Prosa (3) - Academia Brasileira de Letras
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Miguel Reale<br />
n.° 13.855, pelo então interventor Fernando Costa, a 29 <strong>de</strong> fevereiro daquele<br />
ano. Foi assim que a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo se tornou uma autarquia.<br />
Essa data merece ser lembrada, porquanto foi somente a partir <strong>de</strong>la que a<br />
USP se tornou efetivamente um ente autônomo, com as prerrogativas <strong>de</strong> uma<br />
autarquia, instituto jurídico criado e <strong>de</strong>senvolvido sobretudo na Itália para<br />
aten<strong>de</strong>r a um dos mais importantes <strong>de</strong>smembramentos do or<strong>de</strong>namento estatal<br />
contemporâneo. Era dado um gran<strong>de</strong> passo à frente, porquanto passou ela<br />
a receber do Estado uma dotação orçamentária global, ficando a seu cargo o<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e distribuição dos recursos recebidos, mediante elaboração<br />
<strong>de</strong> orçamento próprio salvo quanto a vencimentos.<br />
Examinando a matéria, convenci-me que a autonomia seria ilusória se o<br />
Reitor continuasse a <strong>de</strong>spachar com o Secretário <strong>de</strong> Educação para resolver os<br />
assuntos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m didática ou administrativa, razão pela qual resolvi apresentar<br />
emenda em virtu<strong>de</strong> da qual todas as funções daquele Secretário, relativas ao<br />
ensino superior, passavam a ser exercidas pelo Reitor da USP, disposição esta<br />
que, em um primeiro momento, se esten<strong>de</strong>u aos atos normativos das novas<br />
universida<strong>de</strong>s criadas.<br />
O certo é que, graças a essa proposta aprovada unanimemente pelo Conselho,<br />
o Reitor adquiriu status <strong>de</strong> Secretário <strong>de</strong> Estado, passando a <strong>de</strong>spachar semanalmente<br />
com o Chefe do Executivo Paulista, praxe louvável que, se não me<br />
engano, só foi respeitada até o governo <strong>de</strong> Laudo Natel, quando regia nossa<br />
Universida<strong>de</strong> o saudoso e magnífico amigo Orlando Gomes <strong>de</strong> Paiva.<br />
Devo pon<strong>de</strong>rar, todavia, que, não obstante a organização autárquica, os servidores<br />
da USP, inclusive os professores, ainda continuavam sendo consi<strong>de</strong>rados<br />
funcionários públicos do Estado, nomeados pelo governador, com vencimentos<br />
fixados em lei. Foi só gradativamente que a USP veio aumentando a sua autonomia<br />
orçamentária, com uma legislação administrativa própria, surgindo a figura<br />
do funcionário autárquico, mas esta é ainda uma história por fazer-se.<br />
Por outro lado, não foi possível, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, <strong>de</strong>svincular a nomeação do Reitor<br />
da pessoa do chefe do Executivo. Sobre esse ponto, bastará notar que ela<br />
passou por três fases: por escolha pessoal e direta do governador, por sua esco-<br />
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