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Jornal de Umbanda Sagrada - Rubens Saraceni

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www.jornalnacionaldaumbanda.com.br São Paulo, 15 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2012. Edição: 36 contato@jornal<strong>de</strong>umbanda.com.br<br />

RELIGIOSIDADE DO POvO AFRICANO<br />

Adriana Quadros<br />

A religiosida<strong>de</strong> do povo africano, on<strong>de</strong> foram capturados escravos trazidos ao Brasil, toda a sua vida era explicada<br />

pelo sobrenatural, estava atrelada ao além, em dimensões que só os especialistas (Sacerdote), ritos e objetos<br />

sacralizados podiam atingir. Na costa da África que vai do Senegal a Moçambique, localida<strong>de</strong> esta que os portugueses<br />

e outros europeus negociavam o povo africano, como escravo, também em regiões ligadas a esses litorais, quase tudo<br />

era explicado por forças divinas, que eram manipuladas por curan<strong>de</strong>iros, adivinhos, médiuns e sacerdotes, que foram<br />

chamados pelos portugueses que primeiro chegaram à África, <strong>de</strong> feiticeiros.<br />

Pelo ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>stes, no seu vocabulário, chamavam <strong>de</strong> feitiço as práticas mágicas e religiosas que os<br />

africanos utilizavam em sua relação com o sobrenatural. Para o grupo ou linhagem da qual se fazia parte o membro,<br />

era <strong>de</strong>finido o seu lugar no mesmo, no que diz respeito ao conhecimento, a explicação das coisas e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

interferir no rumo <strong>de</strong> sua vida, gerava em torno do mundo natural e sobrenatural.<br />

A orientação <strong>de</strong> como agir em diferentes momentos <strong>de</strong> sua vida, em situações diversas, era traçada <strong>de</strong> acordo<br />

ou valendo-se do sagrado, antepassados, ancestrais, heróis fundadores, <strong>de</strong>uses, espíritos e da gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seres<br />

sobrenaturais que habitavam dimensões com as quais era possível manter contato em certas condições específicas, os<br />

infortúnios eram consi<strong>de</strong>rados fruto <strong>de</strong> ações profanas ou impróprias, conscientes ou inconscientes, que <strong>de</strong>sarmonizavam<br />

o grupo.<br />

Se alguém do grupo ficasse doente, se uma seca atingisse a plantação, se uma mulher não conseguisse engravidar,<br />

ou se fosse preciso <strong>de</strong>scobrir algum furto, os oráculos eram consultados para que as forças divinas mostrassem a<br />

solução, os ritos <strong>de</strong> possessão eram realizados para que os espíritos orientassem os vivos.<br />

A li<strong>de</strong>rança nestas comunida<strong>de</strong>s também era sustentada pelo sobrenatural, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> serem reconhecidos como<br />

li<strong>de</strong>res pelos membros dos seus grupos, os chefes tinham que receber a confirmação pelo sacerdote mais importante,<br />

que prezava pela harmonia e bem estar <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong>. Os sacerdotes consultavam as entida<strong>de</strong>s sobrenaturais<br />

a<strong>de</strong>quadas, que po<strong>de</strong>riam ser os espíritos ancestrais, <strong>de</strong>uses locais, espíritos chefes fundadores, <strong>de</strong>corrente daquela comunida<strong>de</strong><br />

ou espíritos responsáveis pelos recursos naturais da região.<br />

Era por meio <strong>de</strong> ritos apropriados que os chefes eram confirmados pelas forças divinas e se tornavam intermediários<br />

entre elas e os membros da comunida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> ser autorida<strong>de</strong> máxima, este também representavam <strong>de</strong> maneira<br />

intensa, a relação do divino e os vivos. Consi<strong>de</strong>rando a relação do sobrenatural e todas as crenças, como também as<br />

cerimônias para que ela se estabeleça, são formas <strong>de</strong> religião, po<strong>de</strong>mos dizer que esta era o elemento central em todas<br />

as socieda<strong>de</strong>s africanas.<br />

SOUZA (2007) afirma que “a religião estava presente no exercício do po<strong>de</strong>r, na aplicação <strong>de</strong> normas <strong>de</strong> convivência<br />

do grupo, na garantia da harmonia e do bem estar da comunida<strong>de</strong>”. O mundo era codificado e controlado pela<br />

religião, que nestas socieda<strong>de</strong>s tinham o papel equivalente ao que a tecnologia e a ciência têm para nossa socieda<strong>de</strong>.<br />

E o mundo era dividido em duas partes: uma habitada pelos vivos e outra habitada pelos mortos, espíritos e entida<strong>de</strong>s<br />

sobrenaturais, separando os dois mundos, havia gran<strong>de</strong> massa <strong>de</strong> água e um mato fechado, que os especialistas<br />

estabeleciam a comunicação entre o céu e a terra.<br />

Havia uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espíritos que comandava o sobrenatural: espíritos das águas e das terras, das plantas e<br />

dos animais, das doenças e suas curas, das guerras, das alianças, das caçadas e das colheitas. Sobre todos os seres sobrenaturais<br />

pairava o inatingível, uma força que era fonte <strong>de</strong> todas as coisas, e são essas forças que constantemente eram<br />

chamadas para resolver os problemas, e mesmo quando não era solicitado seu auxilio, estes se manifestavam através <strong>de</strong><br />

sonhos e <strong>de</strong> sinais que podiam facilmente ser reconhecido por qualquer membro do grupo. Porém ao mais importante<br />

fazia se necessário à intermediação <strong>de</strong> um especialista, ou seja, um sacerdote religioso.<br />

Diante do exposto, percebemos a gran<strong>de</strong> ligação do povo africano com as divinda<strong>de</strong>s na sua vida cotidiana. A<br />

comunicação entre os dois mundos era fator que nunca se tornava indissociável.<br />

E-mail: adrianaquadro@hotmail.com<br />

<strong>Jornal</strong> Nacional da <strong>Umbanda</strong> ● página 18

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