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21 DE SETEMBRO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA TEORIA 16<br />

70 ANOS DA FUNDAÇÃO DA IV INTERNACIONAL<br />

A ruptura no bloco da ala direita<br />

Publicamos nesta edição a penúltima parte da tradução<br />

inédita em português do folheto escrito pelo trotskista<br />

norte-americano Max Shachtman sobre os primeiros<br />

anos da oposição dirigida por Trótski no Partido<br />

Comunista da União Soviética e na Internacional e que<br />

lançou as bases para a fundação da IV Internacional<br />

A luta travada em escala internacional<br />

contra a Oposição<br />

de Esquerda foi dirigida conjuntamente<br />

pela fração centrista e<br />

a ala direita. Em suas tentativas<br />

de derrubar a ala marxista da<br />

Internacional, nenhuma distinção<br />

podia ser percebida entre<br />

Brandler e Thälmann, Jilek e<br />

Gottwald, Sellier e Thorez,<br />

Lovestone e Foster, Kilboon e<br />

Silen. Esta unidade era simbolizada<br />

pela combinação de Stálin<br />

com Bukhárin que estabeleceram<br />

a si mesmos como a “incorruptível<br />

velha guarda leninista”.<br />

Não era uma unidade fictícia.<br />

Em todas as questões de política<br />

internacional e doméstica,<br />

de princípio e táticas, estas duas<br />

alas do bloco dirigente possuíam<br />

uma visão comum. Eles<br />

caminhavam de mãos dadas<br />

contra o “trotskismo”, e de<br />

mãos dadas com Purcell e Chiang<br />

Kai-shek. Defenderam juntos<br />

a teoria do socialismo em um<br />

só país, dos “partidos de duas<br />

classes, de operários e camponeses”.<br />

Introduziram conjuntamente<br />

o programa revisionista<br />

adotado pelos delegados ao<br />

Sexto Congresso do Comintern<br />

em 1928.<br />

Mas, ao final de 1927, a maré<br />

montante da reação que havia<br />

levado o regime ao poder estava<br />

dando margem a uma guinada<br />

à esquerda nas fileiras do<br />

proletariado internacional. Na<br />

própria Rússia, o “levante culaque<br />

incruento” de 1928 teve um<br />

efeito moderador sobre os operários<br />

e eles começaram a pressionar<br />

a direção para voltaremse<br />

para a esquerda. Foi nesta atmosfera<br />

que Stálin foi compelido<br />

a mudar a direção na qual<br />

vinha navegando há cinco anos.<br />

Iniciando cuidadosamente com<br />

um ataque sobre representantes<br />

obscuros da ala direita, ele conseguiu<br />

retirar o apoio desta tão<br />

rapidamente que foi capaz de,<br />

em 1929-1930, fazer um ataque<br />

frontal sobre sua verdadeira liderança:<br />

Rikov, Bukhárin e<br />

Tomski.<br />

Para um público comunista<br />

estupidificado pelo inesperado<br />

ataque, os três líderes da ala<br />

direita foram apresentados por<br />

Stálin como os porta-bandeiras<br />

da restauração capitalista. O<br />

presidente da Internacional<br />

Comunista, o cabeça do governo<br />

soviético, e o dirigente dos<br />

sindicatos soviéticos foram<br />

apresentados por Stálin como<br />

agentes da contra-revolução<br />

termidoriana! Mas foi precisamente<br />

este “trio” com o qual<br />

Stálin manteve por cinco ou seis<br />

anos a mais íntima, “indissolúvel”,<br />

aliança contra a ala esquerda<br />

do partido.<br />

Se a acusação da ala direita<br />

por Stálin tivesse qualquer significado<br />

– e tinha – era, ao<br />

mesmo tempo, o indiciamento<br />

devastador da própria facção<br />

centrista. Que apelo poderia<br />

fazer ao bolchevismo quando<br />

esteve assumidamente em uma<br />

solidariedade indistinguível por<br />

meia década com os restauracionistas?<br />

Onde em toda a história<br />

poderia uma posição ser<br />

apontada como sendo uma tendência<br />

genuinamente revolucionária<br />

tendo participado de um<br />

bloco inseparável com outra<br />

tendência que, dentro de virtualmente<br />

vinte e quatro horas, se<br />

tornou uma campeã da reação<br />

negra?<br />

Dado o fato de que ambas as<br />

seções da direção tinham uma<br />

base de princípios comuns,<br />

dado o fato de que para cortar<br />

a ala direita, Stálin teve que<br />

emprestar copiosamente do<br />

arsenal ideológico da Oposição<br />

de Esquerda (a ala direita não<br />

hesitou em acusá-lo de<br />

“trotskismo” bem como<br />

Trótski previu em 1926!), a<br />

campanha de Stálin contra a ala<br />

direita serviu ao mesmo tempo<br />

como uma auto-revelação mortal<br />

do centrismo, e um tributo<br />

involuntário à justiça de toda a<br />

luta da Oposição.<br />

Não esqueçamos que todo o<br />

décimo quinto congresso do<br />

partido russo condenou os oposicionistas<br />

como fomentadores<br />

do medo por alertar contra o<br />

crescente perigo culaque. Exatamente<br />

quando Rikov provocava<br />

a Oposição com a questão:<br />

se o culaque é tão perigoso, por<br />

que não nos pregou uma peça<br />

ainda? – Molotov afirmava impacientemente<br />

em dezembro de<br />

1927 que o culaque não era nada<br />

de novo, que não havia necessidade<br />

para alarme ou qualquer<br />

outras medidas especiais além<br />

das que já estavam em marcha.<br />

Todos “concordam”, argumentava<br />

Molotov, que insistentemente<br />

minimizava a magnitude<br />

dos fazendeiros exploradores,<br />

“que existe, e não há necessidade<br />

de se falar disso”.<br />

Apenas algumas breves semanas<br />

depois a União Soviética<br />

foi violentamente sacudida por<br />

uma demonstração de tremendo<br />

poder que os culaques vinham<br />

açambarcando enquanto<br />

Bukhárin-Stálin-Molotov-Rikov<br />

os vinham encobrindo das críticas<br />

de Trotski. Em janeiro de<br />

1928, logo após o congresso e<br />

reforçados por seu sucesso em<br />

conseguir a eliminação da ala<br />

esquerda do partido, os culaques<br />

se levantaram no que ficou conhecido<br />

como sendo seu “levante<br />

incruento”. Poderosos e<br />

confiantes, se recusaram a entregar<br />

seus estoques de grãos<br />

colhidos e, com efeito, declararam:<br />

a menos que o poder soviético<br />

ceda às nossas reivindicações<br />

por preços mais altos do<br />

que aqueles fixados pelo estado<br />

proletário, manteremos nossos<br />

estoques cheios e levaremos à<br />

fome as cidades, os centros<br />

operários, à submissão!<br />

Sua resistência era tão efetiva<br />

e alarmante que pela primeira<br />

vez em muitos e muitos anos,<br />

os sovietes foram compelidos a<br />

requerer os grãos dos vilarejos<br />

pela força armada. Toda a filosofia<br />

oficial do “enriqueceivos!”,<br />

o pernicioso auto-consolo<br />

sobre a insignificância do<br />

culaque, a perseguição raivosa<br />

à Oposição por seus freqüentes<br />

alertas, foram agora rasgados<br />

em pedaços. O espírito revolucionário<br />

de uma classe <strong>operária</strong><br />

agora alarmada, que não tinha,<br />

de jeito nenhum, eliminado inteiramente<br />

pela campanha contra<br />

a Oposição, forçou seu caminho<br />

a pesar dos obstáculos colocados<br />

à sua frente pelo regime burocrático.<br />

Foi esta pressão de<br />

baixo que deu o impulso real para<br />

a ruptura do até então sólido<br />

bloco de centro-direita. Esta<br />

revolta ainda não clara contra a<br />

linha anterior de ceder aos elementos<br />

capitalistas dentro e fora<br />

do país, atirou o elmo fora das<br />

mãos da direita e forçou uma<br />

mudança no rumo.<br />

Sobre a base desta corrente<br />

de esquerda nas massas, a facção<br />

stalinista abriu uma nova<br />

fase de seu desenvolvimento, o<br />

“terceiro período” de suas trapalhadas<br />

em uma escala soviética<br />

e internacional. Este vôo de<br />

burocratas assustados das fileiras<br />

do oportunismo de ontem<br />

para o uma posição aventureira<br />

está contido no que se tornou<br />

conhecido como o “terceiro<br />

período”.<br />

O período definido arbitrariamente<br />

não começa na história<br />

do Comintern com a sua proclamação<br />

no Sexto Congresso,<br />

mas mesmo mais definidamente<br />

na nona plenária da IC no início<br />

de 1928. Àquela época os<br />

primeiros sinais de um novo<br />

ascenso operário na Europa<br />

podiam ser detectados, mas<br />

apenas os primeiros sinais. O<br />

voto nos partidos comunistas,<br />

particularmente na Alemanha,<br />

estava crescendo, mas com ele<br />

também os votos dados à social<br />

democracia. Em um número<br />

de outros países, no entanto, a<br />

classe <strong>operária</strong> estava ainda se<br />

contorcendo com a dor de uma<br />

derrota não superada, como na<br />

China, ou estava passiva sob os<br />

efeitos soporíferos de um boom<br />

econômico temporário, como<br />

na França e nos Estados Unidos.<br />

A nona plenária, ao invés de<br />

estabelecer a etapa precisa do<br />

desenvolvimento do movimento<br />

operário internacional, proclamou<br />

a ascensão de uma<br />

A Décima Plenária foi a reductio ad absurdum do Sexto<br />

Congresso com um número de novidades acrescentadas por<br />

Stálin e Molotov por sua própria conta.<br />

OS 10 PRIMEIROS ANOS DA OPOSIÇÃO DE ESQUERDA<br />

“nova e mais elevada” etapa da<br />

revolução chinesa (não contrarevolução,<br />

mas revolução!),<br />

deu seu apoio encoberto ao<br />

aventureirismo guerrilheiro, e<br />

anunciou pela boca de Thälmann<br />

e outros porta-vozes do Comintern<br />

que as massas <strong>operária</strong>s ao<br />

redor do mundo estavam se<br />

tornando “mais e mais radicalizadas”.<br />

Os alertas contra esta<br />

concepção leviana de um progresso<br />

automático, horizontal<br />

do movimento revolucionário<br />

não tiveram serventia, pois foram<br />

feitos pela Oposição. A análise<br />

clara de Trótski da situação<br />

real do movimento não só foi<br />

ignorada silenciosamente no<br />

Sexto Congresso, ao qual foi<br />

apresentada, como não foi sequer<br />

distribuída aos delegados<br />

reunidos.<br />

O Sexto Congresso no meio<br />

do ano de 1928 conduziu a nona<br />

plenária a alguns passos além no<br />

absurdo. Formalmente, marcou<br />

o ponto culminante na colaboração<br />

entre o centrismo e a ala<br />

direita (Stálin e Bukhárin). Na<br />

realidade, incorporou na fundação<br />

do próximo período a mistura<br />

de premissas oportunistas<br />

com deduções ultra-esquerdistas<br />

que esteve na raiz de toda a<br />

confusão e derrotas sofridas<br />

pelo comunismo desde esta<br />

época.<br />

O Sexto Congresso teve<br />

muitos pontos de similaridade<br />

com o Quinto, que foi realizado<br />

em 1924 após a derrota na Alemanha.<br />

Em 1924, nenhuma<br />

derrota foi reconhecida; pelo<br />

contrário, proclamava-se que a<br />

revolução estava logo à frente.<br />

Em 1928, o mesmo erro foi<br />

cometido com relação à Revolução<br />

Chinesa. No período do<br />

Quinto Congresso, Stálin fez a<br />

nova descoberta de que a “social<br />

democracia era a ala mais<br />

moderada do fascismo”. Em<br />

1928, o Sexto Congresso colocou<br />

as bases para a filosofia<br />

única do “social-fascismo”. O<br />

Quinto Congresso celebrou a<br />

vitória da “bolchevização” e do<br />

“monolitismo”, em uma época<br />

em que as próprias bases sob as<br />

diversas “direções bolcheviques”<br />

impostas às seções nacionais<br />

estavam sendo minadas.<br />

Em 1928, as lutas internas mais<br />

violentas estavam sendo travadas<br />

nos bastidores da “Internacional<br />

Comunista unificada”. O<br />

Quinto Congresso, com todo o<br />

sua discussão ultra-esquerdista,<br />

continha nada menos que os<br />

germes de uma breve guinada à<br />

esquerda, mas também uma<br />

virada à direita prolongada, para<br />

o período do Comitê Anglo-<br />

Russo, da aliança com Chiang<br />

Kai-shek, a Liga anti-imperialista<br />

e a “Internacional Camponesa”.<br />

O Sexto Congresso, por<br />

todo seu apoio a conclusões<br />

aventureiras, consagrou a teoria<br />

revisionista do socialismo<br />

em um só país e estabeleceu a<br />

“ditadura democrática do proletariado<br />

e do campesinato”<br />

(isto é, a kerenskíada ou a tragédia<br />

do Cuomintang) como<br />

uma lei de ferro regendo os<br />

destinos da revolução em três<br />

quartos da Terra.<br />

A luta contra o “perigo da<br />

direita” lançada no Sexto Congresso,<br />

à qual Bukhárin resistiu<br />

até tão recentemente quanto no<br />

Décimo Quinto Congresso do<br />

partido russo, era platônica e<br />

anônima. Seu valor pode ser<br />

estimado do fato de que foi<br />

proclamada da tribuna do Congresso<br />

pelo líder internacional<br />

da ala direita, Bukhárin. Desta<br />

maneira, a unificação formal do<br />

bloco governante foi preservada<br />

e usada para encobrir uma<br />

disputa interna amarga.<br />

É instrutivo observar que à<br />

própria época em que Stálin<br />

estava ocupado em minar o terreno<br />

sob Bukhárin e Cia., indo<br />

longe o suficiente a ponto de<br />

organizar seu próprio congresso<br />

não oficial, simultaneamente<br />

ao “Congresso de Bukhárin”,<br />

este, no entanto, assumiu a liderança<br />

em condenar quaisquer<br />

rumores sobre desentendimentos<br />

na direção do partido russo<br />

como “calúnias trotskistas”. Em<br />

um relatório especial sobre o<br />

assunto feito pelo próprio Stálin<br />

ao Conselho dos Anciãos do<br />

Congresso, ele repudiava todos<br />

os rumores com relação a diferenças<br />

no Birô Político russo.<br />

Ele negava enfaticamente que<br />

houvesse quaisquer membros<br />

da ala direita, ou concepções da<br />

ala direita no Birô Político ou<br />

mesmo no Comitê Central, e,<br />

para confirmar suas afirmações,<br />

introduziu uma resolução,<br />

assinada por ele mesmo e por<br />

cada um dos outros membros<br />

do Birô Político que declarava:<br />

“Os membros do Birô Político<br />

do Comitê Central do Partido<br />

Comunista da União Soviética<br />

abaixo assinados declaram<br />

diante do Conselho de Anciãos<br />

do Congresso que protestam da<br />

maneira mais enfática contra a<br />

circulação de rumores de que<br />

haja quaisquer dissensões entre<br />

os membros do Birô Político do<br />

Comitê Central do PCUS”.<br />

Desnecessário dizer que as<br />

marionetes reunidas ouviram<br />

solenemente e de maneira a<br />

aprovar esta enganação criminosa<br />

e ridícula da Internacional<br />

Comunista preparada conjuntamente<br />

por Stálin e Bukhárin.<br />

A dissolução deste estado de<br />

coisas não demorou muito. Em<br />

quase menos tempo do que se<br />

leva para contar a história, virtualmente<br />

todos os principais<br />

oradores do Sexto Congresso<br />

ou foram esmagados organizativamente,<br />

expulsos sem direitos<br />

ou salvos da expulsão por<br />

uma capitulação humilhante.<br />

Assim como os dirigentes do<br />

Quinto Congresso duraram por<br />

um breve momento nos assentos<br />

do poder, os “bolcheviques”<br />

do Sexto Congresso encontraram<br />

com um fim rápido. Bukhárin,<br />

o líder político do Congresso,<br />

o relator sobre o programa,<br />

o presidente do Comintern, o foi<br />

denunciado alguns meses depois<br />

como o líder da tendência<br />

restauracionista-capitalista na<br />

União Soviética (nada menos!).<br />

Lovestone, Gitlow e Wolfe foram<br />

expulsos sem cerimônia<br />

como agentes da burguesia<br />

norte-americana. Roy, que ganhou<br />

a vida denunciando<br />

Trótski como um agente de<br />

Chamberlain, encontrou a si<br />

mesmo designado sob a mesma<br />

forma. Kilek e Cia., na Tchecoslováquia,<br />

Kilboon na Suécia,<br />

Brandler (e quase Ewert) na Alemanha,<br />

Sellier e Cia. na França,<br />

e uma horda de outros foram<br />

expulsos ou declinaram do<br />

Comintern.<br />

A remoção de qualquer ala<br />

direita recalcitrante tornou possível<br />

a escalada às alturas do<br />

absurdo quando a Décima Plenária<br />

em 1929, ao auge do “terceiro<br />

período”. A Décima Plenária<br />

foi a reductio ad absurdum<br />

do Sexto Congresso com um<br />

número de novidades acrescentadas<br />

por Stálin e Molotov por<br />

sua própria conta. Foi a plenária<br />

por excelência do “terceiro<br />

período”, o mesmo “terceiro<br />

período” que foi denunciado<br />

como uma idéia oportunista da<br />

delegação Thälmann-Neumann<br />

ao Sexto Congresso.<br />

O “terceiro período”, seus<br />

proponentes o explicavam, era<br />

caracterizado por uma radicalização<br />

constantemente crescente<br />

das massas, simultaneamente<br />

em todos os países. Não pode<br />

haver um quarto período, anunciou<br />

Molotov, pois o terceiro<br />

período termina com a revolução.<br />

A atual “sensibilidade política<br />

aumentada das amplas<br />

massas”, acrescentava Losovski,<br />

“é um sinal característico<br />

da véspera de uma revolução”.<br />

Moireva, enquanto membro do<br />

CEIC [Comitê Executivo da<br />

Internacional Comunista] declarou:<br />

“na minha opinião, dos<br />

eventos de maio, bem como dos<br />

acontecimentos recentes na<br />

Polônia, que toda uma série de<br />

elementos neles lembram as<br />

jornadas de julho. O fato em si<br />

de que os partidos comunistas<br />

tiveram que reter os setores<br />

mais avançados da classe <strong>operária</strong><br />

em seu impulso para a frente,<br />

atesta um situação revolucionária<br />

se aproximando rapidamente”.<br />

Esta extravagância é<br />

destacada apenas se lembrarmos<br />

que as “nossas jornadas de<br />

julho” foram o precursor direto<br />

da insurreição de outubro na<br />

Rússia. Deve-se ter em mente<br />

que todas estas fantasias foram<br />

apresentadas ao mundo comunista<br />

oficial como inabaláveis<br />

artigos de fé mais de três anos<br />

atrás!<br />

Deste “terceiro período”<br />

com sua incessante crescente<br />

radicalização das massas em<br />

virtualmente todos os países no<br />

mundo, na qual a França foi<br />

solenemente anunciada como<br />

estando à frente da lista revolucionária<br />

(em 1929!), seguiu a<br />

teoria do social-fascismo, uma<br />

doença da decadência senil da<br />

qual o Comintern está sofrendo<br />

até hoje. Com a engenhosa fórmula<br />

de Stálin de 1924 em<br />

mente, Manuilski anunciou agora<br />

que “a fusão da social democracia<br />

com o estado capitalista<br />

não é meramente uma fusão por<br />

cima. Esta fusão tomou lugar de<br />

alto a baixo, em toda linha”. Melhorando<br />

Lênin, Manilski anunciou<br />

que Noske, em 1918, já era<br />

um social-fascista.<br />

O estrategista-mor, Bela Jun,<br />

que destruiu a revolução húngara<br />

ao não conseguir compreender<br />

a natureza da social democracia<br />

em 1918, agora tentava,<br />

cerca de dez anos depois, reparar<br />

o dano apresentando uma interpretação<br />

ainda pior: “socialfascismo<br />

é o tipo de desenvolvimento<br />

fascista nos países<br />

cujo desenvolvimento capitalista<br />

é mais avançado do que na Itália...<br />

Neste estágio de desenvolvimento,<br />

o social reformismo<br />

esvanece: é transformado parcialmente<br />

em elementos social<br />

demagógicos e parcialmente em<br />

elementos de violência de massas<br />

do fascismo”.<br />

Daí Manuilski tirou a conclusão<br />

a respeito da política de<br />

frente única de que “jamais a<br />

consideramos como uma fórmula<br />

para todos, para todas as<br />

épocas e pessoas... Hoje somos<br />

mais fortes e passamos a métodos<br />

mais agressivos na luta pela<br />

maioria da classe <strong>operária</strong>”. O<br />

que os funcionários menores<br />

tinham para contribuir com a<br />

questão pode ser facilmente<br />

imaginado a partir destas poucas<br />

citações.<br />

A motivação oficial para o<br />

estabelecimento do “terceiro<br />

período” e de todos os seus<br />

mandamentos era falsa do início<br />

ao fim. Mas isto não significa<br />

que não havia uma razão<br />

profunda para a guinada de 180<br />

graus no rumo do Comintern. O<br />

centrismo, privado de qualquer<br />

âncora em quaisquer princípios,<br />

sem nenhuma plataforma distinta<br />

própria, é arrastado à esquerda<br />

pela pressão dos acontecimentos<br />

e da crítica. Sem uma<br />

fundamentação real, precisa se<br />

basear em um prestígio artificialmente<br />

preservado. Para manter<br />

a continuidade do seu prestígio,<br />

isto é, para explicar a virada<br />

de ponta-cabeça para a esquerda,<br />

ou mais precisamente,<br />

para justificar a mudança sem<br />

deixar espaço para crítica de<br />

seus rumos precedentes, o “terceiro<br />

período” foi chamado à<br />

existência.<br />

Por esta proclamação os centristas<br />

foram capazes de justificar<br />

a “frente única do alto” com<br />

Chiang Kai-shek e Purcell bem<br />

como frente única nenhuma.<br />

Ambos estavam justificados por<br />

uma brilhante teoria: o estabelecimento<br />

arbitrário de “períodos”.<br />

No “segundo período”, de<br />

acordo com este dogma conveniente,<br />

era a essência do bolchevismo<br />

manter a frente única<br />

com fura-greves comprovados<br />

em troca de sua “luta para defender<br />

a União Soviética” do imperialismo<br />

britânico. No “terceiro<br />

período”, no entanto, todos<br />

os social-democratas de Purcell<br />

até o operário socialista na fábrica<br />

se tornaram fascistas e os<br />

comunistas deviam, portanto,<br />

não ter relação nenhuma com<br />

eles. A fórmula do “terceiro<br />

período” era a filosofia pela qual<br />

o centrismo juntou os dois períodos<br />

mutuamente suplementares<br />

de seus erros, crimes e<br />

disfunção ideológica sem prejuízo<br />

para si mesmo: pelo menos,<br />

esta era a intenção de seus artífices.<br />

O “terceiro período” foi, e na<br />

medida em que os seus restos<br />

ainda jazem na estrada ele ainda<br />

é, um marco da rota de falência<br />

e decadência do centrismo. Os<br />

mais de três anos desde sua<br />

proclamação testemunharam<br />

uma série de derrotas acrescidas<br />

às que acumulara entre 1923<br />

e 1928.<br />

É neste período que o ascenso<br />

do fascismo na Alemanha<br />

pôde se dar sem encontrar qualquer<br />

resistência efetiva da parte<br />

dos comunistas, que foram<br />

proibidos pelo dogma do “social-fascismo”<br />

de fazer uma frente<br />

única com os operários social-democratas.<br />

Desorientados<br />

pela previsão fantástica de<br />

Molotov de que a França estava<br />

à frente da lista para uma luta<br />

revolucionária, o Comintern foi<br />

pego totalmente desprevinido<br />

pelo levante na Espanha. Quando<br />

foi finalmente sacudido de<br />

seu estupor, o Partido Comunista<br />

Espanhol foi deixado impotente<br />

pelo sectarismo extremo<br />

de sua política, por sua rejeição<br />

à tática da frente única.<br />

Nos Estados Unidos, as oportunidades<br />

sem paralelo para o<br />

trabalho revolucionário fornecidas<br />

pelas convulsões da crise<br />

foram perdidas, uma após a<br />

outra, pela aplicação de táticas<br />

que repeliram centenas ou milhares<br />

de operários que se deslocavam<br />

em direção ao comunismo.<br />

Na Inglaterra, França,<br />

Tchecoslováquia – em uma<br />

palavra, em todos os países<br />

importantes, a teoria e a prática<br />

do “terceiro período” colocou o<br />

movimento comunista de joelhos,<br />

introduziu a confusão em<br />

sua mente, paralisou seus membros<br />

e o isolou das massas. Se<br />

a social democracia internacional<br />

ainda é um grande poder que<br />

deve ser levado em consideração<br />

hoje, se ainda mantém seu<br />

vigor entre milhões de trabalhadores,<br />

deve-se agradecer às trapalhadas<br />

do stalinismo.<br />

O desejo apaixonado das<br />

massas por uma frente única<br />

para resistir às incursões da<br />

burguesia foi repelido pela exigência<br />

burocrática de que os<br />

partidos comunistas por uma<br />

“frente única pela base” ou uma<br />

“frente única vermelha”, isto é,<br />

uma frente única dependendo da<br />

aceitação antecipada de uma<br />

direção comunista por trabalhadores<br />

não-comunistas. O ódio<br />

do fascismo manifestado pelos<br />

trabalhadores socialistas, bem<br />

como comunistas, nunca foi<br />

utilizado pelos stalinistas. Ao<br />

invés disso, eles repeliram os<br />

operários socialistas por sua<br />

conversa vazia sobre o “social<br />

fascismo” na sua aliança – na<br />

Alemanha, em alguma medida –<br />

com os bandos de Hitler no<br />

notório Referendum “Vermelho”<br />

na Prússia. A resistência<br />

que os operários socialistas<br />

estavam ansiosos por oferecer<br />

aos ataques capitalistas, foi enfraquecida<br />

posteriormente pela<br />

política sectária de dividir os sindicatos<br />

e formar pequenas seitas<br />

sindicais comunistas.<br />

O isolamento do Comintern<br />

das massas no campo político<br />

bem como nos sindicatos, o<br />

qual a Oposição previu à época,<br />

caminhou de mãos dadas<br />

com a degeneração moral e<br />

ideológica sem precedentes<br />

nas fileiras do comunismo<br />

oficial. Não poderia se esperar<br />

que isto continuasse por um<br />

longo período sem terminar<br />

em uma quebra terrível, seja<br />

dentro da União Soviética ou<br />

fora dela.<br />

Os efeitos acumulados desta<br />

degeneração na União Soviética<br />

trouxeram consigo seus perigos<br />

de Termidor e Bonapartismo, da<br />

mesma foram que ameaçavam<br />

toda a Internacional Comunista<br />

com o descrédito e a dissolução.

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