15.04.2013 Views

A Lisboa do Império e o Portugal dos Pequeninos ... - Análise Social

A Lisboa do Império e o Portugal dos Pequeninos ... - Análise Social

A Lisboa do Império e o Portugal dos Pequeninos ... - Análise Social

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Anexo<br />

A POLÍTICA FUNDIÁRIA DE LISBOA, 1938-49 — ENTRE A «MUNICIPALIZAÇÃO<br />

DOS SOLOS» E A CONSTITUIÇÃO DE UMA «BOLSA DE TERRENOS»<br />

0. Nota explicativa.<br />

1? Reestruturação fundiária e segregação urbana.<br />

2, Dinâmica aquisitiva e política fundiária.<br />

3. As hastas públicas, o «interesse das praças» e a especulação de terrenos.<br />

0, Nota explicativa<br />

Transmiti depois a Duarte Pacheco os resulta<strong>do</strong>s da minha análise [...]: a compra<br />

ou expropriação pelo Município <strong>do</strong>s terrenos urbanizáveis, em vez de, como até aí, se<br />

deixar os especula<strong>do</strong>res comprá-los e urbanizá-los (...] E daí por diante, a política de<br />

aquisição <strong>do</strong>s terrenos da Câmara nunca mais foi aban<strong>do</strong>nada, nem deixou de ser a<br />

grande fonte de receita municipal para custear as despesas de engrandecimento e <strong>do</strong><br />

embelezamento de <strong>Lisboa</strong>.<br />

(Marcelo Caetano, Minhas Memórias de Salazar, 1977, p. 170)<br />

Continuaram com absoluta regularidade as hastas públicas para alienação de terrenos<br />

municipais com uma feição tal que bem podem classificar-se como sen<strong>do</strong> a bolsa<br />

de alienação de terrenos para construção, em <strong>Lisboa</strong>. Esse carácter faz por vezes flutuar<br />

bastante os valores alcança<strong>do</strong>s, sem que se vislumbre explicação lógica para tão<br />

súbitas modificações nos preços de lote para lote que às vezes se verificam em relação<br />

ao mesmo local e até no decorrer da mesma praça.<br />

(Anais <strong>do</strong> Município de <strong>Lisboa</strong>, ano de 1942, CML, p. 75).<br />

A organização deste anexo — peça fundamental <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> que o acompanha — procurou<br />

sistematizar, em torno de três grandes rubricas, os elementos essenciais de caracterização adi política<br />

fundiária de <strong>Lisboa</strong> nos anos de 1930-40, ou, mais concretamente, entre 1938 e 1949. Um<br />

tal perío<strong>do</strong> define claramente, tal como procurámos demonstrar no estu<strong>do</strong> anterior, uma específica<br />

conjuntura política e urbanística <strong>do</strong>s primeiros anos de institucionalização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo.<br />

E, se, em rigor, a conjuntura deve ficar demarcada pela «ruptura» arquitectónica e urbanística<br />

de 1948, razões de operacionalidade analítica — nomeadamente a existência de certos <strong>do</strong>cumentos<br />

que permitiram uma observação comparativa com os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s — levaram-nos a<br />

considerar o perío<strong>do</strong> de análise até 1949. Tal facto, não contrarian<strong>do</strong> a especificidade <strong>do</strong>s limites<br />

conjunturais, permitiu, inclusivamente, uma melhor ilustração da «viragem» político-urbanística<br />

<strong>do</strong>s anos 50.<br />

Das três rubricas que estruturam o presente anexo, as duas primeiras questionam o que designámos<br />

por projecto de reestruturação fundiária da cidade de <strong>Lisboa</strong>, decorrente, fundamentalmente,<br />

da natureza da intervenção política no território da cidade, intervenção que pressupunha,<br />

como julgamos ter demonstra<strong>do</strong>, uma intenção de municipalização <strong>do</strong> solo, pese embora a<br />

carga ideológica que, actualmente, uma tal expressão comporta. Ao sublinharmos aquela «intenção»,<br />

procuramos, desde logo, problematizar os próprios limites <strong>do</strong> projecto em causa, de<br />

cujas vicissitudes várias o estu<strong>do</strong> anterior procurou dar conta e que este anexo não deixa de ilustrar<br />

com alguma veemência. Por outro la<strong>do</strong>, se alguns daqueles limites estão já inscritos no próprio<br />

projecto de reestruturação fundiária — nomeadamente o potencial especulativo l gera<strong>do</strong><br />

pelo intenso «movimento de terras» que se irá desenrolar ao longo da conjuntura em análise —,<br />

veremos a seguir (através da terceira e conclusiva rubrica deste anexo) que tais limites ce<strong>do</strong> se<br />

constituirão na própria natureza <strong>do</strong>minante da política fundiária de <strong>Lisboa</strong>, nos inícios da década<br />

de 50.<br />

No que se refere às fontes <strong>do</strong>cumentais <strong>do</strong>s elementos informativos compulsa<strong>do</strong>s, são de<br />

destacar, antes de mais, os Anais <strong>do</strong> Município de <strong>Lisboa</strong>, cujos volumes consulta<strong>do</strong>s datam de<br />

1938 —- inicio de publicação daquelas edições anuais da Câmara Municipal de <strong>Lisboa</strong>, coincidente,<br />

portanto, com as inovações introduzidas na gestão camarária (nomeação de Duarte Pa-<br />

1 Sobre a noção de especulação fundiária (ou imobiliária) que escamoteia a «natureza jurídico-política<br />

de um fenómeno económico» —• a existência <strong>do</strong> tributo fundiário urbano — subjacente à «situação particular<br />

que, no seio da esfera económica e social, é conferida pela disposição jurídica <strong>do</strong> solo» cf. A. Lipietz, op. cit.,<br />

722 p. 105, e também estu<strong>do</strong> anterior.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!