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VII – O malho eo cinzel - Entre Irmãos

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Pois Herodes, o porco, viveu no trono o resto de seus dias em honra e glória, nada lhe<br />

sobrevindo de mal como conseqüência de seus atos criminosos. Pilatos lavou as mãos, ao entregar<br />

Cristo à sanha do povo desvairado, e aquela água, em vez de lavar-lhe as mãos, sujou-as do<br />

sangue daquele a quem o próprio Pilatos considerava inocente e justo. Enodoou ele, para sempre,<br />

sua toga de juiz, e no entanto, permaneceu no poder, tendo até sido elogiado por César por sua<br />

habilidade em contornar e impedir levantes. Viveu no fausto, na grandeza, e quando se recolheu a<br />

Roma, ninguém, senão sua consciência, lhe pediu contas de seus crimes e injustiças.<br />

Estaria, logo, errada a máxima? Pode, neste mundo, o bem ter por conseqüência o mal, e<br />

o mal ter por resultado o bem de quem o pratica? Está provado que, neste mundo, sim. Daí a idéia<br />

de um outro mundo e de uma outra vida, para se corrigirem lá os erros e desatinos desta.<br />

Assim pensava o padre Vieira, quando escreve isto num sermão:<br />

"O Batista em prisões! Logo há de haver outro juízo e outro mundo. Provo a<br />

conseqüência. Porque, se há Deus, é justo; se é justo, há de dar prêmios a bons, e castigo a maus:<br />

no juízo deste mundo vemos os maus, como Herodes, levantados, e os bons, como o Batista,<br />

oprimidos: segue-se logo que há de haver outro juízo e outro mundo: outro juízo, em que se<br />

emendem estas desigualdades e injustiças; outro mundo, em que os bons tenham prêmios de seus<br />

merecimentos, e os maus castigo de suas culpas" 28 . E acrescenta o padre pouco mais adiante:<br />

"Um dos principais fundamentos da nossa fé é a imortalidade das almas, e a nossa<br />

injustiça é a mais evidente prova da nossa imortalidade. Se os homens não foram injustos, puderase<br />

duvidar se eram imortais; mas permite Deus que haja injustiças no mundo para que a inocência<br />

tenha coroa e a imortalidade prova. Quem pode duvidar da imortalidade, da outra vida, se vê nesta<br />

a maldade de Herodes levantada ao trono e a inocência do Batista posta em prisões?" 29<br />

Tal, também, é o parecer do pensador Emmanuel Kant; não podendo ele chegar a Deus<br />

em sua "Crítica da Razão Pura", a ele chega pelos caminhos do padre Vieira, em sua "Crítica da<br />

Razão Prática", isto é, faz derivar a imortalidade da necessidade de recompensa.<br />

Tenho demonstrado que o bem, proximamente, pode ter por recompensa o mal, e viceversa,<br />

o mal pode redundar no bem imediato de quem o pratica. Mas, nem sempre o perverso<br />

colhe frutos bons de sua maldade. Dimas e Gestas eram ladrões e salteadores, e tiveram por<br />

conseqüência serem pregados nas cruzes. Contudo, no meio de ambos se elevava a Cruz de Cristo<br />

que era o sumo bem. O bem e o mal crucificados no mesmo local e mesma hora, provam que bem<br />

e mal podem ter por conseqüência o martírio e a morte. Não importa se é Cristo ou Gestas: se<br />

estão neste nosso mundo injusto e mau, haverá cruzes para ambos.<br />

Segue-se, de tudo isto, que o sofrimento decorre do meio em que nos encontramos.<br />

Cumpre-nos, portanto, para não sofrer, fazer duas coisas: a primeira, e mais importante, é<br />

melhorar-nos intelectual e moralmente; a segunda, é lutar pela melhoria do meio social. Pela<br />

primeira, elevamo-nos de nível espiritual, e com isto, nos candidatamos aos mundos felizes que<br />

são as Grandes Oficinas extra- terrenas (na casa de meu Pai há muitas moradas <strong>–</strong> Jesus), todas<br />

recebendo a inefável Luz do Oriente Eterno. Pela segunda (e esta é a missão da Maçonaria<br />

terrena), procurarmos transformar a grande oficina deste nosso mundo numa das Grandes Lojas do<br />

Infinito, expulsando dele, para sempre, a injustiça e o mal, repondo, em seus lugares, a justiça e o<br />

bem.<br />

De maneira que está correta a máxima: não há punições nem recompensas, mas<br />

conseqüências; só que estas conseqüências são o meio social a que somos compelidos a habitar<br />

pela nossa densidade espiritual. Os bons sobem para mundos felizes, leves e luminosos; os maus,<br />

por sua grande densidade, caem para os planos trevosos de ignorância, de injustiças, de lágrimas,<br />

de dores. O que vale é a densidade espiritual: e está exclusivamente em nós tornarmo-nos leves ou<br />

densos.<br />

Gestas era denso, inferior, por sua natureza animalesca, cultivada no sentido de aumentar<br />

seu satanismo, e a conseqüência disso foi sua cruz. Cristo era leve, diáfano, divino; mas por amor<br />

28 Vieira, Sermões, Ed. das Américas 11, 355<br />

29 Vieira, Sermões, Ed. das Américas, 11, 356<br />

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