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A Lisboa do Império e o Portugal dos Pequeninos ... - Análise Social

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mento, etc.)» modalidade que pode originar uma transacção de tipo mercantil,<br />

mas transacção que incide (e é este o aspecto essencial) não sobre o 'solo'<br />

abstracto, mas sobre a situação particular que, no seio da esfera económica e<br />

social, é conferida pela disposição jurídica deste solo» 5I .<br />

Sen<strong>do</strong> um tributo que se paga em nome <strong>do</strong> «equilíbrio» ou da perequação<br />

<strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>minantes, e não de acor<strong>do</strong> com uma suposta valorização<br />

de um «capital fundiário», é óbvio que o sistema de indemnizações em<br />

processos de expropriação decorrerá, antes de mais, da «vontade» política<br />

<strong>do</strong>minante e das alianças políticas e sociais que estiverem em jogo. Se as leis<br />

da economia determinam, na generalidade, os limites de acção <strong>do</strong> espaço<br />

político, é de admitir que, no caso presente, a autonomia (relativa) <strong>do</strong> político<br />

poderá vir a pôr em causa esses mesmos «limites estruturais». Retenhamos<br />

esta primeira observação, pois que virá a ser central no desenrolar <strong>do</strong> trabalho.<br />

Mas esse tributo fundiário urbano, não directamente dependente, como<br />

vimos, <strong>do</strong> processo de valorização <strong>do</strong> capital, também não é o resulta<strong>do</strong> de<br />

uma qualquer arbitrariedade ou de um qualquer «pacto social» estabeleci<strong>do</strong><br />

pontualmente entre o proprietário fundiário e o promotor, priva<strong>do</strong> ou público.<br />

Procuran<strong>do</strong> questionar as chamadas «mais valias» urbanas — sem nenhuma<br />

correspondência com o conceito marxista, antes designan<strong>do</strong> as diferenças de<br />

«valor» <strong>do</strong>s terrenos eventualmente sujeitos a certos melhoramentos urbanos<br />

—, mas também para justificar as diferenças tributárias <strong>do</strong> solo urbano,<br />

A. Lipietz desenvolve o seu enquadramento teórico a partir de um novo instrumento<br />

conceituai: a divisão económica e social <strong>do</strong> espaço.<br />

Um tal conceito foi esboça<strong>do</strong> por Marx, ainda que de uma forma relativamente<br />

embrionária — à semelhança, de resto, <strong>do</strong> tratamento conferi<strong>do</strong> à<br />

«questão urbana» e, a fortiori, da própria problemática fundiária <strong>do</strong>s solos<br />

urbanos —, a partir da «clássica» oposição cidade-campo. Significativamente,<br />

não é tanto na obra considerada de maior sistematização que Marx situa<br />

aquele conceito — sen<strong>do</strong> peremptório, contu<strong>do</strong>, ao afirmar que «a história<br />

económica da sociedade se desenrola sobre o movimento daquela antítese»<br />

52 —, mas sobretu<strong>do</strong>, em A Ideologia Alemã, em que a oposição<br />

cidade-campo 53 aparece estreitamente articulada à divisão social <strong>do</strong> trabalho.<br />

É precisamente esta estreita articulação que nos interessa privilegiar neste<br />

momento, ten<strong>do</strong> em conta o objecto das nossas pesquisas. E isso porque, se<br />

«a maior divisão <strong>do</strong> trabalho material e intelectual é a separação da cidade e<br />

<strong>do</strong> campo», então é possível entender essa separação/oposição como «a separação<br />

<strong>do</strong> capital e da propriedade fundiária, como o início de uma existência<br />

e de um desenvolvimento <strong>do</strong> capital independentemente da propriedade fundiária,<br />

como o início de uma propriedade ten<strong>do</strong> como única base o trabalho<br />

e a troca» 54 .<br />

51 A. Lipietz, op. cit., p. 99.<br />

52 K. Marx, Le Capital, Paris, Flammarion, 1969, liv. i, 4. a secção, cap. XIV, p. 261. Marx acrescenta<br />

ainda que «toda a divisão <strong>do</strong> trabalho desenvolvida e mantida por intermédio da troca de merca<strong>do</strong>rias tem por<br />

base fundamental a separação da cidade e <strong>do</strong> campo».<br />

53 Não é este o lugar, nem o momento, para analisar criticamente as diversas formulações teóricas sobre<br />

a problemática da «oposição cidade-campo». E, se a teoria e a meto<strong>do</strong>logia genericamente referidas ao marxismo<br />

têm neste trabalho um peso <strong>do</strong>minante, nem por isso será possível silenciar outras abordagens, ainda<br />

que teórica e politicamente distintas. É o caso, por exemplo, da obra «clássica» sobre aquela problemática de<br />

P. Kropotkin, Fields, Factories and Workshops Tomorrow (edição inglesa organizada por Colin Ward).<br />

Trad. ital., Campi, Fabbriche, Officine, Milão, Edizioni Antistato, 1974.<br />

54 K. Marx, L`ldéologie Allemande, Paris, Éditions <strong>Social</strong>es, 1968, pp. 81-82 (cf. igualmente pp. 46-49 e<br />

712 88-93). Segun<strong>do</strong> Murray Bookchin — que começou a sua obra The Limits of the City «sob a influência de

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