLCH é onde se concentra<br />

historicamente o centro nervoso<br />

do movimento estudantil<br />

na USP que, por sua vez, sempre<br />

foi o mais importante do<br />

país.<br />

Nas importantes lutas estudantis<br />

de 1968, o centro organizador<br />

do movimento estudantil<br />

em S. Paulo era a Faculdade<br />

de Filosofia e Letras, então<br />

situada à R. Maria Antônia.<br />

Nos anos das grandes mobilizações<br />

de 1977 a 1980, foram<br />

as faculdades de Ciências Sociais,<br />

Letras, História, Arquitetura<br />

e Comunicações que dirigiram<br />

o movimento.<br />

Nos últimos anos, todas as<br />

lutas estudantis tiveram como<br />

centro as unidades da FFLCH<br />

que chegaram a realizar um greve<br />

geral de 106 dias em 2002.<br />

A esquerda conciliadora do<br />

Bando dos Quatro, PT, PCdoB,<br />

Psol e PSTU, chamou os estudantes<br />

a participar da consulta<br />

via internet. O que significa<br />

isso? Significa dar uma cobertura<br />

“democrática” a um processo<br />

completamente antidemocrático.<br />

Significa apenas<br />

auxiliar a direita a ocultar a sua<br />

ditadura.<br />

Esta política que significa<br />

um atrelamento do movimento<br />

estudantil à direita da universidade<br />

fracassou completamente.<br />

O candidato apoiado pelo<br />

Bando dos Quatro, o professor<br />

da História, Osvaldo Coggiola,<br />

ganhou a consulta dos candidatos<br />

da burocracia mais tradicional<br />

por uns poucos votos e a<br />

participação dos estudantes na<br />

farsa ficou abaixo dos 10%<br />

mostrando a verdadeira tendência<br />

dos estudantes que, desta<br />

vez, é claramente de repúdio a<br />

esta comédia ditatorial.<br />

A participação desta esquerda<br />

pequeno-burguesa na eleição<br />

cumpre a função de conter<br />

a luta estudantil dentro da camisa<br />

de força estabelecida pela<br />

direita, como fazem tradicionalmente<br />

na USP e como fizeram<br />

na ocupação de 51 dias onde,<br />

em todos os momentos buscaram,<br />

com a ajuda da reitoria,<br />

acabar com a ocupação.<br />

O caráter da<br />

ditadura<br />

O diretor da FFLCH e a<br />

Congregação, como ocorre<br />

também na demais faculdades,<br />

é que tem a função de administrar<br />

as verbas que sempre<br />

faltam para a reforma<br />

estrutural e que tem desempenhado<br />

a função de reprimir<br />

duramente o movimento estudantil,<br />

tanto diretamente,<br />

como é nos casos dos processos<br />

de sindicâncias realizados<br />

por estes órgãos, como o controle<br />

sobre a alteração das estruturas<br />

do prédio que vem interditando<br />

os espaços dos estudantes,<br />

mas principalmente<br />

favorecendo a corrupção<br />

na universidade por impedir<br />

completamente qualquer participação<br />

e fiscalização dos<br />

estudantes.<br />

Vimos em vários casos<br />

como na UnB, na Unifesp, na<br />

Fundação Santo André que<br />

são estes órgãos e os governos<br />

unipessoais das reitorias<br />

que, ao restringir a uma ínfima<br />

participação dos estudantes<br />

nas universidades, impulsionam<br />

o desvio de verbas<br />

públicas para gastos pessoais<br />

dos mais altos cargos, como<br />

a figura do reitor, que é indicada<br />

pelo governador. Por<br />

conta do controle completo da<br />

universidade por seu setor<br />

mais conservador e mais atrelado<br />

ao Estado, os professores<br />

de alto cargo, a FFLCH,<br />

assim como inúmeras outras<br />

faculdades públicas, estão<br />

caindo aos pedaços, sem professores,<br />

sem salas de aula,<br />

sem criação de vagas, Com<br />

estudantes assistando a aulas<br />

no corredor, salas de aula<br />

inundadas pelos vazamentos<br />

etc.<br />

Os estudantes, que realizaram<br />

no ano passado a maior<br />

mobilização das últimas décadas<br />

na universidade, a ocupação<br />

da reitoria contra os decretos<br />

do governo de José<br />

Serra, decreto este que retirava<br />

completamente a autonomia<br />

das universidades, impondo<br />

o controle direto do<br />

Estado, e barraram parcialmente<br />

a investida do governo.<br />

No entanto, um obstáculo<br />

ficou mais claro no caminho<br />

dos interesses dos estudantes<br />

e de toda a população graças à<br />

luta. Este obstáculo, que é o<br />

poder autocrático atribuído<br />

aos professores, que em sua<br />

maioria compõem ou sustentam<br />

a burocracia universitária,<br />

para eleger reitor e diretores,<br />

controlar o conselho universitário<br />

e as congregações, para<br />

impor o sucateamento, ocorre<br />

no caso das Congregações<br />

em conjunto com o Conselho<br />

Universitário, controlado hoje<br />

em imensa maioria por professores<br />

que representam as fundações<br />

privadas. Este sistema<br />

ditatorial tem como função<br />

também impor o controle cada<br />

vez maior da universidade nas<br />

áreas de tecnologia dos grandes<br />

monopólios privados, atrelando<br />

o ensino das faculdades<br />

de ciências naturais e tecnologia<br />

aos interesses privados e liquidando,<br />

assim com o ensino,<br />

como estrangulando as humanidades<br />

com a falta de verbas.<br />

A luta estudantil, que se desenvolveu<br />

a partir da USP, em<br />

inúmeras ocupações por todo<br />

o País, tem deixado claro que<br />

o problema tem se concentrado<br />

cada vez mais na luta pelo<br />

poder na universidade, ou<br />

seja, pelo controle do conjunto<br />

da comunidade acadêmica<br />

do futuro da universidade.<br />

Os estudantes, que além de<br />

serem o setor mais progressista<br />

tanto por terem interesse<br />

direto na defesa da educação<br />

pública de qualidade, são<br />

o setor que não está diretamente<br />

atrelado ao estado e<br />

acima de tudo a maioria da comunidade<br />

acadêmica.<br />

A luta estudantil foi e é o<br />

motor fundamental de toda a<br />

Chamamos os estudantes a se manifestarem contra a ditadura das<br />

congregações e dos conselhos universitários, contra o cargo de reitor<br />

e a levantar o controle estudantil.<br />

luta dos que defendem o ensino<br />

público e o ensino simplesmente<br />

contra os capitalistas,<br />

os governos burgueses e,<br />

nos países atrasados como o<br />

Brasil, contra o imperialismo.<br />

Os estudantes da UnB, da<br />

Unifesp e da Fundação Santo<br />

André, em ocupações que<br />

aconteceram posteriormente à<br />

da USP derrubaram o reitor<br />

depois de escândalos que vieram<br />

à tona. Os estudantes da<br />

Unifesp se mobilizam neste<br />

momento contra a realização<br />

das eleições-farsa para a reitoria<br />

na qual já está sendo articulada<br />

a substituição do reitor<br />

corrupto Ulysses Fagundes<br />

Neto por um apadrinhado. Os<br />

estudantes, que realizam um<br />

acampamento em frente à reitoria,<br />

estão reivindicando o<br />

boicote às eleições e ao conselho<br />

universitário, reivindicando<br />

a maioria estudantil nos<br />

órgão da universidade com o<br />

governo tripartite. A composição<br />

do Conselho Universitário<br />

da Unifesp é de 70% de professores,<br />

15% de estudantes e<br />

15% de funcionários.<br />

A única maneira de defender<br />

uma mudança profunda<br />

nos rumos da universidade e<br />

de defender o ensino público<br />

contra a tentativa de acabar<br />

com a universidade pública é<br />

a defesa da maioria estudantil,<br />

ou seja, o voto proporcional<br />

e universal.<br />

Os últimos acontecimentos<br />

deixam claro que a ditadura<br />

do professores graduados<br />

tem a única e exclusiva função<br />

de garantir os interesses<br />

dos carreiristas e corruptos,<br />

dos capitalistas, do imperialismo<br />

e dos governos burgueses<br />

contra o ensino público.<br />

A política da<br />

esquerda<br />

Uma das justificativas mais<br />

cínicas apresentadas pela burocracia<br />

que impõe o sucateamento<br />

da universidade é a de<br />

que professores são a representação<br />

dos interesses da comunidade<br />

universitária pois<br />

permanecem nesta por toda a<br />

sua carreira.. Uma completa<br />

hipocrisia, uma vez que aos<br />

funcionários, que permanecem<br />

igualmente na comunidade<br />

acadêmica, é imposta uma<br />

ditadura semelhante. Esta caracterização<br />

que serve para<br />

justificar a imposição dos interesses<br />

de uma minoria e da<br />

parcela mais atrelada ao estado,<br />

e defender o sucateamento,<br />

que permaneceu inclusive<br />

após a ocupação da reitoria<br />

em 2007, que tinha como uma<br />

das reivindicações o repasse<br />

de verbas para reformas dos<br />

prédios, moradia, entre outras<br />

reivindicações estruturais.<br />

O direito divino dos professores<br />

a controlar a universidade<br />

serve como pano de<br />

fundo ideológico para conter<br />

a manifestação do setor mais<br />

independente do Estado e do<br />

carreirismo universitário e<br />

por isso mais combativo, sendo<br />

o único que tem como único<br />

interesse defender o ensino<br />

público e de qualidade para<br />

todos é, portanto, a representação<br />

natural dos interesses da<br />

classe <strong>operária</strong> e da maioria do<br />

povo em relação ao ensino.<br />

Para o estudante, a universidade<br />

não é uma carreira ou<br />

emprego. Seu interesse é o de<br />

obter o melhor estudo possível<br />

e o acesso à universidade<br />

no caso dos estudantes secundários.<br />

Reivindicar mais<br />

verbas, alocar estas verbas em<br />

função exclusivamente dos interesses<br />

da melhoria do ensino,<br />

democratizar o ensino para<br />

obter uma maior perspectiva<br />

de educação estes são os interesses<br />

naturais da maioria estudantil.<br />

Daí que o Estado tenha<br />

feito um regime universitário<br />

que retira aos estudantes<br />

todos os direitos.<br />

Este setor além de<br />

tudo é a imensa maioria<br />

da universidade e<br />

deveria se representar<br />

de maneira universal,<br />

ou seja, um estudante<br />

um voto.<br />

Já os professores,<br />

elegendo-se a estes<br />

mesmos como a representação<br />

dos interesses<br />

da universidade, encobrem<br />

a luta encarniçada<br />

por privilégios nos<br />

departamentos e que<br />

são estes que por terem<br />

medo de perderem os<br />

plenos privilégios, por<br />

começar pelos altos<br />

salários, o que ficou<br />

muito claro no ataque<br />

deste setor aos estudantes<br />

que realizaram no ano<br />

passado o maior movimento<br />

das últimas duas décadas. Somente<br />

uma minoria de professores<br />

que vê as possibilidades<br />

de carreira frustradas pela<br />

alta camada da burocracia e<br />

que recebem os salários mais<br />

baixos é que tendem a aderir<br />

à luta estudantil em momentos<br />

em que esta ganha intensidade.<br />

É isto que demonstra a experiência<br />

de todos os movimentos<br />

políticos na universidades.<br />

Os estudantes que realizaram<br />

a ocupação da reitoria, da<br />

qual participaram milhares de<br />

estudantes e que se deu de<br />

maneira a defender a universidade<br />

do ataque do governo<br />

que pretendia estabelecer o<br />

completo controle do Estado<br />

capitalista contra a autonomia<br />

da universidade, tem pela<br />

frente uma imensa barreira<br />

imposta para impedir a participação<br />

dos estudantes.<br />

O mais importante está em<br />

que os frutos desta ditadura<br />

dos professores sobre os estudantes<br />

está à vista de todos:<br />

destruição da universidade,<br />

entrega da universidade aos<br />

monopólios capitalistas, corrupção<br />

desenfreada, repressão<br />

ao movimento estudantil,<br />

regime de ensino que caberia<br />

melhor em uma prisão etc.<br />

A universidade está sufocando<br />

sob esta ditadura a ponto<br />

que o livre debate de idéias,<br />

a discussão política, a distribuição<br />

de panfletos, a colagem<br />

de cartazes é reprimida<br />

de maneira cada vez mais violenta.<br />

Este ambiente carcerário<br />

é completamente oposto<br />

a qualquer desenvolvimento<br />

cultural, do ensino, da discussão<br />

livre de idéia, ou seja,<br />

a próprio espírito da universidade.<br />

A luta estudantil que se desenvolveu<br />

a partir da ocupação<br />

da USP e faculdades em<br />

quase todos os estados e que<br />

permanece inclusive hoje em<br />

diversas universidades, evolui,<br />

a partir da luta contra todas<br />

estas arbitrariedades, para<br />

uma luta pelo poder da universidade,<br />

como se pode ver na<br />

queda de três reitores, o da<br />

Fundação Santo André, Odair<br />

Bermelho; da UnB, Timothy<br />

Mulholland e agora da Unifesp,<br />

Ulysses Fagundes Neto.<br />

Nesta última, particularmente,<br />

fica claro que os estudantes,<br />

que rejeitaram, mesmo<br />

com a queda do reitor, as eleições<br />

farsa para por meio do<br />

conselho universitário para<br />

eleger um apadrinhado da reitoria<br />

corrupta pelos mesmos<br />

moldes ditatoriais, onde os estudantes<br />

sequer têm voz. Ali<br />

onde os estudantes são 15%<br />

do conselho universitário, os<br />

funcionários são 15% e os<br />

professores são 70%, há uma<br />

ampla mobilização dos estudantes<br />

em um acampamento<br />

em frente à reitoria em um<br />

movimento pelo qual os estudantes<br />

reivindicam maioria<br />

estudantil no Conselho Universitário,<br />

contra a tentativa<br />

da universidade de impor, em<br />

contraposição a paridade, que<br />

é um invólucro para a mesma<br />

farsa.<br />

A luta pelo boicote às eleições<br />

farsa, chamada pelos elementos<br />

que foram o núcleo de<br />

todas as lutas da Unifesp durante<br />

um ano, é um marco histórico<br />

na luta dos estudantes<br />

brasileiros em geral contra a<br />

ditadura da burocracia universitária,<br />

instrumento dos<br />

capitalistas e dos governos<br />

burgueses.<br />

A política da<br />

esquerda<br />

pequenoburguesa<br />

de<br />

sustentação da<br />

ditadura burguesa<br />

dentro da<br />

universidade<br />

Em todas as universidades,<br />

a política da esquerda burguesa<br />

e pequeno-burguesa do<br />

Bando dos Quatro, PT,<br />

PCdoB, PSTU e Psol, tem sido<br />

a de participar do regime ditatorial<br />

na universidade, propondo,<br />

como isca para os estudantes,<br />

mudanças puramente<br />

formais no regime universitário.<br />

Estas mudanças estão representadas<br />

pela sua reivindicação<br />

de “paridade na eleição<br />

para reitor”, ou seja, na reivindicação<br />

de um regime eleitoral<br />

antidemocrático controlado<br />

pelos professores.<br />

Esta reivindicação mostra<br />

com clareza que a esquerda é<br />

parte da burocracia universitária,<br />

uma parte minoritária,<br />

que busca atrelar os estudantes<br />

ao regime burguês e ditatorial<br />

da universidade para<br />

aumentar o seu poder na luta<br />

contra a parcela majoritária da<br />

burocracia, ligada aos setores<br />

do grande capital.<br />

Que se trata de uma política<br />

que dá sustentação ao regime<br />

pode-se ver pelo fato de<br />

que a esquerda é partidária de<br />

todas estas eleições de comédia<br />

considerando a simples<br />

existência de tais eleições<br />

como uma grande conquista<br />

democrática.<br />

l:No caso da FFLCH o processo<br />

“eleitoral” só tem o sentido<br />

de disfarçar a escolha<br />

pré-estabelecida da maioria<br />

da burocracia universitária,<br />

uma vez que a a influência dos<br />

estudantes, funcionários e<br />

inclusive da maioria dos professores.<br />

A participação da esquerda<br />

na eleição, chamando os estudantes<br />

a votar em uma farsa<br />

tão grotesca indica que buscam<br />

atrelar o movimento de<br />

ocupação às instituições reacionárias<br />

da universidade<br />

para respaldar seus propósitos<br />

dentro do aparelho reacionário.<br />

Esta política deve ser amplamente<br />

repudiada, em particular<br />

pelo local onde ocorre.<br />

Para que o movimento estudantil<br />

seja vitorioso precisa<br />

romper completamente com a<br />

burocracia burguesa e ditatorial<br />

da universidade. Para<br />

romper com a burocracia e os<br />

governos é preciso romper<br />

completamente com a política<br />

burguesa e pequeno-burguesa<br />

do PT, PCdoB, PSTU e<br />

Psol.<br />

Abaixo a ditadura,<br />

por um governo<br />

democrático da<br />

universidade com<br />

a maioria<br />

estudantil<br />

O novo líder da burocracia da<br />

FFLCH foi escolhido pelos Conselhos<br />

Departamentais e pela<br />

Congregação da Faculdade,<br />

onde os professores contam<br />

com a quase totalidade dos votos<br />

sem qualquer interferência<br />

dos estudantes que, em número<br />

irrisório, referendaram a farsa<br />

e deram um cheque em branco<br />

para a Congregação da FFLCH<br />

escolher o candidato da maioria<br />

da burocracia.<br />

Está mais do que claro que o<br />

movimento estudantil da USP<br />

deve repudiar energicamente<br />

esta farsa grotesca que é uma<br />

miniatura do processo ditatorial<br />

com que toda a universidade<br />

é dirigida.<br />

Os estudantes devem reivindicar<br />

a eleição de todos os órgãos<br />

dirigentes, o governo tripartite,<br />

a maioria estudantil e a<br />

completa autonomia da universidade.<br />

A USP deve ser um terreno<br />

privilegiado para a luta para derrubar<br />

a ditadura que impera em<br />

todas as universidades do País<br />

e deve estar na dianteira desta<br />

luta como esteve em todos os<br />

momentos cruciais da vida política<br />

do país desde os anos 40.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA JUVENTUDE 14<br />

ACAMPAMENTO UNIFESP<br />

A farsa da unidade com os professores<br />

serve apenas como freio à luta estudantil<br />

A assembléia comunitária realizada na última semana<br />

deixa claro que não há como fazer uma unidade com os<br />

professores nos termos que eles querem. Os professores<br />

são base de sustentação da atual ditadura<br />

UNIFESP<br />

Cresce a campanha<br />

pelo boicote às<br />

eleições-farsa<br />

Os estudantes da Unifesp, em<br />

uma decisão que há muito não se<br />

via, decidiram boicotar as “eleições”,<br />

ou seja, a farsa eleitoral,<br />

para reitor da Unifesp.<br />

Na Unifesp, os estudantes e<br />

funcionários não podem apresentar<br />

candidatos, “votam” em<br />

um reitor e o seu voto somente<br />

valerá 15% do total, enquanto<br />

que o dos professores valerá<br />

70%.<br />

Mas isso não é tudo. Depois<br />

de “eleito” o reitor, esta eleição<br />

A questão do papel dos professores<br />

na universidade precisa<br />

ser debatida e esclarecida.<br />

Não dá para se confundir<br />

e os ver como aliados. Os professores,<br />

que inclusive são os<br />

únicos que podem se tornar<br />

reitor dentro do atual sistema,<br />

possuem inúmeros privilégios.<br />

Os professores são mais<br />

de 85% do Conselho Universitário<br />

(Consu), maior instância<br />

deliberativa da instituição.<br />

Dos 130 membros do Consu,<br />

111 são professores. A representação<br />

estudantil é composta<br />

por cinco alunos de graduação.<br />

Há também quatro representantes<br />

de pós-graduação<br />

e de três residentes, que na<br />

verdade estão mais vinculados<br />

aos professores que às necessidades<br />

da grande maioria dos<br />

estudantes. Ainda na representação<br />

dos funcionários são<br />

set,e “sendo no mínimo dois<br />

de nível superior.” § 3º - Seção<br />

I - Do Conselho Universitário<br />

do Estatuto da Unifesp.<br />

A chamada pela burocracia<br />

estudantil e universitária da<br />

assembléia comunitária realizada<br />

no dia 9 (terça-feira) foi<br />

a prova cabal de que é inviável<br />

uma unidade com os professores.<br />

Os professores procuram<br />

atacar de forma histérica<br />

para desmoralizar os estudantes<br />

em luta. Deram uma<br />

clara demonstração de que não<br />

são solidários à reivindicação<br />

e, muito menos, que querem<br />

uma mudança na estrutura da<br />

universidade.<br />

Os professores desde as<br />

primeiras denúncias de corrupção<br />

do ex-reitor apoiaram<br />

de forma quase incondicional<br />

é desconsiderada completamente<br />

e o Conselho Universitário,<br />

onde há também 70% de professores,<br />

“elege” uma lista tríplice<br />

que é enviada ao governo federal.<br />

Lula, que é o único eleitor real,<br />

escolhe o seu reitor.<br />

Para que a farsa?<br />

Para dar a pessoas como o<br />

defenestrado Ulisses Fagundes<br />

Neto, o apoio da comunidade<br />

universitária e dar a aparência de<br />

democracia ao processo mais<br />

Ulysses Fagundes Neto. Vale<br />

lembrar ainda que na comunidade<br />

universitária, são os professores,<br />

e apenas eles, que<br />

têm o poder de votar e de serem<br />

votados para os altos cargos,<br />

os únicos que de fato têm<br />

algum poder.<br />

O Conselho Universitário é<br />

uma fachada que, embora muito<br />

pouco democrática, encobre<br />

uma ditadura muito pior,<br />

que é a do governo federal e a<br />

indicação do reitor por Lula.<br />

Os professores são o setor<br />

mais atrelado ao estado e os<br />

que possuem os maiores privilégios<br />

na universidade. O<br />

próximo reitor que a burocracia<br />

universitária quer rapidamente<br />

eleger também é um<br />

professor.<br />

E em toda a história das universidades<br />

brasileiras estiveram<br />

no comando. São os responsáveis<br />

pelo atual regime e<br />

apóiam e dão sustentação a ele.<br />

Fica provado de forma concreta<br />

que não são capazes de<br />

garantir a autonomia da universidade,<br />

nem ao menos a<br />

antidemocrático que existe no<br />

país inteiro.<br />

Por isso, a luta dos estudantes<br />

contra as eleições e a favor<br />

do boicote não pára de crescer.<br />

Foi distribuído um manifesto e<br />

vários outros materiais estão<br />

sendo publicados.<br />

É preciso discutir esta questão<br />

com os estudantes e fazer<br />

com que a maioria dos estudantes<br />

não vá votar, reivindicando<br />

um novo regime de funcionamento<br />

da universidade.<br />

MOBILIZAÇÃO<br />

Funcionários denunciam favores<br />

entre sindicato e reitoria<br />

O acampamento em frente<br />

à reitoria têm servido como<br />

base de denúncias tanto de estudantes<br />

quanto de funcionários.<br />

Nestas semanas, vários funcionários<br />

se aproximaram dos<br />

estudantes para denunciar a<br />

corrupção da diretoria do sindicato<br />

e reitoria.<br />

Ao longo desses dias, funcionários<br />

se aproximaram do<br />

acampamento dos estudantes<br />

para denunciar as falcatruas do<br />

sindicato e outras arbitrariedades<br />

da reitoria.<br />

Os escândalos de corrupção<br />

do ex-reitor da Unifesp, Ulysses<br />

Fagundes Neto, esclareceram<br />

que a origem dos principais<br />

problemas da universidade é a<br />

maneira em que o poder da universidade<br />

é estruturado. Hoje o<br />

Conselho Universitário é dominado<br />

por uma minoria de professores<br />

que administram a universidade<br />

conforme seus próprios<br />

interesses e de outros<br />

grupos, como é o caso da diretoria<br />

do Sintunifesp (Sindicato<br />

dos funcionários da Unifesp),<br />

diretoria esta que esteve totalmente<br />

atrelada à reitoria de<br />

Ulysses.<br />

Nos próximos dias ocorrerão<br />

as eleições para o Sintunifesp,<br />

e foi justamente agora,<br />

com a movimentação que toda<br />

eleição provoca e a mobilização<br />

dos estudantes, que funcionários<br />

se sentiram à vontade para<br />

denunciar a atuação de seus “representantes”.<br />

A atual diretoria se vendeu<br />

por completo em suas duas<br />

gestões, e agora estão desesperados<br />

diante da oposição da própria<br />

base para tentar se eleger<br />

novamente. A primeira manobra<br />

foi abrir as inscrições individuais,<br />

ou seja, não se é apresentado<br />

nenhum programa para<br />

o sindicato, mas nomes conhecidos.<br />

Segundo os funcionários que<br />

se aproximaram do acampamento<br />

e vem apoiando os estudantes,<br />

este sindicato não representa<br />

a categoria, sendo seu<br />

único interesse o de, assim<br />

como o reitor, usar da entidade<br />

para atender seus próprios interesses.<br />

“Zezinho”, representante da<br />

categoria no Consu, também<br />

conhecido como “Zezinho Pelego”<br />

entre os funcionários, é<br />

quem denuncia os estudantes e<br />

funcionários em reuniões do<br />

Conselho. Sua proximidade<br />

com o reitor é tamanha que<br />

possui mais da metade de seus<br />

familiares “contratados” pela<br />

universidade.<br />

Os funcionários chegaram a<br />

denunciar que durante campanhas<br />

passadas que chamavam<br />

o “voto nulo” para as eleições do<br />

Sintunifesp, membros da gestão<br />

arrancavam seus cartazes,<br />

faziam chantagens psicológicas<br />

e se aliavam aos seguranças<br />

que, em alguns momentos, chegaram<br />

a ameaçar funcionários<br />

com revólveres.<br />

As principais figuras que<br />

procuram articular a base contra<br />

essa diretoria corrupta são<br />

ameaçadas o tempo todo. Alguns<br />

foram parar na psiquiatria<br />

por <strong>causa</strong> das chantagens psicológicas.<br />

Em troca disso, a<br />

diretoria do sindicato recebe<br />

privilégios da reitoria, como<br />

bolsa de estudos, a liberdade de<br />

trabalhar menos horas por semana<br />

e receber o dobro do que<br />

os demais servidores, além de<br />

transferência para outros setores<br />

etc.<br />

A atual gestão, que está totalmente<br />

de acordo com a reitoria,<br />

foi a responsável pela perda de<br />

direitos básicos dos trabalhadores<br />

da universidade, como a<br />

cesta básica e a cesta de natal.<br />

Além de não ter denunciado a<br />

reitoria acerca dos holerites que<br />

apresentavam duplo vínculo<br />

dos funcionários.<br />

Conceição, uma das diretoras<br />

do Sintunifesp, chegou a<br />

gritar num ato dos estudantes<br />

em frente ao Consu: “ -Seus<br />

oportunistas, na minha base<br />

vocês não irão mexer!” Ao<br />

mesmo tempo em que era protegida<br />

por um paredão de seguranças<br />

e entrava para a reunião<br />

do Conselho. O medo dela de<br />

“mexer” em sua base é devido<br />

à unidade que está sendo criada<br />

entre um setor ativo do movimento<br />

estudantil presente no<br />

acampamento e a oposição dos<br />

servidores.<br />

A atitude dos estudantes em<br />

acampar em frente à reitoria foi<br />

um espaço aberto para que os<br />

funcionários começassem a se<br />

articular também contra a maneira<br />

em que a universidade<br />

vem sendo conduzida. Em uma<br />

reunião entre funcionários e estudantes,<br />

com representantes<br />

dos funcionários, independentes<br />

do sindicato, aderiram à<br />

campanha pelo Boicote às Eleições<br />

e pelo Governo Tripartite<br />

proporcional, ou seja, com<br />

maioria estudantil.<br />

Somente uma mudança<br />

completa da estrutura de poder<br />

na universidade garantirá que<br />

suas reais necessidades sejam<br />

atendidas. Essa minoria de professores<br />

que controlam o Consu,<br />

controla também as entidades<br />

de representação, como é o<br />

caso do DCE e do Sintunifesp,<br />

que só conseguirão cumprir<br />

com seu papel quando a administração<br />

da universidade ficar<br />

sob os cuidados do setor menos<br />

vinculado a burocracia do Estado,<br />

ou seja, dos estudantes.<br />

A luta pelo Governo Tripartite<br />

com maioria estudantil deve<br />

ser em conjunto com os estudantes<br />

para que se faça uma<br />

frente contra toda a corja corrupta<br />

que utiliza do dinheiro<br />

destinado a saúde e educação<br />

para outros fins.<br />

A melhor infra-estrutura para<br />

o hospital, melhores condições<br />

de trabalho e um sindicato que<br />

realmente represente sua categoria<br />

só será possível quando<br />

estudantes, funcionários e professores<br />

participarem, de maneira<br />

proporcional, efetivamente<br />

da administração da universidade.<br />

As eleições para reitor, mais<br />

do qualquer outra, são uma farsa<br />

total. As eleições são apenas<br />

consultivas, ou seja, o resultado<br />

da votação é submetido ao<br />

veto do presidente da república<br />

e quem escolhe no final, independente<br />

das votações, é o<br />

Lula. E é considerando isso que<br />

os funcionários devem aderir à<br />

campanha que os estudantes<br />

estão puxando pelo boicote às<br />

eleições.<br />

qualidade de ensino e infra-estrutura.<br />

Desta maneira fica inviável<br />

manter a reivindicação estudantil<br />

e manter uma unidade<br />

com os professores.<br />

Unidade nesses termos, no<br />

que eles querem e em defesa<br />

de interesses próprios significa<br />

apenas a subordinação de<br />

estudantes e funcionários aos<br />

professores que já dominam a<br />

universidade, para que continuem<br />

dominando.<br />

Sem maioria<br />

estudantil,<br />

predomina quem<br />

tem força<br />

A proposta de uma Assembléia<br />

Comunitária para administrar<br />

a universidade é um<br />

abandono total da proposta de<br />

mudar o regime da universidade<br />

para uma reforma, que<br />

manterá tudo como está.<br />

Pela experiência dos estudantes<br />

na Unifesp e em todas<br />

as universidades do País e do<br />

mundo, fica claro que para<br />

mudar a administração da universidade<br />

é necessário quebrar<br />

o poder dos professores.<br />

Uma suposta “assembléia<br />

comunitária” ainda aprovaria<br />

as propostas quem tem aparelho<br />

e maior ligação com o estado.<br />

E ainda, como foi comprovado<br />

com a “assembléia<br />

comunitária” realizada na Unifesp<br />

que os professores se<br />

sentem a vontade para tripudiar<br />

os estudantes e suas reivindicações<br />

e ainda perseguir<br />

os alunos que se opuserem<br />

frontalmente às arbitrariedade<br />

e a posição dos professores.<br />

Os professores mais progressistas<br />

e que estão fora<br />

desta verdadeira máfia e também<br />

reivindicam a autonomia<br />

da universidade ou até uma<br />

maior democracia dentro da<br />

Acamamento de estudantes da Unifesp pelo boicote às<br />

eleições para reitor e por um governo dos três setores com<br />

maioria estudantil.<br />

mesma, não têm força contra<br />

a maioria direitista e só apoiando<br />

a luta dos estudantes e<br />

funcionários poderão alcançar<br />

seus objetivos.<br />

PELO PODER ESTUDANTIL NAS UNIVERSIDADES:<br />

Ampliar a mobilização e o<br />

acampamento na Unifesp<br />

Os estudantes da Unifesp<br />

mostram o caminho a ser seguido<br />

pelos estudantes em todo o<br />

País para superação da crise nas<br />

universidades.<br />

Os estudantes da Unifesp estão<br />

acampados em frente à reitoria<br />

há três semanas pela mudança<br />

profunda no regime da universidade<br />

que promove uma verdadeira<br />

catástrofe no ensino superior.<br />

Os estudantes reivindicam um<br />

governo tripartite e proporcional<br />

com maioria estudantil, único<br />

setor capaz de imprimir uma nova<br />

vida à universidade.<br />

O acampamento está na terceira<br />

semana e o acúmulo de discussão<br />

e a incorporação de novos estudantes<br />

e funcionários na defesa do<br />

boicote às eleições e pelo governo<br />

tripartite mostra que a mobilização<br />

é o correto a ser feito.<br />

Nesta semana a comissão de<br />

mobilização do acampamento<br />

realizou grupos de discussão<br />

MOBILIZAÇÃO ESTUDANTIL<br />

Veja material de campanha pelo<br />

boicote às eleições para reitor<br />

Nesta semana será lançado<br />

o adesivo da Campanha pelo<br />

boicote às eleições para reitor.<br />

A mobilização dos estudantes<br />

da Unifesp é uma<br />

questão de todo o movimento<br />

estudantil que é de<br />

mudança na estrutura de<br />

poder nas universidades. É<br />

necessário ampliar a campanha<br />

contra as eleiçõesfarsa<br />

para reitor divulgando<br />

com a impressão de<br />

cartazes e adesivos, dando<br />

maior cobertura e tornando<br />

público o urgente<br />

protesto contra a ditadura<br />

da burocracia<br />

universitária, que reprime<br />

e exclui a maioria<br />

e menos vinculada<br />

ao estado e privilégios<br />

das decisões<br />

na universidade. Os<br />

estudantes acampados<br />

fizeram também<br />

um blog com<br />

as informações<br />

do acampamento<br />

e de toda a mobilização.<br />

sobre a estrutura de poder na<br />

universidade e em que as conseqüências<br />

que vive a universidade<br />

como resultado da forma ditatorial<br />

que ela é hoje em Diadema,<br />

Santos, Guarulhos e São Paulo,<br />

no acampamento.<br />

O campus de Diadema discutiu<br />

também o problema que enfrentam<br />

de falta de laboratório na<br />

faculdade.<br />

O acampamento mostra que<br />

são os estudantes e não os professores<br />

que tomam para si a<br />

tarefa de mudar a universidade.<br />

A experiência do último período<br />

de lutas demonstrou acima de<br />

dúvidas que foram os estudantes,<br />

e não os professores ou os<br />

funcionários que levaram à frente<br />

as grandes mobilizações de<br />

2007 e agora de 2008, que defenderam<br />

a USP do ataque promovido<br />

pelo governo do Serra/<br />

PSDB contra a sua autonomia,<br />

que derrubaram o corrupto reitor<br />

Timothy Mulholland na UnB,<br />

Na última<br />

semana, a<br />

comissão de<br />

mobilização do<br />

Acampamento<br />

dos estudantes da<br />

Unifesp<br />

organizou um<br />

blog com as<br />

informações da<br />

luta que estão<br />

travando contra a<br />

burocracia<br />

universitária e<br />

pela mudança na<br />

estrutura de poder<br />

da universidade.<br />

que enfrentaram Fagundes Neto<br />

a uma situação insustentável que<br />

resultou em sua renúncia e que<br />

ameaçam todos os corruptos de<br />

verem suas reitorias ocupadas<br />

em defesa da universidade pública<br />

em todo o País.<br />

A defesa de um governo tripartite<br />

e proporcional, com maioria<br />

estudantil para a administração da<br />

universidade é a única via para a<br />

preservação das próprias universidades<br />

A pressão pela privatização da<br />

educação superior no Brasil se<br />

expressa no corte das verbas e,<br />

em geral, na situação decadente<br />

das instituições que vivem às<br />

voltas com inúmeros problemas<br />

de infra-estrutura.<br />

Os estudantes da Unifesp devem<br />

fortalecer e ampliar o único<br />

foco de resistência à total bandalheira<br />

que a burocracia universitária<br />

quer restabelecer, que é o<br />

acampamento e organizar o boicote<br />

às eleições que irá desmoralizar<br />

completamente esta farsa.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA JUVENTUDE 15<br />

ACAMPAMENTO UNIFESP<br />

Não à punição dos estudantes que estão em<br />

luta para derrotar a ditadura na universidade<br />

A sindicância contra os estudantes que ocuparam a<br />

reitoria é para tentar calar os que se opõem às eleiçõesfarsa<br />

e querem acabar com este regime de corrupção<br />

e ditadura da burocracia universitária<br />

Nesta segunda-feira, cerca de<br />

dez estudantes da Unifesp (Universidade<br />

Federal do Estado de<br />

São Paulo) receberam uma intimação<br />

para depor em uma comissão<br />

interna para apuração e punição<br />

pela ocupação da reitoria<br />

ocorrida em junho deste ano,<br />

contra o corrupto ex-reitor, Ulysses<br />

Fagundes Neto. Há ainda mais<br />

de vinte estudantes que participaram<br />

da ocupação da reitoria no dia<br />

14 de junho, após uma série de<br />

denúncias de desvio de verba,<br />

que serão intimados.<br />

A festa com o dinheiro da<br />

universidade de milhões do orçamento<br />

pôs às claras o porquê de<br />

não haver dinheiro para a biblioteca,<br />

restaurante universitário,<br />

professores e até internet, como<br />

no campus de São José dos Campos,<br />

no curso de Ciência da computação<br />

(!).<br />

Ação da covarde<br />

burocracia<br />

universitária<br />

A burocracia universitária que<br />

controla com mãos de ferro a universidade<br />

em defesa de seus privilégios,<br />

contra a maioria da comunidade<br />

acadêmica, quer atacar<br />

a mobilização dos estudantes que<br />

estão lutando pela mudança da<br />

estrutura da universidade.<br />

Esta é a segunda sindicância<br />

contra os estudantes que estão<br />

em luta em defesa da universidade<br />

pública, em um ano. Tudo<br />

para camuflar e tentar abafar a<br />

calamidade em que se encontra<br />

a instituição e o mar de lama em<br />

que estão todos envolvidos.<br />

O que está por trás<br />

da repressão<br />

A burocracia universitária da<br />

Unifesp está visivelmente em<br />

crise. O ex-reitor Fagundes Neto<br />

teve que renunciar ao cargo,<br />

tamanha a desmoralização e crise<br />

institucional.<br />

Agora, os cúmplices da bandalheira<br />

querem desesperadamente<br />

realizar o novo processo<br />

eleitoral e colocar um novo “Fagundes”<br />

no controle da universidade.<br />

No entanto, está claro<br />

que não é um problema pessoal<br />

e sim de sistema estabelecido na<br />

universidade, em que o reitor tem<br />

um poder quase monárquico,<br />

sustentado pelos professores,<br />

que também se beneficiam.<br />

Os estudantes, no entanto,<br />

não irão aceitar esta enganação,<br />

uma verdadeira operação-abafa<br />

com uma suposta eleição. Os estudantes<br />

querem de fato uma mudança<br />

na estrutura de poder das<br />

decisões administrativas, reivindicam<br />

uma verdadeira autonomia<br />

universitária com o autogoverno<br />

dos três setores proporcionalmente,<br />

ou seja, com maioria estudantil<br />

nos órgãos deliberativos<br />

da universidade.<br />

O acampamento está sendo<br />

realizado pelos estudantes desde<br />

o dia 25 de agosto, dia em que o<br />

reitor renunciou, e é a expressão<br />

material de toda a insatisfação dos<br />

estudantes e funcionários com a<br />

sua exclusão de todas as decisões<br />

da universidade.<br />

Há, por isso, uma operação<br />

clara da direita contra esta mobilização<br />

para tentar manter a ditadura<br />

dos professores titulares,<br />

que controlam mais de 85% do<br />

Conselho Universitário, procurando<br />

dispersar os estudantes<br />

que estão criticando esta estrutura.<br />

Ameaçaram os estudantes<br />

que estavam em greve com retaliação<br />

acadêmica e agora tentam<br />

criar um clima de terror entre<br />

os estudantes ameaçando de<br />

punição com a expulsão. Querem<br />

reeditar a “lei da mordaça”, em<br />

que não se pode sequer criticar<br />

a forma de organização da universidade.<br />

Os estudantes não devem<br />

recuar na mobilização e integrar<br />

a campanha pelo boicote às eleições<br />

para reitor a defesa dos<br />

estudantes perseguidos pela desmoralizada<br />

e corrupta burocracia<br />

universitária.<br />

PERSEGUIÇÃO AO MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />

Sindicância na Unifesp: “recursos para<br />

conter nossa força e nosso potencial”<br />

O Causa Operária Notícias<br />

online, no acampamento dos<br />

estudantes da Unifesp, coletou<br />

depoimentos sobre o fato de a<br />

sindicância contra os estudantes<br />

que ocuparam a reitoria estar<br />

ocorrendo durante o acampamento<br />

que realiza a campanha<br />

pelo boicote às eleições para<br />

reitor e mudança na estrutura da<br />

universidade com o controle<br />

estudantil<br />

R. – Ciências<br />

Sociais, intimado<br />

para depor em<br />

Comissão<br />

Disciplinar,<br />

baseado no Código<br />

de ética da<br />

Unifesp.<br />

“Eu participei da ocupação da<br />

reitoria. O que a gente pode ver<br />

hoje estão tentando desmobilizar<br />

a gente de todas as formas.<br />

Querendo jogar o processo de<br />

depredação nas nossas costas,<br />

sendo que foram os policiais que<br />

quebraram tudo, onde eu estava<br />

chegaram quebrando xícaras,<br />

prato só para depois colocar a<br />

culpa em nós e desmobilizar o<br />

nosso movimento.<br />

“E ao invés de trazer o pessoal<br />

que está indo para as aulas para<br />

o acampamento, estão fazendo<br />

isso justamente para criminalizar<br />

os atos políticos e as manifestações<br />

contra a reitoria.<br />

“A partir do momento que<br />

chegou a polícia, eles estavam no<br />

controle, mas mesmo assim<br />

quiseram partir para a agressão.<br />

Gritar, dar tapa na cara. Na cozinha<br />

mesmo botaram o revolver<br />

na cabeça de um brother nosso.<br />

Fizeram “corredor polonês”.<br />

No caminho até a delegacia,<br />

dentro da viatura, jogaram spray<br />

de pimenta até chegar à delegacia.<br />

Fora o que meus outros amigos<br />

contam, coisas piores ainda<br />

do eu passei.<br />

Marcele,<br />

estudante do<br />

segundo ano de<br />

filosofia Unifesp<br />

Guarulhos<br />

“Primeiro a reitoria estava agindo<br />

como se nada estivesse acontecendo,<br />

como se o acampamento<br />

não estivesse significando nada.<br />

Só que na verdade significa porque<br />

os estudantes estão aqui mostrando<br />

que não estão contentes<br />

com tudo que está acontecendo.<br />

Agora eles abriram o processo de<br />

sindicância referente a ocupação<br />

que nós tentamos fazer na reitoria<br />

e eles estão caindo em cima dos<br />

estudantes, principalmente dos<br />

estudantes que estão acampados<br />

aqui . Eu acredito que o jogo político<br />

deles é esse agora. É a repressão<br />

vir para tentar desmobilizar<br />

o acampamento. Porque aqui<br />

nós estamos conseguindo mobilizar<br />

não só os estudantes como<br />

também os funcionários e isso<br />

está mexendo na ferida, porque<br />

além das denúncias, que já passaram<br />

na televisão e saíram no jornal<br />

e as reivindicações dos estudantes,<br />

os funcionários acharam<br />

um espaço para fazer as denúncias<br />

deles. E o negócio aqui é muito<br />

mais podre do que a gente achava<br />

e eles estão percebendo esta articulação<br />

e acho que isso deve estar<br />

deixando eles meio desesperados,<br />

principalmente por <strong>causa</strong> desta<br />

articulação com os funcionários.<br />

Então eles estão querendo desmobilizar<br />

o acampamento de qualquer<br />

forma. (...) Os seguranças ficam<br />

olhando, tentando achar alguma<br />

coisa para criminalizar o<br />

acampamento e esta sindicância<br />

caiu perfeita para eles. Na verdade,<br />

eles tinha deixado o negócio<br />

quieto, porque não tinham condições<br />

de fazer nada com tudo que<br />

estava acontecendo na reitoria. Só<br />

que agora com o acampamento,<br />

a gente está colhendo frutos desta<br />

mobilização eles estão caindo<br />

em cima.<br />

“Foi tirado um indicativo de<br />

ocupação numa assembléia em<br />

São Paulo com mais de 400 estudantes.<br />

A gente decidiu fazer<br />

esta ocupação, porque não é<br />

novidade para ninguém que os estudantes<br />

não têm poder de decisão<br />

no Conselho Universitário,<br />

não tem voz em lugar nenhum,<br />

se não for através da ação direta<br />

eles nunca vão prestar atenção no<br />

que a gente está falando, nunca<br />

vão parar para escutar estudante.<br />

Então acho que um dos principais<br />

instrumentos de luta dos<br />

estudantes é a ocupação da reitoria,<br />

onde você ataca o coração<br />

da administração da universidade<br />

e os caras são obrigados a<br />

parar e te escutar. Ou são repressores<br />

como na maioria dos casos,<br />

como foi o nosso caso aqui,<br />

que em vinte minutos, mandaram<br />

a polícia militar para invadir o<br />

prédio, coisa que não poderia<br />

porque o prédio é federal, mas a<br />

desculpa que deram é que o reitor<br />

estava no prédio da reitoria no<br />

momento da ocupação e detalhe<br />

é que a ocupação foi feita numa<br />

sexta-feira a uma hora da manhã,<br />

agora o que ele estava fazendo<br />

dentro da reitoria sabe-se lá.<br />

Detalhe também é que um dia<br />

antes a policia federal tinha vindo<br />

na universidade e levado coisas.<br />

Ele deveria estar lá dentro<br />

queimando o que sobrou. E realmente<br />

o reitor estava lá dentro,<br />

porque os estudantes do lado de<br />

fora viram a polícia tirando o reitor<br />

do prédio. O fato é que por<br />

isso, a polícia pode entrar no prédio<br />

e assim, não é novidade para<br />

ninguém que os caras são uns<br />

animais. Eles entraram, quebram<br />

tudo, bateram nos estudantes que<br />

estavam lá. Fizeram os estudantes<br />

ajoelharem nos cacos, quebravam<br />

a janela com a cabeça dos<br />

estudantes. Tortura mesmo rolou<br />

dentro da ocupação. Uma manifestação<br />

legítima dos estudantes<br />

e esta foi a atitude da polícia<br />

que eles tentam encobrir.<br />

“Em uma manifestação que fizemos<br />

aqui contra o Reuni na<br />

reunião do Conselho Universitário,<br />

que foi convocada de forma<br />

extraordinária para poder passar<br />

a questão do Reuni sem ninguém<br />

estar sabendo, decidimos fazer<br />

uma manifestação e exigir um diálogo.<br />

Nem era para que a universidade<br />

a partir daquele momento<br />

não aceitasse o Reuni, mas<br />

que tivesse uma discussão. Os<br />

DITADURA DA BUROCRACIA UNIVERSITÁRIA<br />

Militantes da AJR são impedidos de<br />

distribuir panfletos na FFLCH-USP<br />

No dia 18 de setembro, à noite,<br />

os estudantes e militantes da<br />

Aliança da Juventude Revolucionária<br />

(juventude do <strong>PCO</strong>) que<br />

distribuíam o Boletim Nacional da<br />

AJR na Faculdade de Filosofia,<br />

Letras e Ciências Humanas (FFL-<br />

CH) foram reprimidos pela guarda<br />

universitária.<br />

Os chefes da segurança ameaçaram<br />

os estudantes afirmando<br />

que se continuassem a panfletagem<br />

seria chamada a força policial,<br />

que os levariam para fazer<br />

um Boletim de Ocorrência por<br />

infringir supostas regras da universidade.<br />

Pensar e ser crítico não<br />

são “regras universitárias”?<br />

Segundo a tropa de choque da<br />

reitoria contra os estudantes, para<br />

divulgar qualquer idéia na universidade<br />

é preciso da autorização da<br />

diretoria da faculdade. Então, evidentemente,<br />

só pode falar o que a<br />

diretoria da faculdade tem acordo.<br />

A repressão vista nesta semana<br />

na Universidade de São Paulo<br />

foi um ataque claramente político.<br />

O boletim divulga a mobilização<br />

da Unifesp pela mudança na<br />

estrutura da universidade, por um<br />

autogoverno dos três setores:<br />

professores, funcionário e uma<br />

maioria de estudantes. No boletim<br />

é feita a avaliação de que os estudantes<br />

da Unifesp mostram o<br />

caminho para o movimento estudantil<br />

de todo o País e que é necessário<br />

que os estudantes tenham<br />

o controle da administração,<br />

financeira e pedagógica da universidade.<br />

É a volta da censura, mesmo<br />

estando em um sistema supostamente<br />

democrático.<br />

A burocracia universitária, para<br />

continuar a bandalheira com o<br />

dinheiro público e com imensos<br />

privilégios, tenta impor um clima<br />

de terror e até a transformação da<br />

universidade em um verdadeiro<br />

campo de concentração, em que<br />

é proibida a reunião para uma discussão,<br />

para uma confraternização,<br />

ou seja, é proibido qualquer<br />

ação estudantil! E muito menos política.<br />

Deve-se obedecer de forma<br />

resignada todos os desmandos e<br />

destruição feita pela burocracia<br />

universitária e pelo governo.<br />

Cerca de vinte estudantes cercaram<br />

os seguranças reivindicando<br />

a liberdade de expressão e<br />

organização dos estudantes, contra<br />

a proibição da distribuição dos<br />

panfletos. Segundo os chefes da<br />

segurança, podem circular apenas<br />

os panfletos de entidades ligadas<br />

à instituição, como o Diretório<br />

Central dos Estudantes, o<br />

que causou revolta entre os presentes.<br />

Quer dizer, a reitoria só dá<br />

estudantes que são os maiores<br />

prejudicados com este programa<br />

do governo, nem estavam informados<br />

disso. A gente só veio<br />

pedir um diálogo.<br />

“E aí os seguranças a mando<br />

da reitoria, partiram para cima da<br />

gente. Um amigo ficou ferido, foi<br />

para o hospital São Paulo e não<br />

foi atendido no hospital São Paulo,<br />

foi negado o atendimento para<br />

ele e fomos para a delegacia fazer<br />

o boletim de ocorrência e só<br />

dois estudantes puderam fazer.<br />

E uns 20 minutos depois que estávamos<br />

lá, os seguranças chegaram<br />

entram na delegacia. São<br />

todos amiguinhos... tem vários<br />

ex-policiais aqui. Fizeram um boletim<br />

de ocorrência contra a<br />

gente. Como se a gente tivesse<br />

Estudantes no atual acampamento da Unifesp.<br />

agredido eles. Eles estavam com<br />

o nosso megafone que não devolveram,<br />

alegaram que a gente<br />

tinha batido neles com megafone,<br />

uma mentira.<br />

Marcos Vinicius,<br />

curso de Ciências<br />

Sociais<br />

“Esta é uma atitude autoritária<br />

e reacionária e mostra que a<br />

gente representa certa ameaça ao<br />

poder instituído na Unifesp e eles<br />

se utilizam de certos recursos<br />

para conter nossa força e nosso<br />

potencial. A sindicância é a repressão<br />

de uma maneira geral.<br />

“Nós chegamos no prédio e o<br />

prédio estava em construção e<br />

existiam locais no prédio com<br />

materiais de ferro e coisas deste<br />

tipo e nós fomos recebidos pelos<br />

seguranças alguns instrumentos<br />

como este. A polícia nos<br />

torturou, não daquela maneira<br />

que ouvimos falar, mas da maneira<br />

dela. Utilizou de uma força<br />

completamente desnecessária e<br />

demasiada. As meninas foram<br />

humilhadas, os meninos apanharam<br />

muito, foi usado gás de pimenta<br />

exageradamente, o tempo<br />

todo. Muita pressão psicológica.<br />

o aval para seus pupilos do DCE,<br />

pois todo mundo sabe que a diretoria<br />

do DCE, o Psol, não tem<br />

nenhum vínculo com o movimento<br />

real dos estudantes e suas necessidades.<br />

No maior movimento<br />

dos últimos anos, que despertou<br />

um movimento nacional, a<br />

ocupação da reitoria da USP, o<br />

Psol foi o representante das posições<br />

da reitoria, atacando a mobilização<br />

e defendendo o acordofarsa<br />

para acabar com o movimento<br />

e estancar a crise.<br />

Os militantes da AJR passaram<br />

em todas as salas de aula do prédio<br />

das Ciências Sociais e Filosofia<br />

denunciando a ação repressiva<br />

da guarda universitária e chamando<br />

os estudantes a apoiar a manutenção<br />

da panfletagem que foi<br />

realizada também na saída da aula.<br />

É necessário organizar uma<br />

ampla campanha contra a repressão<br />

na USP que, durante as<br />

férias, instalaram mais de 80 câmeras<br />

modernas, gastando 2,5<br />

mil reais para registrar todos os<br />

passos dos estudantes. Agora<br />

querem impedir que os estudantes<br />

discutam idéias e distribuíam<br />

panfletos.<br />

UNIFESP<br />

Militante da AJR é<br />

intimado para depor em<br />

sindicância por ato político<br />

O companheiro Alexandre<br />

foi intimado a depor em uma<br />

comissão disciplinar por ser<br />

militante político e representar,<br />

assim como o conjunto<br />

dos estudantes em luta, uma<br />

ameaça ao regime dentro da<br />

universidade.<br />

Em junho deste ano, cerca<br />

de 50 estudantes da Unifesp<br />

ocuparam a reitoria<br />

contra o corrupto agora, exreitor,<br />

da Unifesp, Ulysses<br />

Fagundes Neto.<br />

A corrente nacional do<br />

movimento estudantil Aliança<br />

da Juventude Revolucionária<br />

(AJR, juventude do<br />

<strong>PCO</strong>) participou em todo País<br />

de inúmeras campanhas de<br />

denúncias de corrupção e<br />

total desmonte realizado pela<br />

burocracia universitária nas<br />

universidades. Na Unifesp<br />

não foi diferente.<br />

O militante da AJR, companheiro<br />

Alexandre Alves,<br />

esteve sempre à frente, junto<br />

com os demais estudantes<br />

combativos, das mobilizações<br />

desde a ocupação da Diretoria<br />

Acadêmica em 2007<br />

contra a repressão e a ditadura<br />

do Conselho Universitário<br />

em aprovar o Reuni.<br />

Desta ocupação, resultou<br />

na sindicância que aplicou a<br />

punição, inclusive a Alexandre,<br />

de forma totalmente irregular,<br />

com base nas informações<br />

pegas com a Polícia<br />

Federal para punir os estudantes,<br />

momento em que a<br />

reitoria teve que recuar.<br />

Agora novamente a carrasca<br />

reitoria quer punir os<br />

estudantes em luta contra a<br />

ditadura existente na universidade<br />

que exclui toda a comunidade<br />

acadêmica, em especial<br />

os estudantes, das decisões.<br />

Enquanto os campi da Unifesp<br />

sofrem com a falta de<br />

estrutura, a reitoria da Unifesp<br />

está mergulhada nas denúncias<br />

de corrupção, em<br />

que o reitor renunciou para<br />

tentar abafar o escândalo que<br />

envolve a todos. A unidade de<br />

São José dos Campos, que<br />

oferece cursos de ciência da<br />

computação, não tem computadores<br />

suficientes e sequer<br />

internet. Para esse e outros<br />

como o campus de Guarulhos,<br />

não há restaurante<br />

universitário ou moradia estudantil,<br />

além de muitos outros<br />

problemas.<br />

Com as denúncias, fica<br />

claro que, no entanto, dinheiro<br />

não falta.<br />

Quando os estudantes, em<br />

ato político, contra a destruição<br />

da universidade e a total<br />

farra com o dinheiro público,<br />

ocuparam a reitoria, a polícia<br />

e a guarda universitária agrediram<br />

os estudantes brutalmente,<br />

quebrando pratos,<br />

portas e lançando coisas em<br />

cima dos estudantes, além de<br />

apontar armas de fogo.<br />

O companheiro Alexandre<br />

foi intimado a depor em uma<br />

comissão disciplinar por ser<br />

militante político e representar,<br />

assim como o conjunto<br />

dos estudantes em luta, uma<br />

ameaça ao regime dentro da<br />

universidade.<br />

A punição é baseada em<br />

um regimento totalmente retrógrado<br />

e ditatorial:<br />

“Artigo 168 - São passíveis<br />

de punição as irregularidades<br />

praticadas no recinto<br />

da Universidade, bem como<br />

em locais, situações ou atividades<br />

que envolvam a Unifesp.<br />

Artigo 169 - Em quaisquer<br />

casos será assegurado ao aluno<br />

o direito de defesa, ficando,<br />

todavia impedido de pedir<br />

transferência até decisão<br />

definitiva do procedimento<br />

disciplinar, ou do cumprimento<br />

da pena de suspensão.<br />

Artigo 170 - A defesa será<br />

produzida por escrito, dentro<br />

de cinco dias úteis após a citação.<br />

§ 1º - A citação será efetuada<br />

através de mandado expedido<br />

pela autoridade competente.<br />

§ 2º - No caso de recusa do<br />

aluno em apor ciente no mandado<br />

de citação, o fato deverá<br />

ser testemunhado por duas<br />

pessoas que assinarão em lugar<br />

próprio.<br />

§ 3º - Se o aluno não apresentar<br />

defesa, será considerado<br />

revel.<br />

Artigo 171 - As penalidades<br />

deverão ser registradas<br />

no prontuário do aluno.<br />

Artigo 172 - Os recursos<br />

contra penalidades aplicadas<br />

serão interpostos aos Conselhos<br />

competentes, obedecidos<br />

os preceitos contidos nos<br />

incisos X do artigo 6º, IV do<br />

artigo 18 e VIII do artigo 22,<br />

todos do Estatuto.<br />

Artigo 173 - As sanções<br />

referidas neste Título não<br />

isentarão o infrator da responsabilidade<br />

civil ou criminal<br />

em que haja incorrido.<br />

Artigo 174 - O aluno que<br />

estiver cumprido a penalidade<br />

de suspensão somente<br />

poderá receber o diploma<br />

após o integral cumprimento<br />

da pena.<br />

Parágrafo único - A outorga<br />

de diploma não isentará da<br />

correspondente indenização<br />

o aluno que causou dano ao<br />

patrimônio da Universidade.<br />

São normas tão vagas que<br />

poderiam ser utilizadas contra<br />

qualquer estudante que<br />

desejassem expulsar.<br />

As punições previstas para<br />

essas infrações, que fica a<br />

cargo da burocracia universitária<br />

decidir, vão de advertência<br />

a desligamento da universidade.<br />

A defesa do companheiro<br />

Alexandre, assim como<br />

dos demais estudantes que<br />

estão em luta contra o regime<br />

da universidade é fundamental<br />

para todas as lutas<br />

dentro da universidade. Os<br />

estudantes devem ter o direito<br />

de se manifestar e expressar<br />

livremente. Os estudantes<br />

não devem recuar<br />

nenhum passo, pois este ataque<br />

da reitoria é justamente<br />

pelo impacto que o acampamento,<br />

que tem como reivindicação<br />

a importante defesa<br />

para o movimento estudantil<br />

nacional do governo<br />

tripartite e proporcional<br />

com maioria estudantil, a<br />

única via para acabar com a<br />

ditadura imposta nas universidades,<br />

que impõe a<br />

censura e a repressão.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA TEORIA 16<br />

70 ANOS DA FUNDAÇÃO DA IV INTERNACIONAL<br />

A ruptura no bloco da ala direita<br />

Publicamos nesta edição a penúltima parte da tradução<br />

inédita em português do folheto escrito pelo trotskista<br />

norte-americano Max Shachtman sobre os primeiros<br />

anos da oposição dirigida por Trótski no Partido<br />

Comunista da União Soviética e na Internacional e que<br />

lançou as bases para a fundação da IV Internacional<br />

A luta travada em escala internacional<br />

contra a Oposição<br />

de Esquerda foi dirigida conjuntamente<br />

pela fração centrista e<br />

a ala direita. Em suas tentativas<br />

de derrubar a ala marxista da<br />

Internacional, nenhuma distinção<br />

podia ser percebida entre<br />

Brandler e Thälmann, Jilek e<br />

Gottwald, Sellier e Thorez,<br />

Lovestone e Foster, Kilboon e<br />

Silen. Esta unidade era simbolizada<br />

pela combinação de Stálin<br />

com Bukhárin que estabeleceram<br />

a si mesmos como a “incorruptível<br />

velha guarda leninista”.<br />

Não era uma unidade fictícia.<br />

Em todas as questões de política<br />

internacional e doméstica,<br />

de princípio e táticas, estas duas<br />

alas do bloco dirigente possuíam<br />

uma visão comum. Eles<br />

caminhavam de mãos dadas<br />

contra o “trotskismo”, e de<br />

mãos dadas com Purcell e Chiang<br />

Kai-shek. Defenderam juntos<br />

a teoria do socialismo em um<br />

só país, dos “partidos de duas<br />

classes, de operários e camponeses”.<br />

Introduziram conjuntamente<br />

o programa revisionista<br />

adotado pelos delegados ao<br />

Sexto Congresso do Comintern<br />

em 1928.<br />

Mas, ao final de 1927, a maré<br />

montante da reação que havia<br />

levado o regime ao poder estava<br />

dando margem a uma guinada<br />

à esquerda nas fileiras do<br />

proletariado internacional. Na<br />

própria Rússia, o “levante culaque<br />

incruento” de 1928 teve um<br />

efeito moderador sobre os operários<br />

e eles começaram a pressionar<br />

a direção para voltaremse<br />

para a esquerda. Foi nesta atmosfera<br />

que Stálin foi compelido<br />

a mudar a direção na qual<br />

vinha navegando há cinco anos.<br />

Iniciando cuidadosamente com<br />

um ataque sobre representantes<br />

obscuros da ala direita, ele conseguiu<br />

retirar o apoio desta tão<br />

rapidamente que foi capaz de,<br />

em 1929-1930, fazer um ataque<br />

frontal sobre sua verdadeira liderança:<br />

Rikov, Bukhárin e<br />

Tomski.<br />

Para um público comunista<br />

estupidificado pelo inesperado<br />

ataque, os três líderes da ala<br />

direita foram apresentados por<br />

Stálin como os porta-bandeiras<br />

da restauração capitalista. O<br />

presidente da Internacional<br />

Comunista, o cabeça do governo<br />

soviético, e o dirigente dos<br />

sindicatos soviéticos foram<br />

apresentados por Stálin como<br />

agentes da contra-revolução<br />

termidoriana! Mas foi precisamente<br />

este “trio” com o qual<br />

Stálin manteve por cinco ou seis<br />

anos a mais íntima, “indissolúvel”,<br />

aliança contra a ala esquerda<br />

do partido.<br />

Se a acusação da ala direita<br />

por Stálin tivesse qualquer significado<br />

– e tinha – era, ao<br />

mesmo tempo, o indiciamento<br />

devastador da própria facção<br />

centrista. Que apelo poderia<br />

fazer ao bolchevismo quando<br />

esteve assumidamente em uma<br />

solidariedade indistinguível por<br />

meia década com os restauracionistas?<br />

Onde em toda a história<br />

poderia uma posição ser<br />

apontada como sendo uma tendência<br />

genuinamente revolucionária<br />

tendo participado de um<br />

bloco inseparável com outra<br />

tendência que, dentro de virtualmente<br />

vinte e quatro horas, se<br />

tornou uma campeã da reação<br />

negra?<br />

Dado o fato de que ambas as<br />

seções da direção tinham uma<br />

base de princípios comuns,<br />

dado o fato de que para cortar<br />

a ala direita, Stálin teve que<br />

emprestar copiosamente do<br />

arsenal ideológico da Oposição<br />

de Esquerda (a ala direita não<br />

hesitou em acusá-lo de<br />

“trotskismo” bem como<br />

Trótski previu em 1926!), a<br />

campanha de Stálin contra a ala<br />

direita serviu ao mesmo tempo<br />

como uma auto-revelação mortal<br />

do centrismo, e um tributo<br />

involuntário à justiça de toda a<br />

luta da Oposição.<br />

Não esqueçamos que todo o<br />

décimo quinto congresso do<br />

partido russo condenou os oposicionistas<br />

como fomentadores<br />

do medo por alertar contra o<br />

crescente perigo culaque. Exatamente<br />

quando Rikov provocava<br />

a Oposição com a questão:<br />

se o culaque é tão perigoso, por<br />

que não nos pregou uma peça<br />

ainda? – Molotov afirmava impacientemente<br />

em dezembro de<br />

1927 que o culaque não era nada<br />

de novo, que não havia necessidade<br />

para alarme ou qualquer<br />

outras medidas especiais além<br />

das que já estavam em marcha.<br />

Todos “concordam”, argumentava<br />

Molotov, que insistentemente<br />

minimizava a magnitude<br />

dos fazendeiros exploradores,<br />

“que existe, e não há necessidade<br />

de se falar disso”.<br />

Apenas algumas breves semanas<br />

depois a União Soviética<br />

foi violentamente sacudida por<br />

uma demonstração de tremendo<br />

poder que os culaques vinham<br />

açambarcando enquanto<br />

Bukhárin-Stálin-Molotov-Rikov<br />

os vinham encobrindo das críticas<br />

de Trotski. Em janeiro de<br />

1928, logo após o congresso e<br />

reforçados por seu sucesso em<br />

conseguir a eliminação da ala<br />

esquerda do partido, os culaques<br />

se levantaram no que ficou conhecido<br />

como sendo seu “levante<br />

incruento”. Poderosos e<br />

confiantes, se recusaram a entregar<br />

seus estoques de grãos<br />

colhidos e, com efeito, declararam:<br />

a menos que o poder soviético<br />

ceda às nossas reivindicações<br />

por preços mais altos do<br />

que aqueles fixados pelo estado<br />

proletário, manteremos nossos<br />

estoques cheios e levaremos à<br />

fome as cidades, os centros<br />

operários, à submissão!<br />

Sua resistência era tão efetiva<br />

e alarmante que pela primeira<br />

vez em muitos e muitos anos,<br />

os sovietes foram compelidos a<br />

requerer os grãos dos vilarejos<br />

pela força armada. Toda a filosofia<br />

oficial do “enriqueceivos!”,<br />

o pernicioso auto-consolo<br />

sobre a insignificância do<br />

culaque, a perseguição raivosa<br />

à Oposição por seus freqüentes<br />

alertas, foram agora rasgados<br />

em pedaços. O espírito revolucionário<br />

de uma classe <strong>operária</strong><br />

agora alarmada, que não tinha,<br />

de jeito nenhum, eliminado inteiramente<br />

pela campanha contra<br />

a Oposição, forçou seu caminho<br />

a pesar dos obstáculos colocados<br />

à sua frente pelo regime burocrático.<br />

Foi esta pressão de<br />

baixo que deu o impulso real para<br />

a ruptura do até então sólido<br />

bloco de centro-direita. Esta<br />

revolta ainda não clara contra a<br />

linha anterior de ceder aos elementos<br />

capitalistas dentro e fora<br />

do país, atirou o elmo fora das<br />

mãos da direita e forçou uma<br />

mudança no rumo.<br />

Sobre a base desta corrente<br />

de esquerda nas massas, a facção<br />

stalinista abriu uma nova<br />

fase de seu desenvolvimento, o<br />

“terceiro período” de suas trapalhadas<br />

em uma escala soviética<br />

e internacional. Este vôo de<br />

burocratas assustados das fileiras<br />

do oportunismo de ontem<br />

para o uma posição aventureira<br />

está contido no que se tornou<br />

conhecido como o “terceiro<br />

período”.<br />

O período definido arbitrariamente<br />

não começa na história<br />

do Comintern com a sua proclamação<br />

no Sexto Congresso,<br />

mas mesmo mais definidamente<br />

na nona plenária da IC no início<br />

de 1928. Àquela época os<br />

primeiros sinais de um novo<br />

ascenso operário na Europa<br />

podiam ser detectados, mas<br />

apenas os primeiros sinais. O<br />

voto nos partidos comunistas,<br />

particularmente na Alemanha,<br />

estava crescendo, mas com ele<br />

também os votos dados à social<br />

democracia. Em um número<br />

de outros países, no entanto, a<br />

classe <strong>operária</strong> estava ainda se<br />

contorcendo com a dor de uma<br />

derrota não superada, como na<br />

China, ou estava passiva sob os<br />

efeitos soporíferos de um boom<br />

econômico temporário, como<br />

na França e nos Estados Unidos.<br />

A nona plenária, ao invés de<br />

estabelecer a etapa precisa do<br />

desenvolvimento do movimento<br />

operário internacional, proclamou<br />

a ascensão de uma<br />

A Décima Plenária foi a reductio ad absurdum do Sexto<br />

Congresso com um número de novidades acrescentadas por<br />

Stálin e Molotov por sua própria conta.<br />

OS 10 PRIMEIROS ANOS DA OPOSIÇÃO DE ESQUERDA<br />

“nova e mais elevada” etapa da<br />

revolução chinesa (não contrarevolução,<br />

mas revolução!),<br />

deu seu apoio encoberto ao<br />

aventureirismo guerrilheiro, e<br />

anunciou pela boca de Thälmann<br />

e outros porta-vozes do Comintern<br />

que as massas <strong>operária</strong>s ao<br />

redor do mundo estavam se<br />

tornando “mais e mais radicalizadas”.<br />

Os alertas contra esta<br />

concepção leviana de um progresso<br />

automático, horizontal<br />

do movimento revolucionário<br />

não tiveram serventia, pois foram<br />

feitos pela Oposição. A análise<br />

clara de Trótski da situação<br />

real do movimento não só foi<br />

ignorada silenciosamente no<br />

Sexto Congresso, ao qual foi<br />

apresentada, como não foi sequer<br />

distribuída aos delegados<br />

reunidos.<br />

O Sexto Congresso no meio<br />

do ano de 1928 conduziu a nona<br />

plenária a alguns passos além no<br />

absurdo. Formalmente, marcou<br />

o ponto culminante na colaboração<br />

entre o centrismo e a ala<br />

direita (Stálin e Bukhárin). Na<br />

realidade, incorporou na fundação<br />

do próximo período a mistura<br />

de premissas oportunistas<br />

com deduções ultra-esquerdistas<br />

que esteve na raiz de toda a<br />

confusão e derrotas sofridas<br />

pelo comunismo desde esta<br />

época.<br />

O Sexto Congresso teve<br />

muitos pontos de similaridade<br />

com o Quinto, que foi realizado<br />

em 1924 após a derrota na Alemanha.<br />

Em 1924, nenhuma<br />

derrota foi reconhecida; pelo<br />

contrário, proclamava-se que a<br />

revolução estava logo à frente.<br />

Em 1928, o mesmo erro foi<br />

cometido com relação à Revolução<br />

Chinesa. No período do<br />

Quinto Congresso, Stálin fez a<br />

nova descoberta de que a “social<br />

democracia era a ala mais<br />

moderada do fascismo”. Em<br />

1928, o Sexto Congresso colocou<br />

as bases para a filosofia<br />

única do “social-fascismo”. O<br />

Quinto Congresso celebrou a<br />

vitória da “bolchevização” e do<br />

“monolitismo”, em uma época<br />

em que as próprias bases sob as<br />

diversas “direções bolcheviques”<br />

impostas às seções nacionais<br />

estavam sendo minadas.<br />

Em 1928, as lutas internas mais<br />

violentas estavam sendo travadas<br />

nos bastidores da “Internacional<br />

Comunista unificada”. O<br />

Quinto Congresso, com todo o<br />

sua discussão ultra-esquerdista,<br />

continha nada menos que os<br />

germes de uma breve guinada à<br />

esquerda, mas também uma<br />

virada à direita prolongada, para<br />

o período do Comitê Anglo-<br />

Russo, da aliança com Chiang<br />

Kai-shek, a Liga anti-imperialista<br />

e a “Internacional Camponesa”.<br />

O Sexto Congresso, por<br />

todo seu apoio a conclusões<br />

aventureiras, consagrou a teoria<br />

revisionista do socialismo<br />

em um só país e estabeleceu a<br />

“ditadura democrática do proletariado<br />

e do campesinato”<br />

(isto é, a kerenskíada ou a tragédia<br />

do Cuomintang) como<br />

uma lei de ferro regendo os<br />

destinos da revolução em três<br />

quartos da Terra.<br />

A luta contra o “perigo da<br />

direita” lançada no Sexto Congresso,<br />

à qual Bukhárin resistiu<br />

até tão recentemente quanto no<br />

Décimo Quinto Congresso do<br />

partido russo, era platônica e<br />

anônima. Seu valor pode ser<br />

estimado do fato de que foi<br />

proclamada da tribuna do Congresso<br />

pelo líder internacional<br />

da ala direita, Bukhárin. Desta<br />

maneira, a unificação formal do<br />

bloco governante foi preservada<br />

e usada para encobrir uma<br />

disputa interna amarga.<br />

É instrutivo observar que à<br />

própria época em que Stálin<br />

estava ocupado em minar o terreno<br />

sob Bukhárin e Cia., indo<br />

longe o suficiente a ponto de<br />

organizar seu próprio congresso<br />

não oficial, simultaneamente<br />

ao “Congresso de Bukhárin”,<br />

este, no entanto, assumiu a liderança<br />

em condenar quaisquer<br />

rumores sobre desentendimentos<br />

na direção do partido russo<br />

como “calúnias trotskistas”. Em<br />

um relatório especial sobre o<br />

assunto feito pelo próprio Stálin<br />

ao Conselho dos Anciãos do<br />

Congresso, ele repudiava todos<br />

os rumores com relação a diferenças<br />

no Birô Político russo.<br />

Ele negava enfaticamente que<br />

houvesse quaisquer membros<br />

da ala direita, ou concepções da<br />

ala direita no Birô Político ou<br />

mesmo no Comitê Central, e,<br />

para confirmar suas afirmações,<br />

introduziu uma resolução,<br />

assinada por ele mesmo e por<br />

cada um dos outros membros<br />

do Birô Político que declarava:<br />

“Os membros do Birô Político<br />

do Comitê Central do Partido<br />

Comunista da União Soviética<br />

abaixo assinados declaram<br />

diante do Conselho de Anciãos<br />

do Congresso que protestam da<br />

maneira mais enfática contra a<br />

circulação de rumores de que<br />

haja quaisquer dissensões entre<br />

os membros do Birô Político do<br />

Comitê Central do PCUS”.<br />

Desnecessário dizer que as<br />

marionetes reunidas ouviram<br />

solenemente e de maneira a<br />

aprovar esta enganação criminosa<br />

e ridícula da Internacional<br />

Comunista preparada conjuntamente<br />

por Stálin e Bukhárin.<br />

A dissolução deste estado de<br />

coisas não demorou muito. Em<br />

quase menos tempo do que se<br />

leva para contar a história, virtualmente<br />

todos os principais<br />

oradores do Sexto Congresso<br />

ou foram esmagados organizativamente,<br />

expulsos sem direitos<br />

ou salvos da expulsão por<br />

uma capitulação humilhante.<br />

Assim como os dirigentes do<br />

Quinto Congresso duraram por<br />

um breve momento nos assentos<br />

do poder, os “bolcheviques”<br />

do Sexto Congresso encontraram<br />

com um fim rápido. Bukhárin,<br />

o líder político do Congresso,<br />

o relator sobre o programa,<br />

o presidente do Comintern, o foi<br />

denunciado alguns meses depois<br />

como o líder da tendência<br />

restauracionista-capitalista na<br />

União Soviética (nada menos!).<br />

Lovestone, Gitlow e Wolfe foram<br />

expulsos sem cerimônia<br />

como agentes da burguesia<br />

norte-americana. Roy, que ganhou<br />

a vida denunciando<br />

Trótski como um agente de<br />

Chamberlain, encontrou a si<br />

mesmo designado sob a mesma<br />

forma. Kilek e Cia., na Tchecoslováquia,<br />

Kilboon na Suécia,<br />

Brandler (e quase Ewert) na Alemanha,<br />

Sellier e Cia. na França,<br />

e uma horda de outros foram<br />

expulsos ou declinaram do<br />

Comintern.<br />

A remoção de qualquer ala<br />

direita recalcitrante tornou possível<br />

a escalada às alturas do<br />

absurdo quando a Décima Plenária<br />

em 1929, ao auge do “terceiro<br />

período”. A Décima Plenária<br />

foi a reductio ad absurdum<br />

do Sexto Congresso com um<br />

número de novidades acrescentadas<br />

por Stálin e Molotov por<br />

sua própria conta. Foi a plenária<br />

por excelência do “terceiro<br />

período”, o mesmo “terceiro<br />

período” que foi denunciado<br />

como uma idéia oportunista da<br />

delegação Thälmann-Neumann<br />

ao Sexto Congresso.<br />

O “terceiro período”, seus<br />

proponentes o explicavam, era<br />

caracterizado por uma radicalização<br />

constantemente crescente<br />

das massas, simultaneamente<br />

em todos os países. Não pode<br />

haver um quarto período, anunciou<br />

Molotov, pois o terceiro<br />

período termina com a revolução.<br />

A atual “sensibilidade política<br />

aumentada das amplas<br />

massas”, acrescentava Losovski,<br />

“é um sinal característico<br />

da véspera de uma revolução”.<br />

Moireva, enquanto membro do<br />

CEIC [Comitê Executivo da<br />

Internacional Comunista] declarou:<br />

“na minha opinião, dos<br />

eventos de maio, bem como dos<br />

acontecimentos recentes na<br />

Polônia, que toda uma série de<br />

elementos neles lembram as<br />

jornadas de julho. O fato em si<br />

de que os partidos comunistas<br />

tiveram que reter os setores<br />

mais avançados da classe <strong>operária</strong><br />

em seu impulso para a frente,<br />

atesta um situação revolucionária<br />

se aproximando rapidamente”.<br />

Esta extravagância é<br />

destacada apenas se lembrarmos<br />

que as “nossas jornadas de<br />

julho” foram o precursor direto<br />

da insurreição de outubro na<br />

Rússia. Deve-se ter em mente<br />

que todas estas fantasias foram<br />

apresentadas ao mundo comunista<br />

oficial como inabaláveis<br />

artigos de fé mais de três anos<br />

atrás!<br />

Deste “terceiro período”<br />

com sua incessante crescente<br />

radicalização das massas em<br />

virtualmente todos os países no<br />

mundo, na qual a França foi<br />

solenemente anunciada como<br />

estando à frente da lista revolucionária<br />

(em 1929!), seguiu a<br />

teoria do social-fascismo, uma<br />

doença da decadência senil da<br />

qual o Comintern está sofrendo<br />

até hoje. Com a engenhosa fórmula<br />

de Stálin de 1924 em<br />

mente, Manuilski anunciou agora<br />

que “a fusão da social democracia<br />

com o estado capitalista<br />

não é meramente uma fusão por<br />

cima. Esta fusão tomou lugar de<br />

alto a baixo, em toda linha”. Melhorando<br />

Lênin, Manilski anunciou<br />

que Noske, em 1918, já era<br />

um social-fascista.<br />

O estrategista-mor, Bela Jun,<br />

que destruiu a revolução húngara<br />

ao não conseguir compreender<br />

a natureza da social democracia<br />

em 1918, agora tentava,<br />

cerca de dez anos depois, reparar<br />

o dano apresentando uma interpretação<br />

ainda pior: “socialfascismo<br />

é o tipo de desenvolvimento<br />

fascista nos países<br />

cujo desenvolvimento capitalista<br />

é mais avançado do que na Itália...<br />

Neste estágio de desenvolvimento,<br />

o social reformismo<br />

esvanece: é transformado parcialmente<br />

em elementos social<br />

demagógicos e parcialmente em<br />

elementos de violência de massas<br />

do fascismo”.<br />

Daí Manuilski tirou a conclusão<br />

a respeito da política de<br />

frente única de que “jamais a<br />

consideramos como uma fórmula<br />

para todos, para todas as<br />

épocas e pessoas... Hoje somos<br />

mais fortes e passamos a métodos<br />

mais agressivos na luta pela<br />

maioria da classe <strong>operária</strong>”. O<br />

que os funcionários menores<br />

tinham para contribuir com a<br />

questão pode ser facilmente<br />

imaginado a partir destas poucas<br />

citações.<br />

A motivação oficial para o<br />

estabelecimento do “terceiro<br />

período” e de todos os seus<br />

mandamentos era falsa do início<br />

ao fim. Mas isto não significa<br />

que não havia uma razão<br />

profunda para a guinada de 180<br />

graus no rumo do Comintern. O<br />

centrismo, privado de qualquer<br />

âncora em quaisquer princípios,<br />

sem nenhuma plataforma distinta<br />

própria, é arrastado à esquerda<br />

pela pressão dos acontecimentos<br />

e da crítica. Sem uma<br />

fundamentação real, precisa se<br />

basear em um prestígio artificialmente<br />

preservado. Para manter<br />

a continuidade do seu prestígio,<br />

isto é, para explicar a virada<br />

de ponta-cabeça para a esquerda,<br />

ou mais precisamente,<br />

para justificar a mudança sem<br />

deixar espaço para crítica de<br />

seus rumos precedentes, o “terceiro<br />

período” foi chamado à<br />

existência.<br />

Por esta proclamação os centristas<br />

foram capazes de justificar<br />

a “frente única do alto” com<br />

Chiang Kai-shek e Purcell bem<br />

como frente única nenhuma.<br />

Ambos estavam justificados por<br />

uma brilhante teoria: o estabelecimento<br />

arbitrário de “períodos”.<br />

No “segundo período”, de<br />

acordo com este dogma conveniente,<br />

era a essência do bolchevismo<br />

manter a frente única<br />

com fura-greves comprovados<br />

em troca de sua “luta para defender<br />

a União Soviética” do imperialismo<br />

britânico. No “terceiro<br />

período”, no entanto, todos<br />

os social-democratas de Purcell<br />

até o operário socialista na fábrica<br />

se tornaram fascistas e os<br />

comunistas deviam, portanto,<br />

não ter relação nenhuma com<br />

eles. A fórmula do “terceiro<br />

período” era a filosofia pela qual<br />

o centrismo juntou os dois períodos<br />

mutuamente suplementares<br />

de seus erros, crimes e<br />

disfunção ideológica sem prejuízo<br />

para si mesmo: pelo menos,<br />

esta era a intenção de seus artífices.<br />

O “terceiro período” foi, e na<br />

medida em que os seus restos<br />

ainda jazem na estrada ele ainda<br />

é, um marco da rota de falência<br />

e decadência do centrismo. Os<br />

mais de três anos desde sua<br />

proclamação testemunharam<br />

uma série de derrotas acrescidas<br />

às que acumulara entre 1923<br />

e 1928.<br />

É neste período que o ascenso<br />

do fascismo na Alemanha<br />

pôde se dar sem encontrar qualquer<br />

resistência efetiva da parte<br />

dos comunistas, que foram<br />

proibidos pelo dogma do “social-fascismo”<br />

de fazer uma frente<br />

única com os operários social-democratas.<br />

Desorientados<br />

pela previsão fantástica de<br />

Molotov de que a França estava<br />

à frente da lista para uma luta<br />

revolucionária, o Comintern foi<br />

pego totalmente desprevinido<br />

pelo levante na Espanha. Quando<br />

foi finalmente sacudido de<br />

seu estupor, o Partido Comunista<br />

Espanhol foi deixado impotente<br />

pelo sectarismo extremo<br />

de sua política, por sua rejeição<br />

à tática da frente única.<br />

Nos Estados Unidos, as oportunidades<br />

sem paralelo para o<br />

trabalho revolucionário fornecidas<br />

pelas convulsões da crise<br />

foram perdidas, uma após a<br />

outra, pela aplicação de táticas<br />

que repeliram centenas ou milhares<br />

de operários que se deslocavam<br />

em direção ao comunismo.<br />

Na Inglaterra, França,<br />

Tchecoslováquia – em uma<br />

palavra, em todos os países<br />

importantes, a teoria e a prática<br />

do “terceiro período” colocou o<br />

movimento comunista de joelhos,<br />

introduziu a confusão em<br />

sua mente, paralisou seus membros<br />

e o isolou das massas. Se<br />

a social democracia internacional<br />

ainda é um grande poder que<br />

deve ser levado em consideração<br />

hoje, se ainda mantém seu<br />

vigor entre milhões de trabalhadores,<br />

deve-se agradecer às trapalhadas<br />

do stalinismo.<br />

O desejo apaixonado das<br />

massas por uma frente única<br />

para resistir às incursões da<br />

burguesia foi repelido pela exigência<br />

burocrática de que os<br />

partidos comunistas por uma<br />

“frente única pela base” ou uma<br />

“frente única vermelha”, isto é,<br />

uma frente única dependendo da<br />

aceitação antecipada de uma<br />

direção comunista por trabalhadores<br />

não-comunistas. O ódio<br />

do fascismo manifestado pelos<br />

trabalhadores socialistas, bem<br />

como comunistas, nunca foi<br />

utilizado pelos stalinistas. Ao<br />

invés disso, eles repeliram os<br />

operários socialistas por sua<br />

conversa vazia sobre o “social<br />

fascismo” na sua aliança – na<br />

Alemanha, em alguma medida –<br />

com os bandos de Hitler no<br />

notório Referendum “Vermelho”<br />

na Prússia. A resistência<br />

que os operários socialistas<br />

estavam ansiosos por oferecer<br />

aos ataques capitalistas, foi enfraquecida<br />

posteriormente pela<br />

política sectária de dividir os sindicatos<br />

e formar pequenas seitas<br />

sindicais comunistas.<br />

O isolamento do Comintern<br />

das massas no campo político<br />

bem como nos sindicatos, o<br />

qual a Oposição previu à época,<br />

caminhou de mãos dadas<br />

com a degeneração moral e<br />

ideológica sem precedentes<br />

nas fileiras do comunismo<br />

oficial. Não poderia se esperar<br />

que isto continuasse por um<br />

longo período sem terminar<br />

em uma quebra terrível, seja<br />

dentro da União Soviética ou<br />

fora dela.<br />

Os efeitos acumulados desta<br />

degeneração na União Soviética<br />

trouxeram consigo seus perigos<br />

de Termidor e Bonapartismo, da<br />

mesma foram que ameaçavam<br />

toda a Internacional Comunista<br />

com o descrédito e a dissolução.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA MULHERES 17<br />

PESQUISA<br />

78% dos magistrados são favoráveis a<br />

modificação na lei que pune o aborto<br />

Em tempos de discussão sobre aborto em caso de<br />

anencefalia pelo Supremo Tribunal Federal (STF),<br />

pesquisa revela a opinião dos magistrados sobre a<br />

necessidade de modificação no Código Penal brasileiro<br />

De acordo com duas pesquisas<br />

feitas com 1.493 juízes e<br />

2.614 Promotores de Justiça do<br />

País, 78% deles vêem necessidade<br />

de mudanças na lei para<br />

que se ampliem as circunstâncias<br />

em que o aborto não seja<br />

crime no Brasil. Para o caso<br />

específico de anencefalia, 80%<br />

dos entrevistados se colocaram<br />

favoráveis à liberação da interrupção<br />

da gravidez e 10% dos<br />

juízes que atuam na área criminal<br />

afirmaram já ter recebido e<br />

permitido um caso do tipo.<br />

A pesquisa foi realizada pelo<br />

Centro de Pesquisas em Saúde<br />

Reprodutiva de Campinas (Cemicamp)<br />

e coordenado pelo<br />

professor e ginecologista Aníbal<br />

Faúndes, da Faculdade de<br />

Ciências Médicas da Universidade<br />

Estadual de Campinas<br />

(Unicamp), em colaboração<br />

com a Associação dos Magistrados<br />

Brasileiros (AMB) e 29 associações<br />

de promotores e procuradores<br />

existentes no Brasil.<br />

As associações enviaram a<br />

seus filiados o questionário da<br />

Cemicamp entre outubro e dezembro<br />

de 2005. Os questionários<br />

solicitavam opiniões quanto<br />

à necessidade de mudanças<br />

nas leis que tratam do aborto; as<br />

circunstâncias em que a prática<br />

deveria ser permitida; e a<br />

conduta do juiz ou promotor<br />

que atuou em casos de abortos<br />

não previstos em lei. O questionário<br />

inclui pergunta a respeito<br />

da ADPF 54, relacionada aos<br />

fetos anencéfalos, em debate no<br />

STF.<br />

O anacrônico Código Penal<br />

Brasileiro data de 1940 e autoriza<br />

o aborto apenas quando a<br />

gravidez é resultante de estupro<br />

ou quando ela coloca em risco<br />

a vida da mulher.<br />

Resultado entre<br />

juízes, promotores<br />

e procuradores<br />

Segundo a pesquisa 61,2%<br />

dos juízes associados à AMB<br />

vêem necessidade de mudanças<br />

na legislação para ampliar as circunstâncias<br />

em que não se pune<br />

o aborto praticado por médicos;<br />

16,8% concordam com a proposta<br />

de que o aborto deixe de<br />

ser considerado crime, independente<br />

da circunstância em que<br />

é praticado, totalizando 78% de<br />

magistrados favoráveis à ampliação<br />

da lei.<br />

A respeito da Argüição de<br />

Descumprimento de Preceito<br />

Fundamental (ADPF) apresentada<br />

ao STF, que trata da interrupção<br />

da gestação quando diagnosticada<br />

a anencefalia, 62%<br />

dos juízes que tinham uma opinião<br />

formada sobre o assunto<br />

responderam que a ADPF deveria<br />

ser transformada em lei; 42%<br />

a consideraram adequada; e<br />

pouco menos de um quinto opinou<br />

que ela não é adequada.<br />

“Há juízes que vêm autorizando<br />

o aborto por outros motivos,<br />

como o de fetos malformados,<br />

enquanto os promotores se encarregam<br />

de investigar denúncias<br />

de práticas tidas como ilegais.<br />

É importante conhecer a<br />

opinião e a conduta destes atores,<br />

inclusive para a discussão<br />

da ampliação da lei do aborto<br />

que acontece no Congresso”,<br />

justifica a pesquisadora Graciana<br />

Alves Duarte, que atuou<br />

com Aníbal Faúndes nos dois levantamentos.<br />

(Jornal da Unicamp,<br />

de 15 a 21/9/2008)<br />

Graciana Alves Duarte, que<br />

participou da realização da pesquisa<br />

fez um mapeamento e que<br />

verificou que “as decisões favoráveis<br />

estão concentradas no<br />

Sul – há maior resistência ao<br />

aborto no Norte e Nordeste –<br />

mas há juízes com esta conduta<br />

em todo o país. Questionados<br />

É preciso uma verdadeira reformulação do Código Penal, para que as<br />

mulheres tenham o direito de decidir sobre a maternidade sem a<br />

interferência da Igreja.<br />

sobre as circunstâncias, 66%<br />

decidiram favoravelmente por<br />

anencefalia, 16% por malformação<br />

fetal e 18,5% por estupro<br />

(casos que nem deveriam chegar<br />

ao Judiciário, já que estão<br />

previstos em lei)”. (idem)<br />

No que tange os promotores<br />

de justiça, a pesquisa demonstrou<br />

que 12,5% se colocaram a<br />

favor da não-penalização do<br />

aborto em qualquer caso, contra<br />

3,2% que opinaram que a<br />

prática nunca deve ser permitida.<br />

Sobre as circunstâncias,<br />

86,7% indicaram permissão ao<br />

aborto em caso de risco de vida<br />

para a gestante; 85,3% no diagnóstico<br />

de anencefalia; 83,7%<br />

em feto com qualquer malformação<br />

congênita que torne impossível<br />

a vida extra-uterina; e<br />

83,2% na gravidez resultante de<br />

estupro.<br />

O juiz José Henrique Rodrigues<br />

Torres, titular da Vara do<br />

Júri de Campinas, e um dos autores<br />

da pesquisa afirmou que<br />

“Não se pode dizer que o Judiciário<br />

mudou, porque a gente<br />

não sabe como ele<br />

pensava antes sobre<br />

o tema. O que sabemos<br />

agora é que os<br />

juízes e promotores,<br />

em sua maioria, são<br />

favoráveis à ampliação<br />

dos casos permitidos<br />

em lei”. Ele<br />

explicou ainda que<br />

“As sentenças favoráveis,<br />

que já somam<br />

mais de cinco<br />

mil no País, confirmam<br />

o que a pesquisa<br />

mostrou”.<br />

“O que concluímos,<br />

por ora, é que<br />

os juízes manifestaram<br />

postura semelhante<br />

a outros grupos<br />

populacionais já<br />

estudados (médicos,<br />

mulheres e homens<br />

em geral), o<br />

que reforça a indicação de que<br />

a atual legislação brasileira sobre<br />

o aborto precisa ser revista”,<br />

destaca Graciana Duarte.<br />

Por outro lado, quando se<br />

enfocou a experiência pessoal<br />

dos entrevistados diante do<br />

problema da gravidez absolutamente<br />

indesejada, quatro de<br />

cada cinco mulheres e cerca<br />

de 70% dos homens que haviam<br />

passado por isso, entenderam<br />

que a situação justificava<br />

a prática de um aborto.<br />

Encerrada<br />

discussão no STF,<br />

votação pode ser<br />

ainda esse ano<br />

Na última terça-feira (16), foi<br />

realizada a última audiência pública<br />

convocada pelo STF para debater<br />

a interrupção de gestação de<br />

fetos anencéfalos.<br />

Na expectativa de que a interrupção<br />

da gravidez na anencefalia<br />

seja aprovada pelo Supremo<br />

Tribunal Federal, o ginecologista<br />

e obstetra Ricardo Barini, em<br />

entrevista ao jornal da Unicamp,<br />

afirmou que “várias outras situações<br />

clínicas inviabilizam a sobrevida<br />

dos bebês – e que, por semelhança,<br />

mereceriam igual parecer<br />

por parte dos juízes”. Banini<br />

citou diversas anomalias, renais,<br />

cerebrais entre outras, incompatíveis<br />

com a vida extrauterina.<br />

O que confirma que a luta<br />

não se trata apenas da interrupção<br />

da gestação em casos específicos,<br />

como o da anencefalia, mas<br />

uma verdadeira reformulação do<br />

Código Penal, para que as mulheres<br />

tenham o direito de decidir<br />

sobre a maternidade, sem a intromissão<br />

da Justiça, com o Estado<br />

atuando na garantia desse direito<br />

e não na perseguição às mulheres.<br />

Nesse sentido foi a colocação<br />

do médico responsável pela pesquisa<br />

com os magistrados, Aníbal<br />

Faúndes. “Acaba de acontecer,<br />

neste dia 10, em Brasília, uma<br />

marcha do Movimento Nacional<br />

da Cidadania em Defesa da Vida<br />

– Brasil sem Aborto. É claro que<br />

todos gostaríamos de ter um<br />

Brasil e um mundo sem aborto,<br />

mas não conseguiremos isto com<br />

marchas, nem condenando a mulher<br />

que aborta à cadeia. Só se consegue<br />

com educação e colocando<br />

à disposição de toda a população,<br />

todos os métodos eficazes”.<br />

LICENÇA MATERNIDADE<br />

Governo Lula faz demagogia com reivindicação<br />

histórica das mulheres trabalhadoras<br />

A ampliação da licença-maternidade<br />

de quatro para seis<br />

meses deve ser um direito integral,<br />

que seja concedido de<br />

maneira automática, para todas<br />

as mulheres.<br />

O presidente Lula sancionou<br />

no dia 9 de setembro a nova<br />

regra que amplia a licença-maternidade<br />

de quatro para seis<br />

meses. Mas, não se engane, não<br />

se trata do atendimento da reivindicação<br />

histórica das mulheres<br />

trabalhadoras. A lei aprovada<br />

por Lula na verdade não é<br />

uma regra, mas uma possibilidade,<br />

direcionada apenas às<br />

trabalhadoras do setor privado<br />

e mais especificamente para as<br />

trabalhadoras de empresas que<br />

aderirem ao Programa Empresa<br />

Cidadã (municípios também<br />

podem adotar a lei) que terão<br />

benefícios fiscais em troca da<br />

ampliação da licença concedida<br />

às mulheres.<br />

As restrições ao beneficio<br />

não são poucas. E a sanção de<br />

Lula só aumentou as restrições<br />

que já existiam no projeto de lei<br />

2.513/07 aprovado em maio<br />

desse ano pela Comissão de<br />

Seguridade Social e Família<br />

(CSSF) da Câmara dos Deputados,<br />

por unanimidade, e que<br />

já tinha passando pelo Senado<br />

em outubro de 2007.<br />

O projeto foi aprovado no dia<br />

13 de agosto, pela Câmara dos<br />

Deputados e imediatamente<br />

enviado para o presidente Lula.<br />

Na ocasião, o ministro da Fazenda,<br />

Guido Mantega, afirmou<br />

que com esta lei o governo teria<br />

que renunciar cerca de R$ 800<br />

milhões de arrecadação fiscal<br />

por ano. Como já publicamos<br />

aqui, “o presidente Lula chegou<br />

a declarar, em reunião do Conselho<br />

Político, que o Congresso<br />

Nacional estaria aprovando<br />

projetos para ele ter que vetar<br />

depois, expondo o fato de que<br />

ele tem a mesma posição do<br />

PSDB... contra os trabalhadores.<br />

No passado, o ônus pelo<br />

corte de direito dos trabalhadores<br />

ficava sempre com o Congresso,<br />

uma vez que os deputados<br />

tomavam a iniciativa de<br />

rejeitar os projetos favoráveis<br />

aos trabalhadores antes que<br />

estes chegassem nas mãos do<br />

presidente da República.” (Causa<br />

Operária Notícias Online,<br />

21/8/2008)<br />

Lula assinou a lei, mas os<br />

vetos demonstram o verdadeiro<br />

teor da demagogia do governo<br />

do PT, pois deixa de fora da<br />

possibilidade do benefício, as<br />

empregadas das micro e peque-<br />

nas empresas inscritas no Simples;<br />

e aumenta a despesa das<br />

empresas privadas que optem<br />

pela nova regra, pois terão que<br />

pagar a contribuição previdenciária<br />

durante os dois meses adicionais<br />

de afastamento da funcionária,<br />

o que não estava previsto<br />

no projeto original.<br />

Além de excluir do benefício<br />

as trabalhadoras autônomas e as<br />

empregadas domésticas, isso<br />

significa deixar de fora, ignorar<br />

o direito de mais da metade das<br />

mulheres ocupadas no País que<br />

vivem e trabalham na informalidade,<br />

a lei também não trata da<br />

licença paternidade.<br />

Em entrevista ao jornal Folha<br />

de São Paulo, o presidente do<br />

Conselho de Relações do Trabalho<br />

da Confederação Nacional da<br />

Indústria, Francisco Gadelha,<br />

afirmou que a ampliação da licença-maternidade<br />

“sacrificará”<br />

a competitividade da indústria<br />

brasileira:<br />

“Não é dureza de coração,<br />

mas quatro meses de licençamaternidade<br />

estão de bom tamanho.<br />

(...) Do ponto de vista<br />

humano, a proposta é interessante.<br />

Mas isso nos preocupa<br />

muito, pois estão sendo criados<br />

mais encargos para as empresas.<br />

Daqui a pouco, na hora de contratar,<br />

as empresas vão começar<br />

a evitar mulheres que possam<br />

ter filhos. (...) Você não vai<br />

encontrar alguém com a mesma<br />

competência e experiência para<br />

ficar seis meses. E, se você não<br />

substituir, é sinal de que a funcionária<br />

não é necessária para a<br />

empresa”.<br />

Só para citar alguns exemplos,<br />

hoje as brasileiras têm mais<br />

escolaridade que os homens,<br />

mas só 11% dos cargos executivos<br />

das 500 maiores empresas<br />

brasileiras estão ocupados por<br />

mulheres, segundo pesquisa do<br />

Instituto Ethos. Quando o assunto<br />

é diferença salarial a situação<br />

é ainda pior. Se a mulher<br />

tem três anos de escolaridade,<br />

ganha 82% do que os homens<br />

ganham. Se tem 15 anos ou<br />

mais de estudo, tem que se<br />

contentar com 56%. Portanto a<br />

postura dos empresários é uma<br />

chantagem para legitimar e justificar<br />

uma prática que já é comum:<br />

a descriminação de gênero<br />

para contratação, tratamento<br />

desigual, a perseguição, o<br />

assédio, sem contar as grandes<br />

diferenças salariais entre homens<br />

e mulheres que exercem a<br />

mesma função.<br />

É também uma falácia, pois<br />

pela nova lei, as empresas que<br />

aderirem ao convênio podem<br />

deduzir do imposto de renda os<br />

valores integrais referente aos<br />

salários que serão concedidos a<br />

empregada durante a prorrogação<br />

do período da licença. Isto<br />

é, será o próprio governo quem<br />

arcará com o pagamento do<br />

salário das empregadas em<br />

afastamento prorrogado.<br />

É necessário que a campanha<br />

pela conquista da licença maternidade<br />

seja levada a todas as<br />

categorias profissionais, para<br />

que se transforme de um acordo<br />

facultativo entre empresário<br />

e governo, em um direito integral,<br />

que seja concedido de<br />

maneira automática, para todas<br />

as mulheres. Assim como a luta<br />

por creches em escolas, universidades<br />

e setores de trabalho e<br />

a legalização do aborto.<br />

O sítio Mulheres de Olho fez<br />

o levantamento das principais<br />

características da nova lei:<br />

- A lei assinada pelo presidente<br />

Lula em 9 de setembro de<br />

2008 estabelece que as funcionárias<br />

de empresas privadas<br />

podem optar pelos seis meses<br />

de licença maternidade, ao invés<br />

de quatro, desde que sua empresa<br />

se inscreva no Programa<br />

Empresa Cidadã. Esta inscrição<br />

não é obrigatória.<br />

- Nas empresas privadas a<br />

nova regra de 6 seis meses de<br />

licença-maternidade só vigora a<br />

partir de 2010, tempo hábil para<br />

que se cumpra o requisito de<br />

encaminhar projeto de lei orçamentário<br />

prevendo a renúncia<br />

fiscal.<br />

- Para servidoras federais o<br />

benefício entra em vigor no ano<br />

que vem, mas a data não está<br />

definida.<br />

- Para servidoras dos estados<br />

e municípios a licença-maternidade<br />

de 6 meses já pode ser<br />

concedida (em 93 municípios<br />

de 11 estados esta lei já vigora)<br />

- Mesmo nas empresas que<br />

aderirem ao programa, para tirar<br />

os 6 meses de licença a funcionária<br />

tem que solicitar formalmente.<br />

As que preferirem,<br />

poderão ficar com a licença de<br />

4 meses. Caso optem pela ampliação,<br />

as trabalhadoras terão<br />

que requisitar a licença de 6<br />

meses até o fim do primeiro mês<br />

após o parto.<br />

- Durante o período de licença-maternidade<br />

a funcionária<br />

receberá sua remuneração integral;<br />

neste período ela não pode<br />

exercer qualquer outra atividade<br />

remunerada ou colocar a<br />

criança em creche.<br />

- As micro e pequenas empresas<br />

inscritas no Simples (tributadas<br />

pelo lucro presumido)<br />

estão fora da possibilidade de<br />

adesão a este programa; o Governo<br />

entendeu que essas empresas<br />

já são beneficiadas por<br />

isenções fiscais e as gestantes<br />

que trabalham nessas empresas<br />

não poderão requerer a ampliação<br />

da licença-maternidade de 4<br />

para 6 meses.<br />

- Quando entrar em vigor, a<br />

licença-maternidade de seis<br />

meses passa a valer também<br />

para as mães adotivas, mas ficaram<br />

de fora as trabalhadoras<br />

autônomas e empregadas domésticas.<br />

- O empregador fica obrigado<br />

a recolher a contribuição à<br />

Previdência Social nos 2 meses<br />

extras de licença maternidade<br />

(regra que já vigora para os 4<br />

primeiros meses); ele pagará a<br />

remuneração da funcionária<br />

nesses 2 meses, mas esta despesa<br />

poderá ser abatida do Imposto<br />

de Renda.<br />

Às novas mães que eventualmente<br />

venham a se beneficiar<br />

desse programa é vedado colocar<br />

os filhos em creche ou qualquer<br />

outro tipo de “day care”<br />

durante a vigência da licençamaternidade<br />

estendida, sob<br />

pena de incorrer em penalidades.<br />

É bom lembrar que só 15%<br />

das crianças brasileiras com menos<br />

de quatro anos têm acesso<br />

a creches.<br />

Trocam-se 20 anos por dois<br />

meses - para uma parte reduzida<br />

das mulheres trabalhadoras<br />

- e fica-se à mercê da iniciativa<br />

de um ou outro empresário, que<br />

deixa de contribuir para o sistema<br />

de seguridade social, responsável,<br />

este sim, por financiar<br />

alternativas de guarda para<br />

todas as crianças ou benefícios<br />

universais que possam viabilizálas.<br />

Pode-se estabelecer um padrão<br />

de proteção aos rebentos<br />

das mulheres mais afortunadas,<br />

em relações de trabalho formalizadas<br />

e, portanto, negar isonomia<br />

às demais? Espera-se que,<br />

no país das desigualdades, o<br />

efeito demonstração nos leve a<br />

incorporar os excluídos -criados<br />

por legislações inadequadas- por<br />

força do bom senso.<br />

Parece avançada, mas não é.<br />

Vai na contramão do nosso sistema<br />

de seguridade social, conquista<br />

maior da Constituição de<br />

1988, que uniformiza benefícios<br />

e assegura eqüidade de acesso.<br />

Cinco dias de licença-paternidade<br />

é o tempo da celebração.<br />

DENÚNCIA<br />

Mulher foi presa em<br />

hospital por aborto<br />

Após denúncia do hospital<br />

onde foi procurar atendimento,<br />

uma mulher de 23 anos foi presa<br />

em flagrante e responderá na<br />

justiça, podendo ser condenada<br />

a até três anos de detenção.<br />

No sábado13 de setembro,<br />

Marisa, de 23 anos foi procurar<br />

atendimento em um hospital no<br />

município de Apucarana, no<br />

norte do Paraná. Ela estava sangrando<br />

com suspeita de aborto.<br />

No dia seguinte (14), foi presa<br />

em flagrante, no mesmo Hospital<br />

em que foi procurar atendimento,<br />

considerada criminosa,<br />

por suspeita de aborto induzido.<br />

Segundo o delegado, Luiz<br />

Carlos Manica, o caso chegou<br />

à polícia através de uma comunicação<br />

do Hospital da Providência,<br />

que teria denunciado a mulher<br />

por entender não se tratava<br />

de aborto natural, mas induzido<br />

por ela.<br />

Presa, Marisa confessou a<br />

tentativa de aborto e em seu<br />

depoimento afirmou ter comprado<br />

o medicamento utilizado<br />

em uma loja que funciona no terminal<br />

urbano de Apucarana.<br />

A partir do depoimento dela,<br />

o delegado Manica conseguiu<br />

na justiça um mandato de busca<br />

e apreensão. Na loja encontrou<br />

a dona do Box, Elizabeth, que<br />

também foi presa em flagrante<br />

e com ela apreendidos os medicamentos<br />

Pramil, Rheumazin,<br />

Rowatines, Atenix, Furperitromicina,<br />

Cefaliu, Cytotec, além<br />

de uma cartela sem identificação.<br />

Apesar da prisão de mais essa<br />

mulher, em flagrante, o delegado<br />

não se privou da absurda<br />

declaração de que “a investigação<br />

vai apurar se eram vendidos<br />

irregularmente, pois existe a suspeita<br />

de serem abortivos”. Ela foi<br />

presa sem a certeza de que os<br />

medicamentos eram abortivos?<br />

E sem a certeza de que eram vendidos<br />

irregularmente?<br />

Essa é a conduta da polícia e<br />

essa é parte do ciclo de clandestinidade,<br />

abuso e repressão a que<br />

estão submetidas as mulheres<br />

brasileiras. Quantas ainda precisarão<br />

ser presas ou morrer para<br />

que se perceba que a lei que<br />

considera o aborto como crime<br />

priva as mulheres de liberdade e<br />

de direitos?<br />

As informações são da imprensa<br />

do município do Paraná<br />

e fazem coro com a campanha<br />

da direita fascista que quer colocar<br />

na cadeia, e manter as mulheres<br />

escravas e prisioneiras, da<br />

Igreja e do Estado.<br />

NO PARANÁ<br />

Ironicamente na mesma<br />

matéria a imprensa noticia que<br />

“Segundo pesquisa divulgada<br />

no ano passado pela Organização<br />

Mundial de Saúde, seis<br />

milhões de mulheres praticam<br />

aborto induzido na América<br />

Latina todos os anos. Destas,<br />

1,4 milhão são brasileiras e uma<br />

em cada 1.000 morre em decorrência<br />

do aborto.” (Bonde-<br />

News online, 16/09/08)<br />

Marisa pagou uma fiança de<br />

R$ 400, 00 e foi liberada. Mas<br />

responderá judicialmente por<br />

crime de aborto. O código penal<br />

brasileiro autoriza a interrupção<br />

da gravidez apenas em casos<br />

de risco para a vida da mãe,<br />

e em casos de gravidez provocada<br />

por estupro. Mas considera<br />

criminosas as mulheres que<br />

realizam aborto fora desses<br />

critérios. Principalmente as<br />

mais pobres, que utilizam métodos<br />

arriscados e acabam precisando<br />

de atendimento em<br />

hospitais públicos, já que não<br />

podem pagar por procedimentos<br />

clandestinos, porém mais<br />

seguros.<br />

Mas se Marisa foi denunciada<br />

pelo próprio hospital em que<br />

foi procurar atendimento,<br />

como devem estar sendo atendidas<br />

as mulheres que também<br />

realizam aborto, mesmo os<br />

autorizados por lei, mas precisam<br />

de atendimento nesses<br />

mesmos hospitais?<br />

Perguntamos: será que ainda<br />

assim é possível considerar<br />

o aborto como caso de polícia?<br />

Então vamos colocar na cadeia<br />

todas essas 1,4 milhões de mulheres?<br />

Ou será melhor fazer<br />

como no Mato Grosso do Sul,<br />

onde quase 10.000 mulheres<br />

foram publicamente acusadas<br />

de criminosas por supostamente<br />

terem feito aborto em uma clinica<br />

que funcionava na capital<br />

Campo Grande?<br />

É necessária uma ampla<br />

campanha em defesa dos direitos<br />

democráticos das mulheres.<br />

Para tirar o Estado e<br />

todo seu aparato, como os<br />

hospitais públicos, escolas, os<br />

poderes legislativo, judiciário<br />

e executivo etc. do controle da<br />

Igreja, para que sejam laicos<br />

e promovam uma verdadeira<br />

mudança de mentalidade, reconhecendo<br />

o aborto como<br />

um direito democrático das<br />

mulheres. Mudando o retrógrado<br />

Código Penal de 1940,<br />

legalizando o aborto e exigindo<br />

o seu atendimento, pela<br />

rede pública de saúde.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA HISTÓRIA 18<br />

350 ANOS DA MORTE DE OLIVER CROMWELL – PARTE III<br />

A revolução burguesa na Inglaterra<br />

No ano em que se completam 350 anos da morte do líder da revolução burguesa na<br />

Inglaterra, a importância do estudo e da compreensão do episódio que derrubou a ordem<br />

monárquica e abriu as portas para a revolução industrial na Inglaterra dá a oportunidade<br />

de entender o período de hoje, fase de completa decadência da burguesia, que de classe<br />

revolucionária passou a ser uma classe contra-revolucionária e inimiga do progresso<br />

humano<br />

Após a Primeira Guerra Civil<br />

Inglesa, o Parlamento iniciou<br />

uma campanha para dissolver<br />

o Novo Exército Modelo<br />

(New Model Army), pois<br />

além de ser extremamente<br />

custoso para um período de<br />

paz, os conservadores – a<br />

maioria do Parlamento – não<br />

queriam que este exército fosse<br />

controlado pelos parlamentares<br />

radicais, afinal, era consenso<br />

entre as tropas não ceder<br />

a qualquer tipo de direito<br />

ao rei e às liberdades políticas<br />

pelas quais haviam lutado até<br />

então.<br />

Com o fim da guerra, Oliver<br />

Cromwell deveria dedicar-se<br />

à vida parlamentar,<br />

mas já nos primeiros meses de<br />

sessões parlamentares raramente<br />

comparecia. Chegou a<br />

alegar estar doente para justificar<br />

suas faltas, mas na<br />

verdade estava desanimado e<br />

deprimido com o impasse que<br />

se criava na situação da revolução.<br />

A alta burguesia e a<br />

aristocracia que haviam apoiado<br />

a revolução caminhavam<br />

para um acordo com o rei<br />

Carlos I, que continuava insistindo<br />

manter seus poderes<br />

de monarca absoluto, mesmo<br />

derrotado na guerra.<br />

Cromwell e os radicais temiam<br />

que o Parlamento conservador<br />

fizesse todos os pedidos<br />

do rei.<br />

No entanto, a situação revolucionária<br />

não se desenvolvia<br />

dentro do Parlamento, mas<br />

fora dele, entre as massas. Da<br />

radicalização da situação política<br />

surgiam as primeiras<br />

idéias de caráter democrático<br />

burguês, isto é, para a época,<br />

propostas revolucionárias democráticas<br />

e até mesmo socialistas,<br />

expressas principalmente<br />

pelos chamados “niveladores”<br />

(levellers), um grupo<br />

à esquerda dos radicais<br />

que desejava abolir totalmente<br />

a monarquia e estabelecer<br />

a igualdade entre as classes,<br />

porém sem a expropriação da<br />

propriedade privada. Ao mesmo<br />

tempo, com o vácuo político<br />

produzido após a morte<br />

do rei, surgia também um<br />

grupo à esquerda dos niveladores,<br />

os chamados diggers<br />

(escavadores), que reivindicavam<br />

a soberania popular e<br />

o poder político gerido pela<br />

população. Estas eram as primeiras<br />

noções de comunismo<br />

primitivo e revolução social<br />

surgida no País modelo do<br />

capitalismo no terreno da luta<br />

política prática.<br />

Estas primeiras noções de<br />

comunismo, expressão ideológica<br />

e política do proletariado<br />

e do campesinato, entravam<br />

em conflito com a política<br />

burguesa revolucionária<br />

representada por Cromwell,<br />

rico proprietário burguês e<br />

partidário da propriedade privada.<br />

Uma vez que o Parlamento<br />

era controlado pela ala mais<br />

conciliadora com a monarquia,<br />

o projeto de paz previa a<br />

manutenção do poder assumido<br />

pelas duas Câmaras, porém<br />

mantendo a figura do rei.<br />

Embora as decisões fossem<br />

tomadas pelo Parlamento, as<br />

Câmaras atuariam em nome<br />

do rei. Além disso, o projeto<br />

necessitava da aprovação do<br />

próprio rei, que, obviamente,<br />

se recusou a assiná-lo. Carlos<br />

I tinha em conta, ao resistir ao<br />

parlamento, não apenas a ala<br />

conciliadora, mas também o<br />

ambiente internacional e a tradição<br />

para tentar manter seu<br />

poder absoluto.<br />

Carlos I mantinha negociações<br />

nos bastidores, tentando<br />

somar aliados, principalmente<br />

no Exército e mais ainda<br />

no estrangeiro. Nesse<br />

momento, profundas inquietações<br />

atingiam as tropas. Estas<br />

estavam sob o controle do<br />

Parlamento de maioria conservadora,<br />

que estavam contra<br />

os propósitos dos soldados<br />

puritanos aliados a Cromwell<br />

e também à tendência mais radical,<br />

influenciada pelos niveladores.<br />

Para agravar a crise,<br />

a proposta do Parlamento de<br />

desmobilizar o Novo Exército<br />

Modelo não previa o pagamento<br />

dos soldos atrasados.<br />

Havia soldados que não recebiam<br />

havia mais de um ano.<br />

Viúvas e órfãos também não<br />

recebiam nenhuma pensão.<br />

Para evitar uma rebelião dos<br />

militares, o Parlamento decidiu<br />

rebaixar todos os oficiais<br />

de alta patente, uma emenda<br />

ao Decreto de Auto-Exoneração,<br />

que determinou que nenhum<br />

membro do Parlamento<br />

poderia servir o Exército.<br />

No dia de 30 de janeiro de 1649, Carlos I foi levado ao<br />

patíbulo e decapitado.<br />

A decisão era uma clara<br />

afronta contra Oliver<br />

Cromwell, o fundador do<br />

Novo Exército Modelo e<br />

mais experiente chefe militar<br />

da Inglaterra. Vários fatores<br />

levaram os soldados a<br />

não se submeterem ao Parlamento<br />

conservador. Primeiro<br />

desejavam ser comandados<br />

por Cromwell,<br />

segundo estavam profundamente<br />

revoltados com os<br />

pagamentos atrasados. Esta<br />

insatisfação ia em direção às<br />

idéias defendidas pelos niveladores,<br />

que a esta altura<br />

possuíam grande força nas<br />

camadas mais pobres da<br />

Inglaterra.<br />

A radicalização<br />

das tropas<br />

Em março de 1647, os soldados<br />

elegeram delegados para<br />

representá-los no Parlamento,<br />

os chamados “agitadores”,<br />

que seriam responsáveis por<br />

defender as idéias dos niveladores.<br />

Uma nova crise política<br />

vinha à tona.<br />

A ponto de se insurgirem<br />

contra o governo, o Parlamento<br />

propôs um acordo para as<br />

tropas. Os conservadores afirmaram<br />

estar dispostos a aceitar<br />

as reivindicações dos soldados,<br />

mas isso não foi suficiente<br />

para evitar a rebelião.<br />

Cromwell foi então designado<br />

pela Câmara dos<br />

Comuns para conter a<br />

revolta no interior do<br />

exército e preservar<br />

a aliança entre o<br />

Exército e o Parlamento.<br />

Cromwell<br />

estava num impasse.<br />

Precisava<br />

decidir entre<br />

sua autoridade<br />

parlamentar e o<br />

apoio que tinha<br />

por parte das<br />

tropas. Se<br />

apoiasse o Decreto<br />

de Exoneração,<br />

perderia<br />

o comando<br />

do Exército<br />

e sua popularidade<br />

entre os<br />

militares, mas,<br />

por outro lado, se<br />

apoiasse a rebelião,<br />

a situação poderia<br />

fugir totalmente<br />

de seu controle,<br />

pois o Exército<br />

estava muito inclinado<br />

a impor as reformas propostas<br />

pelos niveladores.<br />

À revelia do Parlamento e<br />

de Cromwell, o Exército declarou<br />

sua autonomia e prendeu<br />

o rei Carlos I, em 3 de<br />

junho de 1647. Surgiram especulações<br />

de que a rebelião seria<br />

uma manobra de Cromwell<br />

e o Parlamento articulava a<br />

sua prisão. Foi então que<br />

Cromwell juntou-se ao Exército<br />

novamente, com o objetivo<br />

de não deixar que as idéias<br />

dos niveladores “contaminassem”<br />

suas tropas. Sua maior<br />

batalha no momento era entre<br />

seu domínio sobre as tropas<br />

ou sua derrota diante dos niveladores.<br />

Para manter as tropas<br />

sob as suas rédeas, Cromwell<br />

aceitou a criação de um conselho<br />

militar que discutisse coletivamente<br />

qualquer decisão.<br />

Criava-se no interior do Exército<br />

uma espécie de duplo<br />

poder. Pela primeira vez não<br />

era mais Cromwell o chefe<br />

militar supremo, apesar de que<br />

todas as decisões deste conselho<br />

deveriam passar pelo seu<br />

crivo.<br />

Oliver Cromwell acreditava<br />

numa aliança estratégica com<br />

o rei a fim de preservar a tolerância<br />

religiosa tão fragilmente<br />

conquistada com a<br />

guerra. Os niveladores propunham<br />

a formação de uma República<br />

e a completa abolição<br />

da monarquia. Pretendiam<br />

também eliminar todos os parlamentares<br />

conservadores que<br />

haviam tentado dissolver o<br />

Exército. Estava mais do que<br />

claro de que o poder estava nas<br />

mãos dos militares.<br />

A crise resultou na criação<br />

dos Tópicos de Propostas,<br />

uma constituição proposta por<br />

Henry Ireton, genro de<br />

Cromwell, que previa resolver<br />

o impasse pela via institucional<br />

e evitar o crescimento dos<br />

niveladores. O documento<br />

previa a manutenção da Câmara<br />

dos Lordes e do rei, além da<br />

concessão de direitos especiais<br />

para proprietários de terras,<br />

incluindo privilégios para Ireton<br />

e, claro, para Cromwell.<br />

Este documento estava na<br />

contra-mão das idéias revolucionárias<br />

dos niveladores, que<br />

pretendiam acabar com a monarquia<br />

e instituir uma República<br />

dominada pelos pequenos<br />

proprietários. Os niveladores<br />

formularam então o Acordo do<br />

Povo, um projeto de carta<br />

constitucional considerada<br />

extremamente radical para a<br />

época, baseando-se num governo<br />

de consentimento popular<br />

e reivindicando o voto universal,<br />

outra medida que ia<br />

muito além das idéias da burguesia<br />

para o novo regime<br />

político.<br />

O Debate de<br />

Putney<br />

Um dos eventos mais importantes<br />

da história inglesa<br />

foi o Debate de Putney. Este foi<br />

o evento em que pela primeira<br />

vez se discutiram as novas<br />

idéias e o conceito de democracia<br />

burguesa. Cromwell,<br />

como mediador, tentava voltar<br />

todos os debates para o consenso<br />

nacional. O general<br />

foi até<br />

aqui a<br />

ex-<br />

pres-<br />

são da<br />

Oliver Cromwell.<br />

luta contra a<br />

aristocracia feudal e a<br />

monarquia, mas o desenvolvimento<br />

da revolução e a sua própria<br />

posição como burguês, o<br />

projetava inevitavelmente a<br />

conter a ala extrema-esquerda<br />

da revolução, a ala proletária.<br />

Vários soldados falavam em<br />

nome dos niveladores, que atacavam<br />

veementemente as propostas<br />

de Ireton de manutenção<br />

do regime monárquico. Os<br />

niveladores afirmavam que “o<br />

homem mais pobre da Inglaterra<br />

merecia igualdade de direitos<br />

na política”. Esta afirmação<br />

revolucionária colocava<br />

em xeque o poder de<br />

Cromwell, que acabou apelando<br />

a “Deus” para tentar um<br />

acordo. Dizia que “o poder de<br />

Deus” era muito mais importante<br />

do que as divergências e<br />

as formas de poder. “Elas são<br />

lixo e estrume comparadas a<br />

Cristo”, declarou.<br />

Seu maior objetivo era conter<br />

a forte tendência dos presentes<br />

a votarem com os niveladores,<br />

representados pelos<br />

agitadores eleitos pelos militares.<br />

Mas a manobra não deu<br />

certo. Logo após a sessão de<br />

orações, os presentes retomaram<br />

o debate e queriam votar<br />

o direito de todos os ingleses<br />

de votarem. Cromwell acusou<br />

os agitadores de querer dividir<br />

o Exército e impedir a unidade<br />

nacional, obrigando-os a voltarem<br />

aos seus regimentos. A<br />

divisão do campo revolucionário<br />

colocava objetivamente<br />

um limite e um impasse para a<br />

extrema-esquerda, o que abria<br />

caminho para a vitória de<br />

Cromwell sobre ela.<br />

Quando tudo parecia perdido<br />

para Cromwell, um acontecimento<br />

paralisou o andamento<br />

do debate. O rei não<br />

estava mais sob a custódia do<br />

Exército. Ele havia fugido do<br />

quartel de Hampton Court,<br />

onde estava preso. Mas alguns<br />

dias depois ele foi encontrado<br />

na ilha de Wight e recapturado,<br />

coincidentemente ou não,<br />

por um dos primos de<br />

Cromwell. Se antes o general<br />

estava apreensivo com o nível<br />

de radicalismo dos niveladores,<br />

Cromwell conquistara<br />

com o acontecimento uma<br />

maior autoridade. Alguns chegaram<br />

até mesmo a acusá-lo<br />

de ter forjado tudo para resgatar<br />

o apoio dos soldados. Com<br />

o Exército finalmente reunificado<br />

por <strong>causa</strong> da recaptura<br />

de Carlos I, este mesmo assim<br />

articulava secretamente planos<br />

para levar a Inglaterra a uma<br />

nova guerra civil. Conseguira<br />

o apoio dos escoceses, com a<br />

promessa de que instituiria o<br />

presbiterianismo como religião<br />

oficial no País por um período<br />

de três anos.<br />

Não demorou muito para<br />

que os planos chegassem aos<br />

ouvidos de Cromwell e ele<br />

ameaçou tomar atitudes drásticas<br />

caso o rei não governasse<br />

o País de acordo com as<br />

decisões parlamentares.<br />

A escalada militar se desenvolvia<br />

em meio à crise do próprio<br />

Exército. A ala radical das<br />

tropas, aliada aos niveladores,<br />

estava novamente<br />

a ponto<br />

de se<br />

rebelar<br />

e Cromwell<br />

foi forçado a<br />

se aproximar do grupo mais<br />

radical para contornar a crise<br />

interna antes que a guerra começasse,<br />

o que acabou acontecendo<br />

em fevereiro de 1648,<br />

no País de Gales.<br />

Da segunda<br />

guerra civil à<br />

decapitação do rei<br />

Novamente os ironsides comandados<br />

por Cromwell faziam<br />

a diferença. O disciplinado<br />

e experiente exército enfrentava<br />

em várias frentes as forças<br />

monarquistas e as tropas escocesas.<br />

A batalha mais importante<br />

da segunda guerra civil foi a<br />

Batalha de Preston. Ao contrário<br />

das outras lutas, que duravam<br />

algumas horas, esta se<br />

estendeu por cerca de duas<br />

semanas, com as tropas monarquistas<br />

sendo totalmente esmagadas,<br />

no dia 25 de agosto.<br />

A vitória do Exército deu a<br />

Cromwell o poder que precisava.<br />

As tropas escocesas se renderam<br />

e um governo pró-Parlamento<br />

assumiu o poder na<br />

Escócia. A segunda guerra civil<br />

terminava aqui.<br />

Mas se bem Cromwell havia<br />

reunificado as tropas, o Parlamento<br />

se reuniu e os representantes<br />

do Exército estavam decididos<br />

a não fazer nenhum<br />

acordo com o rei. Logo após a<br />

guerra já haviam inúmeras petições<br />

inspirados pelos niveladores<br />

para a execução de Carlos<br />

I. Se os oficiais não apoiassem<br />

os soldados, estes afirmavam<br />

que dariam cabo da tarefa<br />

mesmo assim.<br />

Enquanto isso Cromwell estava<br />

no Norte (Escócia) para<br />

evitar que novas rebeliões surgissem.<br />

Em Londres quem assumia<br />

as tarefas políticas em<br />

seu lugar era seu genro Ireton,<br />

incumbido de manter a coesão<br />

do Exército. Com a mesma unidade<br />

necessária para derrotar<br />

as tropas monarquistas na<br />

guerra, Ireton precisaria das<br />

mesmas forças para dominar<br />

um cenário político cada vez<br />

mais radicalizado. Tentava<br />

costurar um acordo entre os<br />

oficiais moderados e os dirigentes<br />

niveladores.<br />

O Exército era praticamente<br />

um destacamento armado da<br />

população ou, mais precisamente,<br />

desempenhava na revolução<br />

burguesa o mesmo papel<br />

que viria a desempenhar o conselho<br />

operário (soviete) na revolução<br />

proletária. Neste aspecto<br />

tinham mais poder que o<br />

próprio Parlamento. Seria impossível<br />

não fazer concessões<br />

aos niveladores, por isso Ireton<br />

apresentou em novembro de<br />

1648 um manifesto intitulado<br />

Um Protesto do Exército, no<br />

qual definiam os princípios<br />

niveladores. O documento propunha<br />

ainda o julgamento do<br />

rei, acusado de derramar o<br />

sangue do povo inglês.<br />

A primeira medida prática<br />

seria impedir a entrada no Parlamento<br />

dos deputados conciliadores<br />

com a monarquia. O<br />

jogo havia se invertido. Se no<br />

período que antecedera a primeira<br />

guerra civil os radicais<br />

foram impedidos de entrar pelos<br />

moderados, desta vez eram<br />

os radicais que impediam a entrada<br />

de 140 deputados ligados<br />

aos interesses da realeza. Apenas<br />

50 parlamentares conseguiram<br />

entrar na Câmara<br />

dos Comuns, fato<br />

que ficou conhecido<br />

como Rump Parliament<br />

(Parlamento<br />

Restante). A instância<br />

máxima do<br />

poder inglês estava<br />

dominada por<br />

aqueles que queriam<br />

ver a cabeça<br />

do rei rolar.<br />

Cromwell<br />

chegou no<br />

mesmo dia dos<br />

expurgos e<br />

apoiou a decisão,<br />

finalmente<br />

não havia<br />

como se posicionar<br />

contrário<br />

ao julgamento<br />

do rei uma<br />

vez que seu próprio<br />

exército leal<br />

desejava fazê-lo.<br />

Ao mesmo tempo<br />

opunha-se ao estabelecimento<br />

da República<br />

que via como<br />

uma ameça ao poder da<br />

burguesia diante das camadas<br />

populares.<br />

Foi estabelecido então<br />

uma Suprema Corte de Justiça<br />

responsável para julgar Carlos<br />

I, em nome do Parlamento.<br />

No dia de 30 de janeiro de<br />

1649, Carlos I foi levado ao patíbulo<br />

e decapitado.<br />

Esta foi a primeira vez na história<br />

que um rei ainda em exercício<br />

foi decapitado. Muitos<br />

reis haviam sido anteriormente<br />

julgados e condenados, mas<br />

nenhum em exercício. Indagado<br />

sobre a atitude de julgar um<br />

monarca reinante, Cromwell<br />

apenas desdenhou dizendo que<br />

a cabeça do rei seria cortada<br />

com a coroa em cima. A burguesia,<br />

que havia buscado o<br />

acordo com o rei teve decisão<br />

na hora de romper este acordo<br />

e decapitar o monarca, condenando<br />

de fato a monarquia.<br />

A década de 40 foi marcada<br />

por um das mais graves crises<br />

econômicas na Inglaterra. Com<br />

a morte de Carlos I, dirigentes<br />

niveladores foram elevados à<br />

altas patentes no Exército.<br />

Na próxima e última parte<br />

sobre Oliver Cromwell e a revolução<br />

inglesa, abordaremos o<br />

período da comunidade inglesa<br />

formada pelo general, a repressão<br />

contra as rebeliões<br />

pela liberdade religiosa e o regime<br />

militar imposto pelo Lorde<br />

Protector, Oliver Cromwell.<br />

Sua guinada à direita não<br />

seria fruto de seu fanatismo<br />

puritano, mas uma resposta<br />

que o Parlamento não poderia<br />

dar diante das idéias revolucionárias<br />

disseminadas pelos niveladores<br />

e por um outro grupo<br />

ainda mais radical: os diggers<br />

(escavadores), grupo<br />

formado por trabalhadores rurais<br />

que influenciou inclusive as<br />

fileiras dos próprios niveladores,<br />

simpáticos às idéias comunistas<br />

de Gerrard Winstanley.<br />

A próxima edição apresentará<br />

um panorama das condições<br />

de vida dos trabalhadores inglesas<br />

durante a revolução que<br />

acabou com o feudalismo, os<br />

bastidores da guerra entre o<br />

Parlamento e o rei.<br />

Errata: nas edições 488 e<br />

489 deste jornal, onde se escreveu<br />

“450 anos da morte de Crowmell”,<br />

leia-se “350 anos da<br />

morte de Cromwell”.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL 19<br />

RUANDA ELEIÇÕES LEGISLATIVAS<br />

País realiza segunda eleição<br />

desde o genocídio de 1994<br />

A Frente Patriótica Ruandesa ganhou a maioria das<br />

cadeiras com folga, uma vez que a maioria da oposição<br />

vive no exílio sem apresentar candidatos<br />

A oposição do pequeno País da África Central inclui cerca de<br />

dez partidos que atuam no exílio desde o fim do genocídio.<br />

Realizou-se na segundafeira<br />

(15) as eleições legislativas<br />

de Ruanda, onde mais<br />

de quatro milhões de eleitores<br />

escolheram 53 deputados<br />

entre 355 candidatos.<br />

Este é o segundo pleito organizado<br />

desde o genocídio<br />

de 1994, quando cerca de<br />

500 mil a um milhão de pessoas<br />

(entre tutsis e hutus<br />

considerados traidores) foram<br />

massacrados.<br />

Centenas de pessoas já formavam<br />

filas na capital Kigali<br />

antes da abertura da votação<br />

de segunda-feira, dia decretado<br />

como feriado nacional.<br />

As estimativas já apontavam<br />

para uma vitória fácil da<br />

Frente Patriótica Ruandesa<br />

(FPR) do presidente tutsi<br />

Paul Kagame, líder de uma<br />

coalizão formada por seis<br />

partidos, diante da fraca oposição<br />

do Partido Social Democrata<br />

(PSD) e do Partido<br />

Liberal (PL). Ambos partidos<br />

apoiaram Kagame nas primeiras<br />

eleições de 2003.<br />

A oposição do pequeno País<br />

da África Central inclui cerca<br />

de dez partidos que atuam no<br />

exílio desde o fim do genocídio<br />

e não apresentaram candidatos<br />

em nenhuma das eleições. Este<br />

vazio político dá à FPR a perspectiva<br />

de uma cômoda vitória<br />

por ampla maioria.<br />

Só há um candidato independente<br />

entre os concorrentes<br />

pelas 53 cadeiras da Câmara<br />

dos Deputados. Os outros<br />

27 assentos serão concedidos<br />

mediante eleições indiretas a<br />

serem realizadas ainda este<br />

mês, dos quais 24 são reservados<br />

às mulheres, dois para representantes<br />

da juventude e<br />

um para “descapacitados”.<br />

Haviam 356 candidatos ao<br />

pleito, mas um deles foi desclassificado<br />

pela Comissão<br />

Nacional Eleitoral por acusações<br />

de genocídio.<br />

Foram distribuídas cerca<br />

de 15 mil urnas em 2.150<br />

pontos de votação, mas muitas<br />

urnas continuavam fechadas<br />

horas após a abertura<br />

do pleito, fato que causou<br />

certa tensão, porém sem maiores<br />

conseqüências.<br />

Em 2003, nas primeiras<br />

eleições parlamentares desde<br />

o massacre, o FPR conquistou<br />

95% dos votos.<br />

Após o genocídio<br />

Paul Kagame, 51 anos, é<br />

Centenas de pessoas já formavam filas na capital Kigali<br />

antes da abertura da votação de segunda-feira, dia<br />

decretado como feriado nacional.<br />

acusado pelo governo francês<br />

(ex-colonizador de Ruanda)<br />

de ter participado do atentado<br />

que derrubou o avião do<br />

ex-presidente hutu, Juvenal<br />

Habyarimana, no dia 6 de abril<br />

de 1994, sendo o estopim para<br />

o início da guerra civil. Os dois<br />

países estão com relações diplomáticas<br />

rompidas desde<br />

2006, quando as acusações<br />

vieram à tona.<br />

Em agosto deste ano, uma<br />

comissão governamental que<br />

estuda as origens do genocídio<br />

de 1994 concluiu que vários<br />

políticos e militares franceses<br />

participaram diretamente<br />

do massacre.<br />

O informe publicado na<br />

terça-feira (5) acusa, dentre<br />

outros, o ex-primeiro-ministro,<br />

Dominique de Villepin, e<br />

o ex-presidente, François<br />

Mitterrand, de participarem<br />

da execução da minoria tutsi.<br />

Foram relacionados ao<br />

todo 33 nomes - 13 políticos<br />

e 20 militares. A comissão de<br />

investigação ruandesa sobre<br />

o papel da França no genocídio<br />

- cujo documento tem<br />

mais de 500 páginas - concluiu<br />

que a França estava “a<br />

par dos preparativos e participou<br />

nas principais iniciativas<br />

e em sua execução”.<br />

“Vários militares franceses<br />

cometeram eles mesmos<br />

assassinatos de tutsis e de<br />

hutus acusados de esconder<br />

tutsis. Os militares franceses<br />

também cometeram inúmeras<br />

violações com sobreviventes<br />

tutsis”.<br />

“O apoio francês foi político,<br />

militar, diplomático e tinha<br />

base logística”, indica o<br />

informe”, conclui o documento<br />

(AFP,6/8/2008).<br />

Desde o massacre, Ruanda<br />

passou por várias reformas<br />

políticas e recebe assistência<br />

internacional dos países<br />

imperialistas que não fizeram<br />

nada para evitar o genocídio<br />

(ou que participaram<br />

secretamente do massacre).<br />

Até hoje o País tenta impulsionar<br />

uma reconciliação étnica<br />

dificultada pelas guerras<br />

dos países vizinhos, por sua<br />

vez impulsionada pelo imperialismo.<br />

As estimativas já apontavam para uma vitória fácil da Frente<br />

Patriótica Ruandesa (FPR) do presidente tutsi Paul Kagame.<br />

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PAQUISTÃO A CRISE CONTINUA<br />

Tropas paquistanesas<br />

bloqueiam com disparos<br />

helicópteros norte-americanos<br />

Forças Armadas paquistanesas<br />

atiraram contra helicópteros<br />

norte-americanos que violaram o<br />

espaço aéreo do Paquistão na<br />

segunda-feira, 15, segundo afirmaram<br />

fontes oficiais do governo<br />

de Islamabad.<br />

O incidente, o primeiro desde<br />

que os EUA deram na semana<br />

passada permissão para que suas<br />

tropas no Afeganistão realizem<br />

operações especiais à revelia do<br />

governo paquistanês, aconteceu<br />

em Angor Adda, um vilarejo na<br />

região tribal do Sul do Uaziristão,<br />

reduto do Talebã, onde as tropas<br />

dos EUA intensificaram operações<br />

militares neste mês.<br />

A zona tribal localizada entre o<br />

Afeganistão e o Paquistão foi apontada<br />

pelo imperialismo norte-americano<br />

como um foco para a preparação<br />

de “grupos terroristas” e<br />

um alvo preferencial na sua “guerra<br />

contra o terror”.<br />

O chefe do Estado-Maior norte-americano<br />

anunciou na semana<br />

passada que as tropas militares<br />

no Afeganistão possuem permissão<br />

para cruzar a fronteira do<br />

País com o Paquistão usando,<br />

como sempre, o pretexto de “capturar<br />

e aniquilar terroristas da Al-<br />

Qaeda e do Taleban”. A decisão<br />

provocou uma crise diplomática<br />

entre os dois países depois que um<br />

comando norte-americano promoveu<br />

um ataque que resultou na<br />

morte de ao menos 20 civis. O governo<br />

paquistanês advertiu que<br />

não vai tolerar esse tipo de incursão<br />

sem permissão de Ismalabad.<br />

O chefe do Exército paquistanês,<br />

general Ashfaq Kayani, declarou<br />

que defenderá a soberania<br />

e a integridade territorial do país<br />

e não permitirá que nenhuma força<br />

estrangeira promova operações<br />

dentro do Paquistão.<br />

Outro funcionário de segurança<br />

paquistanês disse que veículos<br />

blindados norte-americanos também<br />

foram vistos em movimento<br />

no lado afegão da fronteira.<br />

Também disse que os soldados<br />

paquistaneses dispararam no ar,<br />

VOLKSWAGEN GREVE NA ALEMANHA<br />

obrigando os helicópteros a voltarem.<br />

À medida que a crise se aprofunda<br />

no Afeganistão, onde as<br />

tropas norte-americanas estão<br />

perdendo a guerra, o Paquistão<br />

também é seriamente afetado. O<br />

desespero do imperialismo levará<br />

inevitavelmente a um confronto<br />

contra o país que foi até então seu<br />

principal aliado no chamado<br />

“combate ao terrorismo”.<br />

O Paquistão foi até então o<br />

principal aliado do imperialismo na<br />

chamada política de “combate ao<br />

terrorismo”. A saída de Pervez<br />

Musharraf do poder e o reduto da<br />

insurgência na fronteira levarão<br />

esta aliança à sua dissolução.<br />

O País é uma peça chave para<br />

a estabilidade política da região. A<br />

evolução da crise aponta para a<br />

decomposição do regime que,<br />

mesmo após a saída do ditador<br />

Pervez Musharraf, não consegue<br />

conter a dissolução de um importante<br />

eixo de influência do imperialismo.<br />

Dezenas de milhares de metalúrgicos<br />

protestam na Alemanha<br />

Na sexta-feira (12) mais de 40<br />

mil metalúrgicos da Volkswagen<br />

alemã protagonizaram um dos<br />

maiores protestos da história da<br />

montadora. Os trabalhadores reuniram-se<br />

em Wolfsburg, sede da<br />

empresa, para defender a chamada<br />

“lei Volkswagen”.<br />

A Volks foi uma empresa estatal<br />

criada pelos nazistas e privatizada<br />

há 50 anos. A lei que privatizou<br />

a empresa foi chamada de<br />

“Lei Volks”. A lei, criada em 1960,<br />

garantiu os direitos dos trabalhadores<br />

e deu a eles e ao Estado alemão<br />

da Baixa Saxônia (norte) o<br />

direito à participação nas decisões<br />

da empresa, além de proteger a<br />

montadora das “compras hostis”<br />

por parte de outros grupos. O<br />

Estado, que concentra as principais<br />

atividades da montadora, detém<br />

30% de suas ações.<br />

A <strong>causa</strong> dos protestos dos trabalhadores<br />

está em que a justiça<br />

européia condenou a lei no ano<br />

passado, graças à pressão da sua<br />

maior acionista, a também montadora<br />

alemã Porsche. A Porsche já<br />

detém 31% das ações da Volks e<br />

pretende assumir mais de 50% nas<br />

próximas.<br />

A Porsche é a empresa automobilística<br />

mais rentável do mundo e<br />

já domina outras montadoras<br />

como a Scania. Toda a pressão<br />

contra a lei vem do interesse da<br />

montadora em controlar a Volks de<br />

olho nos lucros gerados pelos seus<br />

mais de 300 mil trabalhadores em<br />

todo o mundo.<br />

Mesmo após a decisão da jus-<br />

tiça européia, o governo alemão<br />

conservou o direito de veto do acionista<br />

público. A atitude irritou a<br />

Comissão européia, que anunciou<br />

que pode processar o governo alemão.<br />

A forte mobilização dos trabalhadores<br />

coloca o governo alemão<br />

na parede. O sindicato dos<br />

metalúrgicos IG Mettal, que representa<br />

mais de 90% dos assalariados<br />

da Volks, domina os<br />

protestos. Os trabalhadores fazem<br />

uma queda de braço com a<br />

Porsche para garantir os empregos<br />

e manter o poder de decisão<br />

sobre a empresa. A forte mobilização<br />

é uma mostra de que há<br />

uma tendência de luta dos trabalhadores<br />

que chega inclusive nos<br />

países avançados.<br />

NOTAS<br />

Governo da<br />

Venezuela expulsa<br />

dirigentes de<br />

organização<br />

humanitária<br />

acusados de<br />

planejarem um<br />

golpe de Estado<br />

O governo venezuelano<br />

convocou na sexta-feira (19)<br />

uma manifestação até o palácio<br />

presidencial para respaldar<br />

a decisão de Hugo Chávez<br />

de expulsar do País dirigentes<br />

da suposta organização<br />

humanitária Human Rights<br />

Watch, acusados de planejarem<br />

junto com a oposição um<br />

golpe de Estado e até mesmo<br />

o assassinato de Chávez.<br />

O diretor e o subdiretor de<br />

uma das maiores organizações<br />

humanitárias do mundo,<br />

o chileno José Miguel Vivanco<br />

e o norte-americano Daniel<br />

Wilkinson, responsáveis da<br />

HRW para o continente americano,<br />

foram expulsos na<br />

quinta-feira à noite, após a<br />

apresentação de um relatório<br />

intitulado “Uma Década de<br />

Chávez: Intolerância Política<br />

e Oportunidades Perdidas<br />

para o Progresso dos Direitos<br />

Humanos na Venezuela”.<br />

O relatório de 267 páginas<br />

afirma que o “suposto compromisso<br />

democrático de<br />

Chávez é contraditório com o<br />

desprezo às garantias institucionais<br />

e de direitos fundamentais<br />

que lhe foram atribuídos”.<br />

“Particularmente sério é o<br />

enfraquecimento sistemático<br />

das instituições democráticas,<br />

embora a Venezuela não<br />

seja o país onde mais se violam<br />

os direitos humanos na<br />

região”, afirmou Vivanco,<br />

citando Colômbia e Cuba<br />

(EFE, 19/9/2008).<br />

Ambos foram detidos por<br />

policiais no hotel em que estavam<br />

hospedados e acusados<br />

de “ingerência nos assuntos<br />

internos da Venezuela”. Eles<br />

foram encaminhados ao aeroporto<br />

e tomaram um avião<br />

com destino a São Paulo.<br />

Confronto entre<br />

rebeldes tâmeis e<br />

marinha do Sri<br />

Lanka termina com<br />

25 mortos<br />

Um confronto naval com a<br />

Marinha cingalesa em águas<br />

do noroeste do Sri Lanka deixou<br />

pelo menos 25 rebeldes<br />

tâmeis mortos hoje, enquanto<br />

dez de suas embarcações foram<br />

destruídas.<br />

Um porta-voz da Marinha<br />

militar cingalesa, D.K.P. Dassanayake,<br />

afirmou que foi detectada<br />

a presença de cerca de<br />

20 embarcações da guerrilha<br />

dos Tigres de Libertação da<br />

Pátria Tâmil (LTTE) no mar<br />

de Nachchikudha.<br />

As unidades da Marinha iniciaram<br />

um ataque no qual pelo<br />

menos 25 rebeldes morreram<br />

e um número indeterminado<br />

ficou ferido.<br />

Como conseqüência do<br />

confronto, sete pequenas embarcações<br />

da guerrilha e três<br />

navios de grande tamanho ficaram<br />

destruídos, acrescentou<br />

a fonte contatada telefonicamente.<br />

Durante os confrontos, que<br />

se prolongaram várias horas,<br />

dois soldados cingaleses ficaram<br />

feridos.<br />

Os “tigres” tâmeis enfrentam<br />

as Forças Armadas governamentais<br />

há mais de duas décadas<br />

para conseguir um Estado<br />

independente no leste e no<br />

norte do país.<br />

Ministra do Exterior,<br />

Tzipi Livni, é<br />

apontada como<br />

vencedora das<br />

eleições em Israel<br />

Segundo pesquisas de intenção<br />

de voto, a ministra do<br />

Exterior israelense, Tzipi Livni,<br />

venceu a eleição realizada<br />

na quarta-feira (17) para escolher<br />

o novo líder do partido Kadima<br />

e muito provavelmente<br />

para assumir o cargo de primeiro-ministro.<br />

Livni teria vencido o ministro<br />

dos Transportes, Shaul<br />

Mofaz, por uma margem de<br />

48% a 37% dos votos, uma<br />

vantagem que dispensaria o<br />

segundo turno.<br />

O atual primeiro-ministro,<br />

Ehud Olmert, disse que renunciaria<br />

logo que o vencedor<br />

saísse. Ele está sendo acusado<br />

de desvio de verbas, na<br />

verdade um mero pretexto<br />

para disfarçar uma manobra<br />

política de exclusão de Olmert,<br />

que está totalmente isolado<br />

politicamente.<br />

O vencedor terá um prazo<br />

de seis semanas para formar<br />

uma coalizão de governo.<br />

Ataque contra a<br />

embaixada dos EUA<br />

no Iêmen deixa ao<br />

menos 16 mortos<br />

Um ataque contra a embaixada<br />

dos EUA no Iêmen na<br />

quarta-feira (17) matou ao<br />

menos 16 pessoas e deixou<br />

dezenas de feridos. Nenhuma<br />

das vítimas são norte-americanas.<br />

Um carro-bomba explodiu<br />

por volta das 8h30 do horário<br />

local (2h30 em Brasília) na<br />

capital Sanaa. Testemunhas<br />

afirmam que o carro se chocou<br />

contra o portão de entrada<br />

da embaixada, explodindo<br />

em seguida. Um tiroteio foi<br />

iniciado logo após a explosão<br />

entre agentes de segurança e<br />

militantes islâmicos.<br />

A autoria do ataque foi reivindicada<br />

por um grupo que<br />

se autodenomina Jihad Islâmica<br />

no Iêmen. O grupo<br />

ameaçou ainda ataques outros<br />

alvos dos EUA até que<br />

seus companheiros sejam libertados.<br />

Todo o corpo diplomático<br />

norte-americano deixou o<br />

prédio. O Iêmen é um dos<br />

principais países árabes aliados<br />

ao imperialismo norteamericano<br />

em sua chamada<br />

“guerra contra o terrorismo”.<br />

É também um dos países<br />

mais pobres do Oriente<br />

Médio, portanto com alta<br />

propensão à formação de organizações<br />

armadas.<br />

Este é um dos maiores ataques<br />

já realizados no País<br />

contra os EUA. O maior deles<br />

continua sendo o que atingiu<br />

o navio militar norte-americano<br />

USS Cole, em outubro<br />

de 2000, quando 17 marinheiros<br />

dos EUA morreram.


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL 20<br />

CRISE POLÍTICA<br />

Quais são os planos da direita boliviana?<br />

Uma nova crise política domina<br />

a Bolívia. Após o povo boliviano<br />

ter derrubado a oligarquia<br />

pró-imperialista representada<br />

por Gonzalo Sánches de<br />

Lozada em 2003 e Carlos Mesa<br />

em 2005, esta mesma direita<br />

tenta voltar ao poder à força,<br />

aprovando estatutos próprios<br />

independentes da Constituição<br />

do Estado e colocando em<br />

marcha um plano sedicioso<br />

com base na violência e no terror<br />

provocado por bandos fascistas.<br />

A direita está se movimentando<br />

em torno de uma política<br />

internacional impulsionada pelo<br />

imperialismo que tem como objetivo<br />

encurralar o governo de<br />

Evo Morales e forçá-lo a ceder<br />

a todos os interesses da oligarquia,<br />

que visa consolidar seu<br />

poder político e econômico nas<br />

regiões mais ricas do País em<br />

petróleo e gás.<br />

No entanto, o golpe de Estado<br />

civil que está em marcha<br />

neste momento não vem de<br />

dentro da Bolívia, mas de fora,<br />

de um plano ditado pelo imperialismo<br />

norte-americano que<br />

quer pressionar Morales a dar<br />

cada vez mais espaço para os<br />

grandes capitalistas industriais<br />

e latifundiários.<br />

Trata-se, portanto, de uma<br />

tática tradicional aplicada pelo<br />

imperialismo. A velha tática do<br />

separatismo, tal como acontece<br />

na Palestina ou então mais recentemente<br />

na ex-Iugoslávia e<br />

em Kosovo, nos Bálcãs.<br />

Esta tática consiste em consolidar<br />

uma ruptura com o governo,<br />

criando nas regiões mais<br />

ricas do País - Santa Cruz, Pando,<br />

Beni e Tarija - estatutos autônomos<br />

próprios, leis próprias<br />

e forças de repressão próprias.<br />

Plano tático<br />

O que deve ser entendido é<br />

que os eventos ocorridos na<br />

Bolívia nas últimas semanas são<br />

apenas parte de um plano maior.<br />

Em primeiro lugar a direita<br />

não quer excluir Morales da<br />

política nacional, pois ele é o<br />

GOLPE DE ESTADO CIVIL<br />

A direita quer colocar a Bolívia novamente nos trilhos<br />

do imperialismo. Estes planos só podem ser alcançados<br />

com a capitulação do governo e a ajuda das Forças<br />

Armadas, o que de fato está acontecendo. Porém há uma<br />

barreira intransponível: vencer o movimento<br />

revolucionário das massas<br />

principal freio de contenção à<br />

tendência revolucionária das<br />

massas. Morales subiu ao poder<br />

em 2005, após os trabalhadores<br />

derrubarem dois governos próimperialistas.<br />

Sua primeira medida<br />

foi decretar a nacionalização<br />

dos hidrocarbonetos e das<br />

refinarias, postos e distribuidores<br />

de petróleo, gás e derivados,<br />

além de tornar o governo sócio<br />

majoritário dessas indústrias.<br />

Dois anos depois, a Assembléia<br />

Constituinte aprovaria a nova<br />

Constituição Política do Estado<br />

(CPE), que aprova entre outras<br />

medidas a submissão dos mandatos<br />

do presidente e dos governadores<br />

estaduais a referendos<br />

revogatórios.<br />

Todas essas medidas estão<br />

no marco do regime burguês e<br />

das suas instituições, respeitando<br />

acima de tudo o direito à propriedade<br />

privada. O MAS e Evo<br />

Morales foram eleitos para socorrer<br />

o regime burguês e manter<br />

o movimento revolucionário<br />

dos trabalhadores sob as suas<br />

rédeas.<br />

Como seria possível uma direita<br />

que foi derrubada duas vezes<br />

só nos últimos cinco anos<br />

reverter o quadro da situação?<br />

Esta mesma direita estaria fortalecida<br />

a ponto de dividir o País<br />

ao meio?<br />

Uma direita<br />

legalista?<br />

Um dos piores erros na compreensão<br />

da situação boliviana<br />

seria acreditar que a direita é forte<br />

e que prova disso é a tentativa<br />

de golpe de estado civil. Outro<br />

erro seria pensar que o plano sedicioso<br />

se dá nos marcos das<br />

instituições e das leis.<br />

A imprensa burguesa em geral<br />

atribui as ocupações de prédios<br />

públicos, bloqueios de estradas<br />

e a atuação de milícias paramilitares<br />

de extrema-direita<br />

contra os trabalhadores à tentativa<br />

de uma elite impedir a realização<br />

do referendo constitucional<br />

marcado para o dia 7 de dezembro<br />

que, se aprovado, dará<br />

o direito a Evo Morales concorrer<br />

às eleições presidenciais de<br />

2010.<br />

Outro fator de disputa seria<br />

sobre o Imposto Direto aos Hidrocarbonetos<br />

(IDH), que Morales<br />

tirou dos departamentos<br />

controlados pela oposição para<br />

aplicar em um programa social<br />

para idosos sem pensão.<br />

A disputa não é constitucional<br />

e tão pouco se baseia em uma<br />

disputa sobre os impostos,<br />

como na Argentina, quando o<br />

governo foi paralisado pelos bloqueios<br />

impulsionados pelos ruralistas.<br />

Não se trata de uma<br />

direita legalista que quer subir<br />

novamente ao poder em 2010.<br />

Evo Morales foi eleito com<br />

53,74% dos votos em dezembro<br />

de 2005, sendo o primeiro presidente<br />

da Bolívia de origem indígena<br />

e o primeiro mandatário<br />

boliviano a ser eleito para o<br />

cargo em primeiro turno em<br />

mais de três décadas.<br />

No mês passado sua popularidade<br />

se confirmou de forma<br />

ainda mais retumbante. Ganhou<br />

mais de 67% dos votos no referendo<br />

revogatório realizado<br />

no mês passado. Sete de cada<br />

dez bolivianos votaram em Morales,<br />

um índice muito maior do<br />

que o alcançado por Lula no<br />

Brasil.<br />

Isto só prova que a direita<br />

não tem nenhuma força na Bolívia.<br />

Não só é impossível a direita<br />

vencer as eleições de 2010<br />

como é totalmente inútil o referendo<br />

constitucional. É preciso<br />

deixar claro que esta tentativa de<br />

dividir o País é a última chance<br />

da direita de consolidar seu<br />

poder político e econômico. Se<br />

este plano fracassar, não é o governo<br />

de colaboração de classes<br />

que irá dar cabo dela, mas a ação<br />

revolucionária das massas.<br />

Apoio das Forças<br />

Armadas<br />

O presidente da Venezuela,<br />

Hugo Chávez, aliado político de<br />

Evo Morales, já havia dito que se<br />

a direita tomasse o poder à força<br />

ou assassinasse Evo Morales,<br />

enviaria tropas venezuelanas para<br />

defender o governo boliviano. A<br />

declaração causou aborrecimento<br />

entre as Forças Armadas da<br />

Bolívia, que imediatamente soltaram<br />

um comunicado reiterando<br />

que não querem que nenhuma<br />

tropa internacional pise no<br />

solo boliviano.<br />

Desta vez, Chávez acusou o<br />

comandante das Forças Armadas<br />

bolivianas, general Luis Trigo,<br />

de desobedecer as ordens do<br />

governo para facilitar o golpe<br />

civil. Chávez comparou o general<br />

aos militares venezuelanos<br />

que também facilitaram a tentativa<br />

frustrada do golpe contra ele<br />

em 2002.<br />

Citando fontes não reveladas,<br />

Chávez disse que Trigo “ao invés<br />

de cumprir o decreto presidencial<br />

de estado de sítio, ordenou<br />

que as tropas se aquartelassem<br />

e abandonassem o aeroporto”<br />

da convulsionada região de<br />

Pando, onde ao menos 30 camponeses<br />

foram massacrados no<br />

sábado (13).<br />

Chávez lembrou também o<br />

general chileno Augusto Pinochet,<br />

“que fingiu até o último<br />

momento estar ao lado do presidente<br />

Salvador Allende”, até<br />

derrubá-lo em um golpe militar<br />

em 1973.<br />

Outra demonstração de completa<br />

fraqueza da direita. Os bandos<br />

fascistas que estão promovendo<br />

a ocupação de prédios<br />

governamentais e o bloqueio de<br />

estradas tem o apoio das próprias<br />

Forças Armadas bolivianas,<br />

as mesmas forças que acumulam<br />

um vasto histórico de chacinas<br />

e massacres contra o<br />

povo boliviano.<br />

O máximo que esta corja direitista<br />

pode fazer é contratar pequenos<br />

grupos da classe média<br />

urbana dos centros comerciais<br />

para aterrorizar a população<br />

pobre e desarmada. Os militares<br />

não teriam nenhum trabalho<br />

para esmagar<br />

estes<br />

bandos fascistas, mas estes<br />

paramilitares estão sendo armados<br />

pelo próprio exército.<br />

Movimento de<br />

massas<br />

independente e<br />

revolucionário<br />

A direita teme um novo levante<br />

popular, mas sabe que Evo<br />

Morales está disposto a negociar.<br />

Esta mesma direita foi derrubada<br />

por uma revolução e não<br />

pode voltar sem o apoio de Morales.<br />

Aliam a política burguesa<br />

do MAS aos seus interesses.<br />

O governo de Evo Morales é<br />

muito fraco porque é provisório,<br />

apesar de ter sido eleito de<br />

forma direta. Após a derrubada<br />

da direita em 2005, Morales<br />

subiu ao poder para frear uma<br />

revolução e marcha que ainda<br />

não acabou. A tentativa de golpe<br />

é um movimento contra-revolucionário,<br />

enquanto que os<br />

trabalhadores bolivianos são a<br />

classe revolucionária. Morales<br />

está no centro desta disputa e<br />

por isso está num impasse. Procura<br />

tomar medidas de retaliação<br />

que não atinge minimamente<br />

a direita, como a expulsão do<br />

embaixador norte-americano.<br />

O governo deveria impulsionar<br />

os trabalhadores da cidade e do<br />

campo para derrotar a direita<br />

para sempre, tomando as suas<br />

propriedades e expropriando o<br />

latifúndio.<br />

Entretanto, diante da vacilação<br />

e da capitulação vergonhosa<br />

do governo, já começam a<br />

aparecer as primeiras movimentações<br />

independentes. O departamento<br />

de Santa Cruz, controlado<br />

pelo governador Rubén<br />

Costas e o presidente do Comitê<br />

Cívico local, Branko Marinkovic,<br />

dois dos principais articuladores<br />

do golpe, está cercado<br />

por camponeses e indígenas.<br />

Esta é uma clara demonstração<br />

de que os trabalhadores<br />

estão se organizando independentemente<br />

de Evo Morales e do<br />

MAS, uma aspiração verdadeiramente<br />

revolucionária contra a<br />

oligarquia e a frente popular.<br />

MASSACRE NORTE DA BOLÍVIA<br />

Preso governador de Pando, o<br />

“carniceiro de Cobija”<br />

O principal responsável pelo<br />

massacre de camponeses no<br />

departamento de Pando, Norte<br />

da Bolívia, fronteira com o estado<br />

brasileiro do Acre, o prefeito<br />

(governador) ultra-direitista<br />

Leopoldo Fernández, 56, foi<br />

detido na terça-feira (16) pelo<br />

Exército na cidade de Cobija, a<br />

capital de Pando.<br />

Durante sua gestão, Fernández<br />

organizou bandos fascistas<br />

contra trabalhadores camponeses,<br />

sindicalistas e indígenas<br />

para impor o poder da oligarquia<br />

latifundiária e exploradora na região.<br />

É um dos quatro departamentos<br />

- ao lado de Santa Cruz,<br />

Beni e Tarija - que decretou autonomia<br />

em relação ao governo<br />

central. No dia 11 de setembro,<br />

organizou a matança de pelo<br />

menos 17 camponeses apoiadores<br />

do governo de Evo Morales.<br />

Ao ser preso, ele foi conduzido<br />

a um veículo particular até o<br />

aeroporto para pegar um vôo<br />

com destino à La Paz, onde está<br />

detido e sendo julgado por genocídio.<br />

Além dos mortos, dezenas<br />

ficaram feridos e mais de<br />

100 continuam desaparecidos.<br />

“Sua detenção obedece a uma<br />

disposição legal e constitucional,<br />

no marco do estado de sítio”,<br />

disse Evo Morales (AFP,<br />

16/9/2008). Pando está sob<br />

estado de sítio desde os confrontos<br />

entre simpatizantes de<br />

Morales e autonomistas, que resultou<br />

nas mortes de camponeses.<br />

Segundo relatos de sobreviventes,<br />

a maioria das mortes foi<br />

<strong>causa</strong>da por disparos contra<br />

camponeses que tentavam fugir<br />

a nado. A polícia local, que responde<br />

ao governo nacional, estava<br />

no local e apenas assistiu ao<br />

maior massacre na Bolívia desde<br />

o fim da última ditadura militar<br />

no País.<br />

“Às duas da manhã nós não<br />

tínhamos armas, enquanto que<br />

o outro grupo tinha bombas, dinamites<br />

e lançaram contra nós,<br />

que estávamos voltando de Puerto<br />

Rico. Seguiram-nos dois<br />

quilômetros e aí utilizaram armas<br />

de fogo. Depois nos encontraram<br />

em Porvenir, não podíamos<br />

continuar, pois tinham<br />

metralhadoras e meus companheiros<br />

escaparam pelo monte,<br />

pulavam no rio e aí lhes davam<br />

tiro. Devem haver 100 feridos e<br />

mortos. Havia gente grávida,<br />

haviam meninos e meninas que<br />

foram massacradas. Quando<br />

cruzavam o rio para escapar,<br />

lhes lançavam tiros e as companheiras<br />

caíam mortas, duas<br />

senhoras e outras duas feridas<br />

que estavam a ponto de abortar”.<br />

Este é o relato de um dirigente<br />

indígena sobrevivente do massacre<br />

(Econoticias, 16/9/2008).<br />

Três caminhões com cerca<br />

de 340 camponeses vindos de<br />

Puerto Rico estavam próximos<br />

a Porvenir quando foram abordados<br />

pelos fascistas. O destino<br />

era a cidade de Filadelfia, a 15<br />

quilômetros da capital, onde<br />

ocorreria um encontro de organizações<br />

apoiadoras de Morales.<br />

Durante o percurso, o comboio<br />

foi impedido de prosseguir<br />

por uma trincheira cavada por<br />

funcionários do departamento<br />

de Pando. Horas depois, os fascistas,<br />

fortemente armados,<br />

avançaram contra os camponeses,<br />

que fugiram pelo rio Tahuamano,<br />

que tem 20 metros de<br />

largura. Durante a travessia,<br />

todos os camponeses que estavam<br />

na água foram mortos, aos<br />

olhos da polícia que nada fez.<br />

Estima-se que os mais de 100 desaparecidos<br />

estejam no fundo<br />

do rio.<br />

Mesmo sob estado de sítio,<br />

vários prédios governamentais<br />

continuam ocupados pelos autonomistas,<br />

como os serviços de<br />

imigração e as aduanas.<br />

Leopoldo Fernánez é o representante<br />

de um grupo de latifundiários<br />

e grandes empresários<br />

pró-imperialistas no departamento<br />

de Pando. Pelo menos<br />

oito famílias controlam cerca de<br />

um milhão de hectares de terras<br />

férteis, o equivalente a duas mil<br />

vezes a extensão da capital Cobija.<br />

O próprio governador é um<br />

destes milionários.<br />

Fernández é tão influente na<br />

vida política boliviana que o próprio<br />

Morales lhe propôs, há dois<br />

anos atrás, que saísse como<br />

candidato pelo MAS (Movimento<br />

ao Socialismo, partido de<br />

Cronologia da crise<br />

9 de dezembro de 2007 -<br />

Assembléia Constituinte da Bolívia<br />

aprova projeto de reforma<br />

constitucional. Partidos da direita<br />

boicotam a Assembléia, que<br />

aprova dentre outras medidas a<br />

submissão dos mandatos do<br />

presidente e dos governadores<br />

estaduais - chamados na Bolívia<br />

de prefeitos - a referendos revogatórios.<br />

15 de dezembro de 2007 -<br />

Santa Cruz de la Sierra, o departamento<br />

mais rico do país, declara<br />

autonomia do estado em<br />

relação ao governo central -<br />

Câmara de Deputados boliviana<br />

aprova o Projeto de Lei do Referendo<br />

Revogatório de Mandato<br />

Popular do presidente da<br />

República, vice-presidente e<br />

prefeitos departamentais (governadores).<br />

Morales), mas o fascista rechaçou<br />

o pedido e, obviamente,<br />

juntou-se aos agroindustriais.<br />

Fernández e seus aliados são<br />

abertamente racistas e mantém<br />

na região um regime muito similar<br />

ao feudalismo. O atual governador<br />

de Pando foi funcionário<br />

público durante as ditaduras de<br />

Luis Garcia Meza (1980-1981),<br />

Celso Torrelio e Guido Vildoso<br />

(1981-1982); depois foi responsável<br />

em Pando pelo Instituto<br />

Nacional de Colonização (atual<br />

INRA); parlamentar, prefeito e<br />

ministro do governo fascista do<br />

ex-ditador Hugo Banzer-Jorge<br />

Quiroga (1997-2002).<br />

Fernández treinou em Cobija<br />

grupos paramilitares de extrema-direita<br />

e participou no ano<br />

passado do incêndio contra a<br />

casa do senador pandino Cuellar,<br />

apoiador de Evo Morales.<br />

Só agora, diante de um massacre<br />

monstruoso, Evo Morales<br />

decreta sua prisão, mas anos<br />

7 de janeiro de 2008 - O<br />

presidente da Bolívia se reúne<br />

com os prefeitos (governadores)<br />

opositores que rechaçam a<br />

reforma constitucional, na tentativa<br />

de superar a crise política<br />

que divide o país.<br />

29 de fevereiro - Morales<br />

convoca referendo para validar<br />

nova Constituição para 4 de<br />

maio.<br />

4 de maio - Referendo em<br />

Santa Cruz reconhece autonomia<br />

do Estado.<br />

1º de junho - Os departamentos<br />

(estados) de Beni e Pando<br />

realizaram referendo sobre o<br />

estatuto de autonomia em relação<br />

ao governo boliviano. O<br />

apoio foi de 86% e 85%, respectivamente.<br />

A consulta popular<br />

foi declarada ilegal pelo presidente<br />

Morales.<br />

22 de junho - Os bolivianos<br />

do departamento de Tarija vão às<br />

urnas e decidem pela autonomia<br />

em relação ao governo central.<br />

atrás o procurava<br />

para integrar<br />

seu governo.<br />

Evo Morales<br />

continuará negociando<br />

com<br />

outros criminosos,<br />

como o governador<br />

de<br />

Santa Cruz, Rubén<br />

Costas, um<br />

dos mentores do<br />

golpe de Estado<br />

civil.<br />

O governo de<br />

colaboração de<br />

classes de Evo<br />

Morales tenta<br />

negociar com os<br />

mesmos criminosos<br />

que participaram<br />

ativamente<br />

de muitos<br />

outros massacres contra trabalhadores<br />

durante as ditaduras<br />

militares. Todos estes estão agora<br />

escondidos por detrás de par-<br />

10 agosto de 2008 - Povo<br />

boliviano vota para decidir se<br />

querem ou não que o presidente,<br />

Evo Morales, seu vice-presidente,<br />

Álvaro García Linera, e oito<br />

dos nove governadores do país<br />

continuassem em seus cargos. -<br />

Corte Nacional Eleitoral confirma<br />

a esmagadora vitória de Morales<br />

com 67,41 % e também dos governadores<br />

de quatro departamentos<br />

que formam a chamada<br />

“meia lua”<br />

19 de agosto - Greve geral de<br />

24 horas convocada pela oposição<br />

é marcada por confrontos<br />

violentos entre policiais e manifestantes.<br />

9 de setembro - Grupos de<br />

oposição saqueiam prédios públicos<br />

em Santa Cruz.<br />

10 de setembro - Uma válvula<br />

de segurança do Gasoduto<br />

Bolívia-Brasil é destruída, o que<br />

provoca um corte de 10% do<br />

fornecimento de gás natural para<br />

o Brasil. No mesmo dia, Morales<br />

expulsa o embaixador americano<br />

na Bolívia, Philip Goldberg, o<br />

acusando de apoiar a oposição<br />

conservadora.<br />

11 de setembro - Cerca de<br />

Fernández treinou em Cobija grupos<br />

paramilitares de extrema-direita.<br />

tidos supostamente democráticos<br />

que estão, clandestinamente,<br />

orientados diretamente por<br />

Washington.<br />

17 pessoas são massacradas<br />

em conflitos no departamento<br />

de Pando - EUA respondem<br />

a Evo com a expulsão do embaixador<br />

boliviano, Gustavo<br />

Guzman - Hugo Chávez, em<br />

resposta, expulsa o embaixador<br />

americano na Venezuela.<br />

12 de setembro - EUA expulsam<br />

o embaixador da Venezuela<br />

no país - Bolivianos<br />

fecham fronteira de Mato<br />

Grosso com a Bolívia - Evo<br />

pede negociação com oposição,<br />

que aceita proposta<br />

16 de setembro - O governador<br />

do departamento de<br />

Pando. Leopoldo Fernández,<br />

é preso pelo exército por ser<br />

o responsável pelo massacre<br />

de Cobija, em Pando<br />

18 de setembro - O presidente<br />

Evo Morales inicia a<br />

reunião de pré-acordo com<br />

os governadores autonomistas<br />

de Santa Cruz, Beni, Tarija<br />

e Chuquisaca para efetuar<br />

um acordo nacional e dar<br />

fim à crise iniciada há três semanas


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL 21<br />

CRISE NA BOLÍVIA<br />

O REGIME EM XEQUE<br />

Evo Morales prepara acordo com a direita golpista<br />

Enquanto camponeses armados cercam Santa Cruz para<br />

exigir a renúncia do governador golpista Rubén Costas,<br />

governo celebra reunião com a direita a portas fechadas<br />

e sem interrupção, até que seja firmado um acordo<br />

definitivo<br />

Milhares de camponeses do<br />

Norte cruzenhista se concentraram<br />

na quarta-feira (17) na cidade<br />

de El Sojal, a cerca de cinco<br />

quilômetros da população de San<br />

Carlos, com o objetivo de continuar<br />

com a marcha até a cidade de<br />

Santa Cruz de la Sierra. Cerca de<br />

mil camponeses que partiram de<br />

Oruro se juntaram ao grupo,<br />

muitos portando armas de fogo.<br />

Há uma semana movimentos<br />

ligados ao MAS (Movimento ao<br />

Socialismo, partido de Evo Morales)<br />

bloqueiam a estrada principal<br />

que liga as cidades de Cochabamba<br />

à capital cruzenha. Centenas de<br />

veículos de carga estão parados na<br />

estrada.<br />

A estrada entre Santa Cruz e a<br />

fronteira com o Brasil também está<br />

fechada pelos manifestantes. O<br />

movimento reivindica a desocupação<br />

de todos os<br />

prédios públicos<br />

ocupados por<br />

autonomistas e a<br />

renúncia imediata<br />

do governador<br />

de Santa Cruz,<br />

Rubén Costas, o<br />

principal pivô do<br />

putsch civil iniciado<br />

há três semanas<br />

contra o governo<br />

de Evo<br />

Morales.<br />

“Aqui não vai<br />

haver diálogo”,<br />

diziam alguns<br />

camponeses,<br />

apesar de Morales<br />

se reunir com<br />

a oposição.<br />

Dentro de<br />

Santa Cruz,<br />

numa das regiões<br />

mais pobres do<br />

departamento, o bairro de Plano<br />

Três Mil, o Comitê Cívico Popular<br />

deu um ultimato de 48 horas<br />

para que Rubén Costas renunciasse.<br />

“Apoiaremos a marcha dos<br />

camponeses que chegarem em<br />

Santa Cruz”, disse Jaime Choque,<br />

dirigente no Plano 3000, membro<br />

do MAS.<br />

Devido ao bloqueio das estradas,<br />

a população de Santa Cruz<br />

está sem gás de cozinha e os alimentos<br />

são escassos. Em assembléia,<br />

os camponeses decidiram<br />

por unanimidade intensificar os<br />

bloqueios e atacar Santa Cruz com<br />

armas caso seja necessário. O<br />

departamento é reduto do grupo<br />

fascista União Juvenil Cruzenha<br />

(UJC), que tem o patrocínio de<br />

Rubén Costas e do presidente do<br />

Comitê Cívico local, o mega empresário<br />

de origem croata, Branko<br />

Marinkovic.<br />

Os bloqueios aos acessos para<br />

Santa Cruz de la Sierra acontecem<br />

ao mesmo tempo em que o presidente<br />

Evo Morales se reúne com<br />

os quatro governadores de oposição<br />

em Cochabamba.<br />

Segundo dirigentes do MAS,<br />

cerca de 10 mil pessoas cercam a<br />

cidade, representados por federações<br />

camponesas de San Carlos,<br />

San Juan, Buenavista e outros.<br />

Os “marchistas”, como se auto<br />

definem, chegaram na quinta-feira<br />

(18) em Buenavista. “Permaneceremos<br />

lá por um dia e logo avançaremos<br />

até um novo ponto de<br />

bloqueio. Nosso objetivo principal<br />

é chegar à Santa Cruz”, disse o<br />

deputado suplente pelo MAS,<br />

Orlando Llanos (La Razon,18/9/<br />

2008).<br />

Outro dirigente em Yapacaní,<br />

Julián Torrico, disse que a marcha<br />

tem um caráter pacífico: “Não<br />

vamos buscar o enfrentamento<br />

com militares nem policiais. Esta<br />

é uma marcha pacífica. Estamos<br />

pedindo que os cívicos devolvam<br />

as instituições que tomaram com<br />

atos de vandalismo. Do contrário,<br />

seguiremos marchando e bloqueando<br />

até chegar à cidade [a capital<br />

Santa Cruz de La Sierra]” (Idem).<br />

No entanto, os paramilitares ultradireitistas<br />

estão se concentrando<br />

na capital para enfrentar os camponeses,<br />

que portam porretes e<br />

fuzis.<br />

Crise da direita... e<br />

da esquerda<br />

A União Juvenil Cruzenha<br />

(UJC), organização fascista e racista<br />

que responde ao Comitê<br />

Cívico de Santa Cruz e à prefeitura,<br />

destituiu seu presidente,<br />

David Sejas, após uma crise interna<br />

que resultou no surgimento<br />

de dois grupos: um que apóia<br />

Sejas e outro contra a sua destituição.<br />

Um dos dirigentes dos unionistas<br />

afirmou que o Diretório presidido<br />

por Sejas cometeu vários<br />

erros, entre eles a frustrada tentativa<br />

de desbloquear a antiga estrada<br />

que liga Santa Cruz a Cochabamba,<br />

onde um fascista morreu<br />

depois de receber uma paulada na<br />

cabeça.<br />

A União Juvenil Cruzenha<br />

(UJC) foi fundada em meados de<br />

outubro de 1957, consolidandose<br />

como a tropa de choque da<br />

direita em Santa Cruz.<br />

Ao mesmo tempo em que o<br />

governo se reúne com esta direita<br />

golpista e fascista, Evo Morales<br />

firmou também um acordo<br />

com a Central Operária Boliviana<br />

(COB), a maior organização de<br />

trabalhadores do País. Morales e<br />

o presidente da Conalcam (Conselho<br />

Nacional pela Democracia),<br />

principal organização social aliada<br />

ao governo, selaram um acordo<br />

com a central “pela defesa da<br />

democracia e a unidade da Bolívia”.<br />

Morales, o presidente da Conalcam,<br />

Fidel Surco, e o dirigente<br />

da COB, Pedro Montes, formaram<br />

o pacto para lutar “contra os<br />

grupos oligárquicos, latifundiários<br />

e pessoas que são pró-ianques”.<br />

“Meu grande desejo é que o<br />

Comitê Executivo da COB seja a<br />

cabeça para enfrentar estes grupos”,<br />

disse Morales (Ibidem).<br />

Além de Morales, os governadores<br />

de Santa Cruz, Beni, Tarija<br />

e Chuquisaca também estarão<br />

presentes nas reuniões em Cochabamba.<br />

Participarão também<br />

delegados de organismos internacionais,<br />

como a União de Nações<br />

Sul-Americanas (Unasur), Organização<br />

das Nações Unidas<br />

(ONU), União Européia (UE) e a<br />

Organização dos<br />

Estados Americanos<br />

(OEA).<br />

O imperialismo<br />

aplaude o acordo de<br />

trégua entre o governo<br />

e os fascistas.<br />

A Igreja Católica,<br />

a ONU, a CIA e<br />

o MAS (Movimento<br />

ao Socialismo,<br />

partido de Evo Morales),<br />

desejam costurar<br />

um grande<br />

acordo nacional<br />

para preservar acima<br />

de tudo o regime<br />

burguês e a propriedade<br />

privada.<br />

Em uma declaração<br />

pouco antes<br />

do início dos diálogos,<br />

Evo Morales<br />

fez algumas críticas<br />

contra a oposição,<br />

mas centrou sua<br />

crítica contra a<br />

Igreja Católica, que<br />

supostamente estaria<br />

mediando o debate.<br />

“Lamento que o<br />

cardeal defenda as<br />

pessoas que defendem<br />

os interesses<br />

do Império e<br />

não o povo”. Morales refere-se<br />

ao cardeal Julio Terrazas, presidente<br />

da Conferência Episcopal<br />

da Bolívia, aliado da direita<br />

em Santa Cruz.<br />

Os acontecimentos deixam<br />

claro que a política direita, de<br />

dividir o país fracassou completamente<br />

pela internvenção<br />

das massas que ultrapassou a<br />

política de contenção de Evo<br />

Morales. A direita não luta<br />

contra Evo Morales, mas contra<br />

as tendências revolucionárias<br />

das massas, ao contrário do<br />

que diz boa parte da esquerda.<br />

A política de acordo com a<br />

direita da parte de Morales é<br />

uma capitulação política e uma<br />

Veja documento de pré-acordo<br />

estabelecido entre o governo e a oposição<br />

A Bolívia presta um serviço vital para o Brasil. O gasoduto Bolívia-<br />

Brasil, também conhecido como Gasbol, tem início em Rio Grande,<br />

cidade próxima à Santa Cruz de la Sierra, e termina na cidade<br />

gaúcha de Canoas, atravessando também os estados de Mato Grosso<br />

do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Cerca de 80% do gás<br />

consumido no Brasil vem das reservas bolivianas.<br />

Após sucessivas sessões iniciadas<br />

na sexta 12 de setembro,<br />

destinadas a estabelecer um diálogo,<br />

acordaram-se as seguintes<br />

propostas para alcançar um<br />

“Grande Acordo Nacional”:<br />

1. Propostas para o diálogo<br />

nacional<br />

A) O processo de diálogo<br />

abordará a seguinte agenda:<br />

• IDH – Direitos;<br />

O governo nacional reconhece<br />

conforme as leis vigentes o<br />

direito dos departamentos de<br />

cobrar o Imposto Direto aos Hidrocarbonetos<br />

(IDH); Podendo<br />

garantir o pagamento da renda<br />

Dignidade e sua sustentabilidade<br />

com as distintas fontes de financiamento<br />

estabelecidas por<br />

lei.<br />

O governo nacional reitera<br />

sua decisão de respeitar e manter<br />

a atual distribuição de direitos<br />

aos departamentos e os mecanismos<br />

para sua transferência,<br />

estabelecidos pelas normas<br />

vigentes.<br />

• Autonomias departamentais<br />

– Estatutos:<br />

O governo nacional expressa<br />

seu respeito ao direito de autonomia<br />

departamental de Pando,<br />

Beni, Tarija e Santa Cruz.<br />

• Nova Constituição Política<br />

do Estado (CPE);<br />

• Pacto Institucional;<br />

- Designações congressuais<br />

aos cargos vagos, conforme a<br />

CPE vigente e a lei.<br />

- Padrão eleitoral. Programa<br />

de carteiras e registro civil.<br />

- Processos eleitorais.<br />

B) Os temas da agenda de<br />

diálogos serão realizados<br />

em três mesas de debate<br />

e em uma mesa central<br />

que terá como função<br />

aprovar os acordos.<br />

C) O processo de diálogo<br />

contará com o<br />

acompanhamento por<br />

mediadores e testemunhas.<br />

Foi acordado que<br />

convide a Unasur, Igreja<br />

Católica, União Européia,<br />

OEA e as Nações Unidas.<br />

D) No início do processo<br />

se aprovará uma<br />

metodologia e cronograma,<br />

que incluirá a definição<br />

dos agentes que serão<br />

envolvidos com a mesma<br />

e as vozes do processo.<br />

2. Restabelecimento<br />

da paz social no âmbito do<br />

Estado de direito.<br />

A) Retirada imediata das pessoas<br />

estranhas que ocuparam as<br />

oficinas públicas e instalações<br />

petroleiras no conflito, a fim de<br />

restabelecer os serviços públicos.<br />

Iniciam-se as conversas sobre<br />

a nova administração territorial<br />

das instituições, considerando<br />

a implementação<br />

constitucional da autonomia<br />

departamental.<br />

Também se acordou o levantamento<br />

de todos os bloqueios<br />

de caminhos no território nacional<br />

B) As partes deverão iniciar<br />

o processo de pacificação<br />

do país, restabelecendo plenamente<br />

a convivência pacífica<br />

entre os bolivianos criando<br />

os esforços necessários<br />

para frear imediatamente a<br />

violência em todo o território<br />

nacional.<br />

C) O governo nacional suspenderá<br />

a consideração do referendo<br />

constitucional no<br />

congresso nacional, no prazo<br />

de um mês, podendo ampliar o<br />

mesmo acordo aos avanços do<br />

diálogo nacional, devendo<br />

suspender a campanha governamental<br />

em torno do projeto<br />

da nova CPE.<br />

D) Esclarecer os infelizes<br />

acontecimentos ocorridos no<br />

departamento de Pando, através<br />

de organismos nacionais e internacionais<br />

imparciais e uma comissão<br />

congressual que irá passar<br />

de imediato os acontecimentos.<br />

E) Não impulsionar ações judiciais<br />

que tenham conotação<br />

política contra dirigentes cívicos,<br />

sociais e autoridades dos<br />

departamentos mobilizados que<br />

hajam atuado pelas reivindicações<br />

departamentais e sociais<br />

que precederam a este acordo;<br />

como também paralisa a campanha<br />

de desprestígio contra as<br />

autoridades, agentes cívicos e<br />

sociais.<br />

F) O prefeito do departamento<br />

de Tarija e seus acompanhantes,<br />

em representação das autoridades<br />

e instituições dos cinco<br />

departamentos mobilizados, pedem<br />

o levantamento do estado<br />

de sítio no departamento de<br />

Pando.<br />

3. Início do processo de diálogo<br />

O diálogo nacional se iniciará<br />

de maneira oficial na quartafeira<br />

18 de setembro de 2008 na<br />

cidade de Cochabamba, com a<br />

presença dos mediadores e testemunhas<br />

e será concluído na<br />

cidade de Tarija.<br />

La Paz, 16 de setembro<br />

de 2008<br />

tentativa de conter o movimento<br />

de massas que avança sobre<br />

a direita.<br />

O papel duplo do<br />

governo Lula<br />

Tanto a direita como a esquerda<br />

ligada à Evo Morales temem<br />

um novo levante popular. Esta<br />

A União Juvenil Cruzenha (UJC), é uma<br />

organização fascista e racista que responde ao<br />

Comitê Cívico de Santa Cruz e à prefeitura.<br />

mesma direita foi derrubada do<br />

governo nacional por uma revolução<br />

e não tem qualquer esperança<br />

de recuperar o poder, daí a sua<br />

política secessionista, encoberta<br />

por críticas constitucionais e reivindicação<br />

de maior autonomia diante<br />

do governo central.<br />

Diante da vacilação e da capitulação<br />

vergonhosa do governo,<br />

já começam a aparecer focos de<br />

resistência camponesa, sendo o<br />

cerco à Santa Cruz a maior expressão<br />

disso. Esta é uma clara<br />

demonstração de que os trabalhadores<br />

estão se organizando por<br />

fora da via legalista e institucional<br />

proposta por Morales e contra a<br />

política de acordo com os golpistas.<br />

Os próprios dirigentes do<br />

MAS em suas bases estão sendo<br />

pressionados a adotarem uma política<br />

muito mais conseqüente e<br />

objetiva, que realmente defina a situação.<br />

Esta é, na realidade, a<br />

única política porque a debilidade<br />

da direita e o crescimento da<br />

mobilização colocam objetivamente<br />

em xeque qualquer acordo<br />

comum com a direita que, se<br />

conseguir se recuperar, voltar a<br />

jogar a carta da sesseção<br />

nacional.<br />

Além do mais, é necessário<br />

destacar a atuação<br />

do governo Lula<br />

na crise boliviana. Do<br />

ponto de vista econômico,<br />

a Bolívia presta<br />

um serviço vital para o<br />

Brasil. O gasoduto Bolívia-Brasil,<br />

também<br />

conhecido como Gasbol,<br />

tem início em Rio<br />

Grande, cidade próxima<br />

à Santa Cruz de la<br />

Sierra, e termina na<br />

cidade gaúcha de Canoas,<br />

atravessando<br />

também os estados de<br />

Mato Grosso do Sul,<br />

São Paulo, Paraná e<br />

Santa Catarina. Cerca<br />

de 80% do gás consumido<br />

no Brasil vem das<br />

reservas bolivianas.<br />

Politicamente, o<br />

Brasil é sem dúvida o<br />

país chave para contornar<br />

esta crise. Sua<br />

influência política, econômica<br />

e militar está à<br />

direita com o governo<br />

Lula. O presidente brasileiro<br />

conversou com<br />

Morales por telefone e<br />

o aconselhou a manter<br />

a política de conciliação.<br />

O governo Lula representa o<br />

país mais importante da América<br />

Latina, portanto sua mediação<br />

da crise é extremamente importante,<br />

porém a política adotada<br />

faz jus aos interesses de<br />

Washington.<br />

O governo Lula quer evitar o<br />

confronto das massas contra a<br />

direita. Está orientando Morales<br />

a resolver a crise pela via institucional<br />

e burguesa, mantendo o<br />

regime intacto. Portanto, ao contrário<br />

do que a imprensa burguesa<br />

procura apresentar, o governo<br />

Lula está muito mais vinculado<br />

à política do imperialismo do que<br />

com Evo Morales.<br />

Tanto a direita como a esquerda ligada à Evo Morales<br />

temem um novo levante popular.<br />

Dados gerais sobre a Bolívia<br />

CAPITAL:<br />

La Paz (administrativa)<br />

Sucre (constitucional, judicial)<br />

ÁREA: 1.098.581 km2<br />

POPULAÇÃO: 9.627.269<br />

(Censo 2006)<br />

GRUPOS ÉTNICOS: Quechua<br />

30%, mestiço (mistura<br />

de branco e ameríndio) 30%,<br />

Aymará 25%, branco 15%<br />

PIB (Produto Interno Bruto):<br />

US$ 27.957 bilhões<br />

Per Capita: US$ 8,76<br />

RECURSOS NATURAIS:<br />

estanho, gás natural, petróleo,<br />

zinco, tungstênio, antimônio,<br />

prata, ferro, ouro, madeira,<br />

energía hidroeléctrica<br />

FORÇA DE TRABALHO:<br />

4,377 milhões<br />

FORÇA DE TRABALHO<br />

POR OCUPAÇÃO:<br />

agricultura - 40%<br />

indústria - 17%<br />

serviços: 43%<br />

TAXA DE DESEMPREGO:<br />

7,5% nas áreas urbanas<br />

TAXA DE CRESCIMENTO<br />

INDUSTRIAL: 1,1%<br />

PRODUÇÃO DE PETRÓ-<br />

LEO: 41.570 barris diários<br />

CONSUMO DE PETRÓLEO:<br />

31.500 barris diários<br />

EXPORTAÇÃO DE PETRÓ-<br />

LEO: 18.500 barris diários<br />

IMPORTAÇÃO DE PETRÓ-<br />

LEO: 8.600 barris diários<br />

RESERVAS DE PETRÓLEO:<br />

440,5 milhões de barris<br />

PRODUÇÃO DE GÁS NATU-<br />

RAL: 12,74 bilhões de metros<br />

cubicos<br />

CONSUMO DE GÁS NATU-<br />

RAL: 1.486 bilhão de metros<br />

cubicos<br />

EXPORTAÇÃO DE GÁS NA-<br />

TURAL: 10,58 bilhões de metros<br />

cubicos<br />

RESERVAS DE GÁS NATU-<br />

RAL: 651.8 bilhões de metros<br />

cubicos


21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA 23<br />

O Causa Operária Online é o<br />

um jornal na Internet publicado<br />

diariamente desde dezembro de<br />

2003. No jornal, que conta com<br />

uma versão para impressão, são<br />

publicados todos os dias cerca<br />

de 30 artigos sobre os mais variados<br />

temas da situação política<br />

nacional, internacional, bem<br />

como a questão das mulheres,<br />

dos negros, da juventude, economia,<br />

ecologia, movimento<br />

sindical, popular, entre outros.<br />

Nestes cinco anos, o Causa<br />

Operária Online se consolidou<br />

como o único diário online de<br />

orientação trotskista do mundo.<br />

O jornal é o maior responsável<br />

pelos acessos ao portal do Partido<br />

da Causa Operária que já<br />

contou com a visita de cerca<br />

de três milhões de usuários,<br />

desde 2003.<br />

O jornal é o único da esquerda<br />

O Causa Operária, criado em<br />

1979 como um jornal independente,<br />

se estabeleceu nessas 500<br />

edições como uma tribuna de<br />

denúncia da situação da classe<br />

trabalhadora, da exploração da<br />

burguesia e do Estado capitalista<br />

contra a população brasileira e<br />

da opressão imperialista contra o<br />

Brasil e demais povos oprimidos<br />

de todo o mundo.<br />

Além disso, se caracteriza por<br />

ser um instrumento de elaboração<br />

do programa marxista e revolucionário<br />

e de luta em defesa do<br />

interesse da classe <strong>operária</strong> e dos<br />

explorados no dia a dia.<br />

No último ano, a sua publicação<br />

regularmente semanal, o<br />

aumento do número de páginas<br />

do jornal, da sua tiragem e o<br />

conseqüente aumento da sua<br />

distribuição, deu ainda maior<br />

amplitude a essas denúncias. Foram<br />

inúmeros os fatos políticos,<br />

os acontecimentos internacionais<br />

e lutas estudantis e sindicais que<br />

foram objeto de crítica e análise<br />

do Causa Operária, com o intuito<br />

de esclarecer e dar uma orientação<br />

à vanguarda dessas lutas e<br />

revelar à população o verdadeiro<br />

caráter dos fenômenos políticos<br />

nacionais e internacionais.<br />

As mobilizações estudantis do<br />

último período - que representam<br />

um ressurgimento das lutas dos<br />

estudantes paralisadas durante a<br />

década de 90 - que tiveram início<br />

com a ocupação da reitoria da<br />

USP em maio de 2007, com uma<br />

série de ocupações e greves em<br />

universidades por todo o País,<br />

foram acompanhadas de perto<br />

pelo Causa Operária. A questão<br />

dos decretos de José Serra, que<br />

retiravam a já pouca autonomia<br />

das universidades paulistas, a<br />

questão do Reuni que deu origem<br />

às manifestações nas federais<br />

(UFRJ, UFPA, Unir, UFBA,<br />

entre outras), a ocupação com<br />

violenta desocupação pela PM<br />

da Fundação Santo André foram<br />

alguns desses casos. Neste ano,<br />

a ocupação da reitoria da UnB,<br />

que teve uma importante vitória<br />

ao conseguir a renúncia do reitor<br />

Timothy Mulholland, acusado<br />

de utilizar o dinheiro da universidade<br />

para gastos pessoais, a<br />

ocupação da UFMS e o acampamento<br />

da Unifesp, onde caiu<br />

mais um reitor corrupto, Ulysses<br />

Fagundes Neto, levantaram mais<br />

claramente a questão da autonomia<br />

da universidade diante dos<br />

governos e representaram um<br />

avanço na luta estudantil. Diante<br />

dessas lutas, o Causa Operária,<br />

o único periódico de esquerda a<br />

fazer uma ampla cobertura desses<br />

movimentos, não apenas esteve<br />

sempre na defesa destes como<br />

tem uma orientação clara, da qual<br />

fez propaganda, de defesa de uma<br />

profunda mudança do regime de<br />

poder dentro da universidade,<br />

com o estabelecimento de uma<br />

maioria estudantil nos seus órgãos<br />

deliberativos.<br />

No movimento sindical, o<br />

Causa Operária contribuiu de<br />

maneira fundamental com a luta<br />

dos trabalhadores dos Correios,<br />

que apresentam uma acentuada<br />

tendência de luta que é freada<br />

pelo Bando dos Quatro (PT-<br />

PCdoB-Psol-PSTU).<br />

brasileira a fazer um minucioso<br />

acompanhamento dos mais<br />

diversos acontecimentos e uma<br />

análise dos problemas colocados<br />

para a classe trabalhadora<br />

brasileira e internacional.<br />

A necessidade de um acom-<br />

<br />

com as enormes manifestações<br />

da população na Bolívia que<br />

culminou com a derrubada de<br />

Gonzalo Sánchez de Lozada,<br />

conhecido como “El gringo”.<br />

Na ocasião, o Causa Operária<br />

Online fez uma cobertura em<br />

tempo real da crise, o que abriu<br />

caminho para que o jornal se<br />

tornasse diário, passando a<br />

analisar diariamente a situação<br />

nacional e internacional.<br />

Desde então, o jornal tem<br />

acompanhado os desdobramentos<br />

da Guerra do Iraque, que<br />

considerou como um ponto de<br />

O Causa Operária Online, jornal diário operário e socialista<br />

para a internet é uma iniciativa quase única no quadro<br />

da esquerda internacional<br />

O Causa Operária estabeleceu-se como um importante<br />

porta-voz das denúncias e reivindicações da classe<br />

trabalhadora<br />

UM PASSO FUNDAMENTAL NA LUTA REVOLUCIONÁRIA<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

Um jornal diário trotskista na internet<br />

<br />

mais recentemente os acontecimentos<br />

de grande importância,<br />

como a crise no Sudeste da Ásia:<br />

Paquistão, Birmânia, Nepal,<br />

Bangladesh e Tailândia.<br />

As mobilizações estudantis<br />

e de trabalhadores na França<br />

em 2005 e 2007 e em outros<br />

países europeus também foram<br />

notícia, bem como o desenvolvimento<br />

da situação política e<br />

das lutas na America Latina,<br />

desde os governos nacionalistas<br />

de Chávez na Venezuela<br />

e de Evo Morales na Bolívia,<br />

até as manifestações contra a<br />

verdadeira ditadura civil no<br />

Peru e na Colômbia e a recente<br />

crise decorrentes da ofensiva<br />

do governo colombiano contra<br />

as FARC e a ingerência do imperialismo<br />

norte-americano no<br />

subcontinente.<br />

Um dos temas que tem grande<br />

espaço no Causa Operária Online<br />

é também o da repressão<br />

e censura e, em geral, a luta<br />

pelos direitos democráticos da<br />

população, desde a censura a<br />

órgãos e jornalistas burgueses<br />

até a tentativa de censura e<br />

repressão das organizações<br />

trabalhadoras, populares e estudantis<br />

e principalmente, a<br />

repressão da população pobre<br />

moradora das favelas. Nesse<br />

sentido, teve grande destaque o<br />

massacre promovido no Morro<br />

do Alemão em 2007, no Rio de<br />

Janeiro, a ocupação da polícia<br />

e do exército nas favelas cariocas<br />

e a atuação dessas e das<br />

milícias paramilitares contra a<br />

população local.<br />

Ainda na situação nacional,<br />

o Causa Operária Online acompanhou<br />

tem acompanhado de<br />

perto as dezenas de escândalos<br />

de corrupção que não param<br />

de surgir no governo Lula, e<br />

crises como a que envolveu os<br />

dois maiores acidentes aéreos<br />

do País, com os aviões da Gol<br />

e da TAM. Na ocasião, o governo<br />

tentou culpar os próprios<br />

pilotos vítimas dos acidentes,<br />

mas recuou devido á pressão<br />

da população. Ficou claro, no<br />

entanto, que o problema era da<br />

precariedade da infra-estrutura<br />

no país, vindo à tona que falta de<br />

investimento em infra-estrutura<br />

era responsável também pelas<br />

péssimas condições dos portos,<br />

das estradas, entre outros, o que<br />

não apenas obstaculiza o desenvolvimento<br />

econômico do País,<br />

como coloca em risco a vida da<br />

população, com no caso dos<br />

acidentes com os aviões.<br />

Uma questão que mereceu<br />

atenção foi também a da crise<br />

econômica que teve início em<br />

agosto do ano passado e se estende<br />

até agora, momento em<br />

que se encontra em sua pior<br />

fase. A crise iniciada no mercado<br />

imobiliário de alto risco, vem<br />

espalhando por diversos setores<br />

do mercado, levando diversos<br />

dos maiores bancos do mundo<br />

à falência e dando início a uma<br />

recessão na economia norteamericana.<br />

A gravidade da crise<br />

levou os próprios representantes<br />

dos investidores a apresentar<br />

perspectivas pessimistas, declarando<br />

ser esta a pior crise desde<br />

a década de 30.<br />

Um dos aspectos mais importantes<br />

do diário eletrônico<br />

está na realização de campanhas,<br />

com matérias diárias em<br />

torno das lutas populares ou de<br />

denúncias. No último período,<br />

por exemplo, o jornal assumiu a<br />

dianteira da luta contra a prisão<br />

das mulheres do MS na questão<br />

do aborto, na defesa dos camponeses<br />

de Rondônia e no apoio<br />

às lutas estudantis em todo o<br />

território nacional com literalmente<br />

milhares de matérias que<br />

esclarecem a questão dos mais<br />

diversos ângulos.<br />

A análise dessas questões,<br />

seu acompanhamento sistemático<br />

e o esclarecimento de seu<br />

significado, tem importância<br />

fundamental para o desenvolvimento<br />

de uma vanguarda consciente<br />

e para a construção de um<br />

partido operário, revolucionário<br />

e socialista, completamente independente<br />

da burguesia.<br />

Em relação aos trabalhadores<br />

sem-terra, o Causa Operária<br />

cumpriu um papel fundamental<br />

ao denunciar a manobra conjunta<br />

dos latifundiários e do governo<br />

para promover um massacre<br />

contra os camponeses de Rondônia<br />

e sair incondicionalmente<br />

em defesa desses trabalhadores.<br />

A venal revista Istoé foi portavoz<br />

de uma campanha contra os<br />

sem-terra do estado de Rondônia,<br />

publicando extensa reportagem<br />

sobre a organização Liga dos<br />

Camponeses Pobres, de Rondônia,<br />

na qual afirmava que esta<br />

seria uma organização guerrilheira<br />

envolvida com o trafico<br />

de drogas, fortemente armada<br />

e ligada às FARC. A campanha<br />

mentirosa, uma vez que esta é<br />

uma organização de sem-terra,<br />

dissidente do MST, que não<br />

pararam em apenas uma edição<br />

da revista.<br />

As calúnias aumentaram a<br />

perseguição aos trabalhadores no<br />

estado e visava preparar o terreno<br />

para uma ação violenta do Estado<br />

contra os trabalhadores, que de<br />

fato ocorreu. O Causa Operária<br />

foi um dos únicos jornais do País<br />

a denunciar a preparação para o<br />

massacre e a defender esses trabalhadores.<br />

O massacre de fato<br />

ocorreu logo em seguida, com a<br />

invasão da polícia em um acampamento<br />

sem-terra que resultou<br />

em pelo menos 30 desaparecidos.<br />

Depois do massacre, dois líderes<br />

foram assassinados por jagunços<br />

dos latifundiários, camponeses<br />

foram expulsos de suas terras<br />

e dez pessoas foram mandadas<br />

para a prisão arbitrariamente.<br />

Diante disso, as demais organizações<br />

de esquerda, excetuandose,<br />

obviamente, as diretamente<br />

envolvidas, se calaram diante da<br />

ofensiva dos latifundiários e do<br />

governo contra os camponeses.<br />

A defesa desses trabalhadores<br />

se faz ainda mais importante na<br />

medida em que sua ligação com<br />

o Estado e instituições estabelecidas<br />

são praticamente nulas,<br />

expondo esses a um maior ataque<br />

do governo e dos latifundiários,<br />

que só pode ser impedido com<br />

uma ampla campanha de denúncia<br />

e mobilização independente<br />

dos trabalhadores. Nesse sentido,<br />

a denúncia realizada pelo Causa<br />

Operária foi de fundamental<br />

importância para que a repressão<br />

não assumisse proporções<br />

ainda maiores e produzisse um<br />

novo massacre de Corumbiara,<br />

provavelmente o mais violento<br />

massacre contra sem-terra já<br />

realizado no País.<br />

Outra questão de extrema<br />

gravidade que só foi objeto de<br />

campanha por parte do Causa<br />

Operária, foi o indiciamento<br />

de dez mil mulheres no Mato<br />

Grosso do Sul, supostamente<br />

por terem realizado aborto. Esse<br />

não foi um fato isolado, mas<br />

parte de uma ofensiva geral da<br />

direita brasileira, tendo como<br />

principal representante a Igreja<br />

Católica e contando com o apoio<br />

da presidenta do Psol, Heloísa<br />

Helena. Esse ataque de grandes<br />

proporções às mulheres foi precedido<br />

por todo um debate em<br />

relação à legalização do aborto<br />

tanto no Brasil, como no resto do<br />

mundo, que resultou inclusive na<br />

efetiva legalização do aborto em<br />

outros países do mundo, como<br />

Portugal.<br />

Para dar sustentação a essa<br />

iniciativa reacionária, a Igreja<br />

organizou um grande número<br />

de parlamentares, que se coloca<br />

de maneira intransigente contra<br />

qualquer medida que possa<br />

contribuir com a legalização do<br />

aborto. Nesse sentido, estes parlamentares<br />

defendem aberrações<br />

como a proibição do aborto de<br />

fetos anencéfalos, ou seja, que<br />

não possuem cérebro e, portanto,<br />

são incapazes de sobreviver<br />

fora do útero materno, o que se<br />

<br />

tortura para as mães que são obrigadas<br />

a carregar nove meses um<br />

feto que sabe-se que está fadado<br />

à morte, ou a obscurantista tentativa<br />

de proibir as pesquisas com<br />

células-tronco, que poderiam<br />

trazer benefícios para inúmeras<br />

pessoas que sofrem com alguma<br />

<br />

dessas posições se baseia exclusivamente<br />

à defesa de um dogma<br />

da Igreja, a pretendida “defesa<br />

da vida”, com o qual pretendem<br />

mobilizar uma base direitista<br />

e colocar as mulheres em uma<br />

situação de maior opressão. Essas<br />

posições, bem como a defesa do<br />

<br />

ainda maior importância de um<br />

órgão que denuncie e analise de<br />

maneira sistemática estas questões<br />

do ponto de vista da luta pela<br />

emancipação da classe <strong>operária</strong><br />

e com ela da humanidade, como<br />

o faz o Causa Operária, se colocando<br />

como um contrapeso à<br />

campanha realizada na imprensa<br />

burguesa a favor das posições da<br />

direita e da Igreja.<br />

Recentemente, o Causa Operária<br />

tem dado grande destaque<br />

a uma questão que terá um<br />

papel decisivo na situação do<br />

país daqui para frente, que é a<br />

descoberta de enormes campos<br />

petrolíferos, que prometem<br />

colocar o país entre os cinco<br />

maiores produtores de petróleo<br />

do mundo. Em sucessivas edições,<br />

o semanário tem explicado<br />

a importância da questão e uma<br />

plataforma de reivindicações,<br />

para que esta riqueza seja revertida<br />

para o povo brasileiro<br />

e não seja entregue de mãos<br />

beijadas ao imperialismo como<br />

já está ocorrendo. Se investido<br />

no país, este bem poderia resolver<br />

grande parte dos problemas<br />

<br />

colonização. Lula, no entanto,<br />

já está aplicando uma política<br />

totalmente voltada para servir o<br />

imperialismo e não a população.<br />

Uma das principais questões<br />

abordadas foram as péssimas<br />

condições de trabalho e a brutal<br />

exploração a que estão submetidos<br />

os petroleiros. Nesse sentido,<br />

apresentou uma plataforma<br />

de reivindicações em torno da<br />

questão do petróleo, como a sua<br />

estatização, o cancelamento das<br />

privatizações e a melhoria de<br />

condições de trabalho e salário<br />

para os petroleiros.<br />

Estas e outras inúmeras campanhas<br />

fazem do jornal Causa<br />

Operária um importante instrumento<br />

de luta de todos os setores<br />

que se enfrentam de fato com o<br />

regime político burguês, com os<br />

capitalistas, com os latifundiários<br />

e o imperialismo.<br />

Um instrumento de luta

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