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Prosa (3) - Academia Brasileira de Letras

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Alfredo Bosi<br />

Em tempos <strong>de</strong> predomínio dos princípios liberais, Castilhos e Borges procuraram<br />

compensar, mediante impostos diretos, isenções às pequenas indústrias<br />

e medidas trabalhistas (ainda embrionárias) a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> visível na socieda<strong>de</strong><br />

gaúcha. Uma socieda<strong>de</strong> em que a riqueza estava concentrada nas mãos<br />

dos estancieiros exportadores <strong>de</strong> charque. No último quartel do século XIX,<br />

uma formação socioeconômica mais complexa e diferenciada foi emergindo<br />

com a chegada dos imigrantes italianos na Serra, vinhateiros em geral, e com a<br />

expansão <strong>de</strong> uma classe média ligada ao comércio urbano, à pequena indústria<br />

e às profissões liberais, sobretudo em Porto Alegre. O PRR representava, <strong>de</strong><br />

preferência, esses grupos rurais (colonos, pequenos proprietários) e urbanos.<br />

Daí, as reiteradas isenções concedidas às manufaturas, contrastando com a taxação,<br />

módica embora, dos latifúndios da Campanha. Daí, o cuidado <strong>de</strong> criar<br />

um mínimo <strong>de</strong> legislação do trabalho que aten<strong>de</strong>sse aos reclamos dos pequenos<br />

funcionários públicos e dos operários diaristas que os positivistas consi<strong>de</strong>ravam<br />

oprimidos pelo “empirismo dos chefes industriais”. Os trabalhadores<br />

<strong>de</strong>veriam ser incorporados à socieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong>, no dizer incisivo <strong>de</strong> Comte, estavam<br />

apenas “acampados”.<br />

Se precisássemos qualificar a política castilho-borgista em termos <strong>de</strong> Direita<br />

ou Esquerda, teríamos dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar um só rótulo. Como autoritária<br />

estaria à direita do liberalismo <strong>de</strong>mocrático pregado por seus opositores<br />

do Partido Liberal. Em termos <strong>de</strong> planejamento econômico e legislação social,<br />

porém, situava-se à esquerda das oligarquias e <strong>de</strong>ve ser aproximada do trabalhismo<br />

inaugurado pelo seu her<strong>de</strong>iro, Getúlio Vargas.<br />

Iniciando a sua carreira como <strong>de</strong>putado republicano, em 1909, sob a égi<strong>de</strong><br />

do castilhismo, e suce<strong>de</strong>ndo na Presidência do Estado, em 1928, a seu mentor,<br />

Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, Getúlio representa o elo entre o comtismo dos republicanos<br />

e a vertente nacionalista, planificadora e trabalhista que, sob a sua influência<br />

direta, regeu o Brasil dos anos 30 até o golpe u<strong>de</strong>no-militar <strong>de</strong> 1964. Vargas,<br />

filho e irmão <strong>de</strong> militantes positivistas gaúchos, pronunciou o oração fúnebre<br />

em louvor <strong>de</strong> Júlio <strong>de</strong> Castilhos. Contava, então, vinte anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A<br />

presença comteana é tangível na sua formação i<strong>de</strong>ológica: executivo forte,<br />

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