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Parte B<br />
Lê o poema de António Gedeão. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário<br />
apresentado.<br />
5<br />
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15<br />
20<br />
25<br />
Poema do Homem-Rã<br />
Sou feliz por ter nascido<br />
no tempo dos homens-rãs<br />
que descem ao mar perdido<br />
na doçura das manhãs.<br />
Mergulham, imponderáveis 1 ,<br />
por entre as águas tranquilas,<br />
enquanto singram 2 , em filas,<br />
peixinhos de cores amáveis.<br />
Vão e vêm, serpenteiam,<br />
em compassos de ballet.<br />
Seus lentos gestos penteiam<br />
madeixas que ninguém vê.<br />
Com barbatanas calçadas<br />
e pulmões a tiracolo,<br />
roçam-se os homens no solo<br />
sob um céu de águas paradas.<br />
Sob o luminoso feixe 3<br />
correm de um lado para outro,<br />
montam no lombo de um peixe<br />
como no dorso de um potro 4 .<br />
Onde as sereias de espuma?<br />
Tritões 5 escorrendo babugem 6 ?<br />
E os monstros cor de ferrugem<br />
rolando trovões na bruma 7 ?<br />
Eu sou o homem. O Homem.<br />
Desço ao mar e subo ao céu.<br />
Não há temores que me domem<br />
É tudo meu, tudo meu.<br />
VOCABULÁRIO<br />
António Gedeão, Obra completa, Relógio d’Água<br />
1 imponderáveis – imprevisíveis. 3 feixe – porção de luz. 5 Tritões – deuses marinhos. 7 bruma – nevoeiro.<br />
2 singram – navegam. 4 potro – cavalo jovem. 6 babugem – espuma.<br />
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