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teste 1 - Leya

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– Eh!, alma do diabo, sofre! – instigou-o por fim uma onda a deitar os<br />

bofes de espuma pela boca fora.<br />

Um peixe insurgiu-se com voz mole:<br />

– Assim não vale! Vê se acabas com isso. Eu e os meus camaradas<br />

peixes queremos dormir em sossego. Vamos, chora!<br />

Uma gaivota baixava de vez em quando para lhe insinuar, baixinho:<br />

– Então? Toma-te infeliz. Soluça. Berra. Chora. Lembra-te de que<br />

seguiste o Caminho da Infelicidade. Não faças essa cara de quem ganhou<br />

a sorte grande.<br />

Por último, uma coruja de mitra 2 pequenina na cabeça e venda nos<br />

olhos – para voar de dia e de noite em perpétua escuridão – segredou -<br />

-lhe ao ouvido:<br />

– Queres laranjinhas? Ouve a minha sugestão: representa a comédia<br />

da dor. Finge que sofres muito, sê hipócrita. Mente. Pede a esmolinha de<br />

uma laranja por amor de Deus. Vá! Não sejas tolo. Chora.<br />

Como única resposta, João Sem Medo repeliu a coruja, fez das tripas<br />

coração e desatou a cantar à sobreposse 3 .<br />

Então, ao som do seu canto, por fora tão vibrante e viril, a fúria das<br />

águas amainou 4 . O rugir das ondas amorteceu lentamente. Um murmúrio<br />

de desistência soprou pela superfície do lago. E João Sem Medo, com<br />

algumas braçadas vigorosas e seguras, logrou pôr o pé em terra perto do<br />

laranjal carregado de pomos de ouro.<br />

Claro, correu logo como um doido para a árvore mais próxima, sôfrego<br />

de engolir meia dúzia de laranjas. Mas, num lance espetacular, os frutos<br />

diminuíram rapidamente de volume até atingirem o tamanho de berlindes<br />

e – zás! – com um estoiro despedaçaram-se no ar.<br />

Humilhado, e a contar com nova surpresa desagradável, abeirou-se de<br />

outra laranjeira. Desta vez, porém, as laranjas transformaram-se em<br />

cabeças de bonecas doiradas e deitaram-lhe a língua de fora.<br />

– A partida anterior teve mais graça! – observou João Sem Medo. […]<br />

Então, numa tentativa suprema, João Sem Medo acercou-se de outra<br />

árvore, sorrateiramente, em bicos de pés.<br />

Tudo inútil. Como se estivessem combinadas, as laranjas e as tangerinas<br />

do pomar desprenderam-se dos troncos, abriram pequeninas asas<br />

azuis e começaram a subir serenamente no céu.<br />

Apesar da fome, João Sem Medo, com os olhos fixos no espetáculo<br />

maravilhoso das bolas de ouro a voarem, não pôde reprimir este clamor<br />

de entusiasmo, braços erguidos para o ar:

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