causa operária - PCO
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SEMANÁRIO NACIONAL OPERÁRIO E SOCIALISTA<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
WWW.<strong>PCO</strong>.ORG.BR/CAUSAOPERARIA • FUNDADO EM JUNHO DE 1979 • ANO XXX • Nº 500 • DE 21 A 27 DE SETEMBRO DE 2008 • R$ 3,00<br />
O MAIS ANTIGO JORNAL DA ESQUERDA NACIONAL<br />
Nº 500<br />
Leia nesta edição o caderno<br />
especial sobre os quase 30<br />
anos e 500 números já publicados<br />
do jornal que foi funda-<br />
RUMO AOS 30 ANOS<br />
O jornal mais antigo em<br />
atividade da esquerda brasileira<br />
O Partido da Causa Operária recebeu<br />
este nome depois da fundação<br />
de seu jornal, em 1979. O jornal Causa<br />
Operária é desde então o instrumento<br />
de propaganda e agitação da<br />
classe <strong>operária</strong> brasileira, dos movi-<br />
mental na elaboração de um<br />
programa revolucionário e<br />
marxista para a classe <strong>operária</strong><br />
brasileira.<br />
mentos populares, da juventude, dos<br />
negros, das mulheres e da população<br />
em geral. Como jornal mais antigo da<br />
esquerda, é o órgão difusor das idéias<br />
do marxismo e do programa do<br />
partido revolucionário.<br />
2003 - 2008<br />
Causa Operária lança o único jornal<br />
diário da esquerda na internet<br />
CAUSA OPERÁRIA ONLINE<br />
Mais de três milhões de acessos em cinco<br />
anos ao jornal diário do <strong>PCO</strong> na Internet<br />
O jornal Causa Operária Online<br />
foi fundado no dia 2 de dezembro<br />
de 2003. São praticamente cinco<br />
anos de uma verdadeira imprensa<br />
marxista e <strong>operária</strong> na internet. Nestes<br />
cinco anos de informação diária,<br />
mais de três milhões de internautas<br />
acessaram o sítio do <strong>PCO</strong>, tendo<br />
acesso aos mais variados assuntos<br />
e análises marxistas de temas políticos,<br />
internacionais, econômicos,<br />
além do acompanhamento das lutas<br />
<strong>operária</strong>s e populares no Brasil e no<br />
mundo.<br />
Leia nesta edição os artigos especiais comemorativos do grande êxito da imprensa revolucionária dos<br />
trabalhadores. Saiba mais sobre a história do jornal, seu futuro e seu programa.<br />
O QUE É UM JORNAL REVOLUCIONÁRIO<br />
Uma expressão consciente das lutas<br />
<strong>operária</strong>s e populares em todo o País<br />
MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />
O único jornal que cobriu as<br />
ocupações estudantis históricas<br />
Com destaque para a ocupação<br />
de 51 dias da reitoria da USP em<br />
2007, o Causa Operária acompanhou<br />
também de perto as ocupações<br />
da Unicamp, da UnB, da Uni-<br />
DEZ MIL MULHERES ACUSADAS<br />
<strong>PCO</strong> realizou ampla campanha<br />
nacional contra a perseguição às<br />
mulheres do Mato Grosso do Sul<br />
Causa Operária foi fundada em<br />
1979, início do grande ascenso da classe<br />
<strong>operária</strong> e das lutas históricas do<br />
ABC que deram origem à fundação<br />
do PT e da CUT. Do interior destas<br />
mobilizações massivas surgiu uma expressão<br />
da consciência de classe, o jornal<br />
que se tornaria o mais antigo da<br />
esquerda brasileira e o único que realmente<br />
apresenta a compreensão e as<br />
tarefas do movimento operário nacional<br />
e internacional.<br />
LUTA PELA TERRA<br />
A única tribuna em defesa dos<br />
camponeses de Rondônia<br />
Contra a investida da burguesia<br />
que pede um massacre através da<br />
revista Istoé, o jornal Causa Operária<br />
organiza campanha nacional de<br />
denúncias. No último período esta foi<br />
uma das únicas imprensas a defender<br />
os sem-terra de Rondônia, um<br />
dos estados mais conflituosos do<br />
País, que sofrem um massacre no<br />
campo perpretado pelo latifúndio.<br />
fesp, da UFMS e foi a única imprensa<br />
que além de noticiar, publicou<br />
balanços políticos fundamentais<br />
distribuídos e lidos em todo o<br />
País aos estudantes.<br />
O governo do estado do Mato<br />
Grosso do Sul iniciou no primeiro<br />
semestre deste ano, juntamente<br />
com o poder local dos grandes empresários,<br />
a perseguição de cerca<br />
de 10 mil mulheres indiciadas por<br />
terem cometido aborto nas duas<br />
últimas décadas em clínicas clandestinas.<br />
O Partido da Causa Operária<br />
e seu coletivo de mulheres<br />
Rosa Luxemburgo foram as únicas<br />
organizações e denunciar este ataque<br />
contra os direitos das mulheres,<br />
realizando uma campanha nacional<br />
contra os políticos burgueses<br />
e a Igreja Católica.<br />
1979<br />
Nasce um jornal<br />
proletário, socialista<br />
e revolucionário na<br />
esquerda brasileira<br />
1980<br />
Por um PT operário<br />
e socialista<br />
O jornal Causa Operária publica<br />
como proposta para o congresso<br />
de fundação do PT um programa<br />
socialista e revolucionário, pela<br />
independência de classes, pelas reivindicaçlões<br />
dos trabalhadores e<br />
pelo governo operário e camponês.<br />
1983<br />
Pela ruptura com<br />
os pelegos por uma<br />
central <strong>operária</strong><br />
independente<br />
O jornal Causa Operária luta<br />
pela construção de uma central<br />
<strong>operária</strong> através da ruptura com<br />
o peleguismo.<br />
1989<br />
Não à frente<br />
popular e à<br />
colaboração de<br />
classes<br />
O jornal Causa Operária lança<br />
uma campanha contra a frente de<br />
colaboração de classes de Lula e do<br />
PT e propõe o fim da frente popular.<br />
1992<br />
Precursor na luta<br />
pelo impeachment<br />
A Aliança da Juventude Revolucionária<br />
(AJR), a juventude do <strong>PCO</strong>,<br />
foi a primeira organização a expressar<br />
a palavra-de-ordem Fora Collor.<br />
Antes que a burguesia e a rede Globo<br />
iniciassem sua campanha pela<br />
derrubada do presidente, a AJR e o<br />
<strong>PCO</strong> iniciaram muito antes um movimento<br />
de mobilização da juventude<br />
e dos trabalhadores contra a burguesia<br />
e suas instituições em crise.
21 DE SETEMBRO DE 2008<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
2<br />
UM MARCO NA HISTÓRIA DO TROTSKISMO BRASILEIRO<br />
500 números de história revolucionária<br />
Em seus quase 30 anos de existência, o jornal Causa<br />
<br />
<br />
sendo a expressão consciente da sua experiência a partir<br />
<br />
ditadura militar no país, quando houve um importante<br />
período de ascenso operário<br />
A história do jornal Causa Operária,<br />
o mais antigo jornal da esquerda<br />
nacional se confunde com<br />
a história da vanguarda trotskista<br />
agrupada hoje no Partido da<br />
Causa Operária.<br />
O Partido da Causa Operária,<br />
ou os grupos que a ela deram<br />
origem, surgiu como um agrupamento<br />
de militantes trotskistas<br />
rompidos com a Organização<br />
Socialista Internacionalista no<br />
<br />
assumiu o nome de Tendência<br />
Trotskista do Brasil (TTB). Em<br />
<br />
primeiro número do jornal Causa<br />
Operária que está, como se pode<br />
ver, para completar 30 anos de<br />
<br />
izado<br />
o Congresso de Fundação<br />
da Organização IV Internacional,<br />
<br />
neste congresso.<br />
Esta ruptura foi parte de um<br />
processo de ruptura no movimento<br />
trotskista internacional,<br />
com a cisão entre diversos partidos<br />
latino-americanos, como<br />
<br />
<br />
(Bolívia) com a organização<br />
francesa Organisation Communiste<br />
Internacionaliste (OCI)<br />
mentares<br />
premissas do programa<br />
marxista, entre elas a política<br />
de construir “sindicatos livres”<br />
como alternativa aos sindicatos<br />
<br />
ditadura militar.<br />
No PT, por um partido<br />
operário revolucionário<br />
ção<br />
política ingressou no PT e se<br />
transformou na fração trotskista<br />
e revolucionária daquele partido,<br />
conhecida pelo nome do<br />
seu jornal, Causa Operária. Os<br />
primeiros números do jornal<br />
trazem uma clara caracterização<br />
do PT como uma iniciativa da<br />
-<br />
<br />
deveria ser assumida pela vanguarda<br />
<strong>operária</strong>, cuja tarefa seria<br />
a de lhe dar um conteúdo de<br />
massas e operário.<br />
<br />
<br />
<br />
construção de um verdadeiro<br />
partido operário e que, para tor-<br />
<br />
a vanguarda <strong>operária</strong> consciente<br />
deveria intervir energicamente<br />
neste processo com um programa<br />
socialista e na defesa<br />
da construção de um partido<br />
<br />
massas.<br />
<br />
Operária, como porta-voz da<br />
corrente revolucionária do PT se<br />
diferenciava completamente da<br />
política do restante da esquerda<br />
que ingressava no partido contra<br />
a idéia de construir um partido<br />
operário e em defesa do pro-<br />
<br />
sindical.<br />
<br />
fundação do PT, o jornal teve<br />
uma edição especial dedicada<br />
integralmente ao programa a<br />
ser proposto para o PT, um pro-<br />
<br />
Transição da IV Internacional<br />
que reivindicava a luta pela independência<br />
de classe, a construção<br />
de um partido operário, o<br />
governo operário e o socialismo<br />
em oposição à política do conjunto<br />
da esquerda de construir<br />
um partido oportunista.<br />
<br />
eleições em que o PT participou,<br />
teve destaque a atuação<br />
dos trotskistas em Diadema,<br />
onde a tendência Causa Operária<br />
participou ativamente da<br />
eleição do primeiro prefeito do<br />
<br />
da corrente revolucionária estava<br />
<br />
<br />
Causa Operária apresentou um<br />
programa de reivindicações<br />
<strong>operária</strong>s e democráticas, reivindicando<br />
a integral autonomia<br />
dos municípios e a luta por um<br />
governo da classe <strong>operária</strong> em<br />
oposição à perspectiva oportunista<br />
eleitoral da esmagadora<br />
maioria do partido que defendia<br />
o lançamento de candidaturas<br />
<br />
<br />
<br />
mesmo democrático, de luta por<br />
dependência<br />
das administrações<br />
em relação ao partido e à classe<br />
<strong>operária</strong>.<br />
As páginas do jornal retratam<br />
em todo este período de formação<br />
do PT uma intensa luta<br />
programática, cujo eixo era a<br />
defesa de um verdadeiro partido<br />
operário.<br />
Em defesa de uma<br />
central <strong>operária</strong><br />
independente e das<br />
lutas <strong>operária</strong>s<br />
<br />
Causa Operária participaram ativamente<br />
da luta pela construção<br />
da CUT como central <strong>operária</strong> in-<br />
sionando,<br />
inclusive, a principal<br />
oposição classista no seu interior,<br />
conhecida então como CUT Pela<br />
<br />
ascenso das lutas <strong>operária</strong>s,<br />
o partido passa a ter uma expressiva<br />
atuação nos sindicatos<br />
operários através da construção<br />
de inúmeras oposições classistas<br />
<br />
A formação de uma oposição<br />
classista dentro da CUT em<br />
cal,<br />
quando toda a esquerda<br />
reivindicava a aliança com esta<br />
<br />
de defesa de um movimento<br />
independente.<br />
A derrota da oposição clas-<br />
tações<br />
de vários setores sindicais<br />
<br />
<br />
<br />
estatutos da CUT e liquidou as<br />
oposições sindicais em comum<br />
acordo com a esquerda, levando,<br />
concretamente, à completa neutralização<br />
da central sindical e<br />
ao seu atrelamento completo ao<br />
<br />
As páginas do jornal Causa<br />
Operária nestes anos estão repletas<br />
de artigos de orientação das<br />
lutas <strong>operária</strong>s, de análise das<br />
greves e da organização das<br />
oposições sindicais, na formação<br />
das quais teve um papel de<br />
primeiro plano<br />
As “diretas já” e uma<br />
política revolucionárias<br />
para as eleições<br />
ticipam<br />
da luta pelas “diretas já”<br />
procurando apontar um caminho<br />
alternativo de luta das massas<br />
contra a via que levará à derrota<br />
do movimento no Congresso<br />
<br />
O jornal Causa Operária de-<br />
tamente<br />
com a direção do PT<br />
tas<br />
já.<br />
<br />
tendência Causa Operária apresentou<br />
candidatos a deputados<br />
<br />
<br />
<br />
com um programa classista e<br />
revolucionário, inclusive para<br />
<br />
<br />
oposição às ilusões levantadas<br />
pela direção oficial do PT, o<br />
jornal Causa Operária denuncia o<br />
caráter antidemocrático da Con-<br />
<br />
conter a expansão e a evolução<br />
política do movimento dos tra-<br />
<br />
A luta<br />
contra a frente popular<br />
<br />
participou da campanha eleitoral<br />
denunciando, nas páginas<br />
do jornal, a formação de uma<br />
<br />
e chamando a formar comitês<br />
eleitorais exclusivamente compostos<br />
pelos militantes classistas<br />
do PT, independentes da frente<br />
popular. Esta denúncia provocou<br />
a intervenção da direção do PT<br />
e a destituição dos diretórios<br />
municipais dirigidos pelo partido<br />
que se opunham à aliança com<br />
<br />
<br />
não ser acompanhada por nenhuma<br />
das tendências do PT que<br />
se reivindicavam de esquerda e<br />
de oposição, a campanha contra a<br />
coligação entre o<br />
<br />
teve ampla repercussão<br />
dentro<br />
do partido,<br />
propiciando um<br />
crescimento da<br />
ca<br />
dos revolucionários.<br />
Os números<br />
do jornal deste<br />
período contêm<br />
um verdadeiro<br />
manual de análise<br />
da frente<br />
popular no Brasil,<br />
que representa<br />
uma aplicação<br />
concreta<br />
do programa<br />
do trotskismo<br />
à situação atual<br />
e inúmeros<br />
artigos de<br />
polêmica com<br />
o restante da esquerda que,<br />
<br />
frente popular e a política de<br />
<br />
Da mesma forma que no momento<br />
da formação do PT e<br />
dentro da CUT, o jornal Causa<br />
Operária destaca-se do conjunto<br />
da esquerda pela sua defesa intransigente<br />
da independência da<br />
guesia,<br />
pelo que terá que pagar<br />
com o isolamento, a calúnia e<br />
a perseguição política da parte<br />
do partido atualmente no governo<br />
e do conjunto da esquerda<br />
<br />
<br />
Causa Operária impulsiona a<br />
criação da Aliança da Juventude<br />
<br />
da juventude <strong>operária</strong> e estudantil<br />
que luta pela aliança entre<br />
<br />
como meio para a conquista de<br />
<br />
<br />
jovens em vários estados do<br />
país e participa da direção de<br />
várias entidades estudantis e da<br />
<br />
até que esta última entidade seja<br />
completamente dominada por<br />
<br />
<br />
O jornal retrata a organização<br />
ganização<br />
juvenil de vanguarda<br />
<br />
período.<br />
Isolamento e<br />
perseguição<br />
<br />
<br />
a deputado federal e estadual<br />
foram cassados pela direção do<br />
PT, entre eles os companheiros<br />
<br />
presidente pelo <strong>PCO</strong> nas eleições<br />
<br />
<br />
e Lurdes Sarmento, candidata a<br />
<br />
<br />
mesmo ano, uma aliança da esquerda<br />
que se opunha à política<br />
da<br />
por Causa Operária, foi majoritária<br />
na convenção estadual<br />
do PT e escolheu o candidato a<br />
governador. A Convenção foi<br />
anulada pela direção nacional<br />
que teve de intervir em todo<br />
o diretório regional da capital<br />
federal.<br />
<br />
eleições, Causa Operária fez<br />
uma ampla campanha contra o<br />
<br />
<br />
de-ordem: “sou PT, não voto em<br />
<br />
os cartazes da campanha foram<br />
apreendidos pela polícia por demanda<br />
do PT junto ao judiciário.<br />
O companheiro que dirigida a<br />
regional do <strong>PCO</strong> naquele estado<br />
foi vítima de uma grande<br />
perseguição por esta ousadia,<br />
chegando a ser espancado no<br />
interior do seu sindicato, o Sindicato<br />
dos Bancários.<br />
tantes<br />
de Causa Operária foram<br />
expulsos do PT em todos os<br />
estados, apesar de uma enorme<br />
campanha que conseguiu mais<br />
de mil declarações de militantes<br />
de destaque do partido contra a<br />
expulsão.<br />
Todo este processo de<br />
perseguição dentro e fora do<br />
PT, nos sindicatos e organizações<br />
estudantis é apoiado ativamente<br />
<br />
hoje no PSTU e no Psol, que faz<br />
coro com as calúnias e com os<br />
ataques da direção do PT contra<br />
os trotskistas.<br />
O jornal Causa Operária espelha<br />
toda esta luta, em particular<br />
a campanha que chegou a recolher<br />
duas mil moções contra<br />
a expulsão da corrente Causa<br />
Operária do PT.<br />
<br />
<br />
<br />
a corrente Causa Operária, já<br />
fora do PT, constrói o Coletivo<br />
<br />
<br />
Cândido, desenvolvendo uma<br />
ampla atividade prática e teórica<br />
no que diz respeito à luta destes<br />
segmentos oprimidos da popu-<br />
<br />
<br />
Causa Operária não pode lançar<br />
candidatos por não ter um partido<br />
legalizado. A posição do partido<br />
foi a de apoiar os candidatos<br />
operários do PT, mas não os seus<br />
<br />
camente<br />
a candidatura de Lula,<br />
com seu programa socialista<br />
e revolucionário tendo como<br />
eixo um governo operário e<br />
denunciando a frente popular<br />
como uma política de traição à<br />
classe <strong>operária</strong>.<br />
Consciente do completo fracasso<br />
do PT e da sua liquidação<br />
<br />
de construção de um verdadeiro<br />
<br />
militantes de Causa Operária<br />
lançaram-se à tarefa de construir<br />
um novo partido operário, o<br />
<br />
em relação ao PT, constituía-se<br />
em uma necessidade impostergável.<br />
<br />
provisório do Partido da Causa<br />
<br />
árdua campanha de filiação<br />
<br />
O <strong>PCO</strong> surgia mostrando na<br />
prática que a luta revolucionária<br />
<br />
<br />
mesma coloca no caminho para<br />
intervenção política da classe<br />
<strong>operária</strong>.<br />
<br />
o <strong>PCO</strong> lançou candidatos a<br />
prefeito em João Pessoa (PB),<br />
Salvador (BA), São Bernardo<br />
(SP), Bauru (SP) e candidatos a<br />
vereador em S. Paulo (SP), Belo<br />
<br />
outras poucas cidades.<br />
O jornal Causa Operária desenvolve<br />
uma intensa atividade<br />
programática para a intervenção<br />
nas eleições.<br />
<br />
um único candidato ao governo<br />
(DF) e candidatos a deputado em<br />
vários estados.<br />
<br />
candidatos a prefeito em Porto<br />
<br />
<br />
Belo Horizonte, Salvador, Feira<br />
de Santana, João Pessoa e outras<br />
cidades. Em João Pessoa, o<br />
<br />
nas eleições, seu crescimento<br />
<br />
<br />
lançou cerca de 300 candidatos<br />
em todo o país, incluindo candidato<br />
a presidente e a governador<br />
<br />
Durante os governos Collor e<br />
FHC, o partido se destacou pela<br />
oposição sistemática à política<br />
de privatizações, de recessão,<br />
desemprego, alta das tarifas<br />
-<br />
dores<br />
em todos os terrenos.<br />
do<br />
lança candidato a presidente e<br />
vê a única candidatura <strong>operária</strong> e<br />
socialista ser cassada na eleição<br />
presidencial, em torno do que faz<br />
uma grande campanha.<br />
Durante todo este período, o<br />
Partido da Causa Operária foi<br />
vitorioso em agrupar um núcleo<br />
de vanguarda que, nos momentos<br />
de ascenso e refluxo das lutas<br />
<br />
e consolidar um programa so-<br />
<br />
caminho para construir uma<br />
verdadeira alternativa política de<br />
<br />
<br />
popular ao governo, falando<br />
<br />
oprimidos e explorados, mas<br />
levando adiante uma política que<br />
defende apenas e tão somente<br />
o interesse dos exploradores,<br />
os capitalistas, latifundiários e<br />
força<br />
ainda mais a necessidade<br />
da construção de um partido operário<br />
que possa ser uma direção<br />
<br />
<br />
a que se propõe o Partido da<br />
Causa Operária.<br />
O jornal Causa Operária, lutando<br />
com dificuldades enormes,<br />
foi durante todo este período o<br />
<br />
através de lutas, revezes, vitórias<br />
e perseguições, um programa socialista<br />
e revolucionário testado<br />
pelos acontecimentos e que se<br />
<br />
com todas as correntes que se<br />
dizem socialistas, mas defendem,<br />
ração<br />
de classes.<br />
O jornal Causa Operária teve<br />
várias fases, acompanhando a<br />
evolução da situação política e<br />
do partido, chegando em alguns<br />
momentos a uma situação de<br />
grande irregularidade.<br />
O dado fundamental do momento<br />
atual é que o jornal vem<br />
crescendo nos últimos anos,<br />
acompanhando a recomposição<br />
dos movimentos de luta da classe<br />
<strong>operária</strong>, da juventude e outros<br />
setores dos exploradores e realizando<br />
intensas campanhas<br />
políticas. Sua atividade foi de-<br />
cação<br />
do Causa Operária Online,<br />
jornal diário para a internet, único<br />
<br />
<br />
jornal para o próximo período<br />
<br />
amplo e consolidar-se como<br />
agitador, propagandista e organização<br />
do setor decisivo das<br />
lutas que estão se desenvolvendo<br />
neste momento.
SEMANÁRIO NACIONAL OPERÁRIO E SOCIALISTA<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
WWW.<strong>PCO</strong>.ORG.BR/CAUSAOPERARIA • FUNDADO EM JUNHO DE 1979 • ANO XXX • Nº 500 • DE 21 A 27 DE SETEMBRO DE 2008 • R$ 3,00<br />
APROFUNDA-SE O COLAPSO FINANCEIRO MUNDIAL. BRASIL, AINDA HÁ TEMPO<br />
A HORA É AGORA:<br />
ESTATIZAÇÃO DE TODO<br />
O SISTEMA FINANCEIRO<br />
Enquanto as maiores potências<br />
mundiais, Estados Unidos, os países<br />
da Europa, Japão, China, Austrália<br />
etc. estão se movimentando<br />
freneticamente para tentar conter o<br />
avanço da crise financeira, no Brasil<br />
o governo insiste em dizer que a<br />
crise não existe.<br />
Diante deste quadro em que a crise<br />
tem todas as condições para se<br />
desenvolver no Brasil destruindo<br />
ainda mais o mercado interno e a<br />
produção industrial do País é necessário<br />
que os trabalhadores tenham<br />
uma solução própria para a crise. É<br />
possível reverter este quadro com<br />
a estatização do sistema financeiro<br />
brasileiro. Dessa forma o País pode<br />
ter o controle sobre os bancos privados<br />
que possuem lucros imensos<br />
às custas do governo brasileiro, mas<br />
que investem esse dinheiro fora do<br />
País. Outras medidas que os governos<br />
capitalistas se recusam terminantemente<br />
a adotar, como o não<br />
pagamento das dívidas interna e<br />
externa, e o controle total sobre o<br />
Banco Central e as remessas de<br />
lucros e capitais ao exterior gerariam<br />
uma poupança interna que não<br />
dependa dos capitais especulativos.<br />
Leia o editorial, a análise política<br />
e a cobertura completa nesta<br />
edição.<br />
COM MEDO DA CRISE<br />
Bancos centrais despejam mais de<br />
US$ 500 bilhões em uma semana<br />
O agravamento da crise financeira<br />
mundial nesta semana, com a falência<br />
do banco Lehman Brothers,<br />
com a compra da seguradora AIG e<br />
com a suspeita de falência de dezenas<br />
de outras instituições financeiras<br />
que estão expostas, colocou em<br />
alerta os bancos centrais dos principais<br />
países. Nesta semana, os bancos<br />
centrais da Europa (BCE), Banco<br />
do Japão, Banco da Inglaterra,<br />
Banco do Canadá, SNI, da Suíça e o<br />
Fed (Federal Reserve), banco central<br />
dos Estados Unidos, colocaram<br />
no mercado financeiro mais de US$<br />
500 bilhões para garantir liquidez (dinheiro<br />
em caixa), para os bancos.<br />
Página 8<br />
LEIA TAMBÉM NA COBERTURA ESPECIAL:<br />
Até onde vai a intervenção estatal nos EUA?<br />
Na última semana o mundo pôde perceber claramente em direção a que extremos caminha a crise econômica e<br />
política. Os extremos aos quais o governo norte-americano está sendo forçado a chegar para conter a crise financeira,<br />
e os desdobramentos da desestabilização política na Bolívia anunciam a nova etapa da situação mundial.<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
chega ao seu nº 500 em<br />
quase 30 anos de existência<br />
Leia o caderno especial, nesta edição<br />
10 PRIMEIROS ANOS DA OPOSIÇÃO DE ESQUERDA<br />
A ruptura do bloco entre a ala direita<br />
Publicamos nesta edição a penúltima<br />
parte da tradução inédita em<br />
português do folheto escrito pelo<br />
450 DA MORTE DE OLIVER CROMWELL – PARTE III<br />
A revolução burguesa na Inglaterra<br />
No ano em que se completam 450<br />
anos da morte do líder da revolução<br />
burguesa na Inglaterra, a importância<br />
do estudo e da compreensão<br />
do episódio que derrubou a<br />
ordem monárquica e abriu as portas<br />
para a revolução industrial na<br />
trotskista norte-americano Max Shachtman<br />
sobre o movimento dirigido<br />
por Trótski. Página 16<br />
Inglaterra dá a oportunidade de entender<br />
o período de hoje, fase de<br />
completa decadência da burguesia,<br />
que de classe revolucionária passou<br />
a ser uma classe contra-revolucionária<br />
e inimiga do progresso humano.<br />
Página 18<br />
UMA REVOLUÇÃO<br />
ARTÍSTICA EM 1917<br />
Parte IV – A<br />
maturidade da<br />
obra de Gógol<br />
Na quarta parte de nosso especial,<br />
analisamos o final da carreira literária<br />
de Nicolai Gógol, desde a criação<br />
de seus maiores clássicos, como “O<br />
inspetor Geral” e “Almas Mortas” até<br />
os duros anos de crise no final de sua<br />
vida, quando ele, angustiado com as<br />
críticas que recebe, entrega-se ao<br />
misticismo e cai em uma completa<br />
prostração criativa. Página 22<br />
CORREIOS<br />
ECT e Fentect juntos<br />
na campanha<br />
salarial... agora para<br />
enterrá-la em outubro<br />
Comissão de Negociação Salarial<br />
da ECT retoma “negociações” com<br />
a Comissão de Negociação Salarial<br />
dos trabalhadores afirmando que<br />
continuará firme na posição de não<br />
discutir a pauta de reivindicações da<br />
categoria, mas estabelecerá novas<br />
reuniões acatando sem nenhuma divergência<br />
o novo calendário da Fentect.<br />
Página 12<br />
PESQUISA<br />
78% dos magistrados<br />
são favoráveis a<br />
modificação na lei<br />
que pune o aborto<br />
Pesquisa aponta que 78% dos magistrados<br />
vêem necessidade de mudanças<br />
na lei para que se ampliem as circunstâncias<br />
em que o aborto não seja<br />
crime no Brasil. Para o caso específico<br />
de anencefalia, 80% dos entrevistados<br />
se colocaram favoráveis à liberação<br />
da interrupção da gravidez e<br />
10% dos juízes que atuam na área criminal<br />
afirmaram já ter recebido e permitido<br />
um caso do tipo. Página 17<br />
GREVE NA VOLKSWAGEN<br />
Dezenas de milhares<br />
de metalúrgicos<br />
protestam na<br />
Alemanha<br />
Na sexta-feira (12) mais de<br />
40 mil metalúrgicos da Volkswagen<br />
alemã protagonizaram um<br />
dos maiores protestos da história<br />
da montadora. Os trabalhadores<br />
reuniram-se em Wolfsburg,<br />
sede da empresa, para<br />
defender a chamada “lei Volkswagen”.<br />
Página 19<br />
NÃO À PRIVATIZAÇÃO<br />
Pela estatização da Petrobras e<br />
cancelamento dos leilões<br />
Página 9<br />
NOVOS ATAQUES DOS LATIFUNDIÁRIOS<br />
Camponeses torturados e presos<br />
em União Bandeirantes, Rondônia<br />
Cerca de 30 famílias de sem-terra<br />
do acampamento União Bandeirantes<br />
foram atacados por 30 policiais<br />
e jagunços que chegaram ao<br />
UNIFESP<br />
Não à punição dos estudantes<br />
que estão em luta para derrotar<br />
a ditadura na universidade<br />
Cerca de dez estudantes da Unifesp<br />
(Universidade Federal do Estado<br />
de São Paulo) receberam uma<br />
intimação para depor em uma comissão<br />
interna para apuração e punição<br />
pela ocupação da reitoria ocorrida<br />
em junho deste ano, contra o corrupto<br />
ex-reitor, Ulysses Fagundes Neto.<br />
Há ainda mais de vinte estudantes<br />
que participaram da ocupação da<br />
CRISE POLÍTICA<br />
Quais são os planos<br />
da direita boliviana?<br />
A direita quer colocar a Bolívia<br />
novamente nos trilhos do imperialismo.<br />
Estes planos só podem<br />
ser alcançados com a capitulação<br />
do governo e a ajuda das<br />
Forças Armadas, o que de fato<br />
acampamento atirando contra os<br />
sem-terra, depois que no dia 8 de<br />
setembro, segunda-feira, as famílias<br />
haviam retomado a área. Página 8<br />
reitoria no dia 14 de junho, após uma<br />
série de denúncias de desvio de verba,<br />
que serão intimados.<br />
A sindicância contra os estudantes<br />
que ocuparam a reitoria é para<br />
tentar calar os que se opõem às<br />
eleições-farsa e querem acabar<br />
com este regime de corrupção e ditadura<br />
da burocracia universitária.<br />
Página 15<br />
está acontecendo. Porém há<br />
uma barreira intransponível:<br />
vencer o movimento revolucionário<br />
das massas. Leia a cobertura<br />
completa nas páginas<br />
20 e 21
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA ATIVIDADES 4<br />
Celebração<br />
4 DE OUTUBRO<br />
Participe do jantar de encerramento da campanha eleitoral 2008<br />
A data escolhida para a realização<br />
do jantar de encerramento<br />
da campanha eleitoral e<br />
lançamento da edição de número<br />
500 do jornal Causa Operária<br />
marca o fechamento de<br />
mais um ciclo de atividades.<br />
A experiência adquirida na<br />
campanha eleitoral, bem<br />
como a que faz de Causa<br />
Operária um jornal verdadeiramente<br />
operário, socialista e<br />
revolucionário serão os principais<br />
eixos em torno dos<br />
quais o partido concentrou<br />
suas forças no último período.<br />
Uma ótima oportunidade<br />
para reunir os companheiros<br />
que lêem e apóiam o jornal<br />
Causa Operária no seu local<br />
de trabalho, nas universidades,<br />
nas lutas sindicais e populares.<br />
O jantar servirá também<br />
como parte da campanha financeira<br />
para arrecadar fundos<br />
e cobrir as despesas da<br />
Partido da Causa Operária<br />
campanha eleitoral.<br />
Em São Paulo, o jantar<br />
será realizado no restaurante<br />
Graça Mineira, à rua Machado<br />
Bitencourt,<br />
75 - Vila Mariana - São Paulo<br />
- SP - (Metrô Sta. Cruz)<br />
Além de uma atividade de<br />
confraternização, o jantar faz<br />
parte da luta travada pelo par-<br />
tido por sua independência e<br />
auto-financiamento, apoiado<br />
na contribuição de seus militantes<br />
e simpatizantes. Os<br />
convites estão sendo vendidos<br />
R$50,00<br />
O Partido da Causa Operária convida para o seu<br />
jantar de encerramento da campanha eleitoral 2008<br />
Participe da confraternização entre os militantes e simpatizantes<br />
Adquira o convite e contribua com a campanha financeira de um partido<br />
operário, socialista e revolucionário<br />
a R$ 50,00.<br />
Venha participar do jantar.<br />
Entre em contato e reserve sua<br />
mesa: tel. (11)5584-9322, ou<br />
por e-mail, pco@pco.org.br.<br />
NO PORTAL DO PARTIDO NA INTERNET<br />
Assista a entrevistas, debates e palestras<br />
com os candidatos do <strong>PCO</strong> nas eleições<br />
O portal do <strong>PCO</strong> na Internet<br />
traz toda a cobertura sobre<br />
a atividade do partido na<br />
campanha eleitoral.<br />
Assista vídeos, leia entrevistas<br />
e saiba mais informações<br />
sobre o partido, sua posição<br />
nas eleições e seus candidatos<br />
nas principais cidades<br />
do País.<br />
Acompanhe a campanha da<br />
companheira Anaí Caproni<br />
através da gravação das palestras<br />
e debates das quais a candidata<br />
do <strong>PCO</strong> em São Paulo<br />
participou durante a campanha,<br />
como com os estudantes<br />
de Economia da USP e de Direito<br />
da PUC e da FAAP.<br />
Leia também as matérias<br />
publicadas sobre a campanha<br />
do partido na imprensa além<br />
da cobertura completa feita<br />
pelo jornal diário do <strong>PCO</strong> na<br />
Internet.<br />
O folheto publicado neste<br />
mês pelo Partido da Causa<br />
Operária traz um balanço e<br />
a crítica da política da extrema-esquerda<br />
que participa<br />
do empreendimento<br />
sindical dirigido pelo<br />
PSTU, a Conlutas.<br />
A publicação conta<br />
com 51 páginas e trata, em<br />
seus 17 tópicos, de temas<br />
como o porquê de a esquerda<br />
querer ocultar o<br />
debate sobre as questões<br />
políticas envolvidas na realização<br />
dos atos do 1º de<br />
maio, as falsas acusações<br />
dirigidas pelos “trotskistas”<br />
contra o <strong>PCO</strong> e o<br />
porquê de o “stalinismo”<br />
ter sido evocado no debate.<br />
o folheto esclarece<br />
ainda o significado do<br />
“showmissa” realizado<br />
em conjunto pela Conlutas<br />
e Psol e a Igreja<br />
Católica no 1º de maio<br />
da Praça da Sé, o sentido<br />
da política da Frente<br />
de Esquerda e o verdadeiro<br />
significado do Psol e da alian-<br />
Basta acessar o endereço<br />
eletrônico www.pco.org.br.<br />
Leia também a cobertura<br />
completa das eleições, os detalhes<br />
da campanha do <strong>PCO</strong>,<br />
e demais notícias sobre política<br />
nacional e internacional.<br />
“Aonde vai a esquerda pequeno-burguesa?”<br />
ça com este partido.<br />
O debate a respeito de qual<br />
deve ser o programa revoluci-<br />
Acompanhe, escreva também<br />
para o portal eletrônico<br />
do <strong>PCO</strong> para apresentar dúvidas,<br />
sugestões, informarse<br />
de como participar da<br />
campanha em defesa do socialismo.<br />
Lançamento das edições Causa Operária<br />
onário para a classe <strong>operária</strong><br />
diante da crise política nacional,<br />
do governo de aliança<br />
do PT e PCdoB –<br />
e das organizações<br />
sindicais e<br />
políticas dirigidas<br />
por este bloco –<br />
com a burguesia<br />
adquiriram contornos<br />
definidos na<br />
realização dos atos<br />
de 1º de maio neste<br />
ano. A publicação<br />
do Partido da Causa<br />
Operária procura<br />
esclarecer as<br />
questões em torno<br />
ao oportunismo do<br />
governo de “esquerda”<br />
da frente<br />
popular, de aliança<br />
com a burguesia brasileira<br />
e o imperialismo<br />
e da sua ala “esquerda”<br />
oficial,<br />
agrupada em torno à<br />
Conlutas.<br />
Garanta já seu<br />
exemplar e participe<br />
do debate.<br />
Peça já o seu por e-mail (livraria@pco.org.br); telefone (11) 5584-9322 ou escreva<br />
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CAMPANHA DE ASSINATURAS 2008<br />
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Causa Operária está baseado em um claro programa político e no marxismo<br />
e, por este motivo, esforça-se para ser uma tribuna das necessidades<br />
e dos anseios das massas exploradas de trabalhadores da cidade e do<br />
campo, dos negros, das mulheres e da juventude oprimida. Neste sentido,<br />
as páginas do nosso jornal estão abertas para que qualquer trabalhador<br />
faça dele um veículo das suas denúncias contra a exploração e opressão<br />
de qualquer setor da sociedade. Convidamos, ainda, nossos leitores a fazer<br />
desta página um espaço para discussão das idéias relacionadas a esta<br />
luta que julguem importante.<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
Fundado em junho de 1979<br />
Semanário de circulação nacional<br />
Ano XXX - nº 500 - R$3,00<br />
de 21 a 27 de setembro de 2008<br />
Editor - Rui Costa Pimenta - Tiragem - seis mil exemplares - Redação - Av. Miguel<br />
Stéfano nº 349, Saúde, São Paulo, Capital, CEP 040301-010 - Telefone (11) 5589-<br />
6023 - Sede Nacional - São Paulo - Av Miguel Stéfano, nº 349, Saúde, São Paulo,<br />
Capital, CEP 04301-010, Fone (11) 5584-9322 - Correspondência - Todas as<br />
cartas, pedidos de assinaturas ou de informações sobre as publicações Causa<br />
Operária devem ser enviadas para a redação ou para o endereço eletrônico -<br />
pco@pco.org.br, página na internet - www.pco.org.br/<strong>causa</strong>operaria
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA 5<br />
Editoriais<br />
Pela estatização de todo o sistema financeiro:<br />
um programa socialista da classe <strong>operária</strong><br />
diante da crise que se aproxima<br />
Enquanto as maiores potências mundiais, Estados Uni<br />
dos, os países da Europa, Japão, China, Austrália etc.<br />
estão se movimentando freneticamente para tentar<br />
conter o avanço da crise financeira, no Brasil, o governo<br />
insiste em dizer que a crise não existe.<br />
A crise, que já é uma recessão nos Estados Unidos, potencialmente<br />
a maior desde a década de 1930, e que no resto do mundo<br />
está prestes a entrar em um período recessivo de grandes proporções<br />
parece que nem passou por perto da economia brasileira. Claro<br />
que isso não é verdade, se alguém for confiar em alguma coisa que<br />
o governo Lula diz vai passar a viver em uma Ilha da Fantasia, onde<br />
não existem contradições sociais, desemprego, arrocho salarial, inflação,<br />
pobres, miséria, fome e muito menos crise financeira.<br />
Enquanto instituições financeiras centenárias entram em falência<br />
e provocam um efeito dominó em toda a economia mundial, o Brasil,<br />
segundo Lula, está imune a tudo isso. É óbvio que a crise financeira<br />
já chegou ao País e que o governo Lula quer esconder a realidade<br />
da população e deixar que o pior venha arrasando a economia<br />
brasileira como nunca se viu antes.<br />
Em primeiro lugar, precisa ficar absolutamente claro que a crise<br />
afeta diretamente a economia brasileira. Qualquer pessoa, mesmo<br />
que não seja especialista em economia, pode facilmente chegar à<br />
conclusão de que se a crise afeta principalmente os Estados Unidos,<br />
o mais importante país capitalista do mundo, ela deve afetar<br />
e bastante os países menores que dependem de sua economia, como<br />
por exemplo, o Brasil. Apesar da insistência do governo Lula em<br />
dizer que o Brasil estaria com folga em relação à crise nos Estados<br />
Unidos, pois possui uma economia diversificada, comercializando<br />
com outros países e por isso não seria afetado, esta tese não tem<br />
qualquer sustentação na realidade. A crise financeira mundial afeta<br />
o Brasil de diversas formas e as principais delas por meio da economia<br />
norte-americana. Em primeiro lugar todo o montante de dinheiro<br />
arrecadado pela economia brasileira nos últimos anos, com<br />
aumento das exportações, por exemplo, se deve ao seu principal<br />
comprador, principalmente de matérias-primas, os Estados Unidos<br />
da América. A recessão nos EUA afetou principalmente o consumo,<br />
que compõe 70% da economia deste País, isso já provocou<br />
a diminuição na compra de produtos de outros países, entre eles,<br />
o Brasil. E neste segmento, desde o início do ano, as exportações<br />
brasileiras caíram significativamente, mais de 50% em relação a<br />
2007, ficando em um patamar bem próximo às importações que<br />
faz com que o País praticamente não arrecade nada, pois gasta mais<br />
comprando que vendendo produtos. O aumento do dólar, provocado<br />
também pela crise, faz com que as importações fiquem mais<br />
caras para o País e influencia diretamente nos preços dos produtos<br />
importados, aumentando assim a inflação.<br />
A atual desvalorização das commodities no mercado financeiro<br />
também afeta o País, pois estes são os principais produtos exportados,<br />
que com o preço menor, vão arrecadar menos também. A<br />
reserva de mais de US$ 200 bilhões que o governo usa para dizer<br />
que vai combater a crise, também está sujeita às alterações no valor<br />
do dólar, ou seja, o País está intrinsecamente ligado à crise financeira<br />
dos Estados Unidos sofrendo diretamente os efeitos que ela<br />
<strong>causa</strong>. A respeito da tal economia diversificada o País também é<br />
suscetível, pois a crise atinge em cheio a Europa, que está com<br />
índices de inflação e desemprego nas alturas, a Ásia, Japão e China<br />
e também os países da América Latina.<br />
O mais importante, no entanto, é que a própria política do governo<br />
Lula, de dólar barato para permitir a entrada de capital especulativo<br />
em detrimento das exportações e da indústria em geral está completamente<br />
na contramão da situação atual, onde os mercados<br />
financeiros são a principal <strong>causa</strong> de desequilíbrio. Também, a<br />
dependência cada vez maior do Brasil na exportação de matériasprimas<br />
torna o país completamente vulnerável à atual tendência de<br />
oscilação das commodities no mercado mundial em função também<br />
da crise financeira. O gigantesco predomínio das finanças<br />
sobre a economia brasileira, impulsionado pelos governos FHC e<br />
Lula é o calcanhar de Aquiles da economia capitalista nacional diante<br />
da crise mundial.<br />
A estatização dos bancos e dos mercados financeiros ficou<br />
provada como uma necessidade diante da política do governo norteamericano<br />
que praticamente estatizou os bancos e seus créditos<br />
podres.<br />
Diante deste fato, é necessário que os trabalhadores tenham uma<br />
solução própria para a crise. Coloca-se a seguinte disjuntiva: ou<br />
“estatizar”, quer dizer socializar para toda a população, como está<br />
acontecendo nos EUA, as dívidas do bancos, para preservar os seus<br />
lucros milionários para um punhado de aventureiros e criminosos,<br />
ou estatizar de fato todo o sistema financeiro, colocá-lo sob o<br />
controle da classe <strong>operária</strong>, e proceder a uma reorganização geral<br />
das finanças nacionais, sobre a base dos interesses da maioria do<br />
país, a classe <strong>operária</strong> e os explorados em geral.<br />
Dessa forma o País pode ter o controle sobre os bancos privados<br />
que possuem lucros imensos às custas do governo brasileiro,<br />
mas que investem esse dinheiro fora do país ou o destinam para<br />
operações arriscadas e contrárias ao interesses nacional. Outras<br />
medidas que os governos capitalistas se recusam terminantemente<br />
a adotar, como o não pagamento das dívidas interna e externa,<br />
e o controle total sobre o Banco Central e a expropriação das<br />
empresas chave na economia como a Petrobrás e a Vale do Rio Doce<br />
gerariam uma poupança interna que não dependa dos capitais<br />
especulativos.<br />
O programa econômico da burguesia, alardeado como uma<br />
verdadeira perfeição durante os últimos 15 anos, mas que colocou<br />
toda a economia nacional em retrocesso, agora ameaça produzir<br />
o mesmo efeito que a política especulativa da República Velha<br />
promoveu em 1929, ou seja, derrubar completamente a economia<br />
nacional.<br />
Contra a política econômica da grande burguesia nacional e do<br />
imperialismo, é preciso levantar um programa econômico socialista<br />
da classe <strong>operária</strong>: estatização do sistema financeiro, não<br />
pagamento da dívida aos especuladores, estatização dos ramos<br />
econômicos chave como petróleo e mineração, confisco do latifúndio,<br />
reforma agrária com distribuição de terras aos camponeses<br />
sem-terra, controle operário da produção, monopólio estatal<br />
do comércio exterior, aumento salarial, redução da jornada de<br />
trabalho e investimento estatal na saúde, educação e moradia com<br />
o confisco do capital nestas áreas.<br />
A tentativa de volta da censura e do crime de opinião<br />
Na semana que passou, o Partido da Causa Operária sofreu<br />
três processos que tinham por objetivo retirar o seu<br />
programa eleitoral do ar. Os candidatos Gilberto Kassab,<br />
do DEM e Marta Suplicy, do PT, reivindicaram direito de resposta<br />
aos programas da candidata do <strong>PCO</strong> à prefeitura de São Paulo, Anaí<br />
Caproni.<br />
Além destes, também a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos,<br />
onde trabalha a candidata, entrou com uma ação contra o<br />
partido.<br />
O que chama a atenção nos três casos é a falta de justificação<br />
para os processos. Nos três programas, as críticas da candidata<br />
foram estritamente políticas, de denúncia da situação do transporte<br />
e da educação na cidade e da situação dos trabalhadores dos<br />
Correios.<br />
O direito de resposta é concedido em casos de calúnia, injúria<br />
e difamação. Nos três programas, nenhuma dessas características<br />
estava presente, o que não impediu que se tentasse censurar<br />
o programa.<br />
Marta Suplicy chegou ao extremo de afirmar que a palavra<br />
“indústria” na expressão “indústria das multas”, utilizada pelo <strong>PCO</strong><br />
para se referir à enorme quantidade de leis abusivas que resultam<br />
em multa, dava a “ofensiva idéia de quadrilha”. Isso além de protestar<br />
contra a palavra “agressão”, que sequer foi utilizada no<br />
programa.<br />
Em todos os três casos vê-se claramente a tentativa de, por meio<br />
de uma lei já restritiva, cercear a liberdade de expressão e impedir<br />
a crítica política, a exposição de opiniões e o debate de idéias com<br />
Charge e da semana<br />
a população.<br />
Embora o caso fique mais evidente nas eleições, pois a críticas<br />
expostas são exibidas para um amplo setor da população através<br />
do rádio e da televisão, a política de censura disfarçada é rotina no<br />
país, colocando este como o primeiro no ranking dos países onde<br />
a imprensa sofre maior perseguição.<br />
Recentemente vieram à tona casos inclusive de censura prévia,<br />
como no caso do jornalista Juca Kfouri, proibido de antemão de<br />
criticar um parlamentar do PSDB, uma figura pública, e do Jornal<br />
da Tarde, censurado por denunciar um escândalo de corrupção<br />
numa fundação.<br />
A liberdade de expressão no País revela-se, desta maneira, uma<br />
farsa. A lei de imprensa, até pouco tempo a mesma que a elaborada<br />
na época da ditadura, sofreu mudanças muito parciais e é utilizada<br />
para impedir o livre debate de idéias.<br />
Nas eleições é ainda mais gritante este fato, pois um período que<br />
deveria ser de intenso debate político é transformado em seu exato<br />
oposto, ao proliferarem os processos para censurar programas,<br />
e com as absurdas restrições de propaganda eleitoral, de colagem<br />
de cartazes, showmícios etc., que tem por objetivo impedir que<br />
a população tenha acesso a informações e debata a situação política.<br />
Nesse sentido, os candidatos da situação, incluindo aí o PT,<br />
e dos partidos burgueses mais tradicionais, fazem uma frente única<br />
para impedir este debate.<br />
O fato de o regime político não conseguir conviver com a crítica<br />
e nem com uma sombra de oposição só demonstra a sua enorme<br />
fragilidade.<br />
70 anos do Programa de<br />
Transição da IV Internacional<br />
RUI COSTA PIMENTA<br />
Oprograma da IV Internacional foi escrito por Leon Trótski<br />
e aprovado no Congresso de Fundação da IV Internacional<br />
em 1938.<br />
Este é, sem dúvida, o mais importante documento programático<br />
da classe <strong>operária</strong> desde o Manifesto Comunista, escrito por Marx<br />
e Engels em 1848 e que está completando neste ano 160 anos.<br />
Não é que os marxistas não tenham escrito documentos da maior<br />
importância. A II Internacional contou com o programa de Erfuhrt,<br />
escrito por Kautski sob a supervisão de Engels, que consolidou as<br />
conquistas do movimento socialista à época. A social-democracia<br />
russa, da qual saiu o Partido Bolchevique teve no programa aprovado<br />
no II Congresso, de 1902, o programa escrito por Lênin e que, pela<br />
primeira vez em um programa de um partido social-democrata estabelecia<br />
claramente a luta pela ditadura do proletariado. A III Internacional<br />
teve as resoluções aprovadas nos seus quatro primeiros<br />
congressos, realizados quando Lênin ainda dirigia a Internacional. São<br />
todos documentos da maior importância para o conhecimento do que<br />
é o marxismo, do que é o movimento revolucionário da classe <strong>operária</strong><br />
e para a compreensão da evolução da classe <strong>operária</strong> mundial.<br />
A importância do Programa de Transição, considerado neste quadro<br />
da evolução histórica da luta e da organização <strong>operária</strong> está principalmente<br />
em que se coloca na fronteira entre duas épocas claramente<br />
distintas da evolução do capitalismo e, conseqüentemente, da luta<br />
revolucionária do proletariado. E, acima de tudo, que sintetiza e<br />
responde aos problemas da época com extraordinária clareza, expressando<br />
o nível de consciência alcançado pela classe <strong>operária</strong> naquele<br />
momento.<br />
O Programa de Transição recolhe todas as conquistas da III<br />
Internacional e lhes dá forma em um programa claro para toda uma<br />
época revolucionária, a época de transição entre o capitalismo e o<br />
socialismo, época de convulsões sociais e políticas, época de guerras<br />
e revoluções.<br />
O período de transição é a etapa de “agonia do capitalismo”, ou<br />
seja, quando o esgotamento de toda uma época histórica e um modo<br />
de produção se manifesta exteriormente nas maiores convulsões<br />
sociais e políticas.<br />
A realidade confirmou esta caracterização cortante da etapa histórica?<br />
Disso não pode haver dúvida, mesmo levando-se em consideração<br />
o curto período de crescimento capitalista dos anos 50. Mais:<br />
o século XX foi o período das maiores convulsões sociais e políticas<br />
que a humanidade assistiu em toda a sua existência. O final do século<br />
XX mostrou esta situação da maneira mais catastrófica possível desde<br />
o início do período de transição há mais de 100 anos.<br />
Para esta situação, ou seja, guerras e revoluções, completa desorganização<br />
financeira através de cracks econômico e hiperinflação,<br />
para uma situação de demissão em massa, falência e fechamento de<br />
empresas, repressão fascista e outras características tão conhecidas,<br />
foram elaboradas as reivindicações transitórias, especialmente<br />
adaptadas para esta época de crise.<br />
As reivindicações de transição não têm como objetivo a reforma<br />
do capitalismo, objetivo que se tornou ilusório com a decadência<br />
capitalista, mas “a mobilização das massas como preparação para a<br />
tomada do poder”. São reivindicações que, não saindo do marco<br />
econômico do regime capitalista, já não serão atendidas por este<br />
regime, que nada mais tem a oferecer nem à classe <strong>operária</strong> nem a<br />
ninguém.<br />
O Programa de Transição, nesse sentido, torna obsoleta a velha<br />
divisão, base da tática social-democrata, entre programa máximo e<br />
programa mínimo. O sistema de reivindicações transitório, na realidade,<br />
anexa tudo o que mantém atualidade do velho programa, mas<br />
para mudar o seu caráter e subordinar todas as grandes e pequenas<br />
tarefas à luta pelo poder. Seu objetivo é tomar a classe <strong>operária</strong> tal<br />
como é, com um nível de consciência, ou seja, de organização política<br />
dado, seus problemas imediatos diante da crise, e levá-la à compreensão<br />
da necessidade da luta pela tomada do poder como tarefa que<br />
decorre do próprio caráter da época. Mesmo que a luta comece em<br />
torno das reivindicações do “programa mínimo”, este último é sempre<br />
ultrapassado pela dinâmica da época de transição, de mobilização<br />
permanente em um sentido revolucionário e não reformista.<br />
A classe <strong>operária</strong> brasileira fez uma longa experiência com os<br />
métodos reformistas da esquerda oportunista, partidária da colaboração<br />
de classe.<br />
Tudo o que esta experiência comprovou é que os métodos “graduais”,<br />
“moderados” e “democráticos” não produziram absolutamente<br />
nenhum resultado positivo, mas empurraram as massas exploradas<br />
para uma situação de crise ainda maior, agravando as contradições<br />
sociais.<br />
O núcleo deste trabalho “preparatório” consiste na construção do<br />
partido revolucionário da classe <strong>operária</strong>.<br />
O capitalismo é uma fruta podre, que já ultrapassou o seu tempo<br />
devido sobre a face do planeta, mas não cairá sozinha. Esta não é a<br />
natureza dos regimes sociais históricos. Neles, os privilegiados – e<br />
o capitalismo conta com os maiores privilegiados de todas as épocas<br />
– tendem a resistir à mudança social até o seu último alento. É preciso<br />
derrubá-lo e, para derrubá-lo, é preciso um instrumento adequado<br />
e este instrumento é o partido da classe <strong>operária</strong>.<br />
As lutas da classe <strong>operária</strong> no período de transição são “a preparação<br />
para a tomada do poder” e a essência da preparação consiste<br />
em organizar politicamente a classe <strong>operária</strong> através de uma vanguarda<br />
revolucionária.<br />
É esse o significado prático da grande idéia do programa da IV<br />
Internacional de que “a crise histórica da humanidade reduz-se à crise<br />
de direção do proletariado”.<br />
Como eles disseram...<br />
"O centrismo, privado de qualquer âncora em quaisquer<br />
princípios, sem nenhuma plataforma distinta própria, é<br />
arrastado à esquerda pela pressão dos acontecimentos e da<br />
crítica. Sem uma fundamentação real, precisa se basear em<br />
um prestígio artificialmente preservado".<br />
Datas<br />
Max Shachtman<br />
Os 10 primeiros anos da Oposição de Esquerda<br />
22 de setembro de 1897<br />
Falecia Antônio Conselheiro, líder de Canudos, assassinado<br />
Frases da semana<br />
22 de setembro de 1980<br />
O Iraque invadia o Irã<br />
"Os EUA não estão fora de perigo. Penso que a<br />
crise financeira está no meio do caminho. Iria adiante<br />
dizendo que o pior ainda está por vir" Kenneth Rogoff,<br />
ex-economista-chefe do Fundo Monetário<br />
Internacional (FMI)<br />
"Se nada mudar, estamos caminhando para uma<br />
guerra civil de baixa intensidade, mas guerra civil. Civis<br />
brigando contra civis e sem a intervenção das forças<br />
de segurança" disse o diretor de mestrado da<br />
Universidade Católica Boliviana, Gonzalo Chávez
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 6<br />
ANÁLISE POLÍTICA SEMANAL<br />
Uma nova etapa da crise financeira, rumo<br />
a uma nova etapa da crise política mundial<br />
Na última semana o mundo pôde perceber claramente<br />
em direção a que extremos caminha a crise econômica<br />
e política. Os extremos aos quais o governo norteamericano<br />
está sendo forçado a chegar para conter a<br />
crise financeira, e os desdobramentos da<br />
desestabilização política na Bolívia anunciam a nova<br />
etapa da situação mundial<br />
A devastação observada entre<br />
as grandes instituições financeiras<br />
norte-americanas ainda não<br />
teve equivalente na chamada<br />
“economia real”, isto é, na produção<br />
industrial, no comércio, nos<br />
aspectos da economia que afetam<br />
diretamente a vida da população.<br />
Isto não quer dizer que a crise não<br />
chegará a este ponto, como afirmam<br />
os próprios banqueiros envolvidos<br />
na maior crise financeira<br />
desde o crash da Bolsa de Nova<br />
Iorque em 1929. Como já afirmamos<br />
várias vezes, a crise financeira<br />
atual tem maior amplitude e<br />
magnitude que a de 29, embora<br />
não tenha ainda chegado ao ponto<br />
de derrubar completamente o<br />
mercado mundial.<br />
Pelo contrário, o fato de a crise<br />
durar tanto tempo (13 meses) e<br />
se desenvolver com relativa rapidez<br />
dos bancos de hipotecas de<br />
alto risco, o chamado mercado<br />
subprime, para agências de securitização<br />
de contratos de compra<br />
e venda e para os maiores bancos<br />
e fundos de investimentos norteamericanos,<br />
saldados apenas pela<br />
intervenção do banco central<br />
norte-americano, é um sinal quase<br />
cem por cento seguro de que<br />
as grandes empresas e o próprio<br />
Estado se comprometerão ainda<br />
mais, tal o entrelaçamento existente<br />
entre suas contas e o mercado<br />
financeiro.<br />
A crise, que tem o seu epicentro<br />
no mercado de hipotecas de<br />
alto risco, está atingindo outros<br />
mercados com mais força do que<br />
os banqueiros e administradores<br />
achavam ou, pelo menos, diziam<br />
que achavam, que iria acontecer.<br />
Ao que tudo indica, superestimaram<br />
ou ocultaram a sua real capacidade<br />
de absorver os impactos<br />
de um desfalque tão grande em<br />
um fundo tido como seguro entre<br />
amplas parcelas do mercado<br />
financeiro.<br />
A ausência de uma iniciativa<br />
política independente vinda do<br />
movimento operário tem dado até<br />
aqui aos banqueiros, de maneira<br />
relativa, a tranqüilidade de que<br />
precisam para deslocar seus capitais<br />
de um lado a outro e forçar<br />
o Estado a queimar o dinheiro<br />
público para salvar as maiores<br />
instituições financeiras da falência.<br />
Esta receita, onde a humanidade<br />
paga a falência dos bancos<br />
não seria possível diante de uma<br />
classe <strong>operária</strong> em ascenso.<br />
A crise que está em marcha no<br />
sistema financeiro avança por<br />
etapas, tende inevitavelmente a<br />
atingir a economia produtiva o que<br />
provocará uma retração sem<br />
comparação até hoje das forças<br />
produtivas, arrastando consigo<br />
indústrias, o comércio, empregos<br />
e a vida de milhões de pessoas.<br />
Esta movimentação, aliada à evolução<br />
da crise política – que como<br />
colocado acima, também vem<br />
caminhando a passos largos – levará<br />
a uma nova etapa da situação<br />
política mundial.<br />
Para curar a<br />
doença que se<br />
espalha<br />
As perdas do último período<br />
são recorde e os valores de mercado<br />
das principais instituições<br />
financeiras caíram em um ano<br />
entre 62,1% e 99,3%. A generalização<br />
dos prejuízos de um mercado<br />
para todo o sistema financeiro<br />
é uma etapa intermediária<br />
no desenvolvimento da crise<br />
econômica mundial em seu conjunto,<br />
em caráter geral para a<br />
economia e mundial.<br />
Será necessário que o governo<br />
norte-americano injete centenas<br />
de bilhões de dólares para<br />
conter a crise, como os próprios<br />
chefe do Tesouro, Henry Paulson,<br />
e o presidente Bush anunciaram<br />
na semana.<br />
Com um valor ainda desconhecido,<br />
o governo norte-americano<br />
já decidiu pela intervenção na<br />
economia, como Bush o colocou,<br />
agindo de maneira sem precedentes<br />
para conter uma crise sem<br />
precedentes.<br />
“A intervenção pública nos<br />
mercados é essencial para preservar<br />
o sistema financeiro. O risco<br />
de não agir seria muito maior com<br />
a alta do desemprego e a escassez<br />
de empréstimos”, disse Bush<br />
em seu discurso em frente à Casa<br />
Branca na sexta-feira (19) acompanhado<br />
dos presidentes do Fed<br />
e do Tesouro. Bush declarou abertamente<br />
que usará o dinheiro do<br />
contribuinte norte-americano<br />
para comprar os créditos podres<br />
dos bancos, mas acrescentou que<br />
“acha” que este dinheiro voltará<br />
porque... a economia norte-americana<br />
é sólida!<br />
Em seu apelo ao Congresso<br />
norte-americano pela união de<br />
Democratas e Republicanos na<br />
aprovação de um plano de emergência<br />
para regular os mercados<br />
financeiros e impedir a quebra<br />
generalizada dos bancos, o secretário<br />
do Tesouro afirmou temer o<br />
sufocamento dos empréstimos<br />
pelas dívidas contraídas no terreno<br />
doméstico. Este sufocamento<br />
seria o completo estrangulamento<br />
da produção por falta de<br />
investimentos e um colapso imediato<br />
de toda a economia norteamericana<br />
e mundial.<br />
Tentam, assim como no período<br />
anterior, ganhar tempo antes<br />
que a crise atinja em cheio a economia<br />
real. Fica claro nas próprias<br />
declarações das autoridades<br />
econômicas e políticas do imperialismo<br />
que não se trata de conter,<br />
mas de suavizar a queda inevitável<br />
para que a crise se desenvolva,<br />
aparentemente, não como<br />
catástrofe, mas como um fenômeno<br />
aparentemente gradual e<br />
possa ser absorvida sem efeitos<br />
políticos revolucionários imediatos.<br />
Os dados do Bureau of Labor,<br />
do FMI e do Departamento de<br />
Comércio e do governo norteamericano<br />
atestam os danos já<br />
<strong>causa</strong>dos pela crise financeira.<br />
Os economistas esperam que<br />
o PIB, norte-americano, que em<br />
2004 cresceu 3,6%, chegue a<br />
apenas 1,3% ao final deste ano, o<br />
que seria um resultado relativamente<br />
bom dado o estágio da<br />
crise, mas que não seria mantido<br />
em 2009. O desemprego, por sua<br />
vez, na casa dos 4,8% em 2005,<br />
pode chegar a 5,7% e até mesmo<br />
6,1% segundo algumas estimativas,<br />
muito alto pelos padrões da<br />
economia norte-americana.<br />
A inflação norte-americana<br />
também começou a subir após<br />
um período de queda de quatro<br />
meses no primeiro semestre. Dos<br />
4,3% registrados em janeiro, a<br />
inflação norte-americana já alcançou<br />
5,6% em julho.<br />
As contas públicas que não<br />
fechavam com saldo positivo<br />
desde 2003 – especialmente em<br />
função da guerra – alcançaram o<br />
seu maior prejuízo desde o auge<br />
do conflito no Iraque em 2004,<br />
chegando a uma estimativa de<br />
perda de 389 bilhões de dólares<br />
neste ano e 482 bilhões em 2009,<br />
contra os 412 bilhões perdidos em<br />
2003.<br />
Como afirmou o Wall Street<br />
Journal na quinta-feira (18), “A<br />
crise financeira que se iniciou há<br />
13 meses atrás entrou em uma<br />
fase nova e muito mais séria.<br />
“As esperanças que restavam<br />
de que o dano pudesse ser restrito<br />
a um punhado de instituiçõr:es<br />
financeiras que fizeram apostas<br />
ruins em hipotecas evaporaram.<br />
Novas linhas de quebra estão<br />
emergindo além do problema<br />
original – as hipotecas subprime<br />
com problemas – em áreas como<br />
as trocas de crédito, contratos de<br />
crédito assegurados vendidos<br />
pelo American International<br />
Group Inc. e outros. Há também<br />
um crescente sentido de preocupação<br />
sobre a saúde dos parceiros<br />
comerciais.<br />
“As conseqüências para as<br />
companhias e executivos que<br />
aguardam – esperando tempos<br />
melhores nos quais levantar capital,<br />
vender ativos ou reconhecer<br />
perdas – são agora claras e brutais,<br />
na medida em que os preços<br />
das ações caem e emprestadores<br />
temerosos mandam companhias<br />
em problemas para buracos ainda<br />
mais fundos”.<br />
O quadro generalizado de crise<br />
assusta os investidores e provoca<br />
uma seqüência de vendas de<br />
títulos e ações, dificultando ainda<br />
mais o fluxo de negócios nos<br />
mercados internacionais, ou seja,<br />
levando em um círculo vicioso ao<br />
estrangulamento do crédito que<br />
deve aliviado pelo dinheiro público<br />
e intervenção estatal.<br />
O nível de contágio parece ser<br />
muito mais alto do que estimam,<br />
como atesta a bolsa da Rússia,<br />
que fechou por dois dias seguidos<br />
após registrar perdas sucessivas<br />
de 10% e 30%. Seu fechamento<br />
no meio do pregão na<br />
quarta-feira e logo após a abertura<br />
na quinta-feira, quando as<br />
ações dos principais bancos russos<br />
despencaram vertiginosamente<br />
mostra que está cada vez<br />
mais difícil sustentar a ciranda<br />
financeira internacional. O restabelecimento<br />
do seu funcionamento<br />
em níveis “normais” só se<br />
deu na sexta-feira, após o pacote<br />
econômico anunciado por<br />
Bush, que provocou um enorme,<br />
embora temporário alívio nos<br />
mercados, quando conseguiu se<br />
recuperar com alta 22,39%, mas<br />
funcionando de maneira intermitente<br />
ao longo do dia.<br />
Na UTI<br />
Uma comparação feita pelo<br />
Wall Street Journal, porta-voz da<br />
bolsa, ilustra com clareza a situação<br />
do sistema financeiro norteamericano.<br />
“O sistema financeiro norteamericano<br />
lembra um paciente na<br />
UTI. O corpo está tentando combater<br />
uma doença que está se<br />
espalhando, e enquanto esta o faz,<br />
o corpo entra em convulsão, se<br />
acomoda por um tempo e depois<br />
entra em convulsão novamente.<br />
A doença parece estar superando<br />
as tendências do mercado a se<br />
curar sozinho. Os médicos encarregados<br />
estão se recorrendo a<br />
um tratamento cada vez mais<br />
invasivo, e agora estão experimentando<br />
remédios que não tinham<br />
sido nunca aplicados. O<br />
presidente do Fed, Bernanke e o<br />
Secretário do Tesouro Henry<br />
Paulson, entrando em uma reunião<br />
arranjada às pressas com<br />
líderes do Congresso na terçafeira<br />
à noite para informá-los<br />
sobre o resgate sem precedentes<br />
da AIG pelo governo, pareciam<br />
cirurgiões exaustos entregando<br />
notícias sombrias à família”.<br />
Ao fazê-lo, incidentalmente, o<br />
imperialismo norte-americano<br />
reconhece que toda a sua conversa<br />
de décadas de que as crises ao<br />
estilo da de 29 eram impossíveis<br />
porque os governos e mercados<br />
haviam desenvolvido mecanismos<br />
que impediam este tipo de<br />
descontrole caem totalmente por<br />
terra e os governos e mercados<br />
ingressam como estes “métodos<br />
sem precedentes” novamente no<br />
terreno do desconhecido.<br />
O encadeamento das dívidas e<br />
a conseqüente quebradeira das<br />
instituições financeiras foi chamado<br />
de “desalavancamento”<br />
(deleveraging) pelo presidente do<br />
Fed. A onda de perdas iniciada<br />
com a falta de cobertura para as<br />
garantias atreladas ao subprime,<br />
se espalhou para muito além dos<br />
imóveis residenciais hipotecados,<br />
atingindo propriedades comerciais<br />
e empréstimos tomados para<br />
a compra de automóveis e compromissos<br />
de curto prazo.<br />
À medida em que o sistema<br />
financeiro norte-americano se vê<br />
mais e mais paralisado, vêem à<br />
tona as indicações de quais serão<br />
as próximas áreas comprometidas<br />
e de que recursos os grandes<br />
especuladores pretendem dispor.<br />
Os fundos hedge, de alto risco e<br />
alta rentabilidade, tendem a ser os<br />
próximos a entrar em colapso,<br />
segundo os analistas de Wall Street.<br />
Os fundos soberanos, como o<br />
que o governo Lula está pretendendo<br />
formar a partir da captação<br />
de reservas internacionais e da<br />
valorização do mercado interno<br />
brasileiro e, fundamentalmente, as<br />
exportações de petróleo e etanol,<br />
tendem a ser atirados à fornalha<br />
descontrolada da crise financeira.<br />
É o que o próprio governo<br />
Bush já afirmou que fará ao anunciar<br />
que seria mais favorável gastar<br />
o dinheiro público com a crise<br />
dos bancos do que deixá-los ir à<br />
falência – e com eles o restante da<br />
economia.<br />
Diante da evolução da crise fica<br />
absolutamente claro, até para<br />
quem não queria ver, que a formação<br />
deste “colchão de divisas”<br />
pelo governo Lula nada mais era<br />
que um depósito à vista para garantir<br />
a entrada de capital especulativo<br />
no país e, também, diante<br />
da dimensão da crise, é uma gota<br />
de água no oceano. Utilizado em<br />
outras formas, como investimento<br />
na saúde, educação etc. teria<br />
tido extraordinário valor. Agora,<br />
é dinheiro perdido.<br />
A própria avaliação dos economistas<br />
de Wall Street não esconde<br />
o fato: é a população mundial,<br />
em especial dos países capitalistas<br />
atrasados e dominados pelo<br />
imperialismo que paga pela crise.<br />
“Em parte, a economia mais<br />
ampla se manteve mais estável<br />
porque as exportações têm sido<br />
tão fortes no momento exato, um<br />
lembrete da importância da economia<br />
mundial para os EUA e em<br />
parte, porque a economia norteamericana<br />
está demonstrando<br />
uma impressionante elasticidade,<br />
na medida em que a tecnologia da<br />
informação permite que os executivos<br />
reajam mais rapidamente<br />
a problemas que surgem e – para<br />
o desconforto dos trabalhadores<br />
– as empresas estão mais rápidas<br />
no ajuste dos salários, contratação<br />
e jornadas de trabalho quando<br />
a economia amolece”.<br />
O capitalismo mundial, em<br />
particular o imperialismo, está<br />
gastando as reservas que acumulou<br />
com as extraordinárias conquistas<br />
contra a classe <strong>operária</strong><br />
mundial, em particular sobre os<br />
salários, e contra os países atrasados,<br />
em particular na troca<br />
desigual entre matérias-primas e<br />
tecnologia.<br />
A evolução da crise<br />
até 2007<br />
A situação atual está relacionada<br />
diretamente à evolução da crise<br />
econômica e política do imperialismo<br />
que se abriu com a recessão<br />
mundial de 1974, resultado da<br />
derrota do imperialismo no Vietnã<br />
a partir de 68, formalizada em<br />
1975 e aprofundada com a crise<br />
do petróleo em 1979.<br />
O processo que conduziu as<br />
economias imperialistas ao ataque<br />
às condições de vida e trabalho da<br />
classe <strong>operária</strong>, à privatização de<br />
empresas e ao avanço no desmonte<br />
da estrutura estatal durante os<br />
anos 80 e 90 não foram suficientes<br />
para solucionar o problema,<br />
embora tenham contribuído significativamente<br />
para, através de<br />
uma política de deflação e do congelamento<br />
da economia e do<br />
monstruoso rebaixamento do<br />
mercado de trabalho mundial,<br />
conter o movimento operário e<br />
retardar a evolução da crise política<br />
nos principais centros econômicos<br />
mundialmente.<br />
O plano para o controle do<br />
petróleo do Oriente Médio, conduzido<br />
pela Casa Branca, levou à<br />
operação militar para a invasão do<br />
Iraque e controle de uma das<br />
maiores reservas da matéria-prima<br />
no mundo. A operação resultou<br />
em um retumbante fracasso<br />
em que os EUA já investiram mais<br />
de US$ 3 trilhões. Mais importante<br />
que isso, no entanto, é a desmoralização<br />
do poder militar imperialista<br />
que não se mostra à altura<br />
da conquista pela força dos mercados<br />
e fontes de matéria-prima<br />
que é absolutamente indispensável<br />
na situação atual.<br />
Este gasto, diluído entre os<br />
últimos cinco anos, acrescido da<br />
alta dos preços do petróleo criou<br />
as condições para que os “investidores”<br />
estimulassem a bolha de<br />
consumo, em particular o imobiliário.<br />
O resultado da falência<br />
deste mercado levou à crise das<br />
hipotecas subprime em agosto<br />
passado.<br />
A espiral de crise vem se acentuando<br />
nos últimos 13 meses. A<br />
desconfiança no mercado financeiro<br />
é generalizada e as previsões<br />
otimistas de um ano atrás, de que<br />
a crise seria passageira, restrita ao<br />
mercado imobiliário evaporaram<br />
como os próprios analistas e<br />
porta-vozes do mercado financeiro<br />
anunciaram na última semana<br />
na sua tribuna, o Wall Street Journal.<br />
Ao mesmo tempo em que a<br />
crise financeira se aprofundava,<br />
os elos mais fracos na conjunção<br />
de forças que dá sustentação à<br />
dominação imperialista no mundo<br />
começaram a se romper no<br />
ano passado.<br />
O caso mais evidente da degringolada<br />
dos regimes pró-imperialistas<br />
foi o fim da ditadura do<br />
ex-general Pervez Musharraf no<br />
Paquistão, principal ponto de<br />
apoio do imperialismo naquela<br />
região diante do crescimento da<br />
rebelião mulçumana que expressa<br />
as tendências ao levante das<br />
nações atrasadas árabes, africanas<br />
e asiáticas, depois de quase<br />
dez anos em estreita aliança com<br />
Washington. Juntamente com<br />
este, as ditaduras pró-imperialistas<br />
do Sul da Ásia passaram por<br />
um processo semelhante com<br />
enfrentamentos nas ruas de Bangladesh,<br />
da Birmânia, o fim da<br />
monarquia no Nepal etc., em uma<br />
onda de crise política que continua<br />
avançando.<br />
A ampliação da crise política no<br />
Paquistão levou a um processo de<br />
características revolucionárias no<br />
país que está na linha divisória<br />
entre a crise política no Oriente<br />
Médio e a crise verdadeira bomba-relógio<br />
financeira na Ásia. A<br />
ação das massas estudantis sob a<br />
liderança de clérigos muçulmanos<br />
colocou o regime de Musharraf<br />
em xeque com a ocupação da<br />
Mesquita Vermelha no ano passado,<br />
que terminou em um massacre<br />
promovido pelo exército e<br />
condenado amplamente pela população.<br />
Os fatos que se seguiram<br />
marcaram a profunda desmoralização<br />
do governo e o esvaziamento<br />
do seu apoio pelo próprio<br />
imperialismo. A operação abortada<br />
que iria substituir a ditadura<br />
militar pró-imperialista pelo da expremiê<br />
Benazir Bhutto, que havia<br />
concordado em assumir preservando<br />
Musharraf no governo<br />
terminou, menos de um ano depois,<br />
por entregar o poder ao<br />
partido da ex-premiê assassinada.<br />
A coalizão de partidos burgueses,<br />
sem nenhuma base no movimento<br />
popular, que se reuniu para obter<br />
maioria no Parlamento se dissolveu<br />
logo após a renúncia de<br />
Musharraf em agosto deste ano.<br />
A crise Boliviana e a<br />
crise no Brasil<br />
Evo Morales foi forçado a<br />
prender Leopoldo Fernandes,<br />
governador do departamento de<br />
Pando, responsável pelo massacre<br />
ocorrido na última semana,<br />
tendo deixado mais de 100 desaparecidos<br />
e detido em La Paz sob<br />
a acusação de genocídio devido<br />
à pressão revolucionária das<br />
massas.<br />
O governo boliviano pediu ao<br />
Brasil que expulse os bolivianos<br />
envolvidos nos conflitos no departamento<br />
de Pando que se refugiaram<br />
no Acre.<br />
Lula se dispôs durante a última<br />
semana a prestar o auxílio necessário<br />
a que o governo de Evo<br />
Morales restabeleça a ordem.<br />
“Fortalecer a democracia boliviana”<br />
como o próprio presidente<br />
colocou, significa, impedir que a<br />
crise cresça e passe de uma crise<br />
com claras características revolucionárias<br />
pela iniciativa das<br />
massas camponesas e trabalhadoras<br />
da Bolívia para uma derrubada<br />
geral do regime político<br />
burguês.<br />
Tivemos na semana retrasada<br />
uma ofensiva dos setores que<br />
querem dividir a Bolívia ao meio.<br />
Na última semana, foi a vez dos<br />
camponeses assumirem a iniciativa<br />
em resposta à iniciativa dos<br />
setores contra-revolucionários<br />
apoiados e impulsionados pelo<br />
imperialismo. Nos departamentos<br />
governados pela direita, os direitistas<br />
deram um verdadeiro “golpe<br />
de estado”, impondo um bloqueio<br />
de estradas, ocupando os<br />
prédios públicos, fechando a<br />
fronteira com o Brasil no departamento<br />
de Santa Cruz, o mais<br />
importante da direita.<br />
Nesta semana, os bloqueios de<br />
estradas, a marcha dos camponeses<br />
em direção a Santa Cruz de La<br />
Sierra dominaram o panorama<br />
promovendo a fuga de vários<br />
setores da direita para o Brasil.<br />
Evo Morales agiu para expulsar<br />
o embaixador norte-americano<br />
e prender o governador de<br />
Pando, bem como a realizar algumas<br />
ações em comum acordo<br />
com o Exército na tentativa de<br />
conter as tendências revolucionárias<br />
das massas que cercaram a<br />
cidade de Santa Cruz de La Sierra<br />
para liquidar de vez a direita em<br />
uma ação revolucionária que reabre<br />
todo o período revolucionário<br />
que deu lugar à insurreição<br />
contra o governo pró-imperialista<br />
e ao governo de Morales. A<br />
política de Morales de, sobre a<br />
base da derrota da direita nas mãos<br />
das massas, chegar a um acordo<br />
com a direita, expressa o temor do<br />
governo nacionalista burguês de<br />
ficar sob a pressão das massas<br />
sem um contrapeso das forças revolucionárias.<br />
O método de<br />
Morales é o de arbitrar entre as<br />
tendências revolucionárias das<br />
massas e contra-revolucionárias<br />
usando a carta da democracia.<br />
Sem a direita, o governo cai diretamente<br />
sob a pressão das massas<br />
sem qualquer contrapeso. Por<br />
isso, Morales busca agora, salvar<br />
a direita das massas. O governo<br />
recusou-se durante toda a crise a<br />
mobilizar os sindicatos, as organizações<br />
camponesas, a população<br />
em geral que acabaram, por<br />
tomar esta iniciativa por conta<br />
própria, ultrapassando Morales, o<br />
qual agiu para retomar a iniciativa<br />
diante das massas.<br />
A crise mostra a tendência à<br />
polarização onde, no caso boliviano,<br />
as massas tomaram a inici-<br />
ativa, anos atrás derrubando os<br />
governos de Sánchez “el Gringo”<br />
de Losada e Carlos Mesa, e agora,<br />
diante da reação da direita, as<br />
massas estão novamente começando<br />
a se agitar e tendem a se<br />
organizar – como o mostra o<br />
cerco à Santa Cruz – por fora das<br />
instituições do regime burguês e<br />
do próprio MAS, sendo que os<br />
dirigentes os mais próximos das<br />
bases pelo menos, estão forçados<br />
a assumirem uma política mais<br />
conseqüente. Se Morales não<br />
atuasse para retomar a iniciativa<br />
e superar a sua completa paralisação<br />
e prostração diante da política<br />
da direita corre o risco de ver<br />
o seu próprio partido rachar e<br />
lançar contra seu governo uma<br />
ampla parcela das massas insatisfeita<br />
com a falta de resultados da<br />
política governamental e a sua<br />
prostração diante da direita.<br />
É impossível para a direita<br />
governar a Bolívia novamente.<br />
Nesse sentido, a divisão do país<br />
é a sua política natural, a qual<br />
foram levando adiante com cautela,<br />
disfarçando-a com uma crítica<br />
de tipo constitucional ao<br />
governo Morales, por medo às<br />
massas. O medo se justificou<br />
plenamente na mobilização atual<br />
dos camponeses que tende a se<br />
transformar em uma revolução do<br />
conjunto das massas <strong>operária</strong>s e<br />
camponesas bolivianas.<br />
O medo da direita não é, de<br />
forma alguma, de Evo Morales e<br />
do MAS, mas das massas exploradas<br />
e oprimidas bolivianas que<br />
já a derrubou do poder uma vez<br />
em uma violenta insurreição popular<br />
que derrotou e neutralizou<br />
o Exército e o imperialismo. A<br />
direita explora a tendência conciliadora<br />
de Evo Morales e a sua<br />
política “legalista” e “constitucional”,<br />
em relação ao movimento<br />
revolucionário das massas, para<br />
levar adiante a liquidação da Bolívia.<br />
Esta estratégia da direita é<br />
encoberta por uma tática “constitucional”,<br />
o que leva a maioria da<br />
direita latino-americana a acreditar<br />
que se trata de uma disputa em<br />
torno da constituição de Morales,<br />
a qual, na realidade, só tem como<br />
significado criar um marco legal<br />
e “democrático” para conter as<br />
massas.<br />
Morales está à frente de um<br />
governo fraco, prensado entre<br />
forças poderosas: de um lado o<br />
imperialismo, de outro as massas.<br />
Sua força vem do equilíbrio entre<br />
o imperialismo e as massas sem<br />
direção revolucionária. Daí a sua<br />
necessidade de negociar com a<br />
direita e o imperialismo.<br />
O fiel da balança nessas negociações<br />
será, sem dúvida, o Brasil.<br />
O governo Lula é o representante<br />
da política do imperialismo<br />
norte-americano para a região<br />
procurando evitar o confronto<br />
das massas com a direita ao<br />
mesmo tempo em que procura<br />
apresentar a Morales uma solução<br />
pelas vias institucionais do regime<br />
burguês, preservando o regime<br />
e procurando minimizar a<br />
dispersão das massas atreladas ao<br />
MAS e ao governo.<br />
As massas bolivianas devem,<br />
no curso da luta atual, desenvolver<br />
uma nova organização de luta<br />
(sovietes) e uma direção política<br />
capaz de unificá-las diante das<br />
dificuldades políticas que se colocam.<br />
Uma nova etapa de<br />
crise<br />
A crise do imperialismo se alterna,<br />
manifestando-se ora no<br />
terreno econômico com a escalada<br />
da desestabilização do sistema<br />
financeiro, no coração da<br />
economia mundial, ora no terreno<br />
político, avançando dos membros<br />
mais periféricos para se<br />
aproximar cada vez mais do seu<br />
centro nervoso.<br />
A alternância entre a crise<br />
econômica e a crise política se dá<br />
de maneira cada vez mais acelerada,<br />
em uma velocidade cada<br />
vez maior. Se no ano passado a<br />
crise financeira atingiu – profundamente<br />
– as hipotecas de alto<br />
risco e a crise política arrasou o<br />
governo pró-imperialista de<br />
Musharraf, em 2008, a crise financeira<br />
já é capaz de abalar de<br />
maneira mais evidente a própria<br />
estabilidade financeira do imperialismo<br />
e ameaçar os setores<br />
elementares da economia e o<br />
governo abalado por uma crise<br />
política de grande envergadura é<br />
o da Bolívia, muito mais próximo<br />
e mais importante diretamente<br />
para o imperialismo por colocar<br />
em perspectiva a desestabilização<br />
de uma região que está<br />
diretamente sob sua influência,<br />
todo o subcontinente sul-americano.<br />
A crise no Paquistão primeiro<br />
e agora na Bolívia prenunciam um<br />
agravamento da crise política e a<br />
abertura de uma nova etapa da<br />
crise mundial.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 7<br />
LEHMAN BROTHERS<br />
Mais um gigante decreta falência nos Estados Unidos<br />
O quarto maior banco dos EUA decretou falência na<br />
segunda-feira passada (15), depois que o britânico<br />
Barclays recusou a compra do banco sem a ajuda<br />
financeira pública do governo norte-americano<br />
Falência do Lehman Brothers foi devastadora para os<br />
mercados financeiros.<br />
Um dos principais bancos<br />
envolvidos na crise do crédito<br />
imobiliário norte-americano, o<br />
quarto maior, o Lehman Brothers,<br />
pediu falência na última<br />
segunda-feira, (15). É uma das<br />
maiores falências de um banco<br />
de investimentos nos últimos<br />
anos. O banco é um dos mais<br />
antigos dos Estados Unidos, tinha<br />
mais de 150 anos de existência,<br />
foi fundado em 1850.<br />
O banco pediu a concordata<br />
mediante o capítulo 11 da lei norte-americana<br />
de falências. Esta<br />
lei dá o direito ao banco de tentar<br />
entrar em acordo com os credores<br />
mediante o controle de um<br />
tribunal. Este recurso pode ser<br />
acionado pelo banco ou por algum<br />
de seus credores.<br />
A falência do Lehman Brothers<br />
foi devastadora para os<br />
mercados financeiros, provocando<br />
perdas recordes nas<br />
bolsas de todo o mundo com<br />
quedas nas ações de grandes<br />
empresas. As bolsas de Nova<br />
Iorque e do Brasil tiveram os<br />
piores resultados em sete<br />
anos, desde o 11 de setembro<br />
de 2001.<br />
Sendo um dos principais bancos<br />
de investimentos que possui<br />
uma grande quantidade os títulos<br />
hipotecários subprime (investimentos<br />
de alto risco), o Lehman<br />
Brothers, apresentou uma dívida<br />
de US$ 613 bilhões com este<br />
segmento. Um valor que não foi<br />
coberto pelo governo norteamericano,<br />
por meio do Federal<br />
Reserve (Fed), banco central dos<br />
Estados Unidos, como ocorreu<br />
com as financiadoras Fannie<br />
Mae e Freddie Mac na semana<br />
passada.<br />
O Lehman também estava na<br />
expectativa de ser salvo pelos<br />
bancos Bank of America Corp.,<br />
dos Estados Unidos e o britânico,<br />
Barclays Plc que estavam em<br />
negociação para comprá-lo. A<br />
falência do Lehman Brothers<br />
ocorreu depois que o banco havia<br />
perdido, desde o início da<br />
crise no ano passado, 94% de seu<br />
valor de mercado.<br />
Efeito em cadeia<br />
A bancarrota do Lehman<br />
deve surtir um efeito em cadeia<br />
em outras instituições, como<br />
Uma lista de falências pela frente<br />
A bancarrota promovida<br />
pelo banco Lehman Brothers e<br />
todo o tremor <strong>causa</strong>do nas<br />
bolsas não vai ser algo passageiro<br />
no âmbito da crise financeira<br />
mundial. Os analistas já anunciaram<br />
que com o Lehman Brothers<br />
vai haver uma onda de<br />
bancos e instituições financeiras<br />
entrando em falência e todos<br />
de grande porte.<br />
O mais evidente é a seguradora<br />
American Internacional<br />
Group (AIG), a maior dos Estados<br />
Unidos. Esta seguradora<br />
já anunciou graves problemas<br />
financeiros de liquidez (dinheiro<br />
em caixa). Segundo a AIG,<br />
para continuar operando de<br />
maneira satisfatória seriam necessários,<br />
no mínimo, US$ 70<br />
bilhões.<br />
Com a queda do Lehman, a<br />
AIG não terá muita dificuldade<br />
em cair também. Juntamente<br />
com a seguradora está o banco<br />
Merril Lynch & Co. Inc. que foi<br />
vendido, também na segundafeira,<br />
dia 15, para o A Bank of<br />
America Corporation como<br />
medida paliativa de contenção da<br />
crise. A transação foi da ordem<br />
de US$ 50 bilhões de dólares. E<br />
ao invés de mostrar um fortalecimento<br />
do mercado, como quis<br />
aparentar o Bank of America é<br />
um evidente sinal de fraqueza<br />
das instituições financeiras norte-americanas<br />
que estão se fundindo<br />
para diminuir o impacto da<br />
crise.<br />
Outro banco que está na lista<br />
negra e pode ser considerado<br />
como franco candidato à<br />
falência é o Goldman Sachs<br />
Group que anunciou esta semana,<br />
um prejuízo de 70% em<br />
seu lucro do último trimestre.<br />
O banco arrecadou US$ 845<br />
milhões entre junho e agosto<br />
deste ano, bem abaixo do registrado<br />
no mesmo período<br />
do ano passado, US$ 2,85<br />
bilhões.<br />
Vale lembrar que a queda do<br />
Lehman Brothers não é o início,<br />
mas a continuidade da crise, pois<br />
em março outro gigante, o Bear<br />
Stearns, também sucumbiu à<br />
crise imobiliária e foi “salvo” por<br />
outro banco, o JP Morgan Chase.<br />
A tendência nos próximos<br />
meses é a concentração de capital<br />
destes bancos que não<br />
conseguem mais se manter em<br />
pé com a gravidade da crise.<br />
Este fato foi ressaltado pelo<br />
diretor-gerente do Fundo Monetário<br />
Internacional (FMI),<br />
Dominique Strauss-Kahn que<br />
disse que agora haverá um “setor<br />
financeiro global mais estreito”,<br />
ou seja, mais perdas, mais<br />
prejuízos, mais falências etc.<br />
analisou o especialista em falências<br />
e concordatas, Charles<br />
“Chuck” Tatelbaum, “É provável<br />
que haja um efeito dominó, à<br />
medida que outras empresas e<br />
indivíduos que dependiam do<br />
Lehman para seu financiamento<br />
sentirem os efeitos da sua dissolução.<br />
Tudo isso é realmente<br />
assustador para a economia dos<br />
Estados Unidos.” (Gazeta Mercantil,<br />
16/9/2008).<br />
Este efeito cascata é bem visível<br />
quando analisado para<br />
quem o quarto banco norteamericano<br />
de investimentos<br />
deve. Entre os maiores credores<br />
do Lehman estão bancos importantes<br />
da Ásia, como o Aozora<br />
Bank, de Tóquio, que sozinho<br />
teria que receber do banco falido<br />
a quantia de US$ 463 milhões.<br />
Outros bancos em situação semelhante<br />
são o Mizuho Corporate<br />
Bank e uma seção do Citigroup<br />
Inc.com sede em Hong<br />
Cong que possuem US$ 382<br />
milhões e US$ 275 milhões, respectivamente,<br />
do Lehman, para<br />
receber.<br />
Depois do anúncio de falência,<br />
as ações foram cotadas a<br />
US$ 0,20 cada para os acionistas.<br />
Entre os maiores credores e<br />
acionistas o banco deve mais de<br />
US$ 300 bilhões. São US$ 155<br />
bilhões para os acionistas e US$<br />
158 bilhões para os 30 maiores<br />
credores.<br />
A crise foi tão avassaladora<br />
que mesmo os US$ 147 bilhões<br />
em caixa que o Lehman havia<br />
arrecado no segundo trimestre<br />
deste ano, com a venda de títulos<br />
não foi suficiente para conter<br />
a corrida ao banco dos credores.<br />
Veja aqui a lista das perdas de 12<br />
bancos norte-americanos desde o<br />
início da crise em agosto de 2007<br />
Queda nas hipotecas e nas vendas<br />
no varejo dos EUA agrava recessão<br />
Novos dados negativos da economia<br />
norte-americana mantêm o<br />
clima de instabilidade no maior<br />
mercado financeiro do mundo.<br />
Foram divulgados que as hipotecas<br />
que estão em vias de serem<br />
executadas tiveram aumento recorde<br />
em agosto. Segundo a agência<br />
RealtyTrac são 303.879 imóveis<br />
que estão na iminência de terem<br />
as hipotecas executadas, o<br />
que afetará cerca de 416 famílias<br />
norte-americanas, detentoras destas<br />
propriedades. Desde janeiro de<br />
2005 que a quantidade de imóveis<br />
prestes a serem executados é divulgada<br />
e nunca tinha atingido um<br />
patamar tão alto. É um aumento de<br />
até 27% em relação à última medição.<br />
Outro agravante é a queda<br />
abrupta do valor dos imóveis que<br />
em 20 regiões dos Estados Unidos<br />
teve redução média de 15,9% no<br />
mês de junho em comparação com<br />
o mesmo período do ano anterior<br />
e há ainda a previsão de que até o<br />
final de 2009 os preços devam cair<br />
ainda mais 10%.<br />
As vendas no varejo também<br />
foram afetadas em agosto. Segundo<br />
o Departamento do Comércio<br />
dos Estados Unidos, divulgados na<br />
sexta-feira (12), as vendas no<br />
varejo caíram 0,3% na média. Este<br />
é o segundo mês seguido em que<br />
as vendas dão resultado negativo.<br />
Em julho foi registrada perda de<br />
0,5% no consumo, o mais baixo<br />
em cinco meses.<br />
Em uma análise feita, em que as<br />
vendas de automóveis é desprezada,<br />
o resultado é duas vezes pior.<br />
Com a exclusão das vendas de<br />
automóveis a queda no consumo<br />
é de 0,7%, inferior ao atingido em<br />
dezembro de 2007.<br />
O anúncio de falência do Lehman<br />
Brothers se refere à sede<br />
instalada em Nova Iorque, mas<br />
as filiais do banco instaladas em<br />
vários países devem seguir o<br />
mesmo caminho. Junto com a<br />
derrocada do banco, os 25 mil<br />
funcionários da quarta maior instituição<br />
financeira de crédito imobiliário<br />
dos Estados Unidos devem<br />
perder os empregos.<br />
Esta falência apenas revela o<br />
quadro completo de recessão<br />
dos Estados Unidos e a recessão<br />
mundial latente. Os efeitos que<br />
serão gerados com a derrocada<br />
do Lehman Brothers ainda estão<br />
por vir e irão agravar ainda mais<br />
as instituições financeiras de<br />
todo o mundo.<br />
Os piores resultados são de<br />
lojas de departamentos, aparelhos<br />
domésticos, roupas, construção,<br />
jardinagem e também a venda de<br />
combustível.<br />
Estes resultados negativos aumentam<br />
ainda mais a crise financeira<br />
nos Estados Unidos, pois<br />
depende de maneira crucial do<br />
consumo dos norte-americanos<br />
para se manter em pé. O consumo<br />
corresponde a 70% da movimentação<br />
financeira no País. A redução<br />
do valor dos imóveis e as hipotecas<br />
em vias de execução estão<br />
diretamente relacionadas com<br />
a redução do consumo. Com o desenvolvimento<br />
da recessão nos<br />
Estados Unidos, os outros países<br />
ficam ainda mais suscetíveis à<br />
crise, pois dependem em muitos<br />
aspectos da economia norte-americana.<br />
NOTAS<br />
Bovespa cai mais de 7%<br />
Após o pedido de concordata<br />
do Lehman Brothers, na segunda-feira,<br />
dia 15, a venda do Merrill<br />
Lynch para o Bank of America<br />
por US$ 50 bilhões e a tentativa<br />
da AIG, principal companhia<br />
de seguros dos EUA, de obter um<br />
empréstimo-ponte de US$ 40<br />
bilhões do Fed, o cenário dos<br />
mercados globais apresentaramse<br />
com um completo caos.<br />
Acompanhando a queda das<br />
demais bolsas, a Bolsa de Valores<br />
de São Paulo (Bovespa) caiu<br />
7,59% às 16h30, uma das maiores<br />
quedas vistas hoje, com a<br />
baixa do petróleo e dos metais<br />
ajudando a afundar suas principais<br />
ações Petrobrás e Vale.<br />
Entre o fechamento da sextafeira,<br />
dia 12, e a mínima da segunda-feira,<br />
dia 15, o Ibovespa perdeu<br />
mais de 3 mil pontos. No<br />
mercado de câmbio doméstico,<br />
a aversão ao risco fez com que o<br />
dólar voltasse a subir para a casa<br />
dos R$ 1,80 - na máxima, o dólar<br />
à vista no balcão chegou a R$<br />
1,823 - mas as cotações esbarram<br />
em limites técnicos.<br />
Segundo os analistas, a Bolsa<br />
esteve tão instável que era impossível<br />
saber se haveria mais quedas<br />
durante a semana. Durante a<br />
manhã de segunda-feira, dia 15,<br />
o Fed teve de fazer duas operações,<br />
num total de US$ 70 bilhões,<br />
para oferecer liquidez ao mercado,<br />
em meio à disparada na demanda<br />
por financiamento. Na<br />
terça-feira, 16, a Bovespa manteve<br />
queda de 6,5% e se recuperou<br />
na sexta-feira, dia 19, com alta de<br />
mais de 9%, mas com pequena<br />
variação positiva acima de 1%.<br />
Com quebra de banco<br />
investidor norteamericano,<br />
as bolsas<br />
do mundo inteiro<br />
caíram<br />
O Banco da Inglaterra (Banco<br />
Central britânico) disse na última<br />
segunda-feira dia 15, que vai<br />
observar com atenção as condições<br />
nos mercados da libra esterlina<br />
após o anúncio de quebra do<br />
banco investidor norte-americano<br />
Lehman Brothers e que intervirá<br />
para estabilizá-los se for necessário,<br />
disse a entidade em<br />
comunicado.<br />
O Lehman informou em comunicado<br />
que apresentou a documentação<br />
necessária para se declarar<br />
em quebra perante o tribunal<br />
de Quebras do Distrito Sul de<br />
Nova York. A falência, que já era<br />
esperada, ficou iminente depois<br />
que o banco britânico Barclays<br />
decidiu abandonar as negociações,<br />
no fim de semana.<br />
O Lehman Brothers mantém<br />
negócios com os principais bancos<br />
do mundo e sua provável liquidação<br />
deverá <strong>causa</strong>r prejuízos<br />
a todas essas instituições. O banco<br />
perdeu mais de 77% de seu<br />
valor de mercado. Apenas entre<br />
o início de março e o final de<br />
agosto deste ano, a instituição<br />
financeira perdeu US$ 6,7 bilhões.<br />
As bolsas cairam no mundo<br />
todo.<br />
Na Ásia, a Bolsa de Mumbai<br />
(Índia) fechou, na terça-feira, dia<br />
16, em queda de 5,4% no índice<br />
Sensex; a Bolsa de Taipé (Taiwan)<br />
caiu 4,1%; e Bolsa de Sydney<br />
(Austrália) fechou em baixa de<br />
2%; e a Bolsa de Cingapura caiu<br />
2,9%.<br />
Bancos centrais se<br />
unem na tentativa de<br />
conter o pânico nos<br />
mercados<br />
Os bancos centrais do mundo<br />
anunciaram na quinta-feira, dia<br />
18, uma medida coordenada para<br />
conter o pânico nos mercados<br />
financeiros, enquanto a consolidação<br />
do setor bancário se acelera<br />
em meio aos rumores de novas<br />
falências.<br />
Acordos de “swap” entre os<br />
bancos centrais norte-americano,<br />
europeu, o nacional da Suíça, da<br />
Inglaterra, do Japão e Canadá<br />
permitirão empréstimos entre eles<br />
a curto prazo.<br />
Após a decisão de ação conjunta,<br />
ouve leve alta nas bolsas<br />
européias no mesmo dia, mas<br />
especialistas não vêem isto com<br />
otimismo: a alta é quase insignificante<br />
perto das últimas perdas,<br />
além de refletirem ainda grande<br />
insegurança mesmo com os bilhões<br />
injetados. Algumas bolsas<br />
tiveram queda, como é o caso de<br />
Xangai (baixa de 1,72%) e outras<br />
da Ásia. Em Tóquio, o índice<br />
Nikkei perdeu 2,22% no fechamento<br />
e registrou o menor valor<br />
em mais de três anos.<br />
EUA inauguram era<br />
de “socorro aos<br />
gigantes”<br />
O governo dos Estados Unidos<br />
inaugurou uma prática inédita<br />
ao socorrer na última semana<br />
a maior firma de seguros dos<br />
Estados Unidos com uma injeção<br />
de US$ 85 bilhões e adquirindo<br />
80% das ações da empresa.<br />
Até então, o Tesouro americano<br />
havia se limitado a intervir<br />
em instituições financeiras,<br />
como o banco Bear Stearns e as<br />
gigantes de hipotecas Fannie<br />
Mae e Freddie Mac, mas nunca<br />
em uma companhia de seguros.<br />
“Os Bancos Centrais mundiais<br />
seguem o princípio de<br />
que há bancos em seus países<br />
que são grandes demais para<br />
deixar que eles entrem em concordata”,<br />
disse à BBC Brasil<br />
Richard Marston, professor<br />
de finanças da Wharton Business<br />
School.<br />
Para o economista, “o Fed<br />
(Banco Central americano) seguramente<br />
iria intervir se o Bank<br />
of America ameaçasse falir. E o<br />
Bank of England certamente<br />
seria salvo pelo Banco da Inglaterra,<br />
mas salvar uma companhia<br />
de seguros é sem precedentes”.<br />
Banco HBOS, um dos<br />
maiores do Reino<br />
Unido, perde 40% de<br />
suas ações<br />
O maior banco hipotecário do<br />
Reino Unido, o Halifax Bank of<br />
Scotland (HBOS), viu suas<br />
ações caírem na quarta-feira<br />
(17) 40% na Bolsa de Londres,<br />
diante da crise econômica colossal<br />
que devastou os bancos<br />
norte-americanos e europeus.<br />
“Os títulos do HBOS caíam,<br />
por volta das 8h12 (local) desta<br />
quarta, 37,91%, para 1,13 libra<br />
esterlina, apesar de registrar<br />
uma alta de 7% no começo da<br />
sessão” (EFE, 17-9-2008).<br />
O banco pretende se salvar<br />
com o refinanciamento de 100<br />
bilhões de libras (cerca de 125<br />
bilhões de euros) nos próximos<br />
meses, mas teme que seja impossível<br />
conseguir este fundo<br />
devido à crise do mercado.<br />
Soros diz que crise<br />
continua se dirigindo<br />
para uma recessão<br />
Em entrevista para a rede<br />
britânica BBC, o financista norte-americano<br />
George Soros,<br />
77, afirmou que a crise econômica<br />
mundial e a recessão nos<br />
EUA estão longe do fim.<br />
“Temo que não tenhamos<br />
saído da tempestade financei-<br />
ra, que de algum modo continuamos<br />
nos dirigindo para a<br />
tempestade, ao invés de nos<br />
afastarmos”, disse (BBC, 17/<br />
9/2008).<br />
Dentre várias perguntas, sobre<br />
a concordata do banco Lehman<br />
Brothers, Soros respondeu<br />
que “se o sistema financeiro<br />
deve sobreviver, teria sido bom<br />
não deixá-lo afundar”, referindo-se<br />
ao fato de que o governo<br />
norte-americano não conseguiu<br />
salvar o banco.<br />
Soros comparou a atual situação<br />
com a Grande Depressão<br />
de 1929 e a década seguinte,<br />
na qual afirmou que o secretário<br />
de Tesouro dos EUA,<br />
Henry Paulson, trata a crise de<br />
forma muito parecida com<br />
aquela época.<br />
Relacionando a crise com a<br />
Europa, ele disse que a Grã-<br />
Bretanha será um dos países<br />
mais afetados.<br />
Soros comparou a atual situação com a Grande<br />
Depressão de 1929 e a década seguinte.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA ECONOMIA 8<br />
COM MEDO DA CRISE<br />
Bancos centrais despejam mais de<br />
US$ 500 bilhões em uma semana<br />
Em uma ação conjunta entre os bancos centrais dos<br />
principais países do mundo, foram injetados nesta última<br />
semana mais de US$ 500 bilhões para salvar os bancos<br />
da falta de liquidez<br />
O agravamento da crise financeira<br />
mundial nesta semana,<br />
com a falência do banco<br />
Lehman Brothers, com a compra<br />
da seguradora AIG e com<br />
a suspeita de falência de dezenas<br />
de outras instituições financeiras<br />
que estão expostas, colocou<br />
em alerta os bancos centrais<br />
dos principais países. Nesta<br />
semana, os bancos centrais<br />
da Europa (BCE), Banco do Japão,<br />
Banco da Inglaterra, Banco<br />
do Canadá, SNI, da Suíça e<br />
o Fed (Federal Reserve), banco<br />
central dos Estados Unidos,<br />
colocaram no mercado financeiro<br />
mais de US$ 500 bilhões<br />
Bilhões dos bancos<br />
centrais entre os dias de<br />
15 a 19 de setembro<br />
Banco Central<br />
EUA (Fed)<br />
Europa (BCE)<br />
Banco da Inglaterra<br />
Banco do Japão (BOJ)<br />
Banco de Taiwan<br />
Banco da Canadá<br />
Banco da Suíça<br />
Banco da Austrália<br />
Banco da Coréia<br />
Banco de Cingapura<br />
Banco de Hong Cong<br />
Total<br />
US$ (bilhões)<br />
250<br />
140<br />
40<br />
76<br />
15,5<br />
10<br />
10<br />
5,5<br />
3,1<br />
2,8<br />
0,2<br />
553,1<br />
para garantir liquidez (dinheiro<br />
em caixa), para os bancos.<br />
Os pioneiros da semana foram<br />
o Fed e o Banco Central<br />
Europeu. De segunda-feira, dia<br />
15 de setembro, a sexta-feira,<br />
dia 19, o banco central norteamericano<br />
tinha colocado no<br />
mercado para desafogar o sufoco<br />
dos bancos nada mais que<br />
US$ 250 bilhões. Já o BCE disponibilizou<br />
para os bancos europeus<br />
US$ 140 bilhões no<br />
mesmo período.<br />
O Banco da Inglaterra colocou<br />
nesta semana outros US$<br />
40 bilhões. Os bancos centrais<br />
do Canadá e da Suíça colocaram<br />
à disposição cada um US$<br />
10 bilhões.<br />
Todas estas transações foram<br />
feitas em conjunto com o<br />
Fed que facilitou as linhas de<br />
empréstimos para estes bancos.<br />
Uma executiva-chefe do<br />
BCE falou de como os bancos<br />
centrais estão atuando em conjunto<br />
para tentar diminuir o impacto<br />
da crise: “Temos estado<br />
e continuaremos a estar em estreito<br />
contato com outros reguladores<br />
internacionais e norteamericanos,<br />
autoridades supervisoras<br />
e bancos centrais para<br />
supervisionar e partilhar informação<br />
sobre as condições nos<br />
mercados financeiros e empresas<br />
em todo o mundo” (SIC, 19/<br />
9/2008).<br />
Os bancos da Ásia também<br />
colocaram dezenas de bilhões<br />
para tapar os buracos da crise.<br />
O Banco do Japão (BOJ) injetou<br />
US$ 35,7 bilhões na sextafeira<br />
e, durante a semana, o total<br />
foi de US$ 76 bilhões. O Banco<br />
da Austrália injetou na última<br />
semana US$ 5,5 bilhões. O<br />
banco central de Taiwan disponibilizou<br />
US$ 15,5 bilhões e já<br />
anunciou um montante de US$<br />
200 bilhões nas próximas semanas.<br />
Em Cingapura, o banco<br />
central colocou US$ 2,8 bilhões.<br />
O banco chinês de Hong<br />
Kong também colocou US$<br />
200 milhões no mercado financeiro<br />
asiático e o banco central<br />
da Coréia disponibilizou outros<br />
US$ 3,1 bilhões.<br />
Esta ação em conjunto dos<br />
bancos centrais para conter de<br />
maneira coordenada em todo<br />
mundo os efeitos devastadores<br />
da crise imobiliária demonstra<br />
ainda mais a fragilidade do sistema<br />
financeiro mundial e o tamanho<br />
da crise.<br />
Até onde vai a intervenção<br />
estatal nos EUA na crise?<br />
Obviamente que a saída de dinheiro dos<br />
cofres públicos para conter a sangria do<br />
mercado deve continuar<br />
A recessão norte-americana<br />
está provocando um colapso<br />
financeiro como nunca se viu.<br />
De um lado, instituições financeiras<br />
seculares estão vindo abaixo,<br />
como ocorreu recentemente<br />
com o Lehman Brothers, o quarto<br />
maior banco de investimentos<br />
dos Estados Unidos que foi fundado<br />
em 1850 e registrou dívidas<br />
de mais de 600 bilhões de dólares.<br />
Por outro lado, existe um<br />
esforço colossal dos bancos<br />
centrais em tapar os buracos<br />
provocados pela crise. O país<br />
mais afetado, os<br />
Estados Unidos,<br />
é também o<br />
que mais tem<br />
colocado bilhões<br />
no mercado<br />
para salvar<br />
bancos e instituições<br />
financeiras<br />
da crise.<br />
A crise evoluiu<br />
para um patamar<br />
onde somente<br />
emprestar<br />
dinheiro,<br />
mesmo com todas as facilidades<br />
oferecidas, não está mais contendo<br />
o avanço da crise. A medida<br />
adotada pelos Estados Unidos<br />
é de estatizar as instituições<br />
mais importantes e problemáticas.<br />
Estas ajudas do Tesouro norte-americano<br />
aos especuladores<br />
e banqueiros já provocaram uma<br />
transferência de mais de um trilhão<br />
de dólares. Este valor corresponde<br />
a quase 10% do PIB<br />
(Produto Interno Bruto) dos<br />
Estados Unidos. Significa que<br />
foram retirados dos cofres do<br />
governo um décimo de toda a riqueza<br />
produzida pelos norteamericanos<br />
para satisfazer os<br />
capitalistas internacionais.<br />
As instituições que mais deram<br />
dinheiro foram o Tesouro<br />
Nacional e Federal Reserve que<br />
é o que mais liberou verbas.<br />
Somente nas recentes transações<br />
das financiadoras de imóveis<br />
Fannie Mae e Freddie Mac,<br />
na compra do Bear Stearns pela<br />
J.P. Morgan e aquisição do AIG<br />
esta semana, o Federal Reserve<br />
desembolsou US$ 314 bilhões<br />
de dólares. Foram US$ 29 bilhões<br />
para a compra do Bear Stearns<br />
e US$ 85 bilhões da AIG.<br />
Para os especialistas econômicos<br />
a farra com o dinheiro<br />
público dos Estados Unidos<br />
deve continuar: “É difícil para<br />
governos pararem uma vez que<br />
começam [as operações resgate],<br />
principalmente se eles decidem<br />
que um orçamento equilibrado<br />
não é meta para os próximos<br />
anos” ( Folha de São Paulo,<br />
18/9/2008).<br />
Obviamente que a saída de<br />
dinheiro dos cofres públicos<br />
para conter a sangria do mercado<br />
deve continuar. Um sintoma<br />
disso é que as montadoras<br />
de automóveis já pediram<br />
ajuda de US$ 25 bilhões ao Fed.<br />
O que fica evidente com todas<br />
essas movimentações é o agravamento<br />
da crise que está mobilizando<br />
os bancos centrais<br />
dos maiores países do mundo.<br />
A contenção da crise por meio<br />
dessas estatizações do governo<br />
norte-americano é apenas um<br />
paliativo para uma situação econômica<br />
que está fugindo do<br />
controle e que vai adquirir contornos<br />
muito maiores nos próximos<br />
meses.<br />
EVITANDO MAIS UMA FALÊNCIA<br />
Estados Unidos paga US$ 85 bilhões<br />
para salvar seguradora AIG<br />
A crise financeira mundial,<br />
em especial nos Estados Unidos,<br />
está realmente profunda. Menos<br />
de dois dias após o pedido de<br />
concordata do quarto maior<br />
banco de investimentos dos<br />
Estados Unidos, o Lehman Brothers,<br />
outro gigante da economia<br />
norte-americana entrou em processo<br />
semelhante: a<br />
seguradora AIG<br />
(American International<br />
Group). Esta seguradora<br />
estava praticamente<br />
falida, precisava<br />
de, no mínimo,<br />
US$ 70 bilhões para<br />
continuar em pé. Somente<br />
nos três primeiros<br />
trimestres deste<br />
ano esta teve perdas de<br />
US$ 18,5 bilhões.<br />
Diante da recente<br />
falência do banco de<br />
investimentos Lehman<br />
Brothers que arrasou os<br />
mercados financeiros de todo o<br />
mundo e do fato de que a AIG<br />
é simplesmente a maior seguradora<br />
dos Estados Unidos, o governo<br />
norte-americano, por meio do<br />
Fed, (Federal Reserve), banco<br />
central dos Estados Unidos, adquiriu<br />
a seguradora por US$ 85 bilhões.<br />
A transação inclui este valor em<br />
ações que correspondem a 79,9%<br />
da seguradora, dando plenos<br />
poderes ao Fed de tomar decisões.<br />
Os outros 20,1% ficam a<br />
cargo de acionistas particulares<br />
que não terão praticamente nenhum<br />
poder de decisão.<br />
A compra ou mesmo estatização<br />
da seguradora AIG pelo Fed<br />
foi uma atitude bastante inesperada<br />
pelos analistas econômicos. O<br />
próprio Lehman Brothers foi<br />
abandonado pelo governo norteamericano<br />
e sucumbiu. O governo<br />
evitou a queda da AIG dias<br />
depois que o secretário do Tesouro,<br />
Henry Paulson, anunciou que<br />
os Estados Unidos não gastariam<br />
mais nenhum centavo com a crise,<br />
a exemplo do tinham feito com<br />
as financiadoras Freddie Mac e<br />
Fannie Mae uma semana antes.<br />
A medida “salva-vidas” do Fed<br />
com a AIG foi nitidamente para<br />
evitar uma derrocada internacional<br />
da crise financeira.<br />
O papel da seguradora AIG na<br />
atual crise é estratégico, pois<br />
vende seguros para grandes<br />
empresas que realizam megatransações<br />
financeiras. Com a crise do<br />
“subprime” (investimentos de alto<br />
Quem pagará para não ver a pior<br />
crise da história do capitalismo?<br />
A Agência das Nações Unidas<br />
para a Alimentação e Agricultura<br />
(FAO) divulgou um<br />
relatório afirmando que o número<br />
de pessoas que passam<br />
fome no mundo aumentou<br />
para 925 milhões em 2007.<br />
Devido ao aumento dos preços<br />
dos alimentos, que teve<br />
altas de até 50%, os países<br />
mais atrasados, principalmente<br />
na África, no Sudeste Asiático<br />
e na América Latina, ou<br />
seja, tradicionalmente em quase<br />
todos os países abaixo da<br />
linha do Equador, foram os<br />
mais atingidos pela crise, gerando<br />
revoltas e greves pelo<br />
mundo todo.<br />
A Organização das Nações<br />
Unidas sugeriu, como solução<br />
para acabar com a fome, a injeção<br />
de 30 bilhões de dólares<br />
por ano aos países necessitados.<br />
O que são 30 bilhões de dólares<br />
para os grandes capitalistas?<br />
A resposta é nada. Só na<br />
última quarta-feira (17), o Federal<br />
Reserve, o banco central<br />
A medida “salva-vidas” do Fed com a AIG<br />
foi nitidamente para evitar uma derrocada<br />
internacional da crise financeira<br />
norte-americano, autorizou<br />
um empréstimo de US$ 85<br />
bilhões para salvar uma única<br />
seguradora preste a falir, a AIG<br />
(American International<br />
Group). Enquanto os capitalistas<br />
estão preocupados em salvar<br />
seus investimentos bilionários,<br />
ao menos um sexto do<br />
mundo passa fome, segundo a<br />
ONU, que é uma instituição<br />
controlada por estes mesmos<br />
capitalistas. Na realidade, o<br />
número é expressivamente<br />
maior.<br />
O problema da fome não é<br />
a alta dos alimentos, mas a acumulação<br />
do capital. Os capitalistas<br />
estão revelando toda a<br />
sua riqueza para salvar seus<br />
bancos.<br />
A crise hipotecária norteamericana<br />
que estourou no ano<br />
passado causou um prejuízo<br />
nas bolsas da América Latina<br />
e dos EUA de nada menos que<br />
US$ 3,56 trilhões, segundo um<br />
levantamento feito pela Economática,<br />
que usou os dados de<br />
1.991 empresas com capital<br />
aberto. O valor<br />
de mercado<br />
destas empresas<br />
despencou<br />
19%, de US$<br />
18,32 trilhões<br />
para US$ 14,76<br />
trilhões.<br />
O governo<br />
Bush colocou<br />
meio trilhão de<br />
dólares só para<br />
“tranqüilizar” a<br />
crise financeira<br />
mundial, o que<br />
não adiantou<br />
nada.<br />
Se antes ninguém<br />
gostava<br />
de falar em recessão<br />
norteamericana<br />
- o<br />
que ninguém<br />
mais tem a cara<br />
de pau de desmentir<br />
- ainda<br />
há aqueles que<br />
torcem o nariz<br />
para uma recessão<br />
mundial. Já<br />
risco do setor imobiliário), a AIG<br />
que tem assegurado as transações<br />
de milhões de clientes particulares,<br />
bancos e outras instituições<br />
financeiras estava evitando as<br />
perdas destas instituições. Caso<br />
ela viesse à falência total, o número<br />
de empresas que iriam sucumbir<br />
juntamente com a seguradora<br />
seria incomensurável, ou seja, a<br />
queda da AIG seria o estopim para<br />
uma quebradeira geral em grande<br />
escala, não somente nos Estados<br />
Unidos, mas também no mundo<br />
todo. A AIG possui diversas<br />
filiais em outros países. Os números<br />
da seguradora são impressionantes.<br />
São 74 milhões de clientes<br />
em 130 países, a maioria norte-americanos.<br />
Possuía até o ano<br />
passado, 116.000 funcionários.<br />
Estima-se que a exposição da AIG,<br />
aos créditos imobiliários de risco<br />
cheguem a US$ 441 bilhões.<br />
Segundo o Washington Post,<br />
a medida do Fed foi o limiar entre<br />
a catástrofe local nos Estados Unidos<br />
e a catástrofe internacional.<br />
O jornal disse que “o governo<br />
[norte-americano] assumiu o<br />
controle do gigante dos seguros<br />
para evitar a quebra do sistema financeiro<br />
mundial”. Não é por<br />
acaso que estão comparando a<br />
atual crise com a o crack da bolsa<br />
de Nova Iorque em 1929.<br />
estamos nela. Mais ainda. Estamos<br />
iniciando provavelmente<br />
a pior crise que o capitalismo<br />
já viu em toda sua história.<br />
O que são 30 bilhões de dólares para os<br />
grandes capitalistas? A resposta é nada<br />
NOTAS<br />
Bush anuncia<br />
“medidas sem<br />
precedentes para<br />
conter crise sem<br />
precedentes”<br />
O presidente dos Estados<br />
Unidos, George W. Bush, falou<br />
em rede nacional, no último<br />
dia 19, visando acalmar os<br />
investidores e conter as desastrosas<br />
quedas da bolsa de<br />
valores dos últimos dias. Em<br />
seu pronunciamento, Bush defendeu<br />
a intervenção estatal<br />
nas bolsas, que, segundo os<br />
analistas do governo, “não só<br />
é justificada, é essencial” para<br />
se evitar maiores perdas para<br />
a economia norte-americana.<br />
“Devemos agir agora para<br />
proteger a saúde econômica de<br />
nossa nação”, enfatizou, afirmando<br />
ainda a necessidade da<br />
união do partido Democrata e<br />
Republicano para que a crise<br />
seja resolvida o quanto antes.<br />
“Agora não é o momento para<br />
posições partidárias”, observou<br />
ele.<br />
W. Bush fez seu pronunciamento<br />
menos de uma hora<br />
após Henry Paulson, o secretário<br />
do tesouro, dar explicações<br />
gerais sobre o pacote de<br />
medidas que será implementado<br />
pelo governo, que inclui a<br />
medida de intervenção governamental<br />
no andamento dos<br />
mercados imobiliários.<br />
Um dos destaques de seu<br />
discurso foi o apelo ao Congresso<br />
para aprovar “o quanto<br />
antes” o pacote que está sendo<br />
elaborado, e deverá ser<br />
apresentado oficialmente no<br />
início da próxima semana, e<br />
acrescentou ainda que os congressistas<br />
não atrasassem as<br />
medidas e não incluíssem<br />
“cláusulas polêmicas” ao pacote.<br />
A intenção deste pronunciamento<br />
visava dar segurança e<br />
acalmar os ânimos dos investidores<br />
que estavam à beira da<br />
histeria com o anúncio da estatização<br />
da gigante das seguradoras<br />
internacionais AIG e a<br />
quebra colosso norte-americano,<br />
o banco centenário Lehman<br />
Brothers, quando a bolsa de valores<br />
teve quedas recordes,<br />
chegando a atingir 30 pontos<br />
negativos em Moscou.<br />
Bush ressaltou ainda que a<br />
atual crise econômica não tem<br />
precedentes na história da<br />
economia norte-americana,<br />
superando já a histórica quebra<br />
da bolsa de Nova Iorque<br />
em 1929.<br />
“A confiança no sistema financeiro<br />
é essencial para que<br />
a economia funcione sem problemas<br />
e recentemente essa<br />
confiança foi abalada”, concluiu.<br />
Banco HBOS, um<br />
dos maiores do<br />
Reino Unido, perde<br />
40% de suas ações<br />
O maior banco hipotecário<br />
do Reino Unido, o Halifax<br />
Bank of Scotland (HBOS), viu<br />
suas ações caírem só nesta<br />
quarta-feira (17) 40% na Bolsa<br />
de Londres, diante da crise<br />
econômica colossal que devasta<br />
os bancos norte-americanos<br />
e europeus.<br />
“Os títulos do HBOS caíam,<br />
por volta das 8h12 (local)<br />
desta quarta, 37,91%, para<br />
1,13 libra esterlina, apesar de<br />
registrar uma alta de 7% no<br />
começo da sessão” (EFE, 17/<br />
9/2008).<br />
O banco pretende se salvar<br />
com o refinanciamento de 100<br />
bilhões de libras (cerca de<br />
125 bilhões de euros) nos próximos<br />
meses, mas teme que<br />
seja impossível conseguir este<br />
fundo devido à crise do mercado.<br />
Outros bancos em Londres<br />
também estão com suas ações<br />
desabando na Bolsa após a falência<br />
do Lehman Brothers no<br />
início da semana.<br />
Ford anuncia corte de<br />
4.200 funcionários<br />
nos EUA<br />
A crise é geral e já vinha<br />
atingindo a indústria norteanericana.<br />
A Ford anunciou já<br />
no dia 11 que planeja demitir<br />
cerca de 4.200 funcionários.<br />
A crise financeira, ao invés<br />
de amenizar, mas se aprofundando,<br />
vai despertar os operários<br />
para intervirem na situação<br />
atual.<br />
Ainda para tentar economizar<br />
à custa das demissões dos<br />
trabalhadores, a empresa fará<br />
dispensas temporárias e está<br />
oferecendo pacotes prévios de<br />
aposentadoria nas operações<br />
de manufatura em Ohio, Michigan,<br />
Kentucky e Indiana.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 9<br />
PRIVATIZAÇÃO PELOS FLANCOS<br />
A farsa da incapacidade de produção<br />
para entregar o Petróleo nacional<br />
A Petrobrás, que já possui 70% do seu capital privado,<br />
alugará 10 plataformas de empresas privadas para<br />
explorar o petróleo na camada pré-sal<br />
A Petrobrás anunciou na semana<br />
passada um convênio privado<br />
na instalação de duas das primeiras<br />
10 plataformas de exploração<br />
do petróleo da camada pré-sal, ou<br />
seja, a grandes profundidades.<br />
Elas serão instaladas nos próximos<br />
anos no território das novas bacias<br />
que foram descobertas. As<br />
FPSO são plataformas para o mar,<br />
que extraem, estocam e escoam<br />
petróleo para as refinarias.<br />
Um outro acordo já havia sido<br />
fechado no dia 26 de agosto com<br />
a empresa japonesa Mitsui Ocean<br />
Development e Engineering Co.<br />
(Modec), prevendo a manutenção<br />
por 15 anos de duas outras plataformas.<br />
No mesmo dia, a Petrobrás deu<br />
uma declaração sobre os altos<br />
custos para extrair petróleo da<br />
camada pré-sal. O presidente da<br />
Petrobrás, José Sérgio Gabrielli,<br />
em discurso na segunda-feira<br />
(15), em seminário no Rio de Janeiro,<br />
em nome da empresa disse<br />
que ainda não se pode calcular os<br />
gastos na área pré-sal, apenas dizendo<br />
que cada módulo produtivo<br />
para extrair 150 mil barris diários,<br />
custa de US$ 5 bilhões a US$<br />
8 bilhões.<br />
Segundo estes números, se<br />
vendidos a US$ 100 cada barril,<br />
estimando-se outros gastos de<br />
transporte e refino, em um ano<br />
obteria-se um lucro de US$ 5,4<br />
bilhões, ou seja, fica mais que<br />
claro que a empresa teria toda a<br />
capacidade para não privatizar<br />
seus equipamentos e em um espaço<br />
curto de tempo produzir, isto<br />
sem contar qualquer investimento<br />
estatal.<br />
A empresa, apenas no primeiro<br />
semestre deste ano, já obteve lucros<br />
de R$ 15,7 bilhões.<br />
No entanto, o governo alardeia<br />
a incapacidade de cobrir os gastos,<br />
uma completa farsa já que o<br />
acordo que está sendo fechado é<br />
que só depois de 2020 a Petrobrás<br />
retrocederia no aluguel de plataformas<br />
das empresas privadas.<br />
Também há um plano para que<br />
plataformas nacionais só sejam<br />
instaladas apenas em 2015 e a Petrobrás<br />
abrirá ainda licitação para<br />
contratar as empresas que farão<br />
os cascos. A empresa vem até<br />
agora se baseando em uma estimativa<br />
de gastos na base de US$<br />
112,4 bilhões para o período entre<br />
2008 e 2012, ainda não incluindo<br />
os gastos na exploração do<br />
pré-sal, que continuam secretos.<br />
Isso ocorre em um momento<br />
em que o petróleo brasileiro - cujas<br />
reservas da Petrobrás são hoje<br />
de 11,7 bilhões de barris no présal<br />
já descoberto - tem estimativas<br />
de somar a estes mais outros<br />
12 bilhões de barris, nas bacias de<br />
Tupi e Iara. Estudiosos calculam<br />
que de 100 a 350 bilhões de barris<br />
possam estar concentrados nas<br />
bacias que não foram todas analisadas.<br />
A reserva de Iara, que possui,<br />
segundo a Petrobrás de 3 a 4 bilhões<br />
de barris já foi privatizada em<br />
2000 por empresas portuguesas<br />
e britânicas, permanecerão sob o<br />
poder destas mesmo depois de<br />
uma revisão da capacidade da<br />
área.<br />
A privatização, seja do equipamento,<br />
seja da produção, é a privatização<br />
pura e simples do petróleo<br />
nacional. Enquanto isso, Lula<br />
calou-se sobre as novas leis de<br />
extração do Petróleo e sobre a<br />
criação de uma nova empresa<br />
100% estatal, depois de admitir<br />
pessoalmente que 62% das ações<br />
da Petrobrás estão nas bolsas de<br />
Nova Iorque.<br />
Este havia feito a declaração,<br />
cinicamente, de que não poderia<br />
privatizar a produção do pré-sal,<br />
admitindo ineditamente que a Petrobrás<br />
está em sua maior parte<br />
privatizada. “Se vocês não sabem<br />
62% dos dividendos de todo o<br />
investimento, de toda a renda da<br />
Petrobrás, são pagos na bolsa de<br />
Nova Iorque. Nós não poderemos<br />
com o pré-sal, ficar na<br />
mesma proporção, de ficar rico<br />
quem está rico, e de ficar pobre<br />
quem está pobre” (O Estado de<br />
S. Paulo, 4 de setembro de 2008).<br />
Fica claro o jogo cínico do<br />
governo que está fazendo o oposto<br />
do que este mesmo havia anunciado,<br />
no início de setembro. Em<br />
uma declaração ao jornal Gazeta<br />
Mercantil este havia dito que “Não<br />
adianta a Petrobrás economizar<br />
US$ 100 milhões contratando<br />
estaleiros de Cingapura, porque<br />
esta é uma decisão empresarial de<br />
quem tem ações na Bolsa de Nova<br />
Iorque”.<br />
Lula discursou para fazer o<br />
exato oposto do que diz, contra o<br />
País e a população que está em<br />
maioria na miséria.<br />
Privatização pelos<br />
flancos<br />
Há uma clara privatização pelos<br />
flancos das novas bacias, a começar<br />
por acordos nos leilões de<br />
empresas estrangeiras que se encontram<br />
na área e também pela<br />
privatização dos equipamentos, a<br />
pretexto de incapacidade para<br />
produzir petróleo.<br />
A operação para privatizar as<br />
bacias pré-sal é apenas a seqüência<br />
da política dos governos Lula<br />
e FHC que realizaram a maior<br />
privatização da história, na orgia<br />
das rodadas de leilão das bacias<br />
petrolíferas.<br />
A Petrobrás, que possui a maior<br />
parte de seu capital privatizado,<br />
sendo uma parte de ações do<br />
BNDES e outra de empresas privadas<br />
internacionais e nacionais<br />
estão sob poder dos especuladores<br />
estrangeiros.<br />
Somente a estatização total da<br />
Petrobrás, que só pode ser obra<br />
dos próprios trabalhadores e da<br />
pressão contra os governos entreguistas<br />
pode fazer com que a<br />
imensa riqueza seja repassada<br />
para a população e suas necessidades<br />
básicas e não para engordar<br />
os banqueiros internacionais<br />
que mandam na Petrobrás e também<br />
as empresas 100% estrangeiras,<br />
que configuraria um roubo<br />
que superaria todas as atividades<br />
de rapina que o País sofreu desde<br />
a colonização européia.<br />
A MENTIRA DA NOVA ESTATAL<br />
Lula defende novamente<br />
a manutenção da<br />
entrega do petróleo<br />
Nas últimas declarações do<br />
governo fica claro que este<br />
enterrou de vez a proposta de<br />
criação de uma nova estatal<br />
do petróleo completamente<br />
nacional, para monopolizar a<br />
exploração do petróleo das bacias<br />
pré-sal.<br />
Na terça-feira Lula já havia<br />
declarado que não irá adotar,<br />
como havia dito antes, o modelo<br />
norueguês para a nova<br />
estatal na área pré-sal, no qual<br />
é cobrado um imposto de<br />
cerca de 78% das empresas<br />
que exploram petróleo.<br />
“Estrangeiras pagam 78%<br />
de impostos e não reclamam.<br />
No Brasil, é preciso ter noção<br />
clara para não mudar as regras<br />
do jogo”, afirmou o presidente<br />
em rápida entrevista<br />
no Itamaraty (Revista Exame,<br />
16/9/2008).<br />
Claramente sob pressão<br />
das empresas internacionais,<br />
Lula já negociou a manutenção<br />
de todas as taxas de exploração.<br />
Este ainda reforçou<br />
que a nova estatal não irá de<br />
forma alguma substituir a Petrobrás<br />
como exploradora de<br />
Petróleo. Ao contrário, será<br />
uma subsidiária desta, que<br />
hoje tem 70% de seu capital<br />
privado.<br />
“Quando falamos em empresa<br />
estatal, nós não queremos<br />
criar uma outra Petrobras.<br />
Na verdade, é outra<br />
coisa, parecida com o que<br />
acontece na Noruega. É um<br />
fundo, uma pequena empresa,<br />
que na Noruega deve ter 60<br />
funcionários, que é o Estado<br />
cuidando do petróleo”, disse,<br />
em entrevista na quarta-feira<br />
pela TV Brasil.<br />
“Uma das hipóteses é utilizar<br />
parte do petróleo para aumentar<br />
o capital da União na<br />
Petrobras” (Folha de S. Paulo,<br />
18/9/2008).<br />
Fica mais claro que Lula<br />
apenas levantou a criação de<br />
um nova estatal para impulsionar<br />
o mercado especulativo<br />
em torno do petróleo e em<br />
nenhum momento, mesmo<br />
sob pressão de um setor nacional<br />
em torno do problema,<br />
estatizar o petróleo. Ao contrário,<br />
já foi anunciada esta semana<br />
pela presidência da Petrobrás<br />
indicada pelo governo<br />
a privatização dos equipamentos<br />
de exploração do Petróleo.<br />
Neste sentido a nova estatal<br />
não seria mais que uma<br />
agenciadora do pré-sal, uma<br />
empresa de fachada para o<br />
controle estrangeiro e privado<br />
nacional de uma imensa riqueza<br />
nacional. Toda a bacia descoberta<br />
pode, segundo especialistas,<br />
multiplicar por sete<br />
a produção de petróleo nacional<br />
e ainda em melhores condições<br />
já que o petróleo da área<br />
pré-sal tem extração mais<br />
barata.<br />
Toda esta riqueza deve ser<br />
imediatamente repassada para<br />
o povo brasileiro, por meio da<br />
estatização completa do petróleo<br />
nacional e da Petrobrás.<br />
NÃO À PRIVATIZAÇÃO<br />
Pela estatização da Petrobrás<br />
e cancelamento dos leilões<br />
A Petrobrás, que controla<br />
hoje uma imensa parcela da<br />
produção de Petróleo nacional,<br />
foi aberta ao capital estrangeiro<br />
nas duas últimas décadas por<br />
meio de uma privatização lenta<br />
e por meio da terceirização<br />
e da abertura de suas ações nas<br />
bolsas.<br />
Esta empresa sequer pode<br />
ser hoje considerada estatal já<br />
que a menor parte de suas<br />
ações são brasileiras e muito<br />
menos estatais.<br />
A Petrobrás hoje possui<br />
67,8% de seu capital privado,<br />
sendo que 40% de seu capital<br />
é estrangeiro e outros 27,8%<br />
pertencem ao BNDES, ou<br />
seja, estão ao sabor dos empresários<br />
nacionais.<br />
Segundo um documento do<br />
Centro Cultural Antônio Carlos<br />
de Carvalho, datado de<br />
agosto de 2006. “O Estado<br />
brasileiro possui apenas<br />
32,2% de seu capital total e<br />
55,7% de seu capital votante.<br />
Ou seja, manteve o controle da<br />
empresa, um controle aparente,<br />
mas não a maioria de seu<br />
capital. Com o agravante de<br />
que este “controle” (...) vem<br />
servindo apenas para aplicar e<br />
legitimar as necessidades e decisões<br />
do imperialismo e das<br />
classes dominantes brasileiras<br />
a ele associadas”.<br />
Em 1995 a Petrobrás contava<br />
com mais de 46 mil efetivos<br />
e 29 mil terceirizados, o que se<br />
inverteu em 1998 para mais de<br />
38 mil efetivos e 57 mil terceirizados<br />
em 1998<br />
Um estudo do CeCAC mostra<br />
que hoje “76,5% (mais de<br />
3/4) dos trabalhadores da Petrobras<br />
são terceirizados<br />
(155,3 mil terceirizados contra<br />
47,7 mil concursados, segundo<br />
o Balanço Social da empresa<br />
em 2005).<br />
O fato de a maior petrolífera<br />
brasileira estar nas mãos de<br />
acionistas estrangeiros é o<br />
meio pelo qual se privatiza de<br />
antemão as reservas das bacias<br />
que foram descobertas no<br />
Brasil.<br />
As bravatas do governo<br />
Lula sobre a criação de uma<br />
empresa 100% estatal, são<br />
apenas para esconder da população<br />
um processo lento de<br />
aprofundamento da privatização,<br />
que representa em longo<br />
prazo um roubo sem precedentes<br />
da riqueza nacional.<br />
Somente a estatização completa<br />
da empresa pode livrar o<br />
País da especulação capitalista<br />
internacional mais venal que<br />
é a do petróleo.<br />
Somente uma campanha em<br />
cada local de trabalho, especialmente<br />
dos setores da Petrobrás,<br />
e também uma campanha<br />
de esclarecimento á toda a população<br />
sobre o roubo do petróleo<br />
nacional, poderá fazer com<br />
que os vampiros da população<br />
brasileira sejam desfavorecidos<br />
nos enfrentamentos que se darão<br />
daqui em diante. É necessário<br />
preparar a classe trabalhadora,<br />
que é o setor que irá fundamentalmente<br />
ter capacidades<br />
para reverter o avanço imperialista<br />
sobre o petróleo. É necessária<br />
igualmente uma campanha<br />
desde já pelo cancelamento<br />
da doação das bacias<br />
petrolíferas descobertas e também<br />
para reverter todo o criminoso<br />
processo de privatização<br />
da economia nacional.<br />
Um episódio que foi apurado<br />
no qual um avião da Gol<br />
quase colidiu com um jato da<br />
FAB (Força Aérea Brasileira)<br />
em junho deste ano, na Amazônia,<br />
está sendo atribuído aos<br />
controladores de vôo, e não ao<br />
sucateamento do setor provocado<br />
pelos militares.<br />
O chefe do Centro de Investigação<br />
e Prevenção de Acidentes<br />
Aeronáuticos (Cenipa),<br />
brigadeiro Jorge Kersul Filho,<br />
divulgou na segunda-feira (15),<br />
uma acusação do órgão controlado<br />
pelos militares de que um<br />
incidente que quase provocou<br />
a colisão entre um avião da Gol<br />
com um da Força Aérea Brasileira<br />
em junho deste ano, foi<br />
provocado por falha humana.<br />
Esta falha seria dos controladores<br />
de vôo. As acusações ocorrem<br />
em um momento em que<br />
há uma ação penal movida há<br />
dois meses pela federação de<br />
controladores de vôo contra o<br />
comando da Aeronáutica no<br />
Supremo Tribunal Federal<br />
(STF). A declaração seria com<br />
o objetivo de juntar dados sobre<br />
erros humanos em vôos.<br />
ACIDENTE DA GOL<br />
Novamente a farsa de erro humano<br />
para defender as empresas aéreas<br />
No entanto, o próprio Cenipa<br />
vem registrando um aumento<br />
muito grande de acidentes e incidentes<br />
aéreos em todo o Brasil.<br />
No mesmo dia em que divulgou<br />
a “falha humana” dos controladores,<br />
esta também divulgou<br />
que no ano passado 97 aeronaves<br />
se envolveram em acidentes<br />
- 31 a mais que em 2006.<br />
De 1998 a 2007 foram registrados<br />
654 acidentes aéreos que<br />
<strong>causa</strong>ram a morte de 991 pessoas.<br />
Em 2006 e 2007, os anos com<br />
mais mortes por acidentes aéreos<br />
morreram 215 e 270 pessoas<br />
respectivamente.<br />
A Cenipa registrou nada menos<br />
que 66 acidentes aéreos de<br />
janeiro a agosto deste ano.<br />
Dados do próprio Cenipa<br />
mostram também que a perseguição<br />
incessante que foi feita aos<br />
trabalhadores de empresas aéreas,<br />
controladores de vôo e tripulantes,<br />
especialmente os que se<br />
insurgiram realizando uma greve<br />
geral no ano passado que paralisou<br />
todos os aeroportos do<br />
País, dos quais muitos foram<br />
expulsos do exército ou presos,<br />
fez com que estes parassem de<br />
denunciar a situação precária e<br />
falhas técnicas ou mesmo humanas<br />
dos vôos, com medo de<br />
represálias.<br />
O número de relatórios confidenciais<br />
para a segurança de<br />
vôo (RCSV) encaminhados por<br />
tripulantes à Aeronáutica e encaminhados<br />
ao Cenipa caiu de 90<br />
em 2007 para apenas 9 este ano.<br />
A situação limite em que os<br />
capitalistas aéreos e os militares<br />
colocaram os controladores de<br />
vôo e trabalhadores do setor fez<br />
com que se mantivesse um silêncio,<br />
mas uma latente situação<br />
de crise, que ameaça a população<br />
que utiliza os meios aéreos.<br />
Para esconder sua responsabilidade<br />
no caso aéreo, os governos<br />
culpam funcionários e<br />
trabalhadores que são constantemente<br />
ameaçados.<br />
Esta situação vem se tornando<br />
cada vez mais explosiva já<br />
que em nada se alterou a situação<br />
desde a greve dos controladores<br />
e os maiores acidentes<br />
aéreos da história do país entre<br />
o jato Legacy e o Boeing da Gol,<br />
em 2006, e a tragédia com o<br />
Airbus da TAM em 2007.<br />
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21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 10<br />
GOVERNO LULA E CASSOL MAIS ATAQUES DOS LATIFUNDIÁRIOS<br />
Camponeses são torturados e presos<br />
em União Bandeirantes, Rondônia<br />
No dia 9 de setembro 30 famílias localizadas no<br />
acampamento de Nova Conquista foram atacados<br />
violentamente por pistoleiros e 30 policiais Camponeses<br />
foram torturados diante de suas famílias por horas e foram<br />
presos<br />
No dia 9 de setembro, mais<br />
um ataque foi desferido pelos<br />
latifundiários e pelo governo<br />
do estado de Rondônia, Ivo<br />
Cassol contra os sem-terra.<br />
Cerca de 30 famílias de<br />
sem-terra do acampamento<br />
União Bandeirantes foram atacados<br />
por 30 policiais e jagunços<br />
que chegaram no acampamento<br />
atirando contra os semterra,<br />
depois que no dia 8 de<br />
setembro, segunda-feira, as<br />
famílias haviam retomado a<br />
área. Aos gritos de “vamos<br />
matar todos”, “bandidos” e<br />
“vagabundos”, a polícia obrigou<br />
os trabalhadores a sentar<br />
no chão, espancou-os e tirou<br />
fotos do rosto de cada um<br />
apontando armas para suas<br />
cabeças.<br />
Os policiais roubaram ferramentas,<br />
alimentos e outros<br />
pertences dos camponeses,<br />
como remédio e roupas.<br />
Quando não roubavam, jogavam<br />
os utensílios no chão e<br />
quebravam estes.<br />
Os policiais ameaçavam a<br />
RONDÔNIA<br />
Pela imediata libertação dos presos<br />
políticos da luta pela terra!<br />
todo o tempo de morte e um<br />
dos comandantes da operação,<br />
cabo Isaac, dizia que estava<br />
disposto a defender as terras<br />
para os fazendeiros mesmo<br />
ESTE É O GOVERNO LULA E DOS<br />
LATIFUNDIÁRIOS<br />
Camponês idoso é torturado,<br />
preso e mantido acorrentado<br />
pela polícia em hospital<br />
No dia 9 de setembro, a Polícia<br />
Militar despejou e torturou<br />
camponeses do Acampa-<br />
A polícia de Rondônia, a<br />
mando do governo do estado<br />
de Ivo Cassol atacou e prendeu<br />
sete trabalhadores semterra<br />
do acampamento Nova<br />
Conquista depois de uma série<br />
de torturas.<br />
Sete trabalhadores entre homens<br />
e mulheres foram levados<br />
para o cadeião de Urso<br />
Branco, simplesmente por defenderem<br />
uma terra para plantar<br />
e sustentar suas famílias.<br />
As terras da União foram<br />
griladas e são de interesse do<br />
maior latifundiário da região e<br />
um dos maiores de Rondônia,<br />
Sebastião Conti Neto, por<br />
meio de atividade de grilagem<br />
de Luiz Dipar.<br />
O governo de Ivo Cassol<br />
prendeu nos últimos anos dezenas<br />
de sem-terra e suas lideranças<br />
em Rondônia. Há casos<br />
de trabalhadores que foram<br />
presos sem quaisquer acusações,<br />
como Wenderson Francisco<br />
dos Santos, o “Russo”,<br />
que permaneceu por quatro<br />
anos preso, os últimos anos no<br />
presídio de Urso Branco em<br />
Porto Velho, onde sofreu todos<br />
os tipos de tortura, sem<br />
sequer ser julgado, tendo sido<br />
libertado há dois anos.<br />
Há uma ofensiva impulsionada<br />
pelos latifundiários nacionalmente<br />
para dissolver o<br />
movimento dos sem-terra, inclusive<br />
aqueles dirigidos por<br />
direções lulistas, que procuram<br />
ao máximo frear a luta dos trabalhadores.<br />
É o caso do MST<br />
no Rio Grande do Sul que vem<br />
Imagens do acampamento Nova Conquista, em União<br />
Bandeirantes, registradas em abril deste ano pela equipe do<br />
Causa Operária. Na imagem os sem-terra se encapuzam na<br />
chegada da polícia.<br />
mento Nova<br />
Conquista, em<br />
União Bandeirantes,<br />
Rondônia.<br />
Dez camponeses<br />
foram<br />
presos e torturados<br />
na sede da<br />
fazenda Mutum,<br />
um deles é<br />
Gerolino Nogueira<br />
de Souza,<br />
de 56 anos<br />
Depois de, no<br />
dia 9 de setembro,<br />
a Polícia<br />
Militar ter torturado<br />
e prendido camponeses<br />
em União Bandeirante, Rondônia,<br />
os trabalhadores continuam<br />
sendo torturados pela PM.<br />
Dez camponeses estão encarcerados<br />
no presídio de Urso<br />
Branco, o pior do estado.<br />
Gerolino Nogueira de Souza,<br />
de 56 anos de idade, depois<br />
de ter sido torturado por<br />
horas está sendo mantido<br />
preso a correntes no Hospital<br />
João Paulo II, em Porto<br />
Velho. Este ficou sete dias<br />
preso a uma cadeira sem receber<br />
tratamento médico suficiente,<br />
observado pela polícia<br />
e impedido de receber<br />
visitas. Depois disso, foi<br />
colocado em uma cama,<br />
acorrentado a esta e com<br />
chances de falecer, pois está<br />
com pneumonia, hepatite,<br />
erisipela e anemia profunda.<br />
Desde 2003 este já participava<br />
de ocupação de terra na<br />
região e já foi preso no cadeião<br />
de Urso Branco e sofreu vários<br />
atentados de jagunços<br />
pagos pelos latifundiários.<br />
O acampamento Nova Conquista,<br />
que recentemente se<br />
aliou à Liga dos Camponeses<br />
Pobres, tem sofrido ataques e<br />
Gerolino Nogueira de Souza, de 56 anos de<br />
idade, depois de ter sido torturado por horas<br />
está sendo mantido preso a correntes no<br />
Hospital João Paulo II, em Porto Velho.<br />
o companheiro identificado<br />
como uma das lideranças é um<br />
dos mais atacados.<br />
Durante a ação policial este<br />
foi espancado e humilhado,<br />
assim como os outros semterra,<br />
mulheres, crianças e<br />
homens. Foi chamado de “velho<br />
safado” e “vagabundo”<br />
pelos policiais.<br />
Este é o retrato do governo<br />
Lula, que assassina, tortura e<br />
ataca os sem-terra impunemente,<br />
impondo a sua própria<br />
lei no campo.<br />
O acampamento em União<br />
Bandeirantes foi atacado apenas<br />
dez dias antes de vencer<br />
na justiça uma ação de reintegração<br />
de posse, pela qual os<br />
latifundiários locais deveriam<br />
ser expulsos das terras, uma<br />
vez que nela é comprovada a<br />
grilagem das terras.<br />
Contra a “terra sem lei” dos<br />
latifundiários é necessário se<br />
fazer uma ampla campanha de<br />
denúncias contra os latifundiários<br />
de Rondônia e pela imediata<br />
punição aos assassinos<br />
dos sem-terra.<br />
sofrendo da justiça ameaças de<br />
dissolução do movimento e de<br />
sem-terra no Pará, que receberam<br />
imensas multas por promoverem<br />
ocupações da ferrovia<br />
da companhia Vale do Rio<br />
Doce.<br />
Há uma clara tentativa de<br />
dissolver o movimento semterra<br />
nacionalmente.<br />
Em Rondônia, onde os<br />
sem-terra romperam ligações<br />
com o MST e organizam de<br />
forma independente sua luta<br />
por meio de outras organizações,<br />
como a Liga dos Camponeses<br />
Pobres, estes são<br />
perseguidos dia-a-dia por jagunços<br />
armados e pela polícia.<br />
É imprescindível a defesa da<br />
liberdade de organização dos<br />
RONDÔNIA<br />
que fosse por meio de um<br />
massacre de camponeses.<br />
Os trabalhadores em seguida<br />
foram levados de camburão<br />
para a sede da fazenda e foram<br />
torturados na frente de suas famílias.<br />
Sete camponeses entre<br />
homens e mulheres foram presos<br />
e levados para o presídio<br />
de Urso Branco.<br />
Policiais de União Bandeirantes,<br />
Jaci-Paraná e Porto<br />
Velho participaram da operação<br />
enviada pelo governo do<br />
estado de Ivo Cassol.<br />
As famílias de União Bandeirantes<br />
já foram expulsas<br />
cinco vezes de suas terras, em<br />
uma área que é da União e que<br />
foi repassada para os latifundiários<br />
por grilagem.<br />
Mesmo assim, a justiça decidiu<br />
e favor dos latifundiários.<br />
Há cerca de dois meses, um<br />
sem-terra já havia sido atacado<br />
por policiais e baleado teve<br />
de ser levado para a UTI. Dois<br />
camponeses que participavam<br />
das ocupações há alguns anos<br />
permanecem presos no presídio<br />
de Urso Branco.<br />
É preciso denunciar amplamente<br />
os latifundiários e os<br />
governos estaduais e federal,<br />
de Cassol e de Lula que apóiam<br />
os massacres de sem-terra<br />
e que tratam como bandidos<br />
e marginais as famílias que<br />
lutam pela terra não apenas em<br />
Rondônia e vários outros estados<br />
do País.<br />
Fazemos um chamado às<br />
organizações <strong>operária</strong>s e populares,<br />
sindicatos e a população<br />
em geral a denunciar e repudiar<br />
mais estes ataques aos<br />
sem-terra de Rondônia e a impunidade<br />
dos torturadores e<br />
assassinos dos sem-terra que<br />
agem a mando dos latifundiários<br />
e dos governos.<br />
Jovem sem-terra que abortou<br />
é presa e impedida de receber<br />
tratamento e remédios<br />
Assim como os latifundiários<br />
torturam idosos e crianças<br />
estes também mandam torturar<br />
mulheres dos modos mais<br />
monstruosos.<br />
O governo Ivo Cassol comanda<br />
uma polícia militar assassina<br />
dos sem-terra e especializada<br />
em promover o linchamento<br />
dos trabalhadores.<br />
Deidiane de Jesus Silva, de<br />
20 anos, foi presa pela PM, a<br />
mando dos latifundiários e está<br />
presa também no Urso Branco,<br />
na ala feminina.<br />
Tendo sofrido um aborto, ela<br />
está sendo impedida de receber<br />
atendimento médico e remédios<br />
na prisão. A companheira<br />
sofre hemorragia interna.<br />
Tal aberração é comum nos<br />
estados da chamada Amazônia<br />
Legal, onde mulheres foram<br />
inclusive encontradas em prisões<br />
com homens, obrigadas<br />
a se prostituir, como no estado<br />
do Pará, governado pelo<br />
PT.<br />
Também na “Amazônia Legal”,<br />
no estado de Mato Grosso<br />
do Sul, comandado pelo latifundiário<br />
da soja Blairo Maggi,<br />
hoje 10 mil mulheres são<br />
ameaçadas de prisão por supostamente<br />
terem realizado<br />
aborto. A justiça junto à Igreja<br />
Católica teve acesso a uma lista<br />
de mulheres que abortaram em<br />
clínicas clandestinas, o que é<br />
resultado da falta de atendimento<br />
público para o aborto,<br />
e agora querem mandar estas<br />
para a prisão.<br />
Os estados governados pelos<br />
interesses dos latifundiários<br />
são terras onde se impõe<br />
pela força a lei do latifúndio, e<br />
no caso das mulheres esta violência<br />
é ainda mais brutal.<br />
Isto é resultado da imposição<br />
de um regime ultrapassado,<br />
pré-capitalista, de miséria,<br />
que ocorre graças à expropriação<br />
que a especulação e o monopólio<br />
da terra impuseram à<br />
população, por isso também<br />
impedida de ter acesso ao<br />
mínimo desenvolvimento estrutural.<br />
O atraso jurídico e<br />
político do estado faz com que<br />
isto recaia principalmente nas<br />
mulheres.<br />
O governo Ivo Cassol comanda uma polícia militar<br />
assassina dos sem-terra e especializada em promover o<br />
linchamento dos trabalhadores.<br />
sem-terra para defender o direito<br />
de organização da classe<br />
trabalhadora de conjunto.<br />
Exigimos a imediata libertação<br />
dos trabalhadores sem-terra<br />
e a libertação de todos os<br />
presos da luta pela terra pelo<br />
governo Ivo Cassol, madeireiro<br />
e latifundiário de Rondônia<br />
e do governo Lula em todo o<br />
País.<br />
Pela libertação imediata dos<br />
sete camponeses do acampamento<br />
Nova Conquista!<br />
Pela libertação de todos os<br />
presos da Luta pela terra em<br />
Rondônia e em todo o País!<br />
Pelo fim do latifúndio! Terra<br />
para quem nela trabalha!<br />
Pela Reforma Agrária já,<br />
com expropriação do latifúndio<br />
sem indenização!<br />
RONDÔNIA<br />
Punição aos assassinos<br />
dos sem-terra!<br />
Nota da Liga dos Camponeses<br />
Pobres de Rondônia<br />
Leia aqui nota da Liga dos Camponeses Pobres de<br />
Rondônia sobre o massacre em União Bandeirantes<br />
no último dia 9, no qual sete sem-terra foram presos<br />
e 30 famílias sofreram violência policial<br />
No dia 9 de setembro de<br />
2008 por volta das 14:30 hs as<br />
mais de 30 famílias do acampamento<br />
Nova Conquista (Fazenda<br />
Mutum) em União Bandeirantes<br />
foram violentamente<br />
atacadas por policiais e bandos<br />
de pistoleiros. Cerca de 30<br />
policiais militares de União<br />
Bandeirantes, Jaci-Paraná e<br />
Porto Velho, chegaram ao<br />
acampamento disparando tiros<br />
contra os acampados. As<br />
famílias haviam retomado a<br />
área na madrugada de segunda-feira,<br />
dia 8 de setembro.<br />
Durante a operação os policiais<br />
gritavam que estavam<br />
dispostos a matar, pois ali todos<br />
eram vagabundos.<br />
Os camponeses foram<br />
rendidos, obrigados a sentar<br />
no chão com armas apontadas<br />
para a cabeça. Um dos<br />
policiais começou a tirar fotos<br />
de todos e os que resistiam<br />
eram espancados com<br />
tapas no ouvido e empurrões.<br />
Um dos acampados perguntou<br />
aos policiais se tinham<br />
ordens para agirem daquela<br />
forma, e eles responderam<br />
que “faziam do jeito deles e<br />
que todos que estavam ali<br />
eram bandidos”, disseram<br />
que o governo do estado estava<br />
pagando para que vigiassem<br />
aquela fazenda.<br />
Temos informações de que<br />
o latifundiário Luiz da Dipar<br />
(Luiz Carlos Garcia) e o chefe<br />
de pistolagem Odailton Martins<br />
passaram aproximadamente<br />
450 alqueires de terras<br />
para o sargento da polícia<br />
militar de Jaci-Paraná para<br />
que retirasse os camponeses<br />
da área. Uma das provas que<br />
atestam isso é que o cabo PM<br />
Isaac, vulgo “Manchinha”,<br />
também de Jaci-Paraná, falou<br />
que estava disposto a fazer um<br />
massacre para defender o fazendeiro.<br />
Os policiais não satisfeitos<br />
em humilhar e espancar homens<br />
e mulheres, tomaram<br />
foices, facões, enxadas, cavadeiras,<br />
entraram nos barracos<br />
despejando as roupas no chão,<br />
chutando os pertences, lançando<br />
alimentos ao chão e quebrando<br />
utensílios de cozinha.<br />
Chamavam os camponeses de<br />
porcos. Roubaram ainda remédios,<br />
livros, roupas, receitas,<br />
bolsas, máquina fotográfica,<br />
uma moto, um moto-serra<br />
e até bíblia.<br />
Os camponeses foram bastante<br />
humilhados com palavrões,<br />
principalmente após terem<br />
sido levados algemados ao<br />
camburão, policiais ameaçavam<br />
o tempo todo dizendo que<br />
eles iriam para o inferno. Ao<br />
todo foram presos sete companheiros<br />
e três companheiras.<br />
Um dos camponeses que<br />
resistiu às humilhações foi<br />
agredido, caiu de cara no chão<br />
ficando com a boca e o nariz<br />
sangrando.<br />
O governo de Ivo Cassol e<br />
os ruralistas realizaram nos últimos<br />
anos uma série de ataques<br />
aos sem-terra de Rondônia, que<br />
contou com a colaboração da<br />
imprensa mais reacionária<br />
como a revista Istoé, que para<br />
justificar o assassinato de trabalhadores,<br />
os acusou de comandar<br />
uma guerrilha e aterrorizar<br />
a população.<br />
Estes acusavam principalmente<br />
a Liga dos Camponeses<br />
Pobres, organização dos camponeses<br />
que vem sendo acusada<br />
de organizar uma narcoguerrilha<br />
no estado em conjunto<br />
com as FARC (Forças Armadas<br />
Revolucionárias da Colômbia).<br />
A matéria, que foi lançada<br />
nacionalmente, incentivou diversos<br />
ataques aos acampamentos<br />
nos meses de abril e maio.<br />
No dia 9 de abril, cerca de<br />
300 camponeses foram atacados<br />
em Campo Novo, Jacinópolis.<br />
30 desapareceram e três<br />
foram encontrados mortos depois<br />
do ataque de dezenas de<br />
jagunços.<br />
No dia 30 de abril, os semterra<br />
sofreram mais um ataque<br />
no qual um vereador ligado aos<br />
sem-terra de Jacinópolis foi assassinado<br />
em uma emboscada.<br />
No mês de março, o companheiro<br />
Bentão, um dos fundadores<br />
da Liga dos Camponeses<br />
Pobres foi assassinado em uma<br />
emboscada em Jacinópolis. Outra<br />
liderança dos camponeses,<br />
assim como Bigodinho, que foi<br />
assassinado na mesma região.<br />
O maior massacre que ocorreu<br />
no estado, sob o governo de<br />
Valdir Raupp (PMDB) - hoje liderança<br />
do PMDB e um dos<br />
maiores aliados de Lula no Senado<br />
- em 1995 continua completamente<br />
impune. Cerca de 50<br />
trabalhadores sem-terra foram<br />
mortos no acampamento de<br />
Santa Elina, em Corumbiara,<br />
norte do estado, naquela época,<br />
depois de serem torturados durante<br />
horas.<br />
Depois de 13 anos os semterra<br />
reocuparam a área de Santa<br />
Elina e estão sendo cotidianamente<br />
ameaçados de despejo e<br />
de morte.<br />
Todos os crimes dos latifundiários<br />
continuam completamente<br />
impunes em Rondônia.<br />
Somente uma luta conjunta,<br />
uma ampla denúncia e uma campanha<br />
pela punição dos assassinos<br />
dos sem-terra, dos latifundiários<br />
e do governo de Ivo<br />
Cassol poderão pressionar a<br />
justiça burguesa pela punição de<br />
policiais, fazendeiros e jagunços.<br />
- Pela imediata punição aos<br />
assassinos dos sem-terra!<br />
Após terem realizado a ação<br />
truculenta, os policiais levaram<br />
os camponeses para a sede da<br />
fazenda Mutum onde foram<br />
torturados diante das companheiras<br />
por horas. Só depois<br />
(homens e mulheres) foram levados<br />
para Porto Velho no<br />
presídio Urso Branco.<br />
Os camponeses foram ilegal<br />
e covardemente atacados para<br />
que os policiais reintegrassem<br />
na posse do latifúndio o grileiro<br />
que reclamava a área. Uma<br />
decisão da justiça federal comprovou<br />
que a terra é pública, e<br />
que quem não poderia de forma<br />
nenhuma reclamar ou utilizar<br />
as terras era o latifundiário.<br />
A justiça federal deu imissão<br />
de posse para o Incra! Os<br />
camponeses foram atacados<br />
pelos guaxebas e pela polícia.<br />
Em nenhum momento as<br />
notícias divulgadas pela polícia<br />
e reproduzidas pelos jornais a<br />
serviço do latifúndio falam de<br />
ataques de pistoleiros e policiais<br />
ao acampamento.<br />
Sabemos que todas as mentiras<br />
divulgadas na imprensa<br />
foram arrancadas com tortura,<br />
e também sabemos que os camponeses<br />
presos estão sendo<br />
barbaramente torturados para<br />
que a polícia continue o seu<br />
“minucioso trabalho de inteligência”<br />
regado a choque elétrico<br />
e afogamentos.<br />
Será que os banqueiros ricos<br />
e corruptos, presos e depois<br />
soltos, que a grande imprensa<br />
reclamou “serem maltratados”<br />
pela polícia, foram atacados a<br />
tiro em suas casas a noite?<br />
No mais são as velhas e requentadas<br />
calúnias contra a<br />
Liga dos Camponeses Pobres<br />
de Rondônia, agora colocadas<br />
pela repressão na boca de uma<br />
inocente “mãe”. A verdade é<br />
que os policiais fizeram uma<br />
reintegração de posse ilegal e a<br />
noite, contra camponeses e<br />
camponesas sem defesa.<br />
A Liga dos Camponeses Pobres<br />
de Rondônia e a Comissão<br />
Nacional Coordenadora das Ligas<br />
de Camponeses Pobres<br />
conclamam a todos os verdadeiros<br />
democratas e apoiadores<br />
da luta camponesa a prontamente<br />
se manifestarem contra<br />
o absurdo da ação policial<br />
contra os camponeses de<br />
União Bandeirantes que lutam<br />
pela posse da fazenda Mutum<br />
há mais de 5 anos!<br />
Exigimos a verdade!<br />
Exigimos a libertação de todos<br />
os companheiros presos!<br />
Exigimos que se cumpra a<br />
decisão da justiça federal!<br />
Fora Luiz Carlos Garcia! A<br />
terra pública é para os camponeses!<br />
Abaixo a criminalização da<br />
luta camponesa!<br />
Comissão Nacional das Ligas<br />
dos Camponeses Pobres<br />
Liga dos Camponeses Pobres<br />
de Rondônia - LCP
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA 11<br />
CORREIO QUER CENSURA DO PROGRAMA ELEITORAL DO <strong>PCO</strong> EM SÃO PAULO<br />
ECT perde na Justiça e não tem direito de<br />
resposta no programa eleitoral do <strong>PCO</strong><br />
A ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos –<br />
entrou na justiça com processo contra o programa<br />
eleitoral da companheira Anaí Caproni, em São Paulo<br />
No pedido, a empresa afirma<br />
ser uma calúnia as críticas feitas<br />
de que o salário médio na<br />
empresa seria de miseráveis R$<br />
800,00 e de que o banco de<br />
horas escraviza os trabalhadores<br />
grevistas com o aumento da<br />
jornada de trabalho. Além do<br />
pedido de direito de resposta, a<br />
ECT também requeria a instauração<br />
de medidas legais pelo Ministério<br />
Público contra a trabalhadora<br />
do Correio, Anaí Caproni,<br />
por infração do código de<br />
ética da empresa e por má-fé ao<br />
dizer que as negociações do<br />
PCCS (Plano de Cargos, Carreira<br />
e Salários, caminham para a<br />
retirada de direitos dos trabalhadores.<br />
A ECT alegava, cinicamente,<br />
que não é possível dizer que as<br />
negociações não vão chegar a<br />
bom termo antes do seu final,<br />
como se ninguém soubesse o<br />
golpe que está sendo preparado,<br />
com o apoio dos dirigentes sindicais<br />
do Bando dos Quatro<br />
(PT-PCdoB-PSTU-Psol).<br />
A justiça paulista não atendeu<br />
a nenhum pedido feito pela ECT<br />
com a seguinte sentença:<br />
“Com efeito não se verifica<br />
ofensa à honra da empresa e<br />
tampouco qualquer ridicularização<br />
ou degradação de sua imagem<br />
em razão das expressões<br />
utilizadas na propaganda veiculada.<br />
De fato as manifestações da<br />
candidata estão dentro da margem<br />
de direito de crítica à gestão<br />
exercida pela referida empresa<br />
e não podem ser interpretadam<br />
como calúnia, difamação<br />
ou injúria.<br />
As expressões atacadas enquadram-se<br />
perfeitamente<br />
como crítica à forma empregada,<br />
pela empresa, na gestão de<br />
recursos humanos e, assim, não<br />
podem ser tidas como ofensivas<br />
à imagem da suposta ofendida.<br />
Sobretudo porque o contexto da<br />
mensagem veiculada traduz a liberdade<br />
de expressão da ótica<br />
laborativa de uma de suas funcionárias.”<br />
A decisão da justiça contra a<br />
ECT mostra o nível da ditadura<br />
da empresa contra a categoria.<br />
O próprio tribunal, que sempre<br />
privilegia o governo e os poderosos,<br />
considerou totalmente<br />
impróprio o pedido de punição<br />
da companheira Anaí Caproni e<br />
a intervenção no programa eleitoral<br />
do <strong>PCO</strong> pela ECT.<br />
Além da ECT, o <strong>PCO</strong> sofreu<br />
mais 15 processos por suposto<br />
crime de calúnia, injúria e difamação,<br />
os quais foram abertos<br />
pela ex-prefeita de São Paulo<br />
Marta Suplicy e pelo atual prefeito<br />
Gilberto<br />
Kassab os<br />
quais tentam<br />
impedir a divulgação<br />
das<br />
informações<br />
sobre a política<br />
de privatização<br />
da saúde, da<br />
educação e do<br />
transporte na<br />
cidade.<br />
Todos os<br />
processos<br />
contra o <strong>PCO</strong><br />
foram julgados<br />
improcedentes<br />
em primeira<br />
instância,<br />
aguardando<br />
decisão definitiva<br />
em instância<br />
superior,<br />
uma vez que os<br />
candidatos do<br />
PT e do DEM<br />
entraram com<br />
recursos.<br />
Além do pedido de direito de resposta a ECT<br />
também requeria a instauração de medidas<br />
legais pelo Ministério Público contra a<br />
trabalhadora do Correio, Anaí Caproni.<br />
RIO GRANDE DO NORTE<br />
Mais 12 municípios terão<br />
tropas do Exército nas eleições<br />
Além das invasões do Exército<br />
nas favelas do Rio de Janeiro,<br />
onde até 10 mil homens do Exército<br />
estão de prontidão para atuar<br />
em 24 comunidades no próximo<br />
mês, que durarão de maneira<br />
inédita dois meses inteiros, outros<br />
seis estados requisitaram o Exército<br />
durante as eleições. Amazonas,<br />
Amapá, Pará, Rio de Janeiro,<br />
Tocantins, Rio Grande do<br />
Norte e Piauí<br />
Um total de 120 municípios<br />
teve a presença do Exército aprovada<br />
pelo TSE no País, mas este<br />
número pode ser ainda aumentado<br />
já que inúmeros municípios<br />
requisitam as tropas federais.<br />
A justiça eleitoral do Rio Grande<br />
do Norte aprovou na quartafeira<br />
(17) a ocupação do Exército<br />
em mais 12 municípios do estado.<br />
Outros 28 requisitam o<br />
Exército. Assim, 40<br />
municípios em todo<br />
o estado podem ter a<br />
presença do Exército<br />
aprovada agora<br />
por decisão do Tribunal<br />
Superior Eleitoral.<br />
Os pedidos foram<br />
feitos pelo presidente<br />
do TRE, desembargador<br />
Expedito<br />
Ferreira de Souza.<br />
O Piauí também é<br />
um dos estados que<br />
irá definir nos próximos<br />
dias a quantidade<br />
de cidades, com<br />
pedidos na justiça<br />
para ter intervenção<br />
do Exército.<br />
Até a última terçafeira,<br />
o Tribunal<br />
Regional Eleitoral (TRE) do Piauí<br />
deferiu 110 cidades para receberem<br />
tropas federais das quais<br />
cinco já foram aprovadas pelo<br />
TSE e o resto aguarda decisão.<br />
O secretário estadual de Segurança<br />
Pública, Robert Rios Magalhães,<br />
anunciou na segunda-feira<br />
Um total de 120 municípios teve a presença do Exército aprovada pelo TSE no<br />
País, mas este número pode ser ainda aumentado já que inúmeros municípios<br />
requisitam as tropas federais.<br />
(15), que antecipará o envio de<br />
dois mil homens para reforçar as<br />
eleições no dia 5 de outubro nas<br />
sete maiores cidades do Piauí:<br />
Teresina, Parnaíba, Piripiri, Campo<br />
Maior, Valença, Floriano e Piracuruca.<br />
Em todo o Piauí, além das tropas<br />
policiais, pelo menos<br />
550 homens do<br />
Exército participarão<br />
das operações.<br />
Outro estado que<br />
possui um grande número<br />
de municípios<br />
com presença do Exército<br />
aprovado é o Pará,<br />
com 80 cidades aprovadas.<br />
Este é o estado<br />
de um dos maiores<br />
conflitos agrários do<br />
País e onde, há cerca<br />
de um mês, na cidade<br />
de Viseu, a população<br />
queimou o cartório eleitoral<br />
e a delegacia para<br />
protestar contra a violência<br />
policial, fazendo<br />
com que juízes tivessem<br />
que fugir de helicóptero.<br />
O pedido de Exérci-<br />
to se dá em sua maioria dos estados<br />
do País de economia predominantemente<br />
rural, tipicamente<br />
dominados pelas oligarquias. Isto<br />
mostra uma imensa crise do regime<br />
político, da incapacidade da<br />
burguesia tradicional de dominar<br />
a população por meio das eleições.<br />
O Rio de Janeiro evidencia esta<br />
crise, que se expressa na tentativa<br />
de estabelecer um tipo de voto<br />
de cabresto devido claramente ao<br />
desinteresse popular em apoiar<br />
candidatos ligados às milícias,<br />
uma boa parte da bancada dos parlamentares<br />
e a apoiarem candidatos<br />
burgueses em geral. A desmoralização<br />
do regime é proporcional<br />
à crescente revolta da população<br />
das favelas, especialmente<br />
contra a repressão desenfreada da<br />
Polícia Militar.<br />
Já nos estados onde historicamente<br />
a burguesia adotava o voto<br />
de cabresto nas eleições, há um<br />
esgotamento do regime político<br />
que se desenvolve no sentido de<br />
uma falência geral e incapacidade<br />
de mostrar qualquer caráter<br />
democrático das eleições, graças<br />
à impopularidade dos partidos<br />
burgueses.<br />
SÃO PAULO CABIDE DE EMPREGO DA BURGUESIA<br />
Cargos da Câmara ganham duas<br />
vezes mais que o permitido por lei<br />
O cabide de emprego que se<br />
acumula nos governos burgueses<br />
anteriores em São Paulo,<br />
custa aos bolsos dos trabalhadores<br />
somente para pagar salários<br />
de vereadores e seus apadrinhados<br />
na Câmara, quase R$<br />
2 bilhões por ano<br />
Mesmo sendo estabelecido<br />
por lei que os funcionários da<br />
Câmara Municipal de São Paulo<br />
não devem receber atualmente<br />
mais que R$ 12.384,06, um<br />
balanço feito pelo Ministério<br />
Público mostrou que 23 servidores<br />
recebem acima de R$ 20<br />
mil mensais. Alguns deles receberam<br />
mais de R$ 30 mil por<br />
mês, como uma funcionária do<br />
departamento técnico-administrativo<br />
da Secretaria Geral Parlamentar,<br />
que recebeu R$<br />
31.084,07 em agosto.<br />
A Câmara Municipal gasta<br />
nada menos que R$ 163 milhões<br />
em salários de vereadores e seus<br />
funcionários de confiança por<br />
mês, um total de 2.000 pessoas.<br />
Isto representa um gasto<br />
somente na Câmara municipal<br />
de R$ 1,9 bilhão por ano para os<br />
bolsos dos trabalhadores que<br />
pagam impostos ao estado.<br />
A investigação, no entanto,<br />
acabou arquivada em maio passado.<br />
Questionado pelos promotores,<br />
o TCM (Tribunal de Contas<br />
do Município) garantiu que<br />
não havia qualquer irregularidade<br />
nos pagamentos dos salários.<br />
A investigação foi arquivada,<br />
pois o Tribunal de Contas do<br />
Município negou irregularidades<br />
alegando que os benefícios<br />
recebidos por funcionários de<br />
altos cargos são diferentes de<br />
salário e que estes não poderiam<br />
ser contabilizados no teto<br />
constitucional, hoje estabelecido<br />
no salário do prefeito.<br />
Enquanto para os trabalhadores<br />
municipais não há aumentos<br />
de salários, enquanto a saúde e<br />
a educação públicas são destruídas,<br />
os parlamentares, além de<br />
receberem bilhões, ainda ganham<br />
dos empresários e banqueiros<br />
para governar contra o<br />
povo, para investir em repressão.<br />
Além disto, como é conhecido<br />
por toda a população, os<br />
prefeitos lucram controlando os<br />
transportes e recebendo comissão<br />
dos empresários, enquanto<br />
aparece em sua folha de pagamento<br />
um salário fictício, completamente<br />
falso.<br />
Ao contrário de aumentar os<br />
salários dos corruptos, é necessário<br />
tirar destas verbas estabelecidas<br />
para investir no cabide<br />
de emprego criado pelos últimos<br />
governos e repassar a imensa<br />
parte aos trabalhadores e, além<br />
disto, cobrar impostos sobre os<br />
lucros de todos os empresários<br />
e banqueiros.<br />
Os “supersalários” dos parlamentares<br />
devem ser revertidos<br />
em um salário mínimo vital<br />
para os trabalhadores das prefeituras<br />
e do estado, como se<br />
prevê na Constituição para uma<br />
família de quatro pessoas, hoje<br />
avaliado em torno de R$<br />
2.200,00, suficiente para garantir<br />
vestimenta, alimentação,<br />
moradia, educação, transporte,<br />
entre outros.<br />
Isto só pode se dar por meio<br />
da mobilização da massa trabalhadora<br />
contra as prefeituras e<br />
uma campanha a partir dos sindicatos<br />
e organizações dos trabalhadores<br />
por um salário mínimo<br />
vital, contra o salário de<br />
fome hoje pago pelos prefeitos<br />
e pelos governos estaduais.<br />
Mais uma renúncia de um<br />
parlamentar mostra a crise política<br />
da burguesia.<br />
O presidente<br />
da Assembléia<br />
Legislativa de<br />
Alagoas, deputado<br />
Antonio Albuquerque,<br />
se retirou<br />
do cargo na<br />
quarta-feira (17)<br />
somente dois<br />
meses depois de<br />
ter sido indicado,<br />
por uma denúncia<br />
de desvio de quase<br />
R$ 300 milhões de verbas da<br />
Assembléia Legislativa. Este<br />
aceitou sua saída do cargo depois<br />
que os parlamentares de<br />
casa votaram por unanimidade<br />
sua saída.<br />
Não apenas isso, desde março,<br />
nove deputados dos 27 fo-<br />
CRISE POLÍTICA<br />
Cai presidente da Assembléia<br />
Legislativa de Alagoas<br />
ram afastados acusados de participar<br />
no desvio de verbas,<br />
sendo toda a<br />
mesa diretora da<br />
Assembléia Legislativa.<br />
Ele era o principal<br />
mentor do<br />
desvio de verbas<br />
para contas de<br />
servidores fantasmas<br />
e parentes,<br />
esquema<br />
pelo qual foram<br />
acusados 14 deputados<br />
estaduais<br />
e outros cem altos cargos<br />
do governo estadual.<br />
A renúncia em massa em<br />
mais uma Assembléia Legislativa<br />
mostra o aprofundamento da<br />
crise política nacional, que se<br />
desenvolve de maneira acelerada<br />
também nos rincões do País.<br />
ESQUERDA POLICIAL<br />
Psol homenageia delegado da<br />
Polícia Federal em Goiânia<br />
O vereador Elias Vaz<br />
(Psol) de Goiânia chamou no<br />
auditório da Câmara Municipal<br />
da cidade uma manifestação<br />
em favor do delegado<br />
acusado de na Operação Satiagraha,<br />
Protógenes Queiroz,<br />
ter promovido junto com<br />
a Abin (Agência Brasileira de<br />
Inteligência), órgão provindo<br />
da ditadura militar, centenas<br />
de grampos clandestinos.<br />
Este foi o responsável pela<br />
operação que prendeu por algumas<br />
horas o banqueiro Daniel<br />
Dantas.<br />
O Psol convocou estudantes<br />
universitários, parlamentares<br />
e promotores da justiça<br />
para o ato em homenagem<br />
ao delegado, que recebeu<br />
pessoalmente uma homenagem<br />
de Vaz, recebendo uma<br />
placa de “agente anticorrupção”.<br />
Em seu discurso o vereador<br />
do Psol declarou: “Se o<br />
senhor for derrotado, a sociedade<br />
brasileira terá sido derrotada<br />
também” (O Estado<br />
de S. Paulo, 11/9/2008).<br />
O delegado recebeu diversas<br />
homenagens no encontro<br />
promovido pelo Psol.<br />
“Não vamos deixar o Protógenes<br />
sozinho. Luiz Carlos<br />
Prestes fez a Coluna Prestes,<br />
que percorreu o Brasil contra<br />
a República Velha. Ganhou o<br />
título de Cavaleiro da Esperança<br />
(...) Você, Protógenes,<br />
é o delegado da esperança”,<br />
disse o promotor Fernando<br />
Krebs, da Defesa do Patrimônio<br />
Público, e professor universitário<br />
(Idem).<br />
Mais uma vez o Psol mostra<br />
que está atrelado ao Estado,<br />
inclusive aos seus órgãos<br />
repressores, neste caso a Polícia<br />
Federal, dominada por<br />
inúmeros interesses parlamentares,<br />
inclusive internacionais<br />
e responsável por inúmeros<br />
casos de repressão<br />
contra o povo.<br />
O Psol decididamente nestas<br />
eleições resolveu defender<br />
o Estado capitalista, desde<br />
seus órgãos mais reacionários.<br />
Este fez não esta somente,<br />
mas diversas homenagens<br />
à polícia, tanto à PM<br />
como à federal e até membros<br />
do BOPE.<br />
Como qualquer partido<br />
burguês, formado neste por<br />
parlamentares de carreira<br />
menores, este defende o programa<br />
fundamental para a<br />
burguesia e o Estado burguês,<br />
que é a manutenção da<br />
polícia, indo ainda além, pedindo<br />
reforço para a repressão<br />
contra a classe trabalhadora.<br />
Neste sentido, como nem<br />
a própria burguesia pode fazer<br />
elogios rasgados às impopulares<br />
Polícia Federal e Militar,<br />
o Psol adota o mesmo<br />
argumento dos governos assassinos<br />
do povo, como o<br />
governo Sérgio Cabral no<br />
Rio, de que existem policiais<br />
honestos e não honestos. Na<br />
versão do Psol existem inclusive<br />
policiais que buscam<br />
acabar com a corrupção,<br />
quando a primeira corrupção<br />
da policia é ser paga para defender<br />
a propriedade privada<br />
de uma minoria de ricos contra<br />
uma maioria de pobres,<br />
aliás sua única função e razão<br />
de existir.<br />
Nas eleições municipais, o<br />
Psol teve de deixar evidente<br />
ainda mais que nas eleições<br />
presidenciais as suas relações<br />
concretas com a burguesia e<br />
inclusive com a polícia.<br />
CRISE DOS GRAMPOS<br />
Prisão cinematográfica do segundo<br />
homem da Polícia Federal<br />
Mais uma operação teatral<br />
da Polícia federal e da Justiça<br />
atingiram desta vez a própria<br />
PF, em uma continuação da<br />
crise dos Grampos, na qual<br />
setores de dentro da Abin<br />
(Agência Brasileira de Inteligência)<br />
e da Polícia Federal<br />
vem sendo acusados entre<br />
estes. Não por acaso a prisão,<br />
feita na quarta-feira (17), durou<br />
horas e foi realizada pouco<br />
antes de novos depoimentos<br />
à CPI dos Grampos de<br />
vários diretores da Polícia<br />
Federal. Esta CPI é a única<br />
comissão em funcionamento<br />
no Congresso Nacional, que<br />
está em recesso antes das eleições<br />
municipais.<br />
Romero Lucena de Menezes<br />
é quem comandava operações<br />
de grande porte da PF,<br />
usadas para dar uma fachada<br />
de moralidade para a polícia.<br />
Este foi acusado de advocacia<br />
administrativa, corrupção<br />
passiva e tráfico de<br />
influência.<br />
O Tribunal Regional Federal<br />
(TRF) da 1º Região revogou<br />
a prisão do delegado na<br />
madrugada do mesmo dia madrugada.<br />
Este é acusado de ter repassado<br />
informações da Polícia<br />
Federal para favorecer a empresa<br />
MMX Logística. A empresa<br />
é subsidiária da EBX,<br />
empresa de Eike Batista, que<br />
era investigada pela Operação<br />
Toque de Midas, sobre fraudes<br />
em licitações.<br />
Escutas telefônicas atingiram<br />
a própria Polícia Federal.<br />
A prisão foi feita depois de conversas<br />
telefônicas terem sido<br />
grampeadas com autorização<br />
judicial, entre o gerente da<br />
MMX Amapá Ltda., Renato<br />
Camargo dos Santos e Menezes<br />
Junior.<br />
O delegado da PF é acusado<br />
de favorecer a empresa de<br />
seu irmão, a Serv-San, de segurança,<br />
para esta conseguir<br />
contratos com a empresa de<br />
Eike Batista. Este possui junto<br />
com o irmão uma sociedade<br />
de 50% da empresa.<br />
A operação, ao mesmo<br />
tempo em que gerou uma crise<br />
entre o Ministério Público que<br />
fez as apurações, e a Polícia<br />
Federal, <strong>causa</strong> grande desmoralização<br />
das próprias autoridades<br />
e da Polícia Federal e<br />
mostra o tráfico de influência<br />
que predomina em todas estas<br />
operações, feitas para favorecer<br />
sempre um setor dos capitalistas,<br />
como na Operação<br />
Satiagraha. A operação foi<br />
feita para favorecer setores da<br />
telefonia internacionais e nacionais,<br />
concorrentes do grupo<br />
de Daniel Dantas, a Brasil<br />
Telecom.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA<br />
MOVIMENTO OPERÁRIO 12<br />
CAMPANHA SALARIAL<br />
ECT e Fentect trabalham juntos na campanha<br />
salarial... agora para enterrar campanha em outubro<br />
Comissão de Negociação Salarial da ECT retoma<br />
“negociações” com a Comissão de Negociação Salarial<br />
dos trabalhadores afirmando que continuará firme na<br />
posição de não discutir a pauta de reivindicações da<br />
categoria, mas estabelecerá novas reuniões acatando<br />
sem nenhuma divergência o novo calendário da Fentect<br />
Nesta terça-feira 16/9, a Comissão<br />
de Negociação da ECT e a<br />
Comissão de Negociação Salarial<br />
da Fentect - Federação dos Trabalhadores<br />
da Empresa de Correios<br />
e Telégrafos - se reuniram em Brasília<br />
para retomar as negociações<br />
da campanha salarial 2008/2009.<br />
A reunião foi convocada pela<br />
ECTQuem iniciou as discussões,<br />
no entanto, foram os membros do<br />
Bando dos Quatro (PT, PCdoB,<br />
PSTU e Psol) que compõem a<br />
Comissão de Negociação Salarial<br />
dos trabalhadores, apresentando<br />
oficialmente para empresa o novo<br />
calendário da Fentect. Depois de<br />
fracassarem vergonhosamente<br />
na tentativa de acabar com a campanha<br />
salarial em setembro, conforme<br />
também era pretendido<br />
pela ECT, agora estarão trabalhando<br />
para acabar com a campanha<br />
salarial em 15 de outubro, 15 dias<br />
antes do término das negociações<br />
do novo PCCS da ECT.<br />
A Comissão de Negociação salarial<br />
da ECT, mostrando que continua<br />
sem interesse pelas necessidades<br />
dos trabalhadores, reafirmou<br />
que não vai debater a pauta<br />
de reivindicação da categoria, não<br />
quer pagar mais que os míseros<br />
6,37% de reajuste salarial, no<br />
entanto, para ajudar a Fentect<br />
enterrar a campanha salarial em<br />
outubro, depois das eleições municipais<br />
e antes da Negociação do<br />
PCCS do Cargo Amplo.<br />
Os negociadores da ECT se<br />
propuseram a marcar reuniões<br />
para debater apenas algumas cláusulas<br />
sociais que a ECT não<br />
precise dispor de dinheiro para<br />
aprovar, ou seja, quase nenhuma.<br />
ECT e Fentect vão<br />
encenar que estão<br />
negociando até<br />
outubro, para<br />
aprovar o PCCS da<br />
escravidão em<br />
novembro<br />
As reivindicações mais<br />
exigidas pelos trabalhadores<br />
nesta campanha salarial precisam<br />
de investimento da<br />
ECT.<br />
Só com a contratação de<br />
novos funcionários, a ECT<br />
poderá diminuir a hora da<br />
madrugada; reduzir a jornada<br />
de trabalho da categoria; por<br />
fim ao Banco de Horas, presente<br />
de grego da Fentect;<br />
por fim as dobras; estabelecer<br />
a entrega da correspondência<br />
pela manhã; estabelecer<br />
a licença gestante de seis<br />
meses; o sistema de redistritamento<br />
feito pelos próprios<br />
trabalhadores etc.<br />
A comissão de negociação<br />
salarial da ECT, ao afirmar<br />
que só vai negociar reivindicações<br />
que não precisem de<br />
dinheiro, está mostrando que<br />
vai continuar enrolando os<br />
trabalhadores, mas ao mesmo<br />
tempo, fica claro também,<br />
que só podem enrolar os trabalhadores<br />
com a ajuda da<br />
burocracia da Fentect, os sindicalistas<br />
do Bando dos Quatro,<br />
que possuem a função de<br />
levar os trabalhadores a não<br />
brigar com a ECT, nem antes<br />
das eleições municipais no<br />
país, nem depois de terminado<br />
as negociações do PCCS<br />
do Cargo Amplo, de Agente<br />
de Correios, da privatização.<br />
A ECT sabe perfeitamente<br />
que uma greve em novembro<br />
dentro dos Correios pode unificar<br />
os trabalhadores na luta<br />
pelas reivindicações salariais<br />
e contra o PCCS da escravidão,<br />
colocando em risco o<br />
acordo fechado entre ECT e<br />
Fentect de dar para os Juízes<br />
biônicos do TST a responsabilidade<br />
de oficializar o PCCS<br />
em novembro.<br />
Contra a manobra da ECT<br />
e da Fentect, os trabalhadores<br />
devem rejeitar o calendário<br />
conjunto da Federação<br />
com a Empresa nesta campanha<br />
salarial, e se organizar<br />
para fazer uma grande greve<br />
em novembro, exigindo o fim<br />
do PCCS da escravidão e que<br />
sejam atendidas as reivindicações<br />
da pauta salarial da categoria.<br />
- Pelo atendimento das reivindicações<br />
da pauta salarial<br />
2008!<br />
- Pelo fim do banco de horas!<br />
- Abaixo o Cargo Amplo de<br />
Agente de Correios!<br />
- Pelo fim do gerenciamento<br />
da corrupta direção da<br />
ECT sobre os trabalhadores!<br />
- Pela eleição direta de trabalhadores<br />
aos cargos de gerenciamento<br />
dentro da ECT!<br />
- Pelo Controle Operário<br />
da empresa dos Correios,<br />
para impedir a privatização da<br />
ECT!<br />
CORREIOS CAMPINAS<br />
Carteiros param contra o banco de horas do Bando<br />
dos Quatro (PT-PCdoB-PSTU-Psol) e da ECT<br />
Na quinta-feira (11-09), às 8<br />
horas da manhã, os trabalhadores<br />
do CDD Hortolândia – Centro<br />
de Distribuição Domiciliar da<br />
cidade de Hortolândia - se reuniram<br />
na frente da unidade e<br />
resolveram não entrar para trabalhar<br />
se a direção regional da<br />
empresa não viesse negociar<br />
melhores condições de trabalho.<br />
Depois de uma hora de paralisação,<br />
a ECT encaminhou para<br />
negociar com os trabalhadores<br />
o Coordenador Bissaco, o CAE<br />
Marcos – Coordenador de Área<br />
de Entrega, o Corsin Faustão –<br />
Coordenador de Relações Sindicais,<br />
além do próprio sindicato.<br />
Os carteiros reivindicavam a<br />
contratação imediata de mais<br />
carteiros e o fim da perseguição<br />
da chefia aos trabalhadores que<br />
não podem fazer horas extras.<br />
Há mais de um ano os carteiros<br />
do CDD Hortolândia estão<br />
trabalhando além do limite, sendo<br />
submetidos a uma intensa<br />
exploração pela ECT, pois é o<br />
setor da região que ocupa a liderança<br />
em quantidade de resto<br />
diário da carga.<br />
Para dar conta deste resto, a<br />
empresa inaugurou um processo<br />
de super-exploração da categoria,<br />
realizando dobras diárias,<br />
exigindo todos os dias que<br />
os carteiros façam horas-extras<br />
e trabalhem todos os sábados<br />
do mês.<br />
Com a assinatura do Acordo<br />
de Banco de Horas em julho<br />
pelos sindicalistas do Bando dos<br />
Quatro (PT, PCdoB, PSTU e<br />
Psol) na Fentect e apoiados integralmente<br />
por todos os membros<br />
da diretoria do sindicato de<br />
Campinas, os chefes ganharam<br />
amplos poderes para punir os<br />
trabalhadores que se recusam a<br />
fazer horas extras.<br />
O chefe do CDD Hortolândia,<br />
Admilson Brunell, exercendo<br />
sadicamente o poder consentido<br />
pelo Banco de Horas, distribuiu<br />
punições para vários trabalhadores,<br />
suspendendo aqueles que não<br />
fossem trabalhar no sábado.<br />
Paralisação coloca<br />
ECT na defensiva e<br />
transforma acordo<br />
do sindicato de<br />
Banco de Horas<br />
sem efeito<br />
Depois de mais de três horas<br />
de paralisação, os Coordenadores<br />
da ECT, mais três diretores<br />
do sindicato de Campinas reunidos<br />
com os representantes dos<br />
trabalhadores do CDD, concordaram<br />
verbalmente em anular as<br />
punições dadas aos trabalhadores<br />
que não podem fazer horasextras;<br />
também ficou definido<br />
que as horas extras serão feitas<br />
de acordo com a disponibilidade<br />
do funcionário e não mais de<br />
acordo com a exigência da ECT<br />
conforme acordo de Banco<br />
Horas assinado pelo sindicato.<br />
Quanto ao trabalho aos sábados,<br />
os Coordenadores da ECT determinaram<br />
que o chefe do CDD<br />
Hortolândia poderá convocar o<br />
carteiro para trabalhar apenas<br />
dois sábados por mês.<br />
No dia seguinte, a direção da<br />
ECT em Campinas enviou cinco<br />
carteiros para Hortolândia,<br />
emprestados de outros CDD´s,<br />
além de iniciarem através dos<br />
chefes de outros CDD´s o SD –<br />
Sistema de Distritamento – em<br />
Hortolândia.<br />
A paralisação dos trabalhadores<br />
do CDD Hortolândia mostrou<br />
que a direção da ECT e os<br />
sindicatos ligados ao Bando dos<br />
Quatro da Fentect, que assinaram<br />
o Banco de Horas, não têm<br />
força para se impor contra os<br />
trabalhadores organizados, no<br />
entanto, os trabalhadores do<br />
CDD Hortolândia só resolverão<br />
minimamente as péssimas condições<br />
de trabalho a que estão<br />
expostos com a formação de no<br />
mínimo mais dois CDD´s na<br />
cidade, além de um CEE – Centro<br />
de Encomendas Especiais, o<br />
que demandaria um verdadeiro<br />
SD feito pelos próprios carteiros<br />
da unidade e a contratação de no<br />
mínimo o dobro de carteiros<br />
existente hoje no CDD.<br />
A cidade de Hortolândia cresce<br />
todos os dias, aumentando o<br />
contingente populacional, mas<br />
os Correios, para economizar às<br />
custas da saúde da categoria,<br />
querem dar conta da demanda<br />
apenas com um único CDD<br />
(Centro de Distribuição Domiciliar)<br />
para fazer toda entrega do<br />
município, cerca de 200 mil<br />
habitantes, jogando nas costas<br />
dos trabalhadores da unidade o<br />
excesso do serviço acumulado.<br />
Por isso os trabalhadores<br />
devem exigir;<br />
- SD – Sistema de Distritamento<br />
- feito pelos próprios<br />
carteiros que conhecem como<br />
ninguém toda região de Hortolândia,<br />
ao contrário dos chefes,<br />
pau mandados da direção da<br />
ECT, que buscaram fazer um<br />
SD onde a ECT não precise<br />
contratar ninguém.<br />
- Contratação de mais carteiros<br />
para o CDD, quantos forem<br />
necessários;<br />
-Formação de uma comissão<br />
de trabalhadores do CDD para<br />
acompanhar se as punições estão<br />
sendo anuladas e não está<br />
havendo o assédio moral da<br />
chefia aos trabalhadores que não<br />
pode fazer horas extras.<br />
- Anulação integral do banco<br />
de horas assinado pelo Bando<br />
dos Quatro (PT-PCdoB-PSTU-<br />
PSOL)<br />
No último sábado (13), às 8h,<br />
seguranças da empresa que presta<br />
serviços aos correios de Bauru<br />
detiveram o militante do movimento<br />
sindical de bauru e da<br />
corrente sindical CAUSA OPE-<br />
RARIA Osmar Brito , quando este<br />
fazia a distribuição do boletim nacional<br />
Ecetistas em Luta.<br />
O boletim que discute a campanha<br />
salarial da categoria causou<br />
furor na chefia, a qual organizou<br />
a agressão de Osmar Brito.<br />
Ele foi derrubado no chão<br />
pelos seguranças que pisaram em<br />
seu pescoço e desferiram várias<br />
coturnadas em seu corpo.<br />
Foram, ainda, colocadas algemas<br />
em seus braços pelos próprios<br />
seguranças privados, os quais o<br />
deixaram mais de meia hora com<br />
CTCE DE BAURU<br />
Empresa de Segurança e<br />
PM espancam apoiador de<br />
Ecetistas em Luta<br />
Osmar Brito sofreu vários ferimentos<br />
no braço esquerdo e deslocamento e<br />
luxações no ombro direito.<br />
o rosto fricionado sobre o chão.<br />
Após a chegada de viaturas da<br />
policia militar com vários<br />
soldados, as algemas<br />
da empresa privada<br />
foram substituídas<br />
pelas algemas da policia<br />
militar. A PM de<br />
Bauru, repetindo o ritual<br />
de tortura contra<br />
os trabalhadores, chamavam-no<br />
de vagabundo,<br />
apertavam sua<br />
garganta e perguntavam<br />
ironicamente<br />
quantos quilos de droga<br />
carregava em sua<br />
bolsa, cujo conteúdo era de quinhentos<br />
panfletos que foram confiscados<br />
pelos chefes do correio<br />
local e, até agora, não devolvidos.<br />
OSMAR Brito sofreu vários<br />
ferimentos no braço esquerdo<br />
e deslocamento e luxações no<br />
ombro direito sendo levado ao<br />
pronto socorro municipal para<br />
avaliação medica e ingestão de<br />
remédios.<br />
Nos próximos dias a Corrente<br />
Ecetistas em Luta estará organizando<br />
ato público em frente ao<br />
CTCE para protestar contra a<br />
agressão, bem como tomando as<br />
medidas legais contra os chefes,<br />
a empresa de segurança e os<br />
PM´s envolvidos.<br />
FRIGORÍFICOS BOM CHARQUE E MARGEM<br />
Unificar as fábricas para derrotar o golpe do patrão<br />
Nesta segunda-feira, dezenas<br />
de trabalhadores do frigorífico<br />
Bom Charque participaram de<br />
uma passeata pelas ruas da zona<br />
Norte de São Paulo, no bairro de<br />
Santana, com destino à Delegacia<br />
Regional do Trabalho (DRT).<br />
O objetivo da passeata foi realizar<br />
um protesto junto ao órgão<br />
público para exigir a presença de<br />
fiscais do trabalho no frigorífico,<br />
uma vez que os patrões estão<br />
atrasando no pagamento dos<br />
salários e da cesta básica, não<br />
estão depositando o FGTS e não<br />
estão pagando as verbas rescisórias<br />
de inúmeros trabalhadores.<br />
Os patrões do Bom Charque<br />
querem dar o calote em mais de<br />
300 pais de família, fazendo todos<br />
assinarem o aviso-prévio,<br />
sem ter a mínima intenção de<br />
pagar tudo o que devem aos trabalhadores.<br />
Na mesma situação se encontram<br />
os trabalhadores do frigorífico<br />
Margem, localizado na cidade<br />
de Barueri. Os cerca de 200<br />
trabalhadores desse frigorífico<br />
também estão com os salários<br />
atrasados e de aviso-prévio, sem<br />
qualquer garantia de que receberão<br />
dos patrões todos os seus<br />
direitos.<br />
A verdade é que tanto o frigorífico<br />
Bom Charque, localizado<br />
no bairro de Taipas, extremo<br />
Oeste de S. Paulo, quanto o frigorífico<br />
Margem, de Barueri, são<br />
propriedade do mesmo patrão.<br />
Este está dando calote em milhares<br />
de trabalhadores de várias<br />
outras unidades espalhadas por<br />
todo o país, que também estão<br />
fechando as suas portas.<br />
Apesar dos chefes e dos encarregados,<br />
nos setores de trabalho,<br />
tentarem enganar os trabalhadores,<br />
dizendo que a situação<br />
vai melhorar, o arrendamento das<br />
fábricas do grupo Margem para<br />
o grupo Arantes Alimentos significa<br />
apenas uma manobra típica<br />
de patrões caloteiros para não<br />
pagar os trabalhadores.<br />
Na sexta-feira, dia 12, cerca de<br />
200 trabalhadores do Bom Charque<br />
também realizaram um protesto<br />
na frente da fábrica para<br />
exigir dos patrões o pagamento<br />
dos salários atrasados. Há mais de<br />
dois meses o frigorífico vem dando<br />
sinais de falência e os patrões<br />
estão enrolando os trabalhadores,<br />
que são constantemente mandados<br />
para casa por não ter matéria-prima<br />
para trabalhar.<br />
Apenas recentemente os trabalhadores<br />
tiveram conhecimento<br />
sobre a venda do frigorífico<br />
Bom Charque para o grupo Margem<br />
S/A.<br />
A notícia sobre a demissão em<br />
massa dos trabalhadores do Bom<br />
Charque e o fechamento da fábrica<br />
foi anunciada apenas na<br />
sexta-feira pelos patrões. Após a<br />
realização dos protestos e a dispersão<br />
da maioria dos trabalhadores,<br />
os patrões chamaram os<br />
representantes do sindicato para<br />
uma reunião dentro da empresa,<br />
onde informaram sobre o fechamento<br />
da unidade e os planos de<br />
arrendamento da mesma, para<br />
outro grupo, chamado de Arantes<br />
Alimentos.<br />
Este grupo está arrendando<br />
inúmeras fábricas por todo o país,<br />
como o antigo Mozaquatro, em<br />
Fernandópolis, do interior de São<br />
Paulo, no último dia 3 de setembro.<br />
O grupo Arantes Alimentos<br />
fazia parte do antigo frigorífico<br />
Alta, que em 2005 também em<br />
processo de falência arrendou<br />
várias de suas unidades de Goiás,<br />
Mato Grosso e interior de São<br />
Paulo para o mesmo grupo Margem.<br />
Em 2007, o grupo Arantes<br />
também foi denunciado pela Secretaria<br />
do Estado da Fazenda por<br />
sonegação de impostos e por oferecer<br />
propina a um fiscal do<br />
ICMS. O caso, que foi investigado<br />
pela Delegacia Especializada<br />
de Polícia Fazendária do Mato<br />
Grosso, resultou na prisão de um<br />
dos representantes do frigorífico,<br />
Lauro Cunha Guimarães Junior,<br />
que responde a um Inquérito<br />
Policial pelos crimes de ameaça,<br />
cárcere privado, corrupção ativa<br />
e constrangimento legal.<br />
Na reunião com os representantes<br />
do sindicato, os patrões do<br />
Bom Charque alegaram cinicamente<br />
que o arrendamento da<br />
fábrica resolveria os problemas<br />
do grupo Margem, mas não dos<br />
trabalhadores, uma vez que afirmaram<br />
não ter dinheiro e não<br />
deram qualquer prazo para o<br />
pagamento dos salários atrasados<br />
e do depósito do Fundo de Garantia.<br />
Os patrões querem apenas resolver<br />
os seus problemas, sem<br />
levar minimamente em consideração<br />
o interesse dos trabalhadores.<br />
Enquanto fazem todo tipo de<br />
escândalos, trocando o nome da<br />
empresa com o objetivo de dar<br />
calote no mercado e abafar toda<br />
espécie de irregularidades em que<br />
estão envolvidos, os trabalhadores<br />
correm sérios riscos de não<br />
receberem seus salários, são sonegados<br />
o FGTS (Fundo de Garantida<br />
Por Tempo de Serviço),<br />
verbas rescisórias, etc.<br />
Por isso, o sindicato estará<br />
todos os dias desta semana na<br />
porta da fábrica, com boletins,<br />
faixas, carro de som, convocando<br />
todos os trabalhadores e seus<br />
familiares para unificar a luta das<br />
duas fábricas para, na próxima segunda-feira,<br />
dia 22, realizar uma<br />
grande manifestação no centro de<br />
São Paulo, junto ao Ministério Público,<br />
para exigir que sejam cumpridas<br />
as Leis Trabalhistas e que<br />
os trabalhadores recebam seus<br />
salários e seus direitos.<br />
Vamos pressionar o poder<br />
público para fazer com que os<br />
patrões caloteiros paguem tudo<br />
METALÚRGICOS ABC<br />
Metalúrgicos de auto-peças iniciam greve no ABC<br />
Depois de tentativas de acordo<br />
entre o sindicato e as empresas<br />
para tentar barrar a tendência<br />
grevista dos trabalhadores,<br />
como foi feito na semana passada<br />
com as montadoras, os<br />
metalúrgicos do setor de autopeças<br />
aprovaram em assembléia,<br />
no último dia 12, greve por<br />
tempo indeterminado. As empresas<br />
do grupo 3 (autopeças,<br />
forjarias e parafusos) não aceitaram<br />
a proposta de aumento<br />
salarial de 11,01% sendo 3,6%<br />
de aumento real e mais abono,<br />
diferente do que havia acontecido<br />
com as montadoras.<br />
Diante disso, os metalúrgicos<br />
do grupo 3 aprovaram a<br />
greve por tempo indeterminado<br />
a partir já do último turno da<br />
sexta-feira, 12. Somente o grupo<br />
3 representa uma base de 22<br />
mil trabalhadores parados, que<br />
só voltarão ao trabalho caso os<br />
patrões ofereçam o mesmo reajuste<br />
salarial obtido no grupo<br />
das montadoras. Por enquanto,<br />
as empresas do grupo 3 só ofereceram<br />
7,17% de reposição da<br />
inflação e 3% de aumento real,<br />
totalizando 10,4%, mas sem o<br />
abono. As montadoras aceitaram,<br />
na semana passada, proposta<br />
de aumento de 11,01%<br />
mais abono de R$ 1.200, o que<br />
fez a diretoria do Sindicato dos<br />
Metalúrgicos do ABC defender<br />
o fim da campanha salarial para<br />
o grupo das montadoras, o<br />
maior da categoria. A interrupção<br />
da campanha salarial e das<br />
paralisações dos trabalhadores<br />
das montadoras serviu para<br />
o que devem aos trabalhadores,<br />
sem deixar um único centavo<br />
para trás.<br />
Os trabalhadores sabem que<br />
apenas com a sua mobilização é<br />
que podem conseguir fazer valer<br />
os seus direitos.<br />
Exigimos:<br />
enfraquecer o restante da categoria<br />
que ainda não havia chegado<br />
em acordo.<br />
A entrada do grupo 3 em greve<br />
por tempo indeterminado é<br />
uma mostra da enorme tendência<br />
de luta entre os metalúrgicos.<br />
Essa tendência está relacionada<br />
com o crescimento da inflação<br />
no Brasil e em todo o mundo, o<br />
aumento conseguido pelas montadoras,<br />
apesar de ser o maior<br />
índice de aumento real obtido<br />
entre todas as campanhas salariais,<br />
vai ficar bem abaixo da inflação<br />
em um curto período de<br />
tempo. Essa situação deve acirrar<br />
ainda mais a luta dos metalúrgicos<br />
com as empresas e a<br />
própria burocracia sindical, já<br />
que as campanhas são bianuais<br />
depois de acordo entre as duas<br />
partes. É necessário, em todas<br />
as categorias de trabalhadores,<br />
exigir reposição trimestral de salários.<br />
Na assembléia foi ainda aprovado<br />
que as empresas que quiserem<br />
negociar separadamente<br />
com o sindicato poderão fazer.<br />
Essa é outra manobra para enfraquecer<br />
os trabalhadores, já que<br />
pode haver divisão dos trabalhadores<br />
que aderem à greve, já que<br />
à medida em que vão se firmando<br />
os acordos haverá pressão das<br />
empresas para que os trabalhadores<br />
retornem às fábricas. Foi o<br />
que acabou acontecendo.<br />
Há um esforço para acabar<br />
com a mobilização. No domingo,<br />
dia 14, as empresas do grupo 3<br />
procuraram o sindicato para a retomada<br />
das negociações para<br />
1) O imediato pagamento de<br />
todos os salários atrasados e da<br />
cesta básica;<br />
2) Depósito do Fundo de<br />
Garantia atrasado;<br />
3) Pagamento das verbas<br />
rescisórias;<br />
4) Comissão de fábrica.<br />
tentar evitar a greve por tempo<br />
indeterminado.<br />
O sindicato cedeu e em nota<br />
enviada à imprensa afirmou que<br />
os trabalhadores dessas empresas<br />
que se reuniram com o sindicato<br />
voltariam ao trabalho na<br />
segunda, 15, até que os acordos<br />
fossem discutidos. Somente o<br />
Sindipeças (Sindicato Nacional<br />
da Indústria de Componentes<br />
para Veículos Automotores)<br />
não participou da reunião e os<br />
acordos serão fechados separadamente.<br />
Nesta terça-feira, 16, foram<br />
apresentados os balanços das<br />
negociações em separado à categoria.<br />
Ainda assim não houve<br />
acordo e finalmente, no dia 17<br />
os trabalhadores do grupo 3 iniciaram<br />
a greve. Porém, novas<br />
negociações, já no primeiro dia<br />
de greve, resultaram em sete<br />
acordos fechados entre o sindicato<br />
e as empresas.<br />
O quadro mostra que há uma<br />
enorme tendência grevista entre<br />
os operários metalúrgicos de<br />
todo o País. No entanto, a atuação<br />
do sindicato, dominado<br />
pela Articulação do PT, foi de<br />
enterrar a campanha salarial dividindo<br />
os trabalhadores; primeiro<br />
aceitando o acordo com<br />
o principal grupo da categoria,<br />
o das montadoras, isolando os<br />
grupos que ainda não haviam<br />
conseguido sequer a reposição<br />
de 11,01% e depois negociando<br />
com cada empresa do grupo<br />
3 separadamente para fazer<br />
evitar o desenvolvimento da<br />
greve.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA JUVENTUDE 13<br />
TAMBÉM NA USP<br />
A comédia eleitoral para diretor da FFLCH<br />
mostra que está na hora de organizar a luta pela<br />
maioria estudantil na maior universidade do país<br />
Nos dias 18 e 19 foram realizadas as chamadas<br />
“eleições” para o diretor da FFLCH (Faculdade de<br />
Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP: mais uma<br />
farsa visando envolver os estudantes que precisa ser<br />
denunciada<br />
A mais importante universidade<br />
do País é, também, uma<br />
das mais reacionárias e conservadoras<br />
do ponto de vista do<br />
regime interno e da burocracia<br />
que a controla.<br />
Não há na USP qualquer idéia<br />
nem mesmo de eleição do reitor<br />
ou de qualquer outro administrador.<br />
No Conselho Universitário<br />
da USP, a minoria de representantes<br />
discentes tem, mais que<br />
em todos os lugares, um papel<br />
mais que decorativo: servem<br />
apenas para criar uma tênue ilusão<br />
de democracia em uma universidade<br />
controlada pela direita.<br />
Isso se dá porque o controle<br />
da universidade pelos grupos<br />
políticos burgueses e aos interesses<br />
capitalistas é um dos<br />
maiores do País. Como os políticos<br />
da burguesia e os capitalistas<br />
não iriam cobiçar a mais<br />
importante universidade do<br />
país, com quase 100 mil integrantes<br />
e vários centros de<br />
pesquisa?<br />
A ditadura contra os estudantes<br />
é total. A reitoria da USP<br />
está processando estudantes<br />
que participaram da ocupação<br />
de maio do ano passado e impôs<br />
uma multa ao DCE por<br />
“danos ao patrimônio”.<br />
A função deste regime retrógrado<br />
e ditatorial é mater a universidade<br />
como um instrumento<br />
dos capitalistas e das camarilhas<br />
da burocracia universitária<br />
esmagando todo e qualquer<br />
movimento independente<br />
dos estudantes.<br />
Como são as<br />
“eleições” na<br />
FFLCH<br />
Tudo isso pode ser visto no<br />
processo de escolha do novo<br />
diretor de uma das maiores faculdades,<br />
a Faculdade de Filosofia,<br />
Letras e Ciências Humanas,<br />
de onde saiu a maioria dos<br />
ocupantes da reitoria no ano<br />
passado.<br />
Concorreram três professores<br />
graduados, Sandra Margarida<br />
Nitrini, das Letras, Osvaldo<br />
Coggiola, da História e<br />
Maria Arminda do Nascimento<br />
Arruda, das Ciências Sociais.<br />
Os estudantes e funcionários,<br />
párias dentro da universidade,<br />
logicamente não podem<br />
nem se apresentar como candidatos,<br />
privilégio reservado<br />
exclusivamente aos professores<br />
mais graduados.<br />
O máximo de democracia<br />
que a burocracia universitária<br />
conseguiu elaborar para respaldar<br />
o seu novo líder foi a realização<br />
de dois debates com os<br />
estudantes e funcionários e<br />
uma consulta pela internet aos<br />
estudantes sem qualquer valor<br />
deliberativo!<br />
A eleição para diretor da FFL-<br />
CH, que ocorreram a portas<br />
fechadas é decidida por uma<br />
ínfima minoria da comunidade<br />
universitária. No final, é a própria<br />
reitoria quem decide. A<br />
votação é feita por apenas duas<br />
centenas de membros de uma<br />
universidade de 15 mil estudantes,<br />
que irão definir uma lista<br />
tríplice, ou seja, três nomes dentro<br />
de um órgão completamente<br />
restritivo, a congregação da<br />
faculdade, para que ao final a reitora<br />
escolha um dentre os três<br />
mais cotados.<br />
Este processo acontece sem<br />
qualquer real participação estudantil.<br />
Quem decide são apenas<br />
os professores titulares da universidade.<br />
Trata-se de uma regime<br />
de funcionamento verdadeiramente<br />
medieval e uma sobrevivência<br />
sem retoques do<br />
regime militar.<br />
A Congregação, que é o órgão<br />
que escolhe como utilizar as<br />
verbas, logicamente com o consentimento<br />
da reitoria, é formado<br />
hoje por 82 membros, sendo<br />
que destes só cinco são estudantes<br />
(6%) e 3 funcionários<br />
(3,5%). O total de professores<br />
é de 74, ou seja, 90,5% do total!<br />
Só estes números servem<br />
para mostrar que a participação<br />
estudantil e dos funcionários é<br />
uma completa farsa, utilizada<br />
para dar uma aparência débil de<br />
democracia a um regime de ditadura<br />
contra os estudantes.<br />
Este órgão é ampliado durante<br />
as eleições para 196 membros<br />
colegiados com as diretorias<br />
de departamento e com os<br />
representantes discentes (estudantis)<br />
de cada curso.É um<br />
colégio eleitoral ao estilo do que<br />
havia na época da ditadura, programada<br />
para dar infalivelmente<br />
o mesmo resultado: a escolha<br />
do candidato do setor mais<br />
forte e mais direitista da burocracia<br />
universitária.<br />
Neste colegiado, de 196<br />
membros,13 são estudantes.<br />
São apenas 13 estudantes que<br />
representam os 15 mil e ainda<br />
sob o tacão da reitoria. Os estudantes,<br />
que são cerca de 80%<br />
dos integrantes da faculdade<br />
recebem menos de 10% dos<br />
votos, enquanto que os professores,<br />
uma ínfima minoria, recebem<br />
a quase totalidade dos<br />
votos.<br />
O resto dos estudantes, que<br />
são a imensa maioria da universidade<br />
em sua composição, não<br />
tem sequer direito a voto, mas<br />
apenas recebem o direito da diretoria<br />
da faculdade de participar<br />
de uma vergonhosa consulta<br />
eletrônica pela internet, um<br />
completo cinismo.<br />
É sobre este órgão de tipo<br />
monárquico, que é fruto de um<br />
estatuto que é uma sobrevivência<br />
da ditadura militar, que se<br />
ergue toda a estrutura de poder<br />
corrupta e carreirista da universidade.<br />
O significado das<br />
“eleições” na<br />
FFLCH<br />
A FFLCH é onde se concentra<br />
historicamente o centro nervoso<br />
do movimento estudantil<br />
na USP que, por sua vez, sempre<br />
foi o mais importante do<br />
país.<br />
Nas importantes lutas estudantis<br />
de 1968, o centro organizador<br />
do movimento estudantil<br />
em S. Paulo era a Faculdade<br />
de Filosofia e Letras, então<br />
situada à R. Maria Antônia.<br />
Nos anos das grandes mobilizações<br />
de 1977 a 1980, foram<br />
as faculdades de Ciências Sociais,<br />
Letras, História, Arquitetura<br />
e Comunicações que dirigiram<br />
o movimento.<br />
Nos últimos anos, todas as<br />
lutas estudantis tiveram como<br />
centro as unidades da FFLCH<br />
que chegaram a realizar um greve<br />
geral de 106 dias em 2002.<br />
A esquerda conciliadora do<br />
Bando dos Quatro, PT, PCdoB,<br />
Psol e PSTU, chamou os estudantes<br />
a participar da consulta<br />
via internet. O que significa<br />
isso? Significa dar uma cobertura<br />
“democrática” a um processo<br />
completamente antidemocrático.<br />
Significa apenas<br />
auxiliar a direita a ocultar a sua<br />
ditadura.<br />
Esta política que significa<br />
um atrelamento do movimento<br />
estudantil à direita da universidade<br />
fracassou completamente.<br />
O candidato apoiado pelo<br />
Bando dos Quatro, o professor<br />
da História, Osvaldo Coggiola,<br />
ganhou a consulta dos candidatos<br />
da burocracia mais tradicional<br />
por uns poucos votos e a<br />
participação dos estudantes na<br />
farsa ficou abaixo dos 10%<br />
mostrando a verdadeira tendência<br />
dos estudantes que, desta<br />
vez, é claramente de repúdio a<br />
esta comédia ditatorial.<br />
A participação desta esquerda<br />
pequeno-burguesa na eleição<br />
cumpre a função de conter<br />
a luta estudantil dentro da camisa<br />
de força estabelecida pela<br />
direita, como fazem tradicionalmente<br />
na USP e como fizeram<br />
na ocupação de 51 dias onde,<br />
em todos os momentos buscaram,<br />
com a ajuda da reitoria,<br />
acabar com a ocupação.<br />
O caráter da<br />
ditadura<br />
O diretor da FFLCH e a<br />
Congregação, como ocorre<br />
também na demais faculdades,<br />
é que tem a função de administrar<br />
as verbas que sempre<br />
faltam para a reforma<br />
estrutural e que tem desempenhado<br />
a função de reprimir<br />
duramente o movimento estudantil,<br />
tanto diretamente,<br />
como é nos casos dos processos<br />
de sindicâncias realizados<br />
por estes órgãos, como o controle<br />
sobre a alteração das estruturas<br />
do prédio que vem interditando<br />
os espaços dos estudantes,<br />
mas principalmente<br />
favorecendo a corrupção<br />
na universidade por impedir<br />
completamente qualquer participação<br />
e fiscalização dos<br />
estudantes.<br />
Vimos em vários casos<br />
como na UnB, na Unifesp, na<br />
Fundação Santo André que<br />
são estes órgãos e os governos<br />
unipessoais das reitorias<br />
que, ao restringir a uma ínfima<br />
participação dos estudantes<br />
nas universidades, impulsionam<br />
o desvio de verbas<br />
públicas para gastos pessoais<br />
dos mais altos cargos, como<br />
a figura do reitor, que é indicada<br />
pelo governador. Por<br />
conta do controle completo da<br />
universidade por seu setor<br />
mais conservador e mais atrelado<br />
ao Estado, os professores<br />
de alto cargo, a FFLCH,<br />
assim como inúmeras outras<br />
faculdades públicas, estão<br />
caindo aos pedaços, sem professores,<br />
sem salas de aula,<br />
sem criação de vagas, Com<br />
estudantes assistando a aulas<br />
no corredor, salas de aula<br />
inundadas pelos vazamentos<br />
etc.<br />
Os estudantes, que realizaram<br />
no ano passado a maior<br />
mobilização das últimas décadas<br />
na universidade, a ocupação<br />
da reitoria contra os decretos<br />
do governo de José<br />
Serra, decreto este que retirava<br />
completamente a autonomia<br />
das universidades, impondo<br />
o controle direto do<br />
Estado, e barraram parcialmente<br />
a investida do governo.<br />
No entanto, um obstáculo<br />
ficou mais claro no caminho<br />
dos interesses dos estudantes<br />
e de toda a população graças à<br />
luta. Este obstáculo, que é o<br />
poder autocrático atribuído<br />
aos professores, que em sua<br />
maioria compõem ou sustentam<br />
a burocracia universitária,<br />
para eleger reitor e diretores,<br />
controlar o conselho universitário<br />
e as congregações, para<br />
impor o sucateamento, ocorre<br />
no caso das Congregações<br />
em conjunto com o Conselho<br />
Universitário, controlado hoje<br />
em imensa maioria por professores<br />
que representam as fundações<br />
privadas. Este sistema<br />
ditatorial tem como função<br />
também impor o controle cada<br />
vez maior da universidade nas<br />
áreas de tecnologia dos grandes<br />
monopólios privados, atrelando<br />
o ensino das faculdades<br />
de ciências naturais e tecnologia<br />
aos interesses privados e liquidando,<br />
assim com o ensino,<br />
como estrangulando as humanidades<br />
com a falta de verbas.<br />
A luta estudantil, que se desenvolveu<br />
a partir da USP, em<br />
inúmeras ocupações por todo<br />
o País, tem deixado claro que<br />
o problema tem se concentrado<br />
cada vez mais na luta pelo<br />
poder na universidade, ou<br />
seja, pelo controle do conjunto<br />
da comunidade acadêmica<br />
do futuro da universidade.<br />
Os estudantes, que além de<br />
serem o setor mais progressista<br />
tanto por terem interesse<br />
direto na defesa da educação<br />
pública de qualidade, são<br />
o setor que não está diretamente<br />
atrelado ao estado e<br />
acima de tudo a maioria da comunidade<br />
acadêmica.<br />
A luta estudantil foi e é o<br />
motor fundamental de toda a<br />
Chamamos os estudantes a se manifestarem contra a ditadura das<br />
congregações e dos conselhos universitários, contra o cargo de reitor<br />
e a levantar o controle estudantil.<br />
luta dos que defendem o ensino<br />
público e o ensino simplesmente<br />
contra os capitalistas,<br />
os governos burgueses e,<br />
nos países atrasados como o<br />
Brasil, contra o imperialismo.<br />
Os estudantes da UnB, da<br />
Unifesp e da Fundação Santo<br />
André, em ocupações que<br />
aconteceram posteriormente à<br />
da USP derrubaram o reitor<br />
depois de escândalos que vieram<br />
à tona. Os estudantes da<br />
Unifesp se mobilizam neste<br />
momento contra a realização<br />
das eleições-farsa para a reitoria<br />
na qual já está sendo articulada<br />
a substituição do reitor<br />
corrupto Ulysses Fagundes<br />
Neto por um apadrinhado. Os<br />
estudantes, que realizam um<br />
acampamento em frente à reitoria,<br />
estão reivindicando o<br />
boicote às eleições e ao conselho<br />
universitário, reivindicando<br />
a maioria estudantil nos<br />
órgão da universidade com o<br />
governo tripartite. A composição<br />
do Conselho Universitário<br />
da Unifesp é de 70% de professores,<br />
15% de estudantes e<br />
15% de funcionários.<br />
A única maneira de defender<br />
uma mudança profunda<br />
nos rumos da universidade e<br />
de defender o ensino público<br />
contra a tentativa de acabar<br />
com a universidade pública é<br />
a defesa da maioria estudantil,<br />
ou seja, o voto proporcional<br />
e universal.<br />
Os últimos acontecimentos<br />
deixam claro que a ditadura<br />
do professores graduados<br />
tem a única e exclusiva função<br />
de garantir os interesses<br />
dos carreiristas e corruptos,<br />
dos capitalistas, do imperialismo<br />
e dos governos burgueses<br />
contra o ensino público.<br />
A política da<br />
esquerda<br />
Uma das justificativas mais<br />
cínicas apresentadas pela burocracia<br />
que impõe o sucateamento<br />
da universidade é a de<br />
que professores são a representação<br />
dos interesses da comunidade<br />
universitária pois<br />
permanecem nesta por toda a<br />
sua carreira.. Uma completa<br />
hipocrisia, uma vez que aos<br />
funcionários, que permanecem<br />
igualmente na comunidade<br />
acadêmica, é imposta uma<br />
ditadura semelhante. Esta caracterização<br />
que serve para<br />
justificar a imposição dos interesses<br />
de uma minoria e da<br />
parcela mais atrelada ao estado,<br />
e defender o sucateamento,<br />
que permaneceu inclusive<br />
após a ocupação da reitoria<br />
em 2007, que tinha como uma<br />
das reivindicações o repasse<br />
de verbas para reformas dos<br />
prédios, moradia, entre outras<br />
reivindicações estruturais.<br />
O direito divino dos professores<br />
a controlar a universidade<br />
serve como pano de<br />
fundo ideológico para conter<br />
a manifestação do setor mais<br />
independente do Estado e do<br />
carreirismo universitário e<br />
por isso mais combativo, sendo<br />
o único que tem como único<br />
interesse defender o ensino<br />
público e de qualidade para<br />
todos é, portanto, a representação<br />
natural dos interesses da<br />
classe <strong>operária</strong> e da maioria do<br />
povo em relação ao ensino.<br />
Para o estudante, a universidade<br />
não é uma carreira ou<br />
emprego. Seu interesse é o de<br />
obter o melhor estudo possível<br />
e o acesso à universidade<br />
no caso dos estudantes secundários.<br />
Reivindicar mais<br />
verbas, alocar estas verbas em<br />
função exclusivamente dos interesses<br />
da melhoria do ensino,<br />
democratizar o ensino para<br />
obter uma maior perspectiva<br />
de educação estes são os interesses<br />
naturais da maioria estudantil.<br />
Daí que o Estado tenha<br />
feito um regime universitário<br />
que retira aos estudantes<br />
todos os direitos.<br />
Este setor além de<br />
tudo é a imensa maioria<br />
da universidade e<br />
deveria se representar<br />
de maneira universal,<br />
ou seja, um estudante<br />
um voto.<br />
Já os professores,<br />
elegendo-se a estes<br />
mesmos como a representação<br />
dos interesses<br />
da universidade, encobrem<br />
a luta encarniçada<br />
por privilégios nos<br />
departamentos e que<br />
são estes que por terem<br />
medo de perderem os<br />
plenos privilégios, por<br />
começar pelos altos<br />
salários, o que ficou<br />
muito claro no ataque<br />
deste setor aos estudantes<br />
que realizaram no ano<br />
passado o maior movimento<br />
das últimas duas décadas. Somente<br />
uma minoria de professores<br />
que vê as possibilidades<br />
de carreira frustradas pela<br />
alta camada da burocracia e<br />
que recebem os salários mais<br />
baixos é que tendem a aderir<br />
à luta estudantil em momentos<br />
em que esta ganha intensidade.<br />
É isto que demonstra a experiência<br />
de todos os movimentos<br />
políticos na universidades.<br />
Os estudantes que realizaram<br />
a ocupação da reitoria, da<br />
qual participaram milhares de<br />
estudantes e que se deu de<br />
maneira a defender a universidade<br />
do ataque do governo<br />
que pretendia estabelecer o<br />
completo controle do Estado<br />
capitalista contra a autonomia<br />
da universidade, tem pela<br />
frente uma imensa barreira<br />
imposta para impedir a participação<br />
dos estudantes.<br />
O mais importante está em<br />
que os frutos desta ditadura<br />
dos professores sobre os estudantes<br />
está à vista de todos:<br />
destruição da universidade,<br />
entrega da universidade aos<br />
monopólios capitalistas, corrupção<br />
desenfreada, repressão<br />
ao movimento estudantil,<br />
regime de ensino que caberia<br />
melhor em uma prisão etc.<br />
A universidade está sufocando<br />
sob esta ditadura a ponto<br />
que o livre debate de idéias,<br />
a discussão política, a distribuição<br />
de panfletos, a colagem<br />
de cartazes é reprimida<br />
de maneira cada vez mais violenta.<br />
Este ambiente carcerário<br />
é completamente oposto<br />
a qualquer desenvolvimento<br />
cultural, do ensino, da discussão<br />
livre de idéia, ou seja,<br />
a próprio espírito da universidade.<br />
A luta estudantil que se desenvolveu<br />
a partir da ocupação<br />
da USP e faculdades em<br />
quase todos os estados e que<br />
permanece inclusive hoje em<br />
diversas universidades, evolui,<br />
a partir da luta contra todas<br />
estas arbitrariedades, para<br />
uma luta pelo poder da universidade,<br />
como se pode ver na<br />
queda de três reitores, o da<br />
Fundação Santo André, Odair<br />
Bermelho; da UnB, Timothy<br />
Mulholland e agora da Unifesp,<br />
Ulysses Fagundes Neto.<br />
Nesta última, particularmente,<br />
fica claro que os estudantes,<br />
que rejeitaram, mesmo<br />
com a queda do reitor, as eleições<br />
farsa para por meio do<br />
conselho universitário para<br />
eleger um apadrinhado da reitoria<br />
corrupta pelos mesmos<br />
moldes ditatoriais, onde os estudantes<br />
sequer têm voz. Ali<br />
onde os estudantes são 15%<br />
do conselho universitário, os<br />
funcionários são 15% e os<br />
professores são 70%, há uma<br />
ampla mobilização dos estudantes<br />
em um acampamento<br />
em frente à reitoria em um<br />
movimento pelo qual os estudantes<br />
reivindicam maioria<br />
estudantil no Conselho Universitário,<br />
contra a tentativa<br />
da universidade de impor, em<br />
contraposição a paridade, que<br />
é um invólucro para a mesma<br />
farsa.<br />
A luta pelo boicote às eleições<br />
farsa, chamada pelos elementos<br />
que foram o núcleo de<br />
todas as lutas da Unifesp durante<br />
um ano, é um marco histórico<br />
na luta dos estudantes<br />
brasileiros em geral contra a<br />
ditadura da burocracia universitária,<br />
instrumento dos<br />
capitalistas e dos governos<br />
burgueses.<br />
A política da<br />
esquerda<br />
pequenoburguesa<br />
de<br />
sustentação da<br />
ditadura burguesa<br />
dentro da<br />
universidade<br />
Em todas as universidades,<br />
a política da esquerda burguesa<br />
e pequeno-burguesa do<br />
Bando dos Quatro, PT,<br />
PCdoB, PSTU e Psol, tem sido<br />
a de participar do regime ditatorial<br />
na universidade, propondo,<br />
como isca para os estudantes,<br />
mudanças puramente<br />
formais no regime universitário.<br />
Estas mudanças estão representadas<br />
pela sua reivindicação<br />
de “paridade na eleição<br />
para reitor”, ou seja, na reivindicação<br />
de um regime eleitoral<br />
antidemocrático controlado<br />
pelos professores.<br />
Esta reivindicação mostra<br />
com clareza que a esquerda é<br />
parte da burocracia universitária,<br />
uma parte minoritária,<br />
que busca atrelar os estudantes<br />
ao regime burguês e ditatorial<br />
da universidade para<br />
aumentar o seu poder na luta<br />
contra a parcela majoritária da<br />
burocracia, ligada aos setores<br />
do grande capital.<br />
Que se trata de uma política<br />
que dá sustentação ao regime<br />
pode-se ver pelo fato de<br />
que a esquerda é partidária de<br />
todas estas eleições de comédia<br />
considerando a simples<br />
existência de tais eleições<br />
como uma grande conquista<br />
democrática.<br />
l:No caso da FFLCH o processo<br />
“eleitoral” só tem o sentido<br />
de disfarçar a escolha<br />
pré-estabelecida da maioria<br />
da burocracia universitária,<br />
uma vez que a a influência dos<br />
estudantes, funcionários e<br />
inclusive da maioria dos professores.<br />
A participação da esquerda<br />
na eleição, chamando os estudantes<br />
a votar em uma farsa<br />
tão grotesca indica que buscam<br />
atrelar o movimento de<br />
ocupação às instituições reacionárias<br />
da universidade<br />
para respaldar seus propósitos<br />
dentro do aparelho reacionário.<br />
Esta política deve ser amplamente<br />
repudiada, em particular<br />
pelo local onde ocorre.<br />
Para que o movimento estudantil<br />
seja vitorioso precisa<br />
romper completamente com a<br />
burocracia burguesa e ditatorial<br />
da universidade. Para<br />
romper com a burocracia e os<br />
governos é preciso romper<br />
completamente com a política<br />
burguesa e pequeno-burguesa<br />
do PT, PCdoB, PSTU e<br />
Psol.<br />
Abaixo a ditadura,<br />
por um governo<br />
democrático da<br />
universidade com<br />
a maioria<br />
estudantil<br />
O novo líder da burocracia da<br />
FFLCH foi escolhido pelos Conselhos<br />
Departamentais e pela<br />
Congregação da Faculdade,<br />
onde os professores contam<br />
com a quase totalidade dos votos<br />
sem qualquer interferência<br />
dos estudantes que, em número<br />
irrisório, referendaram a farsa<br />
e deram um cheque em branco<br />
para a Congregação da FFLCH<br />
escolher o candidato da maioria<br />
da burocracia.<br />
Está mais do que claro que o<br />
movimento estudantil da USP<br />
deve repudiar energicamente<br />
esta farsa grotesca que é uma<br />
miniatura do processo ditatorial<br />
com que toda a universidade<br />
é dirigida.<br />
Os estudantes devem reivindicar<br />
a eleição de todos os órgãos<br />
dirigentes, o governo tripartite,<br />
a maioria estudantil e a<br />
completa autonomia da universidade.<br />
A USP deve ser um terreno<br />
privilegiado para a luta para derrubar<br />
a ditadura que impera em<br />
todas as universidades do País<br />
e deve estar na dianteira desta<br />
luta como esteve em todos os<br />
momentos cruciais da vida política<br />
do país desde os anos 40.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA JUVENTUDE 14<br />
ACAMPAMENTO UNIFESP<br />
A farsa da unidade com os professores<br />
serve apenas como freio à luta estudantil<br />
A assembléia comunitária realizada na última semana<br />
deixa claro que não há como fazer uma unidade com os<br />
professores nos termos que eles querem. Os professores<br />
são base de sustentação da atual ditadura<br />
UNIFESP<br />
Cresce a campanha<br />
pelo boicote às<br />
eleições-farsa<br />
Os estudantes da Unifesp, em<br />
uma decisão que há muito não se<br />
via, decidiram boicotar as “eleições”,<br />
ou seja, a farsa eleitoral,<br />
para reitor da Unifesp.<br />
Na Unifesp, os estudantes e<br />
funcionários não podem apresentar<br />
candidatos, “votam” em<br />
um reitor e o seu voto somente<br />
valerá 15% do total, enquanto<br />
que o dos professores valerá<br />
70%.<br />
Mas isso não é tudo. Depois<br />
de “eleito” o reitor, esta eleição<br />
A questão do papel dos professores<br />
na universidade precisa<br />
ser debatida e esclarecida.<br />
Não dá para se confundir<br />
e os ver como aliados. Os professores,<br />
que inclusive são os<br />
únicos que podem se tornar<br />
reitor dentro do atual sistema,<br />
possuem inúmeros privilégios.<br />
Os professores são mais<br />
de 85% do Conselho Universitário<br />
(Consu), maior instância<br />
deliberativa da instituição.<br />
Dos 130 membros do Consu,<br />
111 são professores. A representação<br />
estudantil é composta<br />
por cinco alunos de graduação.<br />
Há também quatro representantes<br />
de pós-graduação<br />
e de três residentes, que na<br />
verdade estão mais vinculados<br />
aos professores que às necessidades<br />
da grande maioria dos<br />
estudantes. Ainda na representação<br />
dos funcionários são<br />
set,e “sendo no mínimo dois<br />
de nível superior.” § 3º - Seção<br />
I - Do Conselho Universitário<br />
do Estatuto da Unifesp.<br />
A chamada pela burocracia<br />
estudantil e universitária da<br />
assembléia comunitária realizada<br />
no dia 9 (terça-feira) foi<br />
a prova cabal de que é inviável<br />
uma unidade com os professores.<br />
Os professores procuram<br />
atacar de forma histérica<br />
para desmoralizar os estudantes<br />
em luta. Deram uma<br />
clara demonstração de que não<br />
são solidários à reivindicação<br />
e, muito menos, que querem<br />
uma mudança na estrutura da<br />
universidade.<br />
Os professores desde as<br />
primeiras denúncias de corrupção<br />
do ex-reitor apoiaram<br />
de forma quase incondicional<br />
é desconsiderada completamente<br />
e o Conselho Universitário,<br />
onde há também 70% de professores,<br />
“elege” uma lista tríplice<br />
que é enviada ao governo federal.<br />
Lula, que é o único eleitor real,<br />
escolhe o seu reitor.<br />
Para que a farsa?<br />
Para dar a pessoas como o<br />
defenestrado Ulisses Fagundes<br />
Neto, o apoio da comunidade<br />
universitária e dar a aparência de<br />
democracia ao processo mais<br />
Ulysses Fagundes Neto. Vale<br />
lembrar ainda que na comunidade<br />
universitária, são os professores,<br />
e apenas eles, que<br />
têm o poder de votar e de serem<br />
votados para os altos cargos,<br />
os únicos que de fato têm<br />
algum poder.<br />
O Conselho Universitário é<br />
uma fachada que, embora muito<br />
pouco democrática, encobre<br />
uma ditadura muito pior,<br />
que é a do governo federal e a<br />
indicação do reitor por Lula.<br />
Os professores são o setor<br />
mais atrelado ao estado e os<br />
que possuem os maiores privilégios<br />
na universidade. O<br />
próximo reitor que a burocracia<br />
universitária quer rapidamente<br />
eleger também é um<br />
professor.<br />
E em toda a história das universidades<br />
brasileiras estiveram<br />
no comando. São os responsáveis<br />
pelo atual regime e<br />
apóiam e dão sustentação a ele.<br />
Fica provado de forma concreta<br />
que não são capazes de<br />
garantir a autonomia da universidade,<br />
nem ao menos a<br />
antidemocrático que existe no<br />
país inteiro.<br />
Por isso, a luta dos estudantes<br />
contra as eleições e a favor<br />
do boicote não pára de crescer.<br />
Foi distribuído um manifesto e<br />
vários outros materiais estão<br />
sendo publicados.<br />
É preciso discutir esta questão<br />
com os estudantes e fazer<br />
com que a maioria dos estudantes<br />
não vá votar, reivindicando<br />
um novo regime de funcionamento<br />
da universidade.<br />
MOBILIZAÇÃO<br />
Funcionários denunciam favores<br />
entre sindicato e reitoria<br />
O acampamento em frente<br />
à reitoria têm servido como<br />
base de denúncias tanto de estudantes<br />
quanto de funcionários.<br />
Nestas semanas, vários funcionários<br />
se aproximaram dos<br />
estudantes para denunciar a<br />
corrupção da diretoria do sindicato<br />
e reitoria.<br />
Ao longo desses dias, funcionários<br />
se aproximaram do<br />
acampamento dos estudantes<br />
para denunciar as falcatruas do<br />
sindicato e outras arbitrariedades<br />
da reitoria.<br />
Os escândalos de corrupção<br />
do ex-reitor da Unifesp, Ulysses<br />
Fagundes Neto, esclareceram<br />
que a origem dos principais<br />
problemas da universidade é a<br />
maneira em que o poder da universidade<br />
é estruturado. Hoje o<br />
Conselho Universitário é dominado<br />
por uma minoria de professores<br />
que administram a universidade<br />
conforme seus próprios<br />
interesses e de outros<br />
grupos, como é o caso da diretoria<br />
do Sintunifesp (Sindicato<br />
dos funcionários da Unifesp),<br />
diretoria esta que esteve totalmente<br />
atrelada à reitoria de<br />
Ulysses.<br />
Nos próximos dias ocorrerão<br />
as eleições para o Sintunifesp,<br />
e foi justamente agora,<br />
com a movimentação que toda<br />
eleição provoca e a mobilização<br />
dos estudantes, que funcionários<br />
se sentiram à vontade para<br />
denunciar a atuação de seus “representantes”.<br />
A atual diretoria se vendeu<br />
por completo em suas duas<br />
gestões, e agora estão desesperados<br />
diante da oposição da própria<br />
base para tentar se eleger<br />
novamente. A primeira manobra<br />
foi abrir as inscrições individuais,<br />
ou seja, não se é apresentado<br />
nenhum programa para<br />
o sindicato, mas nomes conhecidos.<br />
Segundo os funcionários que<br />
se aproximaram do acampamento<br />
e vem apoiando os estudantes,<br />
este sindicato não representa<br />
a categoria, sendo seu<br />
único interesse o de, assim<br />
como o reitor, usar da entidade<br />
para atender seus próprios interesses.<br />
“Zezinho”, representante da<br />
categoria no Consu, também<br />
conhecido como “Zezinho Pelego”<br />
entre os funcionários, é<br />
quem denuncia os estudantes e<br />
funcionários em reuniões do<br />
Conselho. Sua proximidade<br />
com o reitor é tamanha que<br />
possui mais da metade de seus<br />
familiares “contratados” pela<br />
universidade.<br />
Os funcionários chegaram a<br />
denunciar que durante campanhas<br />
passadas que chamavam<br />
o “voto nulo” para as eleições do<br />
Sintunifesp, membros da gestão<br />
arrancavam seus cartazes,<br />
faziam chantagens psicológicas<br />
e se aliavam aos seguranças<br />
que, em alguns momentos, chegaram<br />
a ameaçar funcionários<br />
com revólveres.<br />
As principais figuras que<br />
procuram articular a base contra<br />
essa diretoria corrupta são<br />
ameaçadas o tempo todo. Alguns<br />
foram parar na psiquiatria<br />
por <strong>causa</strong> das chantagens psicológicas.<br />
Em troca disso, a<br />
diretoria do sindicato recebe<br />
privilégios da reitoria, como<br />
bolsa de estudos, a liberdade de<br />
trabalhar menos horas por semana<br />
e receber o dobro do que<br />
os demais servidores, além de<br />
transferência para outros setores<br />
etc.<br />
A atual gestão, que está totalmente<br />
de acordo com a reitoria,<br />
foi a responsável pela perda de<br />
direitos básicos dos trabalhadores<br />
da universidade, como a<br />
cesta básica e a cesta de natal.<br />
Além de não ter denunciado a<br />
reitoria acerca dos holerites que<br />
apresentavam duplo vínculo<br />
dos funcionários.<br />
Conceição, uma das diretoras<br />
do Sintunifesp, chegou a<br />
gritar num ato dos estudantes<br />
em frente ao Consu: “ -Seus<br />
oportunistas, na minha base<br />
vocês não irão mexer!” Ao<br />
mesmo tempo em que era protegida<br />
por um paredão de seguranças<br />
e entrava para a reunião<br />
do Conselho. O medo dela de<br />
“mexer” em sua base é devido<br />
à unidade que está sendo criada<br />
entre um setor ativo do movimento<br />
estudantil presente no<br />
acampamento e a oposição dos<br />
servidores.<br />
A atitude dos estudantes em<br />
acampar em frente à reitoria foi<br />
um espaço aberto para que os<br />
funcionários começassem a se<br />
articular também contra a maneira<br />
em que a universidade<br />
vem sendo conduzida. Em uma<br />
reunião entre funcionários e estudantes,<br />
com representantes<br />
dos funcionários, independentes<br />
do sindicato, aderiram à<br />
campanha pelo Boicote às Eleições<br />
e pelo Governo Tripartite<br />
proporcional, ou seja, com<br />
maioria estudantil.<br />
Somente uma mudança<br />
completa da estrutura de poder<br />
na universidade garantirá que<br />
suas reais necessidades sejam<br />
atendidas. Essa minoria de professores<br />
que controlam o Consu,<br />
controla também as entidades<br />
de representação, como é o<br />
caso do DCE e do Sintunifesp,<br />
que só conseguirão cumprir<br />
com seu papel quando a administração<br />
da universidade ficar<br />
sob os cuidados do setor menos<br />
vinculado a burocracia do Estado,<br />
ou seja, dos estudantes.<br />
A luta pelo Governo Tripartite<br />
com maioria estudantil deve<br />
ser em conjunto com os estudantes<br />
para que se faça uma<br />
frente contra toda a corja corrupta<br />
que utiliza do dinheiro<br />
destinado a saúde e educação<br />
para outros fins.<br />
A melhor infra-estrutura para<br />
o hospital, melhores condições<br />
de trabalho e um sindicato que<br />
realmente represente sua categoria<br />
só será possível quando<br />
estudantes, funcionários e professores<br />
participarem, de maneira<br />
proporcional, efetivamente<br />
da administração da universidade.<br />
As eleições para reitor, mais<br />
do qualquer outra, são uma farsa<br />
total. As eleições são apenas<br />
consultivas, ou seja, o resultado<br />
da votação é submetido ao<br />
veto do presidente da república<br />
e quem escolhe no final, independente<br />
das votações, é o<br />
Lula. E é considerando isso que<br />
os funcionários devem aderir à<br />
campanha que os estudantes<br />
estão puxando pelo boicote às<br />
eleições.<br />
qualidade de ensino e infra-estrutura.<br />
Desta maneira fica inviável<br />
manter a reivindicação estudantil<br />
e manter uma unidade<br />
com os professores.<br />
Unidade nesses termos, no<br />
que eles querem e em defesa<br />
de interesses próprios significa<br />
apenas a subordinação de<br />
estudantes e funcionários aos<br />
professores que já dominam a<br />
universidade, para que continuem<br />
dominando.<br />
Sem maioria<br />
estudantil,<br />
predomina quem<br />
tem força<br />
A proposta de uma Assembléia<br />
Comunitária para administrar<br />
a universidade é um<br />
abandono total da proposta de<br />
mudar o regime da universidade<br />
para uma reforma, que<br />
manterá tudo como está.<br />
Pela experiência dos estudantes<br />
na Unifesp e em todas<br />
as universidades do País e do<br />
mundo, fica claro que para<br />
mudar a administração da universidade<br />
é necessário quebrar<br />
o poder dos professores.<br />
Uma suposta “assembléia<br />
comunitária” ainda aprovaria<br />
as propostas quem tem aparelho<br />
e maior ligação com o estado.<br />
E ainda, como foi comprovado<br />
com a “assembléia<br />
comunitária” realizada na Unifesp<br />
que os professores se<br />
sentem a vontade para tripudiar<br />
os estudantes e suas reivindicações<br />
e ainda perseguir<br />
os alunos que se opuserem<br />
frontalmente às arbitrariedade<br />
e a posição dos professores.<br />
Os professores mais progressistas<br />
e que estão fora<br />
desta verdadeira máfia e também<br />
reivindicam a autonomia<br />
da universidade ou até uma<br />
maior democracia dentro da<br />
Acamamento de estudantes da Unifesp pelo boicote às<br />
eleições para reitor e por um governo dos três setores com<br />
maioria estudantil.<br />
mesma, não têm força contra<br />
a maioria direitista e só apoiando<br />
a luta dos estudantes e<br />
funcionários poderão alcançar<br />
seus objetivos.<br />
PELO PODER ESTUDANTIL NAS UNIVERSIDADES:<br />
Ampliar a mobilização e o<br />
acampamento na Unifesp<br />
Os estudantes da Unifesp<br />
mostram o caminho a ser seguido<br />
pelos estudantes em todo o<br />
País para superação da crise nas<br />
universidades.<br />
Os estudantes da Unifesp estão<br />
acampados em frente à reitoria<br />
há três semanas pela mudança<br />
profunda no regime da universidade<br />
que promove uma verdadeira<br />
catástrofe no ensino superior.<br />
Os estudantes reivindicam um<br />
governo tripartite e proporcional<br />
com maioria estudantil, único<br />
setor capaz de imprimir uma nova<br />
vida à universidade.<br />
O acampamento está na terceira<br />
semana e o acúmulo de discussão<br />
e a incorporação de novos estudantes<br />
e funcionários na defesa do<br />
boicote às eleições e pelo governo<br />
tripartite mostra que a mobilização<br />
é o correto a ser feito.<br />
Nesta semana a comissão de<br />
mobilização do acampamento<br />
realizou grupos de discussão<br />
MOBILIZAÇÃO ESTUDANTIL<br />
Veja material de campanha pelo<br />
boicote às eleições para reitor<br />
Nesta semana será lançado<br />
o adesivo da Campanha pelo<br />
boicote às eleições para reitor.<br />
A mobilização dos estudantes<br />
da Unifesp é uma<br />
questão de todo o movimento<br />
estudantil que é de<br />
mudança na estrutura de<br />
poder nas universidades. É<br />
necessário ampliar a campanha<br />
contra as eleiçõesfarsa<br />
para reitor divulgando<br />
com a impressão de<br />
cartazes e adesivos, dando<br />
maior cobertura e tornando<br />
público o urgente<br />
protesto contra a ditadura<br />
da burocracia<br />
universitária, que reprime<br />
e exclui a maioria<br />
e menos vinculada<br />
ao estado e privilégios<br />
das decisões<br />
na universidade. Os<br />
estudantes acampados<br />
fizeram também<br />
um blog com<br />
as informações<br />
do acampamento<br />
e de toda a mobilização.<br />
sobre a estrutura de poder na<br />
universidade e em que as conseqüências<br />
que vive a universidade<br />
como resultado da forma ditatorial<br />
que ela é hoje em Diadema,<br />
Santos, Guarulhos e São Paulo,<br />
no acampamento.<br />
O campus de Diadema discutiu<br />
também o problema que enfrentam<br />
de falta de laboratório na<br />
faculdade.<br />
O acampamento mostra que<br />
são os estudantes e não os professores<br />
que tomam para si a<br />
tarefa de mudar a universidade.<br />
A experiência do último período<br />
de lutas demonstrou acima de<br />
dúvidas que foram os estudantes,<br />
e não os professores ou os<br />
funcionários que levaram à frente<br />
as grandes mobilizações de<br />
2007 e agora de 2008, que defenderam<br />
a USP do ataque promovido<br />
pelo governo do Serra/<br />
PSDB contra a sua autonomia,<br />
que derrubaram o corrupto reitor<br />
Timothy Mulholland na UnB,<br />
Na última<br />
semana, a<br />
comissão de<br />
mobilização do<br />
Acampamento<br />
dos estudantes da<br />
Unifesp<br />
organizou um<br />
blog com as<br />
informações da<br />
luta que estão<br />
travando contra a<br />
burocracia<br />
universitária e<br />
pela mudança na<br />
estrutura de poder<br />
da universidade.<br />
que enfrentaram Fagundes Neto<br />
a uma situação insustentável que<br />
resultou em sua renúncia e que<br />
ameaçam todos os corruptos de<br />
verem suas reitorias ocupadas<br />
em defesa da universidade pública<br />
em todo o País.<br />
A defesa de um governo tripartite<br />
e proporcional, com maioria<br />
estudantil para a administração da<br />
universidade é a única via para a<br />
preservação das próprias universidades<br />
A pressão pela privatização da<br />
educação superior no Brasil se<br />
expressa no corte das verbas e,<br />
em geral, na situação decadente<br />
das instituições que vivem às<br />
voltas com inúmeros problemas<br />
de infra-estrutura.<br />
Os estudantes da Unifesp devem<br />
fortalecer e ampliar o único<br />
foco de resistência à total bandalheira<br />
que a burocracia universitária<br />
quer restabelecer, que é o<br />
acampamento e organizar o boicote<br />
às eleições que irá desmoralizar<br />
completamente esta farsa.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA JUVENTUDE 15<br />
ACAMPAMENTO UNIFESP<br />
Não à punição dos estudantes que estão em<br />
luta para derrotar a ditadura na universidade<br />
A sindicância contra os estudantes que ocuparam a<br />
reitoria é para tentar calar os que se opõem às eleiçõesfarsa<br />
e querem acabar com este regime de corrupção<br />
e ditadura da burocracia universitária<br />
Nesta segunda-feira, cerca de<br />
dez estudantes da Unifesp (Universidade<br />
Federal do Estado de<br />
São Paulo) receberam uma intimação<br />
para depor em uma comissão<br />
interna para apuração e punição<br />
pela ocupação da reitoria<br />
ocorrida em junho deste ano,<br />
contra o corrupto ex-reitor, Ulysses<br />
Fagundes Neto. Há ainda mais<br />
de vinte estudantes que participaram<br />
da ocupação da reitoria no dia<br />
14 de junho, após uma série de<br />
denúncias de desvio de verba,<br />
que serão intimados.<br />
A festa com o dinheiro da<br />
universidade de milhões do orçamento<br />
pôs às claras o porquê de<br />
não haver dinheiro para a biblioteca,<br />
restaurante universitário,<br />
professores e até internet, como<br />
no campus de São José dos Campos,<br />
no curso de Ciência da computação<br />
(!).<br />
Ação da covarde<br />
burocracia<br />
universitária<br />
A burocracia universitária que<br />
controla com mãos de ferro a universidade<br />
em defesa de seus privilégios,<br />
contra a maioria da comunidade<br />
acadêmica, quer atacar<br />
a mobilização dos estudantes que<br />
estão lutando pela mudança da<br />
estrutura da universidade.<br />
Esta é a segunda sindicância<br />
contra os estudantes que estão<br />
em luta em defesa da universidade<br />
pública, em um ano. Tudo<br />
para camuflar e tentar abafar a<br />
calamidade em que se encontra<br />
a instituição e o mar de lama em<br />
que estão todos envolvidos.<br />
O que está por trás<br />
da repressão<br />
A burocracia universitária da<br />
Unifesp está visivelmente em<br />
crise. O ex-reitor Fagundes Neto<br />
teve que renunciar ao cargo,<br />
tamanha a desmoralização e crise<br />
institucional.<br />
Agora, os cúmplices da bandalheira<br />
querem desesperadamente<br />
realizar o novo processo<br />
eleitoral e colocar um novo “Fagundes”<br />
no controle da universidade.<br />
No entanto, está claro<br />
que não é um problema pessoal<br />
e sim de sistema estabelecido na<br />
universidade, em que o reitor tem<br />
um poder quase monárquico,<br />
sustentado pelos professores,<br />
que também se beneficiam.<br />
Os estudantes, no entanto,<br />
não irão aceitar esta enganação,<br />
uma verdadeira operação-abafa<br />
com uma suposta eleição. Os estudantes<br />
querem de fato uma mudança<br />
na estrutura de poder das<br />
decisões administrativas, reivindicam<br />
uma verdadeira autonomia<br />
universitária com o autogoverno<br />
dos três setores proporcionalmente,<br />
ou seja, com maioria estudantil<br />
nos órgãos deliberativos<br />
da universidade.<br />
O acampamento está sendo<br />
realizado pelos estudantes desde<br />
o dia 25 de agosto, dia em que o<br />
reitor renunciou, e é a expressão<br />
material de toda a insatisfação dos<br />
estudantes e funcionários com a<br />
sua exclusão de todas as decisões<br />
da universidade.<br />
Há, por isso, uma operação<br />
clara da direita contra esta mobilização<br />
para tentar manter a ditadura<br />
dos professores titulares,<br />
que controlam mais de 85% do<br />
Conselho Universitário, procurando<br />
dispersar os estudantes<br />
que estão criticando esta estrutura.<br />
Ameaçaram os estudantes<br />
que estavam em greve com retaliação<br />
acadêmica e agora tentam<br />
criar um clima de terror entre<br />
os estudantes ameaçando de<br />
punição com a expulsão. Querem<br />
reeditar a “lei da mordaça”, em<br />
que não se pode sequer criticar<br />
a forma de organização da universidade.<br />
Os estudantes não devem<br />
recuar na mobilização e integrar<br />
a campanha pelo boicote às eleições<br />
para reitor a defesa dos<br />
estudantes perseguidos pela desmoralizada<br />
e corrupta burocracia<br />
universitária.<br />
PERSEGUIÇÃO AO MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />
Sindicância na Unifesp: “recursos para<br />
conter nossa força e nosso potencial”<br />
O Causa Operária Notícias<br />
online, no acampamento dos<br />
estudantes da Unifesp, coletou<br />
depoimentos sobre o fato de a<br />
sindicância contra os estudantes<br />
que ocuparam a reitoria estar<br />
ocorrendo durante o acampamento<br />
que realiza a campanha<br />
pelo boicote às eleições para<br />
reitor e mudança na estrutura da<br />
universidade com o controle<br />
estudantil<br />
R. – Ciências<br />
Sociais, intimado<br />
para depor em<br />
Comissão<br />
Disciplinar,<br />
baseado no Código<br />
de ética da<br />
Unifesp.<br />
“Eu participei da ocupação da<br />
reitoria. O que a gente pode ver<br />
hoje estão tentando desmobilizar<br />
a gente de todas as formas.<br />
Querendo jogar o processo de<br />
depredação nas nossas costas,<br />
sendo que foram os policiais que<br />
quebraram tudo, onde eu estava<br />
chegaram quebrando xícaras,<br />
prato só para depois colocar a<br />
culpa em nós e desmobilizar o<br />
nosso movimento.<br />
“E ao invés de trazer o pessoal<br />
que está indo para as aulas para<br />
o acampamento, estão fazendo<br />
isso justamente para criminalizar<br />
os atos políticos e as manifestações<br />
contra a reitoria.<br />
“A partir do momento que<br />
chegou a polícia, eles estavam no<br />
controle, mas mesmo assim<br />
quiseram partir para a agressão.<br />
Gritar, dar tapa na cara. Na cozinha<br />
mesmo botaram o revolver<br />
na cabeça de um brother nosso.<br />
Fizeram “corredor polonês”.<br />
No caminho até a delegacia,<br />
dentro da viatura, jogaram spray<br />
de pimenta até chegar à delegacia.<br />
Fora o que meus outros amigos<br />
contam, coisas piores ainda<br />
do eu passei.<br />
Marcele,<br />
estudante do<br />
segundo ano de<br />
filosofia Unifesp<br />
Guarulhos<br />
“Primeiro a reitoria estava agindo<br />
como se nada estivesse acontecendo,<br />
como se o acampamento<br />
não estivesse significando nada.<br />
Só que na verdade significa porque<br />
os estudantes estão aqui mostrando<br />
que não estão contentes<br />
com tudo que está acontecendo.<br />
Agora eles abriram o processo de<br />
sindicância referente a ocupação<br />
que nós tentamos fazer na reitoria<br />
e eles estão caindo em cima dos<br />
estudantes, principalmente dos<br />
estudantes que estão acampados<br />
aqui . Eu acredito que o jogo político<br />
deles é esse agora. É a repressão<br />
vir para tentar desmobilizar<br />
o acampamento. Porque aqui<br />
nós estamos conseguindo mobilizar<br />
não só os estudantes como<br />
também os funcionários e isso<br />
está mexendo na ferida, porque<br />
além das denúncias, que já passaram<br />
na televisão e saíram no jornal<br />
e as reivindicações dos estudantes,<br />
os funcionários acharam<br />
um espaço para fazer as denúncias<br />
deles. E o negócio aqui é muito<br />
mais podre do que a gente achava<br />
e eles estão percebendo esta articulação<br />
e acho que isso deve estar<br />
deixando eles meio desesperados,<br />
principalmente por <strong>causa</strong> desta<br />
articulação com os funcionários.<br />
Então eles estão querendo desmobilizar<br />
o acampamento de qualquer<br />
forma. (...) Os seguranças ficam<br />
olhando, tentando achar alguma<br />
coisa para criminalizar o<br />
acampamento e esta sindicância<br />
caiu perfeita para eles. Na verdade,<br />
eles tinha deixado o negócio<br />
quieto, porque não tinham condições<br />
de fazer nada com tudo que<br />
estava acontecendo na reitoria. Só<br />
que agora com o acampamento,<br />
a gente está colhendo frutos desta<br />
mobilização eles estão caindo<br />
em cima.<br />
“Foi tirado um indicativo de<br />
ocupação numa assembléia em<br />
São Paulo com mais de 400 estudantes.<br />
A gente decidiu fazer<br />
esta ocupação, porque não é<br />
novidade para ninguém que os estudantes<br />
não têm poder de decisão<br />
no Conselho Universitário,<br />
não tem voz em lugar nenhum,<br />
se não for através da ação direta<br />
eles nunca vão prestar atenção no<br />
que a gente está falando, nunca<br />
vão parar para escutar estudante.<br />
Então acho que um dos principais<br />
instrumentos de luta dos<br />
estudantes é a ocupação da reitoria,<br />
onde você ataca o coração<br />
da administração da universidade<br />
e os caras são obrigados a<br />
parar e te escutar. Ou são repressores<br />
como na maioria dos casos,<br />
como foi o nosso caso aqui,<br />
que em vinte minutos, mandaram<br />
a polícia militar para invadir o<br />
prédio, coisa que não poderia<br />
porque o prédio é federal, mas a<br />
desculpa que deram é que o reitor<br />
estava no prédio da reitoria no<br />
momento da ocupação e detalhe<br />
é que a ocupação foi feita numa<br />
sexta-feira a uma hora da manhã,<br />
agora o que ele estava fazendo<br />
dentro da reitoria sabe-se lá.<br />
Detalhe também é que um dia<br />
antes a policia federal tinha vindo<br />
na universidade e levado coisas.<br />
Ele deveria estar lá dentro<br />
queimando o que sobrou. E realmente<br />
o reitor estava lá dentro,<br />
porque os estudantes do lado de<br />
fora viram a polícia tirando o reitor<br />
do prédio. O fato é que por<br />
isso, a polícia pode entrar no prédio<br />
e assim, não é novidade para<br />
ninguém que os caras são uns<br />
animais. Eles entraram, quebram<br />
tudo, bateram nos estudantes que<br />
estavam lá. Fizeram os estudantes<br />
ajoelharem nos cacos, quebravam<br />
a janela com a cabeça dos<br />
estudantes. Tortura mesmo rolou<br />
dentro da ocupação. Uma manifestação<br />
legítima dos estudantes<br />
e esta foi a atitude da polícia<br />
que eles tentam encobrir.<br />
“Em uma manifestação que fizemos<br />
aqui contra o Reuni na<br />
reunião do Conselho Universitário,<br />
que foi convocada de forma<br />
extraordinária para poder passar<br />
a questão do Reuni sem ninguém<br />
estar sabendo, decidimos fazer<br />
uma manifestação e exigir um diálogo.<br />
Nem era para que a universidade<br />
a partir daquele momento<br />
não aceitasse o Reuni, mas<br />
que tivesse uma discussão. Os<br />
DITADURA DA BUROCRACIA UNIVERSITÁRIA<br />
Militantes da AJR são impedidos de<br />
distribuir panfletos na FFLCH-USP<br />
No dia 18 de setembro, à noite,<br />
os estudantes e militantes da<br />
Aliança da Juventude Revolucionária<br />
(juventude do <strong>PCO</strong>) que<br />
distribuíam o Boletim Nacional da<br />
AJR na Faculdade de Filosofia,<br />
Letras e Ciências Humanas (FFL-<br />
CH) foram reprimidos pela guarda<br />
universitária.<br />
Os chefes da segurança ameaçaram<br />
os estudantes afirmando<br />
que se continuassem a panfletagem<br />
seria chamada a força policial,<br />
que os levariam para fazer<br />
um Boletim de Ocorrência por<br />
infringir supostas regras da universidade.<br />
Pensar e ser crítico não<br />
são “regras universitárias”?<br />
Segundo a tropa de choque da<br />
reitoria contra os estudantes, para<br />
divulgar qualquer idéia na universidade<br />
é preciso da autorização da<br />
diretoria da faculdade. Então, evidentemente,<br />
só pode falar o que a<br />
diretoria da faculdade tem acordo.<br />
A repressão vista nesta semana<br />
na Universidade de São Paulo<br />
foi um ataque claramente político.<br />
O boletim divulga a mobilização<br />
da Unifesp pela mudança na<br />
estrutura da universidade, por um<br />
autogoverno dos três setores:<br />
professores, funcionário e uma<br />
maioria de estudantes. No boletim<br />
é feita a avaliação de que os estudantes<br />
da Unifesp mostram o<br />
caminho para o movimento estudantil<br />
de todo o País e que é necessário<br />
que os estudantes tenham<br />
o controle da administração,<br />
financeira e pedagógica da universidade.<br />
É a volta da censura, mesmo<br />
estando em um sistema supostamente<br />
democrático.<br />
A burocracia universitária, para<br />
continuar a bandalheira com o<br />
dinheiro público e com imensos<br />
privilégios, tenta impor um clima<br />
de terror e até a transformação da<br />
universidade em um verdadeiro<br />
campo de concentração, em que<br />
é proibida a reunião para uma discussão,<br />
para uma confraternização,<br />
ou seja, é proibido qualquer<br />
ação estudantil! E muito menos política.<br />
Deve-se obedecer de forma<br />
resignada todos os desmandos e<br />
destruição feita pela burocracia<br />
universitária e pelo governo.<br />
Cerca de vinte estudantes cercaram<br />
os seguranças reivindicando<br />
a liberdade de expressão e<br />
organização dos estudantes, contra<br />
a proibição da distribuição dos<br />
panfletos. Segundo os chefes da<br />
segurança, podem circular apenas<br />
os panfletos de entidades ligadas<br />
à instituição, como o Diretório<br />
Central dos Estudantes, o<br />
que causou revolta entre os presentes.<br />
Quer dizer, a reitoria só dá<br />
estudantes que são os maiores<br />
prejudicados com este programa<br />
do governo, nem estavam informados<br />
disso. A gente só veio<br />
pedir um diálogo.<br />
“E aí os seguranças a mando<br />
da reitoria, partiram para cima da<br />
gente. Um amigo ficou ferido, foi<br />
para o hospital São Paulo e não<br />
foi atendido no hospital São Paulo,<br />
foi negado o atendimento para<br />
ele e fomos para a delegacia fazer<br />
o boletim de ocorrência e só<br />
dois estudantes puderam fazer.<br />
E uns 20 minutos depois que estávamos<br />
lá, os seguranças chegaram<br />
entram na delegacia. São<br />
todos amiguinhos... tem vários<br />
ex-policiais aqui. Fizeram um boletim<br />
de ocorrência contra a<br />
gente. Como se a gente tivesse<br />
Estudantes no atual acampamento da Unifesp.<br />
agredido eles. Eles estavam com<br />
o nosso megafone que não devolveram,<br />
alegaram que a gente<br />
tinha batido neles com megafone,<br />
uma mentira.<br />
Marcos Vinicius,<br />
curso de Ciências<br />
Sociais<br />
“Esta é uma atitude autoritária<br />
e reacionária e mostra que a<br />
gente representa certa ameaça ao<br />
poder instituído na Unifesp e eles<br />
se utilizam de certos recursos<br />
para conter nossa força e nosso<br />
potencial. A sindicância é a repressão<br />
de uma maneira geral.<br />
“Nós chegamos no prédio e o<br />
prédio estava em construção e<br />
existiam locais no prédio com<br />
materiais de ferro e coisas deste<br />
tipo e nós fomos recebidos pelos<br />
seguranças alguns instrumentos<br />
como este. A polícia nos<br />
torturou, não daquela maneira<br />
que ouvimos falar, mas da maneira<br />
dela. Utilizou de uma força<br />
completamente desnecessária e<br />
demasiada. As meninas foram<br />
humilhadas, os meninos apanharam<br />
muito, foi usado gás de pimenta<br />
exageradamente, o tempo<br />
todo. Muita pressão psicológica.<br />
o aval para seus pupilos do DCE,<br />
pois todo mundo sabe que a diretoria<br />
do DCE, o Psol, não tem<br />
nenhum vínculo com o movimento<br />
real dos estudantes e suas necessidades.<br />
No maior movimento<br />
dos últimos anos, que despertou<br />
um movimento nacional, a<br />
ocupação da reitoria da USP, o<br />
Psol foi o representante das posições<br />
da reitoria, atacando a mobilização<br />
e defendendo o acordofarsa<br />
para acabar com o movimento<br />
e estancar a crise.<br />
Os militantes da AJR passaram<br />
em todas as salas de aula do prédio<br />
das Ciências Sociais e Filosofia<br />
denunciando a ação repressiva<br />
da guarda universitária e chamando<br />
os estudantes a apoiar a manutenção<br />
da panfletagem que foi<br />
realizada também na saída da aula.<br />
É necessário organizar uma<br />
ampla campanha contra a repressão<br />
na USP que, durante as<br />
férias, instalaram mais de 80 câmeras<br />
modernas, gastando 2,5<br />
mil reais para registrar todos os<br />
passos dos estudantes. Agora<br />
querem impedir que os estudantes<br />
discutam idéias e distribuíam<br />
panfletos.<br />
UNIFESP<br />
Militante da AJR é<br />
intimado para depor em<br />
sindicância por ato político<br />
O companheiro Alexandre<br />
foi intimado a depor em uma<br />
comissão disciplinar por ser<br />
militante político e representar,<br />
assim como o conjunto<br />
dos estudantes em luta, uma<br />
ameaça ao regime dentro da<br />
universidade.<br />
Em junho deste ano, cerca<br />
de 50 estudantes da Unifesp<br />
ocuparam a reitoria<br />
contra o corrupto agora, exreitor,<br />
da Unifesp, Ulysses<br />
Fagundes Neto.<br />
A corrente nacional do<br />
movimento estudantil Aliança<br />
da Juventude Revolucionária<br />
(AJR, juventude do<br />
<strong>PCO</strong>) participou em todo País<br />
de inúmeras campanhas de<br />
denúncias de corrupção e<br />
total desmonte realizado pela<br />
burocracia universitária nas<br />
universidades. Na Unifesp<br />
não foi diferente.<br />
O militante da AJR, companheiro<br />
Alexandre Alves,<br />
esteve sempre à frente, junto<br />
com os demais estudantes<br />
combativos, das mobilizações<br />
desde a ocupação da Diretoria<br />
Acadêmica em 2007<br />
contra a repressão e a ditadura<br />
do Conselho Universitário<br />
em aprovar o Reuni.<br />
Desta ocupação, resultou<br />
na sindicância que aplicou a<br />
punição, inclusive a Alexandre,<br />
de forma totalmente irregular,<br />
com base nas informações<br />
pegas com a Polícia<br />
Federal para punir os estudantes,<br />
momento em que a<br />
reitoria teve que recuar.<br />
Agora novamente a carrasca<br />
reitoria quer punir os<br />
estudantes em luta contra a<br />
ditadura existente na universidade<br />
que exclui toda a comunidade<br />
acadêmica, em especial<br />
os estudantes, das decisões.<br />
Enquanto os campi da Unifesp<br />
sofrem com a falta de<br />
estrutura, a reitoria da Unifesp<br />
está mergulhada nas denúncias<br />
de corrupção, em<br />
que o reitor renunciou para<br />
tentar abafar o escândalo que<br />
envolve a todos. A unidade de<br />
São José dos Campos, que<br />
oferece cursos de ciência da<br />
computação, não tem computadores<br />
suficientes e sequer<br />
internet. Para esse e outros<br />
como o campus de Guarulhos,<br />
não há restaurante<br />
universitário ou moradia estudantil,<br />
além de muitos outros<br />
problemas.<br />
Com as denúncias, fica<br />
claro que, no entanto, dinheiro<br />
não falta.<br />
Quando os estudantes, em<br />
ato político, contra a destruição<br />
da universidade e a total<br />
farra com o dinheiro público,<br />
ocuparam a reitoria, a polícia<br />
e a guarda universitária agrediram<br />
os estudantes brutalmente,<br />
quebrando pratos,<br />
portas e lançando coisas em<br />
cima dos estudantes, além de<br />
apontar armas de fogo.<br />
O companheiro Alexandre<br />
foi intimado a depor em uma<br />
comissão disciplinar por ser<br />
militante político e representar,<br />
assim como o conjunto<br />
dos estudantes em luta, uma<br />
ameaça ao regime dentro da<br />
universidade.<br />
A punição é baseada em<br />
um regimento totalmente retrógrado<br />
e ditatorial:<br />
“Artigo 168 - São passíveis<br />
de punição as irregularidades<br />
praticadas no recinto<br />
da Universidade, bem como<br />
em locais, situações ou atividades<br />
que envolvam a Unifesp.<br />
Artigo 169 - Em quaisquer<br />
casos será assegurado ao aluno<br />
o direito de defesa, ficando,<br />
todavia impedido de pedir<br />
transferência até decisão<br />
definitiva do procedimento<br />
disciplinar, ou do cumprimento<br />
da pena de suspensão.<br />
Artigo 170 - A defesa será<br />
produzida por escrito, dentro<br />
de cinco dias úteis após a citação.<br />
§ 1º - A citação será efetuada<br />
através de mandado expedido<br />
pela autoridade competente.<br />
§ 2º - No caso de recusa do<br />
aluno em apor ciente no mandado<br />
de citação, o fato deverá<br />
ser testemunhado por duas<br />
pessoas que assinarão em lugar<br />
próprio.<br />
§ 3º - Se o aluno não apresentar<br />
defesa, será considerado<br />
revel.<br />
Artigo 171 - As penalidades<br />
deverão ser registradas<br />
no prontuário do aluno.<br />
Artigo 172 - Os recursos<br />
contra penalidades aplicadas<br />
serão interpostos aos Conselhos<br />
competentes, obedecidos<br />
os preceitos contidos nos<br />
incisos X do artigo 6º, IV do<br />
artigo 18 e VIII do artigo 22,<br />
todos do Estatuto.<br />
Artigo 173 - As sanções<br />
referidas neste Título não<br />
isentarão o infrator da responsabilidade<br />
civil ou criminal<br />
em que haja incorrido.<br />
Artigo 174 - O aluno que<br />
estiver cumprido a penalidade<br />
de suspensão somente<br />
poderá receber o diploma<br />
após o integral cumprimento<br />
da pena.<br />
Parágrafo único - A outorga<br />
de diploma não isentará da<br />
correspondente indenização<br />
o aluno que causou dano ao<br />
patrimônio da Universidade.<br />
São normas tão vagas que<br />
poderiam ser utilizadas contra<br />
qualquer estudante que<br />
desejassem expulsar.<br />
As punições previstas para<br />
essas infrações, que fica a<br />
cargo da burocracia universitária<br />
decidir, vão de advertência<br />
a desligamento da universidade.<br />
A defesa do companheiro<br />
Alexandre, assim como<br />
dos demais estudantes que<br />
estão em luta contra o regime<br />
da universidade é fundamental<br />
para todas as lutas<br />
dentro da universidade. Os<br />
estudantes devem ter o direito<br />
de se manifestar e expressar<br />
livremente. Os estudantes<br />
não devem recuar<br />
nenhum passo, pois este ataque<br />
da reitoria é justamente<br />
pelo impacto que o acampamento,<br />
que tem como reivindicação<br />
a importante defesa<br />
para o movimento estudantil<br />
nacional do governo<br />
tripartite e proporcional<br />
com maioria estudantil, a<br />
única via para acabar com a<br />
ditadura imposta nas universidades,<br />
que impõe a<br />
censura e a repressão.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA TEORIA 16<br />
70 ANOS DA FUNDAÇÃO DA IV INTERNACIONAL<br />
A ruptura no bloco da ala direita<br />
Publicamos nesta edição a penúltima parte da tradução<br />
inédita em português do folheto escrito pelo trotskista<br />
norte-americano Max Shachtman sobre os primeiros<br />
anos da oposição dirigida por Trótski no Partido<br />
Comunista da União Soviética e na Internacional e que<br />
lançou as bases para a fundação da IV Internacional<br />
A luta travada em escala internacional<br />
contra a Oposição<br />
de Esquerda foi dirigida conjuntamente<br />
pela fração centrista e<br />
a ala direita. Em suas tentativas<br />
de derrubar a ala marxista da<br />
Internacional, nenhuma distinção<br />
podia ser percebida entre<br />
Brandler e Thälmann, Jilek e<br />
Gottwald, Sellier e Thorez,<br />
Lovestone e Foster, Kilboon e<br />
Silen. Esta unidade era simbolizada<br />
pela combinação de Stálin<br />
com Bukhárin que estabeleceram<br />
a si mesmos como a “incorruptível<br />
velha guarda leninista”.<br />
Não era uma unidade fictícia.<br />
Em todas as questões de política<br />
internacional e doméstica,<br />
de princípio e táticas, estas duas<br />
alas do bloco dirigente possuíam<br />
uma visão comum. Eles<br />
caminhavam de mãos dadas<br />
contra o “trotskismo”, e de<br />
mãos dadas com Purcell e Chiang<br />
Kai-shek. Defenderam juntos<br />
a teoria do socialismo em um<br />
só país, dos “partidos de duas<br />
classes, de operários e camponeses”.<br />
Introduziram conjuntamente<br />
o programa revisionista<br />
adotado pelos delegados ao<br />
Sexto Congresso do Comintern<br />
em 1928.<br />
Mas, ao final de 1927, a maré<br />
montante da reação que havia<br />
levado o regime ao poder estava<br />
dando margem a uma guinada<br />
à esquerda nas fileiras do<br />
proletariado internacional. Na<br />
própria Rússia, o “levante culaque<br />
incruento” de 1928 teve um<br />
efeito moderador sobre os operários<br />
e eles começaram a pressionar<br />
a direção para voltaremse<br />
para a esquerda. Foi nesta atmosfera<br />
que Stálin foi compelido<br />
a mudar a direção na qual<br />
vinha navegando há cinco anos.<br />
Iniciando cuidadosamente com<br />
um ataque sobre representantes<br />
obscuros da ala direita, ele conseguiu<br />
retirar o apoio desta tão<br />
rapidamente que foi capaz de,<br />
em 1929-1930, fazer um ataque<br />
frontal sobre sua verdadeira liderança:<br />
Rikov, Bukhárin e<br />
Tomski.<br />
Para um público comunista<br />
estupidificado pelo inesperado<br />
ataque, os três líderes da ala<br />
direita foram apresentados por<br />
Stálin como os porta-bandeiras<br />
da restauração capitalista. O<br />
presidente da Internacional<br />
Comunista, o cabeça do governo<br />
soviético, e o dirigente dos<br />
sindicatos soviéticos foram<br />
apresentados por Stálin como<br />
agentes da contra-revolução<br />
termidoriana! Mas foi precisamente<br />
este “trio” com o qual<br />
Stálin manteve por cinco ou seis<br />
anos a mais íntima, “indissolúvel”,<br />
aliança contra a ala esquerda<br />
do partido.<br />
Se a acusação da ala direita<br />
por Stálin tivesse qualquer significado<br />
– e tinha – era, ao<br />
mesmo tempo, o indiciamento<br />
devastador da própria facção<br />
centrista. Que apelo poderia<br />
fazer ao bolchevismo quando<br />
esteve assumidamente em uma<br />
solidariedade indistinguível por<br />
meia década com os restauracionistas?<br />
Onde em toda a história<br />
poderia uma posição ser<br />
apontada como sendo uma tendência<br />
genuinamente revolucionária<br />
tendo participado de um<br />
bloco inseparável com outra<br />
tendência que, dentro de virtualmente<br />
vinte e quatro horas, se<br />
tornou uma campeã da reação<br />
negra?<br />
Dado o fato de que ambas as<br />
seções da direção tinham uma<br />
base de princípios comuns,<br />
dado o fato de que para cortar<br />
a ala direita, Stálin teve que<br />
emprestar copiosamente do<br />
arsenal ideológico da Oposição<br />
de Esquerda (a ala direita não<br />
hesitou em acusá-lo de<br />
“trotskismo” bem como<br />
Trótski previu em 1926!), a<br />
campanha de Stálin contra a ala<br />
direita serviu ao mesmo tempo<br />
como uma auto-revelação mortal<br />
do centrismo, e um tributo<br />
involuntário à justiça de toda a<br />
luta da Oposição.<br />
Não esqueçamos que todo o<br />
décimo quinto congresso do<br />
partido russo condenou os oposicionistas<br />
como fomentadores<br />
do medo por alertar contra o<br />
crescente perigo culaque. Exatamente<br />
quando Rikov provocava<br />
a Oposição com a questão:<br />
se o culaque é tão perigoso, por<br />
que não nos pregou uma peça<br />
ainda? – Molotov afirmava impacientemente<br />
em dezembro de<br />
1927 que o culaque não era nada<br />
de novo, que não havia necessidade<br />
para alarme ou qualquer<br />
outras medidas especiais além<br />
das que já estavam em marcha.<br />
Todos “concordam”, argumentava<br />
Molotov, que insistentemente<br />
minimizava a magnitude<br />
dos fazendeiros exploradores,<br />
“que existe, e não há necessidade<br />
de se falar disso”.<br />
Apenas algumas breves semanas<br />
depois a União Soviética<br />
foi violentamente sacudida por<br />
uma demonstração de tremendo<br />
poder que os culaques vinham<br />
açambarcando enquanto<br />
Bukhárin-Stálin-Molotov-Rikov<br />
os vinham encobrindo das críticas<br />
de Trotski. Em janeiro de<br />
1928, logo após o congresso e<br />
reforçados por seu sucesso em<br />
conseguir a eliminação da ala<br />
esquerda do partido, os culaques<br />
se levantaram no que ficou conhecido<br />
como sendo seu “levante<br />
incruento”. Poderosos e<br />
confiantes, se recusaram a entregar<br />
seus estoques de grãos<br />
colhidos e, com efeito, declararam:<br />
a menos que o poder soviético<br />
ceda às nossas reivindicações<br />
por preços mais altos do<br />
que aqueles fixados pelo estado<br />
proletário, manteremos nossos<br />
estoques cheios e levaremos à<br />
fome as cidades, os centros<br />
operários, à submissão!<br />
Sua resistência era tão efetiva<br />
e alarmante que pela primeira<br />
vez em muitos e muitos anos,<br />
os sovietes foram compelidos a<br />
requerer os grãos dos vilarejos<br />
pela força armada. Toda a filosofia<br />
oficial do “enriqueceivos!”,<br />
o pernicioso auto-consolo<br />
sobre a insignificância do<br />
culaque, a perseguição raivosa<br />
à Oposição por seus freqüentes<br />
alertas, foram agora rasgados<br />
em pedaços. O espírito revolucionário<br />
de uma classe <strong>operária</strong><br />
agora alarmada, que não tinha,<br />
de jeito nenhum, eliminado inteiramente<br />
pela campanha contra<br />
a Oposição, forçou seu caminho<br />
a pesar dos obstáculos colocados<br />
à sua frente pelo regime burocrático.<br />
Foi esta pressão de<br />
baixo que deu o impulso real para<br />
a ruptura do até então sólido<br />
bloco de centro-direita. Esta<br />
revolta ainda não clara contra a<br />
linha anterior de ceder aos elementos<br />
capitalistas dentro e fora<br />
do país, atirou o elmo fora das<br />
mãos da direita e forçou uma<br />
mudança no rumo.<br />
Sobre a base desta corrente<br />
de esquerda nas massas, a facção<br />
stalinista abriu uma nova<br />
fase de seu desenvolvimento, o<br />
“terceiro período” de suas trapalhadas<br />
em uma escala soviética<br />
e internacional. Este vôo de<br />
burocratas assustados das fileiras<br />
do oportunismo de ontem<br />
para o uma posição aventureira<br />
está contido no que se tornou<br />
conhecido como o “terceiro<br />
período”.<br />
O período definido arbitrariamente<br />
não começa na história<br />
do Comintern com a sua proclamação<br />
no Sexto Congresso,<br />
mas mesmo mais definidamente<br />
na nona plenária da IC no início<br />
de 1928. Àquela época os<br />
primeiros sinais de um novo<br />
ascenso operário na Europa<br />
podiam ser detectados, mas<br />
apenas os primeiros sinais. O<br />
voto nos partidos comunistas,<br />
particularmente na Alemanha,<br />
estava crescendo, mas com ele<br />
também os votos dados à social<br />
democracia. Em um número<br />
de outros países, no entanto, a<br />
classe <strong>operária</strong> estava ainda se<br />
contorcendo com a dor de uma<br />
derrota não superada, como na<br />
China, ou estava passiva sob os<br />
efeitos soporíferos de um boom<br />
econômico temporário, como<br />
na França e nos Estados Unidos.<br />
A nona plenária, ao invés de<br />
estabelecer a etapa precisa do<br />
desenvolvimento do movimento<br />
operário internacional, proclamou<br />
a ascensão de uma<br />
A Décima Plenária foi a reductio ad absurdum do Sexto<br />
Congresso com um número de novidades acrescentadas por<br />
Stálin e Molotov por sua própria conta.<br />
OS 10 PRIMEIROS ANOS DA OPOSIÇÃO DE ESQUERDA<br />
“nova e mais elevada” etapa da<br />
revolução chinesa (não contrarevolução,<br />
mas revolução!),<br />
deu seu apoio encoberto ao<br />
aventureirismo guerrilheiro, e<br />
anunciou pela boca de Thälmann<br />
e outros porta-vozes do Comintern<br />
que as massas <strong>operária</strong>s ao<br />
redor do mundo estavam se<br />
tornando “mais e mais radicalizadas”.<br />
Os alertas contra esta<br />
concepção leviana de um progresso<br />
automático, horizontal<br />
do movimento revolucionário<br />
não tiveram serventia, pois foram<br />
feitos pela Oposição. A análise<br />
clara de Trótski da situação<br />
real do movimento não só foi<br />
ignorada silenciosamente no<br />
Sexto Congresso, ao qual foi<br />
apresentada, como não foi sequer<br />
distribuída aos delegados<br />
reunidos.<br />
O Sexto Congresso no meio<br />
do ano de 1928 conduziu a nona<br />
plenária a alguns passos além no<br />
absurdo. Formalmente, marcou<br />
o ponto culminante na colaboração<br />
entre o centrismo e a ala<br />
direita (Stálin e Bukhárin). Na<br />
realidade, incorporou na fundação<br />
do próximo período a mistura<br />
de premissas oportunistas<br />
com deduções ultra-esquerdistas<br />
que esteve na raiz de toda a<br />
confusão e derrotas sofridas<br />
pelo comunismo desde esta<br />
época.<br />
O Sexto Congresso teve<br />
muitos pontos de similaridade<br />
com o Quinto, que foi realizado<br />
em 1924 após a derrota na Alemanha.<br />
Em 1924, nenhuma<br />
derrota foi reconhecida; pelo<br />
contrário, proclamava-se que a<br />
revolução estava logo à frente.<br />
Em 1928, o mesmo erro foi<br />
cometido com relação à Revolução<br />
Chinesa. No período do<br />
Quinto Congresso, Stálin fez a<br />
nova descoberta de que a “social<br />
democracia era a ala mais<br />
moderada do fascismo”. Em<br />
1928, o Sexto Congresso colocou<br />
as bases para a filosofia<br />
única do “social-fascismo”. O<br />
Quinto Congresso celebrou a<br />
vitória da “bolchevização” e do<br />
“monolitismo”, em uma época<br />
em que as próprias bases sob as<br />
diversas “direções bolcheviques”<br />
impostas às seções nacionais<br />
estavam sendo minadas.<br />
Em 1928, as lutas internas mais<br />
violentas estavam sendo travadas<br />
nos bastidores da “Internacional<br />
Comunista unificada”. O<br />
Quinto Congresso, com todo o<br />
sua discussão ultra-esquerdista,<br />
continha nada menos que os<br />
germes de uma breve guinada à<br />
esquerda, mas também uma<br />
virada à direita prolongada, para<br />
o período do Comitê Anglo-<br />
Russo, da aliança com Chiang<br />
Kai-shek, a Liga anti-imperialista<br />
e a “Internacional Camponesa”.<br />
O Sexto Congresso, por<br />
todo seu apoio a conclusões<br />
aventureiras, consagrou a teoria<br />
revisionista do socialismo<br />
em um só país e estabeleceu a<br />
“ditadura democrática do proletariado<br />
e do campesinato”<br />
(isto é, a kerenskíada ou a tragédia<br />
do Cuomintang) como<br />
uma lei de ferro regendo os<br />
destinos da revolução em três<br />
quartos da Terra.<br />
A luta contra o “perigo da<br />
direita” lançada no Sexto Congresso,<br />
à qual Bukhárin resistiu<br />
até tão recentemente quanto no<br />
Décimo Quinto Congresso do<br />
partido russo, era platônica e<br />
anônima. Seu valor pode ser<br />
estimado do fato de que foi<br />
proclamada da tribuna do Congresso<br />
pelo líder internacional<br />
da ala direita, Bukhárin. Desta<br />
maneira, a unificação formal do<br />
bloco governante foi preservada<br />
e usada para encobrir uma<br />
disputa interna amarga.<br />
É instrutivo observar que à<br />
própria época em que Stálin<br />
estava ocupado em minar o terreno<br />
sob Bukhárin e Cia., indo<br />
longe o suficiente a ponto de<br />
organizar seu próprio congresso<br />
não oficial, simultaneamente<br />
ao “Congresso de Bukhárin”,<br />
este, no entanto, assumiu a liderança<br />
em condenar quaisquer<br />
rumores sobre desentendimentos<br />
na direção do partido russo<br />
como “calúnias trotskistas”. Em<br />
um relatório especial sobre o<br />
assunto feito pelo próprio Stálin<br />
ao Conselho dos Anciãos do<br />
Congresso, ele repudiava todos<br />
os rumores com relação a diferenças<br />
no Birô Político russo.<br />
Ele negava enfaticamente que<br />
houvesse quaisquer membros<br />
da ala direita, ou concepções da<br />
ala direita no Birô Político ou<br />
mesmo no Comitê Central, e,<br />
para confirmar suas afirmações,<br />
introduziu uma resolução,<br />
assinada por ele mesmo e por<br />
cada um dos outros membros<br />
do Birô Político que declarava:<br />
“Os membros do Birô Político<br />
do Comitê Central do Partido<br />
Comunista da União Soviética<br />
abaixo assinados declaram<br />
diante do Conselho de Anciãos<br />
do Congresso que protestam da<br />
maneira mais enfática contra a<br />
circulação de rumores de que<br />
haja quaisquer dissensões entre<br />
os membros do Birô Político do<br />
Comitê Central do PCUS”.<br />
Desnecessário dizer que as<br />
marionetes reunidas ouviram<br />
solenemente e de maneira a<br />
aprovar esta enganação criminosa<br />
e ridícula da Internacional<br />
Comunista preparada conjuntamente<br />
por Stálin e Bukhárin.<br />
A dissolução deste estado de<br />
coisas não demorou muito. Em<br />
quase menos tempo do que se<br />
leva para contar a história, virtualmente<br />
todos os principais<br />
oradores do Sexto Congresso<br />
ou foram esmagados organizativamente,<br />
expulsos sem direitos<br />
ou salvos da expulsão por<br />
uma capitulação humilhante.<br />
Assim como os dirigentes do<br />
Quinto Congresso duraram por<br />
um breve momento nos assentos<br />
do poder, os “bolcheviques”<br />
do Sexto Congresso encontraram<br />
com um fim rápido. Bukhárin,<br />
o líder político do Congresso,<br />
o relator sobre o programa,<br />
o presidente do Comintern, o foi<br />
denunciado alguns meses depois<br />
como o líder da tendência<br />
restauracionista-capitalista na<br />
União Soviética (nada menos!).<br />
Lovestone, Gitlow e Wolfe foram<br />
expulsos sem cerimônia<br />
como agentes da burguesia<br />
norte-americana. Roy, que ganhou<br />
a vida denunciando<br />
Trótski como um agente de<br />
Chamberlain, encontrou a si<br />
mesmo designado sob a mesma<br />
forma. Kilek e Cia., na Tchecoslováquia,<br />
Kilboon na Suécia,<br />
Brandler (e quase Ewert) na Alemanha,<br />
Sellier e Cia. na França,<br />
e uma horda de outros foram<br />
expulsos ou declinaram do<br />
Comintern.<br />
A remoção de qualquer ala<br />
direita recalcitrante tornou possível<br />
a escalada às alturas do<br />
absurdo quando a Décima Plenária<br />
em 1929, ao auge do “terceiro<br />
período”. A Décima Plenária<br />
foi a reductio ad absurdum<br />
do Sexto Congresso com um<br />
número de novidades acrescentadas<br />
por Stálin e Molotov por<br />
sua própria conta. Foi a plenária<br />
por excelência do “terceiro<br />
período”, o mesmo “terceiro<br />
período” que foi denunciado<br />
como uma idéia oportunista da<br />
delegação Thälmann-Neumann<br />
ao Sexto Congresso.<br />
O “terceiro período”, seus<br />
proponentes o explicavam, era<br />
caracterizado por uma radicalização<br />
constantemente crescente<br />
das massas, simultaneamente<br />
em todos os países. Não pode<br />
haver um quarto período, anunciou<br />
Molotov, pois o terceiro<br />
período termina com a revolução.<br />
A atual “sensibilidade política<br />
aumentada das amplas<br />
massas”, acrescentava Losovski,<br />
“é um sinal característico<br />
da véspera de uma revolução”.<br />
Moireva, enquanto membro do<br />
CEIC [Comitê Executivo da<br />
Internacional Comunista] declarou:<br />
“na minha opinião, dos<br />
eventos de maio, bem como dos<br />
acontecimentos recentes na<br />
Polônia, que toda uma série de<br />
elementos neles lembram as<br />
jornadas de julho. O fato em si<br />
de que os partidos comunistas<br />
tiveram que reter os setores<br />
mais avançados da classe <strong>operária</strong><br />
em seu impulso para a frente,<br />
atesta um situação revolucionária<br />
se aproximando rapidamente”.<br />
Esta extravagância é<br />
destacada apenas se lembrarmos<br />
que as “nossas jornadas de<br />
julho” foram o precursor direto<br />
da insurreição de outubro na<br />
Rússia. Deve-se ter em mente<br />
que todas estas fantasias foram<br />
apresentadas ao mundo comunista<br />
oficial como inabaláveis<br />
artigos de fé mais de três anos<br />
atrás!<br />
Deste “terceiro período”<br />
com sua incessante crescente<br />
radicalização das massas em<br />
virtualmente todos os países no<br />
mundo, na qual a França foi<br />
solenemente anunciada como<br />
estando à frente da lista revolucionária<br />
(em 1929!), seguiu a<br />
teoria do social-fascismo, uma<br />
doença da decadência senil da<br />
qual o Comintern está sofrendo<br />
até hoje. Com a engenhosa fórmula<br />
de Stálin de 1924 em<br />
mente, Manuilski anunciou agora<br />
que “a fusão da social democracia<br />
com o estado capitalista<br />
não é meramente uma fusão por<br />
cima. Esta fusão tomou lugar de<br />
alto a baixo, em toda linha”. Melhorando<br />
Lênin, Manilski anunciou<br />
que Noske, em 1918, já era<br />
um social-fascista.<br />
O estrategista-mor, Bela Jun,<br />
que destruiu a revolução húngara<br />
ao não conseguir compreender<br />
a natureza da social democracia<br />
em 1918, agora tentava,<br />
cerca de dez anos depois, reparar<br />
o dano apresentando uma interpretação<br />
ainda pior: “socialfascismo<br />
é o tipo de desenvolvimento<br />
fascista nos países<br />
cujo desenvolvimento capitalista<br />
é mais avançado do que na Itália...<br />
Neste estágio de desenvolvimento,<br />
o social reformismo<br />
esvanece: é transformado parcialmente<br />
em elementos social<br />
demagógicos e parcialmente em<br />
elementos de violência de massas<br />
do fascismo”.<br />
Daí Manuilski tirou a conclusão<br />
a respeito da política de<br />
frente única de que “jamais a<br />
consideramos como uma fórmula<br />
para todos, para todas as<br />
épocas e pessoas... Hoje somos<br />
mais fortes e passamos a métodos<br />
mais agressivos na luta pela<br />
maioria da classe <strong>operária</strong>”. O<br />
que os funcionários menores<br />
tinham para contribuir com a<br />
questão pode ser facilmente<br />
imaginado a partir destas poucas<br />
citações.<br />
A motivação oficial para o<br />
estabelecimento do “terceiro<br />
período” e de todos os seus<br />
mandamentos era falsa do início<br />
ao fim. Mas isto não significa<br />
que não havia uma razão<br />
profunda para a guinada de 180<br />
graus no rumo do Comintern. O<br />
centrismo, privado de qualquer<br />
âncora em quaisquer princípios,<br />
sem nenhuma plataforma distinta<br />
própria, é arrastado à esquerda<br />
pela pressão dos acontecimentos<br />
e da crítica. Sem uma<br />
fundamentação real, precisa se<br />
basear em um prestígio artificialmente<br />
preservado. Para manter<br />
a continuidade do seu prestígio,<br />
isto é, para explicar a virada<br />
de ponta-cabeça para a esquerda,<br />
ou mais precisamente,<br />
para justificar a mudança sem<br />
deixar espaço para crítica de<br />
seus rumos precedentes, o “terceiro<br />
período” foi chamado à<br />
existência.<br />
Por esta proclamação os centristas<br />
foram capazes de justificar<br />
a “frente única do alto” com<br />
Chiang Kai-shek e Purcell bem<br />
como frente única nenhuma.<br />
Ambos estavam justificados por<br />
uma brilhante teoria: o estabelecimento<br />
arbitrário de “períodos”.<br />
No “segundo período”, de<br />
acordo com este dogma conveniente,<br />
era a essência do bolchevismo<br />
manter a frente única<br />
com fura-greves comprovados<br />
em troca de sua “luta para defender<br />
a União Soviética” do imperialismo<br />
britânico. No “terceiro<br />
período”, no entanto, todos<br />
os social-democratas de Purcell<br />
até o operário socialista na fábrica<br />
se tornaram fascistas e os<br />
comunistas deviam, portanto,<br />
não ter relação nenhuma com<br />
eles. A fórmula do “terceiro<br />
período” era a filosofia pela qual<br />
o centrismo juntou os dois períodos<br />
mutuamente suplementares<br />
de seus erros, crimes e<br />
disfunção ideológica sem prejuízo<br />
para si mesmo: pelo menos,<br />
esta era a intenção de seus artífices.<br />
O “terceiro período” foi, e na<br />
medida em que os seus restos<br />
ainda jazem na estrada ele ainda<br />
é, um marco da rota de falência<br />
e decadência do centrismo. Os<br />
mais de três anos desde sua<br />
proclamação testemunharam<br />
uma série de derrotas acrescidas<br />
às que acumulara entre 1923<br />
e 1928.<br />
É neste período que o ascenso<br />
do fascismo na Alemanha<br />
pôde se dar sem encontrar qualquer<br />
resistência efetiva da parte<br />
dos comunistas, que foram<br />
proibidos pelo dogma do “social-fascismo”<br />
de fazer uma frente<br />
única com os operários social-democratas.<br />
Desorientados<br />
pela previsão fantástica de<br />
Molotov de que a França estava<br />
à frente da lista para uma luta<br />
revolucionária, o Comintern foi<br />
pego totalmente desprevinido<br />
pelo levante na Espanha. Quando<br />
foi finalmente sacudido de<br />
seu estupor, o Partido Comunista<br />
Espanhol foi deixado impotente<br />
pelo sectarismo extremo<br />
de sua política, por sua rejeição<br />
à tática da frente única.<br />
Nos Estados Unidos, as oportunidades<br />
sem paralelo para o<br />
trabalho revolucionário fornecidas<br />
pelas convulsões da crise<br />
foram perdidas, uma após a<br />
outra, pela aplicação de táticas<br />
que repeliram centenas ou milhares<br />
de operários que se deslocavam<br />
em direção ao comunismo.<br />
Na Inglaterra, França,<br />
Tchecoslováquia – em uma<br />
palavra, em todos os países<br />
importantes, a teoria e a prática<br />
do “terceiro período” colocou o<br />
movimento comunista de joelhos,<br />
introduziu a confusão em<br />
sua mente, paralisou seus membros<br />
e o isolou das massas. Se<br />
a social democracia internacional<br />
ainda é um grande poder que<br />
deve ser levado em consideração<br />
hoje, se ainda mantém seu<br />
vigor entre milhões de trabalhadores,<br />
deve-se agradecer às trapalhadas<br />
do stalinismo.<br />
O desejo apaixonado das<br />
massas por uma frente única<br />
para resistir às incursões da<br />
burguesia foi repelido pela exigência<br />
burocrática de que os<br />
partidos comunistas por uma<br />
“frente única pela base” ou uma<br />
“frente única vermelha”, isto é,<br />
uma frente única dependendo da<br />
aceitação antecipada de uma<br />
direção comunista por trabalhadores<br />
não-comunistas. O ódio<br />
do fascismo manifestado pelos<br />
trabalhadores socialistas, bem<br />
como comunistas, nunca foi<br />
utilizado pelos stalinistas. Ao<br />
invés disso, eles repeliram os<br />
operários socialistas por sua<br />
conversa vazia sobre o “social<br />
fascismo” na sua aliança – na<br />
Alemanha, em alguma medida –<br />
com os bandos de Hitler no<br />
notório Referendum “Vermelho”<br />
na Prússia. A resistência<br />
que os operários socialistas<br />
estavam ansiosos por oferecer<br />
aos ataques capitalistas, foi enfraquecida<br />
posteriormente pela<br />
política sectária de dividir os sindicatos<br />
e formar pequenas seitas<br />
sindicais comunistas.<br />
O isolamento do Comintern<br />
das massas no campo político<br />
bem como nos sindicatos, o<br />
qual a Oposição previu à época,<br />
caminhou de mãos dadas<br />
com a degeneração moral e<br />
ideológica sem precedentes<br />
nas fileiras do comunismo<br />
oficial. Não poderia se esperar<br />
que isto continuasse por um<br />
longo período sem terminar<br />
em uma quebra terrível, seja<br />
dentro da União Soviética ou<br />
fora dela.<br />
Os efeitos acumulados desta<br />
degeneração na União Soviética<br />
trouxeram consigo seus perigos<br />
de Termidor e Bonapartismo, da<br />
mesma foram que ameaçavam<br />
toda a Internacional Comunista<br />
com o descrédito e a dissolução.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA MULHERES 17<br />
PESQUISA<br />
78% dos magistrados são favoráveis a<br />
modificação na lei que pune o aborto<br />
Em tempos de discussão sobre aborto em caso de<br />
anencefalia pelo Supremo Tribunal Federal (STF),<br />
pesquisa revela a opinião dos magistrados sobre a<br />
necessidade de modificação no Código Penal brasileiro<br />
De acordo com duas pesquisas<br />
feitas com 1.493 juízes e<br />
2.614 Promotores de Justiça do<br />
País, 78% deles vêem necessidade<br />
de mudanças na lei para<br />
que se ampliem as circunstâncias<br />
em que o aborto não seja<br />
crime no Brasil. Para o caso<br />
específico de anencefalia, 80%<br />
dos entrevistados se colocaram<br />
favoráveis à liberação da interrupção<br />
da gravidez e 10% dos<br />
juízes que atuam na área criminal<br />
afirmaram já ter recebido e<br />
permitido um caso do tipo.<br />
A pesquisa foi realizada pelo<br />
Centro de Pesquisas em Saúde<br />
Reprodutiva de Campinas (Cemicamp)<br />
e coordenado pelo<br />
professor e ginecologista Aníbal<br />
Faúndes, da Faculdade de<br />
Ciências Médicas da Universidade<br />
Estadual de Campinas<br />
(Unicamp), em colaboração<br />
com a Associação dos Magistrados<br />
Brasileiros (AMB) e 29 associações<br />
de promotores e procuradores<br />
existentes no Brasil.<br />
As associações enviaram a<br />
seus filiados o questionário da<br />
Cemicamp entre outubro e dezembro<br />
de 2005. Os questionários<br />
solicitavam opiniões quanto<br />
à necessidade de mudanças<br />
nas leis que tratam do aborto; as<br />
circunstâncias em que a prática<br />
deveria ser permitida; e a<br />
conduta do juiz ou promotor<br />
que atuou em casos de abortos<br />
não previstos em lei. O questionário<br />
inclui pergunta a respeito<br />
da ADPF 54, relacionada aos<br />
fetos anencéfalos, em debate no<br />
STF.<br />
O anacrônico Código Penal<br />
Brasileiro data de 1940 e autoriza<br />
o aborto apenas quando a<br />
gravidez é resultante de estupro<br />
ou quando ela coloca em risco<br />
a vida da mulher.<br />
Resultado entre<br />
juízes, promotores<br />
e procuradores<br />
Segundo a pesquisa 61,2%<br />
dos juízes associados à AMB<br />
vêem necessidade de mudanças<br />
na legislação para ampliar as circunstâncias<br />
em que não se pune<br />
o aborto praticado por médicos;<br />
16,8% concordam com a proposta<br />
de que o aborto deixe de<br />
ser considerado crime, independente<br />
da circunstância em que<br />
é praticado, totalizando 78% de<br />
magistrados favoráveis à ampliação<br />
da lei.<br />
A respeito da Argüição de<br />
Descumprimento de Preceito<br />
Fundamental (ADPF) apresentada<br />
ao STF, que trata da interrupção<br />
da gestação quando diagnosticada<br />
a anencefalia, 62%<br />
dos juízes que tinham uma opinião<br />
formada sobre o assunto<br />
responderam que a ADPF deveria<br />
ser transformada em lei; 42%<br />
a consideraram adequada; e<br />
pouco menos de um quinto opinou<br />
que ela não é adequada.<br />
“Há juízes que vêm autorizando<br />
o aborto por outros motivos,<br />
como o de fetos malformados,<br />
enquanto os promotores se encarregam<br />
de investigar denúncias<br />
de práticas tidas como ilegais.<br />
É importante conhecer a<br />
opinião e a conduta destes atores,<br />
inclusive para a discussão<br />
da ampliação da lei do aborto<br />
que acontece no Congresso”,<br />
justifica a pesquisadora Graciana<br />
Alves Duarte, que atuou<br />
com Aníbal Faúndes nos dois levantamentos.<br />
(Jornal da Unicamp,<br />
de 15 a 21/9/2008)<br />
Graciana Alves Duarte, que<br />
participou da realização da pesquisa<br />
fez um mapeamento e que<br />
verificou que “as decisões favoráveis<br />
estão concentradas no<br />
Sul – há maior resistência ao<br />
aborto no Norte e Nordeste –<br />
mas há juízes com esta conduta<br />
em todo o país. Questionados<br />
É preciso uma verdadeira reformulação do Código Penal, para que as<br />
mulheres tenham o direito de decidir sobre a maternidade sem a<br />
interferência da Igreja.<br />
sobre as circunstâncias, 66%<br />
decidiram favoravelmente por<br />
anencefalia, 16% por malformação<br />
fetal e 18,5% por estupro<br />
(casos que nem deveriam chegar<br />
ao Judiciário, já que estão<br />
previstos em lei)”. (idem)<br />
No que tange os promotores<br />
de justiça, a pesquisa demonstrou<br />
que 12,5% se colocaram a<br />
favor da não-penalização do<br />
aborto em qualquer caso, contra<br />
3,2% que opinaram que a<br />
prática nunca deve ser permitida.<br />
Sobre as circunstâncias,<br />
86,7% indicaram permissão ao<br />
aborto em caso de risco de vida<br />
para a gestante; 85,3% no diagnóstico<br />
de anencefalia; 83,7%<br />
em feto com qualquer malformação<br />
congênita que torne impossível<br />
a vida extra-uterina; e<br />
83,2% na gravidez resultante de<br />
estupro.<br />
O juiz José Henrique Rodrigues<br />
Torres, titular da Vara do<br />
Júri de Campinas, e um dos autores<br />
da pesquisa afirmou que<br />
“Não se pode dizer que o Judiciário<br />
mudou, porque a gente<br />
não sabe como ele<br />
pensava antes sobre<br />
o tema. O que sabemos<br />
agora é que os<br />
juízes e promotores,<br />
em sua maioria, são<br />
favoráveis à ampliação<br />
dos casos permitidos<br />
em lei”. Ele<br />
explicou ainda que<br />
“As sentenças favoráveis,<br />
que já somam<br />
mais de cinco<br />
mil no País, confirmam<br />
o que a pesquisa<br />
mostrou”.<br />
“O que concluímos,<br />
por ora, é que<br />
os juízes manifestaram<br />
postura semelhante<br />
a outros grupos<br />
populacionais já<br />
estudados (médicos,<br />
mulheres e homens<br />
em geral), o<br />
que reforça a indicação de que<br />
a atual legislação brasileira sobre<br />
o aborto precisa ser revista”,<br />
destaca Graciana Duarte.<br />
Por outro lado, quando se<br />
enfocou a experiência pessoal<br />
dos entrevistados diante do<br />
problema da gravidez absolutamente<br />
indesejada, quatro de<br />
cada cinco mulheres e cerca<br />
de 70% dos homens que haviam<br />
passado por isso, entenderam<br />
que a situação justificava<br />
a prática de um aborto.<br />
Encerrada<br />
discussão no STF,<br />
votação pode ser<br />
ainda esse ano<br />
Na última terça-feira (16), foi<br />
realizada a última audiência pública<br />
convocada pelo STF para debater<br />
a interrupção de gestação de<br />
fetos anencéfalos.<br />
Na expectativa de que a interrupção<br />
da gravidez na anencefalia<br />
seja aprovada pelo Supremo<br />
Tribunal Federal, o ginecologista<br />
e obstetra Ricardo Barini, em<br />
entrevista ao jornal da Unicamp,<br />
afirmou que “várias outras situações<br />
clínicas inviabilizam a sobrevida<br />
dos bebês – e que, por semelhança,<br />
mereceriam igual parecer<br />
por parte dos juízes”. Banini<br />
citou diversas anomalias, renais,<br />
cerebrais entre outras, incompatíveis<br />
com a vida extrauterina.<br />
O que confirma que a luta<br />
não se trata apenas da interrupção<br />
da gestação em casos específicos,<br />
como o da anencefalia, mas<br />
uma verdadeira reformulação do<br />
Código Penal, para que as mulheres<br />
tenham o direito de decidir<br />
sobre a maternidade, sem a intromissão<br />
da Justiça, com o Estado<br />
atuando na garantia desse direito<br />
e não na perseguição às mulheres.<br />
Nesse sentido foi a colocação<br />
do médico responsável pela pesquisa<br />
com os magistrados, Aníbal<br />
Faúndes. “Acaba de acontecer,<br />
neste dia 10, em Brasília, uma<br />
marcha do Movimento Nacional<br />
da Cidadania em Defesa da Vida<br />
– Brasil sem Aborto. É claro que<br />
todos gostaríamos de ter um<br />
Brasil e um mundo sem aborto,<br />
mas não conseguiremos isto com<br />
marchas, nem condenando a mulher<br />
que aborta à cadeia. Só se consegue<br />
com educação e colocando<br />
à disposição de toda a população,<br />
todos os métodos eficazes”.<br />
LICENÇA MATERNIDADE<br />
Governo Lula faz demagogia com reivindicação<br />
histórica das mulheres trabalhadoras<br />
A ampliação da licença-maternidade<br />
de quatro para seis<br />
meses deve ser um direito integral,<br />
que seja concedido de<br />
maneira automática, para todas<br />
as mulheres.<br />
O presidente Lula sancionou<br />
no dia 9 de setembro a nova<br />
regra que amplia a licença-maternidade<br />
de quatro para seis<br />
meses. Mas, não se engane, não<br />
se trata do atendimento da reivindicação<br />
histórica das mulheres<br />
trabalhadoras. A lei aprovada<br />
por Lula na verdade não é<br />
uma regra, mas uma possibilidade,<br />
direcionada apenas às<br />
trabalhadoras do setor privado<br />
e mais especificamente para as<br />
trabalhadoras de empresas que<br />
aderirem ao Programa Empresa<br />
Cidadã (municípios também<br />
podem adotar a lei) que terão<br />
benefícios fiscais em troca da<br />
ampliação da licença concedida<br />
às mulheres.<br />
As restrições ao beneficio<br />
não são poucas. E a sanção de<br />
Lula só aumentou as restrições<br />
que já existiam no projeto de lei<br />
2.513/07 aprovado em maio<br />
desse ano pela Comissão de<br />
Seguridade Social e Família<br />
(CSSF) da Câmara dos Deputados,<br />
por unanimidade, e que<br />
já tinha passando pelo Senado<br />
em outubro de 2007.<br />
O projeto foi aprovado no dia<br />
13 de agosto, pela Câmara dos<br />
Deputados e imediatamente<br />
enviado para o presidente Lula.<br />
Na ocasião, o ministro da Fazenda,<br />
Guido Mantega, afirmou<br />
que com esta lei o governo teria<br />
que renunciar cerca de R$ 800<br />
milhões de arrecadação fiscal<br />
por ano. Como já publicamos<br />
aqui, “o presidente Lula chegou<br />
a declarar, em reunião do Conselho<br />
Político, que o Congresso<br />
Nacional estaria aprovando<br />
projetos para ele ter que vetar<br />
depois, expondo o fato de que<br />
ele tem a mesma posição do<br />
PSDB... contra os trabalhadores.<br />
No passado, o ônus pelo<br />
corte de direito dos trabalhadores<br />
ficava sempre com o Congresso,<br />
uma vez que os deputados<br />
tomavam a iniciativa de<br />
rejeitar os projetos favoráveis<br />
aos trabalhadores antes que<br />
estes chegassem nas mãos do<br />
presidente da República.” (Causa<br />
Operária Notícias Online,<br />
21/8/2008)<br />
Lula assinou a lei, mas os<br />
vetos demonstram o verdadeiro<br />
teor da demagogia do governo<br />
do PT, pois deixa de fora da<br />
possibilidade do benefício, as<br />
empregadas das micro e peque-<br />
nas empresas inscritas no Simples;<br />
e aumenta a despesa das<br />
empresas privadas que optem<br />
pela nova regra, pois terão que<br />
pagar a contribuição previdenciária<br />
durante os dois meses adicionais<br />
de afastamento da funcionária,<br />
o que não estava previsto<br />
no projeto original.<br />
Além de excluir do benefício<br />
as trabalhadoras autônomas e as<br />
empregadas domésticas, isso<br />
significa deixar de fora, ignorar<br />
o direito de mais da metade das<br />
mulheres ocupadas no País que<br />
vivem e trabalham na informalidade,<br />
a lei também não trata da<br />
licença paternidade.<br />
Em entrevista ao jornal Folha<br />
de São Paulo, o presidente do<br />
Conselho de Relações do Trabalho<br />
da Confederação Nacional da<br />
Indústria, Francisco Gadelha,<br />
afirmou que a ampliação da licença-maternidade<br />
“sacrificará”<br />
a competitividade da indústria<br />
brasileira:<br />
“Não é dureza de coração,<br />
mas quatro meses de licençamaternidade<br />
estão de bom tamanho.<br />
(...) Do ponto de vista<br />
humano, a proposta é interessante.<br />
Mas isso nos preocupa<br />
muito, pois estão sendo criados<br />
mais encargos para as empresas.<br />
Daqui a pouco, na hora de contratar,<br />
as empresas vão começar<br />
a evitar mulheres que possam<br />
ter filhos. (...) Você não vai<br />
encontrar alguém com a mesma<br />
competência e experiência para<br />
ficar seis meses. E, se você não<br />
substituir, é sinal de que a funcionária<br />
não é necessária para a<br />
empresa”.<br />
Só para citar alguns exemplos,<br />
hoje as brasileiras têm mais<br />
escolaridade que os homens,<br />
mas só 11% dos cargos executivos<br />
das 500 maiores empresas<br />
brasileiras estão ocupados por<br />
mulheres, segundo pesquisa do<br />
Instituto Ethos. Quando o assunto<br />
é diferença salarial a situação<br />
é ainda pior. Se a mulher<br />
tem três anos de escolaridade,<br />
ganha 82% do que os homens<br />
ganham. Se tem 15 anos ou<br />
mais de estudo, tem que se<br />
contentar com 56%. Portanto a<br />
postura dos empresários é uma<br />
chantagem para legitimar e justificar<br />
uma prática que já é comum:<br />
a descriminação de gênero<br />
para contratação, tratamento<br />
desigual, a perseguição, o<br />
assédio, sem contar as grandes<br />
diferenças salariais entre homens<br />
e mulheres que exercem a<br />
mesma função.<br />
É também uma falácia, pois<br />
pela nova lei, as empresas que<br />
aderirem ao convênio podem<br />
deduzir do imposto de renda os<br />
valores integrais referente aos<br />
salários que serão concedidos a<br />
empregada durante a prorrogação<br />
do período da licença. Isto<br />
é, será o próprio governo quem<br />
arcará com o pagamento do<br />
salário das empregadas em<br />
afastamento prorrogado.<br />
É necessário que a campanha<br />
pela conquista da licença maternidade<br />
seja levada a todas as<br />
categorias profissionais, para<br />
que se transforme de um acordo<br />
facultativo entre empresário<br />
e governo, em um direito integral,<br />
que seja concedido de<br />
maneira automática, para todas<br />
as mulheres. Assim como a luta<br />
por creches em escolas, universidades<br />
e setores de trabalho e<br />
a legalização do aborto.<br />
O sítio Mulheres de Olho fez<br />
o levantamento das principais<br />
características da nova lei:<br />
- A lei assinada pelo presidente<br />
Lula em 9 de setembro de<br />
2008 estabelece que as funcionárias<br />
de empresas privadas<br />
podem optar pelos seis meses<br />
de licença maternidade, ao invés<br />
de quatro, desde que sua empresa<br />
se inscreva no Programa<br />
Empresa Cidadã. Esta inscrição<br />
não é obrigatória.<br />
- Nas empresas privadas a<br />
nova regra de 6 seis meses de<br />
licença-maternidade só vigora a<br />
partir de 2010, tempo hábil para<br />
que se cumpra o requisito de<br />
encaminhar projeto de lei orçamentário<br />
prevendo a renúncia<br />
fiscal.<br />
- Para servidoras federais o<br />
benefício entra em vigor no ano<br />
que vem, mas a data não está<br />
definida.<br />
- Para servidoras dos estados<br />
e municípios a licença-maternidade<br />
de 6 meses já pode ser<br />
concedida (em 93 municípios<br />
de 11 estados esta lei já vigora)<br />
- Mesmo nas empresas que<br />
aderirem ao programa, para tirar<br />
os 6 meses de licença a funcionária<br />
tem que solicitar formalmente.<br />
As que preferirem,<br />
poderão ficar com a licença de<br />
4 meses. Caso optem pela ampliação,<br />
as trabalhadoras terão<br />
que requisitar a licença de 6<br />
meses até o fim do primeiro mês<br />
após o parto.<br />
- Durante o período de licença-maternidade<br />
a funcionária<br />
receberá sua remuneração integral;<br />
neste período ela não pode<br />
exercer qualquer outra atividade<br />
remunerada ou colocar a<br />
criança em creche.<br />
- As micro e pequenas empresas<br />
inscritas no Simples (tributadas<br />
pelo lucro presumido)<br />
estão fora da possibilidade de<br />
adesão a este programa; o Governo<br />
entendeu que essas empresas<br />
já são beneficiadas por<br />
isenções fiscais e as gestantes<br />
que trabalham nessas empresas<br />
não poderão requerer a ampliação<br />
da licença-maternidade de 4<br />
para 6 meses.<br />
- Quando entrar em vigor, a<br />
licença-maternidade de seis<br />
meses passa a valer também<br />
para as mães adotivas, mas ficaram<br />
de fora as trabalhadoras<br />
autônomas e empregadas domésticas.<br />
- O empregador fica obrigado<br />
a recolher a contribuição à<br />
Previdência Social nos 2 meses<br />
extras de licença maternidade<br />
(regra que já vigora para os 4<br />
primeiros meses); ele pagará a<br />
remuneração da funcionária<br />
nesses 2 meses, mas esta despesa<br />
poderá ser abatida do Imposto<br />
de Renda.<br />
Às novas mães que eventualmente<br />
venham a se beneficiar<br />
desse programa é vedado colocar<br />
os filhos em creche ou qualquer<br />
outro tipo de “day care”<br />
durante a vigência da licençamaternidade<br />
estendida, sob<br />
pena de incorrer em penalidades.<br />
É bom lembrar que só 15%<br />
das crianças brasileiras com menos<br />
de quatro anos têm acesso<br />
a creches.<br />
Trocam-se 20 anos por dois<br />
meses - para uma parte reduzida<br />
das mulheres trabalhadoras<br />
- e fica-se à mercê da iniciativa<br />
de um ou outro empresário, que<br />
deixa de contribuir para o sistema<br />
de seguridade social, responsável,<br />
este sim, por financiar<br />
alternativas de guarda para<br />
todas as crianças ou benefícios<br />
universais que possam viabilizálas.<br />
Pode-se estabelecer um padrão<br />
de proteção aos rebentos<br />
das mulheres mais afortunadas,<br />
em relações de trabalho formalizadas<br />
e, portanto, negar isonomia<br />
às demais? Espera-se que,<br />
no país das desigualdades, o<br />
efeito demonstração nos leve a<br />
incorporar os excluídos -criados<br />
por legislações inadequadas- por<br />
força do bom senso.<br />
Parece avançada, mas não é.<br />
Vai na contramão do nosso sistema<br />
de seguridade social, conquista<br />
maior da Constituição de<br />
1988, que uniformiza benefícios<br />
e assegura eqüidade de acesso.<br />
Cinco dias de licença-paternidade<br />
é o tempo da celebração.<br />
DENÚNCIA<br />
Mulher foi presa em<br />
hospital por aborto<br />
Após denúncia do hospital<br />
onde foi procurar atendimento,<br />
uma mulher de 23 anos foi presa<br />
em flagrante e responderá na<br />
justiça, podendo ser condenada<br />
a até três anos de detenção.<br />
No sábado13 de setembro,<br />
Marisa, de 23 anos foi procurar<br />
atendimento em um hospital no<br />
município de Apucarana, no<br />
norte do Paraná. Ela estava sangrando<br />
com suspeita de aborto.<br />
No dia seguinte (14), foi presa<br />
em flagrante, no mesmo Hospital<br />
em que foi procurar atendimento,<br />
considerada criminosa,<br />
por suspeita de aborto induzido.<br />
Segundo o delegado, Luiz<br />
Carlos Manica, o caso chegou<br />
à polícia através de uma comunicação<br />
do Hospital da Providência,<br />
que teria denunciado a mulher<br />
por entender não se tratava<br />
de aborto natural, mas induzido<br />
por ela.<br />
Presa, Marisa confessou a<br />
tentativa de aborto e em seu<br />
depoimento afirmou ter comprado<br />
o medicamento utilizado<br />
em uma loja que funciona no terminal<br />
urbano de Apucarana.<br />
A partir do depoimento dela,<br />
o delegado Manica conseguiu<br />
na justiça um mandato de busca<br />
e apreensão. Na loja encontrou<br />
a dona do Box, Elizabeth, que<br />
também foi presa em flagrante<br />
e com ela apreendidos os medicamentos<br />
Pramil, Rheumazin,<br />
Rowatines, Atenix, Furperitromicina,<br />
Cefaliu, Cytotec, além<br />
de uma cartela sem identificação.<br />
Apesar da prisão de mais essa<br />
mulher, em flagrante, o delegado<br />
não se privou da absurda<br />
declaração de que “a investigação<br />
vai apurar se eram vendidos<br />
irregularmente, pois existe a suspeita<br />
de serem abortivos”. Ela foi<br />
presa sem a certeza de que os<br />
medicamentos eram abortivos?<br />
E sem a certeza de que eram vendidos<br />
irregularmente?<br />
Essa é a conduta da polícia e<br />
essa é parte do ciclo de clandestinidade,<br />
abuso e repressão a que<br />
estão submetidas as mulheres<br />
brasileiras. Quantas ainda precisarão<br />
ser presas ou morrer para<br />
que se perceba que a lei que<br />
considera o aborto como crime<br />
priva as mulheres de liberdade e<br />
de direitos?<br />
As informações são da imprensa<br />
do município do Paraná<br />
e fazem coro com a campanha<br />
da direita fascista que quer colocar<br />
na cadeia, e manter as mulheres<br />
escravas e prisioneiras, da<br />
Igreja e do Estado.<br />
NO PARANÁ<br />
Ironicamente na mesma<br />
matéria a imprensa noticia que<br />
“Segundo pesquisa divulgada<br />
no ano passado pela Organização<br />
Mundial de Saúde, seis<br />
milhões de mulheres praticam<br />
aborto induzido na América<br />
Latina todos os anos. Destas,<br />
1,4 milhão são brasileiras e uma<br />
em cada 1.000 morre em decorrência<br />
do aborto.” (Bonde-<br />
News online, 16/09/08)<br />
Marisa pagou uma fiança de<br />
R$ 400, 00 e foi liberada. Mas<br />
responderá judicialmente por<br />
crime de aborto. O código penal<br />
brasileiro autoriza a interrupção<br />
da gravidez apenas em casos<br />
de risco para a vida da mãe,<br />
e em casos de gravidez provocada<br />
por estupro. Mas considera<br />
criminosas as mulheres que<br />
realizam aborto fora desses<br />
critérios. Principalmente as<br />
mais pobres, que utilizam métodos<br />
arriscados e acabam precisando<br />
de atendimento em<br />
hospitais públicos, já que não<br />
podem pagar por procedimentos<br />
clandestinos, porém mais<br />
seguros.<br />
Mas se Marisa foi denunciada<br />
pelo próprio hospital em que<br />
foi procurar atendimento,<br />
como devem estar sendo atendidas<br />
as mulheres que também<br />
realizam aborto, mesmo os<br />
autorizados por lei, mas precisam<br />
de atendimento nesses<br />
mesmos hospitais?<br />
Perguntamos: será que ainda<br />
assim é possível considerar<br />
o aborto como caso de polícia?<br />
Então vamos colocar na cadeia<br />
todas essas 1,4 milhões de mulheres?<br />
Ou será melhor fazer<br />
como no Mato Grosso do Sul,<br />
onde quase 10.000 mulheres<br />
foram publicamente acusadas<br />
de criminosas por supostamente<br />
terem feito aborto em uma clinica<br />
que funcionava na capital<br />
Campo Grande?<br />
É necessária uma ampla<br />
campanha em defesa dos direitos<br />
democráticos das mulheres.<br />
Para tirar o Estado e<br />
todo seu aparato, como os<br />
hospitais públicos, escolas, os<br />
poderes legislativo, judiciário<br />
e executivo etc. do controle da<br />
Igreja, para que sejam laicos<br />
e promovam uma verdadeira<br />
mudança de mentalidade, reconhecendo<br />
o aborto como<br />
um direito democrático das<br />
mulheres. Mudando o retrógrado<br />
Código Penal de 1940,<br />
legalizando o aborto e exigindo<br />
o seu atendimento, pela<br />
rede pública de saúde.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA HISTÓRIA 18<br />
350 ANOS DA MORTE DE OLIVER CROMWELL – PARTE III<br />
A revolução burguesa na Inglaterra<br />
No ano em que se completam 350 anos da morte do líder da revolução burguesa na<br />
Inglaterra, a importância do estudo e da compreensão do episódio que derrubou a ordem<br />
monárquica e abriu as portas para a revolução industrial na Inglaterra dá a oportunidade<br />
de entender o período de hoje, fase de completa decadência da burguesia, que de classe<br />
revolucionária passou a ser uma classe contra-revolucionária e inimiga do progresso<br />
humano<br />
Após a Primeira Guerra Civil<br />
Inglesa, o Parlamento iniciou<br />
uma campanha para dissolver<br />
o Novo Exército Modelo<br />
(New Model Army), pois<br />
além de ser extremamente<br />
custoso para um período de<br />
paz, os conservadores – a<br />
maioria do Parlamento – não<br />
queriam que este exército fosse<br />
controlado pelos parlamentares<br />
radicais, afinal, era consenso<br />
entre as tropas não ceder<br />
a qualquer tipo de direito<br />
ao rei e às liberdades políticas<br />
pelas quais haviam lutado até<br />
então.<br />
Com o fim da guerra, Oliver<br />
Cromwell deveria dedicar-se<br />
à vida parlamentar,<br />
mas já nos primeiros meses de<br />
sessões parlamentares raramente<br />
comparecia. Chegou a<br />
alegar estar doente para justificar<br />
suas faltas, mas na<br />
verdade estava desanimado e<br />
deprimido com o impasse que<br />
se criava na situação da revolução.<br />
A alta burguesia e a<br />
aristocracia que haviam apoiado<br />
a revolução caminhavam<br />
para um acordo com o rei<br />
Carlos I, que continuava insistindo<br />
manter seus poderes<br />
de monarca absoluto, mesmo<br />
derrotado na guerra.<br />
Cromwell e os radicais temiam<br />
que o Parlamento conservador<br />
fizesse todos os pedidos<br />
do rei.<br />
No entanto, a situação revolucionária<br />
não se desenvolvia<br />
dentro do Parlamento, mas<br />
fora dele, entre as massas. Da<br />
radicalização da situação política<br />
surgiam as primeiras<br />
idéias de caráter democrático<br />
burguês, isto é, para a época,<br />
propostas revolucionárias democráticas<br />
e até mesmo socialistas,<br />
expressas principalmente<br />
pelos chamados “niveladores”<br />
(levellers), um grupo<br />
à esquerda dos radicais<br />
que desejava abolir totalmente<br />
a monarquia e estabelecer<br />
a igualdade entre as classes,<br />
porém sem a expropriação da<br />
propriedade privada. Ao mesmo<br />
tempo, com o vácuo político<br />
produzido após a morte<br />
do rei, surgia também um<br />
grupo à esquerda dos niveladores,<br />
os chamados diggers<br />
(escavadores), que reivindicavam<br />
a soberania popular e<br />
o poder político gerido pela<br />
população. Estas eram as primeiras<br />
noções de comunismo<br />
primitivo e revolução social<br />
surgida no País modelo do<br />
capitalismo no terreno da luta<br />
política prática.<br />
Estas primeiras noções de<br />
comunismo, expressão ideológica<br />
e política do proletariado<br />
e do campesinato, entravam<br />
em conflito com a política<br />
burguesa revolucionária<br />
representada por Cromwell,<br />
rico proprietário burguês e<br />
partidário da propriedade privada.<br />
Uma vez que o Parlamento<br />
era controlado pela ala mais<br />
conciliadora com a monarquia,<br />
o projeto de paz previa a<br />
manutenção do poder assumido<br />
pelas duas Câmaras, porém<br />
mantendo a figura do rei.<br />
Embora as decisões fossem<br />
tomadas pelo Parlamento, as<br />
Câmaras atuariam em nome<br />
do rei. Além disso, o projeto<br />
necessitava da aprovação do<br />
próprio rei, que, obviamente,<br />
se recusou a assiná-lo. Carlos<br />
I tinha em conta, ao resistir ao<br />
parlamento, não apenas a ala<br />
conciliadora, mas também o<br />
ambiente internacional e a tradição<br />
para tentar manter seu<br />
poder absoluto.<br />
Carlos I mantinha negociações<br />
nos bastidores, tentando<br />
somar aliados, principalmente<br />
no Exército e mais ainda<br />
no estrangeiro. Nesse<br />
momento, profundas inquietações<br />
atingiam as tropas. Estas<br />
estavam sob o controle do<br />
Parlamento de maioria conservadora,<br />
que estavam contra<br />
os propósitos dos soldados<br />
puritanos aliados a Cromwell<br />
e também à tendência mais radical,<br />
influenciada pelos niveladores.<br />
Para agravar a crise,<br />
a proposta do Parlamento de<br />
desmobilizar o Novo Exército<br />
Modelo não previa o pagamento<br />
dos soldos atrasados.<br />
Havia soldados que não recebiam<br />
havia mais de um ano.<br />
Viúvas e órfãos também não<br />
recebiam nenhuma pensão.<br />
Para evitar uma rebelião dos<br />
militares, o Parlamento decidiu<br />
rebaixar todos os oficiais<br />
de alta patente, uma emenda<br />
ao Decreto de Auto-Exoneração,<br />
que determinou que nenhum<br />
membro do Parlamento<br />
poderia servir o Exército.<br />
No dia de 30 de janeiro de 1649, Carlos I foi levado ao<br />
patíbulo e decapitado.<br />
A decisão era uma clara<br />
afronta contra Oliver<br />
Cromwell, o fundador do<br />
Novo Exército Modelo e<br />
mais experiente chefe militar<br />
da Inglaterra. Vários fatores<br />
levaram os soldados a<br />
não se submeterem ao Parlamento<br />
conservador. Primeiro<br />
desejavam ser comandados<br />
por Cromwell,<br />
segundo estavam profundamente<br />
revoltados com os<br />
pagamentos atrasados. Esta<br />
insatisfação ia em direção às<br />
idéias defendidas pelos niveladores,<br />
que a esta altura<br />
possuíam grande força nas<br />
camadas mais pobres da<br />
Inglaterra.<br />
A radicalização<br />
das tropas<br />
Em março de 1647, os soldados<br />
elegeram delegados para<br />
representá-los no Parlamento,<br />
os chamados “agitadores”,<br />
que seriam responsáveis por<br />
defender as idéias dos niveladores.<br />
Uma nova crise política<br />
vinha à tona.<br />
A ponto de se insurgirem<br />
contra o governo, o Parlamento<br />
propôs um acordo para as<br />
tropas. Os conservadores afirmaram<br />
estar dispostos a aceitar<br />
as reivindicações dos soldados,<br />
mas isso não foi suficiente<br />
para evitar a rebelião.<br />
Cromwell foi então designado<br />
pela Câmara dos<br />
Comuns para conter a<br />
revolta no interior do<br />
exército e preservar<br />
a aliança entre o<br />
Exército e o Parlamento.<br />
Cromwell<br />
estava num impasse.<br />
Precisava<br />
decidir entre<br />
sua autoridade<br />
parlamentar e o<br />
apoio que tinha<br />
por parte das<br />
tropas. Se<br />
apoiasse o Decreto<br />
de Exoneração,<br />
perderia<br />
o comando<br />
do Exército<br />
e sua popularidade<br />
entre os<br />
militares, mas,<br />
por outro lado, se<br />
apoiasse a rebelião,<br />
a situação poderia<br />
fugir totalmente<br />
de seu controle,<br />
pois o Exército<br />
estava muito inclinado<br />
a impor as reformas propostas<br />
pelos niveladores.<br />
À revelia do Parlamento e<br />
de Cromwell, o Exército declarou<br />
sua autonomia e prendeu<br />
o rei Carlos I, em 3 de<br />
junho de 1647. Surgiram especulações<br />
de que a rebelião seria<br />
uma manobra de Cromwell<br />
e o Parlamento articulava a<br />
sua prisão. Foi então que<br />
Cromwell juntou-se ao Exército<br />
novamente, com o objetivo<br />
de não deixar que as idéias<br />
dos niveladores “contaminassem”<br />
suas tropas. Sua maior<br />
batalha no momento era entre<br />
seu domínio sobre as tropas<br />
ou sua derrota diante dos niveladores.<br />
Para manter as tropas<br />
sob as suas rédeas, Cromwell<br />
aceitou a criação de um conselho<br />
militar que discutisse coletivamente<br />
qualquer decisão.<br />
Criava-se no interior do Exército<br />
uma espécie de duplo<br />
poder. Pela primeira vez não<br />
era mais Cromwell o chefe<br />
militar supremo, apesar de que<br />
todas as decisões deste conselho<br />
deveriam passar pelo seu<br />
crivo.<br />
Oliver Cromwell acreditava<br />
numa aliança estratégica com<br />
o rei a fim de preservar a tolerância<br />
religiosa tão fragilmente<br />
conquistada com a<br />
guerra. Os niveladores propunham<br />
a formação de uma República<br />
e a completa abolição<br />
da monarquia. Pretendiam<br />
também eliminar todos os parlamentares<br />
conservadores que<br />
haviam tentado dissolver o<br />
Exército. Estava mais do que<br />
claro de que o poder estava nas<br />
mãos dos militares.<br />
A crise resultou na criação<br />
dos Tópicos de Propostas,<br />
uma constituição proposta por<br />
Henry Ireton, genro de<br />
Cromwell, que previa resolver<br />
o impasse pela via institucional<br />
e evitar o crescimento dos<br />
niveladores. O documento<br />
previa a manutenção da Câmara<br />
dos Lordes e do rei, além da<br />
concessão de direitos especiais<br />
para proprietários de terras,<br />
incluindo privilégios para Ireton<br />
e, claro, para Cromwell.<br />
Este documento estava na<br />
contra-mão das idéias revolucionárias<br />
dos niveladores, que<br />
pretendiam acabar com a monarquia<br />
e instituir uma República<br />
dominada pelos pequenos<br />
proprietários. Os niveladores<br />
formularam então o Acordo do<br />
Povo, um projeto de carta<br />
constitucional considerada<br />
extremamente radical para a<br />
época, baseando-se num governo<br />
de consentimento popular<br />
e reivindicando o voto universal,<br />
outra medida que ia<br />
muito além das idéias da burguesia<br />
para o novo regime<br />
político.<br />
O Debate de<br />
Putney<br />
Um dos eventos mais importantes<br />
da história inglesa<br />
foi o Debate de Putney. Este foi<br />
o evento em que pela primeira<br />
vez se discutiram as novas<br />
idéias e o conceito de democracia<br />
burguesa. Cromwell,<br />
como mediador, tentava voltar<br />
todos os debates para o consenso<br />
nacional. O general<br />
foi até<br />
aqui a<br />
ex-<br />
pres-<br />
são da<br />
Oliver Cromwell.<br />
luta contra a<br />
aristocracia feudal e a<br />
monarquia, mas o desenvolvimento<br />
da revolução e a sua própria<br />
posição como burguês, o<br />
projetava inevitavelmente a<br />
conter a ala extrema-esquerda<br />
da revolução, a ala proletária.<br />
Vários soldados falavam em<br />
nome dos niveladores, que atacavam<br />
veementemente as propostas<br />
de Ireton de manutenção<br />
do regime monárquico. Os<br />
niveladores afirmavam que “o<br />
homem mais pobre da Inglaterra<br />
merecia igualdade de direitos<br />
na política”. Esta afirmação<br />
revolucionária colocava<br />
em xeque o poder de<br />
Cromwell, que acabou apelando<br />
a “Deus” para tentar um<br />
acordo. Dizia que “o poder de<br />
Deus” era muito mais importante<br />
do que as divergências e<br />
as formas de poder. “Elas são<br />
lixo e estrume comparadas a<br />
Cristo”, declarou.<br />
Seu maior objetivo era conter<br />
a forte tendência dos presentes<br />
a votarem com os niveladores,<br />
representados pelos<br />
agitadores eleitos pelos militares.<br />
Mas a manobra não deu<br />
certo. Logo após a sessão de<br />
orações, os presentes retomaram<br />
o debate e queriam votar<br />
o direito de todos os ingleses<br />
de votarem. Cromwell acusou<br />
os agitadores de querer dividir<br />
o Exército e impedir a unidade<br />
nacional, obrigando-os a voltarem<br />
aos seus regimentos. A<br />
divisão do campo revolucionário<br />
colocava objetivamente<br />
um limite e um impasse para a<br />
extrema-esquerda, o que abria<br />
caminho para a vitória de<br />
Cromwell sobre ela.<br />
Quando tudo parecia perdido<br />
para Cromwell, um acontecimento<br />
paralisou o andamento<br />
do debate. O rei não<br />
estava mais sob a custódia do<br />
Exército. Ele havia fugido do<br />
quartel de Hampton Court,<br />
onde estava preso. Mas alguns<br />
dias depois ele foi encontrado<br />
na ilha de Wight e recapturado,<br />
coincidentemente ou não,<br />
por um dos primos de<br />
Cromwell. Se antes o general<br />
estava apreensivo com o nível<br />
de radicalismo dos niveladores,<br />
Cromwell conquistara<br />
com o acontecimento uma<br />
maior autoridade. Alguns chegaram<br />
até mesmo a acusá-lo<br />
de ter forjado tudo para resgatar<br />
o apoio dos soldados. Com<br />
o Exército finalmente reunificado<br />
por <strong>causa</strong> da recaptura<br />
de Carlos I, este mesmo assim<br />
articulava secretamente planos<br />
para levar a Inglaterra a uma<br />
nova guerra civil. Conseguira<br />
o apoio dos escoceses, com a<br />
promessa de que instituiria o<br />
presbiterianismo como religião<br />
oficial no País por um período<br />
de três anos.<br />
Não demorou muito para<br />
que os planos chegassem aos<br />
ouvidos de Cromwell e ele<br />
ameaçou tomar atitudes drásticas<br />
caso o rei não governasse<br />
o País de acordo com as<br />
decisões parlamentares.<br />
A escalada militar se desenvolvia<br />
em meio à crise do próprio<br />
Exército. A ala radical das<br />
tropas, aliada aos niveladores,<br />
estava novamente<br />
a ponto<br />
de se<br />
rebelar<br />
e Cromwell<br />
foi forçado a<br />
se aproximar do grupo mais<br />
radical para contornar a crise<br />
interna antes que a guerra começasse,<br />
o que acabou acontecendo<br />
em fevereiro de 1648,<br />
no País de Gales.<br />
Da segunda<br />
guerra civil à<br />
decapitação do rei<br />
Novamente os ironsides comandados<br />
por Cromwell faziam<br />
a diferença. O disciplinado<br />
e experiente exército enfrentava<br />
em várias frentes as forças<br />
monarquistas e as tropas escocesas.<br />
A batalha mais importante<br />
da segunda guerra civil foi a<br />
Batalha de Preston. Ao contrário<br />
das outras lutas, que duravam<br />
algumas horas, esta se<br />
estendeu por cerca de duas<br />
semanas, com as tropas monarquistas<br />
sendo totalmente esmagadas,<br />
no dia 25 de agosto.<br />
A vitória do Exército deu a<br />
Cromwell o poder que precisava.<br />
As tropas escocesas se renderam<br />
e um governo pró-Parlamento<br />
assumiu o poder na<br />
Escócia. A segunda guerra civil<br />
terminava aqui.<br />
Mas se bem Cromwell havia<br />
reunificado as tropas, o Parlamento<br />
se reuniu e os representantes<br />
do Exército estavam decididos<br />
a não fazer nenhum<br />
acordo com o rei. Logo após a<br />
guerra já haviam inúmeras petições<br />
inspirados pelos niveladores<br />
para a execução de Carlos<br />
I. Se os oficiais não apoiassem<br />
os soldados, estes afirmavam<br />
que dariam cabo da tarefa<br />
mesmo assim.<br />
Enquanto isso Cromwell estava<br />
no Norte (Escócia) para<br />
evitar que novas rebeliões surgissem.<br />
Em Londres quem assumia<br />
as tarefas políticas em<br />
seu lugar era seu genro Ireton,<br />
incumbido de manter a coesão<br />
do Exército. Com a mesma unidade<br />
necessária para derrotar<br />
as tropas monarquistas na<br />
guerra, Ireton precisaria das<br />
mesmas forças para dominar<br />
um cenário político cada vez<br />
mais radicalizado. Tentava<br />
costurar um acordo entre os<br />
oficiais moderados e os dirigentes<br />
niveladores.<br />
O Exército era praticamente<br />
um destacamento armado da<br />
população ou, mais precisamente,<br />
desempenhava na revolução<br />
burguesa o mesmo papel<br />
que viria a desempenhar o conselho<br />
operário (soviete) na revolução<br />
proletária. Neste aspecto<br />
tinham mais poder que o<br />
próprio Parlamento. Seria impossível<br />
não fazer concessões<br />
aos niveladores, por isso Ireton<br />
apresentou em novembro de<br />
1648 um manifesto intitulado<br />
Um Protesto do Exército, no<br />
qual definiam os princípios<br />
niveladores. O documento propunha<br />
ainda o julgamento do<br />
rei, acusado de derramar o<br />
sangue do povo inglês.<br />
A primeira medida prática<br />
seria impedir a entrada no Parlamento<br />
dos deputados conciliadores<br />
com a monarquia. O<br />
jogo havia se invertido. Se no<br />
período que antecedera a primeira<br />
guerra civil os radicais<br />
foram impedidos de entrar pelos<br />
moderados, desta vez eram<br />
os radicais que impediam a entrada<br />
de 140 deputados ligados<br />
aos interesses da realeza. Apenas<br />
50 parlamentares conseguiram<br />
entrar na Câmara<br />
dos Comuns, fato<br />
que ficou conhecido<br />
como Rump Parliament<br />
(Parlamento<br />
Restante). A instância<br />
máxima do<br />
poder inglês estava<br />
dominada por<br />
aqueles que queriam<br />
ver a cabeça<br />
do rei rolar.<br />
Cromwell<br />
chegou no<br />
mesmo dia dos<br />
expurgos e<br />
apoiou a decisão,<br />
finalmente<br />
não havia<br />
como se posicionar<br />
contrário<br />
ao julgamento<br />
do rei uma<br />
vez que seu próprio<br />
exército leal<br />
desejava fazê-lo.<br />
Ao mesmo tempo<br />
opunha-se ao estabelecimento<br />
da República<br />
que via como<br />
uma ameça ao poder da<br />
burguesia diante das camadas<br />
populares.<br />
Foi estabelecido então<br />
uma Suprema Corte de Justiça<br />
responsável para julgar Carlos<br />
I, em nome do Parlamento.<br />
No dia de 30 de janeiro de<br />
1649, Carlos I foi levado ao patíbulo<br />
e decapitado.<br />
Esta foi a primeira vez na história<br />
que um rei ainda em exercício<br />
foi decapitado. Muitos<br />
reis haviam sido anteriormente<br />
julgados e condenados, mas<br />
nenhum em exercício. Indagado<br />
sobre a atitude de julgar um<br />
monarca reinante, Cromwell<br />
apenas desdenhou dizendo que<br />
a cabeça do rei seria cortada<br />
com a coroa em cima. A burguesia,<br />
que havia buscado o<br />
acordo com o rei teve decisão<br />
na hora de romper este acordo<br />
e decapitar o monarca, condenando<br />
de fato a monarquia.<br />
A década de 40 foi marcada<br />
por um das mais graves crises<br />
econômicas na Inglaterra. Com<br />
a morte de Carlos I, dirigentes<br />
niveladores foram elevados à<br />
altas patentes no Exército.<br />
Na próxima e última parte<br />
sobre Oliver Cromwell e a revolução<br />
inglesa, abordaremos o<br />
período da comunidade inglesa<br />
formada pelo general, a repressão<br />
contra as rebeliões<br />
pela liberdade religiosa e o regime<br />
militar imposto pelo Lorde<br />
Protector, Oliver Cromwell.<br />
Sua guinada à direita não<br />
seria fruto de seu fanatismo<br />
puritano, mas uma resposta<br />
que o Parlamento não poderia<br />
dar diante das idéias revolucionárias<br />
disseminadas pelos niveladores<br />
e por um outro grupo<br />
ainda mais radical: os diggers<br />
(escavadores), grupo<br />
formado por trabalhadores rurais<br />
que influenciou inclusive as<br />
fileiras dos próprios niveladores,<br />
simpáticos às idéias comunistas<br />
de Gerrard Winstanley.<br />
A próxima edição apresentará<br />
um panorama das condições<br />
de vida dos trabalhadores inglesas<br />
durante a revolução que<br />
acabou com o feudalismo, os<br />
bastidores da guerra entre o<br />
Parlamento e o rei.<br />
Errata: nas edições 488 e<br />
489 deste jornal, onde se escreveu<br />
“450 anos da morte de Crowmell”,<br />
leia-se “350 anos da<br />
morte de Cromwell”.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL 19<br />
RUANDA ELEIÇÕES LEGISLATIVAS<br />
País realiza segunda eleição<br />
desde o genocídio de 1994<br />
A Frente Patriótica Ruandesa ganhou a maioria das<br />
cadeiras com folga, uma vez que a maioria da oposição<br />
vive no exílio sem apresentar candidatos<br />
A oposição do pequeno País da África Central inclui cerca de<br />
dez partidos que atuam no exílio desde o fim do genocídio.<br />
Realizou-se na segundafeira<br />
(15) as eleições legislativas<br />
de Ruanda, onde mais<br />
de quatro milhões de eleitores<br />
escolheram 53 deputados<br />
entre 355 candidatos.<br />
Este é o segundo pleito organizado<br />
desde o genocídio<br />
de 1994, quando cerca de<br />
500 mil a um milhão de pessoas<br />
(entre tutsis e hutus<br />
considerados traidores) foram<br />
massacrados.<br />
Centenas de pessoas já formavam<br />
filas na capital Kigali<br />
antes da abertura da votação<br />
de segunda-feira, dia decretado<br />
como feriado nacional.<br />
As estimativas já apontavam<br />
para uma vitória fácil da<br />
Frente Patriótica Ruandesa<br />
(FPR) do presidente tutsi<br />
Paul Kagame, líder de uma<br />
coalizão formada por seis<br />
partidos, diante da fraca oposição<br />
do Partido Social Democrata<br />
(PSD) e do Partido<br />
Liberal (PL). Ambos partidos<br />
apoiaram Kagame nas primeiras<br />
eleições de 2003.<br />
A oposição do pequeno País<br />
da África Central inclui cerca<br />
de dez partidos que atuam no<br />
exílio desde o fim do genocídio<br />
e não apresentaram candidatos<br />
em nenhuma das eleições. Este<br />
vazio político dá à FPR a perspectiva<br />
de uma cômoda vitória<br />
por ampla maioria.<br />
Só há um candidato independente<br />
entre os concorrentes<br />
pelas 53 cadeiras da Câmara<br />
dos Deputados. Os outros<br />
27 assentos serão concedidos<br />
mediante eleições indiretas a<br />
serem realizadas ainda este<br />
mês, dos quais 24 são reservados<br />
às mulheres, dois para representantes<br />
da juventude e<br />
um para “descapacitados”.<br />
Haviam 356 candidatos ao<br />
pleito, mas um deles foi desclassificado<br />
pela Comissão<br />
Nacional Eleitoral por acusações<br />
de genocídio.<br />
Foram distribuídas cerca<br />
de 15 mil urnas em 2.150<br />
pontos de votação, mas muitas<br />
urnas continuavam fechadas<br />
horas após a abertura<br />
do pleito, fato que causou<br />
certa tensão, porém sem maiores<br />
conseqüências.<br />
Em 2003, nas primeiras<br />
eleições parlamentares desde<br />
o massacre, o FPR conquistou<br />
95% dos votos.<br />
Após o genocídio<br />
Paul Kagame, 51 anos, é<br />
Centenas de pessoas já formavam filas na capital Kigali<br />
antes da abertura da votação de segunda-feira, dia<br />
decretado como feriado nacional.<br />
acusado pelo governo francês<br />
(ex-colonizador de Ruanda)<br />
de ter participado do atentado<br />
que derrubou o avião do<br />
ex-presidente hutu, Juvenal<br />
Habyarimana, no dia 6 de abril<br />
de 1994, sendo o estopim para<br />
o início da guerra civil. Os dois<br />
países estão com relações diplomáticas<br />
rompidas desde<br />
2006, quando as acusações<br />
vieram à tona.<br />
Em agosto deste ano, uma<br />
comissão governamental que<br />
estuda as origens do genocídio<br />
de 1994 concluiu que vários<br />
políticos e militares franceses<br />
participaram diretamente<br />
do massacre.<br />
O informe publicado na<br />
terça-feira (5) acusa, dentre<br />
outros, o ex-primeiro-ministro,<br />
Dominique de Villepin, e<br />
o ex-presidente, François<br />
Mitterrand, de participarem<br />
da execução da minoria tutsi.<br />
Foram relacionados ao<br />
todo 33 nomes - 13 políticos<br />
e 20 militares. A comissão de<br />
investigação ruandesa sobre<br />
o papel da França no genocídio<br />
- cujo documento tem<br />
mais de 500 páginas - concluiu<br />
que a França estava “a<br />
par dos preparativos e participou<br />
nas principais iniciativas<br />
e em sua execução”.<br />
“Vários militares franceses<br />
cometeram eles mesmos<br />
assassinatos de tutsis e de<br />
hutus acusados de esconder<br />
tutsis. Os militares franceses<br />
também cometeram inúmeras<br />
violações com sobreviventes<br />
tutsis”.<br />
“O apoio francês foi político,<br />
militar, diplomático e tinha<br />
base logística”, indica o<br />
informe”, conclui o documento<br />
(AFP,6/8/2008).<br />
Desde o massacre, Ruanda<br />
passou por várias reformas<br />
políticas e recebe assistência<br />
internacional dos países<br />
imperialistas que não fizeram<br />
nada para evitar o genocídio<br />
(ou que participaram<br />
secretamente do massacre).<br />
Até hoje o País tenta impulsionar<br />
uma reconciliação étnica<br />
dificultada pelas guerras<br />
dos países vizinhos, por sua<br />
vez impulsionada pelo imperialismo.<br />
As estimativas já apontavam para uma vitória fácil da Frente<br />
Patriótica Ruandesa (FPR) do presidente tutsi Paul Kagame.<br />
ADQUIRA BIBLIOTECA<br />
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PAQUISTÃO A CRISE CONTINUA<br />
Tropas paquistanesas<br />
bloqueiam com disparos<br />
helicópteros norte-americanos<br />
Forças Armadas paquistanesas<br />
atiraram contra helicópteros<br />
norte-americanos que violaram o<br />
espaço aéreo do Paquistão na<br />
segunda-feira, 15, segundo afirmaram<br />
fontes oficiais do governo<br />
de Islamabad.<br />
O incidente, o primeiro desde<br />
que os EUA deram na semana<br />
passada permissão para que suas<br />
tropas no Afeganistão realizem<br />
operações especiais à revelia do<br />
governo paquistanês, aconteceu<br />
em Angor Adda, um vilarejo na<br />
região tribal do Sul do Uaziristão,<br />
reduto do Talebã, onde as tropas<br />
dos EUA intensificaram operações<br />
militares neste mês.<br />
A zona tribal localizada entre o<br />
Afeganistão e o Paquistão foi apontada<br />
pelo imperialismo norte-americano<br />
como um foco para a preparação<br />
de “grupos terroristas” e<br />
um alvo preferencial na sua “guerra<br />
contra o terror”.<br />
O chefe do Estado-Maior norte-americano<br />
anunciou na semana<br />
passada que as tropas militares<br />
no Afeganistão possuem permissão<br />
para cruzar a fronteira do<br />
País com o Paquistão usando,<br />
como sempre, o pretexto de “capturar<br />
e aniquilar terroristas da Al-<br />
Qaeda e do Taleban”. A decisão<br />
provocou uma crise diplomática<br />
entre os dois países depois que um<br />
comando norte-americano promoveu<br />
um ataque que resultou na<br />
morte de ao menos 20 civis. O governo<br />
paquistanês advertiu que<br />
não vai tolerar esse tipo de incursão<br />
sem permissão de Ismalabad.<br />
O chefe do Exército paquistanês,<br />
general Ashfaq Kayani, declarou<br />
que defenderá a soberania<br />
e a integridade territorial do país<br />
e não permitirá que nenhuma força<br />
estrangeira promova operações<br />
dentro do Paquistão.<br />
Outro funcionário de segurança<br />
paquistanês disse que veículos<br />
blindados norte-americanos também<br />
foram vistos em movimento<br />
no lado afegão da fronteira.<br />
Também disse que os soldados<br />
paquistaneses dispararam no ar,<br />
VOLKSWAGEN GREVE NA ALEMANHA<br />
obrigando os helicópteros a voltarem.<br />
À medida que a crise se aprofunda<br />
no Afeganistão, onde as<br />
tropas norte-americanas estão<br />
perdendo a guerra, o Paquistão<br />
também é seriamente afetado. O<br />
desespero do imperialismo levará<br />
inevitavelmente a um confronto<br />
contra o país que foi até então seu<br />
principal aliado no chamado<br />
“combate ao terrorismo”.<br />
O Paquistão foi até então o<br />
principal aliado do imperialismo na<br />
chamada política de “combate ao<br />
terrorismo”. A saída de Pervez<br />
Musharraf do poder e o reduto da<br />
insurgência na fronteira levarão<br />
esta aliança à sua dissolução.<br />
O País é uma peça chave para<br />
a estabilidade política da região. A<br />
evolução da crise aponta para a<br />
decomposição do regime que,<br />
mesmo após a saída do ditador<br />
Pervez Musharraf, não consegue<br />
conter a dissolução de um importante<br />
eixo de influência do imperialismo.<br />
Dezenas de milhares de metalúrgicos<br />
protestam na Alemanha<br />
Na sexta-feira (12) mais de 40<br />
mil metalúrgicos da Volkswagen<br />
alemã protagonizaram um dos<br />
maiores protestos da história da<br />
montadora. Os trabalhadores reuniram-se<br />
em Wolfsburg, sede da<br />
empresa, para defender a chamada<br />
“lei Volkswagen”.<br />
A Volks foi uma empresa estatal<br />
criada pelos nazistas e privatizada<br />
há 50 anos. A lei que privatizou<br />
a empresa foi chamada de<br />
“Lei Volks”. A lei, criada em 1960,<br />
garantiu os direitos dos trabalhadores<br />
e deu a eles e ao Estado alemão<br />
da Baixa Saxônia (norte) o<br />
direito à participação nas decisões<br />
da empresa, além de proteger a<br />
montadora das “compras hostis”<br />
por parte de outros grupos. O<br />
Estado, que concentra as principais<br />
atividades da montadora, detém<br />
30% de suas ações.<br />
A <strong>causa</strong> dos protestos dos trabalhadores<br />
está em que a justiça<br />
européia condenou a lei no ano<br />
passado, graças à pressão da sua<br />
maior acionista, a também montadora<br />
alemã Porsche. A Porsche já<br />
detém 31% das ações da Volks e<br />
pretende assumir mais de 50% nas<br />
próximas.<br />
A Porsche é a empresa automobilística<br />
mais rentável do mundo e<br />
já domina outras montadoras<br />
como a Scania. Toda a pressão<br />
contra a lei vem do interesse da<br />
montadora em controlar a Volks de<br />
olho nos lucros gerados pelos seus<br />
mais de 300 mil trabalhadores em<br />
todo o mundo.<br />
Mesmo após a decisão da jus-<br />
tiça européia, o governo alemão<br />
conservou o direito de veto do acionista<br />
público. A atitude irritou a<br />
Comissão européia, que anunciou<br />
que pode processar o governo alemão.<br />
A forte mobilização dos trabalhadores<br />
coloca o governo alemão<br />
na parede. O sindicato dos<br />
metalúrgicos IG Mettal, que representa<br />
mais de 90% dos assalariados<br />
da Volks, domina os<br />
protestos. Os trabalhadores fazem<br />
uma queda de braço com a<br />
Porsche para garantir os empregos<br />
e manter o poder de decisão<br />
sobre a empresa. A forte mobilização<br />
é uma mostra de que há<br />
uma tendência de luta dos trabalhadores<br />
que chega inclusive nos<br />
países avançados.<br />
NOTAS<br />
Governo da<br />
Venezuela expulsa<br />
dirigentes de<br />
organização<br />
humanitária<br />
acusados de<br />
planejarem um<br />
golpe de Estado<br />
O governo venezuelano<br />
convocou na sexta-feira (19)<br />
uma manifestação até o palácio<br />
presidencial para respaldar<br />
a decisão de Hugo Chávez<br />
de expulsar do País dirigentes<br />
da suposta organização<br />
humanitária Human Rights<br />
Watch, acusados de planejarem<br />
junto com a oposição um<br />
golpe de Estado e até mesmo<br />
o assassinato de Chávez.<br />
O diretor e o subdiretor de<br />
uma das maiores organizações<br />
humanitárias do mundo,<br />
o chileno José Miguel Vivanco<br />
e o norte-americano Daniel<br />
Wilkinson, responsáveis da<br />
HRW para o continente americano,<br />
foram expulsos na<br />
quinta-feira à noite, após a<br />
apresentação de um relatório<br />
intitulado “Uma Década de<br />
Chávez: Intolerância Política<br />
e Oportunidades Perdidas<br />
para o Progresso dos Direitos<br />
Humanos na Venezuela”.<br />
O relatório de 267 páginas<br />
afirma que o “suposto compromisso<br />
democrático de<br />
Chávez é contraditório com o<br />
desprezo às garantias institucionais<br />
e de direitos fundamentais<br />
que lhe foram atribuídos”.<br />
“Particularmente sério é o<br />
enfraquecimento sistemático<br />
das instituições democráticas,<br />
embora a Venezuela não<br />
seja o país onde mais se violam<br />
os direitos humanos na<br />
região”, afirmou Vivanco,<br />
citando Colômbia e Cuba<br />
(EFE, 19/9/2008).<br />
Ambos foram detidos por<br />
policiais no hotel em que estavam<br />
hospedados e acusados<br />
de “ingerência nos assuntos<br />
internos da Venezuela”. Eles<br />
foram encaminhados ao aeroporto<br />
e tomaram um avião<br />
com destino a São Paulo.<br />
Confronto entre<br />
rebeldes tâmeis e<br />
marinha do Sri<br />
Lanka termina com<br />
25 mortos<br />
Um confronto naval com a<br />
Marinha cingalesa em águas<br />
do noroeste do Sri Lanka deixou<br />
pelo menos 25 rebeldes<br />
tâmeis mortos hoje, enquanto<br />
dez de suas embarcações foram<br />
destruídas.<br />
Um porta-voz da Marinha<br />
militar cingalesa, D.K.P. Dassanayake,<br />
afirmou que foi detectada<br />
a presença de cerca de<br />
20 embarcações da guerrilha<br />
dos Tigres de Libertação da<br />
Pátria Tâmil (LTTE) no mar<br />
de Nachchikudha.<br />
As unidades da Marinha iniciaram<br />
um ataque no qual pelo<br />
menos 25 rebeldes morreram<br />
e um número indeterminado<br />
ficou ferido.<br />
Como conseqüência do<br />
confronto, sete pequenas embarcações<br />
da guerrilha e três<br />
navios de grande tamanho ficaram<br />
destruídos, acrescentou<br />
a fonte contatada telefonicamente.<br />
Durante os confrontos, que<br />
se prolongaram várias horas,<br />
dois soldados cingaleses ficaram<br />
feridos.<br />
Os “tigres” tâmeis enfrentam<br />
as Forças Armadas governamentais<br />
há mais de duas décadas<br />
para conseguir um Estado<br />
independente no leste e no<br />
norte do país.<br />
Ministra do Exterior,<br />
Tzipi Livni, é<br />
apontada como<br />
vencedora das<br />
eleições em Israel<br />
Segundo pesquisas de intenção<br />
de voto, a ministra do<br />
Exterior israelense, Tzipi Livni,<br />
venceu a eleição realizada<br />
na quarta-feira (17) para escolher<br />
o novo líder do partido Kadima<br />
e muito provavelmente<br />
para assumir o cargo de primeiro-ministro.<br />
Livni teria vencido o ministro<br />
dos Transportes, Shaul<br />
Mofaz, por uma margem de<br />
48% a 37% dos votos, uma<br />
vantagem que dispensaria o<br />
segundo turno.<br />
O atual primeiro-ministro,<br />
Ehud Olmert, disse que renunciaria<br />
logo que o vencedor<br />
saísse. Ele está sendo acusado<br />
de desvio de verbas, na<br />
verdade um mero pretexto<br />
para disfarçar uma manobra<br />
política de exclusão de Olmert,<br />
que está totalmente isolado<br />
politicamente.<br />
O vencedor terá um prazo<br />
de seis semanas para formar<br />
uma coalizão de governo.<br />
Ataque contra a<br />
embaixada dos EUA<br />
no Iêmen deixa ao<br />
menos 16 mortos<br />
Um ataque contra a embaixada<br />
dos EUA no Iêmen na<br />
quarta-feira (17) matou ao<br />
menos 16 pessoas e deixou<br />
dezenas de feridos. Nenhuma<br />
das vítimas são norte-americanas.<br />
Um carro-bomba explodiu<br />
por volta das 8h30 do horário<br />
local (2h30 em Brasília) na<br />
capital Sanaa. Testemunhas<br />
afirmam que o carro se chocou<br />
contra o portão de entrada<br />
da embaixada, explodindo<br />
em seguida. Um tiroteio foi<br />
iniciado logo após a explosão<br />
entre agentes de segurança e<br />
militantes islâmicos.<br />
A autoria do ataque foi reivindicada<br />
por um grupo que<br />
se autodenomina Jihad Islâmica<br />
no Iêmen. O grupo<br />
ameaçou ainda ataques outros<br />
alvos dos EUA até que<br />
seus companheiros sejam libertados.<br />
Todo o corpo diplomático<br />
norte-americano deixou o<br />
prédio. O Iêmen é um dos<br />
principais países árabes aliados<br />
ao imperialismo norteamericano<br />
em sua chamada<br />
“guerra contra o terrorismo”.<br />
É também um dos países<br />
mais pobres do Oriente<br />
Médio, portanto com alta<br />
propensão à formação de organizações<br />
armadas.<br />
Este é um dos maiores ataques<br />
já realizados no País<br />
contra os EUA. O maior deles<br />
continua sendo o que atingiu<br />
o navio militar norte-americano<br />
USS Cole, em outubro<br />
de 2000, quando 17 marinheiros<br />
dos EUA morreram.
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL 20<br />
CRISE POLÍTICA<br />
Quais são os planos da direita boliviana?<br />
Uma nova crise política domina<br />
a Bolívia. Após o povo boliviano<br />
ter derrubado a oligarquia<br />
pró-imperialista representada<br />
por Gonzalo Sánches de<br />
Lozada em 2003 e Carlos Mesa<br />
em 2005, esta mesma direita<br />
tenta voltar ao poder à força,<br />
aprovando estatutos próprios<br />
independentes da Constituição<br />
do Estado e colocando em<br />
marcha um plano sedicioso<br />
com base na violência e no terror<br />
provocado por bandos fascistas.<br />
A direita está se movimentando<br />
em torno de uma política<br />
internacional impulsionada pelo<br />
imperialismo que tem como objetivo<br />
encurralar o governo de<br />
Evo Morales e forçá-lo a ceder<br />
a todos os interesses da oligarquia,<br />
que visa consolidar seu<br />
poder político e econômico nas<br />
regiões mais ricas do País em<br />
petróleo e gás.<br />
No entanto, o golpe de Estado<br />
civil que está em marcha<br />
neste momento não vem de<br />
dentro da Bolívia, mas de fora,<br />
de um plano ditado pelo imperialismo<br />
norte-americano que<br />
quer pressionar Morales a dar<br />
cada vez mais espaço para os<br />
grandes capitalistas industriais<br />
e latifundiários.<br />
Trata-se, portanto, de uma<br />
tática tradicional aplicada pelo<br />
imperialismo. A velha tática do<br />
separatismo, tal como acontece<br />
na Palestina ou então mais recentemente<br />
na ex-Iugoslávia e<br />
em Kosovo, nos Bálcãs.<br />
Esta tática consiste em consolidar<br />
uma ruptura com o governo,<br />
criando nas regiões mais<br />
ricas do País - Santa Cruz, Pando,<br />
Beni e Tarija - estatutos autônomos<br />
próprios, leis próprias<br />
e forças de repressão próprias.<br />
Plano tático<br />
O que deve ser entendido é<br />
que os eventos ocorridos na<br />
Bolívia nas últimas semanas são<br />
apenas parte de um plano maior.<br />
Em primeiro lugar a direita<br />
não quer excluir Morales da<br />
política nacional, pois ele é o<br />
GOLPE DE ESTADO CIVIL<br />
A direita quer colocar a Bolívia novamente nos trilhos<br />
do imperialismo. Estes planos só podem ser alcançados<br />
com a capitulação do governo e a ajuda das Forças<br />
Armadas, o que de fato está acontecendo. Porém há uma<br />
barreira intransponível: vencer o movimento<br />
revolucionário das massas<br />
principal freio de contenção à<br />
tendência revolucionária das<br />
massas. Morales subiu ao poder<br />
em 2005, após os trabalhadores<br />
derrubarem dois governos próimperialistas.<br />
Sua primeira medida<br />
foi decretar a nacionalização<br />
dos hidrocarbonetos e das<br />
refinarias, postos e distribuidores<br />
de petróleo, gás e derivados,<br />
além de tornar o governo sócio<br />
majoritário dessas indústrias.<br />
Dois anos depois, a Assembléia<br />
Constituinte aprovaria a nova<br />
Constituição Política do Estado<br />
(CPE), que aprova entre outras<br />
medidas a submissão dos mandatos<br />
do presidente e dos governadores<br />
estaduais a referendos<br />
revogatórios.<br />
Todas essas medidas estão<br />
no marco do regime burguês e<br />
das suas instituições, respeitando<br />
acima de tudo o direito à propriedade<br />
privada. O MAS e Evo<br />
Morales foram eleitos para socorrer<br />
o regime burguês e manter<br />
o movimento revolucionário<br />
dos trabalhadores sob as suas<br />
rédeas.<br />
Como seria possível uma direita<br />
que foi derrubada duas vezes<br />
só nos últimos cinco anos<br />
reverter o quadro da situação?<br />
Esta mesma direita estaria fortalecida<br />
a ponto de dividir o País<br />
ao meio?<br />
Uma direita<br />
legalista?<br />
Um dos piores erros na compreensão<br />
da situação boliviana<br />
seria acreditar que a direita é forte<br />
e que prova disso é a tentativa<br />
de golpe de estado civil. Outro<br />
erro seria pensar que o plano sedicioso<br />
se dá nos marcos das<br />
instituições e das leis.<br />
A imprensa burguesa em geral<br />
atribui as ocupações de prédios<br />
públicos, bloqueios de estradas<br />
e a atuação de milícias paramilitares<br />
de extrema-direita<br />
contra os trabalhadores à tentativa<br />
de uma elite impedir a realização<br />
do referendo constitucional<br />
marcado para o dia 7 de dezembro<br />
que, se aprovado, dará<br />
o direito a Evo Morales concorrer<br />
às eleições presidenciais de<br />
2010.<br />
Outro fator de disputa seria<br />
sobre o Imposto Direto aos Hidrocarbonetos<br />
(IDH), que Morales<br />
tirou dos departamentos<br />
controlados pela oposição para<br />
aplicar em um programa social<br />
para idosos sem pensão.<br />
A disputa não é constitucional<br />
e tão pouco se baseia em uma<br />
disputa sobre os impostos,<br />
como na Argentina, quando o<br />
governo foi paralisado pelos bloqueios<br />
impulsionados pelos ruralistas.<br />
Não se trata de uma<br />
direita legalista que quer subir<br />
novamente ao poder em 2010.<br />
Evo Morales foi eleito com<br />
53,74% dos votos em dezembro<br />
de 2005, sendo o primeiro presidente<br />
da Bolívia de origem indígena<br />
e o primeiro mandatário<br />
boliviano a ser eleito para o<br />
cargo em primeiro turno em<br />
mais de três décadas.<br />
No mês passado sua popularidade<br />
se confirmou de forma<br />
ainda mais retumbante. Ganhou<br />
mais de 67% dos votos no referendo<br />
revogatório realizado<br />
no mês passado. Sete de cada<br />
dez bolivianos votaram em Morales,<br />
um índice muito maior do<br />
que o alcançado por Lula no<br />
Brasil.<br />
Isto só prova que a direita<br />
não tem nenhuma força na Bolívia.<br />
Não só é impossível a direita<br />
vencer as eleições de 2010<br />
como é totalmente inútil o referendo<br />
constitucional. É preciso<br />
deixar claro que esta tentativa de<br />
dividir o País é a última chance<br />
da direita de consolidar seu<br />
poder político e econômico. Se<br />
este plano fracassar, não é o governo<br />
de colaboração de classes<br />
que irá dar cabo dela, mas a ação<br />
revolucionária das massas.<br />
Apoio das Forças<br />
Armadas<br />
O presidente da Venezuela,<br />
Hugo Chávez, aliado político de<br />
Evo Morales, já havia dito que se<br />
a direita tomasse o poder à força<br />
ou assassinasse Evo Morales,<br />
enviaria tropas venezuelanas para<br />
defender o governo boliviano. A<br />
declaração causou aborrecimento<br />
entre as Forças Armadas da<br />
Bolívia, que imediatamente soltaram<br />
um comunicado reiterando<br />
que não querem que nenhuma<br />
tropa internacional pise no<br />
solo boliviano.<br />
Desta vez, Chávez acusou o<br />
comandante das Forças Armadas<br />
bolivianas, general Luis Trigo,<br />
de desobedecer as ordens do<br />
governo para facilitar o golpe<br />
civil. Chávez comparou o general<br />
aos militares venezuelanos<br />
que também facilitaram a tentativa<br />
frustrada do golpe contra ele<br />
em 2002.<br />
Citando fontes não reveladas,<br />
Chávez disse que Trigo “ao invés<br />
de cumprir o decreto presidencial<br />
de estado de sítio, ordenou<br />
que as tropas se aquartelassem<br />
e abandonassem o aeroporto”<br />
da convulsionada região de<br />
Pando, onde ao menos 30 camponeses<br />
foram massacrados no<br />
sábado (13).<br />
Chávez lembrou também o<br />
general chileno Augusto Pinochet,<br />
“que fingiu até o último<br />
momento estar ao lado do presidente<br />
Salvador Allende”, até<br />
derrubá-lo em um golpe militar<br />
em 1973.<br />
Outra demonstração de completa<br />
fraqueza da direita. Os bandos<br />
fascistas que estão promovendo<br />
a ocupação de prédios<br />
governamentais e o bloqueio de<br />
estradas tem o apoio das próprias<br />
Forças Armadas bolivianas,<br />
as mesmas forças que acumulam<br />
um vasto histórico de chacinas<br />
e massacres contra o<br />
povo boliviano.<br />
O máximo que esta corja direitista<br />
pode fazer é contratar pequenos<br />
grupos da classe média<br />
urbana dos centros comerciais<br />
para aterrorizar a população<br />
pobre e desarmada. Os militares<br />
não teriam nenhum trabalho<br />
para esmagar<br />
estes<br />
bandos fascistas, mas estes<br />
paramilitares estão sendo armados<br />
pelo próprio exército.<br />
Movimento de<br />
massas<br />
independente e<br />
revolucionário<br />
A direita teme um novo levante<br />
popular, mas sabe que Evo<br />
Morales está disposto a negociar.<br />
Esta mesma direita foi derrubada<br />
por uma revolução e não<br />
pode voltar sem o apoio de Morales.<br />
Aliam a política burguesa<br />
do MAS aos seus interesses.<br />
O governo de Evo Morales é<br />
muito fraco porque é provisório,<br />
apesar de ter sido eleito de<br />
forma direta. Após a derrubada<br />
da direita em 2005, Morales<br />
subiu ao poder para frear uma<br />
revolução e marcha que ainda<br />
não acabou. A tentativa de golpe<br />
é um movimento contra-revolucionário,<br />
enquanto que os<br />
trabalhadores bolivianos são a<br />
classe revolucionária. Morales<br />
está no centro desta disputa e<br />
por isso está num impasse. Procura<br />
tomar medidas de retaliação<br />
que não atinge minimamente<br />
a direita, como a expulsão do<br />
embaixador norte-americano.<br />
O governo deveria impulsionar<br />
os trabalhadores da cidade e do<br />
campo para derrotar a direita<br />
para sempre, tomando as suas<br />
propriedades e expropriando o<br />
latifúndio.<br />
Entretanto, diante da vacilação<br />
e da capitulação vergonhosa<br />
do governo, já começam a<br />
aparecer as primeiras movimentações<br />
independentes. O departamento<br />
de Santa Cruz, controlado<br />
pelo governador Rubén<br />
Costas e o presidente do Comitê<br />
Cívico local, Branko Marinkovic,<br />
dois dos principais articuladores<br />
do golpe, está cercado<br />
por camponeses e indígenas.<br />
Esta é uma clara demonstração<br />
de que os trabalhadores<br />
estão se organizando independentemente<br />
de Evo Morales e do<br />
MAS, uma aspiração verdadeiramente<br />
revolucionária contra a<br />
oligarquia e a frente popular.<br />
MASSACRE NORTE DA BOLÍVIA<br />
Preso governador de Pando, o<br />
“carniceiro de Cobija”<br />
O principal responsável pelo<br />
massacre de camponeses no<br />
departamento de Pando, Norte<br />
da Bolívia, fronteira com o estado<br />
brasileiro do Acre, o prefeito<br />
(governador) ultra-direitista<br />
Leopoldo Fernández, 56, foi<br />
detido na terça-feira (16) pelo<br />
Exército na cidade de Cobija, a<br />
capital de Pando.<br />
Durante sua gestão, Fernández<br />
organizou bandos fascistas<br />
contra trabalhadores camponeses,<br />
sindicalistas e indígenas<br />
para impor o poder da oligarquia<br />
latifundiária e exploradora na região.<br />
É um dos quatro departamentos<br />
- ao lado de Santa Cruz,<br />
Beni e Tarija - que decretou autonomia<br />
em relação ao governo<br />
central. No dia 11 de setembro,<br />
organizou a matança de pelo<br />
menos 17 camponeses apoiadores<br />
do governo de Evo Morales.<br />
Ao ser preso, ele foi conduzido<br />
a um veículo particular até o<br />
aeroporto para pegar um vôo<br />
com destino à La Paz, onde está<br />
detido e sendo julgado por genocídio.<br />
Além dos mortos, dezenas<br />
ficaram feridos e mais de<br />
100 continuam desaparecidos.<br />
“Sua detenção obedece a uma<br />
disposição legal e constitucional,<br />
no marco do estado de sítio”,<br />
disse Evo Morales (AFP,<br />
16/9/2008). Pando está sob<br />
estado de sítio desde os confrontos<br />
entre simpatizantes de<br />
Morales e autonomistas, que resultou<br />
nas mortes de camponeses.<br />
Segundo relatos de sobreviventes,<br />
a maioria das mortes foi<br />
<strong>causa</strong>da por disparos contra<br />
camponeses que tentavam fugir<br />
a nado. A polícia local, que responde<br />
ao governo nacional, estava<br />
no local e apenas assistiu ao<br />
maior massacre na Bolívia desde<br />
o fim da última ditadura militar<br />
no País.<br />
“Às duas da manhã nós não<br />
tínhamos armas, enquanto que<br />
o outro grupo tinha bombas, dinamites<br />
e lançaram contra nós,<br />
que estávamos voltando de Puerto<br />
Rico. Seguiram-nos dois<br />
quilômetros e aí utilizaram armas<br />
de fogo. Depois nos encontraram<br />
em Porvenir, não podíamos<br />
continuar, pois tinham<br />
metralhadoras e meus companheiros<br />
escaparam pelo monte,<br />
pulavam no rio e aí lhes davam<br />
tiro. Devem haver 100 feridos e<br />
mortos. Havia gente grávida,<br />
haviam meninos e meninas que<br />
foram massacradas. Quando<br />
cruzavam o rio para escapar,<br />
lhes lançavam tiros e as companheiras<br />
caíam mortas, duas<br />
senhoras e outras duas feridas<br />
que estavam a ponto de abortar”.<br />
Este é o relato de um dirigente<br />
indígena sobrevivente do massacre<br />
(Econoticias, 16/9/2008).<br />
Três caminhões com cerca<br />
de 340 camponeses vindos de<br />
Puerto Rico estavam próximos<br />
a Porvenir quando foram abordados<br />
pelos fascistas. O destino<br />
era a cidade de Filadelfia, a 15<br />
quilômetros da capital, onde<br />
ocorreria um encontro de organizações<br />
apoiadoras de Morales.<br />
Durante o percurso, o comboio<br />
foi impedido de prosseguir<br />
por uma trincheira cavada por<br />
funcionários do departamento<br />
de Pando. Horas depois, os fascistas,<br />
fortemente armados,<br />
avançaram contra os camponeses,<br />
que fugiram pelo rio Tahuamano,<br />
que tem 20 metros de<br />
largura. Durante a travessia,<br />
todos os camponeses que estavam<br />
na água foram mortos, aos<br />
olhos da polícia que nada fez.<br />
Estima-se que os mais de 100 desaparecidos<br />
estejam no fundo<br />
do rio.<br />
Mesmo sob estado de sítio,<br />
vários prédios governamentais<br />
continuam ocupados pelos autonomistas,<br />
como os serviços de<br />
imigração e as aduanas.<br />
Leopoldo Fernánez é o representante<br />
de um grupo de latifundiários<br />
e grandes empresários<br />
pró-imperialistas no departamento<br />
de Pando. Pelo menos<br />
oito famílias controlam cerca de<br />
um milhão de hectares de terras<br />
férteis, o equivalente a duas mil<br />
vezes a extensão da capital Cobija.<br />
O próprio governador é um<br />
destes milionários.<br />
Fernández é tão influente na<br />
vida política boliviana que o próprio<br />
Morales lhe propôs, há dois<br />
anos atrás, que saísse como<br />
candidato pelo MAS (Movimento<br />
ao Socialismo, partido de<br />
Cronologia da crise<br />
9 de dezembro de 2007 -<br />
Assembléia Constituinte da Bolívia<br />
aprova projeto de reforma<br />
constitucional. Partidos da direita<br />
boicotam a Assembléia, que<br />
aprova dentre outras medidas a<br />
submissão dos mandatos do<br />
presidente e dos governadores<br />
estaduais - chamados na Bolívia<br />
de prefeitos - a referendos revogatórios.<br />
15 de dezembro de 2007 -<br />
Santa Cruz de la Sierra, o departamento<br />
mais rico do país, declara<br />
autonomia do estado em<br />
relação ao governo central -<br />
Câmara de Deputados boliviana<br />
aprova o Projeto de Lei do Referendo<br />
Revogatório de Mandato<br />
Popular do presidente da<br />
República, vice-presidente e<br />
prefeitos departamentais (governadores).<br />
Morales), mas o fascista rechaçou<br />
o pedido e, obviamente,<br />
juntou-se aos agroindustriais.<br />
Fernández e seus aliados são<br />
abertamente racistas e mantém<br />
na região um regime muito similar<br />
ao feudalismo. O atual governador<br />
de Pando foi funcionário<br />
público durante as ditaduras de<br />
Luis Garcia Meza (1980-1981),<br />
Celso Torrelio e Guido Vildoso<br />
(1981-1982); depois foi responsável<br />
em Pando pelo Instituto<br />
Nacional de Colonização (atual<br />
INRA); parlamentar, prefeito e<br />
ministro do governo fascista do<br />
ex-ditador Hugo Banzer-Jorge<br />
Quiroga (1997-2002).<br />
Fernández treinou em Cobija<br />
grupos paramilitares de extrema-direita<br />
e participou no ano<br />
passado do incêndio contra a<br />
casa do senador pandino Cuellar,<br />
apoiador de Evo Morales.<br />
Só agora, diante de um massacre<br />
monstruoso, Evo Morales<br />
decreta sua prisão, mas anos<br />
7 de janeiro de 2008 - O<br />
presidente da Bolívia se reúne<br />
com os prefeitos (governadores)<br />
opositores que rechaçam a<br />
reforma constitucional, na tentativa<br />
de superar a crise política<br />
que divide o país.<br />
29 de fevereiro - Morales<br />
convoca referendo para validar<br />
nova Constituição para 4 de<br />
maio.<br />
4 de maio - Referendo em<br />
Santa Cruz reconhece autonomia<br />
do Estado.<br />
1º de junho - Os departamentos<br />
(estados) de Beni e Pando<br />
realizaram referendo sobre o<br />
estatuto de autonomia em relação<br />
ao governo boliviano. O<br />
apoio foi de 86% e 85%, respectivamente.<br />
A consulta popular<br />
foi declarada ilegal pelo presidente<br />
Morales.<br />
22 de junho - Os bolivianos<br />
do departamento de Tarija vão às<br />
urnas e decidem pela autonomia<br />
em relação ao governo central.<br />
atrás o procurava<br />
para integrar<br />
seu governo.<br />
Evo Morales<br />
continuará negociando<br />
com<br />
outros criminosos,<br />
como o governador<br />
de<br />
Santa Cruz, Rubén<br />
Costas, um<br />
dos mentores do<br />
golpe de Estado<br />
civil.<br />
O governo de<br />
colaboração de<br />
classes de Evo<br />
Morales tenta<br />
negociar com os<br />
mesmos criminosos<br />
que participaram<br />
ativamente<br />
de muitos<br />
outros massacres contra trabalhadores<br />
durante as ditaduras<br />
militares. Todos estes estão agora<br />
escondidos por detrás de par-<br />
10 agosto de 2008 - Povo<br />
boliviano vota para decidir se<br />
querem ou não que o presidente,<br />
Evo Morales, seu vice-presidente,<br />
Álvaro García Linera, e oito<br />
dos nove governadores do país<br />
continuassem em seus cargos. -<br />
Corte Nacional Eleitoral confirma<br />
a esmagadora vitória de Morales<br />
com 67,41 % e também dos governadores<br />
de quatro departamentos<br />
que formam a chamada<br />
“meia lua”<br />
19 de agosto - Greve geral de<br />
24 horas convocada pela oposição<br />
é marcada por confrontos<br />
violentos entre policiais e manifestantes.<br />
9 de setembro - Grupos de<br />
oposição saqueiam prédios públicos<br />
em Santa Cruz.<br />
10 de setembro - Uma válvula<br />
de segurança do Gasoduto<br />
Bolívia-Brasil é destruída, o que<br />
provoca um corte de 10% do<br />
fornecimento de gás natural para<br />
o Brasil. No mesmo dia, Morales<br />
expulsa o embaixador americano<br />
na Bolívia, Philip Goldberg, o<br />
acusando de apoiar a oposição<br />
conservadora.<br />
11 de setembro - Cerca de<br />
Fernández treinou em Cobija grupos<br />
paramilitares de extrema-direita.<br />
tidos supostamente democráticos<br />
que estão, clandestinamente,<br />
orientados diretamente por<br />
Washington.<br />
17 pessoas são massacradas<br />
em conflitos no departamento<br />
de Pando - EUA respondem<br />
a Evo com a expulsão do embaixador<br />
boliviano, Gustavo<br />
Guzman - Hugo Chávez, em<br />
resposta, expulsa o embaixador<br />
americano na Venezuela.<br />
12 de setembro - EUA expulsam<br />
o embaixador da Venezuela<br />
no país - Bolivianos<br />
fecham fronteira de Mato<br />
Grosso com a Bolívia - Evo<br />
pede negociação com oposição,<br />
que aceita proposta<br />
16 de setembro - O governador<br />
do departamento de<br />
Pando. Leopoldo Fernández,<br />
é preso pelo exército por ser<br />
o responsável pelo massacre<br />
de Cobija, em Pando<br />
18 de setembro - O presidente<br />
Evo Morales inicia a<br />
reunião de pré-acordo com<br />
os governadores autonomistas<br />
de Santa Cruz, Beni, Tarija<br />
e Chuquisaca para efetuar<br />
um acordo nacional e dar<br />
fim à crise iniciada há três semanas
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL 21<br />
CRISE NA BOLÍVIA<br />
O REGIME EM XEQUE<br />
Evo Morales prepara acordo com a direita golpista<br />
Enquanto camponeses armados cercam Santa Cruz para<br />
exigir a renúncia do governador golpista Rubén Costas,<br />
governo celebra reunião com a direita a portas fechadas<br />
e sem interrupção, até que seja firmado um acordo<br />
definitivo<br />
Milhares de camponeses do<br />
Norte cruzenhista se concentraram<br />
na quarta-feira (17) na cidade<br />
de El Sojal, a cerca de cinco<br />
quilômetros da população de San<br />
Carlos, com o objetivo de continuar<br />
com a marcha até a cidade de<br />
Santa Cruz de la Sierra. Cerca de<br />
mil camponeses que partiram de<br />
Oruro se juntaram ao grupo,<br />
muitos portando armas de fogo.<br />
Há uma semana movimentos<br />
ligados ao MAS (Movimento ao<br />
Socialismo, partido de Evo Morales)<br />
bloqueiam a estrada principal<br />
que liga as cidades de Cochabamba<br />
à capital cruzenha. Centenas de<br />
veículos de carga estão parados na<br />
estrada.<br />
A estrada entre Santa Cruz e a<br />
fronteira com o Brasil também está<br />
fechada pelos manifestantes. O<br />
movimento reivindica a desocupação<br />
de todos os<br />
prédios públicos<br />
ocupados por<br />
autonomistas e a<br />
renúncia imediata<br />
do governador<br />
de Santa Cruz,<br />
Rubén Costas, o<br />
principal pivô do<br />
putsch civil iniciado<br />
há três semanas<br />
contra o governo<br />
de Evo<br />
Morales.<br />
“Aqui não vai<br />
haver diálogo”,<br />
diziam alguns<br />
camponeses,<br />
apesar de Morales<br />
se reunir com<br />
a oposição.<br />
Dentro de<br />
Santa Cruz,<br />
numa das regiões<br />
mais pobres do<br />
departamento, o bairro de Plano<br />
Três Mil, o Comitê Cívico Popular<br />
deu um ultimato de 48 horas<br />
para que Rubén Costas renunciasse.<br />
“Apoiaremos a marcha dos<br />
camponeses que chegarem em<br />
Santa Cruz”, disse Jaime Choque,<br />
dirigente no Plano 3000, membro<br />
do MAS.<br />
Devido ao bloqueio das estradas,<br />
a população de Santa Cruz<br />
está sem gás de cozinha e os alimentos<br />
são escassos. Em assembléia,<br />
os camponeses decidiram<br />
por unanimidade intensificar os<br />
bloqueios e atacar Santa Cruz com<br />
armas caso seja necessário. O<br />
departamento é reduto do grupo<br />
fascista União Juvenil Cruzenha<br />
(UJC), que tem o patrocínio de<br />
Rubén Costas e do presidente do<br />
Comitê Cívico local, o mega empresário<br />
de origem croata, Branko<br />
Marinkovic.<br />
Os bloqueios aos acessos para<br />
Santa Cruz de la Sierra acontecem<br />
ao mesmo tempo em que o presidente<br />
Evo Morales se reúne com<br />
os quatro governadores de oposição<br />
em Cochabamba.<br />
Segundo dirigentes do MAS,<br />
cerca de 10 mil pessoas cercam a<br />
cidade, representados por federações<br />
camponesas de San Carlos,<br />
San Juan, Buenavista e outros.<br />
Os “marchistas”, como se auto<br />
definem, chegaram na quinta-feira<br />
(18) em Buenavista. “Permaneceremos<br />
lá por um dia e logo avançaremos<br />
até um novo ponto de<br />
bloqueio. Nosso objetivo principal<br />
é chegar à Santa Cruz”, disse o<br />
deputado suplente pelo MAS,<br />
Orlando Llanos (La Razon,18/9/<br />
2008).<br />
Outro dirigente em Yapacaní,<br />
Julián Torrico, disse que a marcha<br />
tem um caráter pacífico: “Não<br />
vamos buscar o enfrentamento<br />
com militares nem policiais. Esta<br />
é uma marcha pacífica. Estamos<br />
pedindo que os cívicos devolvam<br />
as instituições que tomaram com<br />
atos de vandalismo. Do contrário,<br />
seguiremos marchando e bloqueando<br />
até chegar à cidade [a capital<br />
Santa Cruz de La Sierra]” (Idem).<br />
No entanto, os paramilitares ultradireitistas<br />
estão se concentrando<br />
na capital para enfrentar os camponeses,<br />
que portam porretes e<br />
fuzis.<br />
Crise da direita... e<br />
da esquerda<br />
A União Juvenil Cruzenha<br />
(UJC), organização fascista e racista<br />
que responde ao Comitê<br />
Cívico de Santa Cruz e à prefeitura,<br />
destituiu seu presidente,<br />
David Sejas, após uma crise interna<br />
que resultou no surgimento<br />
de dois grupos: um que apóia<br />
Sejas e outro contra a sua destituição.<br />
Um dos dirigentes dos unionistas<br />
afirmou que o Diretório presidido<br />
por Sejas cometeu vários<br />
erros, entre eles a frustrada tentativa<br />
de desbloquear a antiga estrada<br />
que liga Santa Cruz a Cochabamba,<br />
onde um fascista morreu<br />
depois de receber uma paulada na<br />
cabeça.<br />
A União Juvenil Cruzenha<br />
(UJC) foi fundada em meados de<br />
outubro de 1957, consolidandose<br />
como a tropa de choque da<br />
direita em Santa Cruz.<br />
Ao mesmo tempo em que o<br />
governo se reúne com esta direita<br />
golpista e fascista, Evo Morales<br />
firmou também um acordo<br />
com a Central Operária Boliviana<br />
(COB), a maior organização de<br />
trabalhadores do País. Morales e<br />
o presidente da Conalcam (Conselho<br />
Nacional pela Democracia),<br />
principal organização social aliada<br />
ao governo, selaram um acordo<br />
com a central “pela defesa da<br />
democracia e a unidade da Bolívia”.<br />
Morales, o presidente da Conalcam,<br />
Fidel Surco, e o dirigente<br />
da COB, Pedro Montes, formaram<br />
o pacto para lutar “contra os<br />
grupos oligárquicos, latifundiários<br />
e pessoas que são pró-ianques”.<br />
“Meu grande desejo é que o<br />
Comitê Executivo da COB seja a<br />
cabeça para enfrentar estes grupos”,<br />
disse Morales (Ibidem).<br />
Além de Morales, os governadores<br />
de Santa Cruz, Beni, Tarija<br />
e Chuquisaca também estarão<br />
presentes nas reuniões em Cochabamba.<br />
Participarão também<br />
delegados de organismos internacionais,<br />
como a União de Nações<br />
Sul-Americanas (Unasur), Organização<br />
das Nações Unidas<br />
(ONU), União Européia (UE) e a<br />
Organização dos<br />
Estados Americanos<br />
(OEA).<br />
O imperialismo<br />
aplaude o acordo de<br />
trégua entre o governo<br />
e os fascistas.<br />
A Igreja Católica,<br />
a ONU, a CIA e<br />
o MAS (Movimento<br />
ao Socialismo,<br />
partido de Evo Morales),<br />
desejam costurar<br />
um grande<br />
acordo nacional<br />
para preservar acima<br />
de tudo o regime<br />
burguês e a propriedade<br />
privada.<br />
Em uma declaração<br />
pouco antes<br />
do início dos diálogos,<br />
Evo Morales<br />
fez algumas críticas<br />
contra a oposição,<br />
mas centrou sua<br />
crítica contra a<br />
Igreja Católica, que<br />
supostamente estaria<br />
mediando o debate.<br />
“Lamento que o<br />
cardeal defenda as<br />
pessoas que defendem<br />
os interesses<br />
do Império e<br />
não o povo”. Morales refere-se<br />
ao cardeal Julio Terrazas, presidente<br />
da Conferência Episcopal<br />
da Bolívia, aliado da direita<br />
em Santa Cruz.<br />
Os acontecimentos deixam<br />
claro que a política direita, de<br />
dividir o país fracassou completamente<br />
pela internvenção<br />
das massas que ultrapassou a<br />
política de contenção de Evo<br />
Morales. A direita não luta<br />
contra Evo Morales, mas contra<br />
as tendências revolucionárias<br />
das massas, ao contrário do<br />
que diz boa parte da esquerda.<br />
A política de acordo com a<br />
direita da parte de Morales é<br />
uma capitulação política e uma<br />
Veja documento de pré-acordo<br />
estabelecido entre o governo e a oposição<br />
A Bolívia presta um serviço vital para o Brasil. O gasoduto Bolívia-<br />
Brasil, também conhecido como Gasbol, tem início em Rio Grande,<br />
cidade próxima à Santa Cruz de la Sierra, e termina na cidade<br />
gaúcha de Canoas, atravessando também os estados de Mato Grosso<br />
do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Cerca de 80% do gás<br />
consumido no Brasil vem das reservas bolivianas.<br />
Após sucessivas sessões iniciadas<br />
na sexta 12 de setembro,<br />
destinadas a estabelecer um diálogo,<br />
acordaram-se as seguintes<br />
propostas para alcançar um<br />
“Grande Acordo Nacional”:<br />
1. Propostas para o diálogo<br />
nacional<br />
A) O processo de diálogo<br />
abordará a seguinte agenda:<br />
• IDH – Direitos;<br />
O governo nacional reconhece<br />
conforme as leis vigentes o<br />
direito dos departamentos de<br />
cobrar o Imposto Direto aos Hidrocarbonetos<br />
(IDH); Podendo<br />
garantir o pagamento da renda<br />
Dignidade e sua sustentabilidade<br />
com as distintas fontes de financiamento<br />
estabelecidas por<br />
lei.<br />
O governo nacional reitera<br />
sua decisão de respeitar e manter<br />
a atual distribuição de direitos<br />
aos departamentos e os mecanismos<br />
para sua transferência,<br />
estabelecidos pelas normas<br />
vigentes.<br />
• Autonomias departamentais<br />
– Estatutos:<br />
O governo nacional expressa<br />
seu respeito ao direito de autonomia<br />
departamental de Pando,<br />
Beni, Tarija e Santa Cruz.<br />
• Nova Constituição Política<br />
do Estado (CPE);<br />
• Pacto Institucional;<br />
- Designações congressuais<br />
aos cargos vagos, conforme a<br />
CPE vigente e a lei.<br />
- Padrão eleitoral. Programa<br />
de carteiras e registro civil.<br />
- Processos eleitorais.<br />
B) Os temas da agenda de<br />
diálogos serão realizados<br />
em três mesas de debate<br />
e em uma mesa central<br />
que terá como função<br />
aprovar os acordos.<br />
C) O processo de diálogo<br />
contará com o<br />
acompanhamento por<br />
mediadores e testemunhas.<br />
Foi acordado que<br />
convide a Unasur, Igreja<br />
Católica, União Européia,<br />
OEA e as Nações Unidas.<br />
D) No início do processo<br />
se aprovará uma<br />
metodologia e cronograma,<br />
que incluirá a definição<br />
dos agentes que serão<br />
envolvidos com a mesma<br />
e as vozes do processo.<br />
2. Restabelecimento<br />
da paz social no âmbito do<br />
Estado de direito.<br />
A) Retirada imediata das pessoas<br />
estranhas que ocuparam as<br />
oficinas públicas e instalações<br />
petroleiras no conflito, a fim de<br />
restabelecer os serviços públicos.<br />
Iniciam-se as conversas sobre<br />
a nova administração territorial<br />
das instituições, considerando<br />
a implementação<br />
constitucional da autonomia<br />
departamental.<br />
Também se acordou o levantamento<br />
de todos os bloqueios<br />
de caminhos no território nacional<br />
B) As partes deverão iniciar<br />
o processo de pacificação<br />
do país, restabelecendo plenamente<br />
a convivência pacífica<br />
entre os bolivianos criando<br />
os esforços necessários<br />
para frear imediatamente a<br />
violência em todo o território<br />
nacional.<br />
C) O governo nacional suspenderá<br />
a consideração do referendo<br />
constitucional no<br />
congresso nacional, no prazo<br />
de um mês, podendo ampliar o<br />
mesmo acordo aos avanços do<br />
diálogo nacional, devendo<br />
suspender a campanha governamental<br />
em torno do projeto<br />
da nova CPE.<br />
D) Esclarecer os infelizes<br />
acontecimentos ocorridos no<br />
departamento de Pando, através<br />
de organismos nacionais e internacionais<br />
imparciais e uma comissão<br />
congressual que irá passar<br />
de imediato os acontecimentos.<br />
E) Não impulsionar ações judiciais<br />
que tenham conotação<br />
política contra dirigentes cívicos,<br />
sociais e autoridades dos<br />
departamentos mobilizados que<br />
hajam atuado pelas reivindicações<br />
departamentais e sociais<br />
que precederam a este acordo;<br />
como também paralisa a campanha<br />
de desprestígio contra as<br />
autoridades, agentes cívicos e<br />
sociais.<br />
F) O prefeito do departamento<br />
de Tarija e seus acompanhantes,<br />
em representação das autoridades<br />
e instituições dos cinco<br />
departamentos mobilizados, pedem<br />
o levantamento do estado<br />
de sítio no departamento de<br />
Pando.<br />
3. Início do processo de diálogo<br />
O diálogo nacional se iniciará<br />
de maneira oficial na quartafeira<br />
18 de setembro de 2008 na<br />
cidade de Cochabamba, com a<br />
presença dos mediadores e testemunhas<br />
e será concluído na<br />
cidade de Tarija.<br />
La Paz, 16 de setembro<br />
de 2008<br />
tentativa de conter o movimento<br />
de massas que avança sobre<br />
a direita.<br />
O papel duplo do<br />
governo Lula<br />
Tanto a direita como a esquerda<br />
ligada à Evo Morales temem<br />
um novo levante popular. Esta<br />
A União Juvenil Cruzenha (UJC), é uma<br />
organização fascista e racista que responde ao<br />
Comitê Cívico de Santa Cruz e à prefeitura.<br />
mesma direita foi derrubada do<br />
governo nacional por uma revolução<br />
e não tem qualquer esperança<br />
de recuperar o poder, daí a sua<br />
política secessionista, encoberta<br />
por críticas constitucionais e reivindicação<br />
de maior autonomia diante<br />
do governo central.<br />
Diante da vacilação e da capitulação<br />
vergonhosa do governo,<br />
já começam a aparecer focos de<br />
resistência camponesa, sendo o<br />
cerco à Santa Cruz a maior expressão<br />
disso. Esta é uma clara<br />
demonstração de que os trabalhadores<br />
estão se organizando por<br />
fora da via legalista e institucional<br />
proposta por Morales e contra a<br />
política de acordo com os golpistas.<br />
Os próprios dirigentes do<br />
MAS em suas bases estão sendo<br />
pressionados a adotarem uma política<br />
muito mais conseqüente e<br />
objetiva, que realmente defina a situação.<br />
Esta é, na realidade, a<br />
única política porque a debilidade<br />
da direita e o crescimento da<br />
mobilização colocam objetivamente<br />
em xeque qualquer acordo<br />
comum com a direita que, se<br />
conseguir se recuperar, voltar a<br />
jogar a carta da sesseção<br />
nacional.<br />
Além do mais, é necessário<br />
destacar a atuação<br />
do governo Lula<br />
na crise boliviana. Do<br />
ponto de vista econômico,<br />
a Bolívia presta<br />
um serviço vital para o<br />
Brasil. O gasoduto Bolívia-Brasil,<br />
também<br />
conhecido como Gasbol,<br />
tem início em Rio<br />
Grande, cidade próxima<br />
à Santa Cruz de la<br />
Sierra, e termina na<br />
cidade gaúcha de Canoas,<br />
atravessando<br />
também os estados de<br />
Mato Grosso do Sul,<br />
São Paulo, Paraná e<br />
Santa Catarina. Cerca<br />
de 80% do gás consumido<br />
no Brasil vem das<br />
reservas bolivianas.<br />
Politicamente, o<br />
Brasil é sem dúvida o<br />
país chave para contornar<br />
esta crise. Sua<br />
influência política, econômica<br />
e militar está à<br />
direita com o governo<br />
Lula. O presidente brasileiro<br />
conversou com<br />
Morales por telefone e<br />
o aconselhou a manter<br />
a política de conciliação.<br />
O governo Lula representa o<br />
país mais importante da América<br />
Latina, portanto sua mediação<br />
da crise é extremamente importante,<br />
porém a política adotada<br />
faz jus aos interesses de<br />
Washington.<br />
O governo Lula quer evitar o<br />
confronto das massas contra a<br />
direita. Está orientando Morales<br />
a resolver a crise pela via institucional<br />
e burguesa, mantendo o<br />
regime intacto. Portanto, ao contrário<br />
do que a imprensa burguesa<br />
procura apresentar, o governo<br />
Lula está muito mais vinculado<br />
à política do imperialismo do que<br />
com Evo Morales.<br />
Tanto a direita como a esquerda ligada à Evo Morales<br />
temem um novo levante popular.<br />
Dados gerais sobre a Bolívia<br />
CAPITAL:<br />
La Paz (administrativa)<br />
Sucre (constitucional, judicial)<br />
ÁREA: 1.098.581 km2<br />
POPULAÇÃO: 9.627.269<br />
(Censo 2006)<br />
GRUPOS ÉTNICOS: Quechua<br />
30%, mestiço (mistura<br />
de branco e ameríndio) 30%,<br />
Aymará 25%, branco 15%<br />
PIB (Produto Interno Bruto):<br />
US$ 27.957 bilhões<br />
Per Capita: US$ 8,76<br />
RECURSOS NATURAIS:<br />
estanho, gás natural, petróleo,<br />
zinco, tungstênio, antimônio,<br />
prata, ferro, ouro, madeira,<br />
energía hidroeléctrica<br />
FORÇA DE TRABALHO:<br />
4,377 milhões<br />
FORÇA DE TRABALHO<br />
POR OCUPAÇÃO:<br />
agricultura - 40%<br />
indústria - 17%<br />
serviços: 43%<br />
TAXA DE DESEMPREGO:<br />
7,5% nas áreas urbanas<br />
TAXA DE CRESCIMENTO<br />
INDUSTRIAL: 1,1%<br />
PRODUÇÃO DE PETRÓ-<br />
LEO: 41.570 barris diários<br />
CONSUMO DE PETRÓLEO:<br />
31.500 barris diários<br />
EXPORTAÇÃO DE PETRÓ-<br />
LEO: 18.500 barris diários<br />
IMPORTAÇÃO DE PETRÓ-<br />
LEO: 8.600 barris diários<br />
RESERVAS DE PETRÓLEO:<br />
440,5 milhões de barris<br />
PRODUÇÃO DE GÁS NATU-<br />
RAL: 12,74 bilhões de metros<br />
cubicos<br />
CONSUMO DE GÁS NATU-<br />
RAL: 1.486 bilhão de metros<br />
cubicos<br />
EXPORTAÇÃO DE GÁS NA-<br />
TURAL: 10,58 bilhões de metros<br />
cubicos<br />
RESERVAS DE GÁS NATU-<br />
RAL: 651.8 bilhões de metros<br />
cubicos
21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA 23<br />
O Causa Operária Online é o<br />
um jornal na Internet publicado<br />
diariamente desde dezembro de<br />
2003. No jornal, que conta com<br />
uma versão para impressão, são<br />
publicados todos os dias cerca<br />
de 30 artigos sobre os mais variados<br />
temas da situação política<br />
nacional, internacional, bem<br />
como a questão das mulheres,<br />
dos negros, da juventude, economia,<br />
ecologia, movimento<br />
sindical, popular, entre outros.<br />
Nestes cinco anos, o Causa<br />
Operária Online se consolidou<br />
como o único diário online de<br />
orientação trotskista do mundo.<br />
O jornal é o maior responsável<br />
pelos acessos ao portal do Partido<br />
da Causa Operária que já<br />
contou com a visita de cerca<br />
de três milhões de usuários,<br />
desde 2003.<br />
O jornal é o único da esquerda<br />
O Causa Operária, criado em<br />
1979 como um jornal independente,<br />
se estabeleceu nessas 500<br />
edições como uma tribuna de<br />
denúncia da situação da classe<br />
trabalhadora, da exploração da<br />
burguesia e do Estado capitalista<br />
contra a população brasileira e<br />
da opressão imperialista contra o<br />
Brasil e demais povos oprimidos<br />
de todo o mundo.<br />
Além disso, se caracteriza por<br />
ser um instrumento de elaboração<br />
do programa marxista e revolucionário<br />
e de luta em defesa do<br />
interesse da classe <strong>operária</strong> e dos<br />
explorados no dia a dia.<br />
No último ano, a sua publicação<br />
regularmente semanal, o<br />
aumento do número de páginas<br />
do jornal, da sua tiragem e o<br />
conseqüente aumento da sua<br />
distribuição, deu ainda maior<br />
amplitude a essas denúncias. Foram<br />
inúmeros os fatos políticos,<br />
os acontecimentos internacionais<br />
e lutas estudantis e sindicais que<br />
foram objeto de crítica e análise<br />
do Causa Operária, com o intuito<br />
de esclarecer e dar uma orientação<br />
à vanguarda dessas lutas e<br />
revelar à população o verdadeiro<br />
caráter dos fenômenos políticos<br />
nacionais e internacionais.<br />
As mobilizações estudantis do<br />
último período - que representam<br />
um ressurgimento das lutas dos<br />
estudantes paralisadas durante a<br />
década de 90 - que tiveram início<br />
com a ocupação da reitoria da<br />
USP em maio de 2007, com uma<br />
série de ocupações e greves em<br />
universidades por todo o País,<br />
foram acompanhadas de perto<br />
pelo Causa Operária. A questão<br />
dos decretos de José Serra, que<br />
retiravam a já pouca autonomia<br />
das universidades paulistas, a<br />
questão do Reuni que deu origem<br />
às manifestações nas federais<br />
(UFRJ, UFPA, Unir, UFBA,<br />
entre outras), a ocupação com<br />
violenta desocupação pela PM<br />
da Fundação Santo André foram<br />
alguns desses casos. Neste ano,<br />
a ocupação da reitoria da UnB,<br />
que teve uma importante vitória<br />
ao conseguir a renúncia do reitor<br />
Timothy Mulholland, acusado<br />
de utilizar o dinheiro da universidade<br />
para gastos pessoais, a<br />
ocupação da UFMS e o acampamento<br />
da Unifesp, onde caiu<br />
mais um reitor corrupto, Ulysses<br />
Fagundes Neto, levantaram mais<br />
claramente a questão da autonomia<br />
da universidade diante dos<br />
governos e representaram um<br />
avanço na luta estudantil. Diante<br />
dessas lutas, o Causa Operária,<br />
o único periódico de esquerda a<br />
fazer uma ampla cobertura desses<br />
movimentos, não apenas esteve<br />
sempre na defesa destes como<br />
tem uma orientação clara, da qual<br />
fez propaganda, de defesa de uma<br />
profunda mudança do regime de<br />
poder dentro da universidade,<br />
com o estabelecimento de uma<br />
maioria estudantil nos seus órgãos<br />
deliberativos.<br />
No movimento sindical, o<br />
Causa Operária contribuiu de<br />
maneira fundamental com a luta<br />
dos trabalhadores dos Correios,<br />
que apresentam uma acentuada<br />
tendência de luta que é freada<br />
pelo Bando dos Quatro (PT-<br />
PCdoB-Psol-PSTU).<br />
brasileira a fazer um minucioso<br />
acompanhamento dos mais<br />
diversos acontecimentos e uma<br />
análise dos problemas colocados<br />
para a classe trabalhadora<br />
brasileira e internacional.<br />
A necessidade de um acom-<br />
<br />
com as enormes manifestações<br />
da população na Bolívia que<br />
culminou com a derrubada de<br />
Gonzalo Sánchez de Lozada,<br />
conhecido como “El gringo”.<br />
Na ocasião, o Causa Operária<br />
Online fez uma cobertura em<br />
tempo real da crise, o que abriu<br />
caminho para que o jornal se<br />
tornasse diário, passando a<br />
analisar diariamente a situação<br />
nacional e internacional.<br />
Desde então, o jornal tem<br />
acompanhado os desdobramentos<br />
da Guerra do Iraque, que<br />
considerou como um ponto de<br />
O Causa Operária Online, jornal diário operário e socialista<br />
para a internet é uma iniciativa quase única no quadro<br />
da esquerda internacional<br />
O Causa Operária estabeleceu-se como um importante<br />
porta-voz das denúncias e reivindicações da classe<br />
trabalhadora<br />
UM PASSO FUNDAMENTAL NA LUTA REVOLUCIONÁRIA<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
Um jornal diário trotskista na internet<br />
<br />
mais recentemente os acontecimentos<br />
de grande importância,<br />
como a crise no Sudeste da Ásia:<br />
Paquistão, Birmânia, Nepal,<br />
Bangladesh e Tailândia.<br />
As mobilizações estudantis<br />
e de trabalhadores na França<br />
em 2005 e 2007 e em outros<br />
países europeus também foram<br />
notícia, bem como o desenvolvimento<br />
da situação política e<br />
das lutas na America Latina,<br />
desde os governos nacionalistas<br />
de Chávez na Venezuela<br />
e de Evo Morales na Bolívia,<br />
até as manifestações contra a<br />
verdadeira ditadura civil no<br />
Peru e na Colômbia e a recente<br />
crise decorrentes da ofensiva<br />
do governo colombiano contra<br />
as FARC e a ingerência do imperialismo<br />
norte-americano no<br />
subcontinente.<br />
Um dos temas que tem grande<br />
espaço no Causa Operária Online<br />
é também o da repressão<br />
e censura e, em geral, a luta<br />
pelos direitos democráticos da<br />
população, desde a censura a<br />
órgãos e jornalistas burgueses<br />
até a tentativa de censura e<br />
repressão das organizações<br />
trabalhadoras, populares e estudantis<br />
e principalmente, a<br />
repressão da população pobre<br />
moradora das favelas. Nesse<br />
sentido, teve grande destaque o<br />
massacre promovido no Morro<br />
do Alemão em 2007, no Rio de<br />
Janeiro, a ocupação da polícia<br />
e do exército nas favelas cariocas<br />
e a atuação dessas e das<br />
milícias paramilitares contra a<br />
população local.<br />
Ainda na situação nacional,<br />
o Causa Operária Online acompanhou<br />
tem acompanhado de<br />
perto as dezenas de escândalos<br />
de corrupção que não param<br />
de surgir no governo Lula, e<br />
crises como a que envolveu os<br />
dois maiores acidentes aéreos<br />
do País, com os aviões da Gol<br />
e da TAM. Na ocasião, o governo<br />
tentou culpar os próprios<br />
pilotos vítimas dos acidentes,<br />
mas recuou devido á pressão<br />
da população. Ficou claro, no<br />
entanto, que o problema era da<br />
precariedade da infra-estrutura<br />
no país, vindo à tona que falta de<br />
investimento em infra-estrutura<br />
era responsável também pelas<br />
péssimas condições dos portos,<br />
das estradas, entre outros, o que<br />
não apenas obstaculiza o desenvolvimento<br />
econômico do País,<br />
como coloca em risco a vida da<br />
população, com no caso dos<br />
acidentes com os aviões.<br />
Uma questão que mereceu<br />
atenção foi também a da crise<br />
econômica que teve início em<br />
agosto do ano passado e se estende<br />
até agora, momento em<br />
que se encontra em sua pior<br />
fase. A crise iniciada no mercado<br />
imobiliário de alto risco, vem<br />
espalhando por diversos setores<br />
do mercado, levando diversos<br />
dos maiores bancos do mundo<br />
à falência e dando início a uma<br />
recessão na economia norteamericana.<br />
A gravidade da crise<br />
levou os próprios representantes<br />
dos investidores a apresentar<br />
perspectivas pessimistas, declarando<br />
ser esta a pior crise desde<br />
a década de 30.<br />
Um dos aspectos mais importantes<br />
do diário eletrônico<br />
está na realização de campanhas,<br />
com matérias diárias em<br />
torno das lutas populares ou de<br />
denúncias. No último período,<br />
por exemplo, o jornal assumiu a<br />
dianteira da luta contra a prisão<br />
das mulheres do MS na questão<br />
do aborto, na defesa dos camponeses<br />
de Rondônia e no apoio<br />
às lutas estudantis em todo o<br />
território nacional com literalmente<br />
milhares de matérias que<br />
esclarecem a questão dos mais<br />
diversos ângulos.<br />
A análise dessas questões,<br />
seu acompanhamento sistemático<br />
e o esclarecimento de seu<br />
significado, tem importância<br />
fundamental para o desenvolvimento<br />
de uma vanguarda consciente<br />
e para a construção de um<br />
partido operário, revolucionário<br />
e socialista, completamente independente<br />
da burguesia.<br />
Em relação aos trabalhadores<br />
sem-terra, o Causa Operária<br />
cumpriu um papel fundamental<br />
ao denunciar a manobra conjunta<br />
dos latifundiários e do governo<br />
para promover um massacre<br />
contra os camponeses de Rondônia<br />
e sair incondicionalmente<br />
em defesa desses trabalhadores.<br />
A venal revista Istoé foi portavoz<br />
de uma campanha contra os<br />
sem-terra do estado de Rondônia,<br />
publicando extensa reportagem<br />
sobre a organização Liga dos<br />
Camponeses Pobres, de Rondônia,<br />
na qual afirmava que esta<br />
seria uma organização guerrilheira<br />
envolvida com o trafico<br />
de drogas, fortemente armada<br />
e ligada às FARC. A campanha<br />
mentirosa, uma vez que esta é<br />
uma organização de sem-terra,<br />
dissidente do MST, que não<br />
pararam em apenas uma edição<br />
da revista.<br />
As calúnias aumentaram a<br />
perseguição aos trabalhadores no<br />
estado e visava preparar o terreno<br />
para uma ação violenta do Estado<br />
contra os trabalhadores, que de<br />
fato ocorreu. O Causa Operária<br />
foi um dos únicos jornais do País<br />
a denunciar a preparação para o<br />
massacre e a defender esses trabalhadores.<br />
O massacre de fato<br />
ocorreu logo em seguida, com a<br />
invasão da polícia em um acampamento<br />
sem-terra que resultou<br />
em pelo menos 30 desaparecidos.<br />
Depois do massacre, dois líderes<br />
foram assassinados por jagunços<br />
dos latifundiários, camponeses<br />
foram expulsos de suas terras<br />
e dez pessoas foram mandadas<br />
para a prisão arbitrariamente.<br />
Diante disso, as demais organizações<br />
de esquerda, excetuandose,<br />
obviamente, as diretamente<br />
envolvidas, se calaram diante da<br />
ofensiva dos latifundiários e do<br />
governo contra os camponeses.<br />
A defesa desses trabalhadores<br />
se faz ainda mais importante na<br />
medida em que sua ligação com<br />
o Estado e instituições estabelecidas<br />
são praticamente nulas,<br />
expondo esses a um maior ataque<br />
do governo e dos latifundiários,<br />
que só pode ser impedido com<br />
uma ampla campanha de denúncia<br />
e mobilização independente<br />
dos trabalhadores. Nesse sentido,<br />
a denúncia realizada pelo Causa<br />
Operária foi de fundamental<br />
importância para que a repressão<br />
não assumisse proporções<br />
ainda maiores e produzisse um<br />
novo massacre de Corumbiara,<br />
provavelmente o mais violento<br />
massacre contra sem-terra já<br />
realizado no País.<br />
Outra questão de extrema<br />
gravidade que só foi objeto de<br />
campanha por parte do Causa<br />
Operária, foi o indiciamento<br />
de dez mil mulheres no Mato<br />
Grosso do Sul, supostamente<br />
por terem realizado aborto. Esse<br />
não foi um fato isolado, mas<br />
parte de uma ofensiva geral da<br />
direita brasileira, tendo como<br />
principal representante a Igreja<br />
Católica e contando com o apoio<br />
da presidenta do Psol, Heloísa<br />
Helena. Esse ataque de grandes<br />
proporções às mulheres foi precedido<br />
por todo um debate em<br />
relação à legalização do aborto<br />
tanto no Brasil, como no resto do<br />
mundo, que resultou inclusive na<br />
efetiva legalização do aborto em<br />
outros países do mundo, como<br />
Portugal.<br />
Para dar sustentação a essa<br />
iniciativa reacionária, a Igreja<br />
organizou um grande número<br />
de parlamentares, que se coloca<br />
de maneira intransigente contra<br />
qualquer medida que possa<br />
contribuir com a legalização do<br />
aborto. Nesse sentido, estes parlamentares<br />
defendem aberrações<br />
como a proibição do aborto de<br />
fetos anencéfalos, ou seja, que<br />
não possuem cérebro e, portanto,<br />
são incapazes de sobreviver<br />
fora do útero materno, o que se<br />
<br />
tortura para as mães que são obrigadas<br />
a carregar nove meses um<br />
feto que sabe-se que está fadado<br />
à morte, ou a obscurantista tentativa<br />
de proibir as pesquisas com<br />
células-tronco, que poderiam<br />
trazer benefícios para inúmeras<br />
pessoas que sofrem com alguma<br />
<br />
dessas posições se baseia exclusivamente<br />
à defesa de um dogma<br />
da Igreja, a pretendida “defesa<br />
da vida”, com o qual pretendem<br />
mobilizar uma base direitista<br />
e colocar as mulheres em uma<br />
situação de maior opressão. Essas<br />
posições, bem como a defesa do<br />
<br />
ainda maior importância de um<br />
órgão que denuncie e analise de<br />
maneira sistemática estas questões<br />
do ponto de vista da luta pela<br />
emancipação da classe <strong>operária</strong><br />
e com ela da humanidade, como<br />
o faz o Causa Operária, se colocando<br />
como um contrapeso à<br />
campanha realizada na imprensa<br />
burguesa a favor das posições da<br />
direita e da Igreja.<br />
Recentemente, o Causa Operária<br />
tem dado grande destaque<br />
a uma questão que terá um<br />
papel decisivo na situação do<br />
país daqui para frente, que é a<br />
descoberta de enormes campos<br />
petrolíferos, que prometem<br />
colocar o país entre os cinco<br />
maiores produtores de petróleo<br />
do mundo. Em sucessivas edições,<br />
o semanário tem explicado<br />
a importância da questão e uma<br />
plataforma de reivindicações,<br />
para que esta riqueza seja revertida<br />
para o povo brasileiro<br />
e não seja entregue de mãos<br />
beijadas ao imperialismo como<br />
já está ocorrendo. Se investido<br />
no país, este bem poderia resolver<br />
grande parte dos problemas<br />
<br />
colonização. Lula, no entanto,<br />
já está aplicando uma política<br />
totalmente voltada para servir o<br />
imperialismo e não a população.<br />
Uma das principais questões<br />
abordadas foram as péssimas<br />
condições de trabalho e a brutal<br />
exploração a que estão submetidos<br />
os petroleiros. Nesse sentido,<br />
apresentou uma plataforma<br />
de reivindicações em torno da<br />
questão do petróleo, como a sua<br />
estatização, o cancelamento das<br />
privatizações e a melhoria de<br />
condições de trabalho e salário<br />
para os petroleiros.<br />
Estas e outras inúmeras campanhas<br />
fazem do jornal Causa<br />
Operária um importante instrumento<br />
de luta de todos os setores<br />
que se enfrentam de fato com o<br />
regime político burguês, com os<br />
capitalistas, com os latifundiários<br />
e o imperialismo.<br />
Um instrumento de luta