Prosa (3) - Academia Brasileira de Letras
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Villa-Lobos em Paris<br />
Outro gran<strong>de</strong> divulgador da obra <strong>de</strong> Villa-Lobos através do mundo foi<br />
Andrés Segóvia (1893-1987), fundador do violão mo<strong>de</strong>rno.<br />
Os dois encontram-se pela primeira vez apresentados por Tomás Teran,<br />
pianista que viria a residir no Brasil. Foi numa reunião social em Paris e Segóvia<br />
tocava para um pequeno grupo.<br />
Tomás Teran perguntou se ele conhecia o compositor brasileiro Heitor<br />
Villa-Lobos. Segóvia, sem perceber que Villa-Lobos já estava atrás <strong>de</strong>le, disse<br />
que Miguel Llobet lhe havia mostrado uma Valsa-Concertante e que, <strong>de</strong>vido<br />
ao uso do polegar da mão esquerda numa abertura <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> intervalo e o uso<br />
do auricular na mão direita, o compositor certamente não conhecia o violão.<br />
Villa-Lobos pe<strong>de</strong> o violão <strong>de</strong> Segóvia e, protestando, começa a mostrar suas<br />
músicas, com engenhosida<strong>de</strong>s pouco usuais, mas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> inteligência. Segóvia<br />
fica fascinado com o que ouvia, e liga-se <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> com Villa-Lobos. Este <strong>de</strong>dica-lhe<br />
os 12 Estudos escritos entre 1923 e 1929, dos quais Segóvia só executaria os<br />
n. os 1,7, 8 e 11. Eu tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir esse encontro <strong>de</strong> ambos os artistas<br />
e a história só divergia num ponto: Segóvia dizia: “Villa-Lobos pediu-me a guitarra<br />
com muita veemência.”; e Heitor: “Tomei o violão <strong>de</strong>le na marra.”<br />
A convite <strong>de</strong> Arminda Villa-Lobos fiz a estréia mundial dos 12 Estudos em<br />
novembro <strong>de</strong> 62, no Festival Villa-Lobos, e gravei-os no mesmo ano. Foi o<br />
ponto <strong>de</strong> partida da minha carreira e o 1. o disco do Museu Villa-Lobos.<br />
Este artigo não preten<strong>de</strong> fazer a síntese da relação Villa-Lobos–Paris, o que<br />
só um livro, e livro gran<strong>de</strong>, seria capaz. Mas gostaríamos <strong>de</strong> registrar o testemunho<br />
<strong>de</strong> Phillipe Marietti, um dos sócios das Editions Max Eschig (48, rue<br />
<strong>de</strong> Rome), que era a editora do Maestro.<br />
Embora naquele en<strong>de</strong>reço o compositor tivesse uma sala com piano <strong>de</strong> cauda<br />
à sua disposição, ele atravessava para o café situado numa esquina em diagonal<br />
com a editora, e no meio daquele burburinho <strong>de</strong> fregueses e garçons, Villa-<br />
Lobos compunha horas a fio.<br />
Marietti contou-me também que presenciou várias discussões entre Segóvia<br />
e Heitor. O tema era sempre o mesmo:<br />
– Heitor, isto não se po<strong>de</strong> fazer no violão<br />
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