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VII – O malho eo cinzel - Entre Irmãos

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correndo atrás do dinheiro. Cremos no dinheiro, porque ele torna o homem forte e respeitado.<br />

Cremos na força porque ela vence e esmaga, e duvidamos da justiça porque pode ser enganada<br />

com mentiras, e, astuciosamente, mentimos sempre nos negócios e no tribunal, só falando a<br />

verdade, quando ela nos é indiferente ou nos convém. O advogado é um perito nisto, e, portanto,<br />

sabe aconselhar a seu constituinte o que deve e o que não convém dizer. E a verdade? Ora, a<br />

verdade!...<br />

Eis, pois, que, como o afirma S. João, "o mundo todo está posto no maligno", em<br />

razão do que o Reino de Deus não é o deste mundo. Conseqüentemente, este nosso mundo é um<br />

inferno, e nós todos somos diabos; uns piores, outros melhores, mas todos somos dragões que<br />

precisam ser desvirados do avesso, desinvertidos desse negativo no positivo, no sábio e no santo<br />

que ainda haveremos de ser. Como será isto? Pela compreensão e esforço própros, ou então pela<br />

dor.<br />

Se somos passíveis de sofrer mudanças segue-se que a crença que somos, embora<br />

indiscutível, não é imutável. O esforço próprio, o estudo meditado, e, sobretudo, a dor, podem<br />

mudá-la. Quando, na vida, nos sai algo errado, entramos em DÚVIDA, donde vem que, segundo<br />

Ortega, "a dúvida pertence ao mesmo estrato das crenças". Todavia, como não podemos<br />

permanecer em dúvida, porque ela nos inibe de agir, porque ela nos impediria os atos, o único<br />

recurso que nos resta é metermo-nos em solidão, pensar, meditar, e, com isto, criar nova crença.<br />

Moisés, o príncipe culto, genial, da casa do faraó, provavelmente teve a sua alétheia 43<br />

quando ainda estava no Egito de onde saiu para os desertos de Midiã, pretextando estar fugindo<br />

por ter matado um homem. Retirou-se para o deserto para estar só consigo a fim de recompor suas<br />

idéias, visto como suas antigas crenças egípcias lhe ruíram por terra deixando-o em dúvida. Saulo<br />

de Tarso, o culto judeu-romano, educado aos pés de Gamaliel, em pedindo cartas ao sinédrio para<br />

ir caçar os cristãos, certamente que sabia o que pregava o "inimigo". E teve sua alétheia, sua hora<br />

de verdade, na estrada de Damasco. Para recompor seu universo de crenças, retirou-se para um<br />

deserto entre tecelões de tapetes, fazendo-se ele também tecelão por três anos. Esta "hora de<br />

verdade", todos os filósofos a tiveram, e todos concordam em que são impotentes para explicar<br />

suas experiências supra-racionais, intuitivas.<br />

Ao que crer num Ente Supremo, com uma crença que identifica o homem com Deus,<br />

pelo que o homem assume um aspecto divino de antianimalidade, no sentido com que S. Paulo<br />

escreve: "Mas o que esta unido ao Senhor é um mesmo espírito com ele" (I Cor 6,17); ao que crer<br />

deste modo vital, não apenas intelectual e religioso, mas vital, num Ente Supremo, a esse, com<br />

toda verdade se pode dizer "Essa crença que honra e enobrece o vosso coração não é exclusivo<br />

patrimônio do filósofo; também o é do selvagem".<br />

Eis a filosofia implícita no grau de Aprendiz, pela qual ficamos cientes de que crença<br />

não é religião, dado que esta nós discutimos, analisamos, expomos, aduzimos razões, exatamente<br />

como procedemos com qualquer matéria de estudo. Podemos nos entusiasmar com nossa religião,<br />

irmos aos templos onde se reúne a igreja, e aí fazermos sentidas orações, trinar lindos hinos,<br />

derramar lágrimas de alegria, e sairmos, depois, confortados espiritualmente. No entanto, todo<br />

esse fervor religioso não é a crença que somos, a única que, verdadeiramente, norteia nossa<br />

conduta moral e todos os demais atos de nossa vida, sem nenhuma exceção. É assim que, diferente<br />

da crença que somos, a religião acaba não sendo a vida, havendo total divórcio entre uma e outra,<br />

entre religião e vida. Daí que há até o aforismo popular que diz: primeiro a obrigação, depois a<br />

devoção. Obrigação são as obras da vida, e devoção é diletantismo, devaneio, gosto, qual o que<br />

sentimos ao ouvir música, ao assistir a uma peça teatral ou filme.<br />

A este respeito, o jornal "O Estado de S. Paulo”, em sua edição de 30 de agosto de<br />

1984, trouxe um artigo de G<strong>eo</strong>rge Cornell com o título: «Religião nos EUA, segundo as<br />

pesquisas». Eis parte do que escreve Cornell:<br />

43 Alétheia: primitivo nome da filosofia e que quer dizer: desnudamento, patentização, desvelação, apocalipse. É como<br />

"um tremor de terra" (Gusdorf) que abala toda a estrutura do homem. Desfeito seu universo de crença, ele tem de<br />

construir outro.<br />

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