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A Lisboa do Império e o Portugal dos Pequeninos ... - Análise Social

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eza económica, conjuga<strong>do</strong>s com a carência de materiais e a, politica seguida<br />

pela Câmara Municipal [de <strong>Lisboa</strong>] em matéria de urbanização e terrenos,<br />

influíram na crise actual, que necessita de ser jugulada com rapidez, sob<br />

pena de graves consequências sociais e sanitárias» 19 (sublinha<strong>do</strong>s meus).<br />

Curiosa convergência de críticas! Realmente, não era só o sector produtivo<br />

que era posto em causa e, indirectamente, as formas assumidas por um<br />

condicionamento industrial que se encontrava regulamenta<strong>do</strong> desde 1931,<br />

embora, posteriormente, tivesse si<strong>do</strong> sujeito a diversas alterações, sem perder,<br />

contu<strong>do</strong>, aquela natureza «condicionada». Para além desse sector — e<br />

não deixa de ser sintomático trazer para o «terreiro» (e não só para o Terreiro<br />

<strong>do</strong> Paço...) a crítica ao «gasto de avultuadas disponibilidades financeiras<br />

em aplicações adiáveis» —, o que agora se visava era, sobretu<strong>do</strong>, o próprio<br />

espaço da reprodução social, ainda que, indirectamente, se quisesse atingir o<br />

defunto ministro/presidente da CML Duarte Pacheco 20 .<br />

Para<strong>do</strong>xalmente (ou talvez não!), os desenvolvimentistas — ofusca<strong>do</strong>s<br />

por uma perspectiva <strong>do</strong>minantemente economicista — pareciam ignorar<br />

aquela «máxima» de Salazar, verdadeiro suporte <strong>do</strong> regime, em especial nos<br />

anos «áureos» <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo:<br />

Quan<strong>do</strong>, ao la<strong>do</strong> da ponte ou da estrada que lançamos para comodidade<br />

<strong>do</strong>s povos, reparamos o castelo ou o monumento, reintegramos a<br />

pequena igreja secular ou o mosteiro aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, alguns não vêem que<br />

trabalhamos para manter a identidade <strong>do</strong> ser colectivo, reforçan<strong>do</strong> a<br />

nossa personalidade nacional. É isso que fazemos 21 .<br />

Com efeito, o movimento de «purificação nacional», presente na maior<br />

parte <strong>do</strong>s restauros de monumentos, igrejas, etc. 22 — «purifican<strong>do</strong>» os volumes<br />

e o meio, liman<strong>do</strong> as arestas e sanean<strong>do</strong> as fachadas, como se, numa tal<br />

acção, o desejo fosse, antes de mais, o de apagar a memória, a história, o<br />

tempo..., mas, para<strong>do</strong>xalmente, o de invocar, também, o passa<strong>do</strong>, agora<br />

definitivamente transforma<strong>do</strong> em mitol... —, to<strong>do</strong> esse movimento, dizíamos,<br />

participa plenamente na manutenção <strong>do</strong> «ser colectivo, reforçan<strong>do</strong> a<br />

personalidade nacional».<br />

A nova ordem política e ideológica construía-se, assim, sobre as cinzas<br />

<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. O presente, esse, «não pode já ser realiza<strong>do</strong> sob o impulso <strong>do</strong><br />

seu dinamismo, da sua intensa felicidade de criar, <strong>do</strong> seu poder de resolução,<br />

da sua vontade de aço, e não sabemos mesmo em quanto esta morte o terá<br />

prejudica<strong>do</strong>» 23 . E, se, como dirá ainda Salazar, dez anos mais tarde, «há<br />

19 Amorim Girão, «Origens e evolução <strong>do</strong> urbanismo em <strong>Portugal</strong>», in Revista <strong>do</strong> Centro de Estu<strong>do</strong>s<br />

Demográficos; n.° 1, 1945, p. 75. As críticas <strong>do</strong> deputa<strong>do</strong> Araújo Correia, retomadas por Amorim Girão,<br />

fundamentavam-se numa acentuada diminuição <strong>do</strong> espaço construí<strong>do</strong> em <strong>Lisboa</strong>, assinalan<strong>do</strong> que, entre 1939<br />

e 1941, «as áreas médias, anuais, destinadas a habitação» haviam si<strong>do</strong> «seis vezes menos» <strong>do</strong> que as referentes<br />

ao perío<strong>do</strong> de 1928 a 1936.<br />

20 Ver nota 70.<br />

21 Obras Públicas, «Cadernos de Ressurgimento Nacional», Secretaria<strong>do</strong> de Propaganda Nacional,<br />

1942. 22 Cf. 15 Anos de Obras Públicas. 1932-1947, Ministério das Obras Públicas, Direcção-Geral <strong>do</strong>s Edifícios<br />

e Monumentos Nacionais, Maio de 1948. Trata-se de uma série de <strong>do</strong>cumentos fotográficos ilustran<strong>do</strong> a<br />

situação de cada peça arquitectónica antes e depois <strong>do</strong>s «melhoramentos nacionais»!<br />

23 Salazar, Discursos e Notas Políticas, vol. IV, 1943-50, Coimbra, Coimbra Editora, s.d., pp. 24-26.<br />

(«Palavras proferidas na sessão da Assembleia Nacional de 25 de Novembro de 1943 — Na morte de Duarte<br />

700 Pacheco».)

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